Resumo do Humanismo PDF
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Este documento apresenta um resumo da abordagem humanista na psicologia, destacando ideias centrais e seus pressupostos. Focando na autoatualização, o cliente é visto como uma pessoa em constante crescimento, livre e responsável, em busca de significado na sua vida.
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MODELOS DE INTERVENÇÃO EM PSICOLOGIA I Psicoterapias Humanistas Pressupostos O objetivo dessa nova forma de terapia é ajudar no desenvolvimento e no crescimento do indivíduo. Ela vê o cliente como uma pessoa com tendê...
MODELOS DE INTERVENÇÃO EM PSICOLOGIA I Psicoterapias Humanistas Pressupostos O objetivo dessa nova forma de terapia é ajudar no desenvolvimento e no crescimento do indivíduo. Ela vê o cliente como uma pessoa com tendência natural de sobreviver e desenvolver o seu potencial com recursos e competências pessoais. Essa ideia chave vem do pressuposto de autoatualização de Maslow – 1943 - que nos diz que “o homem é um animal perpetuamente insatisfeito” e o que nos move, segundo esse autor, é a insatisfação. Na teoria da motivação humana, Maslow apoia que desejo satisfeito deixa de ser um desejo. O organismo é, então, dominado e o seu comportamento passa a ser organizado por necessidades insatisfeitas. As necessidades básicas estão organizadas numa pirâmide hierárquica e nós somos motivados pelo desejo de alcançar ou manter as condições nas quais satisfações básicas descansam e por alguns desejos intelectuais adicionais. Em suma, a abordagem humanista vê o cliente como uma pessoa em permanente crescimento pessoal, com capacidade de identificar e desenvolver os seus recursos, capaz de identificar o que é melhor para si e como atingi lo. Além disso, é livre e responsável pelas suas escolhas e decisões e precisa encontrar um significado para o que lhe acontece e um sentido para a vida. Posto isso, a terapia humanista é tida como uma abordagem colaborativa, em vez de diretiva persuasiva ou encoberta, que liberta o cliente para encontrar o seu próprio caminho, resolver os seus problemas e evoluir para ser quem é. “Qualquer pessoa está num processo de crescimento e tem a capacidade de auto atualização. Por mais perturbada que esteja, ela tem tudo o que precisa para crescer de uma forma saudável. E a terapia visa auxiliar na descoberta de si próprio e na construção do sentido de si. “ Todos os processos humanistas partem dessa tendência natural de crescimento. O cliente como uma pessoa em busca de significado Fenomenologia - Edmund Husserl (1859 – 1938) Husserl se propôs a desenvolver um método filosófico que deixasse de lado os pressupostos em um esforço para descrever as estruturas da consciência ao focar nas coisas em si, sem se preocupar com as suas causas. Para ele, qualquer descrição fenomenológica deve ser realizada de um ponto de vista da primeira pessoa para garantir que o item seja descrito exatamente como é experimentado ou pretendido pelo sujeito. O psicólogo, então, não está à procura do enquadramento teórico conceitual, mas sim de uma forma ativa de iluminar o mundo vivido pelo cliente para compreender e concebê-lo como ele próprio vê. ▫ Método Fenomenológico aplicado à Terapia Humanista 3 passos para conhecer o fenômeno: 1- EPOCHE: Esforço consciente do terapeuta para minimizar a interpretação da experiência do cliente, tenta pôr de lado teorias, hipóteses e expectativas e age com curiosidade e abertura pela visão do cliente. 2- DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O terapeuta descreve de forma não teórica, (não explica) a descrição e o significado atribuído pelo cliente (e não o seu). 