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P.PORTO
Ana Filipa Santos
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These are lecture notes on language acquisition in speech therapy. It provides information about language, and communication.
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Licenciatura em Terapia da Fala Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem I (teórica) - Ana Filipa Santos – [email protected] Fala - Fala pode ser definida como o ato motor para transmissão de mensagens e envolve a coordenação precisa dos movimentos neuro...
Licenciatura em Terapia da Fala Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem I (teórica) - Ana Filipa Santos – [email protected] Fala - Fala pode ser definida como o ato motor para transmissão de mensagens e envolve a coordenação precisa dos movimentos neuromusculares orais. A SPTF (2020) define-a como uma atividade cognitiva e motora complexa. Contribuem para o ato motor de fala várias estruturas do trato vocal nomeadamente: laringe, faringe, véu do palato, língua, dentes, cavidades oral e nasal. - A fala envolve componentes, como a qualidade da voz, a entoação e o ritmo que reforçam o significado da mensagem (Owens, 2016). - Envolve: Respiração - Fonação (voz) – Ressonância – Articulação - Fluência Fala RESPIRAÇÃO FONAÇÃO (VOZ) Cavid Farin ade ge Fossa Nasal Tr Nasal Larin ge Pul mã Pul o mã Dir o eit Esq o uer Fonte deenergia do Laringe – estrutura principal para a fonação do aparelho fonador Fala RESSONÂNCIA - Cavidade faríngea - Modificam o som produzido pelas cordas - Cavidade nasal vocais, amplificando-o e - Cavidade oral transformando-o em palavras ARTICULAÇÃO Palato duro Língua Palato mole Dentes Lábios Fala Cada língua falada tem sons ou fonemas específicos, e combinações de sons que são caraterísticos dessa língua. Fala Os bebés passam grande parte do seu primeiro ano a experimentar os seus mecanismos vocais e a produzir uma variedade de sons. Gradualmente, estes sons passam a refletir a linguagem do ambiente da criança. (Owens, 2016) Fala A fala não é o único meio de comunicação humana cara a cara. Também usamos gestos, expressões faciais e postura corporal para enviar mensagens. Na conversa cara a cara, os meios não orais podem transportar até 60% da informação trocada. posturas (Owens, 2016) movimentos corporais expressões faciais Maçã Língua Apfel Jabłko Os sons individuais da fala são ruídos sem significado até que seja acrescentada alguma regularidade. A relação entre sons individuais, unidades sonoras com significado e a combinação unidades sonoras significativas e a combinação destas unidades é especificada pelas regras de uma língua. (ex: mota, bota) A língua pode ser definida como um código socialmente partilhado ou sistema convencional para representar conceitos através do uso de símbolos arbitrários e combinações desses símbolos regidas por regras. Por outras palavras, os símbolos ou palavras são arbitrários, mas os falantes conhecem os significados desses símbolos, que que, por sua vez, são organizados de determinadas formas para transmitir ideias. (Owens, 2016) Língua As línguas mudam e evoluem. As interações entre línguas ocorrem naturalmente em comunidades bilingues. Em determinadas circunstâncias, a mistura de línguas pode resultar numa uma nova forma de ambas as línguas serem utilizadas nessa comunidade (Backus, 1999). Ex: (maremoto≠tsunami) (novas palavras: selfie, blogue, youtuber, tablet, piercing…) As línguas que não evoluem, não crescem e não mudam tornam-se obsoletas. A morte de línguas não é um acontecimento raro no mundo moderno. As línguas enfrentam a extinção tão seguramente como as plantas e os animais. A Internet é atualmente um dos fatores responsáveis pelo desaparecimento de algumas línguas. (Ex.: Português Europeu em risco) (Owens, 2016) Língua Embora a maioria das línguas possa ser transmitida pela fala, esta não é uma caraterística essencial da língua. Em certa medida, o meio de transmissão influencia o processamento e a aprendizagem, embora os conceitos subjacentes à assinatura sejam semelhantes aos da língua falada. A Língua Gestual Portuguesa não é um espelho do Português, mas é uma língua distinta com as suas próprias regras de combinação de símbolos. Tal como nas línguas faladas, as unidades sinalizadas individualmente são combinadas seguindo regras linguísticas. (Owens, 2016) Língua Definição de língua da American Speech-Language-Hearing Association (Comité da Linguagem, 1983). A língua é um sistema complexo e dinâmico de símbolos convencionais que é utilizado em vários modos de pensamento e comunicação. A língua evolui em contextos históricos, sociais e culturais específicos. A língua, é regida por regras, é descrita por pelo menos cinco parâmetros fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. A aprendizagem e o uso da língua