Inovação nas Organizações (PDF) - Universidade Católica de Pernambuco
Document Details
Uploaded by ResplendentSanctuary814
Universidade Católica de Pernambuco
2023
Patrícia Coimbra Mergulhão dos Anjos
Tags
Related
- Gestão do Desporto e das Actividades Físicas Gestão PDF
- Introdução à Gestão do Desporto PDF Organização e Gestão Desportiva
- Sistemas de Gestão do Conhecimento Empresarial (KMS) - 2020-2021 - PDF
- Casos Práticos para Resolver - PDF
- Gestão de Estoques PDF
- Gestão do Capital Humano (Competência, Treinamento e Conscientização) PDF
Summary
Este documento discute a inovação nas organizações, focando nos conceitos de gestão do conhecimento, transformação digital e produção 4.0. Ele usa um exemplo prático de uma pequena fábrica de roupas para ilustrar a aplicação desses conceitos na gestão organizacional.
Full Transcript
Inovação nas Organizações Patrícia Coimbra Mergulhão dos Anjos REVISÃO UNICAP DIGITAL Msc. Rafael José Oliveira Ofemann Rua do Príncipe, 526 - Bloco C - Salas 303 a 305 PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Boa Vista - Recife-PE...
Inovação nas Organizações Patrícia Coimbra Mergulhão dos Anjos REVISÃO UNICAP DIGITAL Msc. Rafael José Oliveira Ofemann Rua do Príncipe, 526 - Bloco C - Salas 303 a 305 PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Boa Vista - Recife-PE - Cep: 50050-900 Msc. Flávio Santos Telefone +55 81 2119.4335 1ª Edição Copyright © 2023 de Universidade Católica de Pernambuco Copyright © 2023 de UNICAP DIGITAL Sumário Unidade 1 4 Objetivos da Unidade 5 1. Gestão do Conhecimento 6 1.1 Dados, Informação e Conhecimento 7 1.2 Conhecimentos Tácito e Explícito 9 1.3 Modelo Gerencial de Gestão do Conhecimento 10 1.4 Espiral do Conhecimento 12 1.5 Transformação Digital e Conhecimento 15 1.6 Princípios Fundamentais para a Transformação Digital 17 1.7 Domínios da Transformação Digital 18 1.8 Produção 4.0 e Gestão do Conhecimento 22 Síntese da Unidade 23 Referências 23 Unidade 2 25 Objetivos da unidade 26 1. Criatividade 27 1.1 Fundamentos da Criatividade 28 1.2 Abordagens da criatividade 32 1.2.1 Estímulos e Barreiras à criatividade 37 1.2.2 Processo de criatividade e de geração de ideias 38 1.3 Algumas aplicações da Criatividade 40 Síntese da Unidade 42 Referências 43 Unidade 3 44 Objetivos da unidade 45 1. Inovação 46 1.1 Fundamentos da Inovação 48 1.1.1 Fatores que estimulam a inovação 51 1.2 Modelos e Processo de Inovação 54 1.3 Design Thinking 58 1.3.1 Processo de Design Thinking 59 1.3.2 Características do Design Thinker 61 1.3.3 Pensamentos Divergente e Convergente, Análise e Síntese 62 Síntese da Unidade 63 Referências 64 Unidade 4 66 Objetivos da unidade 68 1. Fundamentos dos Empreendimentos 69 2. Plano de Negócios 77 3. Modelo de Negócios CANVAS 87 Síntese da Unidade 89 Referências 89 Unidade 1 Gestão do Conhecimento, Transformação Digital e Produção 4.0 O conhecimento é um dos ativos mais importantes na sociedade moderna. Sua criação (ou construção), sua transformação a partir das interações com outras partes interessadas, seu compartilhamento e a maneira como é gerenciado determinam a forma como uma empresa atende aos seus mercados, sua sobrevivência e crescimento. A Gestão do Conhecimento (GC) é o processo pelo qual uma organização cria, transforma, estrutura, compartilha e utiliza o conhecimento para atuar no mercado e atingir seus objetivos. O conhecimento pode se originar através de dados e informações que dependendo da maneira que são tratados, organizados e utilizados, podem gerar uma vantagem competitiva (um diferencial) para as organizações. E esses dados e informações encontram-se nos ambientes interno e externo. Dessa forma, é importante entender como a Transformação Digital (TD) influencia esse contexto efervescente de criação e modificação constante do conhecimento. A TD está fortemente associada à inovação (um dos pilares de nossa disciplina). O pensamento disruptivo proporcionado pela TD e baseado na Gestão do Conhecimento implica em novas formas e tecnologias de atender os mercados, muitas vezes com novas soluções. Nesse contexto, é importante destacar o papel das Plataformas Digitais, locais em que ocorrem as interações sociais (de compra e de consumo, também) entre fornecedores, fabricantes, distribuidores, vendedores e consumidores. A velocidade, a conveniência e a comodidade são muito valorizadas. A GC é um dos pilares mais importantes da Indústria ou Produção 4.0. É ela quem está por trás dessa interação entre máquinas e sistemas digitais. Isso proporciona dados e informações que são analisados e criam uma rede inteligente capaz de gerenciar todo o processo produtivo, desde a aquisição de matérias-primas, à transformação em produto acabado, passando pela distribuição até a logística reversa (movimentos de retorno de produtos). As relações entre esses atores (fornecedores, distribuidores, fabricantes e consumidores) vêm sendo bastantes modificadas nesse ambiente de inovação, assim, compreender a GC torna-se cada vez mais importante. Sejam bem-vindos à Gestão do Conhecimento. Leiam o Guia de Estudo, façam pesquisas complementares, assistam as videoaulas. SUCESSO! Objetivos da unidade Compreender os conceitos centrais e o processo de GC, seu modelo gerencial e a Espiral do Conhecimento; Conhecer os aspectos centrais da Transformação Digital e a relação com a GC; Conhecer os conceitos centrais de Produção 4.0 e a relação com a GC. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações 1. Gestão do Conhecimento João e Maria são proprietários de uma pequena facção de roupas numa cidade da região Agreste de Pernambuco. Eles herdaram o negócio de seus pais, Seu Severino e Dona Joaquina. A Fino Corte (nomes dos personagens e da empresa são fictícios) é especializada no corte em série de peças de jeans e atende a pequenas e médias empresas de confecção na região do Polo Têxtil de Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama. Figura 1 - Corte de tecido. Fonte: Pexels (2022). Tudo começou no final dos anos 80, com seus pais à frente do negócio. Dona Joaquina, costureira de mão cheia, possuía extrema habilidade com a tesoura e outras ferramentas de corte. No início, o negócio prosperou e a Fino Corte rapidamente aumentou sua carteira de clientes. Chegou a atender a mais de 50 empresas de confecção, cortando mais de 30 mil peças por mês. Foram contratados funcionários para ajudar. À época, as vendas e os lucros atingiam números muito acima das expectativas. Em meados dos anos 2000, João e Maria assumiram a gestão do negócio. Mas a situação começou a mudar. Novos concorrentes entraram com uma política de preços muito agressiva causando redução das margens de lucro da Fino Corte e perda de clientes. Os irmãos perceberam que precisavam inovar e gerenciar melhor a empresa. Eles contrataram Joana, consultora na área têxtil, que agendou a primeira de várias reuniões para iniciar seus trabalhos. 6 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — João, Maria, nesta primeira semana aqui na Fino pude analisar todo o processo produtivo de vocês. Foi possível também avaliar as interfaces com as confecções e destas com os distribuidores e consumidores finais — disse Joana. — Percebi ainda que todo esse trabalho, esses fluxos de atividades, geram uma quantidade muito grande de dados, mas é como se as áreas da Fino Corte não conversassem entre elas, nem com as confecções que contratam vocês — completou a consultora. — Não tínhamos consciência dessa situação — disseram os irmãos. — E o pior é que vocês estão perdendo uma grande oportunidade de juntar esses dados, analisar, e criar informações que podem ser úteis para a empresa. Melhor ainda, vocês podem utilizar a Gestão do Conhecimento para criar uma vantagem competitiva importante — disse Joana. — Você pode explicar melhor essa ideia? — perguntaram os irmãos. — Claro! — respondeu a consultora. Joana explicou que a Gestão do Conhecimento é o processo de construir (reconstruir), modificar e compartilhar o Capital Intelectual da empresa, a partir das interações com clientes internos (outras áreas ou setores) e externos (fornecedores, distribuidores, consumidores e outros parceiros). Ele também é influenciado pelas interações com concorrentes. A Gestão do Conhecimento abrange a construção, modificação e compartilhamento do conhecimento na organização. Por gerenciar um dos ativos mais importantes, o Capital Intelectual, a GC pode gerar vantagens competitivas ajudando no cumprimento dos objetivos da empresa. Assista ao vídeo para compreender um pouco mais sobre Gestão do Conhecimento. Disponível em: https://youtu.be/YgauCj-vZK8 — Vamos adiante! — disse a especialista. 1.1 Dados, Informação e Conhecimento — Mas para entender melhor a GC (e começar a pensar em praticá-la), é preciso compreender os conceitos de dados, informação e de conhecimento — completou a consultora. Joana utilizou alguns exemplos para explicar essas ideias para os irmãos. — Para ajudá-los vou aplicar esses conceitos no setor que vocês trabalham. Vamos considerar uma pequena confecção e supor que ela funcione seis dias por semana. 7 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações No primeiro dia, vendeu 80 peças de roupas, no segundo, 96 peças de roupas, no terceiro dia, 105 peças de roupas, no quarto dia, 131 peças de roupas, e, nos dois últimos dias, comercializou 160 e 127 peças de roupas, respectivamente — disse a especialista. O quadro 1, seguinte, apresenta esses números. Quadro 1 – Quantidade de peças comercializadas Dia Quantidade 01 80 02 96 03 105 04 131 05 160 06 127 Fonte: elaborado pela autora (2022). — Sim, nós sabemos o que é esse controle — disseram os irmãos. — Agora, vou detalhar um pouco mais esse quadro — disse Joana. A consultora explicou sobre a importância de analisar com detalhes esses números e apresentou o quadro 2, seguinte. Quadro 2. Quantidade de peças comercializadas Dia Quantidade Variação em relação ao dia anterior 01 80 - 02 96 ↑ 20% 03 105 ↑ 10% 04 131 ↑ 20% 05 160 ↑ 22% 06 127 ↓ 21% Fonte: elaborado pela autora (2022). João e Maria perceberam que esse quadro apresentava uma nova coluna com a variação das vendas de roupas em relação ao dia anterior. — Vocês identificaram que esse quadro apresenta um comparativo das vendas de peças de roupas em relação ao dia anterior? Não se trata, portanto, de um simples registro. Os dados foram trabalhados. perceberam isso? — perguntou Joana. — Os dados foram processados para compreender melhor um fenômeno — completou. — Sim — disseram os irmãos. — Ótimo! Vocês vão longe. Agora, vamos considerar que o dono da empresa, com base no quadro 2, resolva intensificar a propaganda e a comunicação investindo 8 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações mais em redes sociais, com o objetivo de melhorar os resultados desse dia 6. Com mais mensagens no Instagram e no WhatsApp, ele chamou mais clientes que compraram em maior quantidade proporcionando resultados melhores nesse dia — disse a consultora. A partir dos exemplos acima, ficou bem mais fácil para os empresários compreenderem os conceitos de dados, informação e de conhecimento. Joana apresentou esses conceitos: a) Dados: são registros dos eventos que ocorrem na organização. Isoladamente, não têm muita relevância, propósito ou significado. A importância deles é que são a matéria-prima das informações; b) Informações: os dados, quando são submetidos a algum tipo de tratamento, ganham relevância e são chamados de informações. Elas possuem relevância e propósito, além de ajudarem a tomar decisões. São a base para o conhecimento; c) Conhecimento: é uma combinação de experiência, valores e informação aplicada, que pode gerar uma estrutura para aplicação de mais conhecimento em novas experiências. O conhecimento é gerado a partir da aplicação das informações, ele é fruto do aprendizado e da experiência. Em outras palavras, o conjunto de informações úteis sobre um determinado evento pode gerar conhecimento sobre ele. O conhecimento deriva-se da informação que se origina dos dados. A competência de “saber fazer” é a aplicação dessas informações e está diretamente relacionada ao conhecimento. Assista ao vídeo para compreender melhor essas ideias. Disponível em: https://youtu.be/xv_NppJ-Xgw — Vou aproveitar e conversar um pouco com vocês sobre conhecimentos tácito e explícito — disse Joana. 