MIP I – Frequência 1: Sigmund Freud e a Psicanálise (PDF)

Summary

Este documento resume a frequência 1 de um curso sobre Sigmund Freud e psicanálise. Analisa as suas teorias, incluindo as etapas da teoria do trauma, o modelo topográfico, e o modelo estrutural (Id, ego e superego). Aborda também temas como a transferência, a resistência e o setting analítico.

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MIP I – frequência 1 Aula teórica – 24/9/24 Sigmund Freud – fundador da psicanálise, focava-se nas neuroses e começou por estudar mulheres histéricas. Abriu o campo da psicologia com a sua teoria da mente. Obra extensa, primeiras leituras para nós: as cinco conferências sobre a psicanálise; o luto...

MIP I – frequência 1 Aula teórica – 24/9/24 Sigmund Freud – fundador da psicanálise, focava-se nas neuroses e começou por estudar mulheres histéricas. Abriu o campo da psicologia com a sua teoria da mente. Obra extensa, primeiras leituras para nós: as cinco conferências sobre a psicanálise; o luto e a melancolia (bipolaridade); os três ensaios sobre a teoria da sexualidade (desenvolvimento psicossexual); a psicopatologia da vida quotidiana (atos falhados, omissões, trocas de palavras; Contexto histórico da Psicanálise: Trabalhou com: Charcot, Meynert e Breuer; Charcot tratava pacientes histéricas através da hipnose, colocou-se em causa haver uma causa psicológica; Trabalho pioneiro sobre o estudo das células nervosas. Vai passando de neuropsicologia para a psiquiatria; Teoria do Trauma (afeto-trauma) Caso Ana O. – “Estudos sobre a histeria” Breuner e Freud; Tosse nervosa intensa, repugnância pelos alimentos, incapacidade de falar, delírios, alterações de personalidade; Fisicamente não tinha nada errado. Histeria tinha surgido quando Ana tratava do pai doente, por ter ficado doente parou de cuidar dele (Breuner); Ela murmurava palavras em estados de ausência – falava de fantasias tristes sobre o pai doente – sintoma como resíduo da experiência traumática; Começa a surgir a cura pela fala, método da catarse, emoção recalcada e inibida é exteriorizada – emoção associada ao trauma não pode vir cá para fora e foi desviada para o corpo – conversão histérica; Freud achava hipnose um método incerto, começou a usar o método catártico (pedir a pacientes para associar ideias) em vez da hipnose. Provocou que a memória do trauma viesse à consciência. Freud notou que havia uma força que impedia esta memória de aparecer, a resistência – por causa desta, pacientes desistem muitas vezes da terapia, o que é angustiante e doloroso se vier à consciência é demasiado para eles; Método da psicanálise começa a surgir através da catarse. Abandona o caso de Ana O porque esta começa a sentir atração por Breuner; Freud ficou curioso com esta atração, percebeu que existia uma transferência dos sentimentos que eram relativos ao pai da paciente para o psicanalista. Neurose (conflito psíquico) histérica (manifestações somáticas e conflito na esfera sexual) começa a ser transformada numa neurose de transferência, Freud está interessado em refazer esta última neurose de forma a que a paciente se liberte desta. Teoria do Trauma – afeto trauma (primeira teoria da Psicanálise) – memórias de sedução na infância – é recalcada para fora da consciência, mas aparece de uma forma indireta (através de um sintoma); Emoções libertam-se pela recuperação da memória – recusa do conteúdo pela consciência; Modelo Topográfico (1ª tópica) Freud entendeu que era improvável que todas as pacientes histéricas tivessem tido um abuso real na infância; Cria modelo topográfico – aparelho psíquico dividido em consciente, pré- consciente e inconsciente; Inconsciente constituído por pulsões que são recalcadas (conflito entre pulsões e recalcamento origina neurose); Pulsões: originando a energia psíquica e têm uma origem somática; Fantasias: satisfação das pulsões; Análise da resistência e da transferência, interpretação de sonhos, atos sintomáticos e da associação livre. Mente enquanto sistema fechado que tem pulsões que tem que descarregar, mas ainda não fala muito da relação com o outro. Ainda não temos o superego neste modelo. Recalcamento: defesa do ego, quando a pulsão quer ser descarregada na consciência o ego vai recalcando e colocando fora da consciência; Fantasias: representação psíquica das pulsões; Pulsão sexual (diferente de erótica – relacionada com o prazer) – desejo está na psique, na fantasia, desejamos com quem ainda não estamos, tem uma origem somática no corpo – podemos vê-las através dos desejos, omissões; Através da análise da resistência; O tratamento segundo este modelo é tornar o que está recalcado no inconsciente consciente; Consciente, inconsciente e pré-consciente (três sistemas distintos): - consciente: o que conseguimos entender que se está a passar; - pré- consciente: material que consegue ser trazido para o consciente com pouca energia, o que podemos recordar, é aqui que trabalhamos; associação de ideias: paciente diz o que lhe ocorre na mente, lembra-se do que está no pré-consciente; - inconsciente: material que necessita de uma grande energia psíquica para ser trazido ao consciente; Pulsões sexuais e agressivas (este modelo) que querem ser descarregas na consciência para serem satisfeitas, ou são satisfeitas ou recalcadas; O inconsciente tem conteúdo que não é sujeito ao teste da realidade, não temos noção do tempo e da causalidade, processo primário do pensamento – sonhos; O consciente e o pré-consciente já são sujeitos ao teste da realidade, obedecem a ordens como o tempo, lógica e causalidade; Patologias como o masoquismo e a depressão melancólica, relacionadas com a zanga; Mais mecanismos de defesa para além do recalcamento, ansiedade provém do recalcamento. Novo modelo surge com estas novas ideias. Modelo Estrutural (2ª tópica) Eu tem partes conscientes e inconscientes e o inconsciente é mais que o recalcamento; Id, ego e superego; Conflito entre as estruturas; Nova relação do indivíduo (sujeito) com outros indivíduos (objetos) Nova teoria da ansiedade, aprofundamento no entendimento dos mecanismos de defesa do ego. Este modelo não anula o interior. Id: fonte de energia psíquica (massa de pulsões sexuais e agressivas) Bebé nasce apenas com o Id. Estas pulsões vão criando tensão, objetivo dele é descarregar a tensão das pulsões. Id é pré-verbal e expressa-se através de imagens (sonhos) – segue-se pelo princípio do prazer (tendência inata para maximizar o prazer e diminuir a dor), é totalmente inconsciente (id dividido em duas pulsões, pulsão de vida (libido, o que nos faz viver) e de morte (preservar o organismo de modo a que este volte à existência inanimada seguindo um processo interno de sedução) Freud vê pulsão de morte em pacientes borderline (tendência para desaparecer, para o suicídio) pulsão de morte é mais presente que a de vida, quando a de vida não está a dominar (quando não há libido, tendência para vivermos e para sentir prazer, não sexual); Pulsão de morte: indivíduo não quer existir Encenação do que se passa no inconsciente – sonhos, o que aparece está disfarçado; Este modelo: pulsão de vida e pulsão de morte; Pulsão de morte: quando a pessoa não quer existir; Há sempre ideação suicida quando a pulsão de morte está a dominar? Em princípio sim, inclui tentativas de suicídio; Parte do Id que se separa e se transforma em ego, bebé é só Id; Ego está no meio, é algo mais biológico e opera sobre o princípio da realidade, adapta-se à realidade, este princípio significa que nós inibimos ou modificamos as nossas pulsões, não as podemos satisfazer a qualquer momento, tem que se adaptar à realidade; A força do ego é analisada no início da terapia, a capacidade do paciente de lidar com a realidade sem utilizar excessivamente as defesas; O ego tem partes conscientes (pensamento, julgamento, noção do tempo, lógica) e inconscientes (mecanismos de defesa) o ego interage com a realidade e também com o id e com o superego. Superego: surge no complexo de Édipo; formada pelos valores e princípios morais transmitidos pelos cuidadores, vai ficando internalizado, limitam os excessos do Id e criança vai ficando frustrada, para que a criança se vá adaptando à realidade (ex: quero o brinquedo); Juiz ou censor relativamente ao Ego, consciência moral, auto-observação, formação de ideias). Ideal do Ego: vamos percebendo quando crescemos como os outros nos veem e o que esperam de nós, o ideal é o que gostaríamos de ser e começa a entrar no superego; Superego tem partes conscientes e inconscientes, voz que diz não vales nada, superego severo; Ego tenta fazer um compromisso entre o Id e o superego, e um compromisso com a realidade, pode surgir um conflito do ego e ele não encontrar um compromisso – conflito interno que pode levar a neuroses; Articulação das duas tópicas (modelo topográfico e modelo estrutural) Grande parte inconsciente (Id mergulhado no inconsciente) parte do ego inconsciente (mecanismos de defesa) e parte do superego inconsciente (ideal do ego); Superego: componente social e contacto com a realidade, o que os pais ensinam; Ego: componente psicológico, não posso permitir que o Id faça tudo o que quer, tenho que adaptar à realidade; Faço um compromisso entre o Id e o superego. Ato falhado: mulher que se esquece da carteira porque no fundo quer ficar; Filme: um método perigoso; Freud começa a trabalhar com Yung, paciente com diagnóstico de psicose histérica (alucinações,...); Freud conseguiu entender melhor a transferência (interesse erótico do paciente pelos analistas) não se deviam às suas qualidades mas sim a sentimentos que pacientes tinham tido na infância pelo pai passavam no presente para o analista; Aula prática – 26/09/24 Setting analítico e escuta analítica A psicanálise é a cura pela palavra; Aborda o inconsciente, um sítio na nossa cabeça onde as coisas estão enterradas; Atrás de um ataque de pânico estão motivos inconscientes; Cadeia de associações; O ser humano não está em controlo de si mesmo: “O Ego não está em controlo da sua própria casa” – esta casa é assustadora, é o inconsciente que a controla e que nos controla a nós; Um lapso verbal pode demostrar o que está escondido no inconsciente; A psicanálise não vê sintomas como erros, mas como pistas, não se procura eliminar os sintomas, mas sim ouvi-los e trazer-lhes significado; Elementos essenciais da Psicanálise: - Associação livre; - Atenção flutuante; - Atitude analítica; - Foco na transferência no aqui-e-agora; - Foco no afeto; - Exploração dos desejos, sonhos e fantasias; - Análise da defesa e da resistência; - Uso da contratransferência; - Verdade e Autenticidade; (Lemma) Setting analítico: Ambiente específico da psicanalise e da psicoterapia – especificidade do ambiente em que o processo terapêutico ocorre; Enquadramento/ regras básicas/ protocolo rigoroso de funcionamento; Decorre de um quadro teórico de referência, que, pela importância que tem no estabelecimento da relação, o terapeuta procurará que seja constante; Segurança do contexto: regularidade e assiduidade; Escuta analítica: uma palavra específica fica a ecoar no nosso inconsciente, vamos estando atentos a pistas que o paciente nos vai dando; Devemos estar atentos às perguntas que os pacientes nos fazem; Raiva é um sinal saudável, não é só depressão; 4 regras de Freud – setting analítico 1. Regra Fundamental: Associação livre de ideias; 2. Regra da Abstinência: Suspensão dos desejos do analista; 3. Regra da Neutralidade: Noção de Espelho; 4. Regra da Atenção Flutuante: “Sem memória, sem desejo, sem compreensão” – Bion; Tarefa (análise do texto): Escolhemos um objeto semelhante ao da nossa infância nas nossas relações amorosas; Um vínculo demora dois anos a ser criado; Vínculo do António na infância é deficitário; Em adulto torna-se obcecado com a rotina, tenta controlar duração da consulta; Ele tem que monitorizar o tempo, porque ele não teve controlo nenhum na infância; Ele sente necessidade de controlar o objeto (terapeuta); Atraso da terapeuta é uma quebra do setting analítico – quando ele chegava ela já estava à espera dele, ao atrasar-se 5 minutos quebrou o setting analítico com este paciente em concreto; Quebra de setting pode originar uma transferência negativa – esta quebra de setting é acidental, nunca deve ser propositada! Se ela tivesse ficado muito tensa seria contratransferência, ela diz que