Plano Diretor da Embrapa 2024-2030 PDF
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2024
Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá
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Summary
This document outlines the strategic plan for Embrapa, a Brazilian agricultural research agency. It details the organization's plan for the period 2024-2030, focusing on sustainable development, food security, and regional growth. The overall objective is to increase Brazilian agricultural production and competitiveness.
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PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Superintendência de Estratégia Ministério da Agricultura e Pecuária PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Embrapa Brasília, DF 20...
PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Superintendência de Estratégia Ministério da Agricultura e Pecuária PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Embrapa Brasília, DF 2024 O Plano Diretor 2024–2030 é uma publicação institucional da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Embrapa Parque Estação Biológica Av. W3 Norte (final) 70770-901 Brasília, DF www.embrapa.br www.embrapa.br/fale-conosco/sac Diretoria-Executiva Responsável pela editoração Presidente Coordenação editorial Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá Daniel Nascimento Medeiros Diretores Nilda Maria da Cunha Sette Alderi Emídio de Araújo, Ana Margarida Castro Euler, Edição executiva Clenio Nailto Pillon, Selma Lúcia Lira Beltrão Josmária Madalena Lopes Revisão de texto Coordenação geral Jane Baptistone de Araújo Superintendência de Estratégia (Suest) Normalização bibliográfica Eduardo da Silva Matos, Job Lucio Viera, Márcia Maria Pereira Daniela Biaggioni Lopes, Danielle Alencar Parente Torres Projeto gráfico, diagramação e capa Carlos Eduardo Felice Barbeiro 1ª edição Publicação digital (2024): PDF Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa, Superintendência de Comunicação Embrapa. Plano Diretor da Embrapa : 2024–2030. – Brasília, DF : Embrapa, 2024. PDF (45 p.) 1. Agricultura. 2. Pesquisa agropecuária. 3. Embrapa – planejamento. I. Superintendência de Estratégia. II. Título. CDD (21. ed) 630.72 Rejane Maria de Oliveira Cechinel Darós (CRB-1/2913) © 2024 Embrapa A Diretoria da Embrapa agradece a todos que par- ticiparam e colaboraram, de formas e em momen- tos diferentes, durante o processo de atualização do Plano Diretor da Embrapa em 2023. Agradece espe- cialmente aos respondentes das consultas virtuais às Unidades Descentralizadas, Unidades Centrais, Comitês Gestores de Portfólios e Rede ODS, aos participantes indicados para os grupos de trabalho constituídos pela Diretoria-Executiva, aos colegas embrapianos que encaminharam contribuições in- dividuais por e-mail ou durante a participação em sessões regionais on-line e a toda equipe da Supe- rintendência de Estratégia (Suest) e participantes da oficina de chefes que se envolveram na siste- matização das respostas encaminhadas. Agradece também a todos os representantes de instituições externas que aceitaram o convite para entrevistas. Apresentação Juntos, semeando o futuro! Quando a Embrapa foi criada, em 1973, a pro- dução de alimentos no mundo acontecia majo- ritariamente em ambiente de clima temperado. O Brasil, com grande parte de seu território em ambiente tropical, convivia com crises frequen- tes de abastecimento alimentar, o que gerava fortes impactos no custo de vida das famílias. Havia a necessidade de importação de boa par- te dos alimentos consumidos no País e a escas- sez de alimento gerava inflação. Em apenas 50 anos, o Brasil tornou-se um dos Sílvia Massruhá principais produtores mundiais de alimento, Presidente da Embrapa ofertando produtos agrícolas de modo diver- sificado. Com a ocupação agrícola do Cerrado, digital, visando à segurança alimentar e à tran- promoveu