1.2 Conhecimentos Tácito e Explícito Reis (2008), importante especialista na área de Gestão da Inovação, afirma que o conhecimento pode ser tácito ou explícito. O tácito (ou implícito) é aquele que se encontra no cérebro, apresenta dificuldade para ser registrado e não pode ser facilmente transmitido ou replicado através de documentos escritos. Geralmente, são aqueles associados ao know-how (como fazer), às experiências e vivências de mercado, e apresentam-se em e-mails, telefonemas, reuniões, entre outras formas. O conhecimento explícito, por sua vez, é aquele que pode ser registrado em diversas formas, tais como documentos digitais. Pode ser encontrado em formato de manuais 9 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações de procedimentos, publicações, entre outros. Outro exemplo bastante comum de conhecimento explícito é o treinamento destinado aos novos colaboradores da organização. É de mais fácil compartilhamento e transmissão. Os conhecimentos tácito e explícito são complementares. Vamos conhecer um pouco mais sobre eles. Acesse o link https://youtu.be/47-wLLKzZbI e assista ao vídeo para compreender melhor essas ideias. — Acabamos de aprender vários conceitos importantes em GC. O que vocês acham agora de aplicar essas ideias no contexto administrativo? Vou tentar conectar tudo isso que vimos às práticas da Administração, vamos falar um pouco de Modelo Gerencial baseado em GC. — falou a consultora. 1.3 Modelo Gerencial de Gestão do Conhecimento Joana apresentou um modelo criado por Pereira (1995) que já previa uma forte mudança nas formas de gestão. Em sua tese de doutoramento, esse especialista apresentou um modelo estrutural abrangendo três aspectos centrais: as “Ondas de transformação” que ocorrem na sociedade (ou ambiente externo), as “Eras Empresariais” (que definem os “Modelos de Gestão”). Trata-se de uma visão integrada que nos ajuda a compreender o surgimento e a importância da GC no mundo atual. A figura 2 apresenta o modelo proposto por Pereira. 10 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Figura 2: Ambiente Organizacional e Modelos de Gestão. Fonte: adaptado de Pereira (1995). A consultora explicou que Pereira (1995) propôs uma abordagem integrada para compreendermos as conexões entre os modelos de gestão, as eras empresariais e o macroambiente de negócios. Dessa forma, ele argumenta que três grandes revoluções ocorreram: a Agrícola (caracterizada pela criação e cultivo), que predominou até o século XVIII; a Industrial (que possui várias fases – do tear, vapor, combustão, entre outras, iniciadas na segunda metade do século XVIII, tendo perdurado até a primeira metade do século XX); e a da Informação (que teve início na segunda metade do século XIX e perdura até os dias atuais. Iniciando com os grandes computadores, passando pela Internet, pela Transformação Digital, entre outros eventos marcantes). 11 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Essas revoluções são delineadas por eras que, a seu turno, abrangem modelos de gestão. Dessa forma, Pereira (1995) conecta a Era da Produção com a Administração Científica (Estudo de Tempos e Movimentos) e Escolas Comportamentais (que buscavam o atingir objetivos da organização através da satisfação dos funcionários); a Era da Eficiência com a Teoria da Burocracia (normas e procedimentos para garantir o cumprimento de objetivos organizacionais) e outros modelos de gestão tradicionais; as eras da Qualidade (anos 1970) e da Competitividade (anos 1990) com métodos japoneses de gerenciamento, administração participativa, empreendedora e holística. Finalmente, o estudioso estabelece uma conexão da era atual com empresa virtual, Gestão do Conhecimento, entre outros. — Vocês sabem que esses novos modelos gerenciais possuem em comum? — perguntou a consultora. — Não — responderam João e Maria. — Eles têm como princípio uma gestão mais participativa dos colaboradores com elevado grau de delegação das responsabilidades e um grande foco nas entregas, ou seja, orientação para o cliente — explicou Joana. A especialista afirmou ainda que ocorreu um processo de mudança da Sociedade Industrial (baseada na produção e comercialização de produtos) para a Sociedade do Conhecimento (que está baseada na condição da sociedade produzir, pesquisar e compartilhar informação e conhecimento). — E esses novos modelos de gestão buscam gerenciar o conhecimento organizacional. Nesse ponto é que entra a Gestão do Conhecimento, entenderam? — perguntou a consultora. — Agora ficou mais claro, mas fiquei curioso, como esse conhecimento é criado ? — disse João. — Ótima pergunta, João. Vamos conversar um pouco sobre esse assunto — disse Joana. 1.4 Espiral do Conhecimento A consultora apresentou a visão de Nonaka e Takeuchi (1997), especialistas em GC. Para esses estudiosos, para poder se considerar uma “geradora” de conhecimento, uma organização precisa completar um “espiral do conhecimento”. — Vou explicar melhor para vocês — disse Joana. — Mas antes de falarmos sobre Espiral do Conhecimento, é preciso que vocês se lembrem daquelas ideias de conhecimentos explícito e tácito — alertou a consultora. — Sugiro que vocês releiam a seção que trata disso — recomendou Joana. Ela explicou que o conhecimento ocorre de forma fluida. É preciso considerar o pressuposto de que o conhecimento é construído e compartilhado a partir da interação entre os conhecimentos tácito e o explícito. Essa é a base do Espiral do Conhecimento, conceito proposto por Nonaka e Takeuchi (1997) para compreender a criação, modificação e compartilhamento desse conhecimento. Os autores 12 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações defendem que a conversão do conhecimento é interativa e apresenta forma de espiral. Há, portanto, quatro modos de conversão desse conhecimento: a Socialização (do conhecimento tácito para o conhecimento tácito); a Externalização (do conhecimento tácito para o explícito); a Combinação (do conhecimento explícito para o conhecimento explícito); e, finalmente, a Internalização (do conhecimento explícito para o conhecimento tácito). — Você pode explicar melhor, Joana? — pediu Maria. A consultora explicou que a Socialização (a conversão do conhecimento tácito para o tácito) ocorre principalmente a partir do compartilhamento de experiências. Desse modo, uma pessoa pode adquirir conhecimento diretamente de outras pessoas sem usar a linguagem, apenas observando como um indivíduo aplica esse conhecimento. Um aprendiz ao observar o mestre ceramista pode construir conhecimento através da Socialização. A Externalização, por sua vez, é a conversão do conhecimento tácito para o explícito. Ocorre com bastante frequência na criação de conceitos, sendo desencadeada pelos processos de diálogo e de reflexão coletiva. Ao tentar conceituar uma imagem, sua essência é descrita através da linguagem (numa redação, por exemplo). A Combinação, por sua vez, envolve a utilização de diversas formas de conhecimento explícito. Essa troca e combinação de conhecimento podem ocorrer através de documentos digitais e/ou escritos, redes sociais, telefones, conversas, entre outros. A informação inicial pode ser reconfigurada através da combinação, adição, separação ou classificação do conhecimento explícito, resultando em novo conhecimento. A Internalização é um processo em que o indivíduo incorpora o conhecimento explícito e o transforma em tácito. Está relacionada ao “aprender fazendo”, ou seja, as experiências são socializadas, externalizadas e combinadas, permitindo a construção de modelos mentais compartilhados. Reis (2008), renomado especialista em GC, apresenta os fatores que promovem a criação da Espiral do Conhecimento: Intenção, Autonomia, Flutuação e Caos Criativo, Redundância e Variedade de Requisitos. O quadro 3 descreve esses fatores. 13 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Quadro 3 – Fatores que facilitam a criação do Espiral do Conhecimento Fator Descrição Norteia a Espiral do Conhecimento na organização. Pode assumir a forma Intenção de estratégia. A intenção envolve a construção de uma visão sobre o tipo de conhecimento que se deseja construir e compartilhar na organização. A autonomia permite que as ideias surjam, sejam compartilhadas e aperfeiçoadas. As ideias nas organizações surgem a partir de indivíduos e Autonomia se disseminam nas empresas. A autonomia também fortalece a autoestima dos colaboradores, favorecendo a criação de conhecimento. Eles ajudam e estimulam a interação da organização com o ambiente externo. A flutuação resulta num colapso de rotinas, estruturas conceituais e hábitos, posicionando o indivíduo “fora” de sua zona de conforto. O caos Flutuação e surge naturalmente quando a organização enfrenta uma situação adversa Caos Criativo por muito tempo (queda nas vendas, por exemplo), ou de forma intencional quando é criado pelos líderes da empresa, como quando são propostos objetivos e metas desafiadoras. A existência de informações além das necessárias para realizar uma atividade aumenta a capacidade de compreensão dos indivíduos e acelera Redundância a criação do conhecimento porque as partes envolvidas conhecem as atividades e os processos. O acesso à informação deve ser rápido e flexível para todos na organização. Variedade de Quanto mais homogêneas as informações, maior a facilidade de interação requisitos e de construção do conhecimento. Fonte: adaptado de Reis (2008). A figura 3 apresenta a Espiral do Conhecimento. Figura 3 Espiral do Conhecimento. Fonte: adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997). 