são determinados pela intervenção de fatores biológicos, cognitivos, psicossociais e ambientais. O uso efetivo da língua para a comunicação requer uma compreensão alargada da interação humana, incluindo fatores associados, tais como sinais não verbais, motivação e papéis socioculturais. (Owens, 2016) Língua O código socialmente partilhado do português ou de qualquer outra língua permite que o ouvinte e o falante ou o escritor e o leitor da mesma língua troquem informações. Internamente, cada um utiliza o mesmo código. O código partilhado é um dispositivo que permite a cada um representar um objeto, evento ou relação. (Owens, 2016) OCEANO O conceito foi-lhe transmitido e descodificado automaticamente. Numa conversa, o ouvinte e o orador passam da codificação para a descodificação e vice-versa sem dificuldade. As palavras, como oceano, representam conceitos armazenados no nosso cérebro. Cada utilizador codifica e descodifica de acordo com o seu conceito partilhado de um dado objeto, acontecimento ou relação. (Owens, 2016) Língua Processo de representação Ex: palavra Padre (Owens, 2016) Língua A codificação é a partilha de significado pelo falante e pelo ouvinte, que depende das competências linguísticas de cada um, e do contexto em que se efetua a troca. As unidades linguísticas individuais comunicam pouco de forma isolada. A maior parte do significado ou informação está contida na forma como os símbolos são combinados. Ex: “Professor José é um o” parece um amontoado de palavras sem sentido. No entanto, ao deslocar algumas palavras, podemos criar “O José é um professor”. As regras da língua especificam um sistema de relações entre as partes. (Owens, 2016) Língua Os símbolos e as regras que regem a sua utilização ajudam-nos a criar enunciados. Além disso, as regras permitem que a língua seja utilizada de forma criativa. A língua é um instrumento de uso social! (Owens, 2016) Comunicação Tanto a fala como a língua são partes de um processo mais vasto chamado comunicação. A comunicação é a troca de informações e ideias, necessidades e desejos, entre dois ou mais indivíduos. O processo é um processo ativo que envolve a codificação, a transmissão e a descodificação da mensagem pretendida. É necessário um emissor e um recetor, e cada um deve estar atento às necessidades de informação do outro para garantir que as mensagens sejam transmitidas de forma eficaz e que os significados pretendidos sejam preservados. (Owens, 2016) Comunicação A probabilidade de distorção da mensagem é muito elevada, dado o número de formas em que uma mensagem pode ser formada e as experiências passadas e as perceções de cada participante. A competência comunicativa é o grau de sucesso de um orador na comunicação, medido pela adequação e eficácia da mensagem. O comunicador competente é capaz de conceber, formular, modular e emitir mensagens e de perceber até que ponto os significados pretendidos são transmitidos com sucesso. (Owens, 2016) Comunicação A comunicação humana é uma ferramenta complexa, sistemática, colaborativa e contextualizada para a ação social. A complexidade pode ser demonstrada pelos aspetos multifacetados e multifuncionais do processo. Estes incluem todos os aspetos da comunicação e da linguagem, bem como processos mentais adicionais, como a memória e o planeamento, exercidos no âmbito das crenças culturais, das variáveis situacionais e das convenções sociais dos participantes individuais. Embora complexa, a comunicação é um padrão sistemático de comportamento. As conversas não consistem em enunciados desconexos e independentes. Pelo contrário, comunicação é colaborativa. (Owens, 2016) Comunicação Os parceiros coordenam ativamente a construção de um diálogo conjunto à medida que negoceiam para compreender os significados uns dos outros. Este processo ocorre num contexto cultural específico que influencia a interpretação das unidades linguísticas e dos comportamentos dos falantes. O contexto é variável, mudando minuto a minuto à medida que o cenário físico, os parceiros e os tópicos mudam. (Owens, 2016) Comunicação Pistas paralinguísticas A fala e a linguagem são apenas uma parte da comunicação. Outros aspetos da comunicação que podem melhorar ou alterar o código linguístico podem ser classificados como paralinguísticos, não- linguísticos e metalinguísticos. (Owens, 2016) Comunicação Os códigos paralinguísticos, incluem a entoação, o acento tónico ou ênfase, a velocidade ou ritmo e a pausa ou hesitação, são sobrepostos no discurso para sinalizar atitude ou emoção. Todos os componentes são integrados para produzir o significado. A entoação, o uso do tom, é o mais complexo de todos os códigos paralinguísticos e de um enunciado. Por exemplo, o tom descendente ou ascendente pode indicar o objetivo de um enunciado, como no exemplo seguinte: Vens, não vens? ↑(Perguntar) Vens, não vens. (Dizer) Um