a efetiva interiorização da popula- sição energética, perseguindo o caminho da in- ções em seu território, e, o mais importante, clusão socioprodutiva. barateou substancialmente o custo da alimen- Além de produzir alimentos, fibras e energia, es- tação das famílias. A Embrapa foi protagonis- pera-se que o setor agrícola continue produzin- ta dessa transformação, ao lado das universi- do superávits na Balança Comercial, apoie a di- dades e dos organismos estaduais de pesquisa namização industrial e de serviços e, ainda, gere e extensão, e aliada do empreendedorismo do emprego e renda. Isso requer um olhar para a produtor brasileiro. inovação como ingrediente competitivo e inclu- Desde sua concepção, esta Empresa apresen- sivo, garantindo ainda o protagonismo de pro- ta três características presentes em toda a sua dutores e produtoras familiares no processo de trajetória: é reconhecida por ser comprometi- transformação e a motivação aos jovens para da com a sociedade brasileira; ousa imaginar o que deem continuidade às atividades dos pais. futuro no presente; e caminha rumo ao futuro, Com satisfação, apresento à sociedade brasilei- guiada por estratégia e planejamento. ra o Plano Diretor da Embrapa 2024-2030, que Novos tempos trazem novos desafios. A agricul- mostra os caminhos que a Empresa vai seguir tura de hoje está mais complexa; o novo cenário para cumprir sua missão institucional. Nosso requer tecnologias que assegurem processos propósito é construir o futuro, junto com produ- sustentáveis, alimentos nutritivos e saudáveis, tores, técnicos, empresas, universidades, órgãos e bem-estar para quem produz. Carbono zero, de governos, instituições públicas e da socieda- rastreabilidade, reciclagem, biosseguridade, de civil, startups e entidades do terceiro setor. agricultura de precisão são novos conceitos, si- A Embrapa sempre foi inclusiva e agregadora. nalizando que a pesquisa deve ser concebida E continuará sendo uma Empresa do Brasil, a sob a ótica da bioeconomia e da transformação serviço dos brasileiros e da humanidade. Sumário Ambiente externo 6 Contexto 7 Panorama atual da agricultura brasileira 9 Grandes transições globais: oportunidades e desafios Atuação e relacionamento 22 Partes interessadas e ecossistemas de inovação 24 Missão, visão e valores Escolhas estratégicas 26 Objetivos estratégicos 27 Mapa da estratégia 38 Glossário 43 Foto: YesPhotographers (AdobeStock) Referências PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 5 Ambiente externo Foto: andriiv (AdobeStock) 6 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Contexto O mundo passa por grandes transformações em ministérios, direcionados ao desenvolvimento todos os setores da economia e da sociedade. sustentável e ao incremento da prosperidade e A interseção de desafios complexos, como a do bem-estar da população brasileira, focando crise climática, a recuperação da pandemia de na diminuição da insegurança alimentar, no de- covid-19 e os conflitos geopolíticos, tem impli- senvolvimento regional, na geração de emprego cações significativas para os sistemas agroali- e renda e na transição energética. Por exemplo, mentares, para a agricultura nacional e para os o Plano de Transformação Ecológica (PTE) (Bra- mercados dos produtos agropecuários brasilei- sil, 2023e), lançado pelo Ministério da Fazenda, ros, apresentando tanto desafios quanto opor- é composto por diversas ações estratégicas de tunidades. grande relevância para a agricultura e para a No plano doméstico, o Plano Plurianual (PPA), pesquisa agropecuária, como a bioeconomia, a principal instrumento de planejamento de mé- transição energética, a economia circular e re- dio prazo do governo federal, já foi renovado forço substancial ao Fundo Nacional Desenvol- para os próximos 4 anos – PPA 2024-2027 (Brasil, vimento Científico e Tecnológico (FNDCT). 