14 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações A Espiral do Conhecimento permite que a organização gere, modifique e compartilhe o conhecimento. Acesse o link seguinte https://youtu.be/a6nF8mYDta0 e assista ao vídeo. — Estamos gostando muito dessa conversa, Joana, e todo esse conhecimento é muito importante para a empresa — completou João. — Novos produtos e serviços, novos mercados, inovação, empreendedorismo, entre outros. Outro dia escutei alguém na rua falando sobre Transformação Digital. Você pode explicar um pouco esse assunto, Maria — disse o irmão. — A Transformação Digital, também conhecida como TD, está fortemente relacionada à Gestão do Conhecimento. A TD pode ser um produto da GC, e é condicionada por ela, além de contribuir para a aprendizagem organizacional — explicou a consultora. Vamos conhecer um pouco mais sobre a TD. 1.5 Transformação Digital e Conhecimento — A Transformação Digital compreende uma discussão e reflexões muito amplas sobre modelo de negócio, suas transformações, além da incorporação de tecnologias que agreguem valor, aperfeiçoando produtos e serviços, criando e modificando mercados. Essas tecnologias influenciam positivamente as opiniões dos consumidores, melhorando o valor entregue e otimizando a experiência de consumo do indivíduo — explicou Joana. — Você pode explicar melhor? Estou muito curiosa — perguntou Maria, — Claro! Sabemos que ocorreu uma grande mudança na sociedade, saímos de uma Sociedade Industrial (baseada na produção de produtos, serviços e agronegócio) e entramos numa Sociedade do Conhecimento (baseada na capacidade de construir, modificar e compartilhar o conhecimento). Esse conhecimento vem promovendo grandes mudanças em nossa sociedade e na forma que os atores sociais interagem — disse Joana. — Vocês lembram que há poucos anos tínhamos que ir ao cinema para assistir aos filmes, um tempo depois surgiram as locadoras com fitas VHS, Betamax, depois vieram os DVD´s, os Blu-ray, entre outros, até que as locadoras sumiram. Na verdade, elas estão em nossos smartphones viabilizadas pelos serviços de streaming tais como Netflix, Amazon Prime Video, Disney+, entre outros — disse a especialista. 15 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Figura 4 Netflix, Amazon Prime e Disney+ são exemplos de disrupção. Fonte: a) Netflix (2022); b) Amazon Prime (2022) e c) Disney Plus (2022). A consultora ainda apresentou a evolução no segmento bancário. Explicou que antigamente as pessoas tinham que ir ao banco para abrir uma conta e o processo de análise de crédito além demorado era ineficiente. Hoje, os bancos estão também nos smartphones. O Nubank e o Banco Inter, por exemplo, permitem que o cliente abra sua conta com toda facilidade e agilidade, sem precisar ir à agência (até porque eles funcionam apenas no formato digital). A análise do cadastro é realizada com rapidez e o cliente fica mais satisfeito. Figura 5 - Banco Inter e Nubank. Fonte: Banco Inter (2022) e Nubank (2022). Finalmente, a consultora analisou a questão do transporte. Antigamente, havia os carros de praça (primeiro nome dos táxis). As pessoas que não tinham carro, precisavam se dirigir aos pontos definidos para pegar o táxi. Após algum tempo, veio a evolução dos táxis por telefone e rádio, o que permitia aos passageiros que ligassem para um número telefônico e solicitassem o veículo. Atualmente, a necessidade de transporte é atendida pelos aplicativos, tais como o Uber, com facilidade, eficiência e custo competitivo. — Esses exemplos que comentei agora são viabilizados pela TD. Ela pode criar soluções (produtos ou serviços) que atendam os consumidores. Novos mercados também podem ser criados. A orientação para o cliente e para a sua jornada na relação de consumo são prioridades — explicou Joana. A consultora afirmou que a TD vai muito mais além do que o emprego e a intensificação de tecnologias digitais na empresa. Envolve repensar o negócio, suas estratégias, e até mesmo o modelo do negócio e a cultura da empresa. Isso, claro, vai modificar as relações com o mercado, com os fornecedores, distribuidores, concorrentes, consumidores, entre outros. 16 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — A TD está relacionada à disrupção. Vocês sabem o significado de disrupção? Ou de ideia disruptiva? — perguntou Joana. — E, mais ainda, vocês perceberam que a gente aqui “respira” Gestão do Conhecimento? É a GC a grande responsável pela TD nas empresas! — completou a especialista. — É muito interessante, mas é muita coisa ao mesmo tempo, Joana — disseram os irmãos. — Não se preocupem, vamos explicar cada uma dessas ideias, vamos começar com o conceito de disrupção — disse a consultora. — A disrupção acontece sempre que se modifica a forma de entregar um serviço ou produto, agregando valor para a experiência vivenciada pelo consumidor, alterando o modelo do negócio. Ela ocorre toda vez que é modificada a forma de entregar um produto e/ou serviço, agregando valor percebido pelo consumidor e, principalmente, modificando o modelo do negócio, ou permitindo que novos modelos surjam — explicou Joana. — Serviços de streaming de vídeo e áudio, tais como o Netflix, o Deezer, o Spotify e o Amazon Prime Vídeo; serviços financeiros, como o Nubank e o Banco Inter; aplicativos de compartilhamento de transporte, tais como o Uber e o 99, são organizações que trazem as ideias disruptivas em seus DNAs, são exemplos de soluções baseadas em novos modelos de negócios — completou a consultora. — Onde estão as locadoras de vídeo? E as lojas de discos? E os bancos tradicionais? Esse processo pode resultar na extinção dos modelos de negócios vigentes, todo esse ciclo é viabilizado pela Gestão do Conhecimento — esclareceu Joana. — Vamos conhecer um pouco mais sobre a TD! — disse a consultora. 1.6 Princípios Fundamentais para a Transformação Digital Joana explicou que as tecnologias digitais podem ser utilizadas para otimizar processos, aumentar a qualidade e a produtividade, buscar a redução dos custos, aumentar a satisfação dos consumidores em suas experiências de compras e modificar a cultura da empresa. A consultora apresentou princípios e aspectos centrais da TD propostos por Morais (2020): importância crescente da informação; e, gestão, infraestrutura e pessoas. a) Importância crescente da informação: a busca por informações está presente desde o início da história da humanidade. Há não muito tempo atrás, as informações estavam disponíveis em jornais impressos e telégrafos. Posteriormente, passaram a circular também na televisão e em emissoras de rádios. Finalmente, a Internet abriu as portas para a Sociedade do Conhecimento. Até os anos de 1970 e 1980, as enciclopédias eram parceiras imprescindíveis para os trabalhos e pesquisas. Até o final dos anos de 1980, as cidades mais distantes eram conectadas por telefone, e as ligações eram realizadas pelas telefonistas e atendidas em cabines telefônicas específicas. As cartas vindas de longínquos continentes demoravam semanas para atravessar os oceanos. Mas, com a Revolução da Informação, tudo mudou. A Internet e o Google reduziram distâncias e aproximaram as pessoas. Parece que não há mais tolerância para uma espera muito longa. As respostas devem ser imediatas e rápidas. 17 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — Nesse contexto todo tem algo que é muito importante — disse Joana. — Vocês devem lembrar que as pessoas buscam informação, mas elas também são produtoras de informação e de conhecimento. A capacidade da organização de construir uma estrutura para coletar essas informações é essencial na Gestão do Conhecimento — completou a especialista. — Entender o que acontece no mercado, os sinais que ele emite, é muito importante para atingir os objetivos organizacionais — disse a profissional. b) Gestão, infraestrutura e pessoas: são três elementos centrais no contexto da TD. A gestão deve definir autoridades, responsabilidades, sistemas e processos administrativos, além dos modelos de negócio. A infraestrutura abrange os recursos físicos e a tecnologia requisitada para implantar a TD. As pessoas são o elemento mais complexo devido às suas características individuais, diferentes percepções, backgrounds e formações. A tecnologia é mais previsível. Pessoas, por outro lado, demandam uma compreensão individual. Tanto na empresa como fora dela (fornecedores, distribuidores e consumidores) é essencial entender como a motivação funciona para assegurar as melhores entregas possíveis. Identificar as lideranças também pode ajudar na transformação digital e na Gestão do Conhecimento como um todo. — Vamos conhecer agora os domínios da TD — disse Joana. 1.7 Domínios da Transformação Digital A consultora apresentou os domínios da TD propostos por Rogers (2017): dados, inovação, clientes, competição e valor percebido pelos clientes. Figura 6 - Os cinco domínios da Transformação Digital. Fonte: adaptado de Rogers (2017). 18 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — João e Maria, a Transformação Digital é um processo que ocorre nessas cinco dimensões, eles estão conectados, influenciam e são influenciados pelos seus pares. É importante mencionar também que dados, informações e conhecimento transitam nesses domínios ou dimensões. A Gestão do Conhecimento é essencial para compreender melhor o que acontece nessas dimensões, em outras palavras, conhecer bem essas dimensões resulta numa boa compreensão do mercado — explicou a consultora. Joana começou abordando a dimensão clientes. Explicou que estes eram o alvo das ações de Marketing. As empresas buscavam atuar em mercados de massa, nos quais uma oferta padronizada assegurava a escalabilidade (ganhos provenientes das quantidades adicionais produzidas e/ou comercializadas). A comunicação também se concentrava, na maioria dos casos, em mídia de massa (rádio, tv e jornal, entre outras mídias capazes de atingir grandes audiências com mensagens também padronizadas). A consultora explicou que as redes sociais e outras tecnologias modificaram as relações entre consumidores e organizações. As partes são interdependentes e as conexões recíprocas resultam em mais interatividade. E esse cenário demanda novas estratégias e planos de Marketing Digital. A empresa deve percorrer toda a jornada que seu cliente realiza, compreendendo todas as etapas que os clientes percorrem antes, durante e após o processo decisório de compras. As estratégias e planos de Marketing tradicionais cedem lugar ao Marketing Digital. O modelo de negócios adotado deve ter como premissa entregar soluções (produtos e serviços) relevantes para o consumidor. Os dados são mais difíceis de serem coletados e tratados pelas empresas. Até bem pouco tempo atrás, somente organizações de grande porte, e com um caixa capaz de bancar uma grande estrutura de banco de dados, eram capazes de obter dados, tratá-los e transformá-los em informações, para, a partir daí, gerar conhecimento. Mesmo assim, a coleta era demorada e isto causava um atraso que comprometia a estratégia de Marketing. Muitas vezes a organização demora para perceber os principais sinais de mercado. As ferramentas digitais utilizadas pelas empresas permitem uma grande interação com a empresa, permitindo coletar uma grande quantidade de dados e informações sobre os atributos de um produto ou serviço. A competição até bem pouco tempo atrás era vista de uma forma excludente. Cooperação entre as empresas era algo incomum. Havia a percepção de oposição que questionaria “por que vou ajudar um concorrente?”