sente a SUA tensão, e não que se sente tensa; “Não tem muito que dizer hoje” – RESISTÊNCIA; “Não queria vir...” – resistência; “Acha outros irritantes” – deslocamento; Estes mecanismos são inconscientes e não propositados; Atenção flutuante vem da parte do terapeuta e a associação livre vem do paciente; Sonho do António: é uma associação de ideias; Consegue nesta sessão aceder mais a esta angústia que não conseguira em sessões anteriores por ser doloroso e fala sobre o sonho; Mecanismos de defesa do Ego – 1/10 Ego: funções básicas Perceção; Consciência; Memória Atenção; Pensamento; Inteligência; Discurso e linguagem; Competências motoras; Discernimento; Adiamento de satisfação; Mecanismos de defesa; Ansiedade como fruto do recalcamento – ideia inicial de Freud, passa para a ansiedade é que leva ao recalcamento – Teoria da ansiedade-sinal – Freud; Medo vs. ansiedade: Medo: perigo externo; Ansiedade: perigo interno, psicológico; Desencadeia o processo defensivo, é a perda de controlo face a uma motivação inconsciente; Ansiedade: afeto desprazeroso mais comum desde a infância; É uma emoção desprazerosa que nos acompanha desde a infância; Mecanismos de defesa são a parte inconsciente do ego; Estes mecanismos de defesa ajudam-nos a digerir esta ansiedade; Mecanismos de defesa: Atividades psicológicas que impedem a consciência e o agir de necessidades pulsionais sentidas como inaceitáveis (perigosas para a identidade do self); Espontâneos, automáticos, involuntários, inconscientes; Na sua maioria são inconscientes, há algumas defesas maduras que são conscientes; Relacionam-se com a adaptação emocional que o ego tem que fazer para o seu equilíbrio interno e autoestima – evitar a disfuncionalidade; Arquitetura defensiva forma a personalidade; Podemos entrar na psicopatologia quando utilizamos defesas rígidas; Uma personalidade obsessiva utiliza muitas defesas intelectuais; Defesas: 3 tipos: primitivas, neuróticas de nível mais elevado e defesas maduras; Defesas primitivas: são primitivas porque aparecem desde cedo na infância, aparecem na fase pré-verbal, fronteira self-mundo externo não definida, não consegue ainda perceber quem é ele e quem é a mãe e ainda não existe o princípio da realidade, mas sim o princípio do prazer; Por não haver ainda o principio da realidade estas defesas não permitem ver a realidade; Retirada primária ou fantasia esquizóide: quando o indivíduo perante uma situação que lhe causa ansiedade tem uma resposta automática auto protetora de ir para um estado de consciência diferente; (ex: drogas nos adultos, adormecer nas crianças) há um refúgio no mundo interno de modo a evitar a ansiedade do mundo externo, exemplo de usar muito os jogos; Vai-se para o mundo da fantasia, baixa responsividade emocional, muita indiferença, como se a pessoa não estivesse lá connosco; - relacionado com a personalidade esquizóide; Negação: recusar que a experiência aconteceu, raízes do auto centrismo infantil e no pensamento mágico; Se eu não reconhecer o problema, ele não existe – fase inicial do luto, no início para elas a pessoa não morreu; Choque emocional da perda faz-nos negar a realidade, se se usar isso durante muito tempo e em muitas situações, temos uma fase maníaca da perturbação bipolar; Dissociação: o sentido de continuidade da pessoa em termos de identidade, consciência, memória e perceção é interrompido, tenta-se manter uma ilusão de controlo psicológico; ex: casos de violação; Idealização: atribuição de qualidades perfeitas ou quase perfeitas a outra pessoa de forma a evitar o desamparo, inveja e abandono causado pelas figuras parentais; Dá um sentimento de se conseguir controlar a situação; Relaciona-se com a dependência da pessoa, quanto mais dependente sou mais idealização faço da pessoa; Existe a idealização do terapeuta na fase inicial, vistos como cuidadores, existe uma transferência; Projeção: quando o que está dentro de mim é posto cá fora, é colocado no objeto, no outro; Ex: perturbação paranóide; Identificação projetiva: envolve projeção e introjeção, eu projeto um aspeto do self do meu ego ou de um objeto interno meu que é intolerável e angustiante para o outro de modo a que esse outro passe a sentir-se e a comportar-se de acordo com o que foi projetado, como se fosse seu (introjeção); Clivagem ou cisão: pacientes bipolares e borderline; Numa sessão a paciente fala do marido de uma forma super idealizada, na sessão a seguir ele já é uma porcaria e não servia para nada, cliva-se o self ou o objeto entre bom ou mau, positivo ou negativo; Se se falar da sessão anterior, pessoa nega ou relativiza o que disse anteriormente; Regressão: paciente que traz o urso de peluche, pessoa recua a uma fase anterior do desenvolvimento para evitar tensões e evitar lidar com a realidade, regressar ao passado, ao que trouxe conforto; Atuação (Acting): em vez de pensar sobre algo que lhe traz conflito ou ansiedade, age – paciente borderline induz em self-harm, para parar com ansiedade e angústia, é acting; depois das férias do terapeuta paciente que sentiu falta e falta à primeira consulta é acting; Somatização: conversão da dor emocional em sintomas físicos, o que não se diz, o corpo manifesta; Defesas neuróticas de nível mais elevado: São adquiridas na fase verbal do desenvolvimento, mais ou menos aos três anos; As fronteiras internas entre o ego, superego e id estão mais definidas, já há fronteira definida entre o self e o outro, há criança já sabe que é ela e quem são os outros; O princípio da realidade existe; Repressão ou recalcamento: expulsão de impulsos ou de ideias inaceitáveis para o inconsciente para impedir que estes entrem na consciência, esquecer ou ignorar é uma repressão; Introjeção: internaliza-se aspetos de uma pessoa significativa como forma de lidar com a perda ou ausência dessa pessoa; esta defesa pode ser positiva; Podemos ter a introjeção de um objeto bom como uma mãe carinhosa, também podemos ter a introjeção de uma mãe negativa, dificuldades em se estar sozinho; Identificação: há internalização das qualidades dos outros, tornando- se parecida a esse outro, identificamo-nos com qualidades da outra pessoa, enquanto a introjeção leva a uma