Psicologia do Desenvolvimento - Resumos PDF

Summary

Este documento apresenta um resumo sobre o desenvolvimento humano, abrangendo conceitos básicos, diferentes influências, e perspectivas teóricas. O texto discute os três domínios do desenvolvimento (físico, cognitivo e psicossocial), os períodos do ciclo de vida, e a interação entre natureza e criação.

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O desenvolvimento humano O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos processos sistemáticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas ao longo de todo o ciclo de vida humano. Os investigadores atuais consideram que o desenvolvimento do ciclo de vida vai “do útero...

O desenvolvimento humano O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos processos sistemáticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas ao longo de todo o ciclo de vida humano. Os investigadores atuais consideram que o desenvolvimento do ciclo de vida vai “do útero ao túmulo” e abrange todo o tempo de vida dos seres humanos, desde a conceção até a morte. Além disso, eles reconhecem que o desenvolvimento pode ser positivo (p. ex., aprender a controlar as necessidades fisiológicas e matricular-se na faculdade após a reforma) ou negativo (p. ex., voltar a fazer xixi na cama após um evento traumático ou isolar-se na reforma). À medida que o campo do desenvolvimento humano se desenvolvia, os seus objetivos passaram a incluir descrição, explicação, previsão e intervenção. Por exemplo, para descrever quando a maioria das crianças pronuncia sua primeira palavra ou qual o tamanho de seu vocabulário em uma certa idade, os cientistas do desenvolvimento observam grandes grupos de crianças e estabelecem normas, ou médias, para o comportamento em várias idades. Eles procuram assim explicar como as crianças adquirem a linguagem, e por que algumas crianças aprendem a falar mais tarde do que o usual. Com esse conhecimento, podem-se prever comportamentos futuros, tais como a probabilidade de uma criança ter sérios problemas com a fala. Por último, intervir. Conceitos Básicos Os estudiosos do desenvolvimento humano recorrem colaborativamente a uma série de disciplinas, incluindo psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, genética, ciência da família, educação, história e medicina (multidisciplinariedade). ✓ Os cientistas do desenvolvimento estudam os três principais domínios, ou aspetos, do eu: físico, cognitivo e psicossocial. ✓ O crescimento do corpo e do cérebro, as capacidades sensoriais, as habilidades motoras e a saúde fazem parte do desenvolvimento físico. Aprendizagem, atenção, memória, linguagem, pensamento, raciocínio e criatividade compõem o desenvolvimento cognitivo. Emoções, personalidade e relações sociais são aspetos do desenvolvimento psicossocial. ✓ Embora tratemos separadamente do desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial, esses domínios estão intimamente interconectados. Mas para entender a sua complexidade, precisamos estabelecer limites. ✓ PERÍODOS DO CICLO DE VIDA: A divisão do ciclo de vida em períodos é uma construção social: um conceito ou prática que é uma invenção de uma determinada cultura ou sociedade. Não há nenhum momento objetivamente definível em que uma criança se torna adulta ou um jovem torna-se velho. Como o conceito de infância é uma construção social, a forma que ela assume varia entre as culturas. Seguimos frequentemente uma sequência de oito períodos geralmente aceitos nas sociedades industriais ocidentais. Embora existam diferenças individuais na maneira como as pessoas lidam com eventos e questões características de cada período, os cientistas do desenvolvimento sugerem que certas necessidades básicas precisam ser satisfeitas e certas tarefas precisam ser dominadas para que ocorra um desenvolvimento normal. Influências no desenvolvimento: O que torna cada pessoa única? Embora os estudiosos do desenvolvimento estejam interessados nos processos universais de desenvolvimento vivenciados por todos os seres humanos normais, eles também estudam as diferenças individuais nas características, nas influências e nos resultados do desenvolvimento. As pessoas diferem em gênero, altura, peso e compleição física; em saúde e nível de energia; em inteligência; e em temperamento, personalidade e reações emocionais. As influências sobre o desenvolvimento podem ser descritas de duas formas principais. Algumas influências são internas e motivadas pela hereditariedade e por processos biológicos. Outras influências vêm do ambiente externo ao corpo, iniciando na conceção, com o ambiente pré-natal no útero, e continuando por toda a vida. A influência relativa da natureza (hereditariedade e processos biológicos) e da experiência (influências ambientais) é tema de fortes debates, e os teóricos discordam sobre quanto peso dar a cada fator (nature vs nurture). Seres humanos são seres sociais. Desde o começo, desenvolvem-se num contexto social e histórico. Para um bebé, o contexto imediato normalmente é a família, que, por sua vez, está sujeita às influências mais amplas e em constante transformação da vizinhança, da comunidade e da sociedade. Família Nuclear: Unidade económica e doméstica que compreende laços de parentesco envolvendo duas gerações e que consiste em pai e mãe, ou apenas um dos dois, e seus filhos biológicos, adotados ou enteados. Família alargada/extensa: Rede de parentesco envolvendo muitas gerações e formada por pais, filhos e outros parentes, às vezes vivendo juntos no mesmo lar. o Nível socioeconómico (NSE): Combinação de fatores económicos e sociais que descreve um indivíduo ou uma família, e que inclui renda, educação e ocupação o Fatores de risco: Condições que aumentam a probabilidade de uma consequência negativa no desenvolvimento o Cultura: O modo de vida global de uma sociedade ou de um grupo, que inclui costumes, tradições, crenças, valores, linguagem e produtos materiais – todo comportamento adquirido que é transmitido dos pais para os filhos. o Grupo étnico: Grupo unido por ancestralidade, raça, religião, língua ou origens nacionais, que contribuem para formar um senso de identidade comum. o Generalização étnica (estereotipização?): Generalização exagerada a respeito de um grupo étnico ou cultural que obscurece as diferenças existentes dentro do grupo. Normativo: Característica de um evento que ocorre de modo semelhante para a maioria das pessoas de um grupo. Geração histórica: Grupo de pessoas que, durante seu período de formação, recebeu forte influência de um importante evento histórico. Coorte: Grupo de pessoas nascidas aproximadamente na mesma época. Não normativo: Característico de um evento incomum que acontece com uma determinada pessoa ou de um evento típico que ocorre fora de seu período usual. Influências NORMATIVAS e NÃO NORMATIVAS → Para entender semelhanças e diferenças no desenvolvimento, precisamos focar dois tipos de influências normativas: eventos biológicos ou ambientais que afetam muitas pessoas, ou a maioria delas, numa sociedade, e eventos que atingem apenas certos indivíduos. 1. Influências normativas reguladas pela idade (ou etárias): são muito semelhantes para pessoas de uma determinada faixa etária. O tempo de ocorrência de eventos biológicos é razoavelmente previsível dentro de uma faixa normal (ex, as pessoas não passam pela experiência da puberdade aos 35 anos ou da menopausa aos 12). 2. Influências normativas reguladas pela história: são eventos significativos (tais a Segunda Guerra Mundial) que moldam o comportamento e as atitudes de uma geração histórica (ex. As gerações que se tornaram maiores de idade durante a Segunda Guerra tendem a mostrar um forte senso de interdependência e confiança social, que declinou entre as gerações mais recentes; influência dos media em crianças pequenas atualmente). 3. Influência não normativa: eventos incomuns que causam grande impacto na vida dos indivíduos por perturbarem a sequência esperada do ciclo de vida. Podem ser eventos típicos que acontecem em um momento atípico da vida (como a morte de um dos pais quando a criança é pequena) ou eventos atípicos (ex. sobreviver a um acidente aéreo). Cronologia das Influências: Períodos Críticos ou Sensíveis O Zoólogo austríaco Konrad Lorenz (1957) mostrou que patinhos recém-nascidos seguem instintivamente o primeiro objeto em movimento que eles virem (geralmente a mãe), seja um membro de sua espécie ou não – Imprinting É o resultado de uma predisposição à aprendizagem: a prontidão do sistema nervoso de um organismo para adquirir certas informações durante um breve período (período crítico) no começo da vida. O Período crítico é um intervalo de tempo específico em que um determinado evento, ou a sua ausência, causa um impacto específico sobre o desenvolvimento. Se um evento necessário não ocorrer durante um período crítico de maturação, o desenvolvimento normal não ocorrerá, e os padrões anormais poderão ser irreversíveis (Caso de jovem sequestrado durante 25 anos). No entanto, o conceito de períodos críticos nos seres humanos é polémico. Como muitos aspetos do desenvolvimento, mesmo no domínio físico, mostraram plasticidade, ou desempenho passível de modificação, talvez seja mais útil pensar em termos de períodos sensíveis, que remete para momentos do desenvolvimento em que a pessoa está particularmente recetiva para certos tipos de experiência. O desenvolvimento é vitalício, multidimensional e multidirecional. Questões teóricas básicas Uma teoria científica do desenvolvimento é um conjunto de conceitos ou enunciados logicamente relacionados que procura descrever e explicar o desenvolvimento e prever os tipos de comportamento que poderiam ocorrer em certas condições. As Teorias inspiram mais pesquisas e preveem resultados. Isso é feito pela geração de hipóteses, explicações provisórias ou previsões que podem ser testadas por futuras pesquisas. A pesquisa pode indicar se uma teoria é precisa nas suas previsões, mas não pode mostrar conclusivamente se uma teoria é verdadeira. DESENVOLVIMENTO ATIVO OU REATIVO Essa controvérsia remonta ao século XVIII. O filósofo inglês John Locke sustentava que uma criança pequena é uma tábua rasa– uma “tela em branco” – onde a sociedade “se inscreve”. Por outro lado, o filósofo francês Jean Jacques Rousseau acreditava que as crianças nascem como “bons selvagens” que se desenvolvem de acordo com suas próprias tendências naturais positivas, se não forem corrompidas pela sociedade. Sabemos agora que ambas as visões são por demais simplistas, mas elas levaram ao desenvolvimento de dois modelos de desenvolvimento: O modelo mecanicista- Modelo que vê o desenvolvimento humano como uma série de respostas previsíveis a estímulos. O modelo organicista- Modelo que vê o desenvolvimento humano como algo iniciado internamente por um organismo ativo e que ocorre numa sequência de etapas qualitativamente diferentes. ❑ Para os teóricos mecanicistas, o desenvolvimento é contínuo, como andar e escalar uma rampa. Os teóricos mecanicistas tratam da mudança quantitativa – mudanças de número ou de quantidade, como altura, peso, tamanho do vocabulário ou frequência da comunicação. ❑ Já os teóricos organicistas enfatizam a mudança qualitativa – mudanças de tipo, estrutura ou organização. A mudança qualitativa é descontínua: é marcada pela emergência de novos fenómenos que não podem ser previstos com facilidade com base no funcionamento anterior. Os organicistas olham para o desenvolvimento como algo que ocorre numa série de estádios distintos como os degraus de uma escada. PERSPETIVAS TEÓRICAS Cinco grandes perspetivas sustentam boa parte das teorias influentes e da pesquisa sobre desenvolvimento humano: 1. Psicanalítica, que se concentra nas emoções e nos impulsos inconscientes; 2. Da aprendizagem, que estuda o comportamento observável; 3. Cognitiva, que analisa os processos do pensamento; 4. Contextual, que enfatiza o impacto do contexto histórica, social e cultural; 5. Evolucionista/sociobiológica, que considera as bases evolucionistas e biológicas do comportamento. 