. Os relacionamentos entre empresas eram superficiais e, frequentemente, se restringiam ao compartilhamento de canais de distribuição. A Sadia e a Perdigão, por exemplo, agiam separadamente e concorriam em diversos mercados. Mas, quando resolveram ingressar no Mercado Euroasiático, decidiram unir esforços e criaram a BRF (Brasil Foods) 19 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Joana explicou que o valor entregue ao consumidor é outro ponto importante na Transformação Digital. As pessoas acham que o valor é a relação custo x benefício. Os gestores de Marketing, entretanto, adoram um conceito diferente: valor total entregue ao consumidor. Ele é resultado da diferença entre o conjunto de benefícios entregues e os percebidos pelo consumidor (que podem ser expressos através dos funcionários, da imagem corporativa, dos atributos e características funcionais do produto e dos serviços agregados ao produto) e os custos que ele teve ao ingressar nessa relação de consumo (tais como o custo monetário, o temporal, a energia física gasta na compra, entre outros). — E aí, João e Maria, chegamos a um dos pontos mais importantes, na Economia Tradicional, a proposta de valor era estática, dificilmente se modificava. Na Era Digital, a proposta de valor é dinâmica, frequentemente alterada. Deve-se exceder as expectativas do consumidor e descobrir outras fontes de valor — disse a consultora. — João, Maria, vocês vão entender melhor. Considerem o celular quando iniciou suas atividades no Brasil, nos anos 1990. O primeiro aparelho adotado em nosso país foi o Motorola PT-550, era grande e pesado, as pessoas o chamavam de tijolão — falou Joana. — Lembramos sim — disseram os irmãos. Figura 8 - Celular Motorola PT – 550 Fonte: TechTudo (2022)(1). Joana explicou que naquela época os telefones praticamente só faziam e recebiam ligações, o sinal analógico deixava muito a desejar. — Nos anos 1990, chegou o sinal digital proporcionando um ganho para os consumidores e melhorando bastante a qualidade das ligações. Até que a internet melhorou de qualidade e os smartphones foram lançados e ganharam a preferência do consumidor, com eles, temos serviços financeiros, entretenimento (sim, temos 20 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações ‘locadoras de vídeo’), restaurantes e lanchonetes, dentre inúmeros outros serviços — explicou Joana. — Vocês percebem como a Transformação Digital está profundamente relacionada com a Gestão do Conhecimento — disse a consultora. — As possiblidades de aplicativos são quase infinitas — explicou Joana. — Mas da mesma forma que os aplicativos facilitam nossas vidas, existe aqueles consumidores de Terceira Idade que buscam um celular mais simples, com teclas maiores para ajudar na digitação do número. Para esse público, mais importante do que ser um smartphone e ter uma lanterna forte e números de emergência — disse a consultora. — Daí, vocês percebem que da mesma forma que há consumidores que não abrem mão do smartphone, há grupos que preferem uma solução mais simples, de uso facilitado, com menos recursos — conclui a consultora.. Figura 9- Celular para idoso. Fonte: Techtudo (2022)(2). — Finalmente, a inovação! — vibra a consultora. — Existe uma visão tradicional de inovação influenciada pelo viés de produto acabado. Essa visão propõe que a inovação é uma forma de desenvolver ideias, definir um conceito, fabricar e testar o protótipo, e chegar a uma versão comercial do produto acabado, mas é um formato caro e, às vezes, demorado — completou Joana. Rogers (2017) propôs uma visão alternativa de inovação. As tecnologias digitais permitem a verificação e a experimentação durante todo o processo de compras. Impressoras 3D podem construir e modificar protótipos com custos baixos e em pouco tempo, em versões simplificadas. São os MVP (Mínimo Produto Viável) que reúnem características básicas de uma possível solução. Eles permitem que a empresa incremente seu processo de aprendizagem, reduzindo as incertezas decorrentes do processo de inovação. — Vamos conversar agora sobre a Produção 4.0 — disse a consultora. 21 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações 1.8 Produção 4.0 e Gestão do Conhecimento Joana explicou que a Produção 4.0 (ou Indústria 4.0) envolve um conjunto de tecnologias avançadas como Internet das Coisas (IoT), robótica, Inteligência Artificial e Computação nas Nuvens com o objetivo de melhorar os processos e aumentar a produtividade das empresas através da automação e troca de dados. A utilização de robótica avançada, de sistemas de conexão máquina-máquina, de sensores, da IoT, entre outros, possibilita que as máquinas conversem durante todo o processo produtivo, aumentando a produtividade e a qualidade, reduzindo custos e o tempo de execução. — Joana, você pode explicar melhor essas ferramentas e tecnologias? — pediu Maria. — Claro. Vamos conversar sobre algumas das tecnologias — respondeu a consultora. a) Inteligência Artificial e Machine Learning: A Inteligência Artificial (IA) é uma área de conhecimento da Ciência da Computação que tem como objetivo aprimorar a capacidade de compreensão e de aprendizagem dos computadores, permitindo que estes tomem decisões de forma autônoma, similarmente à inteligência humana. A Aprendizagem de Máquina (ML), por sua vez, é um subconjunto da IA. Tem como objetivo fornecer dados às máquinas para que elas aprendam por si mesmas. Os carros autônomos (e outros veículos) são um exemplo das contribuições dessa área. Pessoal, vamos conhecer um pouco mais sobre Inteligência Artificial e Machine Learning. Acesse o link disponibilizado a seguir e assista ao vídeo. https://youtu.be/0PrOA2JK6GQ b) IoT (Internet das Coisas): A IoT é uma Revolução Tecnológica que tem como objetivo conectar objetos que utilizamos à rede da Internet. A IoT faz a conexão entre dispositivos conectados na rede, chamados de dispositivos inteligentes, através do uso de sensores capazes de interpretar situações e auxiliar no desempenho de atividades rotineiras. 22 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Pessoal, vamos conhecer um pouco mais sobre IoT (Internet das Coisas). Acesse o link disponibilizado a seguir e assista ao vídeo. https://youtu.be/Ikvs6B2591M Síntese da Unidade A Gestão do Conhecimento é um processo de criação, modificação e compartilhamento do conhecimento numa organização. Vimos que a matéria-prima do conhecimento são as informações, que são obtidas através dos dados. Um dado é um simples registro de algum processo ou atividade realizada na empresa, tal como as vendas diárias ou matérias-primas utilizadas, trata-se, portanto, de simples registros de fenômenos. Quando tratamos esses dados e eles ganham alguma importância, temos as informações, tais como a variação de vendas em cada dia da semana ou o refugo de matéria-prima em cada mês. Estas, quando são aplicadas, transformam-se em conhecimento. O conhecimento pode ser tácito ou explícito. A partir da interação entre eles ocorre a construção e disseminação do conhecimento. Para se tornar uma empresa produtora de conhecimento, a organização deve adotar o Espiral do Conhecimento. Ele permite a construção, modificação e compartilhamento do conhecimento numa organização. O conhecimento deve ser articulado para em seguida ser internalizado pelo indivíduo. A Espiral do Conhecimento possui quatro conversões que explicam a construção e disseminação do conhecimento: a socialização (compartilhamento de experiências), a externalização (conversão do conhecimento tácito em explícito), a combinação (sistematização de conceitos) e a internalização (incorporação do conhecimento explícito no conhecimento tácito). A Transformação Digital está relacionada à Gestão do Conhecimento. A TD envolve repensar os processos, a cultura, o modelo do negócio. A TD pode resultar em novos produtos e serviços para mercados, além de criar e extinguir modelos de negócios. A Produção 4.0 também tem relação com a Gestão do Conhecimento. Através do uso de tecnologias avançadas como Iot, robótica, Computação nas Nuvens, ela busca melhorar processos e aumentar a produtividade. Referências BANCO INTER. Banco Inter. Disponível na url https://www.bancointer.com.br/. Acesso em 21 de novembro de 2022. 23 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações DISNEYPLUS. DISNEY PLUS. Disponível na url https://www.disneyplus.com/pt-br. Acesso em 29 de novembro de 2022. MORAIS, L. F. M. Transformação digital: como a inovação digital pode ajudar no seu negócio para os próximos anos. Disponível em: Minha Biblioteca, Editora Saraiva, 2020. NETFLIX. Netflix. Disponível na url https://www.netflix.com/. Acesso em 19 de novembro de 2022. NUBANK. NUBANK. Disponível na url https://nubank.com.br/. Acesso em 12 de dezembro de 2022. PEREIRA, H. J. Os novos modelos de gestão: análise e algumas práticas em empresas brasileiras. FGV-EAESP. Tese de Doutorado. 1995. Disponível na url https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/4577. Acesso em 04 de dezembro de 2022. PRIME VIDEO. Prime Video. Disponível na url https://www.primevideo.com/? _encoding=UTF8&language=pt_BR. Acesso em 02 de dezembro de 2022. REIS, D. R. Gestão da Inovação Tecnológica. Barueri: Manole, 2008. ROGERS, D. L. Transformação digital: repensando o seu negócio para a era São Paulo : Autêntica Business, 2017. TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do Conhecimento. São Paulo : Grupo A, 2008. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788577802296/. Acesso em: 06 dez. 2022. TECHTUDO (1). Techtudo. Disponível na url https://www.techtudo.com.br/noticias/2015/10/dez-celulares-que- eram-top-quando-voce-era-crianca.ghtml. Acesso em 22 de março de 2022. TECHTUDO (2). Techtudo. Disponível na url https://www.techtudo.com.br/listas/2021/12/celulares-ideais-para- idosos-funcoes-basicas-e-preco-acessivel.ghtml. Acesso em 22 de março de 2022. 