representação internalizada, na identificação sentimo-lo como nosso e começa a fazer parte do nosso ego; Isolamento do afeto: pessoa isola a emoção, isola o afeto e fica só com a parte cognitiva e intelectual; “não sinto nada” recusa que sente; Nós dizemos e a pessoa diz que não sente aquilo, afeto está isolado da consciência; Intelectualização: pessoa fala sobre os sentimentos mas nós não sentimos e ela também não emoção; Racionalização: pessoa racionaliza pensamentos e ideias para que pareçam mais aceitáveis (não foi assim tão mau) (nem queria assim muito este emprego), quando existem muitas justificações; Sexualização: damos um significado sexual a um objeto e a um comportamento que devia ser negativo; Anulação: comportamento que apaga o afeto de forma mágica (ex: amuletos de sorte) Deslocamento: redireciona-se um pensamento, preocupação ou comportamento do objeto inicial para outro objeto que é menos ameaçador ou mais aceitável – relaciona-se com a fobia; Formação reativa: fazer o oposto, eu sinto-me atraída e vou tratar mal o outro ou eu odeio a pessoa e vou trata-la bem; É INCONSCIENTE; Defesas maduras: São todas positivas, é para se ter São positivas porque não são utilizados em excesso; Humor: reduz os afetos desagradáveis de uma forma muito eficaz, não se distorce a realidade; Supressão: tomamos uma decisão consciente de não dar razão a um pensamento, estado, sentimento/impulso; Ascetismo: eliminar aspetos prazerosos da experiência através de aspetos espirituais ou transcendentes; Altruísmo: as necessidades que eu tenho não as vou satisfazer mas vou fazê-las pelos outros; defesa utilizada, por exemplo, por paciente masoquista; Antecipação: retardar a gratificação imediata, em vez de entrar logo no avião planeio as férias primeiro; Sublimação: o que é negativo, inaceitável é transformado em algo que é mais produtivo ou mais aceitável ex: Taylor swift – transforma corações partidos em música; Aula prática – 3/10/24 Psicanálise: paciente no divã sem olhar diretamente para o terapeuta; É mais difícil fazer silêncio e deixar que a associação livre aconteça; A posição física do paciente também importa – a posição de estar deitado ajuda a regredir, de ir à infância e de ir buscar coisas lá atrás, está-se numa posição mais infantil e vulnerável, facilita a transferência; Não é qualquer pessoa que vai para o divã, um psicótico nunca vai para o divã; Dentro da psicoterapia (face a face) temos a psicoterapia expressiva mais perto da psicanálise (análise das defesas e exploração da transferência) e a psicoterapia de apoio (para paciente mais graves, que estão numa crise muito grande, aliança terapêutica difícil de ser formada); Tarefa: descobrir qual o afeto e dizer como continuaríamos a sessão, escolher frases para dizer; Trabalho de grupo: inventar um paciente com problemas; Afeto: solidão, desmotivação, frustração, desesperança; Psicoterapia expressiva: interpretação: - relembrar paciente das suas capacidades (encorajar): “Lembre-se que é qualificada para o seu trabalho”; Aula teórica – 8/10/24 Teoria da sexualidade: interpretação de sonhos Freud: os três ensaios sobre a sexualidade – livro; “O pequeno humano nasce perverso e polimorfo” Área mais discutida dentro da psicanálise; Ajudam a entender a relação entre o bebé e os pais e como isso leva a um encontro com o objeto; A sexualidade humana é naturalmente perversa, ele traz a ideia que esta sexualidade nasce com o bebé que é caótico, relaciona-se com as pulsões; Socialização, culpa, vergonha vai mediando a descarga de pulsões do bebé que só tem id quando nasce, só tem pulsões que quer descarregar; Freud traz uma visão amoral da sexualidade, há um contínuo na expressão da sexualidade. As crianças e os bebés têm prazer e usam o corpo para o obter, não no sentido adulto do termo sexual; Têm prazer ao tocar no seu corpo e no corpo das figuras adultas, é fácil observar em crianças estas fases do desenvolvimento psicossexual; Na interação primária com os cuidadores, criança vai criando relação com a figura cuidadora, o que começa por ser uma satisfação de uma necessidade como a fome é transformado em prazer com a boca; Pulsão está entre o biológico e o psíquico. Primeira fase é a oral e a zona erógena é a boca, começam por ser os prazeres orais, depois passam a anais e a de latência (amnésia infantil); Tudo começa por um autoerotismo: bebé sente prazer pelo próprio corpo; “Beija os lábios de alguém porque não posso beijar os meus” Não se nasce já formado como homem ou mulher, vamo-nos constituindo como homem ou mulher; Relaciona-se com necessidades fisiológicas que têm que ser cuidadas e que depois a zona erógena passa a ser uma zona que dá prazer – relação com objeto vai organizando psiquicamente a pessoa; Desenvolvimento psicossocial: Fase Oral Começa quando nascemos e termina no desmame (por volta de um ano) A zona erógena desta fase é a boca, o bebé dirige-se para o seio; Bebé vai tendo prazer com esta estimulação oral, depois do mamar existe uma gratificação, provar e experimentar com a boca; Também se relaciona com os órgãos dos sentidos como o olfato, visão, bebé olha fixamente para a mãe, bebé põe tudo na boca; Também se relaciona com a linguagem, com a voz da mãe e com o toque e com a própria pele; Bebé gosta muito de carícias, de toque, isto vai organizando psiquicamente o bebé que sente segurança e proximidade; Os autistas muitas vezes precisam de tocar nos objetos para distinguirem o limite entre o seu eu e o outro, para conhecerem os limites do mundo exterior que os rodeiam; Até ao primeiro ano de vida a relação é dependente, é uma relação quase simbiótica e funcional; Fase Anal: passa-se entre o primeiro e o terceiro ano, criança aprende a falar e a usar o bacio, começa a ter controlo do esfíncter e sente prazer nesta zona erógena anal, conflitos com os pais devido às imposições de higiene que os pais colocam, há um desafio à autoridade; Fezes são consideradas pela criança como fazendo parte de si, que podem deixar cá dentro ou expelir cá para fora, leva a um jogo de controlo; Fase fálica: aos 5 anos, começa a curiosidade sobre de onde vêm os bebés, interesse no pénis tanto dos rapazes como das