1.Perspetiva Psicanalítica: visão do desenvolvimento humano como moldado por forças inconscientes que motivam o comportamento humano. O desenvolvimento psicossexual: Freud acreditava que as pessoas nascem com impulsos biológicos que devem ser redirecionados para tornar possível a vida em sociedade. Dividiu a personalidade em três componentes hipotéticos: id, ego, superego. - Os recém-nascidos são governados pelo id, que opera sob o princípio do prazer – o impulso que busca satisfação imediata das suas necessidades e desejos. Quando a gratificação é adiada, como acontece quando os bebés precisam esperar para serem alimentados, eles começam a ver a si próprios como separados do mundo externo. - O ego, que representa a razão, desenvolve-se gradualmente durante o primeiro ano de vida e opera sob o princípio da realidade. O objetivo do ego é encontrar maneiras realistas de gratificar o id que sejam aceitáveis para o superego, o qual se desenvolve por volta dos 5 ou 6 anos. - O superego inclui a consciência e incorpora ao sistema de valores da criança “deveres” e “proibições” socialmente aprovados. O ego intermedia os impulsos do id e as demandas do superego. A personalidade forma-se através dos conflitos inconscientes da infância entre os impulsos inatos do id e as exigências da sociedade. Esses conflitos ocorrem numa sequência invariável de cinco fases de desenvolvimento psicossocial. Freud considerava as três primeiras fases – aquelas relativas aos primeiros cinco anos de vida – cruciais para o desenvolvimento de personalidade. Segundo ele, se as crianças receberem pouca ou muita gratificação em qualquer uma dessas fases, correrão risco de desenvolverem fixação – uma interrupção no desenvolvimento que pode aparecer na personalidade adulta. Erik Erikson: Desenvolvimento psicossocial - Enfatizando a influência da sociedade no desenvolvimento da personalidade. Erikson foi também um pioneiro ao assumir a perspetiva do ciclo de vida. Enquanto Freud sustentava que as primeiras experiências na infância moldavam permanentemente a personalidade, Erikson afirmava que o desenvolvimento do ego se estende por toda a vida. - A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson abrange 8 estádios ao longo do ciclo de vida. Cada estádio envolve aquilo que o Erikson chamou de “crise de personalidade” – um grande tema psicossocial, particularmente importante naquele momento e que até certo ponto continuará sendo um tema pelo resto da vida. Esses problemas, que emergem segundo um cronograma maturacional, devem ser satisfatoriamente resolvidos para o desenvolvimento de um ego saudável. - Cada estágio requer o equilíbrio entre uma tendência positiva e uma tendência negativa correspondente. A qualidade positiva deve ser dominante, mas também é necessário um pouco de qualidade negativa para um desenvolvimento ideal. 2.Perspetiva da Aprendizagem: o desenvolvimento resulta da aprendizagem, uma mudança duradoura no comportamento baseada na experiência ou adaptação ao ambiente. Duas importantes teorias da aprendizagem são o behaviorismo e a teoria da aprendizagem social. - O Behaviorismo é uma teoria mecanicista que enfatiza o papel previsível do ambiente como causa do comportamento observável. A investigação behaviorista concentra-se na aprendizagem associativa, quando um vínculo mental é formado entre dois eventos. Os dois tipos de aprendizagem associativa são o condicionamento clássico e o condicionamento operante. Condicionamento clássico: aprendizagem baseada na associação de um estímulo que normalmente não elicia uma resposta com outro estímulo que elicia a resposta. Condicionamento operante: aprendizagem que associa o comportamento às suas consequências (Skinner). Um comportamento originalmente acidental (balbucio) tornou-se uma resposta condicionada (ao riso da mãe). O indivíduo aprende com as consequências da sua “operação” sobre o ambiente. - Diferentemente do condicionamento clássico, o condicionamento operante envolve comportamento voluntário, e envolve as consequências e não os preditores do comportamento. - O psicólogo norte-americano Skinner descobriu que um organismo tenderá a repetir uma resposta que foi reforçada por consequências desejáveis e suprimirá uma resposta que foi punida. Assim, o reforço (+ e -) é o processo pelo qual um comportamento é fortalecido, aumentando a probabilidade de que seja repetido. Punição (+ e -) é o processo pelo qual um comportamento é enfraquecido, diminuindo a probabilidade de repetição. Se uma consequência é reforço ou punição depende de pessoa. O que é reforço para uns poderá ser punição para outros. Teoria da aprendizagem social (social cognitiva – Albert Bandura): sugere que o ímpeto para o desenvolvimento é bidirecional. Ele chamou a esse conceito determinismo recíproco – a pessoa age sobre o mundo na medida em que o mundo age sobre a pessoa. A teoria da aprendizagem social clássica sustenta que a pessoa aprende o comportamento social apropriado principalmente observando e imitando modelos – isto é, observando outras pessoas, como os pais, os professores ou os heróis. Esse processo é chamado de aprendizagem observacional ou modelagem. Através do feedback do seu comportamento, a criança aos poucos forma padrões para julgar as suas ações e tornar- se mais seletiva na escolha de modelos que demonstrem esses padrões. Também começa a desenvolver-se um senso de autoeficácia, ou seja, a confiança de que tem o que é preciso para ser bem-sucedida. 3.Perspetiva Cognitiva: concentra-se nos processos de pensamento e no comportamento que reflete esses processos. A teoria dos estádios cognitivos de Jean Piaget: precursora da atual “revolução cognitiva”. Assegura que o crescimento cognitivo ocorre através de três processos inter- relacionados: organização, adaptação e equilibração. - Organização é a tendência a criar categorias, tais como pássaros, observando as características que membros individuais de uma categoria, como pardais e cardeais, têm em comum. Segundo Piaget, as pessoas criam estruturas cognitivas cada vez mais complexas chamadas esquemas, que são modos de organizar informações sobre o mundo. - Adaptação é o termo de Piaget para o modo como a criança lida com as novas informações à luz do que ela já sabe. A adaptação ocorre por intermédio de dois processos complementares: 1. Assimilação, que é absorver informação nova e incorporá-la às estruturas cognitivas existentes. 2. Acomodação, que é ajustar as próprias estruturas cognitivas para encaixar a informação nova. - Equilibração é um esforço constante para atingir um equilíbrio estável – estabelece a passagem da assimilação para a acomodação. Quando a criança não consegue lidar com novas experiências dentro das estruturas cognitivas existentes, ela experimenta um estado motivacional desconfortável conhecido como desequilíbrio. Por exemplo, a criança sabe o que são pássaros e vê um avião pela primeira vez. A criança rotula o avião como “pássaro” (assimilação). Com o passar do tempo, ela nota as diferenças entre aviões e pássaros, o que a deixa um tanto inquieta (desequilíbrio), motivando-a a mudar a sua compreensão (acomodação) e dar um novo rótulo para o avião. Ela então encontra-se em equilíbrio. Abordagem do processamento de informação: abordagem do estudo do desenvolvimento cognitivo que observa e analisa os processos mentais na perceção e no tratamento de informação. -Não vê o desenvolvimento por estádios, mas sim de forma continua. - Estudam processos como atenção, memória, estratégias de planeamento, tomadas de decisão e estabelecimento de metas. - Alguns teóricos do processamento de informação comparam o cérebro a um computador: existem dados de entrada (os registos sensoriais) e dados de saída (o comportamento). - Os psicólogos geralmente fazem uso dos modelos de processamento para testar, diagnosticar e tratar problemas de aprendizagem. 4.Perspetiva Contextual: o desenvolvimento pode ser entendido apenas no seu contexto social. Os contextualistas veem o indivíduo não como uma entidade separada interagindo com o ambiente, mas como parte inseparável deste último. A teoria bioecológica de Bronfenbrenner identifica cinco níveis de influência ambiental, variando do mais íntimo para o mais amplo: microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema. - Microssistema: é o ambiente do dia a dia no lar, na escola, no trabalho ou na vizinhança, incluindo relacionamentos face a face com o conjugue, filhos, pais, amigos, colegas de classe, professores, empregadores ou colegas de trabalho. - Mesossistema: é o entrelaçamento de vários microssistemas. Poderá incluir vínculos entre o lar e a escola (ex: como as reuniões de pais, mau dia de um dos pais no trabalho poderá afetar as interações com o filho, sem sequer a criança ter ido ao trabalho). - Exissistema: consiste em vínculos entre um microssistema e sistemas de instituições externas que afetam a pessoa indiretamente (ex: como o sistema de trânsito de uma comunidade afeta as oportunidades de trabalho). - Macrossistema: consiste em padrões culturais abrangentes, como as crenças e ideologias dominantes, e sistemas económicos e políticos (Ex: como a pessoa é afetada por viver numa sociedade socialista). - Cronossistema: a mudança ou constância na pessoa e no ambiente. Isso pode incluir mudanças na estrutura da família, no lugar de residência ou no emprego, e também mudanças culturais abrangentes, como guerras e ciclos económicos (períodos de recessão ou de relativa prosperidade). 5.Perspetiva Evolutiva/Sociobiológica: defendida por O. Wilson (1975) concentra-se nas bases evolutivas e biológicas do comportamento. A psicologia evolutiva aplica os princípios de Darwin ao comportamento humano. Os psicólogos evolucionistas argumentam que assim como partes do nosso corpo físico são especializadas em certas funções, partes da nossa mente são da mesma forma produto da seleção natural e também têm funções específicas. Os psicólogos desta abordagem aplicam os princípios evolucionistas ao desenvolvimento humano. Estudam tópicos como estratégias de parentalidade, diferenças de género no brincar e relações entre colegas, além de identificar comportamentos que sejam adaptativos em diferentes idades. MÉTODOS DE PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO Os investigadores do desenvolvimento humano trabalham de acordo com duas abordagens metodológicas: quantitativa e qualitativa. Investigação quantitativa: trata de dados objetivamente medidos. Investigação qualitativa: concentra-se em dados numéricos, como experiências, sentimentos ou crenças subjetivas. Estas investigações devem basear-se no Método Científico, sistema de princípios estabelecidos e de processos de investigação científica. Comporta as seguintes frases: 1. Identificação do problema a ser estudado, geralmente com base numa teoria ou pesquisa prévia; 2. Formulação de hipóteses a serem testadas pela investigação; 3. Recolha de dados; 4. Análise estatística dos dados para determinar se sustentam a hipótese/análise experiencial/conteúdo dos dados; 5. Formulação de conclusões provisórias; 6. Divulgação dos resultados, de modo que outros observadores possam verificá-los, conhecê-los, analisá-los, repeti-los e aproveitá-los. A identificação do problema a ser estudado e a formulação de hipóteses podem advir da prática como da teoria. - Amostragem: como geralmente fica muito caro e leva muito tempo estudar uma população (grupo ao qual os resultados poderão ser aplicar-se) inteira, os investigadores selecionam uma amostra, um grupo menor pertencente à população (representatividade). - Geralmente, investigadores quantitativos procuram obter representatividade mediante seleção aleatória, procedimento em que cada pessoa de uma população tem a mesma probabilidade de ser escolhida. - Na investigação qualitativa, as amostras tendem a ser focalizadas e não aleatorizadas. Após a amostragem, importante selecionar a mais adequada forma de recolha de dados. - Autorrelatos: *níveis de estruturação de entrevistas - Observação Naturalista e Laboratorial: ambiente real vs ambiente controlado - Medidas de Comportamento e de Desempenho: testes e outras medidas comportamentais e neuropsicológicas podem ser usados para avaliar capacidades, aptidões, conhecimento, competências ou respostas fisiológicas como ritmo cardíaco e atividade cerebral. Para evitar algum viés, os testes devem ser padronizados. - O modelo de pesquisa é um plano para conduzir uma investigação científica: quais são as perguntas a serem respondidas, como os participantes devem ser testados, como os dados devem ser recolhidos e interpretados e como se pode tirar conclusões válidas. Quatro dos modelos básicos utilizados na pesquisa sobre o desenvolvimento são os estudos de caso, estudos etnográficos, estudos correlacionais e experimentais. 