Breve História do Desenvolvimento no Brasil (PDF)
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Este documento discute a história do desenvolvimento no Brasil, focando nos aspectos econômicos. Aborda a industrialização tardinha do país, contrastando-a com outros países, e discute o papel do desenvolvimentismo nesse processo. O texto enfatiza os desafios e as desigualdades que surgiram com o crescimento industrial brasileiro. PDF
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HISTÓRIA DO BRASIL IV – AULA DE 12/9/2024 (2) UMA BREVE HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTISMO NO BRASIL Brasil décadas de 1940/1950 País de “capitalismo tardio” em relação aos processos avançados de industrialização do países de capitalismo central. “Tardio” porque periféri...
HISTÓRIA DO BRASIL IV – AULA DE 12/9/2024 (2) UMA BREVE HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTISMO NO BRASIL Brasil décadas de 1940/1950 País de “capitalismo tardio” em relação aos processos avançados de industrialização do países de capitalismo central. “Tardio” porque periférico (à margem do processo de mundialização do capital, ao menos, em termos decisórios. Ele é estratégico, mas não decide, quem decide são os bancos e as grandes corporações); e também porque sua produção de bens é baseada na exportação majoritária de commodities (bens de consumo); periférico também porque é dependente no sentido de que é um potencial IMPORTADOR de bens duráveis ou, bens de capital. Processo incipiente, lento de industrialização que se arrasta desde as últimas décadas do século XIX, e que teria iniciado +- 120/150 anos depois do período clássico de emergência da industrialização ocidental. Ao contrário de países como a Alemanha, por exemplo, que, em uma geração se converteu na maior potência industrial do mundo: aproximadamente de 1870 até 1914 esse processo império alemão estava consolidado (indústria química). O Brasil foi especialmente atingido por uma das características mais perversas da industrialização que é o fato de que todo o processo de industrialização, sobretudo, na sua fase embrionária (proto ou pré) é, sumamente violento, gerando consequências tais como: -> Vulnerabilidade de populações (migrações em massa) -> Urbanização desorientada -> Surgimento de sujeitos descartáveis (bolsões de pobreza, miséria) -> Corrupção da natureza (destruição do equilíbrio ambiental) -> Aniquila/destrói sistemas culturais ancestrais (a questão antropológica se vê substancialmente modificada pela introdução à força de novos hábitos). Os grandes contrastes é que, no período de 1945-1964 nós temos uma dinâmica econômica muito semelhante à dos países centrais: 1) instalação de setores tecnologicamente avançados; 2) investimentos de grande porte em indústrias de transformação e metalurgia; 3) alta e irreversível mobilidade humana. Um movimento intenso de deslocamento de populações rurais para os centros urbanos – caracterizando, desse modo, o nosso tão conhecido processo de urbanização caótica; 4) além disso, para acentuar o contraste, o Brasil incorpora padrões de consumo e produção próprios às nações mais desenvolvidas, entretanto, permanece pobre, desigual, violento. Censo Industrial de 1950 – Fonte IBGE Nesse contexto, DESENVOLVIMENTISMO nada mais é do que uma política de defesa da INDUSTRIALIZAÇÃO, baseada em alguns princípios/pilares: 1) a industrialização é a via da superação da pobreza e do subdesenvolvimento; 2) um país não consegue industrializar-se só através dos impulsos do mercado, sendo necessária a intervenção do Estado (intervencionismo); 3) o planejamento estatal é que deve definir a expansão desejada dos setores econômicos e os instrumentos necessários; 4) a participação do Estado na economia é benéfica, captando recursos e investindo onde o investimento privado for insuficiente. Desenvolvimentistas (Roberto Simonsen) Liberais/Conservadores (Eugênio Gudin) - Interesses da indústria - Interesses da economia comercial - Forças reformistas (novo proletariado - Setores da oligarquia conservadora, da urbano, novo empresariado industrial), burguesia comercial exportadora, capital além das classes médias urbanas comercial e financeiro internacional. (funcionários públicos, militares, intelectuais). A CEPAL E A INSTRUMENTALIZAÇÃO TEÓRICA DO DESENVOLVIMENTISMO - A Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe foi criada em 1948 por decisão Assembleia Geral das Nações Unidas: “ A Cepal originou-se num contexto de insatisfação dos países latino-americanos por terem sido excluídos da ajuda do Plano Marshall à Europa e pelo sucateamento de seus equipamentos industriais fruto da falta de dólares para importar causada pelos anos de crise das exportações. Sediada em Santiago, no Chile, ao invés de ser ape- nas mais uma agência internacional inexpressiva como muitas já criadas, a Cepal se constituiria na matriz de