24 Unidade 2 Fundamentos e abordagens da Criatividade e aplicações na resolução de problemas e na gestão de mudanças Nossa disciplina tem como pilar central a inovação. As organizações necessitam de inovação para se diferenciarem no mercado e atingirem seus objetivos. A criatividade está fortemente relacionada com a inovação. Apenas criar e disseminar o conhecimento não é suficiente! Um processo essencial nesse contexto é a aplicação em situações e problemas concretos. Num ambiente externo em constante mutação, o antigo tripé da gestão caracterizado pelo gerenciamento de mão de obra, máquinas e matéria-prima não atende às demandas. A criação e a geração de ideias aplicadas para resolver demandas do mundo real torna-se um dos ativos mais importantes nesse mundo da inovação. Nesta unidade, veremos os Fundamentos da criatividade, apresentando seus conceitos centrais, além da evolução dos estudos na área e a inserção no mundo das organizações. Analisaremos também o desenvolvimento do potencial criativo em níveis pessoal e profissional. Em seguida, conheceremos as principais Abordagens de criatividade e a identidade criativa. Veremos também o processo de geração e avaliação de ideias que são elementos centrais para que uma organização inove. O incentivo à colaboração criativa junto aos funcionários também é um dos assuntos desta unidade. As organizações demonstram uma crescente atenção na criatividade dos seus colaboradores como forma de fomentar a inovação, desenvolver novas soluções e melhorar produtos e serviços existentes. Finalmente, veremos Aplicações da criatividade e suas contribuições na resolução de problemas e na gestão de mudanças nas organizações. Sejam bem-vindos à Unidade 2 de nossa disciplina! Leiam o Guia de Estudo, façam pesquisas complementares, assistam às videoaulas e caprichem nas atividades! Grande abraço. SUCESSO! Objetivos da unidade Compreender os conceitos centrais e fundamentos da criatividade, além de sua inserção no contexto da Administração; Conhecer as principais abordagens de criatividade; Compreender o processo de geração e de avaliação de ideias; Conhecer e aplicar as métricas de criatividade e de experimentação; Conhecer e verificar as contribuições da criatividade na resolução de problemas e na gestão de mudanças. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações 1. Criatividade Vocês lembram de João e Maria, empresários donos de uma pequena facção de roupas localizada numa cidade da região Agreste de Pernambuco?. Eles estão muito satisfeitos com os resultados iniciais obtidos por Joana e resolveram prorrogar seu contrato com a Fino Corte. Os irmãos perceberam que existe uma relação entre a inovação e a criatividade. — Vamos conhecer um pouco mais sobre isso, ok? — pergunta Joana. A consultora iniciou sua explanação pelo chamado pensamento criativo no contexto das organizações e do trabalho. Ela explicou que a capacidade de pensar e repensar o trabalho obtendo melhores resultados é consequência da criatividade. — João e Maria, modelar peças, cortá-las, costurá-las etc. são etapas de um trabalho, eu já expliquei a vocês que os processos são atividades que as organizações realizam. Por exemplo: comprar matérias-primas (alimentos), preparar (cozinhar) os ingredientes, preparar os sanduíches, vender, entregar, entre outros, são exemplos de atividades que um dono de uma carrocinha de cachorro-quente tem que realizar. Pensar novas maneiras de executar essas atividades é a aplicação do pensamento criativo no contexto da Administração — explicou a consultora. — Melhorar um produto ou serviço, lançar novos produtos, aperfeiçoar processos, reduzindo tempo de execução e custos, aumentando a qualidade e proporcionando uma maior satisfação ao consumidor, são processos que podem ser obtidos por inovação, mas a criatividade é a chama que alimenta essa inovação, é a matéria-prima de tudo isso. A criatividade, enfim, está associada a geração de ideias que podem ser úteis à organização e a inovação, é o processo de aplicar essas ideias para solucionar problemas das organizações, da sociedade, entenderam? — completou a especialista. — Vamos adiante, vou explicar para vocês — disse Joana. A criatividade é a capacidade de gerar ideias novas que podem ser úteis à organização, servindo de base para a inovação. Pode gerar como resultados o lançamento (ou melhoria) de produtos e serviços e o aperfeiçoamento de processos (tarefas). Acesse os links e assista aos vídeos para compreender um pouco mais sobre a criatividade. Disponíveis em: https://youtu.be/TgRhRLFz1-M https://youtu.be/wrb-s04Zf6w E a conversa sobre criatividade continuou. 27 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações 1.1 Fundamentos da Criatividade — Joana, estamos muito interessados na criatividade, você pode explicar sua origem, seus conceitos? — pediram os irmãos. — Claro! — respondeu a consultora. Ela explicou que a criatividade está presente desde o início dos tempos em que o homem começou a povoar a Terra. O uso do fogo para se proteger do frio e de inimigos, as ferramentas produzidas a partir de ossos e de pedras polidas. Passando pelo plantio de culturas e a criação de animais. Tudo está associado à criatividade. — Entendam que foi a criatividade que possibilitou o desenvolvimento de nossa civilização, possivelmente os homens ainda seriam uma espécie rudimentar, sem grandes avanços proporcionados pela inovação que vem da criatividade — refletiu Joana. — Vocês sabiam que antigamente a criatividade era considerado algo divino? Acreditava-se que ela surgia de forma inconsciente — falou a especialista. — Imaginem a evolução proporcionada pelo pensamento criativo. Vejam a evolução que observamos na área de transporte, por exemplo, no início o homem tinha que andar para percorrer grandes distâncias, depois, domesticou animais, vieram os barcos, quando perceberam que objetos podem flutuar, as estradas de ferro com as locomotivas, os automóveis, aviões, naves espaciais... — disse Joana. — Nas comunicações, as pinturas rupestres, a escrita em pergaminhos, a evolução para jornais impressos, o telégrafo, o telefone, o rádio e a televisão, a internet. Tudo isso produto de inovação, que se origina da criatividade, do pensamento criativo — completou a especialista. A figura 1 apresenta a evolução dos transportes. Figura 01: o pensamento criativo e a inovação aplicados ao transporte. Fonte: adaptado de Pexels (2022). 28 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — Então podemos concluir que os conceitos de criatividade e de inovação estão relacionados, exato? — Perguntou João. A consultora concordou com a conclusão de João, explicando que se trata de uma área bem abrangente e que a criatividade possui inúmeros conceitos e que muitos especialistas consideram complexa e ambígua a utilização de um conceito único e universal. — Só para ilustrar, meus caros empresários, vou apresentar alguns conceitos de criatividade — disse a consultora. O quadro 1 apresenta alguns conceitos que foram explicados. Quadro 1: alguns conceitos de Criatividade Conceito Autores Capacidade de gerar algo, um produto, serviço ou processo que Martins e é valioso para a sociedade em geral. Terblanche (2003). Produção de uma ideia útil e nova em alguma área do Amabile et al conhecimento. (1996). Processo que gera um produto ou soluções novas para atender Amabile e Müeller demandas específicas de mercado. (2008). Habilidade de construir ou gerar algo novo para atender Stemberg e Lubart determinada finalidade. (1996) Processo cuja finalidade é criar um produto ou serviço Alencar (2005). considerado útil ou de valor para um grupo de pessoas. Fonte: adaptado de Veiga (2010). — Sim, e para destacar algo que merece toda nossa atenção, na unidade anterior, vimos que ocorreu uma mudança da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento, vocês lembram? E a criatividade é o grande motor desse desenvolvimento — pontuou a especialista. Florida e Tinagli (2006), renomados estudiosos na área, destacam que na Sociedade do Conhecimento os insumos mais valiosos são a criatividade, o conhecimento e a inteligência. Eles ainda reiteram o poder do trabalhador criativo, identificando que a criatividade pode estar presente tanto nas ideias geniais como nas tarefas simples do cotidiano e nos lugares comuns. Há uma mudança na percepção da organização sobre a ideia do capital humano: os colaboradores deixam de ser considerados apenas como custo de produção e passam a compor a solução, ou seja, são protagonistas na geração de ideias e na implantação de inovação. Joana também apresentou aos irmãos a diferença entre criatividade, inovação e mudança organizacional segundo Bruno Faria (2003), um dos maiores especialistas na área. O quadro 2 apresenta essas diferenças. 29 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Quadro 2: Criatividade, inovação e mudança. Criatividade Inovação Mudança Organizacional Criação de ideias, Pode ser provocada pela processos, novos produtos Resultado, implantação inovação. A mudança pode ou serviços que possam ser dessas ideias. ser radical ou gradativa. considerados valiosos. Fonte: adaptado de Bruno-Faria (2003). — Vou ilustrar com um exemplo bem fácil para que vocês compreendam melhor esses três temas — disse a consultora. — Considerem uma pequena lanchonete ou fast food de bairro que atende apenas no formato presencial, com o objetivo de aumentar as vendas e os lucros, o dono da empresa pensa em novas formas de chegar aos consumidores, facilitando o acesso aos produtos, os lanches, que comercializa. Num primeiro momento, ele tem a ideia de implantar pedidos por telefone, aí vem outra ideia, os clientes vão fazer seus pedidos pelo WhatsApp ou pelo Instagram, finalmente, ele tem a ideia de oferecer todo o seu cardápio em aplicativos de entrega. Todas essas ideias são exemplos da criatividade — disse Joana. — Aí ele implanta essas ideias e disponibiliza seus produtos através de todos esses canais: presencial, telefone, WhatsApp, Instagram e aplicativos de entrega. Faz todas as alterações necessárias na infraestrutura, contrata mão de obra, e passa a funcionar dessa nova maneira, esses são exemplos de inovação — completou. — Suponham, agora, que em sua região de atuação, os consumidores preferem comprar lanches apenas de forma não presencial, fazendo os pedidos pelos aplicativos, e que em função disso, o empresário resolve suspender suas atividades no formato presencial e atuar apenas de forma remota, ele teve que investir no back office, na retaguarda. Nesse caso, a inovação gerou uma mudança organizacional — disse a consultora. — Entendemos — disseram João e Maria. — Mas parece que a criatividade ocorre em vários níveis, pode ser individual, do grupo, da organização, e até mesmo fora da organização. Está certo esse nosso raciocínio, Joana? — perguntou João. A especialista concordou e explicou que a criatividade pode ocorrer em níveis individual (e da equipe), na organização e fora dela também. A figura 2 apresenta fatores que influenciam a criatividade em nível individual, segundo as ideias de Amabile (1996). 