1. Estudo de caso: estudo de um único sujeito, que pode ser um indivíduo ou uma família. 2. Estudos etnográficos: procura descrever o padrão de relacionamentos, costumes, crenças, tecnologia, artes e tradições que compõem um modo de vida em sociedade, e inclui observação participante. 3. Estudos correlacionais: procura determinar se existe uma correlação, ou relação estatística, entre variáveis, fenómenos que se alteram ou variam entre pessoas ou podem ser variados para efeitos de pesquisa. As correlações são expressas em termos de direção (positiva ou negativo) e magnitude (grau). As correlações aparecem como números que variam de -1 (uma perfeita relação negativa) e +1 (uma perfeita relação positiva). 4. Estudos experimentais: a abordagem experimental é um procedimento controlado em que o experimentador manipula variáveis para saber como uma afeta a outra (replicabilidade). Um modo comum de conduzir um experimento é dividir os participantes em dois tipos de grupos. - O grupo experimental consiste em pessoas que serão expostas à manipulação experimental ou tratamento. - O grupo de controlo consiste em pessoas semelhantes às do grupo experimental, mas que não recebem o tratamento experimental ou que talvez recebam um tratamento diferente (placebo). Além disso, temos dois grandes tipos de variáveis. Uma variável independente é algo sobre o qual o experimentador tem controlo direto. Uma variável dependente é algo que pode ou não se alterar como resultado de mudanças na variável independente; em outras palavras, ela depende da variável independente. - A melhor forma de controlar o efeito do ruído é a distribuição aleatorizada dos grupos (como sabemos que as diferenças nos grupos se devem a efeitos do tratamento? Contaminação?) - Tipos de investigação: refere às estratégias de investigação usadas. As duas estratégias mais comuns em desenvolvimento são os estudos transversais e os longitudinais. Da junção dos dois decorrem os modelos sequenciais. No estudo transversal, pessoas de diferentes idades são avaliadas num único momento. No estudo longitudinal, os investigadores avaliam a mesma pessoa ou o mesmo grupo em mais de uma oportunidade, às vezes no intervalo de alguns anos. Nos estudos sequenciais existe uma sequência de estudos transversais ou longitudinais – é uma estratégia complexa elaborada para ultrapassar as desvantagens tanto das investigações transversais quanto das longitudinais. Os investigadores podem avaliar uma amostra transversal em duas ou mais ocasiões (em sequência) para identificar mudanças nos membros de cada coorte etária. Outro modelo sequencial consiste numa sequência de estudos longitudinais que seguem simultaneamente, um começando depois do outro. Esse modelo permite aos investigadores compararem diferenças individuais durante as mudanças do desenvolvimento. Ética na investigação – há pesquisas que podem causar algum mal aos participantes, devemos equilibrar os possíveis benefícios e o risco de danos mentais, emocionais ou físicos aos indivíduos. - Seguir diretrizes da APA e da OPP que incluem questões como consentimento informado (consentimento dado livremente com pleno conhecimento das implicações da pesquisa), evitamento do engano propositado, proteger os participantes de danos e perda da dignidade, garantir a privacidade e o sigilo, o direito a recusar ou a se retirar da participação a qualquer momento, e a responsabilidade dos investigadores em corrigir quaisquer efeitos indesejáveis, como ansiedade e vergonha, - Princípios como evitamento de danos físicos ou psicológicos, obtenção da anuência da criança, bem como o consentimento informado de um dos pais ou de um tutor, e responsabilidade de verificar qualquer informação que possa pôr em risco o bem-estar da criança. A FORMAÇÃO DE UMA NOVA VIDA - A fecundação (ou conceção) é o processo pelo qual o espermatozoide e o óvulo – gametas masculino e feminino – combinam-se para criar uma única célula chamada zigoto, que se duplica várias vezes por divisão celular para produzir todas as células que compõem um bebé. - No nascimento, acredita-se que uma menina tenha cerca de dois milhões de óvulos imaturos nos seus dois ovários, cada óvulo alojado na sua própria cavidade ou folículo. Em mulheres sexualmente maduras, a ovulação – rutura de um folículo maduro em um dos ovários e a expulsão de seu óvulo – ocorre aproximadamente uma vez a cada 28 dias, até a menopausa. - Os espermatozoides são produzidos nos testículos ou glândulas reprodutivas de um homem maduro numa taxa de centena de milhões por dia, e são ejaculados através do sémen frequentemente no orgasmo. - Nascimentos múltiplos: ocorrem de duas maneiras. O mais comum é o corpo da mãe liberar dois óvulos num curto espaço de tempo (ou às vezes um único óvulo não fecundado que se divide) e ambos serem fecundados. Os bebés resultantes são gémeos dizigóticos (di significa 2), geralmente chamados de gémeos fraternos. A segunda possibilidade é quando um único óvulo fecundado se divide em dois. Os bebés que nascem dessa divisão celular são gémeos monozigóticos (mono significa 1), usualmente chamados de gémeos idênticos. Mecanismos da Hereditariedade - A base da hereditariedade é uma substância química chamada ácido desoxirribonucleico (DNA). A estrutura em dupla hélice de uma molécula de DNA lembra uma escada longa e espiralada, cujos degraus são feitos de pares de unidades químicas chamadas bases. As bases – adenina (A), timina (T), citosina (C) e guanina (G) – são letras do código genético – sequência de bases que compõem a molécula de DNA; orienta a formação de proteínas que determinam a estrutura e as funções das células vivas. - Os cromossomas são espirais de DNA que consistem em segmentos menores chamados de genes. A sequência completa dos genes do corpo humano constitui o genoma humano. - Toda célula de um corpo humano normal, com exceção das células sexuais (espermatozoide e óvulo), possui 23 pares de cromossomas – 46 ao todo. - Por meio de um tipo de divisão celular chamada meiose, que ocorre quando as células estão em desenvolvimento, cada célula sexual termina com apenas 23 cromossomas – um de cada par. Assim, quando o espermatozoide e o óvulo fundem-se na conceção, produzem um zigoto com 46 cromossomas, 23 do pai e 23 da mãe (restantes células por mitose). No momento da fecundação, os 23 cromossomas do espermatozoide e os 23 do óvulo formam 23 pares. - Vinte e dois pates são autossomas, cromossomas que não estão relacionados à expressão sexual. - O 23ºpar é de cromossomas sexuais – um do pai e o outro da mãe – que determinam o sexo do bebé. Padrões de Transmissão Genética Durante a década de 1860, Gregor Mendel, um monge austríaco, lançou as bases da nossa compreensão sobre padrões de hereditariedade. Ele cruzou ervilhas que produziam apenas sementes amarelas com ervilhas que produziam apenas sementes verdes. As plantas híbridas resultantes produziram apenas sementes amarelas, o que significava, segundo ele, que as amarelas eram dominantes em relação às verdes. No entanto, quando ele cruzava entre si as plantas híbridas de semente amarela, apenas 75% das descendentes tinham sementes amarelas e as outras 25% tinham sementes verdes. Isso mostrava, segundo Mendel, que uma característica hereditária (neste caso, a cor verde) pode ser recessiva, isto é, estar presente num organismo que não a expressa ou manifesta. Genes que podem produzir expressões alternativas de uma mesma característica são denominados alelos. Cada pessoa recebe um alelo materno e paterno para um determinado traço. Quando ambos os alelos são idênticos, o indivíduo é homozigótico para uma dada característica; quando são diferentes, o indivíduo é heterozigótico. Ainda, na herança dominante, o alelo dominante é que governa. Em outras palavras, quando uma prole recebe pelo menos um alelo dominante para um traço, este será expresso. A pessoa parecerá a mesma quer ela seja heterozigótica ou homozigótica. A herança recessiva, ou a expressão de um traço recessivo, somente ocorre se a pessoa receber dois alelos recessivos, um do pai e o outro da mãe. Não são muitos os traços determinados dessa maneira simples. A maioria dos traços resulta de herança poligénica, a interação de vários genes. Traços podem ser afetados por mutações: alterações permanentes no material genético que podem produzir características prejudiciais. Fenótipo: características observáveis de uma pessoa. Genótipo: constituição genética de uma pessoa, contendo tanto as características expressas quanto as não expressas. Algumas características têm uma forte base genética, mas a experiência modifica a expressão do genótipo para a maioria dos traços – um fenómeno chamado transmissão multifatorial (ex: ouvido absoluto e competências musicais não estimuladas). Cada vez mais evidências sugerem que a própria expressão do gene é controlada por um terceiro componente (além dos genes e do ambiente), um mecanismo que regula o funcionamento dos genes dentro da célula sem afetar a estrutura do DNA da célula. Esse fenómeno chama-se epigénese ou epigenética – é um mecanismo que ativa ou desativa os genes e determina funções das células. Bebés que nascem com graves defeitos correm risco de morrer durante a primeira ou a segunda infância, ou pouco depois. A maioria das perturbações congénitas são relativamente raras (tabela) e afeta apenas 3% dos nascidos vivos. Na maior parte das vezes, os genes normais são dominantes em relação àqueles que contêm os traços anormais. Porém, algumas vezes o gene para um traço anormal é dominante. Alguns traços são parcialmente dominantes ou parcialmente recessivos. Na dominância incompleta, um traço não é totalmente expresso. Por exemplo, pessoas com apenas um alelo de célula falciforme e um alelo normal não apresentam anemia falciforme, mas exibem algumas manifestações dessa condição, como respiração ofegante em altitudes elevadas. Já na herança vinculada ao sexo, certos distúrbios recessivos vinculados aos genes dos cromossomas sexuais afetam meninos e meninas diferentemente. As anomalias cromossómicas ocorrem por causa de erros na divisão celular, resultando num cromossoma extra ou a menos. Alguns desses erros acontecem nas células sexuais durante a meiose (trissomia 21). Aconselhamento genético: serviço clínico que aconselha futuros pais sobre os seus prováveis riscos de ter filhos com defeitos hereditários. Genética e Ambiente: Dupla influência no desenvolvimento. Genética comportamental: estudo quantitativo das influências relativas da hereditariedade e do ambiente no comportamento. Hereditariedade: estimativa estatística da contribuição da hereditariedade para diferenças individuais num traço específico e numa determinada população. Muitas características variam, dentro de certos limites, sob diversas condições hereditárias e ambientais. O conceito de faixa de reação pode nos ajudar a visualizar