3- EQUALIZAÇÃO: O terapeuta não julga quais as experiências mais significativas, mas ajuda o cliente a encontrar e descrever esse significado. Seu papel é facilitar a expressão da experiência. ▫ Significado da experiência: Para fazer isso com os significados da experiência humanismo, procura ver através dos olhos do cliente. Mas como? O terapeuta facilita a expressão da experiência do cliente através da curiosidade, confiança, empatia e aceitação incondicional. Além disso, minimiza a sua interpretação e atribuição de significado e ajuda a reestruturar o significado, visto que o cliente tem a capacidade de criar novos significados e novas formas de viver. O cliente como uma pessoa com liberdade/responsabilidade/angústia pela escolha de ser quem é Existencialismo “Os seres humanos são marcados pela culpa existencial de oportunidades falhadas e ansiedade existencial pela incerteza.” Será que estou me tornando a pessoa que eu gostaria de ser? ▫ O Existencialismo aplicado à Terapia Humanista O terapeuta deve desvelar e aceitar manifestações de ansiedade do cliente e o significado que o próprio atribui. A verdade de que nem tudo está nas nossas mãos às vezes pode ser angustiante e devemos ajudar a aceitar a presença da ansiedade e usá-la como força para crescer. Autoconceito e congruência Como humanos, nós nos esforçamos para descobrir quem somos e como formar uma identidade que proporcione direção, estabilidade e valor sentido de viver. Esse conceito envolve o autoconceito + experiência e o self + self ideal. A congruência acontece quando aquilo que eu faço e o que me acontece está de acordo com meu autoconceito, ou seja, quando há integração entre experiências, comportamentos e a visão do self para um funcionamento óptimo. Emoção Nas terapias humanistas existe a ênfase nas emoções como motor para a racionalidade, tomada de decisão e o comportamento. Para funcionar, para além de refletir, há o foco na dimensão experiencial da intervenção, como, por exemplo, na terapia focada nas emoções, em que a emoção deve ser sentida na terapia. Principais abordagens humanistas - Terapia Centrada no Cliente (ex: Rogers) - Psicoterapias Existenciais (ex: Logoterapia) - Terapia Gestalt (ex: Perls) - Terapias Experienciais (ex: Psicodrama) “learn to know how to learn” TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE – CARL ROGERS New Concepts in Psychoterapy, Carl Rogers – 11/12 | 1940 Nasce em plena Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de ajudar no desenvolvimento e no crescimento do indivíduo para que ele pudesse lidar com o problema presente. Tem por base a tendência humana para o crescimento, a saúde e o ajustamento e enfatiza os aspectos emocionais em oposição aos intelectuais. Trata a relação terapêutica como uma experiência de crescimento e desenvolvimento pessoal. Mudança Terapêutica “Como eu posso tratar, curar ou mudar uma pessoa?” “Como eu posso promover um relacionamento em que a pessoa possa usar para o seu desenvolvimento e crescimento pessoal?” A tendência para a autoatualização significa, do ponto de vista psicológico, que a psicoterapia é a libertação de uma capacidade já existente num indivíduo potencialmente competente, e não a manipulação especializada de uma personalidade mais ou menos passiva. Filosoficamente, significa que o indivíduo tem a capacidade para se guiar, regular, e se controlar, se “certas situações definíveis existirem.” 6 condições que se devem manter durante um tempo para que sejam suficientes para a ocorrência da mudança: 1- Duas pessoas (cliente e terapeuta) em contacto psicológico, relação. 2- O cliente está num estado de incongruência, vulnerabilidade ou ansiedade. 3- O psicoterapeuta está na relação de forma congruente e genuína. 4- O psicoterapeuta experiencia consideração positiva incondicional pelo cliente. 5- O psicoterapeuta experiencia compreensão empática pelo quadro de referência interno do cliente e esforça-se para comunicar esta experiência ao cliente. 