raparigas, bebés tentam entender a diferença entre os géneros, fase narcisista da criança, de grande exibição, gostam de se mostrar, sentem-se o máximo; Fase em que a criança tem que largar a ideia de fusão com a mãe, dá-se o complexo de édipo que leva ao desenvolvimento do superego; Complexo de édipo: surge na fase fálica, atração pelo progenitor do género oposto e zanga para o progenitor do mesmo género, também pode acontecer de uma forma invertida, ao contrário; Tanto nos rapazes como nas raparigas parte do amor pela mãe; O primeiro objeto da rapariga é a mãe mas quando vivencia o complexo de édipo ela tem que se separar da mãe; Funciona em triângulo, leva à aquisição da ambivalência (sentimento de gostar de alguém e também não gostar de partes dessa pessoa, consigo ver a pessoa como um objeto total que tem partes boas e más, ir gostando na totalidade); A grande vantagem do complexo de édipo traz um terceiro elemento para a relação entre o bebé e a mãe, criança começa a perceber que a mãe não é só dela; Criança sai da dualidade através do triângulo e tem que partilhar a mãe com outro objeto (pai ou outra pessoa); Criança consegue triangular-se – organização neurótica; Perturbação bipolar – mulher que tem dificuldades em ver coisas negativas e positivas na mesma pessoa, problemas no contacto com a realidade; paciente utiliza clivagem; O complexo de édipo permite alcançar o superego, criança interioriza as imagens dos pais, da autoridade dos pais, faz com que comece a haver uma consciência maior; Fase da latência: dos 5/6 anos até à adolescência/puberdade 11/12 anos: há uma amnésia da sexualidade, há um recalcamento e coloca-se a sexualidade fora da consciência, mecanismos de defesa como a sublimação; Pulsões sexuais da primeira fase são sublimadas; Há uma dessexualização nas relações de objeto e surgem mais sentimentos, carinho; Fase genital: puberdade/adolescência, desejo sexual vai-se organizando porque os objetos mentais já estão constituídos; Já se vê o outro, o objeto como total; Sonhos – Freud “O sonho é a estrada real para o inconsciente” – Freud, 1900 O sonhador consegue encontrar um compromisso entre as pulsões do Id e as defesas do ego; Realização (disfarçada) de desejos (reprimidos). Sonhos repetitivos são sonhos de angústia; São uma descarga pulsional; Sonhos – elementos essenciais Resíduo diurno (no dia anterior ou até 2 dias antes ao sonho há algo que acontece na realidade que faz um isco e vai pescar algo do inconsciente e a pessoa tem um sonho que tem que ver com algum material do inconsciente); Exemplo: paciente que sonha com um funeral, colega que detesta está dentro do caixão, no dia anterior esteve a falar com um amigo sobre o funeral a que o amigo foi, isto é o resíduo diurno, faz um isco e conduz ao sonho; Sonho manifesto/conteúdo manifesto – história que o paciente conta; Sonho latente - História que está por detrás disto e que temos que tentar interpretar do paciente, material inconsciente que está por trás; Trabalho do sonho: transformar sonho latente em manifesto (disfarçado), através do processo primário (inclui 3 defesas): - condensação; - é quando aparece uma imagem em que aparecem várias partes de diferentes elementos, condensa numa mesma imagem; - deslocamento; - igual à defesa do deslocamento (de exame de biopsia para um exame da faculdade); - simbolização; - criam símbolos específicos deles, o mundo interno da pessoa é único que a pessoa cria símbolos próprios Os sonhos são uma dramatização do psiquismo, do mundo interno do paciente e também pode ser do processo terapêutico, pacientes que sonham com terapeutas (sonhos transferenciais) e terapeutas que sonham com pacientes (sonhos contra transferenciais); Por vezes aparecemos disfarçados de outras pessoas; Muitos elementos aparecem disfarçados; Condensação "Tive um sonho com uma mulher. Ela parecia-se com a minha ex- namorada, mas também parecia-se com esta foto da minha mãe na faculdade". Deslocamento Um homem de 50 anos, na véspera de uma biópsia, relata o seguinte sonho: "Tive um sonho na noite passada sobre chegar atrasado ao meu exame na faculdade". Simbolização "Sonhei que estava sozinha num aeroporto à espera de um avião... Sentia- me assustada com a viagem". A terminar a terapia. Futuro sem a terapeuta; Sonhos – técnica para os analisar Tudo o que paciente diz em toda a sessão está relacionado com o sonho antes e depois de contar o sonho; Temos que entender o afeto do sonho, temos que filtrar pontos relevantes (elementos repetitivos e claros); O tema pode ser: transferência, fantasias inconscientes, representações de relacionamentos, autorrepresentações; Nas autorrepresentações o paciente pode ser todas as pessoas que aparecem lá, podem ser várias facetas dele; Exemplo de um sonho: Paciente: Tudo o que eu queria era ficar noiva do Fred, mas desde que ele me deu o anel, sinto-me completamente deslocada. Não sei mesmo porquê - eu amo-o e não estou interessada em mais ninguém, mas simplesmente sinto-me apática. Será que estou a ter segundas intenções? A minha mãe ligou-me para começar a fazer planos sobre o casamento e eu só queria dormir. Ela está sendo muito simpática a este respeito - parece que está mais interessada no casamento do que eu. Oh - tive um sonho estranho na noite passada - parece irrelevante - ganhei um gatinho no meu aniversário e estava a acariciá-lo e, de repente, ele ficou enorme - como feroz - mas também como um gato doméstico - foi muito estranho. Acho que havia outras partes, mas não me lembro delas. Será que preciso de voltar a tomar medicação? Estarei a ficar deprimida? A minha amiga precisou de medicação antes do casamento - mesmo no dia da cerimónia. Terapeuta: Você afastou-se de falar sobre o sonho - algo mais lhe vem à mente sobre ele? (confronto de resistência) Paciente: Na verdade, não - parecia apenas um sonho estranho. Nem sequer tenho um gato. Embora, tivesse, eu adorava o meu gato - tive-o quando era muito pequena. Era o meu gato - era muito doce, dormia na minha cama - mas arranhou os móveis da sala e tivemos que nos livrar dele. Terapeuta: Quem tomou essa decisão? (questão) Paciente: A minha mãe. Chorei muito. Devia ter uns sete anos. Nunca