como isso acontece. A faixa de reação refere-se a uma amplitude de expressões potenciais de um traço hereditário. O tamanho do corpo, por exemplo, depende em grande parte de processos biológicos que são geneticamente regulados. Mesmo assim, pode-se falar de uma amplitude de tamanho, que depende de oportunidades e restrições ambientais e do comportamento da pessoa. Alguns traços têm uma faixa de reação extremamente pequena. A metáfora da canalização ilustra como a hereditariedade restringe a amplitude do desenvolvimento para certos traços. A cor dos olhos, por exemplo, é programada pelos genes de forma tão inflexível que dizemos que são altamente canalizadas; há pouca probabilidade de variância nessa expressão. Interação genótipo-ambiente: a parcela de variação fenotípica que resulta das reações de indivíduos geneticamente diferentes a condições ambientais similares. Correlação genótipo-ambiente: tendência de certas influências genéticas e ambientais a se reforçarem mutuamente; pode ser passiva, reativa (evocativa) ou ativa. Também chamada de covariante genótipo-ambiente. Correlações passivas: pais que fornecem os genes que predispõem o filho a um determinado traço também tendem a fornecer um ambiente incentivador do desenvolvimento daquele traço (ex: pai que gosta de música e provavelmente cria um ambiente incentivador para o filho). Correlações reativas ou evocativas: crianças com diferentes constituições genéticas evocam diferentes reações dos adultos (ex: pais que não são musicalmente inclinados poderão fazer um esforço especial para oferecer experiências musicais a uma criança que demonstra interesse e habilidade em música). Correlações ativas: à medida que a criança cresce e passa a ter mais liberdade para escolher as suas próprias atividades e ambientes, ela seleciona ativamente ou cria experiências coerentes com as suas tendências genéticas (escolha de nicho). Há algumas características que são classicamente afetadas pelos genes e pelo ambiente: a obesidade, a inteligência, personalidade (40-50% genético), temperamento, psicopatologia... Desenvolvimento Pré-Natal Durante a gestação, o período entre a conceção e o nascimento, o nascituro passa por processos dramáticos de desenvolvimento. Normalmente a gestação varia entre 37 e 41 semanas. A idade gestacional costuma ser contada a partir do primeiro dia do último ciclo menstrual da futura mãe. O desenvolvimento pré-natal ocorre em três etapas ou períodos: germinal, embrionário e fetal. Com base em dois princípios fundamentais: crescimento e desenvolvimento motor ocorrem de cima para baixo e do centro para a periferia do corpo. Período germinal (fecundação a segunda semana): zigoto divide-se, torna-se mais complexo e é implantado na parede do útero. Período embrionário (segunda a oitava semana): os órgãos e os principais sistemas do corpo – respiratório, digestivo e nervoso – desenvolvem-se rapidamente. Período crítico, quando o embrião se encontra muito vulnerável às influências destrutivas do ambiente pré-natal. Os embriões com defeitos mais graves geralmente não sobrevivem além do primeiro trimestre da gravidez. Aborto espontâneo é o nome que se dá à expulsão do embrião ou feto que se encontra no útero e é incapaz de sobreviver fora dele. O aborto espontâneo que pode ocorrer 20 semanas após a gestação geralmente é caracterizado como nascimento de nada-morto. Três de cada quatro abortos ocorrem durante o primeiro trimestre. Período fetal (oitava semana ao nascimento): o aparecimento das primeiras células ósseas à volta da oitava semana sinaliza o começo do período fetal, a fase final da gestação. Durante esse período, o feto cresce rapidamente até cerca de 20 vezes o seu comprimento anterior. Para observar os movimentos fetais usa-se o ultrassom, que é o uso de ondas sonoras de alta frequência para detetar os contornos do feto. Influências ambientais durante a gravidez: Fatores maternos e paternos Como o ambiente pré-natal é o corpo da mãe, praticamente tudo o que influencia o sue bem-estar, da dieta ao humor, pode alterar o ambiente do feto e afetar o seu crescimento. O teratógeno é um agente ambiental, como por exemplo vírus, drogas ou radiações, que pode interferir com o desenvolvimento pré-natal normal. Nem todos os riscos ambientais, porém, são igualmente nocivos a todos os fetos. O tempo de exposição, a dose, duração e interação com outros fatores teratogénicos também podem fazer diferença. Fatores maternos: Nutrição e peso da mãe: mulheres grávidas precisam de 300 a 500 calorias adicionais por dia, incluindo proteína extra. Mulheres com peso e constituição física normal que ganham entre 7 e 18kg ou mais têm menor probabilidade de ter complicações no nascimento ou de gerar bebés cujo peso ao nascer seja perigosamente baixo ou excessivamente alto (ácido dólico e PHDA). Desnutrição: a desnutrição pré-natal pode causar efeitos de longo prazo. Atividade física e trabalho pesado: na verdade, exercícios moderados a qualquer momento durante a gravidez não parecem pôr em risco os fetos de mulheres saudáveis. Exercícios regulares evitam a constipação e melhoram a respiração, a circulação, o tônus muscular e a elasticidade da pele, o que contribui para uma gravidez mais confortável e um parto mais fácil e seguro. Consumo de drogas: praticamente tudo o que uma gestante ingere chega até ao útero. Drogas podem atravessar a placenta assim como o oxigénio, o dióxido de carbono e a água o fazem. A vulnerabilidade é maior nos primeiros meses de gestação, quando o desenvolvimento é mais rápido. O consumo pode incluir os medicamentos, o álcool, a nicotina e a cafeína; e finalmente três drogas ilegais: cannabis, cocaína e metanfetamina. Medicamentos: até anos 60 crença de filtragem da placenta, ex: talidomida foi proibido depois de se descobrir que ele era a causa de membros atrofiados. Álcool: síndrome alcoólica fetal (SAF) caracterizada por atraso no crescimento, malformações da face e do corpo e perturbações do sistema nervoso central. Nicotina: fator mais importante para nascimento de baixo peso em países desenvolvidos; parto de natimorto, cabeça com circunferência pequena, morte súbita do lactente, problemas neurológicos, cognitivos, etc. Cafeína: parece que a cafeína não é uma substância teratogénica para bebés humanos, mas não há consenso. Cannabis, cocaína e metanfetamina: defeitos congénitos; baixo peso e sintomas parecidos com a abstinência (choro e tremores excessivos), danos cerebrais, etc. Doença materna: a síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), o qual debilita o funcionamento do sistema imunitário. Se a gestante tiver o vírus presente no sangue, poderá haver uma transmissão perinatal: o vírus poderá passar para a corrente sanguínea do feto através da placenta durante a gestação, no parto, ao nascer ou após o nascimento através da lactação. Outras infeções. A rubéola, quando contraída pela mulher antes da 11ªsemana gestacional, provavelmente causará surdez e deficiências cardíacas no bebé. Ansiedade, stress e depressão materna: ansiedade tem o duplo papel (ansiedade normal vs patológica). O stress durante a gravidez foi associado a recém-nascidos com temperamento mais ativo e irritável, à falta de atenção durante a avaliação do desenvolvimento em bebés de oito e à afetividade negativa ou perturbações comportamentais na segunda infância. Depressão com efeitos semelhantes. Idade materna: crescimento significativo, maior risco de problemas desenvolvimentais nos bebés. Embora a maior parte dos riscos à saúde dos bebés não seja muito maior do que para os bebés nascidos de mães mais jovens, a probabilidade de aborto espontâneo e parto de nada-morto aumenta com a idade materna. O risco de aborto espontâneo chega a 90% para mulheres de 45 anos ou mais. Ademais, mulheres entre 30 e 35 anos têm maior probabilidade de sofrer complicações devido ao diabetes, pressão alta ou hemorragia grave. Também há risco maior de parto prematuro, retardo no crescimento fetal, defeitos fetais e anomalias cromossómicas, como a síndrome de Dawn. Ameaças ambientais externas: poluição do ar, substâncias químicas, radiação, extremos de calor e humidade, bem como outras ameaças ambientais podem afetar o desenvolvimento pré-natal (ex: trabalho em fábricas). Fatores paternos: a exposição ao chumbo, cannabis ou fumo de tabaco, álcool ou radiação em grande quantidade, pesticidas ou altos níveis de ozónio pode resultar em espermatozoides anormais ou de baixa qualidade. Pais mais velhos podem ser uma fonte significativa de defeitos congénitos devido à presença de espermatozoides danificados ou deteriorados. Monitorização do desenvolvimento pré-natal: atualmente crescimento de técnicas não invasivas. Ferramentas para avaliar o progresso e o bem-estar da futura criança e mesmo intervir para corrigir algumas condições anormais. Nascimento e Desenvolvimento Físico nos Três Primeiros Anos Pontos principais: nascimento e cultura (mudanças no ato de nascer), o processo de nascimento, o recém-nascido, complicações do parto, sobrevivência e saúde, desenvolvimento físico inicial, desenvolvimento motor. Nascimento e Cultura: mudanças no ato de nascer Antes do século XX, o nascimento de uma criança na europa, assim como na maioria dos países desenvolvidos, era um ritual social feminino. A mulher, cercada por parentes e vizinhos do sexo feminino, ficava sentada na sua cama, vestida apenas com um lençol. A parteira que comandava o evento não tinha nenhum treino/formação formal; ela dava “conselhos, massagens, poções, irrigações e talismãs”. Naquele tempo, o nascimento de uma criança era “uma luta contra a morte”, tanto para a mãe quanto para o bebé. Milhares de bebés eram nados-mortos e um em cada quatro que nasciam vivos morria no primeiro ano de vida. As notáveis reduções nos riscos que envolvem a gravidez e o nascimento de um bebé em países industrializados, especialmente nos últimos 50 anos, são derivadas em grande parte à disponibilidade de antibióticos, transfusões de sangue, anestesia segura, melhorias de higiene e medicamentos para induzir o parto. Entretanto, a “medicalização” do nascimento teve custos sociais e emocionais, afirmam alguns críticos. Hoje, uma pequena (mas crescente) parcela de mulheres em países desenvolvidos está a voltar para as experiências íntimas e pessoas de um parto doméstico, que poe envolver toda a família. O processo de nascimento Trabalho de parto é um termo adequado para o processo de dar à luz. O nascimento é um trabalho duro tanto para a mãe quanto para o bebé. Esse trabalho é ativado por uma série de mudanças uterinas e cervicais, entre outras. Normalmente inicia-se por volta de duas semanas antes do parto, quando a repentina elevação dos níveis de estrogénio estimula o útero a contrair-se e a cérvix a ficar mais flexível. Etapas do nascimento: o trabalho de parto ocorre em três etapas sobrepostas: 1. A primeira etapa, a mais longa, geralmente dura de 12 a 14 horas para a mulher que tem o seu primeiro filho; tende a ser mais curta em partos posteriores. Durante essa etapa, contrações uterinas regulares, e cada vez mais frequentes, causa a dilatação ou alargamento da cérvix em preparação para o parto. 