6- O cliente sente a aceitação e a empatia que o terapeuta nutre por ele. A ideia com essa mudança é a reconstrução pessoal para que haja maior integração do autoconceito - o que é, o que diz ser e o que gostaria de ser - , uma vez que, quando a pessoa tem essas ideias congruentes, existem menos conflitos internos e a energia é usada para viver, não para regular-se. O foco é, então, a maturação pessoal. I. Estado de Incongruência do Cliente Discrepância fundamental entre os significados da situação experiênciada como registrado no organismo e a representação simbólica dessa experiência em alarme - para que não conflito e com a imagem que ele tem de si (experiência atual versus percepção do self; como meu corpo sente versus o significado que eu atribuo). II. Incongruência causa tensão/ansiedade Se o indivíduo se dá consciência de algum elemento da sua experiência que está em forte contradição com o seu autoconceito, ocorre um estado de tensão conhecido como ansiedade. Quando o indivíduo não tem consciência da incongruência, fica então vulnerável à ansiedade e à desorganização. III. Terapeuta congruente e genuíno na relação O terapeuta é ele mesmo e não nega nem engana o cliente sobre si. Pode, por vezes, ter a necessidade de falar sobre os seus sentimentos quando de acordo com as condições de aceitação e empatia. “Sentir a sua vulnerabilidade para ultrapassá-la.” IV. Consideração Positiva Incondicional Aceitação calorosa de cada aspecto da experiência do cliente como parte dele. Cuidar para que o cliente seja visto como uma pessoa separada, com permissão para sentir e experienciar por si próprio. V. Compreensão Empática Sentir o mundo privado do cliente como se fosse seu. Uma compreensão empática é apurada da consciência do cliente sobre a sua própria experiência. PSICODRAMA - Jacob Moreno (1889 – 1974) 1889- Nasce em Budapeste e aos 6 anos muda-se para Viena. 1911 a 1917- Na universidade de Viena, estuda filosofia, teologia e matemática. Forma-se em medicina. 1925 - Emigra para os Estados Unidos da América, onde consolida o desenvolvimento do psicodrama. Psicodrama enquanto modelo humanista: Responsabilidade de desenhar a transformação pessoal e social Para Moreno, cada pessoa tem a responsabilidade e a capacidade de recriar a sua experiência e transformar o seu conhecimento. Num sentido mais lato do que Rogers, ele destaca o “acreditar no homem” como premissa e aborda a necessidade que cada um de nós tem de transformar si mesmo e a sociedade. Além disso, o autor aborda a ideia de que a saúde mental exige uma mente flexível e essa é caracterizada pela curiosidade, questionamento, exuberância e teste de limites. Por fim, afirma que devemos usar a espontaneidade que temos para procurar e reintegrar a energia vital psicológica para lidar com os desafios que a vida nos traz. Conceitos Principais Teoria dos Papéis ~ Role Theory “O self se desenvolve através da participação em sistemas de relações interpessoais ou papéis.” O autor diz que a nossa personalidade e o nosso self se desenvolvem através da forma como participamos e vivemos a interação com os outros. Nós estamos, segundo ele, constantemente desempenhando papéis que estão em permanente atualização e ação. Uma pessoa se desenvolve vivendo e através da vivência do papel que este vai operando e funcionando. - Role taking / Role being, Significa desempenhar um papel na vida real de acordo com o que se espera de quem ocupa esse papel (cultura - primeiro plano), e das expectativas das pessoas específicas em interação (segundo plano). Como o imprevisto acontece, é preciso também a espontaneidade. - Teoria dos papéis e espontaneidade: Por mais expectativas que tenhamos sobre o outro, existe sempre imprevistos. As regras nunca estão definidas perfeitamente, já que a realidade nem sempre é como se espera. Assim, é necessário espontaneidade e criatividade para lidar com as situações que não podem ser antecipadas, bem como flexibilidade mental para um role taking satisfatório. - Ensaiar papéis ~ “treino” RP – Role Playing refere-se a praticar um papel, permitindo o desenvolvimento do selfie para além do que acontece na vida real. A ideia é que, quando se pratica a realidade, aprende-se a compreender melhor essa vivência. Existem 2 tipos de RP: 1. PSICODRAMÁTICO: 2 ou mais indivíduos com diferentes status num pequeno grupo para aprender e treinar ajustamentos individuais. 