tivemos outro animal de estimação. Eu pergunto-me se o Fred estaria interessado em ter um gato. Terapeuta: O que sentiu durante o sonho? (questão) (afeto) Paciente: Hmm - acho que estava confusa - não conseguia dizer. Pensei que fosse um gato doce e, de repente, tornou-se assustador. Como se virasse contra mim. De qualquer forma, tenho que começar a trabalhar nas coisas do casamento. A minha mãe está a pressionar-me - liga-me o tempo todo. Ela tem razão - tenho que fazer isso - ela tem todas essas ideias sobre os lugares onde os amigos dela tiveram os seus casamentos - quero dizer, os casamentos dos filhos dela - mas penso que quero fazer isso na cidade. Terapeuta: Você mencionou a sua mãe algumas vezes na discussão deste sonho - tem algum pensamento sobre isso? (clarificação) Paciente: Eu sei que ela tem boas intenções e ela é quem está a pagar afinal - mas ela está a deixar-me louca. Quer dizer, é o meu casamento, certo? Mas sinto-me mal por dizer isso - eles não tinham dinheiro quando se casaram e ela não tinha nada - e eles têm estado a discutir ultimamente... Terapeuta: Talvez o gato no sonho seja um pouco como a sua mãe - doce, mas você tem medo de que ela se volte contra si. Talvez o seu sentimento de apatia após ficar noiva tenha a ver com o seu medo de que começar a planear o casamento traga algo assustador na sua mãe que pareça perigoso. (interpretação) Paciente: É que ela sempre quer ter tudo o que eu tenho - eu sei que ela não teve todas as vantagens que eu tenho - mas ela copia a minha roupa e as minhas jóias e acho que tenho medo de que ela tente apropriar-se deste casamento. Talvez devêssemos simplesmente fugir e casar-nos. (Cabaniss et al, 2011) Nesta sequência a paciente fala do sonho, depois tenta afastar-se dele cria resistência; Memória de infância permite identificação do ponto da mãe. O afeto é a confusão; A parte feroz e assustadora representa a inveja da mãe que a paciente pressente, mas não quer enfrentar – retirada primitiva (queria dormir); Neste exemplo não conseguimos entender o resíduo diurno, alguém dizer que foi por causa do filme que viu não é o resíduo diurno, tem que ser algo não real, inconsciente; Aula prática – 10/10/24 Cena: rapariga universitária sofre desde pequena com questões de ansiedade, sente uma grande dificuldade em consolidar a faculdade com o trabalho a part-time, começou por fumar tabaco porque dizia que a fazia sentir-se mais calma, mais tarde começou a utilizar substâncias ilícitas como a erva. Atualmente diz que só fumando erva se sente capaz de agir perante a sua vida e sentir-se realmente calma e sem ansiedade. - retirada primitiva/fantasia esquizoide; Nota: defesa egossintónica (muito próxima do ego) oposto de egodistónicas que não fazem tanto parte do ego; Aula teórica – 15/10 Transferência e Contratransferência - conceitos centrais na psicoterapia e na psicanálise; Também existem nas outras psicoterapias; “Paciente com história de abandonos repete frequentemente não saber o que está a fazer na terapia, verbalizando vontade de terminar o processo e fazendo terapeuta sentir-se injustiçado e impotente nos seus esforços para ajudá-lo” – tudo transferência; “Paciente elogia permanentemente a reputação e as qualidades terapêuticas da analista. No entanto, parece não prestar muita atenção ao que ela lhe diz, e em geral parece mesmo ignorar” – transferência; “Durante a sessão, o terapeuta apercebe-se de que passou os últimos minutos sem ouvir o paciente e a pensar o que fazer para o jantar” – contratransferência; “Perante uma paciente em processo de luto, terapeuta adopta um estilo directivo bastante diferente da sua abordagem terapêutica habitual” – contratransferência; “Terapeuta sistematicamente termina a sessão 10 ou 15 minutos mais tarde que o previsto com determinada paciente, sentindo não lhe ter dado o suficiente” – contratransferência; Transferência - tendência para ver o terapeuta em função de experiências com pessoas significativas do passado; Implica deslocar para o terapeuta sentimentos, comportamentos e atitudes originários de relações anteriores; “Drama/teatro interno” é reencenado na situação terapêutica, com o terapeuta – atualização de relação de objeto internalizada; Importância da transferência: Freud: “Não se combate um inimigo in absentia ou in effigie” Imediatez da experiência (aqui e agora) promove insight com qualidade experiencial (evita excessiva intelectualização); Visão clássica: relação terapêutica comporta aspetos Transferenciais (distorcidos, “falso enlace”); Não transferenciais (realistas); Mas nem sempre a transferência é distorção: É sempre influenciada por aspetos reais do terapeuta (ex: idade, género, estilo relacional, vulnerabilidades...); Pode induzir respostas confirmatórias no terapeuta (pressão transferencial); Os aspetos mais rígidos/repetitivos, não integrados e inconscientes do funcionamento do sujeito induzem maior desvio/pressão sobre o outro, retiram-lhe mais liberdade (aplicável à transferência e à CT); Os aspetos mais problemáticos da personalidade da pessoa são aqueles que criam transferências mais difíceis de gerir pelo terapeuta; Transferência O mecanismo de identificação projetiva é um dos quais que permite a transferência; - dissocia e projeta representação do self ou do objeto (intrapsíquico); - pressão interpessoal para fazer o outro experienciar e identificar-se inconscientemente com a representação projetada (interpessoal); Pode ser um processo saudável e flexível na construção de relações (ex: efeito da confiança no comportamento dos outros; reajustamento realista das expetativas); Transferências de pacientes mais regressivos correspondem a identificação projetiva mais patológica (projeções maciças, evacuativas, sem qualidade as if, objetos clivados, controlo da relação, funcionamento mental não simbólico) – maior pressão sobre a contratransferência; Risco permanente do terapeuta: Consolidar conflito ou não se desemaranhar do papel atribuído na transferência (confirmar/gratificar a fantasia transferencial) – exemplo: é menos caloroso com cliente mais distante; Ao agir de forma desconfirmatória, causar insegurança e invalidação, comprometer aliança