2. Durante a segunda etapa, que geralmente dura até uma ou duas horas, as contrações tornam-se mais fortes e mais próximas. A segunda etapa tem início quando a cabeça do bebé começa a deslocar-se pela cérvix em direção ao canal vaginal, e termina quando o bebé emerge por completo do corpo da mãe. Se essa etapa durar mais do que duas horas, sinalizando que o bebé precisa de ajuda, o médico pode segurar a cabeça do bebé com o fórceps, ou, o que é mais frequente, usar a extração a vácuo, com uma ventosa de aspiração para puxá-lo para fora do corpo da mãe. 3. Durante a terceira etapa, que dura de 10 a 60 minutos, a placenta e o restante do cordão umbilical são expelidos do corpo da mãe. Parto Vaginal vs Parto Cesariano O método mais comum de parto é o parto vaginal. Uma alternativa é o parto cesariano, que pode ser usado para remover cirurgicamente o bebé do útero através de uma incisão no abdómen da mãe. A cirurgia costuma ser executada quando o trabalho de parto progride muito lentamente, o feto parece estar com problemas ou a mãe apresenta sangramento vaginal. A cesariana geralmente é necessária se o feto está em posição invertida (pés ou nádegas para baixo) ou na posição transversal (atravessado no útero) ou se a cabeça for muito grande para passar pela pélvis da mãe. Partos cesarianos apresentam riscos de sérias complicações para a mãe, como sangramento, infeção, danos a órgãos pélvicos, dor pós-operatória, além de aumentar os riscos de problemas em futuras gestações. Também privam o bebé dos importantes benefícios do nascimento normal: um súbito aumento no nível de hormonas que limpam os pulmões do excesso de fluido, mobilização de nutrientes para alimentar as células e envio de sangue para o coração e o cérebro. O parto vaginal também parece influenciar a vinculação da mãe com o seu bebé devido à ação da oxitocina, uma hormona envolvida nas contrações uterinas que estimulam o comportamento maternal em animais. Há indicações de que a oxitocina pode ter efeitos semelhantes nos seres humanos. Parto medicado vs parto não medicado Durante o século XX, foram desenvolvidos vários métodos alternativos de parto natural ou parto preparado. Esses métodos minimizam ou eliminam o uso de medicamentos que possam pôr em risco o bebé e possibilitam à mãe e ao pai participar plenamente de uma experiência natural e enriquecedora. Método “Parto sem Medo” visa educar as gestantes sobre a fisiologia da reprodução, treinando-as para atingir uma boa forma física e para a respiração e relaxamento durante o trabalho de parto (psicoeducação). Hoje, o aperfeiçoamento do parto medicado leva muitas mulheres a escolherem o alívio da dor, às vezes combinado com métodos naturais. A mulher poderá receber anestesia local (vaginal), também chamada de bloqueio pudendo, geralmente durante a segunda etapa do trabalho de parto. As mulheres também podem optar por injeções regionais (epidural ou espinhal). A anestesia regional, que é injetada num espaço da medula espinhal entre as vértebras da região lombar, bloqueia as vias neurais que transmitem a sensação de dor para o cérebro. Em muitas culturas tradicionais, as gestantes são auxiliadas por uma doula, uma mentora, instrutora e ajudante experiente que pode oferecer apoio emocional e informações. O recém-nascido O período neonatal, que são as primeiras quatro semanas de vida, é um tempo de transição do útero, onde o feto é totalmente sustentado pela mãe, para uma existência independente. O neonato, mede em média cerca de 50 centímetros de comprimento e pesa aproximadamente 3,5kg. Ao nascer, 95% dos bebés nascidos a termos pesam entre 2,5 e 4,5kg e medem entre 45 e 55 centímetros. Apresentam outras características distintivas, que incluem uma cabeça grande (um quarto do comprimento do corpo) e um queixo recuado (que facilita a amamentação). Alguns neonatos são muito peludos porque parte do lanugo que ainda não caiu. Quase todos os bebés recém- nascidos estão cobertos com uma vernix caseosa (“verniz caseoso”), uma proteção gordurosa contra infeções que resseca já nos primeiros dias. Antes do nascimento, a circulação sanguínea, a respiração, a nutrição, a eliminação de resíduos e a regulação da temperatura são realizadas através do corpo da mãe. Após o nascimento, todos os sistemas e funções do bebé devem operar por conta própria. A maior parte dessa transição ocorre de quatro a seis horas após o parto. O feto obtém oxigénio pelo cordão umbilical, o qual também leva o dióxido de carbono embora. A maioria dos bebés começa a respirar assim que entra em contacto com o ar. Caso a respiração não comece em até cerca de cinco minutos, o bebé pode sofrer dano cerebral permanente causado por anóxia. Três ou quatro dias após o nascimento, aproximadamente metade de todos os bebés desenvolvem icterícia neonatal: a sua pele e os seus globos oculares mostram-se amarelados. Devido à imaturidade do fígado. Avaliação Clínica e Comportamental: verificar se o neonato necessita de cuidados especiais. Duas escalas principais: A Escala de Apgar A Escala Brazelton A Escala de Apgar Feita a um minuto e cinco minutos após o parto. Composta por 5 subtestes: aparência (cor), pulsação (frequência cardíaca), expressão facial (reflexos), atividade (tónus muscular) e respiração. Pontuação total de 10. Uma pontuação aos cinco minutos de 7 a 10 indica que o bebé está numa condição que vai de boa a excelente. Uma pontuação abaixo de 5-7 significa que o bebé precisa de auxílio para começar a respirar; uma pontuação abaixo de 4 indica que precisa de primeiros socorros de imediato. A Escala Brazelton (NBAS) Para ajudar pais, profissionais de saúde e investigadores a avaliar a resposta de neonatos ao seu ambiente físico e social, a identificar pontos fortes e possíveis vulnerabilidades no funcionamento neurológico. Adequado para bebés de até dois meses de idade. Cerca de 30 minutos. Avalia a organização motora (capacidade de levar a mão à boca), reflexos, mudanças de estado (irritabilidade e capacidade de se acalmar), capacidade de prestar atenção e interagir e instabilidade no sistema nervoso central (tremores). Estados de Alerta: os bebés possuem um “relógio” interno que regula os seus ciclos diários de alimentação, sono e eliminação, e possivelmente até o seu humor. Esses ciclos periódicos de vigília, sono e atividade, conduzem o estado de alerta do bebé. A maioria dos recém-nascidos passa à volta de 75% do seu tempo (até 18 horas por dia) dormindo, mas acorda a cada 3 ou 4 horas, dia e noite, para se alimentar. Alguns bebés começam a dormir à noite já aos três meses de idade. Aos seis meses, dorme 6 horas direto à noite. Aos 2 anos dorme umas 13 horas por dia, geralmente à tarde. Complicações do Parto Baixo Peso Natal: bebés com baixo peso natal pesam menos de 2.5kg ao nascerem; eles podem ser pré-termo (bebés que nascem antes de completar a 37ºsemana de gestação) ou pequenos para a idade gestacional, ou ambos. Bebés pequenos para a idade gestacional, podem ou não ser pré-termo. Entre os fatores que aumentam a probabilidade de uma mulher ter um bebé abaixo do peso estão: (1) fatores demográficos e socioeconómicos (instrução, etnia), (2) fatores clínicos que antecedem a gravidez (estatura, peso), (3) fatores pré- natais comportamentais e ambientais (consumo, subnutrição), (4) condições clínicas associadas à gravidez (depressão, infeções) e (5) ter dado à luz há menos de 6 meses ou mais de 5 anos. Incubadora e método canguru Bebé pós-maduro: refere-se ao feto que ainda não nasceu passadas duas semanas da data devida ou 42 semanas após o último ciclo menstrual da mãe. São maiores e por isso complicam o parto e no final da gestação tivera uma provisão sanguínea insuficiente – risco cerebral (placenta envelhecida). Sobrevivência e saúde Síndrome da morte súbita infantil (SIDS) Às vezes chamada de morte no berço, é a morte repentina de uma criança com menos de um ano de idade, em que a causa da morte permanece sem explicação, após uma completa investigação, que inclui autópsia. Potencialmente resultante de uma combinação de fatores. Um defeito biológico subjacente pode, durante um período crítico, tornar muitos bebés vulneráveis a certas experiências disparadoras – tal como a exposição pré-natal ao tabaco. Pelo menos seis mutações genéticas que afetam o coração estão associadas a casos de SIDS. Desenvolvimento Físico Inicial Princípios do desenvolvimento: dois principais - Princípio cefalocaudal: o crescimento ocorre de cima para baixo. Partes superiores do corpo desenvolvem-se antes que as inferiores. Como o cérebro cresce rapidamente antes do nascimento, a cabeça do recém-nascido é desproporcionalmente grande. - Princípio próximo-distal: o crescimento e o desenvolvimento motor ocorrem do centro co corpo para as extremidades. Durante a primeira e a segunda infância, os membros superiores e inferiores continuam a crescer mais rápido que as mãos e os pés. Padrões de Crescimento A criança cresce mais rápido durante os três primeiros anos, especialmente durante os primeiros meses, do que em qualquer outro período da vida. Nutrição Peito ou Biberão: a amamentação materna quase sempre é o melhor para o bebé – e para a mãe. Alimentar o bebé é um ato emocional e físico. O contato afetuoso com o corpo da mãe promove um vínculo emocional entre mãe e bebé. Bebés amamentados Mães que amamentam Os pediatras recomendam que sejam introduzidos, gradualmente, alimentos sólidos enriquecidos com ferro – geralmente começando com os cereais – durante a segunda metade do primeiro ano. Nesse período também podem ser introduzidos sumos de fruta. Cérebro e Comportamento Reflexo O sistema nervoso central – o cérebro e a medula espinhal (um feixe de nervos que percorre a coluna vertebral) é uma rede periférica crescente de nervos que se estende a todas as partes do corpo. Até o nascimento, o pico de crescimento da medula espinhal e do tronco encefálico (a parte do cérebro responsável por funções corporais básicas como respiração, ritmo cardíaco, temperatura do corpo e o ciclo de sono e vigília) está quase concluído. O cerebelo (a parte do cérebro que mantém o equilíbrio e a coordenação motora) cresce mais rápido durante o primeiro ano de vida. O cérebro divide-se em metades direita e esquerda, ou hemisférios, cada qual com funções especializadas. Essa especialização dos hemisférios é chamada de lateralização. O hemisfério esquerdo ocupa-se principalmente da linguagem e do raciocínio lógico; o hemisfério direito, com as funções visuais e espaciais, como a leitura de um mapa e o desenho. Juntando os dois hemisférios, há uma espessa faixa de tecido chamada corpo caloso, que lhes permite partilhar informações e coordenar comandos. O corpo caloso cresce significativamente durante a infância, atingindo o tamanho definitivo aos 10 anos. Cada hemisfério cerebral possui quatro lobos ou seções: occipital, parietal, temporal e frontal, que controlam diferentes funções e desenvolvem-se em ritmos diferentes. O cérebro é composto por neurónios e células gliais. Os neurónios, ou células nervosas, enviam e recebem informação. A glia, ou células gliais, nutrem e protegem neurónios. A multiplicação das dendtrites e conexões sinápticas, especialmente durante os últimos dois meses e meio de gestação e os primeiros 6 meses a 2 anos de vida, é responsável por boa parte do crescimento do cérebro, permitindo a emergência de novas capacidades percetuais, cognitivas e motoras. À medida que os neurónios se multiplicam, migram para os locais que lhe são designados e desenvolvem conexões, passam pelos processos complementares de integração e diferenciação. Pela integração, neurónios que controlam vários grupos de músculos coordenam as suas atividades. Pela diferenciação, cada neurónio assume uma estrutura e função específica e especializada. Já o processo de morte celular, ou supressão do excesso de células, tem início durante o período pré-natal e continua após o nascimento, ajudando a criar um sistema nervoso eficiente. Boa parte do crédito pela eficiência da comunicação neural vai para as células gliais, que revestem as vias neurais com uma substância gordurosa chamada mielina. Esse processo de mielinização permite que os sinais se propaguem mais rapidamente e com maior fluidez. Os comportamentos reflexos são respostas automáticas, involuntárias e inatas à estimulação. Estes são controlados por centros inferiores do cérebro que controlam outros processos involuntários, tais como a respiração e o ritmo cardíaco. Estima-se que os bebés humanos tenham 27 reflexos importantes, muitos dos quais estão presentes no nascimento ou pouco depois. Os reflexos primitivos, tais como o de sucção, rotação (buscar o mamilo) e