tom ascendente pode transformar uma afirmação numa pergunta. (Owens, 2016) Comunicação O acento tónico também é utilizado para dar ênfase. Lembram-se de ouvir: “Vais limpar o teu quarto! ao qual podem ter respondido: “Eu já limpei o meu quarto! O ritmo da fala varia consoante o nosso estado de excitação, a familiaridade com o conteúdo e a compreensão percebida do nosso ouvinte. Em geral, tendemos a falar mais depressa se estivermos mais entusiasmados, mais familiarizados com a informação que está a ser transmitida, ou mais seguros de que o nosso ouvinte compreende a nossa mensagem. As pausas podem ser utilizadas para dar ênfase a uma parte da mensagem ou para substituir a mensagem. O tom, o ritmo e as pausas podem ser usados para marcar divisões entre frases e orações. Combinado com a intensidade e a duração, o tom é utilizado para dar destaque a certas sílabas e a novas informações. (Owens, 2016) Comunicação Os mecanismos paralinguísticos são chamados aspetos suprassegmentais porque podem alterar a forma e o significado de uma frase, atuando sobre elementos ou segmentos de uma frase. Como já foi referido, um tom ascendente pode transformar uma afirmação numa pergunta sem alterar a disposição das palavras. Da mesma forma, “Eu fiz o meu TPC” e “Eu fiz o meu TPC” transmitem emoções diferentes. (Owens, 2016) Comunicação Pistas não linguísticas Os gestos, a postura corporal, a expressão facial, o contacto visual, o movimento da cabeça e do corpo e distância física ou proxémica transmitem informações sem o uso da linguagem e são chamadas pistas não linguísticas. A eficácia destes dispositivos varia com os utilizadores e entre utilizadores. Todos nós conhecemos alguém que parece gesticular demasiado ou estar demasiado perto enquanto comunica. Algumas mensagens não linguísticas, como um piscar de olhos, uma careta, um beicinho ou braços cruzados, podem transmitir toda a mensagem. Tal como acontece com a língua, os sinais não linguísticos variam consoante a cultura. Gestos perfeitamente aceitáveis numa cultura podem ser considerados ofensivos noutra. Ex: a forma de cumprimentar e sua variação nos diferentes países – 1 beijinho, 2 beijinhos, aperto de mão, etc… (Owens, 2016) Comunicação Competências metalinguísticas A capacidade de falar sobre a língua, de a analisar, de pensar sobre ela, de a julgar e de a ver como uma entidade separada do seu conteúdo ou fora de contexto é designada por metalinguística. Por exemplo, aprender a ler e a escrever depende da consciência metalinguística das unidades componentes da língua - sons, palavras, frases e enunciado. As competências metalinguísticas também são utilizadas para avaliar a correção ou a adequação da linguagem que produzimos e recebemos, assinalando assim o estado da transmissão ou o sucesso da comunicação. (Owens, 2016) Linguagem – Ferramenta Social Não serve de muito discutir a língua/linguagem fora do quadro fornecido pela comunicação. Embora a língua/linguagem não seja essencial para a comunicação, a comunicação é certamente um elemento essencial e definidor da língua. Sem comunicação, a língua/linguagem não tem objetivo. Enquanto código partilhado, a língua permite que os utilizadores transmitam ideias e desejos uns aos outros. Em geral, a língua reflete o pensamento coletivo da sua cultura e, por sua vez, influencia esse pensamento. Ex: cravo associado a democracia em Portugal apenas. (Owens, 2016) Linguagem - SISTEMA REGIDO POR REGRAS A relação entre o significado e os símbolos utilizados é arbitrária, mas a disposição dos símbolos em relação uns aos outros não é arbitrária. Esta caraterística organizacional não arbitrária da linguagem demonstra a presença de regras ou padrões subjacentes ou padrões que ocorrem repetidamente. Estes sistemas de regras partilhadas permitem aos utilizadores de uma língua criar e compreender mensagens. (Owens, 2016) Linguagem A linguagem inclui não só as regras, mas também o processo de utilização das regras e o produto resultante. Exemplo, uma frase é composta por um substantivo e um verbo, mas essa regra não nos diz nada sobre o processo de seleção do substantivo e do verbo ou sobre o número aparentemente infinito de combinações possíveis com estas duas categorias. O conhecimento subjacente de um utilizador da língua sobre o sistema de regras chama-se a sua a sua competência linguística. Mesmo que o utilizador não consiga dizer muitas das regras, o seu desempenho demonstra a adesão às mesmas. O conhecimento linguístico em uso efetivo é designado por desempenho linguístico. (Owens, 2016) Linguagem Na comunicação, a compreensão é influenciada pela intenção do orador, pelo contexto, os significados partilhados disponíveis e a complexidade linguística do enunciado. Aprender as regras As crianças aprendem as regras da língua utilizando-as efetivamente para codificar e descodificar. As regras