terapêutica, impedir aprofundamento da experiência transferencial – exemplo: contraria projeções do cliente (persecutórias, idealizadas); Exemplo: paciente que tem dúvidas sobre se sofreu abusos no seu passado relata, em sessão, discussão com o namorado em que o acusou de ter tido um comportamento abusivo. Para demonstrar, levanta-se, dirige-se ao terapeuta, dá-lhe uma pancada no braço e pergunta: “Isto é abuso?”; Classificações da transferência (exemplos): Positiva e negativa; Erótica (“as if”, suficientemente egodistónica) ou erotizada (egossintónica; ex: Anna O); Narcísica: especular (self grandioso, exibicionista), idealizadora, gemelar (alter-ego); desvalorizante; Evitante e/ou ansiosa (dimensões de vinculação); Consciente, pré-consciente, inconsciente; Egossintónica ou egodistónica; Paternal, maternal, fraternal,...; Exemplo: paciente com histórica de abandonos repete frequentemente não saber o que está a fazer na terapia, verbalizando vontade de terminar o processo e fazendo terapeuta sentir-se injustiçado e impotente nos seus esforços para ajudá-lo; Ao defender-se contra angústias de perda e abandono, identifica-se ao objeto abandónico e projeta no terapeuta a sua própria imagem de self incapaz de captar o interesse do objeto; sentimentos do terapeuta repetem experiência passada do paciente; possível desmotivação e desinvestimento do terapeuta acaba por confirmar receios do paciente; Exemplo: paciente elogia permanentemente a reputação e qualidades terapêuticas da analista. No entanto, parece não prestar muita atenção ao que ela lhe diz, e em geral parece mesmo ignorar; Projeta no analista as suas próprias necessidades narcísicas, e procura gratificá-las como forma de mantê-la num papel de mera plateia ou apêndice; recria assim, de forma invertida, a situação de ser desvalorizado e instrumentalizado pelo objeto – o que está na base da sua falha narcísica; Contratransferência Duas principais perspetivas: Clássica (narrow-Freud): - reações do terapeuta baseadas nos seus próprios conflitos e dificuldades; - cliente torna-se representante de algum aspeto do mundo interno do terapeuta (objeto da sua transferência); - prejudica o processo terapêutico, distorcendo a realidade do cliente (ex: um luto do terapeuta é reativado pelo material do cliente); Totalística (Heinmann, Racker): - todas as reações do terapeuta ao cliente (emoções, memórias, fantasias); - via privilegiada através da qual terapeuta se apercebe do que o paciente lhe comunica no plano inconsciente (ex: terapeuta sente pudor em explorar as emoções de cliente evitante; sonha que ele é uma jarra de vidro); Apesar de muita controvérsia, alguns pontos de consenso: Inevitável (mesmo do ponto de vista clássico); Criação conjunta (joint reaction) – sempre influenciada pelas características reais do cliente (CT “objetiva”) e pelo mundo interno do terapeuta (CT “subjetiva”) (exemplo extremo: terapeuta a atravessar uma tragédia pessoal); Ameaça ao processo terapêutico, especialmente se não reconhecida – diminui abertura ao material, limita capacidade empática, pode sobrecarregar o paciente, perpetua funcionamento patológico, etc; Instrumento de grande utilidade, na medida em que se for reconhecida, tolerada e elaborada – amplia capacidade empática, ilumina transferência, modela função analítica do paciente (introjeção da capacidade de “conter e metabolizar” do terapeuta), transforma esquemas relacionais, etc; Contratransferência “subjetiva”: Experiências derivadas dos conflitos, “pontos cegos” ou vulnerabilidades do terapeuta; Contratransferência “objetiva”: Experiências vindas de reações complementares expetáveis a padrões do paciente; Experiência contratransferencial – componentes: Atitude terapêutica: quadro mental habitual do terapeuta decorrente do modelo de psicoterapia adotado; Experiência emergente: Novo campo experiencial específico da díade, impossível de antecipar a partir dos padrões prévios de terapeuta e paciente, apesar da sua participação inevitável; Outras classificações da CT: Positiva e negativa; Subjetiva/idiossincrática e objetiva; Concordante/homóloga e complementar; Aguda (reação momentânea – esquecer, encurtar ou alongar a sessão, preocupação especial com aparência, sonho, gargalhada...) e crónica (dois sentidos: duradoura – com determinado paciente – ou disposicional – ex: terapeuta “cuidador compulsivo”; Egossintónica ou egodistónica; Fantasias de salvação; sono e tédio; CT erótica; incapacitante...; Durante a sessão, o terapeuta apercebe-se que passou os últimos minutos sem ouvir o paciente e a pensar o que fazer para o jantar; CT subjetiva: manobra defensiva relacionada com o assunto (o terapeuta “não quer ouvir”)? Reverie com temática alimentar/oral tem aspeto regressivo? CT indireta (ex: conflito com o diretor clínico)? CT objetiva: paciente “não quer ser visto?” Defesas obsessivas? Projetou representação de objeto negligente e egoísta no terapeuta? Normalmente, ambos: Configurações transferência – CT são únicas em cada par; Risco duplo: “solipsismo” (Estou distraído, tenho que me concentrar) e “equivalência psíquica” (Ele está-me a distrair); Gerir CT é diferente de controlar (ex: tomar cafés para evitar sonolência Exemplos: Perante uma paciente em processo de luto, terapeuta adapta um estilo diretivo bastante diferente da sua abordagem terapêutica habitual; O material do paciente reativou o luto mal resolvido do terapeuta, limitando a sua capacidade de explorar a experiência do paciente e aumentando a sua necessidade de controlo; Exemplos: Terapeuta sistematicamente termina a sessão 10 ou 15 minutos mais tarde que o previsto com determinado paciente, sentido não lhe ter dado o suficiente; Terapeuta com padrão de vinculação preocupado sente necessidade de gratificar o paciente como forma de preservar a relação; o sentimento de não dar o suficiente pode ser acentuado por aspetos transferenciais – por exemplo, paciente depressiva que sentiu que nada do que fazia era suficiente para satisfazer as expetativas dos pais e suscitar o seu reconhecimento; Exemplos: Paciente adota uma atitude sedutora em relação ao terapeuta, comentando a sua aparência física e tentando convencê-lo a