2. SOCIODRAMÁTICO: Indivíduos que representam normas coletivas de 2 ou mais grupos de referência ou culturas para explorar relações e ajustamento entre grupos sociais e culturas, compreender ou mudar atitudes coletivas, além de aprender a agir de forma culturalmente sensível e informada. - Papéis no psicodrama O psicodrama experimenta a expansão do repertório de papéis e o repertório de respostas possíveis dentro do mesmo papel. Além disso, usa técnicas para estimular a criatividade para novas possibilidades no desempenho dos papéis e permite distinguir a identificação psíquica e o potencial do self em escolher alternativas (ser ansioso versus desempenhar um papel de maneira ansiosa) O psicodrama então a psiquê em ação. O que pretende é expandir o repertório de papéis que o indivíduo exerce e, dentro desses papéis, descobrir formas alternativas de o exercer. A proposta é utilizar técnicas que estimulam a criatividade para que a pessoa consiga descobrir e encontrar, em contexto clínico, novos papéis, bem como entender como exerceu o seu papel no passado e como os antecipa no futuro. É uma psicoterapia com base na ação, não na palavra - ao pensar em papéis, a pessoa pode se distanciar da sua forma de ser e flexibilizar a atuação numa determinada situação. Espontaneidade e Criatividade A espontaneidade é uma fonte natural de vitalidade que acontece quando a pessoa faz o que realmente deseja, expressando de forma completa o seu self, livre das regras e restrições sociais. Essa forma de funcionar livre, característica das crianças, é fundamental para desaprender e aprender papéis, moldar o próprio crescimento e o processo de cura. A espontaneidade implica criatividade expressiva e o psicodrama pretende facilitar o desenvolvimento da espontaneidade através de técnicas que estimulam a criatividade expressiva para descobrir e treinar novas possibilidades, resultando em maior flexibilidade mental e confiança. Isso é suficiente para que a pessoa viva e encare de forma diferente os seus problemas - cura e recuperação da sintomatologia. Os métodos psicodramáticos utilizam diversas capacidades humanas básicas de maneira a aumentar a criatividade. Isso inclui imaginação, ação física, dinâmicas de grupo, improvisação e oportunidade de fazer experiências no contexto privilegiado do drama. Tele Conceito geral para descrever a preferência entre pessoas e a variedade de fatores que levam esse padrão de preferência. Relacionada com a atração-repulsão que é normal de relações interpessoais. A tele preferência pode ser positiva, de atração, negativa, de rejeição, ou neutra. É medida pela sociometria e muda com o papel e o contexto. - Sociometria: A teoria sociométrica visa perceber as preferências relacionais. Os critérios sóciotélicos são baseados nas preferências para atingir metas ou interesses comuns, como por exemplo, quem escolhemos para um grupo de trabalho. Já os critérios psicotélicos se relacionam com as qualidades pessoais, por exemplo, quem escolhemos para passar férias? Um dos valores do conceito de tele é que nos torna mais sensíveis aos motivos das nossas preferências, sejam elas atrações ou repulsas. Essa percepção torna possível discutir, negociar e encontrar alternativas criativas em relação às áreas de conflito. A consciência das razões da tele ajuda a evitar a tendência de super idealizar ou desvalorizar pessoas, tendo se em mente que alguém pode ser mais apreciado em certos papéis e menos em outros. Pode indicar também que as pessoas devem estar livres para renegociar seus papéis nos grupos, de maneira que não sejam sutilmente compelidas a atuar de forma que não lhes agrade. Examinar essas questões pode ser bastante útil numa terapia de grupo contínua ou numa comunidade