30 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Figura 2: elementos da criatividade intrínseca. Fonte: adaptado de Amabile (1996). A consultora explicou que a expertise é o conhecimento técnico (habilidades técnicas, experiência), o talento para realizar determinada atividade. O pensamento criativo refere-se às características cognitivas favoráveis à criatividade (estilos de pensamento ou traços de personalidade, por exemplo). Ele, por sua vez, é influenciado por fatores como a disposição em assumir riscos, a autonomia, a independência, a autodisciplina, o grau de tolerância à ambiguidade, o grau de perseverança diante de situações adversas, além do quanto a pessoa se preocupa com aprovação social. A motivação, por sua vez, vai determinar o que será feito realmente, uma vez que determina o envolvimento das pessoas em função do quanto uma atividade é prazerosa, desafiante ou interessante. — Motivação, hum! É algo realmente muito importante nesse contexto da criatividade —ponderou Maria. — Você pode explicar melhor, Joana? — completou. — Claro! — disse a especialista. A consultora explicou que a motivação para a criatividade pode ser intrínseca ou extrínseca. A primeira abrange a possibilidade de ser “recompensado” através da vivência de sentimentos positivos durante e após a realização de atividades. A segunda refere-se à possibilidade de ser recompensado externamente (uma viagem, uma comissão extra ou um objeto que a pessoa deseja) após a realização ou cumprimento de um objetivo. — Vou dar alguns exemplos para que vocês possam compreender melhor — disse Joana. O quadro 3 apresenta exemplos de motivadores intrínsecos e extrínsecos. Quadro 3: exemplos de motivadores intrínsecos e extrínsecos. Motivadores Intrínsecos Motivadores Extrínsecos Curiosidade Nível de interesse pelo trabalho Definição de objetivos Satisfação Avaliação do desempenho Envolvimento Pressão (intensidade) Alinhamento com os valores do indivíduo Recompensa Liberdade de ação Sentimento de utilidade Fonte: adaptado de Rocha (2009) e Serra, Fiates e Alperstedt (2007). 31 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações A Motivação é um fator importante para a criatividade. Vamos conhecer um pouco mais sobre este importante fator comportamental e sobre seus tipos: intrínseco e extrínseco. Acesse o link https://youtu.be/CQrReSazH6w e assista ao vídeo para compreender um pouco mais sobre a Motivação. — Vamos conversar um pouco sobre as abordagens da criatividade, entender mais sobre modelos que abordam a criatividade, o que acham? — disse Joana. — Estamos ansiosos para isso — disseram os irmãos. 1.2 Abordagens da criatividade Joana explicou que para compreendermos melhor a influência da criatividade sobre a inovação e a mudança organizacional é necessário conhecer as abordagens e alguns modelos propostos e validados por especialistas da área. Nossa consultora continuou e apresentou algumas opções mais aceitas na área. a) Modelo da Diversidade Criativa: Essa abordagem foi proposta a partir dos estudos de Amabile, Kirton e Sternberg, renomados pesquisadores na área, e parte da premissa de que todas as pessoas são criativas, independente de gênero, idade, escolaridade, background social, grupos sociais com os quais convive, entre outros elementos. A criatividade, em essência, é baseada na diversidade e essa última é que alimenta, favorece e enriquece o processo criativo. A Diversidade Criativa é influenciada por quatro variáveis: nível criativo, estilo criativo (o quanto o indivíduo gosta de ousar e ser diferente, podendo variar de alguém muito conservador até mais revolucionário), razão (motivo favorece a criatividade) e oportunidade (desafios e problemas favorecem a criatividade). b) Teoria de Investimento em Criatividade: Essa abordagem foi proposta por Sternberg e Lubart (1991) e propõe que a criatividade é influenciada pela inter-relação de seis fatores: inteligência, estilo intelectual, conhecimento, personalidade, motivação e contexto ambiental. Essa proposta assume um caráter mais sistêmico porque destaca o papel da influência dos aspectos sociais e contextuais sobre a criatividade dos colaboradores. Nem todos esses elementos possuem a mesma importância para a criatividade, eles não devem ser analisados isoladamente, mas de forma interativa. 32 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Para estes pesquisadores, a inteligência abrange três habilidades essenciais para a criatividade: a capacidade de redefinir problemas enxergando-o sob novas perspectivas (habilidade sintética), a capacidade de identificar dentre suas próprias ideias aquelas em que vale a pena implantar (habilidade analítica), e, finalmente, a capacidade de persuadir e convencer outras pessoas sobre suas ideias (habilidade prática-contextual). O estilo intelectual, por sua vez, abrange as maneiras pelas quais as pessoas utilizam, exploram ou usam a inteligência. Fazendo uma analogia com os poderes, os pesquisadores preconizam que existem pessoas que definem ou reconhecem problemas e gostam de criar regras (Poder Legislativo), desempenhando um papel protagonista para a criatividade. Existem indivíduos que gostam de implementar ideias (formuladas por outros) em situações claras, previsíveis e bem definidas (Poder Executivo). Finalmente, há aqueles que gostam de avaliar e fazer juízo de valor acerca de regras, pessoas e tarefas, sentindo-se bem em emitir opiniões e também julgando as dos demais colegas (Poder Judiciário). Ter conhecimento sobre determinada área ou domínio é essencial para o processo criativo. Para esses autores, existem dois tipos de conhecimento: o formal (adquirido através do ensino, dos livros, entre outros) e o informal (adquirido através da experiência e difícil de ser registrado). O conhecimento é importante para habilitar o indivíduo a analisar determinada situação, o que favorece a criatividade. Mas é necessário também libertar-se desse conhecimento, porque, em algumas ocasiões, pode restringir a criatividade. — Vocês sabiam que características de personalidade também podem influenciar a criatividade? — provocou a consultora. Traços da personalidade tais como autoconfiança, tolerância à ambiguidade, perseverança frente a obstáculos e dificuldades, coragem para apresentar e expor as ideias contribuem para a capacidade criativa do indivíduo. A motivação é a força propulsora da capacidade criativa. Já vimos as motivações intrínseca e extrínseca, nesta unidade. O prazer de realizar determinada tarefa, por exemplo, contribui para a criatividade. É importante mencionar que os dois tipos de motivação estão em permanente interação. — Em todas as novas conversas, João e Maria, percebi o orgulho de vocês ao concluírem atividades na facção de roupas, possivelmente está associado também ao fato de vocês lembrarem de seus pais, pode ser uma forma de homenageá-los, reverenciá-los — ilustrou Joana. — Gostar daquilo que se faz ajuda a pensar fora do quadrado, favorece a capacidade criativa — completou. Finalmente, a criatividade ocorre dentro de um contexto ambiental. Os indivíduos, processos e produtos decorrentes da capacidade criativa são avaliados por pessoas 33 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações que se encontram no ambiente, nos grupos sociais. Os pesquisadores Sternberg e Lubart (1991) afirmam que o contexto ambiental influencia a criatividade de três formas: grau que proporciona o surgimento e geração de ideias (capacidade criativa), grau de apoio ao desenvolvimento e maturação dessas ideias e a consequente transformação em novos produtos e serviços, e avaliação dos produtos originários dessa criatividade. c) Modelo Componencial de Criatividade: — Já começamos a ver uma pequena parte desse modelo nesta unidade. Vamos detalhar um pouco mais — disse Joana. O modelo proposto por Amabile (1996) tem como objetivo compreender a influência de aspectos motivacionais, da personalidade, sociais e cognitivos sobre o processo criativo. Há componentes internos (motivação intrínseca, expertise e o pensamento criativo ou habilidade para a criatividade) e externos (ambiente de trabalho ou ambiente social, motivadores extrínsecos, além de barreiras e estímulos à capacidade criativa). A figura 3 apresenta o modelo. Figura 03 - Modelo Componencial de Criatividade. Fonte: adaptado de Amabile (1996). 34 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Joana apresentou as ideias do modelo de Amabile de forma mais detalhada. Inicialmente, ela explicou o papel dos componentes externos. — Vocês sabiam que o ambiente externo pode favorecer ou limitar o pensamento criativo? — Perguntou aos irmãos. — Você pode explicar melhor, Joana? — pediu João. — O estilo de supervisão adotado pela chefia, por exemplo, se o gestor adota uma supervisão cerrada, pode inibir um comportamento (e um pensamento) mais autônomo dos colaboradores e dificultar o processo criativo, por outro lado, se há uma gestão mais participativa, caracterizada por um ambiente de maior confiança, pode favorecer a geração de ideias. O controle pode ser por resultados — explicou a consultora. — Uma empresa com organograma mais horizontal, mais achatado, com menos níveis hierárquicos, além de proporcionar uma agilização da capacidade de resposta da organização às diversas demandas do ambiente, pode favorecer o pensamento criativo, um ambiente instável com baixa previsibilidade e concorrência acirrada também pode ajudar a fomentar o pensamento criativo — completou Joana. — Mais adiante vamos conversar mais sobre barreiras e estímulos à criatividade — finalizou. Em relação aos componentes internos, a consultora lembrou que a motivação intrínseca se refere à satisfação e ao grau de envolvimento que o indivíduo desenvolve pela tarefa. Envolve autodeterminação, competência e interesse da pessoa. Dessa forma, uma atividade desafiadora, que consiga atrair o interesse, tende a fortalecer o sentimento de autoeficácia e um maior engajamento do colaborador. — Uma pessoa com traços de personalidade tais como persistência, independência, maior tolerância à ambiguidade, não conformismo, pode favorecer seu potencial criativo — ponderou Joana. A figura 4 apresenta alguns traços de criatividade. Figura 04 – Traços de personalidade e criatividade. Fonte: elaborado pela autora (2023). — Tudo isso é bem interessante — falaram os irmãos. — E ainda temos o pensamento criativo, que também é influenciado pela personalidade e outros fatores, tais como o estilo cognitivo, estilo de trabalho, habilidade de uso de estratégias que favoreçam a geração de novas ideias — disse a consultora. — E como podemos identificar se um trabalhador é criativo? — perguntou Maria. 