2023f) –, ressaltando o fortalecimento da agro- pecuária sustentável com agregação de valor, Nesse sentido, com base nas prioridades do go- em três programas sob a responsabilidade do verno e em evidências contidas em documentos Ministério da Agricultura e Pecuária: a) Progra- institucionais, estudos e publicações recentes e, ma Agropecuária Sustentável; b) Defesa Agro- ainda, na coleta de informações e percepções pecuária; e c) Pesquisa e Inovação Agropecuária. de atores internos e externos, a Embrapa apre- Além disso, o novo Programa de Aceleração do senta a atualização do seu VII Plano Diretor da Crescimento (Novo PAC) (Brasil, 2023a), oficial- Embrapa (VII PDE). As dimensões analisadas no mente lançado em 2023, prevê investimento de processo de atualização do VII PDE em 2023 in- R$ 1,7 trilhão em 4 anos, com previsão de cerca cluíram as transformações globais que impac- de R$ 1 bilhão direcionado para investimentos tam os sistemas agroalimentares, seus efeitos em modernização da infraestrutura da Embra- nos setores agropecuário, florestal e agroindus- pa, trazendo oportunidades para a Empresa. trial brasileiros, e o potencial de contribuição da Em 2023, também foram criados ou retomados pesquisa e inovação agropecuária pública para programas de governo que envolvem diversos o desenvolvimento sustentável. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 7 Panorama atual da agricultura brasileira A agricultura brasileira é reconhecida como alta- 41,4% no custo da cesta básica (outubro/2023 mente competitiva e geradora de empregos, ri- em relação a dezembro/1975, na cidade de São queza, alimentos, fibras e bioenergia para o Brasil Paulo) (Ipeadata, 2023), e dinamizou as exporta- e para outros países. Considerado de forma inte- ções, passando-as de US$ 20,6 bilhões em 2000 grada (insumos, produção primária, agroindús- para US$ 158,9 bilhões em 2022 (Brasil, 2023c). trias e agrosserviços), o agronegócio é um dos Para 2023, o valor bruto da setores que mais contribui para o crescimento do produção está estimado em Para 2023, o valor PIB nacional e que responde por 24,4% (Sumá- aproximadamente R$ 1,15 bruto da produção rio…, 2023) da soma de todas as riquezas produ- trilhão, apresentando cres- está estimado em zidas, 26,9% do total de ocupações (Esalq, 2023a) cimento em torno de 2,7% aproximadamente e 50% do faturamento das exportações brasilei- em relação ao valor de 2022 R$ 1,15 trilhão, ras (Esalq, 2023b), chegou a US$ 82 bilhões no (Brasil, 2023d). apresentando primeiro semestre de 2023 (Sumário…, 2023). A produção de grãos foi pro- crescimento em Analisando o desempenho do setor ao longo jetada em mais de 307 mi- torno de 2,7% das últimas décadas, verifica-se que, de 1975 a lhões de toneladas em 2032, em relação ao 2023, a produção de grãos passou de 35,8 mi- o que indicaria um aumento valor de 2022. lhões de toneladas para cerca de 259 milhões de cerca de 48 milhões de de toneladas, um aumento de 624% (FAO, toneladas sobre a produção atual do Brasil. Nos 2023a). Nesse mesmo período, a produção de próximos 10 anos, estima-se que a produção de carnes passou de 2,9 milhões de toneladas para carne bovina chegará a cerca de 9 milhões de 30,1 milhões de toneladas, um aumento de toneladas e a de carne de frango a 16,6 milhões 933% (Estados Unidos, 2023). Já a produção de toneladas (OECD, 2023). brasileira de frutas passou de quase 14 milhões de toneladas para mais de 41 milhões de tone- Outras culturas apresentaram um aumento me- ladas, registrando crescimento de 199% entre nor da produção, embora expressivo crescimen- 1975 e 2023 (IBGE, 2023a). No mesmo período, to das suas produtividades. A produção de arroz a produção de pescado aumentou 81% (IBGE, cresceu quase 40% entre 1975 e 2022, enquan- 2023b). O setor florestal aumentou sua produ- to seu rendimento aumentou 3,5 vezes no mes- ção de lenha e madeira (inclusive para papel mo período. A quantidade produzida de feijão e celulose) em 