o reflexo de Moro (resposta a um susto ou quando o bebé começa a cair), estão relacionados a necessidades instintivas por sobrevivência e proteção, ou talvez sustentem a ligação inicial com o cuidador. À medida que os centros superiores do cérebro se tornam ativos entre o segundo e o quarto mês de vida, os bebés começam a exibir reflexos posturais: reações a mudanças de posição ou de equilíbrio. Por exemplo, bebés que são inclinados para baixo estendem os braços no reflexo de paraquedas, uma tentativa instintiva de amenizar a queda. Embora o desenvolvimento inicial do cérebro seja geneticamente orientado, ele é continuamente modificado tanto de modo positivo quanto negativo pela experiência ambiental. O termo técnico para essa maleabilidade ou modificabilidade do cérebro é plasticidade. Essa plasticidade pode ser um mecanismo evolucionista para possibilitar a adaptação às mudanças no ambiente. Desenvolvimento Motor – é caracterizado por uma série de marcos: realizações que se desenvolvem sistematicamente; cada habilidade recém-adquirida prepara o bebé para lidar com a próxima. Os bebés primeiro aprendem habilidades simples e depois as combinam em sistema de ação cada vez mais complexos, permitindo um espectro mais amplo ou mais preciso de movimentos e em controlo mais eficaz do ambiente. Teste de Avaliação do Desenvolvimento de Denver O teste de avaliação do desenvolvimento de Denver é utilizado para mapear o progresso de crianças de 1 mês a 6 anos, e para identificar aquelas que não se estão a desenvolver normalmente. O teste avalia as habilidades motoras gerais (as que envolvem os músculos maiores), como rolar e apanhar uma bola, e as habilidades motoras finas (as que envolvem os músculos menores), como pegar um chocalho e desenhar um círculo. Também avalia o desenvolvimento da linguagem (por exemplo, saber a definição das palavras) e o desenvolvimento social (como sorrir espontaneamente e se vestir sem ajuda). Locomoção: depois de três meses, um bebé mediano começa a rolar deliberadamente (e não acidentalmente, como antes). Um bebé mediano consegue sentar-se sem apoio por volta dos 6 meses. Entre os 6 e os 10 meses, a maioria dos bebés começa a deslocar-se por conta própria arrastando-se ou gatinhando (perceber profundidade, distâncias e marco social). Entre 5 e 7 meses, depois do bebé conseguir esticar o braço e agarrar objetos, ele desenvolve a perceção tátil, a capacidade de adquirir informação pelo manuseio de objetos e não meramente olhar para eles. A Teoria Ecológica da Perceção Bebés de 6 meses colocados sobre uma mesa de plástico transparente, forrada com uma estampa que criava a ilusão de que havia um desnível vertical no centro da mesa – um abismo virtual. Os bebés percebiam essa ilusão de profundidade. Identificaram uma diferença entre a “saliência” e o “desnível”. Gatinharam despreocupadamente na “saliência”, mas evitaram o “desnível”, mesmo quando viam a mãe acenando do outro lado da mesa. Segundo a teoria ecológica da perceção, o desenvolvimento locomotor depende do aumento da sensibilidade à interação entre as suas características físicas em transformação e as novas e variadas características do seu ambiente. Em vez de confiar em soluções que funcionaram anteriormente, os bebés aprendem a avaliar continuamente as suas capacidades e o entorno, adaptando comportamentos. Variação cultural. Algumas culturas incentivam e outras dificultam o desenvolvimento motor. Desenvolvimento Cognitivo na Primeira Infância - A abordagem behaviorista estuda os mecanismos básicos da aprendizagem. Os behavioristas querem saber como o comportamento muda em resposta à experiência. - A abordagem psicométrica mede as diferenças quantitativas nas habilidades que compõem a inteligência, utilizando testes que indicam ou preveem essas habilidades. - A abordagem de Piaget volta-se para as mudanças, ou estágios, na qualidade do funcionamento cognitivo. Ela quer saber como a mente estrutura as suas atividades e se adapta ao ambiente. - A abordagem do processamento de informação focaliza a perceção, aprendizagem, memória e resolução de problemas. O seu objetivo é descobrir como as crianças processam as informações do momento em que as recebem até utilizá-las. - A abordagem da neurociência cognitiva examina o hardware do nosso sistema nervoso e busca identificar quais são as estruturas do cérebro envolvidas em aspetos específicos da cognição. - A abordagem sociocontextual examina os efeitos dos aspetos ambientais dos processos de aprendizagem, particularmente o papel dos pais e de outros cuidadores. Todas essas seis abordagens ajudam-nos a entender como se desenvolve a cognição. Mecanismos básicos de aprendizagem segundo os behavioristas Condicionamento operante – quando o bebé aprende que balbuciar resulta em atenção carinhosa – o aprendiz age, ou opera, sobre o ambiente. O bebé aprende a responder de uma determinada maneira ao estímulo ambiental (balbuciando ao ver os pais) para produzir um efeito específico (atenção parental). Os pesquisadores geralmente usam o condicionamento operante para estudar outros fenómenos como a memória. Memória dos bebés Os cientistas do desenvolvimento propuseram várias explicações para esse fenómeno comum. Uma explicação, sustentada por Piaget (1969) e outros, é que eventos dessa época não são armazenados na memória, porque o cérebro ainda não está suficientemente desenvolvido. Freud, por outro lado, acreditava que as primeiras lembranças estão armazenadas, porém reprimidas, porque são emocionalmente perturbadoras. Outros investigadores sugerem que as crianças só conseguem armazenar eventos na memória quando podem falar sobre eles. Abordagem psicométrica: testes de desenvolvimento e de inteligência Embora não haja um consenso científico claro sobre a definição de comportamento inteligente, a maioria dos profissionais concorda que o comportamento inteligente é orientado para uma meta e é adaptativo: direcionado para se adaptar às circunstâncias e condições de vida. A inteligência permite às pessoas adquirir, lembrar e utilizar conhecimento; entender conceitos e relações; resolver os problemas do dia a dia. O objetivo da aplicação de testes psicométricos é medir quantitativamente os fatores que supostamente constituem a inteligência (tais como compreensão e raciocínio) e, a partir dos resultados dessa medida, prever o desempenho futuro (como o desempenho escolar). Os testes de QI (quociente de inteligência) consistem em perguntas ou tarefas que devem mostrar quanto das habilidades medidas a pessoa possui, comparando o seu desempenho com normas estabelecidas para um grupo extenso que compôs a amostra de padronização. Testes de desenvolvimento infantil Embora seja praticamente impossível medir a inteligência de um bebé, é possível testar o seu desenvolvimento. Os testes de desenvolvimento comparam o desempenho do bebé numa série de tarefas com normas estabelecidas baseadas na observação do que um grande número de bebés e crianças pequenas sabe fazer em determinadas idades. As escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil constituem um teste de desenvolvimento amplamente utilizado e elaborado para avaliar crianças entre 1 mês e 3 anos e meio. Pontuações na Bayley-III indicam os pontos fortes e fracos e as competências de uma criança em cada uma das cinco áreas do desenvolvimento: cognitivo, linguagem, motor, socioemocional e comportamento adaptativo. Avaliando o impacto do ambiente doméstico A inteligência já foi considerada como algo fixo desde o nascimento, mas agora sabemos que é influenciada tanta pela hereditariedade quanto pelo ambiente. Inventário HOME de Observação Doméstica – observadores treinados entrevistam o cuidador principal e classificam com sim ou não a estimulação intelectual e o suporte observado no lar da criança. As pontuações do HOME estão significativamente relacionadas às medidas do desenvolvimento cognitivo. Um fator importante avaliado pelo HOME é a responsividade parental. O HOME dá pontos aos pais que acariciam e beijam o filho durante a visita do examinador. O HOME também avalia o número de livros na casa, a presença de brinquedos que incentivam o desenvolvimento de conceitos e o envolvimento dos pais nas brincadeiras dos filhos. Aspetos do ambiente doméstico Sete aspetos do ambiente doméstico nos primeiros meses de vida que possibilitam o desenvolvimento cognitivo e psicossocial e ajudam a preparar as crianças para a escola: 1. Incentivo para explorar o ambiente; 2. Supervisão do desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais básicas; 3. Elogio às realizações; 4. Orientação para a prática e para a expansão de habilidades; 5. Proteção contra desaprovação imprópria, provocações e punições; 6. Enriquecimento da comunicação e responsividade; 7. Orientação e limitação do comportamento. A presença constante dessas sete condições logo no começo da vida “forma um vínculo causal com muitas áreas do funcionamento do cérebro e do desenvolvimento cognitivo”. Intervenção precoce – é um processo sistemático de planeamento e fornecimento e serviços terapêuticos e educacionais para famílias que precisam de ajuda para satisfazer as necessidades de desenvolvimento de bebés e crianças em idade pré-escolar. As intervenções mais eficazes na infância são aquelas que: 1. Começam bem cedo e continuam ao longo dos anos pré-escolares; 2. São intensivas (isto é, ocupam mais tempo por dia ou mais dias em uma semana, mês ou ano); 3. Proporcionam experiências educacionais diretas, não apenas treino parental; 4. Incluem saúde, aconselhamento familiar e serviços sociais; 5. São adaptadas às diferenças e necessidades individuais. Abordagem Piaget: o estágio sensório-motor - O primeiro dos quatro estágios de Piaget para o desenvolvimento cognitivo é o estágio sensório-motor. Durante esse estágio (do nascimento até os 2 anos, aproximadamente), os bebés aprendem sobre si mesmos e sobre o mundo mediante as suas atividades sensoriais e motoras. Os bebés passam de seres que respondem basicamente por meios de reflexos e comportamento aleatório a crianças orientadas para uma meta. Subestágios do estágio sensório-motor O estágio sensório-motor consiste em 6 subestágios, que fluem de um para o outro à medida que os esquemas do bebé, os padrões de pensamento e comportamento, tornam-se mais elaborados. Durante os cinco primeiros subestágios, o bebé aprende a coordenar os dados provenientes dos sentidos e a organizar as suas atividades em relação ao ambiente. Durante o sexto e último subestágio, ele evolui da aprendizagem por tentativa e erro para o uso de símbolos e conceitos a fim de resolver problemas simples. Boa parte desse crescimento cognitivo inicial surge por meio de reações circulares, quando o bebé aprende a reproduzir eventos agradáveis ou interessantes originalmente descobertos ao acaso. Inicialmente, uma atividade como sugar produz uma sensação tão agradável que o bebé quer repeti-la. A repetição novamente gera prazer, o que motiva o bebé a fazê-lo mais uma vez. O comportamento originalmente aleatório foi consolidado num novo esquema. Capacidade de imitação – Piaget Piaget sustentava que a imitação invisível – imitação usando partes do corpo que o bebé não pode ver, como a boca e a língua – desenvolve-se por volta dos 9 meses, após a imitação visível, como o uso das mãos ou dos pés que podem ser vistos pelo bebé. Piaget também sustentava que crianças com menos de 18 meses não podiam fazer imitação diferida de um ato que viram algum tempo atrás, porque ainda não eram capazes de reter representações mentais. Entretanto, Piaget pode ter subestimado a capacidade de representação de bebés e crianças pequenas por causa da limitada capacidade que elas têm de falar do que se lembram. Bebés de 6 semanas imitaram os movimentos faciais de um adulto 24 horas depois, na presença do mesmo adulto, que dessa vez permaneceu inexpressivo. O desenvolvimento do conhecimento sobre