terapêutica. Experiências sociais e desenvolvimento do psicodrama Experiências no percurso profissional e pessoal do autor que deixam antever e que influenciam o pensamento dele. 1908 – 1922: Inicie experiências de teatro criativo com crianças em Viena, como fruto relata a tendência de espontaneidade decrescente na vida. 1912: Cria o primeiro grupo de auto-ajuda para prostitutas, perseguidos e explorados para sua integração social e apoio emocional. Foi da ideia dos grupos minoritários que retirou a compreensão da força terapêutica de um grupo com elementos de apoio mútuo, identificação e coesão. 1917-1918: Trabalha como médico em Campos de refugiados na primeira guerra mundial, onde desenvolve Ideas iniciais sobre sociometria. 1921-1924: Organiza o teatro da espontaneidade em Viena, dando início ao que viria ser o psicodrama. Moreno estabeleceu a data de primeiro de abril de 1921 como o começo oficial do psicodrama. Nesse mesmo período publicou “Das Stegreiftheatre” - o teatro da espontaneidade, no qual descreve sua pesquisa e as Ideias sobre a espontaneidade, a teoria do papel e os estudos da ação. 1925: Emigra para os Estados Unidos, onde desenvolve a sua atividade clínica em psiquiatria e investigação, com as famosas demonstrações de psicodrama público. Moreno vs. Freud Moreno descreve que quando estava a estudar medicina, encontrou com o doutor Freud, que na ocasião perguntou o que ele fazia e o mesmo respondeu: “Bem, doutor Freud, eu começo onde o senhor para. O senhor encontra as pessoas no ambiente artificial do seu consultório. Eu as encontro na rua, em suas casas e vizinhanças habituais. O senhor analisa seus sonhos. Eu tento dar-lhes a coragem de voltar a sonhar. Eu ensino as pessoas como brincar a serem Deus.” Principais técnicas psicodramáticas Ação/representação produz comportamentos mais espontâneos e diretos: - Ação física em vez de narrativa. Vivência-se fisicamente o que foi vivenciado psicologicamente. - Abordagem direta, falando com as pessoas envolvidas através de egos auxiliares. - Trabalho com cenas específicas, tornando situações abstratas mais concretas. - Exagero e amplificação do comportamento para explorar uma gama maior de respostas. - Encoraja afirmações taxativas de desejos, medos e intenções. - Aprofunda os níveis de abertura e honestidade, especialmente de sentimentos. - Convida os participantes a experienciarem a empatia pela inversão de papéis. Aqui e agora: - Lidar com situações do passado ou futuro, como se estivessem a acontecer aqui e agora. - Rever, renegociar e experiências reparatórias no aqui e no agora. Uso de técnicas dramáticas e artísticas: - Expansão da realidade do teatro para analisar e expressar experiências imaginárias e situações reais. - Componente não verbais, como o tom de voz, ritmo e intensidade. - Outros princípios artísticos e veículos, como cenário, vestimenta e luz. - Uso de símbolos e metáforas, personificando as e tornando as reais. - Inclui certo grau de atividade lúdica. + Fatores terapêuticos na terapia de grupo Setting O setting é composto por um palco, uma audiência, um protagonista, um ego auxiliar e um diretor. Desenvolve-se em 3 fases de: aquecimento, ação e partilha. Além disso, tem como eventos significantes que contribuem para a experiência transformativa: a revelação de mim próprio para o grupo, a ação para expressão dos pensamentos, e a parte de ser espectador de si próprio. TERAPIA FOCADA NAS EMOÇÕES 1. Introdução a TFE A terapia focada nas emoções, inicialmente denominada terapia processo experiencial, é resultado do trabalho de Leslie S. Greenberg e colaboradores, entre eles Laura Rice, Jeane Watson e Robert Elliot, desde o final dos anos 80 até o presente. É uma terapia experiencial de base teórica humanista e construtivista que intrega o clima relacional da terapia humanista focada no cliente e as técnicas experienciais de ativação emocional proveniente de outros modelos, como a Gestalt, a Focusing