jantar. O terapeuta sente-se desconfortável mas não fala do assunto na supervisão; Transferência: história de relações abusivas, convertendo relação suposta ser terapêutica em sedução? Experiências anteriores de que só pode captar a atenção do outro através da erotização da relação (angústia de abandono)? Tentativa de evitar vulnerabilidade e temas dolorosos? Contratransferência: desconforto devido à quebra de limites? Não conta porque se sente culpado da quebra de limites? Porque se sente atraído? Aula prática – 17/10 Contratransferência subjetiva: sempre do terapeuta, algo que o terapeuta sente, por exemplo com pacientes narcisistas muitos terapeutas sentem uma grande idealização ou uma grande desvalorização; Aula teórica – 22/10 Escolas na Psicanálise 1. Psicologia do Ego – Anna Freud, Hartmann; 2. Teoria das Relações de Objeto – Melanie Klein; Escola Britânica: Winnicott, Fairburn, Balint; Teorias intersubjetivas e integracionistas (atuais); 3. Psicologia do Self – Kohut, Escola americana; 4. Bion; 1. Psicologia do Ego 1930s - Anna Freud: Mecanismos de defesa do ego (escreveu um livro onde propôs vários mecanismos de defesa); - Heinz Hartmann: Realidade externa, Área do ego autónoma e livre de conflitos; Atualmente: Ego observador e Funções do ego: teste da realidade, controlo dos impulsos, processo de pensamento, julgamento, funcionamento sintético-integrativo, autonomia primária e secundária; 2. Teoria das Relações de Objeto I: Melanie Klein “Na vida mental do indivíduo, alguém está inevitavelmente envolvido, seja como modelo, como objeto, como ajudante, como oponente.” (Freud, 1921) Desenvolveu o conceito de objeto, foi a professora da psicanálise das crianças, contrariou Freud que considerava que para as crianças não era possível fazer análise, Anna Freud também iniciou a análise com crianças, mas Anna Freud trabalhou com crianças mais velhas, Klein trabalhou com crianças mais pequenas e foi observando bebés; Análise das crianças continua a ser feita mas de forma diferente, elas não se deitam no divã, elas fazem associação livre através das brincadeiras, a transferência também aparece imediatamente; Dá muita importância ao primeiro ano de vida e considera que a doença mental grave está associada ao primeiro ano de vida, pulsões dirigidas a objetos e não para alívio de tensão. Criou o conceito de mundo interno, não vivemos num mundo mas em dois, temos um mundo interno que é uma fantasia intrapsíquica que é tão real como o externo, são versões daqueles que amamos e odiamos (objetos internos); O mundo externo é vivenciado através dos significados que lhe são atribuídos no mundo interno, existem fantasias inconscientes que têm um conteúdo que representa o self, os objetos, emoções primitivas que vão criar as pulsões, para ela as pulsões vêem-se nas emoções primitivas, traz emoções como a inveja, a gratidão e o ódio, ódio e inveja são emoções muito primitivas, o bebé sente essas emoções; Existe uma internalização da relação com o objeto: representações do self e do objeto e emoção associada; Klein é criticada porque se vai focando excessivamente no interno; 2. Teoria das Relações de Objeto II: Escola britânica Fairburn (1952): libido não busca a satisfação, busca o objeto; Procura de objeto, segurança e ligação; Pulsão surge no contexto da relação; Winnicott (1965): “holding”, mãe suficientemente boa, falso self, objeto transicional; Balint (1979): falha básica, importância do ambiente/qualidade da relação: possibilidade de mudança com novas experiências relacionais; 3. Psicologia do Self Kohut (EUA) (1971, 1977, 1984) Coesão do self. Défice. (Patologia narcísica) Ajuda a manter a autoestima do ego; O self na patologia narcísica também não é coeso, houve um défice em termos de desenvolvimento, o self ficou congelado numa fase precoce e não pode desenvolver-se de forma a ficar coeso, as defesas têm muito a ver com manter um sentido de self coeso e positivo. Selfobject: função de espelho que o outro traz para o self, terapeuta para um narcísico tem que ser empático e que validar pois isto faltou na infância, pais muito críticos que não elogiavam, estes pacientes podem ver os outros como selfobjects e não como objetos totais, vê mais facilmente os outros pelas funções que desempenham, e não como pessoas, função de acalmar; 2. Teoria das Relações de Objeto III: teorias intersubjetivas e integracionistas Não se pode ver o material clínico como algo que existe na mente do paciente, conceptualizando-o como isolado da matriz relacional em que ele emerge (Dunn, 1995); Contratransferência como instrumento; O que acontece no ambiente clínico é determinado por ambas as partes, pelo terapeuta e pelo paciente, co-construção com significado – diálogo analítico, reflete as interações mútuas e inconscientes entre terapeuta e paciente; Ogden (1997): realidade intersubjetiva como o “terceiro analítico” – espaço mental compartilhado, onde o paciente integra as interpretações do terapeuta nos seus próprios pensamentos e sentimentos; Tensões entre os modelos psicanalíticos: Pulsão vs. relações de objeto; Modelos intrapsíquicos vs. modelos intersubjetivos; Conflito vs. défice; Modelos psicanalíticos: em conclusão Temos uma vida mental consciente e inconsciente; O sistema de significação inclui aspetos conscientes e inconscientes da experiência; Causalidade é uma característica relativa a eventos externos como também a processos do mundo interno; As relações precoces contribuem significativamente para o desenvolvimento de representações das relações que são carregadas afetivamente; Temos um mundo interno que dá textura e cor a cada nova situação que encontramos: significados e fantasias moldam o nosso comportamento e pensamento e medeiam a nossa relação com o mundo externo; O mundo interno está em dinâmica permanente com o mundo externo e, portanto, estes influenciam-se mutuamente; Há uma história desenvolvimental e uma experiência atual: ambos têm de ser compreendidos no contexto de terapia; Em terapia, lidamos com a patologia desenvolvimental e com a patologia do conflito, e as respetivas contribuições variam conforme o paciente;

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