35 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Joana respondeu que um estilo de trabalho criativo pode ser identificado quando um colaborador é capaz de se concentrar por um longo período, quando ele é persistente diante de dificuldades, busca excelência de desempenho e sabe o momento correto de abandonar ideias improdutivas. A consultora explicou também os estilos cognitivos e os traços mais frequentes em pessoas criativas. Esses colaboradores costumam fugir de padrões usuais de pensamento, buscam novos hábitos com frequência, procuram compreender situações complexas, não adotam nenhum juízo de valor durante o processo de geração de ideias. — Até agora vi que muito do que você falou, Joana, está concentrado em características do indivíduo — disse Maria. — Vou apresentar a vocês uma abordagem que leva em consideração os sistemas sociais. Vamos conhecê-la — falou a consultora. d) Perspectiva de Sistemas: Joana explicou que a abordagem de Sistemas foi proposta por um estudioso chamado Csikszentmihalyi (1999). Para ele a criatividade ocorre a partir das interações entre o criador (indivíduo) e sua audiência. Os pensamentos do indivíduo interagem com o contexto sociocultural. É mais importante investigar onde está a criatividade, em outras palavras: é essencial compreender em que medida os ambientes cultural, social e histórico atribuem valor a uma produção, considerando-a (ou não) criativa. A figura 5 apresenta o modelo. Figura 05: abordagem de Sistemas. Fonte: adaptado de Csikszentmihalyi (1999). A criatividade é um processo complexo e sistêmico que surge a partir das inter- relações entre os seguintes elementos: indivíduo, campo e domínio. O indivíduo reúne características genéticas e suas experiências de vida. Os indivíduos produzem variações no domínio (que é a cultura ou conhecimento, por exemplo). Dois aspectos desse elemento são protagonistas: background social e cultural e características associadas à criatividade. O pesquisador relaciona algumas características das pessoas criativas: abertura para experiências (e por consequência à inovação), fluência de ideias, persistência, entusiasmo, curiosidade e motivação intrínseca. 36 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — De acordo com esse pesquisador, pessoas criativas não possuem estruturas rígidas, pelo contrário, elas ajustam essas características de acordo com a experiência que vivenciam em determinado momento — explicou Joana. — Durante algumas fases do processo criativo elas podem exibir comportamento mais introvertido, em outras, serem mais extrovertidas, por exemplo — completou a consultora. — O apoio dos pais durante a vida escolar também parece influenciar positivamente sobre a criatividade, observem aí o background — completou a especialista. Pessoas criativas têm hábitos e características bem especiais. Vamos conhecer um pouco mais sobre elas. Acesse o link https://youtu.be/3UPfCaCuiWM e assista ao vídeo. O campo corresponde aos indivíduos que atuam como “juízes”, ou seja, eles avaliam se aquele pensamento ou ideia é criativa (ou não). Esse elemento tem a função de definir e decidir o material que receberá permissão para ingressar no domínio. — Vou exemplificar para facilitar a compreensão de vocês — disse Joana. — Artistas, como artesãos e ceramistas em início de carreira, são avaliados por curadores de exposições, gestores de museus, críticos de artes, entre outros, estes são os juízes, compreenderam? — perguntou a consultora. — Sim, esse exemplo facilitou muito nossa compreensão. Obrigado! — Disseram os irmãos. O domínio, finalmente, é um conjunto de procedimentos simbólicos e regras estabelecidos pela cultura. Em outras palavras, é um conhecimento agrupado construído, modificado, transmitido e compartilhado numa sociedade. A música, ciências como a Matemática e a Química, são alguns exemplos de domínios. — Vejam que interessante: em determinados momentos da História, algumas áreas (domínios) foram mais ou menos valorizadas que outras (observem o papel do campo – juízes). O Iluminismo na Europa do século XVIII, por exemplo, valorizava a razão e a ciência, e influenciou a Revolução Francesa e a independência de países em nosso continente — comentou a consultora. — Vamos conversar agora sobre estímulos e barreiras à criatividade. Vamos adiante! — convidou a especialista. 1.2.1 Estímulos e Barreiras à criatividade Joana explicou aos irmãos que para a organização ter um comportamento proativo e mais favorável ao pensamento criativo, é necessário conhecer e identificar fatores que favorecem e que inibem a criatividade. 37 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações — Você pode explicar um pouco mais sobre isso? — solicitou Maria. — Claro — disse a consultora. A especialista explicou que as organizações que desejam favorecer o pensamento criativo devem observar, dentre outros, os seguintes aspectos: a) Cultura e Clima Organizacional; b) Estrutura; c) Estratégia; d) Apoio da gestão; e) Apoio dos colegas de trabalho; e, f) Recursos disponíveis. A Cultura e o clima organizacional podem ser expressos através de apoio às novas ideias e à assunção de riscos, à implantação de mudanças, entre outros fatores. Uma estrutura descentralizada com poucos níveis hierárquicos de autoridade que favoreça uma gestão participativa e uma comunicação ágil favorecem o pensamento criativo. A estratégia deve apoiar e disponibilizar programas e ações que proporcionem a geração de ideias. Além disso, o planejamento deve ser flexível para incorporar novas ideias e inovações. O Apoio da gestão pode ser manifestado através de reconhecimento público, tolerância ao erro, incentivo ao trabalho criativo, entre outros. A relação com os amigos e colegas de trabalho é importante porque os grupos informais (relações espontâneas que são construídas nas organizações) que ocorrem nesses espaços fomentam a confiança e o diálogo entre seus participantes, facilitando a criatividade. Os recursos disponíveis também influenciam a criatividade, tais como tempo disponível para pensar em melhorias de processos, produtos e serviços, equipamentos disponíveis, conhecimento compartilhado entre todos os colaboradores, entre outros. — Vou apresentar a vocês o processo da criatividade. Vamos adiante — disse Joana. 1.2.2 Processo de criatividade e de geração de ideias — Estamos numa área bem complexa, com vários aspectos, definições etc. Vocês devem ter notado isso. Vamos conhecer um pouco o processo de criatividade — falou a especialista. Joana explicou aos irmãos o modelo de processo de criatividade proposto por Amabile (1996). A figura 6 apresenta o esquema. Figura 6: Processo de Criatividade. Fonte: adaptado de Amabile (1996). 38 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Na primeira fase, identificação do problema, o indivíduo seleciona um problema específico que tenha alguma importância para determinado setor da sociedade ou grupo social. A consultora destacou que, nesse momento, se a pessoa possuir um elevado nível de motivação intrínseca, isto será suficiente para que ela siga engajada e dê continuidade ao processo. A fase dois, denominada preparação, é caracterizada pela ação do indivíduo de construir, modificar ou retomar informações que serão necessárias para a solução do problema. A consultora destacou o protagonismo do domínio (conjunto de conhecimentos, como vimos agora há pouco). A etapa seguinte é a geração de resposta, momento em que são geradas várias soluções possíveis para o problema ou situação definidos. Nesse momento, o grau de originalidade da solução é estabelecido. O indivíduo utiliza processos criativos e motivos intrínsecos. Na quarta fase, chamada de comunicação e validação de resposta, a ideia do indivíduo é comunicada para outras pessoas e grupos. Em seguida, é necessário testar essa ideia. Para este fim, o criador utiliza novamente o domínio para verificar e validar o grau de correção, de utilidade e de valor para a sociedade. Na última fase, resultado, ocorre a tomada de decisão sobre a ideia. Caso a ideia funcione e solucione o problema adequadamente, o processo é concluído. Se for um fracasso total, também é encerrado. Mas se for um sucesso parcial, o processo é retomado nas etapas anteriores até que uma ideia ou solução mais eficiente seja gerada. A consultora destacou ainda que todo o conhecimento adquirido nessas etapas alimenta as habilidades de domínio. Artistas (artesãos, ceramistas, pintores, cantores, dentre tantos outros) também recorrem ao domínio em seus processos criativos. E, de uma forma ou de outra, são julgados pelo “campo”. Acesse o link https://youtu.be/RYB-n4Zq7Aw e vamos conhecer um pouco mais do processo criativo dos artistas. Lembre-se de tentar fazer associações com os assuntos que trabalhamos há pouco. Vamos continuar conhecendo algumas aplicações da criatividade na solução de problemas, os testes e mensuração da criatividade. 39 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações 1.3 Algumas aplicações da Criatividade — Joana, esse assunto é realmente incrível! O que mais você sugere para trabalharmos? — perguntou Maria. — Que bom que vocês estão gostando! Vamos trabalhar em três frentes; a primeira, que vai abordar a solução criativa de problemas na organização, outra que abrange os testes de criatividade, e, finalmente, a mensuração — propôs a consultora. Veremos um pouco mais sobre a solução criativa de problemas. a) Solução criativa de problemas: Joana afirmou que a criatividade pode ser favorecida na organização, ao desenvolver o pensamento criativo. Existem várias técnicas para a solução criativa de problemas, conforme apresentando no Quadro 4. Quadro 4: técnicas criativas de solução de problemas Brainstorming Método Gordon Brainstorming Inverso Abordagem Inspirada Brainwriting Livre Associação Fonte: adaptado de Hisrich, Peters e Shepherd (2009). O Brainstorming é uma das técnicas mais utilizadas para a solução criativa de problemas e para a geração de ideias. Pode ajudar a definir melhor um problema, dentro de um período determinado, a partir das informações fornecidas pelos seus participantes. Joana destacou que uma sessão de brainstorming deve abordar um tema que não seja muito amplo (o que poderia gerar ideias muito diversificadas e fora de foco) nem muito específico (o que pode inibir ou limitar respostas). Normalmente, uma sessão tem entre 6 e 12 participantes. A avaliação das ideias só pode ser realizada após o término da sessão. O Brainstorming Inverso funciona de forma idêntica ao brainstorming tradicional com uma diferença: nele é possível (e necessário) que críticas sejam realizadas durante a sessão. A técnica baseia-se na identificação de falhas a partir da realização da seguinte pergunta: “De que forma essa ideia pode dar errado?”. Após a identificação de tudo o que pode falhar nas ideias, ocorre uma discussão sobre sugestões de soluções para corrigir essas possíveis falhas. O Brainwriting é uma espécie de brainstorming por escrito. É a geração de ideias de forma silenciosa com o respectivo registro. Um líder monitora o tempo, podendo reduzir ou aumentar em função da necessidade do grupo. Joana comentou que a ausência do grupo na elaboração das ideias (a discussão só ocorre posteriormente) pode limitar o processo criativo. 