Oriented Psychoterapy e outros modelos de influência humanista existencial. Ideias Centrais Enfatiza o papel central das emoções, tendo como premissa base mudar emoções com emoções, (mudar desadaptativas com adaptativas) e o trabalho terapêutico voltado para trabalhar diretamente com o sistema emocional ativado, proporcionando mudanças duradouras. A terapia focada nas emoções foca-se naquilo que é a dor emocional central, promovendo a consciência, a regulação, a simbolização, reflexão e transformação das emoções. Basea-se nas ideias de: - Seguir a bússola da dor – follow the pain compass - Não se pode sair de um lugar sem lá ter chegado antes Em suma, não podemos deixar de estar de um jeito sem antes perceber o que essa emoção no diz, afinal cada emoção tem uma necessidade, influencia as nossas decisões e nos levam a tomar atitudes. Princípios básicos orientadores O desenvolvimento humano do cliente na terapia focada nas emoções está dependente da interação entre 2 dimensões, a relação terapêutica, tendo a empatia na base, e o trabalho terapêutico, ilustrado pelas tarefas. O processo terapêutico É um estilo de psicoterapia breve, com cerca de 16 a 20 seções para depressão, por exemplo, podendo chegar a 20 a 30 em casos de trauma complexo como PTSD. Essas seções normalmente são divididas em 3 ou 4 para a criação do vínculo, 8 para um trabalho ativo e 4 para finalização. - Fases 1. CRIAR um vínculo, aliança terapêutica. 2. ACEDER, explorar e trabalhar com as emoções - ênfase na regulação emocional. 3. TRANSFORMAR as emoções dasadaptativas. - Processos de mudanças centrais Entre as estratégias básicas estão a empatia ativa e a aliança terapêutica segura. O diagnóstico processual é feito pela detecção e diferenciação de marcadores de dificuldades emocionais, que visam guiar com a focalização, tarefas de imaginação e processamento de imagens e de enactment no contexto terapêutico. 2. Investigação e apoio empírico em TFE É uma terapia empiricamente apoiada, baseada em evidência, proveniente da sua aplicação em diferentes situações clínicas. Os marcos principais da investigação da TFE foram a constatação que poderia ser utilizada em diferentes situações de grande importância, nomeadamente em casos de depressão, terapia de casal, trauma, ansiedade social, ansiedade generalizada e, mais recentemente, em terapia familiar, transtornos alimentares e transdiagnósticos. Nos anos 90, essa fundamentação empírica foi consolidada pelo movimento “Empiriclly Supported Treatments”. Além disso, ainda existe uma ampla gama de investigação de resultados focada em sintomas, e não diagnósticos nosológicos, que incluem raiva não resolvida, conflitos de decisão, dificuldades interpessoais, violência nas relações íntimas, problemas psicossomáticos (saúde), paciente com cancro (IPO) e autocrítica. Em Portugal já foram realizados alguns estudos para compreender os resultados da TFE, No ISMAI, por exemplo, um estudo constatou que a TFE ajuda no tratamento da depressão major e no ACES esse resultado também foi constatada através do programa “Stop depression”. 3. O processo de mudança em TFE As emoções para terapia focada nas emoções são processos emergentes, holísticos que momento a momento: dirigem a nossa atenção para o que é importante nas situações em que vivemos, preparam nos para adotar comportamentos úteis nessas situações, são experienciadas no nosso corpo; envolvem representações, símbolos e imagens, tais como cognições e palavras; e organizam o nosso sentido de self/si - a nossa identidade. Papel central das emoções As emoções são fundamentalmente adaptativas, ajudam nos a sobreviver e a adaptar ao ambiente. { EMOÇÃO -> DESEJO/NECESSIDADE -> TENDÊNCIA DE AÇÃO } A ativação de emoções permite passar do implícito ao explícito e aceder a necessidade e a tendência de ação inerente de modo a utilizar as emoções de forma produtiva, ou seja, a cada emoção está subjacente uma tendência de ação. Por exemplo, na