177%, entre 1986 e 2022, com cresceu 25%, e o seu rendimento cresceu duas destaque para as espécies dos gêneros Pinus e vezes. Especificamente no caso da mandioca, a Eucalyptus (IBGE, 2023c). A cafeicultura aumen- quantidade produzida caiu 32%. tou em 68% a sua produção nos últimos 40 anos Vários desses produtos são gerados em Unidades (IBGE, 2023a). A produção de leite cresceu 4,4 Familiares de Produção Agrária1. A agricultura vezes, passando de 7 bilhões de litros em 1975 para quase 35 bilhões de litros em 2022, e a pro- 1 Unidade Familiar de Produção Agrária (UFPA) – conjun- to de indivíduos composto por família que explore uma dutividade aumentou 3,4 vezes no mesmo pe- combinação de fatores de produção, com a finalidade ríodo (IBGE, 2023b). de atender à própria subsistência e à demanda da so- ciedade por alimentos e por outros bens e serviços, e O aumento da produção permitiu abastecer re- que resida no estabelecimento ou em local próximo a gularmente o mercado interno, com queda de ele (Brasil, 2017a). 8 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 familiar representa 78% dos estabelecimentos Entre os fatores internos do setor agropecuário agropecuários (3,7 milhões), 67% da população que foram e continuarão a ser fundamentais ocupada (10 milhões de pessoas), 23% do valor para o seu desempenho, destacam-se: boa dis- bruto da produção (VBP) (R$ 107 bilhões) e 23% ponibilidade e distribuição de recursos naturais da área (81 milhões de hectares) (IBGE, 2017). no território e extensas áreas que podem ser re- Esses produtores são responsáveis pela produção cuperadas para produção agropecuária ou flo- de 70% da mandioca, 64% do leite, 49% da bana- restal, nos diferentes biomas; políticas públicas na, 22% do feijão e 11% do arroz no Brasil. Além de incentivo e apoio ao setor; produtores em- disso, representam 74% dos estabelecimentos preendedores, competentes e resilientes; e tec- com aquicultura no País. Em 9,21% dos estabe- nologia agropecuária tropical e subtropical de- lecimentos agropecuários, é realizada produção senvolvida e aplicada no País. extrativista vegetal (IBGE, 2017). Os dados destacam o potencial, o dinamismo e Em termos de gênero, o Censo Agropecuário de a inserção de segmentos importantes da agri- 2017 revelou que 1,7 milhão de mulheres estão cultura brasileira no mercado doméstico e glo- na gestão ou codireção de propriedades rurais, bal. Nesse contexto, a identificação contínua cerca de 34% do total de estabelecimentos. Em de oportunidades e desafios é fundamental relação à cor ou raça do produtor, 45,43% dos para direcionar a estratégia da pesquisa dos produtores têm cor ou raça branca, 8,37% preta, atores públicos e privados dos setores agro- 0,62% amarela, 44,47% parda e 1,12% indígena pecuário, aquícola e florestal para os próximos (Embrapa, 2022). anos. 1,7 milhão de mulheres na gestão ou codireção de propriedades rurais. Foto: Pixel-Shot (AdobeStock) PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 9 Grandes transições globais: oportunidades e desafios Emergência climática e do suporte ao desenvolvimento científico e tecnológico, com investimentos em pesquisa e Com o aumento da temperatura global em novas tecnologias; e a sociedade, por meio da 1,09 °C até 2020, em comparação ao período mudança de comportamentos que estimulem e pré-industrial (IPCC, 2023), preconiza-se a neu- catalisem políticas públicas convergentes com tralidade de emissões de CO2 e a forte redução a Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvi- em outros gases de efeito estufa (GEEs), com o mento Sustentável (ODS) (OECD, 2018). objetivo de limitar os efeitos da mudança do cli- Em termos de GEE, a agricultura global é res- ma. O esforço para limitar o aquecimento global ponsável pela emissão de 10,4 Gt CO2 eq (giga- induzido pelo homem em linha com o Acordo toneladas de dióxido de carbono equivalente), de Paris exige