um original pensamento econômico latino-americano, crítico do liberalismo, que influenciaria toda uma geração de economistas”. Ver Nota 2 do Artigo AS PRINCIPAIS TESES DA CEPAL (Explicam as razões de atraso das economias latino-americanas em relação ao centro) Tese Síntese (1) Centro versus Periferia Progresso tecnológico se expande de maneira desigual. No centro, o progresso foi acelerado; na periferia, cuja função é produzir alimentos e matérias-primas para o centro, a difusão do progresso limitava-se ao setor de exportação, sem alcançar o todo do sistema produtivo. (2) Deterioração dos termos de troca Há uma desvantagem comparativa na troca (compra/venda) de bens entre os países de centro e periferia. Os produtores de bens industriais agregam maior valor, e os produtores de alimentos geram sucessivos déficits nos termos de troca, por causa da desvalorização dos seus produtos primários. Países centrais, devido à elevada taxa de acumulação de capital, deixam de adquirir os produtos primários da periferia. (3) Inflação como problema estrutural O aumento da circulação de moeda não é a causa da inflação. Isto é, o desequilíbrio entre demanda (+moeda) e oferta (-produto). Produção de moeda em níveis demasiados é a resposta à elevação de preços de produtos. (4) Planejamento e Protecionismo Planejamento estatal como chave para controlar e conduzir as forças de mercado. Implantação de tarifas e subsídios “como forma de compensar a diferença de produtividade entre os produtos locais e os importados”. (5) Tendência ao desemprego Há excesso/abundância de mão de obra na periferia, e como o domínio tecnológico parte do centro, as mercadorias produzidas (importadas) não dependem da massificação de empregabilidade nos países periféricos, gerando precarização e subempregabilidade. (6) Tendência ao desequilíbrio externo Desequilíbrio severo entre a necessidade de importação de bens de capital, e a “inelasticidade” dos bens de consumo. Isto é, os bens primários exportados pelos países periféricos não se caracterizam por variação de preços no mercado internacional, gerando as diferenças gritantes entre o que eu pago para importar e o que eu recebo para exportar. (7) Substituição das importações Se o pilar teórico cepalino para o desenvolvimento é a industrialização, a proposta era a substituição do padrão de crescimento “para fora” (mercado externo) pelo padrão “para dentro” (mercado interno). CELSO FURTADO E A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL O clássico estudo de Celso Furtado parte de três linhas de argumentação: 1) Buscar as diferenças entre a colonização norte-americana e a brasileira. Tenta encontrar razões que explicam porque a primeira se desenvolveu e a segunda não. Aqui, já reside uma analogia à tese cepalina de Centro versus Periferia. 2) Proposta de apresentar a história econômica da colonização e da ocupação pela “tese da ciclagem”, a saber: 1) economia escravista de agricultura tropical (séculos XVI e XVII – ciclo do pau brasil e da cana de açúcar); 2) economia escravista mineira (século XVIII – ciclo do ouro); 3) economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX – ciclo do café, algodão e borracha). 3) Linha de argumentação keynesiano-estruturalista, periodizada entre meados do século XIX e meados do século XX. Estuda os movimentos da história econômica brasileira que levaram a uma acumulação capitalista com a eliminação do trabalho escravo e o surgimento do trabalho assalariado. O desenvolvimentismo no Brasil – As quatro principais correntes teóricas Corrente Teórica Síntese 1) Teoria dos choques adversos É necessário um choque (crises internas, externas, guerras) para que a procura interna de produtos se desloque dos produtos importados para a produção interna. Exemplo: a crise do café (excesso de produtividade) seria um choque adverso para que o país implementasse um modelo substitutivo de importações entre as décadas de 1930/1940. 2) Industrialização liderada pela Existe uma relação direta entre expansão das importações exportação de produtos primários e industrialização (ao menos, em determinadas conjunturas históricas). Isto significa dizer (ou contradizer) que a renda do setor agrário-exportador teria sido estratégica para a acumulação de capital aplicado posteriormente no desenvolvimento do setor industrial. Ver página 130/131. 3) O enfoque do capitalismo tardio Acumulação de capital e desenvolvimento industrial no Brasil dependem fundamentalmente do setor exportador de café e menos de fatores externos. Somente a partir da década de 1950, com a instalação acelerada do parque industrial brasileiro, é que o capital proveniente das exportações primárias deixa de ser hegemônico. 4) Industrialização induzida pelo Desenvolvimento industrial induzido e governo financiado por planejamento estatal: proteção tarifária, concessão de concessão de incentivos e subsídios.