tristeza, o choro e a conexão, na raiva, a proteção; na vergonha, a ideia de reparar ou esconder. E quando essas estão ativadas, conseguimos perceber melhor o que o sujeito mais precisa para que encontre uma forma eficiente de colmatar a necessidade. A TFE avalia as emoções segundo 4 dimensões: I. Esquemas: a experiência emocional estrutura-sea partir de esquemas emocionais enraizados na memória e aprendizagens prévias, com base em episódios emocionais que possuem diversos componentes, nomeadamente 1. situacional- perceptivo, 2. corporal-expressivo, 3. simbólico-conceitual e 4. motivacional- comportamental. II. Intensidade das emoções: é importante avaliar o nível de regulação emocional e procurar uma distância de trabalho adequada, pois pode estar se assoberbado ou distanciado de mais. III. Categorias das emoções: O tipo de emoção e a situação vivida aponta para a necessidade e corresponde à tendência de ação. No exemplo da tristeza, uma situação de luto aponta a necessidade de receber conforto e corresponde à tendência de ação de conexão e apoio. IV. Tipos de respostas emocionais: Podem ser adaptativas ou desadaptativas, primárias, secundárias e instrumentais. - INSTRUMENTAIS: expressões emocionais para obter um efeito externo, um P ganho. Ex: lágrimas de crocodilo. R O SECUNDÁRIAS: Reações a emoções primárias, emoções que escondem emoções. F PRIMÁRIAS DESADAPTATIVAS: Imediatas, mas relacionadas com experiências U negativas passadas de sobre aprendizagem. No passado já foram adaptativas, N mas no curso desenvolvimental deixaram de ser úteis, normalmente relacionadas Di às situações traumáticas. Da De PRIMÁRIAS ADAPTATIVAS: Reações imediatas, não aprendidas e adequadas. + Nosso papel como humanista é acolher, pois, por norma, quem instrumentaliza uma vez já foi instrumentalizado. Em todo o caso, a relação terapêutica e a empatia se sobrepõem. O processo terapêutico em TFE “A Terapia Focada nas Emoções, é baseada em 2 princípios de tratamentos principais: A manutenção de uma relação terapêutica e a facilitação do trabalho terapêutico. Tal como essa ordenação implica, os princípios relacionais vem primeiro e, em última análise, são prioritárias relativamente às tarefas. A terapia é vista como um processo de co construção, em que tanto o cliente como terapeuta se influenciam mutuamente de forma não impositiva, para atingir o aprofundamento e a exploração da experiência do cliente e promover o processamento emocional.” ~ Greenberg, 2010 - A relação e o contexto relacional da mudança I. Sintonização Empática com as emoções e significados dos pacientes. Momento a momento, os terapeutas seguem a experiência da pessoa e procuram ativar e aprofundar o acesso experiencial. II. Estabelecer um vínculo terapêutico: Comunicar com empatia, cuidado e presença terapêutica através de disponibilidade e abertura. III. Colaboração nas tarefas: Facilitar o envolvimento nos objetivos a tarefas propostas e guiar o cliente nesses momentos. Em síntese, o processo de mudança em TFE consiste em: aceder a resposta de adaptativa, aceder respostas emocionais alternativas, refletir sobre as novas emoções, gerar novos significados e transformar o processamento emocional e auto organizações dasadaptativas. 4. Marcadores (ponto de partida) e Tarefas (mapa para chegar ao destino) Fontes possíveis de desajustamento ou psicopatologia - Dificuldade na regulação emocional. - Oposição entre aspectos do self e de decisão ou julgamento. - Falta de integração da experiência. - Dano emocional persistente. O que é um marcador Um marcador, resumidamente, é uma expressão de um aspecto disfuncional que o cliente está passível de resolver. Ou seja, são indicadores verbais ou não verbais, das dificuldades de processamento emocional apresentadas pelos pacientes no aqui e no agora. Por exemplo, a sensação de que uma reação foi inesperada, gerando confusão no paciente. Segundo a terapia focada nas emoções, esses indicadores se