reduzir emissões cumulativas de o que corresponde a 18% das emissões totais, CO2 (dióxido de carbono), atingindo pelo menos ficando atrás dos setores de energia e indústria. a neutralidade (zero emissões líquidas de CO2), O uso da terra, a mudança no uso da terra e a juntamente com fortes reduções em outras silvicultura são responsá- emissões de gases com efeito de estufa, em par- veis por 38%, a fermenta- A agricultura ticular o CH4 (metano) até a metade do século ção entérica na pecuária tem papel (IPCC, 2021). por 29%, o cultivo de ar- fundamental Análises do Painel Intergovernamental sobre roz por 9,6% e a aplicação no apoio ao Mudanças Climáticas (IPCC) apontam ainda que de fertilizantes sintéticos cumprimento dos países tropicais são mais vulneráveis aos impac- por 4% das emissões da tos da mudança do clima, enquanto os países agricultura (Boehm et al., compromissos de clima temperado poderão incorporar novas 2023). assumidos áreas agrícolas. Segundo o relatório Mudanças de adaptação Outrossim, a agricultura Climáticas e Terra, as atividades agrícolas em tem papel fundamental aos impactos regiões tropicais poderão ser severamente afe- no apoio ao cumprimento negativos da tadas, com a previsão de aquecimento com po- dos compromissos assu- mudança do clima tencial de resultar no surgimento de condições midos de adaptação aos e descarbonização climáticas sem precedentes até meados e finais impactos negativos da da economia. do século XXI, caso as emissões antrópicas de mudança do clima e des- GEEs sigam uma tendência média ou superior carbonização da economia (Brasil, 2023b). Os de elevação (IPCC, 2019). desafios estabelecidos pelo Brasil, em sua Con- Com o Acordo de Paris, estabelecido em 2015, tribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na países desenvolvidos e em desenvolvimento sigla em inglês) revisada, demandarão do setor assumiram compromissos de redução de emis- agrícola investimentos consistentes em adap- sões de GEEs. O conjunto desses compromissos tação aos impactos negativos da mudança do deverá ser alcançado mediante esforços conjun- clima consorciados com planos estratégicos e tos da sociedade, envolvendo o setor privado, sistemáticos de descarbonização da produção, por meio da mudança de processos produtivos os quais resultem em aumento de eficiência, Métricas e indicadores para o desenvolvimento sustentável O volume de dados gerado está em crescimento em todos os setores da economia. Na agricultura, a organização de dados e informações e a elaboração de métricas e modelos que considerem os aspectos ambientais, sociais e econômicos terão importância estra- tégica no desafio de manutenção e abertura de mercados para os produtos brasileiros. Serão igualmente importantes para que políticas públicas sejam direcionadas e moni- toradas, e também para que o Brasil seja capaz de reportar e demonstrar para o mundo suas estratégias para o atendimento aos Acordos Globais de Clima, Biodiversidade, entre outros. A demanda por metodologias para monitoramento das reduções das emissões de GEEs na agropecuária e por instrumentos e metodologias MRV (mensurável, relatável e verifi- cável), por exemplo, é crescente. Surgem também iniciativas de comprovação e comu- nicação dos indicadores, como selos de sustentabilidade e processos e certificados de rastreabilidade. A avaliação do ciclo de vida indica a pegada de carbono ou a pegada hí- drica de um determinado produto ou processo produtivo, agregando informações que serão usadas nas decisões dos consumidores e mercados. No âmbito dos recursos naturais, a grande massa de dados atualmente disponível aliada a uma crescente capacidade analítica permitem conhecer, caracterizar e avaliar a bio- diversidade, o solo, a água doce, os oceanos e o clima com novas perspectivas. Os resultados dessas análises podem ser usados para aprimorar o conheci- mento e as transformações em curso nos