objetos e símbolos O conceito de objeto – a ideia de que os objetos têm a sua própria existência independente, características e localizações próprias no espaço – é um desenvolvimento cognitivo tardio fundamental para uma visão ordenada da realidade física. O conceito de objeto é a base para a consciência que as crianças têm de que elas próprias existem separadamente dos objetos e das outras pessoas. É fundamental para entender um mundo cheio de objetos e eventos. Um dos aspetos do conceito de objeto é a permanência do objeto, a perceção de que ele ou uma pessoa continua existindo quando está fora do campo de visão. A permanência do objeto desenvolve-se gradualmente durante o estágio sensório- motor. A princípio, o bebé não tem essa noção. Por volta do terceiro subestágio, entre 4 e 8 meses, ele vai procurar algo que tenha derrubado, mas se não conseguir encontrar, agirá como se o objeto não mais existisse. No quarto subestágio, entre 8 e 12 meses, ele procurará o objeto no lugar onde o encontrou pela primeira vez após vê-lo escondido, mesmo se depois ele o viu ser removido para outro lugar; isso é conhecido como erro A-não-B. No quinto subestágio, entre 12 e 18 meses, o bebé, segundo Piaget, não comete mais esse erro; ele vai procurar o objeto no último lugar em que o viu escondido. Entretanto, não procurará num lugar onde não o viu escondido. Por volta do sexto subestágio, entre 18 e 24 meses, a permanência do objeto é plenamente conquistada; crianças pequenas procuram um objeto mesmo se não o virem escondido. Crianças de até 3 anos geralmente cometem erros de escala – tentativas de agir sobre objetos pequenos demais para permitirem o comportamento a ser realizado. Num estudo, crianças entre 18 a 36 meses foram gravadas tentando escorregar em escorregadores minúsculos, sentar em cadeiras de casa de boneca e entrar em miniaturas de carros depois de objetos similares, mas do tamanho da criança, haviam sido removidos da sala de brinquedos. Hipótese da dupla representação oferece outra explicação para o problema da interpretação dos modelos em escala em crianças de 2 anos. Segundo essa hipótese, é difícil para essas crianças representar mentalmente, e ao mesmo tempo, tanto o símbolo quanto o objeto que ele representa, e assim elas confundem os dois, tratando o modelo em escala como tratariam o objeto que ele representa. Abordagem do processamento de informação: perceções e representações Boa parte da pesquisa em processamento de informação com bebés baseia-se na habituação, um tipo de aprendizagem em que a exposição repetida e contínua a um estímulo reduz a atenção a esse estímulo. Em outras palavras, a familiaridade gera perda de interesse. Os investigadores estudam a habituação em recém-nascidos apresentando repetidamente um estímulo (geralmente um padrão sono ou visual) e depois monitoram respostas como ritmo cardíaco, sucção, movimento dos olhos e atividade cerebral. O bebé que vinha sugando costuma parar, ou suga com menos vigor, quando o estímulo é apresentado pela primeira vez, e presta atenção ao novo estímulo. Depois do mesmo som ou a mesma imagem ser apresentada várias vezes, deixa de ser novidade e não faz o bebé sugar menos. A retomada da sucção vigorosa mostra que o bebé se habituou ao estímulo. Uma nova imagem ou som captará a atenção do bebé e ele deixará de sugar ou reduzirá a sucção novamente. Essa resposta a um novo estímulo é chamada de desabituação (aumento da resposta após a apresentação de um novo estímulo). Capacidades de perceção e processamento visual e auditivo A quantidade de tempo que um bebé passa a olhar para diferentes tipos de imagens é uma medida de preferência visual que se baseia na capacidade de fazer distinções visuais. Bebés com menos de 2 dias de idade preferem linhas curvas a linhas retas, padrões complexos a padrões simples, objetos tridimensionais a objetos bidimensionais, figuras de faces, ou configurações semelhantes a faces, a figuras de outras coisas, e imagens novas a imagens familiares. A tendência de preferir novas imagens às mais familiares é chamada de preferência por novidade. Memória de reconhecimento visual: capacidade de distinguir um estímulo visual familiar de outro não familiar quando ambos são mostrados ao mesmo tempo. Uma habilidade mais sofisticada é a transferência intermodal, a capacidade de utilizar informações obtidas por intermédio de um dos sentidos para orientar tudo – por exemplo, quando uma pessoa atravessa uma sala escura tateando para localizar objetos familiares ou identifica objetos pela visão depois de apalpá-los com os olhos fechados. Abordagem da neurociência cognitiva: as estruturas cognitivas do cérebro A memória implícita, que se desenvolve no início da primeira infância, refere-se à recordação que ocorre sem esforço ou mesmo inconscientemente; diz respeito a hábitos e habilidades, por exemplo, saber como jogar uma bola – ou os chutes de um bebé quando vê um móbile familiar. A memória explícita, também chamada de memória declarativa, é a recordação consciente ou intencional, geralmente de fatos, nomes, eventos ou outras coisas que podem ser enunciadas ou declaradas. A demora na imitação de comportamentos complexos é evidência de que a memória declarativa está a desenvolver-se no final da primeira infância. Durante a segunda metade do primeiro ano, o córtex pré-frontal e circuitos associados desenvolvem a capacidade para a memória de trabalho – o armazenamento de informações a curto prazo que o cérebro está ativamente processando ou utilizando. É na memória de trabalho que as representações mentais são preparadas para armazenamento, ou recuperadas. Abordagem sociocontexutal: aprendendo nas interações com cuidadores A participação guiada refere-se a interações mútuas com adultos que ajudam a estruturar as atividades da criança e preenchem a distância entre a compreensão da criança e a do adulto. Esse conceito foi inspirado pela visão que Vygotsky tinha de aprendizagem como um processo colaborativo. Desenvolvimento da linguagem A linguagem é um sistema de comunicação baseado em palavras e gramática. Uma vez conhecidas as palavras, a criança pode usá-las para representar objetos e ações. Ela pode refletir sobre pessoas, lugares e coisas; e pode comunicar as suas necessidades, sentimentos e ideias a fim de exercer mais controle sobre a sua vida. Antes de utilizar palavras, o bebé faz as suas necessidades e os sentimentos serem conhecidos por meio de sons que evoluem do choro para o arrulho e balbucio, depois para a imitação acidental e então para a imitação deliberada. Esses sons são conhecidos como fala pré-linguística. Vocalização inicial: O choro é o primeiro meio de comunicação do recém-nascido. Diferentes tons, padrões e intensidades sinalizam tome, sono, raiva. Os adultos têm aversão ao choro por um motivo – motiva-os a encontrar a causa do problema e resolvê-lo. Assim, o choro tem um grande valor adaptativo. Entre 6 semanas a 3 meses, o bebé começa a arrulhar quando está feliz – emitindo gritos agudos, gorgolejando e pronunciando sons de vogal como “ahhh”. Entre 3 a 6 meses, o bebé começa a brincar com os sons da fala, imitando os sons que ouve de pessoas ao seu redor. O balbucio – repetição de sequências de consoantes e vogais, como “ma-ma-ma-ma” – ocorre entre 6 e 10 meses de idade e geralmente é confundido com a primeira palavra do bebé. Gestos – antes de poderem falar, os bebés apontam. Aos 12 meses aprendem alguns gestos sociais convencionais: dar tchau, inclinar a cabeça para sinalizar “sim” e balançar a cabeça para significar “não”. Por volta dos 13 meses, usam gestos representacionais mais elaborados: por exemplo, segurar uma chávena vazia na altura da boca para mostrar que quer beber alguma coisa ou estica os braços para mostrar que quer que a peguem no colo. As primeiras palavras: O bebé mediano diz a primeira palavra entre 10 e 14 meses, dando início assim à fala linguística – expressão verbal que transmite significado. A princípio, o repertório verbal resume-se a “mamã” e “dada”. Ou poderá ser uma única sílaba que possui mais de um significado, dependendo do contexto em que a criança pronuncia. “Da” pode significar “eu quero aquilo”, “eu quero sair”, “onde está o pai?”. Uma palavra como essa, que expressa um pensamento completo, é chamada de holófrase. As primeiras frases: As primeiras sentenças de uma criança geralmente tratam de eventos, coisas, pessoas ou atividades do dia-a-dia. É comum as crianças utilizarem a fala telegráfica, que consiste em apenas algumas palavras essenciais. Quando a criança diz “vó endo”, parece querer dizer “avó está varrendo o chão”. A criança pequena simplifica. Ela usa a fala telegráfica para dizer o suficiente sobre as suas intenções. Entre 20 e 30 meses, a criança demonstra uma competência cada vez maior na sintaxe, as regras para juntar frases na sua língua – mais fluente. Teorias clássicas de aquisição da linguagem: o debate genética-ambiente A capacidade linguística é aprendida ou inata) na década de 1950 travou-se um debate entre duas escolas de pensamento: uma liderada por Skinner, o principal proponente da teoria da aprendizagem, e outra pelo linguista Noam Chomsky. Skinner (1957) sustentava que a aprendizagem da linguagem, como qualquer outra, baseia-se na experiência. Segundo a teoria clássica da aprendizagem, a criança aprende a linguagem por meio de condicionamento operante. A princípio, o bebé emite sons aleatórios. Os cuidadores reforçam os sons que se assemelham à fala adulta com sorrisos, atenção e elogios. Observação, imitação e reforço contribuem para o desenvolvimento da linguagem. A conceção de Chomsky é chamada de inatismo. Diferentemente da teoria da aprendizagem de Skinner, o inatismo enfatiza o papel ativo daquele que aprende. Como a língua é universal nos seres humanos, Chomsky propôs que o cérebro humano tem uma capacidade inata para adquirir linguagem; bebés aprendem a falar tao naturalmente quanto aprendem a nadar. Ele sugeriu que um dispositivo de aquisição da linguagem (DAL) programa o cérebro da criança para analisar a língua que ela ouve e inferir suas regras. Influências no desenvolvimento inicial da linguagem Desenvolvimento do cérebro: Interação social: o papel dos pais e cuidadores – a maioria dos bebés adora ouvir uma leitura. A frequência com que os cuidadores leem para eles pode influenciar a qualidade da fala de uma criança e, por fim, a qualidade e a época do letramento – a capacidade de ler e escrever. Fala dirigida à criança: tipo de fala geralmente usada para conversar com bebés ou crianças pequenas; trata-se de uma fala lenta e simplificada, tonalidade alta, sons vogais exagerados, palavrar e sentenças curtas e muita repetição; também chamada de manhês. Fundamentos do desenvolvimento psicossocial Embora os bebés apresentem os mesmos padrões de desenvolvimento, cada um deles, desde o início, exibe uma personalidade distinta: a combinação relativamente coerente de emoções, temperamento, pensamento e comportamento é que torna cada pessoa única. Emoções, como tristeza, alegria e medo, são reações subjetivas à experiência e que estão associadas a mudanças fisiológicas e comportamentais. O medo por exemplo, é acompanhado de aceleração dos batimentos cardíacos e, geralmente, de ações de autoproteção. O padrão característico de reações emocionais de uma pessoa começa a se desenvolver durante a primeira infância e constitui um elemento básico da personalidade. Os primeiros sinais de emoção Os recém-nascidos deixam bem claro quando estão infelizes: soltam gritos agudos, agiram os braços e as pernas e enrijecem o corpo. É mais difícil saber quando estão felizes. Sorriso e gargalhada: os primeiros sorrisos ocorrem espontaneamente logo após o nascimento, aparentemente como resultado da atividade do sistema nervoso subcortical. O sorriso social, quando os recém-nascidos olham para os pais e sorriem para eles, não se desenvolve antes do segundo