aprendidas na escola são os “retoques finais”. Por exemplo, uma criança em idade pré-escolar demonstra, através da utilização de palavras, que sabe o que é um substantivo muito antes de conseguir definir o termo ou mesmo nomeá-lo. (Owens, 2016) Linguagem - É GENERATIVA A palavra generativo tem a mesma raiz que gerar, que significa produzir, criar (como na palavra Génesis), ou trazer à existência. Assim, a língua é um instrumento produtivo ou criativo. O conhecimento das regras permite aos falantes gerar enunciados com sentido. A partir de um número finito de palavras e categorias de palavras, como os substantivos, e um conjunto finito de regras, os falantes podem criar um número quase infinito de frases. Esta criatividade ocorre por várias razões: As palavras podem referir-se a mais do que uma entidade. As entidades podem ser designadas por mais do que um nome. As palavras podem ser combinadas de várias maneiras. Pensa em todas as frases possíveis que poderias criar combinando apenas os substantivos e verbos que conheces. Quando esta tarefa estiver concluída, podes modificar cada frase acrescentar advérbios e adjetivos, artigos e preposições, e combinando frases ou reorganizando as palavras para criar outras variações. As possibilidades de criar novas frases são praticamente infinitas. Considere a seguinte frase de romance: - Os grandes elefantes dançavam graciosamente sob as luzes da rua. (Owens, 2016) Linguagem As crianças não aprendem todas as combinações de palavras possíveis. Em vez disso, aprendem regras que regem essas combinações. Quando eram crianças, deduziram as regras ouvindo os outros e experimentando diferentes tipos de frases. O conhecimento das regras linguísticas permite-lhes compreender e criar ou gerar uma variedade infinita de frases. (Owens, 2016) Linguagem – OUTRAS PROPRIEDADES A linguagem humana é também reflexiva, o que significa que podemos usar a linguagem para refletir sobre a linguagem, a sua correção e eficácia, e as suas qualidades. Referimo-nos a este aspeto da linguagem anteriormente como metalinguística. Os outros animais não podem refletir sobre a sua própria comunicação. Uma outra propriedade da linguagem é a deslocação ou a capacidade de comunicar para além do contexto imediato. O latido do seu cão não é sobre algo que ele se lembrou da semana passada. Por outro lado, podemos falar de amanhã, da semana passada, ou do ano passado, ou eventos da história em que não participamos. Os símbolos usados numa língua são arbitrários. Por exemplo, não há nada na palavra gato que sugira o animal a que se aplica. Exceto em algumas palavras, como palavras, como cuco, que sugerem uma relação entre o som e a ação ou coisa a que a palavra se refere, não existe uma relação naturalmente óbvia. A relação é arbitrária. (Owens, 2016) Sistema complexo e dinâmico de símbolos convencionados, usando modalidades diversas para o homem comunicar e materializar o pensamento. A.S.H.A. - American Speech-Language-Hearing Association Linguagem Os humanos são capazes de receber, transformar e transmitir informação através da linguagem. Expressão Compreensão Compreensão - receção e decifração de uma cadeia e unidades (sons, grafemas, gestos) e respetiva interpretação de acordo com as regras de um determinado sistema linguístico. Linguagem Expressão - estruturação da mensagem, formada de acordo com as regras de um determinado sistema linguístico e materializado na articulação de cadeias fónicas na fala, na sequência de gestos na língua gestual ou na sequencialização de sinais gráficos, no caso da escrita. Sim-Sim, 1998 Língua materna - o sistema adquirido espontaneamente e naturalmente, e que identifica o sujeito com uma comunidade linguística A aquisição da língua implica a apreensão das Língua regras específicas do sistema, no que respeita à Fala forma, ao conteúdo e ao uso da língua. Fala - a produção da linguagem na variante fónica, realizada através do processo de articulação de sons. Escrita - a materialização da produção linguística na forma gráfica. Sim-Sim, 1998 Linguagem Forma Conteúdo Uso Como se diz O que se diz Onde se diz Fonologia Morfologia Sintaxe Semântica Pragmática Sintaxe Regras de organização das palavras em frases. Morfologia Aquisição e uso das regras relativas à formação das palavras (plurais, flexões verbais, conjunções, concordâncias em género, número, graus de adjectivos) Fonologia Sons da língua. Perceção e produção dos sons e suas combinações para formar palavras Semântica Aquisição e uso de vocabulário. Respeita ao significado das palavras. Vocabulário passivo ≠ activo. Quantidade e qualidade de vocabulário (conceitos concretos, abstratos). Classe de palavras Classificação das palavras segundo a sua distribuição sintática e morfológica, devido a semelhança morfológica entre elas. Pragmática Uso comunicativo da linguagem num contexto social