ecossis- temas dos quais as sociedades dependem. Dados e indicadores consistentes também são importantes para o avanço da Agenda ASG (aspectos ambientais, sociais e de gover- nança; ESG em inglês) nas empresas e organizações, porque promovem modelos de negócios que valorizam questões ambientais, sociais e de go- vernança, de forma holística. É uma resposta à crescente conscientização global sobre os desafios enfrentados pela sociedade e pelo meio ambiente, e passam a definir o valor de mercado das empresas, as certificações, o acesso a in- Foto: noeh (AdobeStock) vestimentos e a seguros. O cumprimen- to dessa agenda reconhece que, além do desempenho financeiro imediato, o bem-estar social e a proteção ambiental são cruciais para o sucesso a longo prazo das empresas públicas e privadas. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 11 competitividade e adequação às normas nacio- de água, das florestas natu- A agenda de nais de proteção ambiental. rais e da biodiversidade são Saúde Única O investimento em ciência, tecnologia e inova- prioridades que devem nor- engloba a tear as ações dos produto- ção é essencial diante das necessidades: mais concepção, capacidade adaptativa e resiliência às flutua- res rurais e são diretrizes de políticas públicas e acordos elaboração, ções do clima, e menos emissão de GEEs; alta desenvolvimento rastreabilidade dos produtos e processos; e globais, com destaque para a Agenda 2030 e os 17 ODS e implementação atenção primária ao ambiente e potenciais im- pactos diretos e indiretos associados à ativida- (Nações Unidas, 2023c). de políticas de produtiva. Iniciativa relevante de estratégia Os seis biomas brasileiros públicas e convergente entre sustentabilidade e mitigação (Amazônia, Caatinga, Cerra- privadas de emissões com interface transversal entre se- do, Mata Atlântica, Pampa e integradas tores da economia é a Política Nacional de Bio- Pantanal) demandam estu- e eficazes combustíveis (Renovabio), Lei nº 13.576, de 26 dos e ações específicas, levan- para prevenir, de dezembro de 2017 (Brasil, 2017b), que ins- do em consideração que são responder e titui um inovador instrumento de mercado de interligados e interdepen- controlar doenças. Créditos de Descarbonização (CBIOs) transacio- dentes. Destaca-se a Amazô- nado na Bolsa de Valores. A Renovabio visa pro- nia, em razão da sua dimensão e das oportuni- mover a descarbonização dos sistemas produti- dades para o desenvolvimento da agricultura vos e gerar renda adicional para os produtores. sustentável, os serviços ecossistêmicos relaciona- Como parte dos compromissos assumidos no dos à floresta e o potencial da sociobioeconomia. Acordo de Paris, o Brasil atualizou as metas A atenção das organizações ambientais e da opi- do Plano ABC+ do Ministério da Agricultura e nião pública nacional e internacional aos desma- Pecuária e estima-se que investimentos em pes- tamentos e queimadas ilegais demanda ações de quisa e inovação serão estratégicos para apoiar inteligência, articulação e comunicação, de modo esse desafio. Para o período 2021 a 2030, o ob- a garantir a preservação dos recursos naturais e jetivo é ampliar as práticas para recuperação não comprometer as futuras exportações agríco- de pastagens degradadas em 30 milhões de las ou os serviços ecossistêmicos da floresta. Tec- hectares (Mha), o sistema de plantio direto em nologias e conhecimentos são fatores essenciais 12,5 Mha, a integração lavoura-pecuária-floresta para promover o desenvolvimento sustentável em 10 Mha e as florestas plantadas em 4 Mha, da região, fomentando uma bioeconomia sus- entre outras (Brasil, 2021b). Se alcançadas, as tentável e inclusiva e, principalmente, o aprovei- metas serão responsáveis pela mitigação de um tamento dos recursos autóctones regionais. total de 1.076 milhões de Mg CO2eq. Em relação ao uso de bioinsumos como alterna- Deve-se observar, entretanto, que, para a