mês de vida. Esse sorriso sinaliza a participação ativa e positiva do bebé no relacionamento. A risada é uma vocalização ligada ao sorriso que se torna mais comum entre os 4 e os 12 meses, quando pode significar a mais intensa e positiva emoção. Dos 12 aos 15 meses, os bebés comunicam-se intencionalmente com o parceiro a respeito dos objetos. O sorriso antecipatório – quando os bebés sorriem ao ver um objeto e depois olham para um adulto enquanto continuam sorrindo – pode ser o primeiro passo. O sorriso antecipatório aumenta abruptamente a sua frequência entre os 8 e os 10 meses e parece estar entre os primeiros tipos de comunicação em que o bebé se refere a um objeto ou experiência. Quando aparecem as emoções? O desenvolvimento emocional é um processo ordenado; emoções complexas desdobram-se de outras mais simples. De acordo com um dos modelos, o bebé revela sinais de contentamento, interesse e aflição logo após o nascimento. Trata-se de respostas difusas, reflexas, a maior parte fisiológicas, à estimulação sensorial ou a processos internos. As emoções autoconscientes, como o constrangimento, a empatia e a inveja, surgem somente depois da criança desenvolver a autoconsciência: compreensão cognitiva de que ela tem uma própria identidade reconhecível, separada e diferente do resto do seu mundo. Essa consciência da própria identidade parece emergir entre 15 e 24 meses. Por volta dos 3 anos, tendo adquirido autoconsciência e mais algum conhecimento sobre os padrões, regras e metas aceitas da sua sociedade, a criança torna-se mais capacitada para avaliar os seus próprios pensamentos, planos, desejos e comportamento em relação àquilo que é considerado socialmente apropriado. Só então ela pode demonstrar emoções autoavaliadoras como orgulho, culpa e vergonha. Crescimento do cérebro e desenvolvimento emocional O temperamento às vezes é definido como o modo característico, com base biológica, de uma pessoa abordar e reagir a outras pessoas e às situações. O temperamento não descreve o que as pessoas fazem, mas o modo como fazem. Estudando os padrões de temperamento: estudo longitudinal de Nova York Crianças “fáceis”: crianças de temperamento alegre, ritmos biológicos regulares e dispostas a aceitar novas experiências. Crianças “difíceis”: crianças de temperamento irritadiço, ritmos biológicos irregulares e respostas emocionais intensas. Crianças de “aquecimento lento”: crianças cujo temperamento é geralmente moderado, mas que hesitam em aceitar novas experiências. Neste estudo pioneiro sobre o temperamento, investigadores acompanharam 133 bebés até a idade adulta. Observaram o nível de atividade das crianças, o grau de regularidade dos seus hábitos de alimentação, sono e evacuação; a disposição para aceitar pessoas e situações novas; como se adaptavam a mudanças na rotina; a sua sensibilidade a ruídos, luz forte e outros estímulos sensoriais; qual a intensidade das suas respostas; se tendiam a ser agradáveis, alegres e amistosas, ou desagradáveis, infelizes e hostis; e se eram persistentes nas suas tarefas ou se deixavam-se distrair facilmente. Segundo o NYLS, a chave para uma adaptação saudável é a adequação da educação – a combinação entre o temperamento de uma criança e as exigências e restrições ambientais que ela deve enfrentar. As primeiras experiências sociais: o bebé na família Quando discutimos padrões de interação adulto-bebé, precisamos considerar que muitos desses padrões são de origem cultural. O papel da mãe – afeto e conchego O papel do pai – envolvimento do pai nos cuidados da criança aumentou consideravelmente na medida em que um número maior de mães começou a trabalhar fora e que mudaram os conceitos sobre o que é ser pai Género: o quanto meninos e meninas são diferentes? Diferenças mensuráveis entre bebés do sexo masculino e do sexo feminino são poucas. Meninos são um pouco mais compridos e mais pesados, e talvez ligeiramente mais fortes, mas são fisicamente mais vulneráveis desde a conceção. Começando no período pré-natal, os meninos são mais ativos do que as meninas. As meninas são menos reativas ao stress e mais propensas a sobreviverem à primeira infância. O cérebro dos meninos ao nascer é aproximadamente 10% maior do que o das meninas, uma diferença que continua na vida adulta. Uma das primeiras diferenças comportamentais entre meninos e meninas, e que aparece entre 1 e 2 anos, está na preferência por brinquedos e brincadeiras e por amigos do mesmo sexo. Meninos já aos 17 meses tendem a brincar mais agressivamente do que as meninas. Entre os 2 e os 3 anos, meninos e meninas tendem a dizer mais palavras pertinentes ao seu próprio sexo (tais como “trator” versus “colar”) do que ao do outro sexo. Os pais começam já muito cedo a influenciar a personalidade de meninos e meninas. O pai, especialmente, promove a tipificação de género, processo em que os filhos aprendem o comportamento que a sua cultura considera apropriado para cada sexo. Desenvolvendo a confiança Desenvolvendo o apego/vinculação O apego é um vínculo recíproco e duradouro entre o bebé e o cuidador, cada um contribuindo para a qualidade do relacionamento. De um ponto de vista evolucionista, o apego tem valor adaptativo para o bebé, assegurando que as suas necessidades tanto psicossociais quanto físicas sejam satisfeitas. Antes etólogo John Bowlby, mais tarde, Mary Ainswoth criou a situação estranha, uma técnica clássica de laboratório elaborada para avaliar padrões de apego entre bebé e adulto. O adulto quase sempre é a mãe (embora outros adultos também tenham participado) e o bebé tem entre 10 e 24 meses de idade. A situação estranha consiste numa sequência de episódios e leva menos de meia hora. Os episódios são elaborados para ativar a emergência de comportamentos relacionados à vinculação. Durante esse tempo, a mãe deixa o bebé num ambiente não familiar, a primeira vez com um estranho. Na segunda vez, ela deixa o bebé sozinho, e o estranho volta antes da mãe chegar. A mãe então incentiva o bebé a explorar e brincar novamente e conforta o se ele precisar. É de particular interesse a resposta do bebé a cada vez que a mãe retorna. Bebés com vinculação segura podem chorar ou protestar quando o cuidador se ausenta, mas são capazes de obter o conforto de que precisam, com eficácia e rapidamente, demonstrando flexibilidade e resiliência, quando diante de situações stressantes. Costumam ser cooperativos e raramente sentem raiva. Bebé com vinculação evitativa não são afetados por um cuidador que se ausenta ou retorna. Eles demonstram pouca emoção, seja positiva ou negativa. Bebés com vinculação ambivalente (resistente) ficam ansiosos antes mesmo de o cuidador se ausentar e ficam cada vez mais perturbados quando ele ou ela sai. Na volta do cuidador, bebés ambivalentes demonstram a sua aflição e raiva procurando contacto com ele, ao mesmo tempo em que dão pontapés e se contorcem. Bebés ambivalentes podem ser difíceis de agradar, já que a sua raiva frequentemente supera a sua capacidade de obter consolo do cuidador. Três padrões de apego são universais em todas as culturas onde foram estudados. Outra pesquisa identificou um quarto padrão, o vinculação desorganizada- desorientada, que é o menos seguro. Bebés que apresentam o padrão desorganizado parecem não ter uma estratégia coesa para lidar com o stress da Situação Estranha. Em vez disso, apresentam comportamentos contraditórios, repetitivos ou mal direcionados (por exemplo, procuram identidade com o estranho e não com a mãe). Poderão cumprimentar a mãe com entusiasmo quando ela voltar, mas depois afastam-se ou aproximam-se sem olhar para ela. Parecem confusos e temerosos.\ Ansiedade diante de estranhos: cautela diante de pessoas e lugares desconhecidos, demonstrada por alguns bebés durante a segunda metade do primeiro ano de vida. Ansiedade de separação: aflição demonstrada por alguém, geralmente um bebé, na ausência do cuidador familiar. Transmissão intergeracional de padrões de vinculação – a história de vinculação dos pais também influencia a perceção do temperamento do seu bebé, e essas perceções podem afetar a relação entre pais e filhos. Referenciação social Quando, diante de um desconhecido ou de um novo brinquedo, o bebé olhar para o seu cuidador, isso significa que ele estará estabelecendo uma referenciação social. Com esta atitude a criança procura informação emocional para orientar o seu comportamento. Na referenciação social, a pessoa é levada à compreensão de como agir numa situação ambígua, confusa ou não familiar, verificando e interpretando a perceção que outro indivíduo tem dessa situação. Questões de desenvolvimento do 1º ao 3ºano A emergência do senso de identidade O autoconceito é a imagem que temos de nós mesmos – o quadro total das nossas capacidades e traços. Descreve o que sabemos e sentimos sobre nós mesmos e orienta as nossas ações. Aos 3 meses, no mínimo, os bebés prestam atenção à sua imagem no espelho; crianças entre 4 e 9 meses demonstram mais interesses em imagens dos outros do que de si próprias. Essa discriminação percetual inicial pode ser o fundamento da autoconsciência concetual que se desenvolve entre 15 e 18 meses. Entre 20 e 24 meses, crianças pequenas começam a usar os pronomes da primeira pessoa, outro sinal de autoconsciência. Entre 19 e 30 meses, elas começam a aplicar a si mesmas termos descritivos (“grande” ou “pequeno”; “cabelo liso” ou “cabelo encaracolado”) e valorativos (“bom”, “bonita” ou “forte”). O rápido desenvolvimento da linguagem permite à criança pensar e falar sobre si própria e a incorporar descrições verbais dos pais (“que menino grande!”) à sua autoimagem emergente. Desenvolvimento da autonomia Entre 18 meses e 3 anos como o segundo estágio no desenvolvimento da personalidade, autonomia vs vergonha e dúvida, marcado pela passagem do controlo externo para o autocontrolo. Tendo atravessado a primeira infância com um senso de confiança básica no mundo e uma autoconsciência florescente, a criança pequena começa a substituir o julgamento dos cuidadores pelo seu próprio. A “virtude” que emerge durante esse estágio é a vontade. O treino do controlo das necessidades fisiológicas é um passo importante em direção à autonomia e ao autocontrolo; o mesmo acontece com a linguagem. À medida que a criança se torna mais apta a expressar os seus desejos, ela passa a ter mais poder. Como a liberdade sem limites não é segura nem saudável, disse Erikson, vergonha e dúvida ocupam um lugar necessário. As crianças pequenas precisam que os adultos estabeleçam limites apropriados; assim, a vergonha e a dúvida ajudam-nas a reconhecer a necessidade desses limites. Nos Estados Unidos, os “terríveis dois anos” – crianças pequenas precisam testar as noções de que são indivíduos. Este desejo manifesta-se na forma de negativismo, a tendência de gritar não! só para resistir à autoridade. Dos 2 anos aos 3 e meio. As raízes do desenvolvimento moral: socialização e internalização Socialização é o processo pelo qual a criança desenvolve hábitos, habilidades, valores e motivações que as tornam membros responsáveis e produtivos de uma sociedade. A aquiescência às expectativas parentais pode ser vista como um primeiro passo em direção à submissão aos padrões sociais. A socialização depende da internalização desses padrões. Crianças bem-sucedidas na socialização não obedecem a regras ou comandos apenas para obter recompensas ou evitar punições, elas fazem dos padrões da sociedade os seus próprios padrões. Autorregulação – o controle do seu próprio comportamento para se conformar às exigências, ou expectativas de um cuidador, mesmo quando a mãe não está presente. A autorregulação é a base da socialização e vincula todos os domínios do desenvolvimento – físico, cognitivo, emocional e social. Origens da consciência moral: obediência comprometida A consciência moral inclui tanto o desconforto emocional de fazer

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