40 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações No Método Gordon os participantes começam sem saber exatamente qual é a natureza do problema. Isso garante que as soluções e ideias geradas não sejam limitadas e pré-concebidas. É mencionado um conceito geral associado ao problema. O grupo participa expressando várias ideias. Em seguida, desenvolve-se um conceito e outros conceitos relacionados através da orientação do mediador. No final, o verdadeiro problema é apresentado e os participantes fazem sugestões para implementar ou melhorar as soluções apresentadas. Na Abordagem Inspirada, o empreendedor “sonha” com o problema e a solução, deve “pensar grande”. Todas as soluções devem ser registradas e analisadas desconsiderando eventuais pontos negativos ou dificuldades (recursos necessários para execução, por exemplo). As soluções e ideias são conceitualizadas até que uma delas seja detalhada e desenvolvida de forma viável. Na Livre Associação, uma palavra, expressão ou frase relacionada com o problema é escrita, depois outra. Em seguida, mais outra. E, assim, sucessivamente. O objetivo é criar uma cadeia de ideias que vão ajudar na resolução do problema. — Vamos conhecer agora alguns testes de criatividade — disse Joana. b) Testes de Criatividade: — É praxe no mundo corporativo a necessidade de mensuração. Quantificar é uma tarefa muito relacionada à função de controle, que é responsável pela definição de parâmetros de desempenho, comparação entre o realizado e o planejado, e ajustes nas operações, se for necessário — explicou a consultora. — Mas temos que nos lembrar que estamos numa seara que não é determinística. Em muitos casos, resultados de testes para mensurar a criatividade podem ser facilmente contestados e desacreditados, ficando restritos ao ambiente laboratorial — completou Joana. — De toda forma, há vários testes que se propõem a mensurar a criatividade. Vamos apresentar alguns — disse a especialista. A consultora apresentou dois dos testes mais utilizados: o Torrance Tests of Creative Thinking (TTCT - Teste de Pensamento Criativo de Torrance) e o Creative Climate Questionnaire (CCQ). O TTCT foi desenvolvido por E.P. Torrance e é baseado na velocidade com que as pessoas criam respostas inteligentes e originais, abordando quatro dimensões da criatividade: fluência (número de ideias interpretáveis), flexibilidade, originalidade (capacidade do indivíduo em elaborar ideias raras e que não sejam óbvias) e elaboração (número de detalhes acrescidos na resposta). É um teste que possibilita analisar a criatividade do indivíduo e o seu potencial de se expressar e exercer liderança. O CCQ, por sua vez, avalia estímulos à criatividade, com base no sistema de sugestões de colaboradores e das percepções dos mesmos acerca do clima organizacional. São 41 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações consideradas dez dimensões que estimulam a criatividade: envolvimento do colaborador, trabalho desafiador, dinamismo, liberdade, confiança, tempo para ideias, brincadeira e humor, conflito, apoio para ideias, debate e assunção de riscos. Vamos conhecer um pouco mais sobre os testes de criatividade. Acesse o link https://youtu.be/1RhP-4My8ac e assista ao vídeo. Síntese da Unidade A criatividade é a força propulsora do desenvolvimento da humanidade. Responsável diretamente pela geração de ideias que podem ser úteis para a organização, vimos que ela é a matéria-prima para a inovação e a mudança organizacional. É uma área complexa que possui diversos conceitos. Ela permite pensar e repensar o trabalho, melhorando processos, e gerando soluções capazes de aumentar as vendas e a qualidade, além de reduzir o tempo de execução e os custos. Com a mudança da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento, a criatividade aumenta seu protagonismo, representando junto com a inteligência e o conhecimento, a base para o poder do trabalhador criativo. A partir dessa mudança, vimos que o trabalhador não é apenas um custo, muito pelo contrário. Os colaboradores são parte central no capital humano da empresa. Vimos que a criatividade pode ser influenciada por elementos como o pensamento criativo, a expertise e a motivação intrínseca (como a satisfação e envolvimento proporcionados pela atividade) para realizar a tarefa. É importante também conhecer fatores motivacionais extrínsecos que influenciam a criatividade, tais como recompensa, avaliação de desempenho e intensidade da pressão. Diversas abordagens contribuem para compreendermos melhor a criatividade. Baseadas em elementos e características do indivíduo, dos grupos, do ambiente, além de outros modelos que adotam uma perspectiva sistêmica, compreender o processo de criatividade é essencial para entendermos melhor a inovação e a mudança organizacional. Vimos também o processo de criatividade e de geração de ideias, o que nos permitiu conhecer as etapas de processo e o fluxo de definição do problema, preparação, geração de respostas, comunicação e validação delas e o resultado. Finalmente, as técnicas criativas para solução de problemas são ferramentas importantes para a organização, gerando um ambiente favorável ao pensamento criativo. 42 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Referências Amabile, T. M. (1996b). Creativity and innovation in organizations. Harvard Business School, 5, 1-15. Bruno-Faria, M. F. Criatividade, inovação e mudança organizacional. In: Lima, S. M. V. (Org.), Mudança Organizacional: teoria e gestão. Rio de Janeiro: FGV, 2003, cap. 3. CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. “Implications of a systems perspective for the study of creativity”. In: STERNBERG, Robert J., Handbook of creativity , 1 ed., pp. 313-335, Nova York, Cambridge University Press, 1999. FLORIDA, Richard; TINAGLI, Irene. Europe in the Creative Age. Disponível na url https://. Acesso em 06 de janeiro de 2023. HISRICH, R.; PETERS, M.; SHEPHERD, D. Empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. PEXELS (2022). Evolução dos transportes. Elaborada pela autora com base nas fotos de Reimer (cavalo) disponível na url https://www.pexels.com/pt-br/foto/animal-bicho-pais-vaqueiro-9899960/ ; Bagacian (homem andando) disponível na url https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-com-camiseta-branca-e-roupa-jeans- cinza-no-campo-de-grama-verde-1314186/ ; Jain (trem) disponível na url https://www.pexels.com/pt-br/foto/ trem-pelas-arvores-contra-o-ceu-azul-325200/ ; Onojeghuo (automóvel) disponível na url https:// www.pexels.com/pt-br/foto/homem-em-um-veiculo-verde-classico-175690/ ; Surianto (avião) disponível na url https://www.pexels.com/pt-br/foto/aviao-aeronave-aeroporto-transporte-11257767/ ; Pixabay (nave espacial) disponível na url https://www.pexels.com/pt-br/foto/nave-espacial-marrom-e-branca-39698/. Todas acessadas em 04 de janeiro de 2023. ROCHA, Lygia C. Série Gestão Estratégica - Criatividade e Inovação - Como Adaptar-se às Mudanças. São Paulo: Grupo GEN, 2009. E-book. ISBN 978-85-216-2263-5. Disponível em: https:// integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-216-2263-5/. Acesso em 02 de janeiro de 2023. Serra, F. A. R., Fiates, G., & Alperstedt, G. D. (2007). Inovação na pequena empresa: um estudo de caso na Tropical Brasil. Journal of Technology Management & Innovation, 2(2), 170-183. Sternberg. R.J. & Lubart, T.I. (1991). An investment theory of creativity and its development. Human Development, 34, 1-31. VEIGA, H. M. da S. Comportamento Pró-ativo: relações com valores organizacionais, estímulos e barreiras à criatividade nas organizações e normas sociais. Universidade de Brasília. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações. Tese de Doutorado em Psicologia Social, 2010. Disponível na url https://www.researchgate.net/publication/277234093. Acesso em 26 de dezembro de 2022. 43 Unidade 3 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações Fundamentos e processo de inovação e Design Thinking As Teorias da Administração buscam fornecer modelos, ferramentas e técnicas que possibilitem explicar, compreender e aperfeiçoar o processo de gestão nas organizações. As funções de planejamento, organização, direção e controle frequentemente procuram melhorar as diversas tarefas e processos que são realizados pelos diversos setores das empresas, propondo ações que estão associadas às decisões sobre matérias-primas, gestão de pessoas e máquinas. Uma questão central que emerge nesse contexto é que a simples gestão desses elementos é insuficiente para garantir o desenvolvimento das organizações e da sociedade como um todo. É necessário implantar uma estratégia que permita criar, fortalecer e compartilhar o conhecimento (como vimos nas outras unidades) e mais importante ainda: colocar esse conhecimento em prática, INOVAR. A globalização acelerada pela Internet, plataformas digitais e redes sociais modificaram as formas de relacionamento entre fornecedores, distribuidores, consumidores e governo. Se por um lado novos mercados surgiram (ou ficaram mais próximos), a concorrência também foi intensificada, nesse contexto. Nesta unidade, veremos os Fundamentos da Inovação, abordando seus conceitos centrais, além dos modelos de inovação, e importância deles como fator de competividade. A capacidade de inovação influencia diretamente a sobrevivência e o crescimento das organizações num cenário onde a previsibilidade e a segurança cederam seus lugares para a incerteza e a necessidade de melhorar, fazer algo novo. Dessa forma, conheceremos também os modelos e processos de inovação. Finalmente, veremos o Design Thinking (DT), uma abordagem centrada no ser humano, em suas percepções, utilizada para gerar e aprimorar ideias e produtos, além de solucionar problemas através de um pensamento integrado. Assim, conheceremos o processo de Design Thinking. Sejam bem-vindos à Unidade 3 de nossa disciplina! Leiam o Guia de Estudo, façam pesquisas complementares, assistam às videoaulas. E caprichem nas atividades! Grande abraço! Objetivos da unidade Compreender os conceitos e fundamentos de inovação; Conhecer os fatores que favorecem a inovação nas organizações; principais abordagens de criatividade; Compreender o processo de inovação e seus modelos; Conhecer os conceitos centrais de Design Thinking; Conhecer o processo de DT. 45 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Inovação nas Organizações 1. Inovação Vocês lembram do entusiasmo de João e Maria, irmãos proprietários de uma pequena facção de roupas, ao conhecerem a estreita relação que existe entre criatividade, inovação e mudança organizacional que vimos na última unidade? Então, Joana convidou