apresentam como oportunidades para identificar e trabalhar esses problemas na consulta. Todos eles emergem da investigação do processo terapêutico, bem como as tarefas. MARCADOR TAREFA Reações Problemáticas Desdobramento evocativo sistemático Sentimento Pouco Claro Focalização Divisão de autocrítica Diálogo de duas cadeiras Divisão de autointerrupção Trabalho de duas cadeiras Situações inacabadas – UFB Trabalho de cadeira vazia *Outros marcadores menos centrais existem No marcador das reações problemáticas, a tarefa consiste na evocação, narração do evento e associação com as emoções vividas, para criar uma ponte de significado entre o acontecimento e a emoção. O marcador de um sentimento pouco claro reflete quando a pessoa está confusa sobre o que sente ou sente que tem somente acesso à superfície e algo sobre a experiência lhe escapa. Por exemplo, “eu tenho esse sentimento, mas não sei o que é”. Para isso, usamos a tarefa de focalização, que consiste em guiar a atenção e a curiosidade do cliente para a sua experiência corporal, promovendo a sua aceitação, simbolização e reflexão. O resultado pretendido é a simbolização da experiência, o alívio pela mudança de sentimento e a prontidão para aplicar e usar a nova consciência sobre a experiência fora da terapia (carrying foward). “Can we stay with that feeling? Where did you felt it in your body?” O marcador divisão de autocrítica reflete conflito, ambivalência ou divisão internas. Em particular, quando uma parte do self é crítica ou coercitiva face a outra e ignora a necessidade de auto cuidado. Por exemplo, alguém reage a um fracasso dizendo, “sou incompetente, não vale de nada”. Como tarefa “2 partes do self são postas em contato vivo uma com a outra. Pensamentos, sentimentos e necessidades de cada parte do self são exploradas e expressas num diálogo real para adquirir uma suavização e uma integração entre os lados.” Como resultado, pretende-se auto aceitação e integração do eu através de negociação entre os lados como uma resolução parcial. O marcador de situação inacabada ou Unfinished Business – UFB - implica a afirmação de uma situação/sentimento não resolvido ou mal resolvido, perdurável, faça outro significativo. Para esse, usas-se o trabalho da cadeira vazia, em que a paciente ativa a visão interna do outro significativo e explora o significado implícito dos acontecimentos passados. Experimentam e exploram suas reações emocionais para com o outro e fazem sentido destas. Nesse contexto, mudanças na visão de si mesmo e do outro podem assim ocorrer. Como resultado pretendido: a autoafirmação, a ideia de deixar ir as expectativas e necessidades frustradas pelo outro, abdicando da esperança em as concretizar com aquela pessoa e avançando em frente. Acontece também a responsabilização do outro pelo dano ou a compreensão das suas limitações e ou incapacidades pelo perdão. No geral, a terapia focada nas emoções é guiada por esses marcadores e os terapeutas são treinados para identificá-los em sessão e também discernir qual é o mais central ~follow the pain compass. O trabalho é experiencial, feito no aqui e no agora da experiência presente. Após identificar o marcador relevante, o terapeuta guia o cliente para a tarefa apropriada desenvolvida para ultrapassar as dificuldades de processamento emocional, ou seja, o terapeuta precisa seguir o conteúdo, mas também guiar o processo, o que envolve a ativação, exploração e aprofundamento emocional. 5. Projeto EmpoweringEFT@EU Programa com financiamento Erasmus+, que consiste numa parceria estratégica que procura apoiar a divulgação, o treino e a supervisão clínica em TFE na Europa. Ocorreu de novembro de 2020 a outubro de 2023 e visa, sobretudo, promover o treino e a supervisão em TFE, reforçar as boas práticas em TFE, disseminar a TFE na Europa, desenvolver a partilha de recursos em diferentes línguas para ampliar a margem de alcance e preparar estudos internacionais neste âmbito.