im- tiva aos insumos de origem fóssil, a meta esta- plementação de sistemas de produção susten- belecida visa aumentar em 13 Mha a área de sua táveis, é necessário incentivar boas práticas de aplicação, tanto para melhorar a fertilidade do produção agropecuária, não só para reduzir as solo e fixar nitrogênio, quanto para proteção de emissões de GEEs, mas também para conservar plantas contra pragas e doenças. os recursos naturais (solos, água, biodiversidade De fato, o valor total do mercado brasileiro de e florestas naturais), garantindo a produção fu- biodefensivos, a preços pagos pelos produto- tura. O combate à erosão, a recuperação de so- res, foi estimado em R$ 3,3 bilhões para a safra los degradados e a manutenção dos mananciais 2021/2022, um crescimento de 219% em relação 12 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 a 2019/2020. Analistas do mercado, como o Ins- caracterizados e protegidos, como as fontes de tituto Croplifebrasil, apontam a expectativa de água e a qualidade do solo. O avanço das ati- avanço estratégico em técnicas de controle bio- vidades humanas tem contribuído para a al- lógico com projeção da S&P Global para 2030, teração dos ecossistemas em todo o mundo e, com um volume de negócios na casa dos R$ 17 consequentemente, para a perda de espécies bilhões (Croplife, 2023). Os bioinsumos são pro- e ativos naturais. A biodiversidade é uma fonte dutos essenciais como alternativas aos produtos importante para o desenvolvimento de muitos derivados de fontes fósseis, pois promovem a produtos e serviços ecossistêmicos. Por exem- adaptação das culturas às mudanças climáticas e plo, muitas espécies podem ser estudadas e contribuem para a redução das emissões de ga- utilizadas na produção de bioinsumos, sejam ses de efeito estufa. Esses produtos devem ser in- biofertilizantes, biopesticidas ou inoculantes. tegrados em práticas certificadas e remuneradas, É ainda fundamental na manutenção da varia- que devem incluir créditos de carbono. bilidade genética de culturas e na estabilidade e no equilíbrio dos ecossistemas, devendo ha- A crise climática traz ainda o alerta para o apa- ver interesse especial na coleta, caracterização recimento de novas doenças, e grande parte e conservação das espécies biológicas, quer em delas são zoonoses transmissíveis entre seres condições in situ quer ex situ ou on farm e em humanos e animais. A última década proporcio- bancos de germoplasma. nou importantes lições sobre doenças, inclusive pandemias, e sobre seus impactos na saúde do Uma das iniciativas importantes para a conser- planeta. Como concepção inovadora em saúde vação da biodiversidade refere-se aos paga- global, a Saúde Única (One Health) busca a in- mentos por serviços ambientais (PSA). No Brasil, tegração entre as dimensões de saúde humana, com a aprovação da Política Nacional de Paga- animal, vegetal e ambiental, reconhecendo a mentos por Serviços Ambientais (Brasil, 2021a), indissociabilidade entre elas (World Health Or- as iniciativas de PSA tendem a ganhar impulso ganization, 2021). Isso é particularmente rele- e vão demandar levantamento, sistematização vante para o entendimento e a compreensão e modelagens de informações relacionadas aos dos vetores de emergência de doenças e da fun- serviços ambientais e ecossistêmicos. cionalidade do equilíbrio ecológico, bem como para a dinâmica de perigos biológicos, quími- Transição dos sistemas cos e físicos, e os eventos de transbordamento. A agenda de Saúde Única engloba a concepção, alimentares elaboração, desenvolvimento e implementa- O sistema alimentar inclui os recursos relaciona- ção de políticas públicas e privadas integradas e dos aos insumos, à produção, ao transporte, às eficazes para prevenir, responder e controlar indústrias de processamento e manufatura, ao doenças. varejo e ao consumo de alimentos, bem como Essa agenda traz desafios e oportunidades para os seus impactos no meio ambiente, na saúde a pesquisa agropecuária no que concerne ao e na sociedade (Nações Unidas, 2021). Trata-se, monitoramento de doenças zoofitossanitárias portanto, de uma visão sistêmica e que abarca e ao desenvolvimento de métodos e produtos a complexidade da produção de alimentos no para prevenção, controle ou eliminação de tais mundo, com ação de diversos atores de forma doenças. Um outro grande desafio é a manu- organizada e engajada. Além disso, a conexão tenção e conservação da biodiversidade e de entre sistemas alimentares e mudanças climáti- outros ativos naturais que devem ser mais bem cas está bastante clara, e a crise agravada pela PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 13 pandemia mostrou que o mundo não pode rios, além de políticas públicas direcionadas a manter os atuais padrões de produção e consu- mitigar a insegurança alimentar, é preciso haver mo de alimentos. O Brasil, como um país conti- inovações que promovam aumento da produ- nental, megabiodiverso e um dos maiores pro- tividade, redução de custos de produção, con- dutores e exportadores mundiais de alimentos, trole de pragas e doenças, resiliência e adapta- precisa ter protagonismo nas discussões e ações ção às mudanças do clima, redução de perdas relacionadas à transformação dos sistemas ali- e desperdícios de alimentos, além de produção mentares. de alimentos seguros, nutritivos e diversificados O maior de todos os desafios para a socie- para dietas saudáveis. dade brasileira é diminuir o número de pes- Um desafio relevante é reduzir o custo da ces- soas que sofrem de insegurança alimentar ta básica de alimentos para as famílias, objetivo ou má nutrição no País. No período de 2020 que tem sido alcançado nos últimos 50 anos, em a 2022, 10,1 milhões de brasileiros estavam parte, pelas contribuições da pesquisa agrope- em situação de fome, enquanto outros 21,1 cuária. É preciso levar em consideração as pos- milhões estavam em condições de insegu- sibilidades de redução de custos logísticos das rança alimentar grave, o que significa a falta cadeias de ciclo curto de produção/distribuição de comida durante um dia ou mais. No total, e redes agroalimentares de abastecimento, par- 33,2 milhões de pessoas encontravam-se em ticularmente em áreas urbanas e periurbanas, situação de insegurança alimentar grave ou de que podem ser importantes na redução de de- desnutrição severa (FAO, 2023b). sigualdades econômicas de áreas densamente Esse desafio está expresso no Objetivo 2: “Fome habitadas, especialmente aquelas com risco de Zero”, dos Objetivos de Desenvolvimento Sus- segurança alimentar e nutricional. tentável da ONU, que preconiza “acabar com Sob a perspectiva do nexo alimentação-nutri- todas as formas de fome e desnutrição até ção-saúde, o alimento deve prover, além da 2030, garantindo que todas as pessoas – espe- quantidade de calorias necessárias à manu- cialmente as crianças – tenham alimentos sufi- tenção da saúde, nutrientes balanceados para cientes e nutritivos durante todo o ano” (Nações os diversos sistemas do organismo humano, Unidas, 2023a). promovendo a combinação de macro e mi- Para garantir a segurança alimentar em todas cronutrientes adequada às necessidades e ao as suas dimensões, respeitando-se as preferên- bem-estar de cada fase da vida dos indivíduos. cias alimentares e especificidades dos territó- Nesse aspecto, as pesquisas deverão se apoiar Foto: monticellllo (AdobeStock) 14 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 nas áreas de nutrigenômica e nutrigenética, dade de produtores familia- Outras formas enfatizando, também, o desenvolvimento de res ou pequenos produtores. de produção que alimentos e dietas de baixo custo, utilizando Além disso, podem facili- utilizam menos partes de matérias-primas que atualmente não tar a formação de arranjos água e solo, tais são aproveitadas e outros resíduos da produ- periurbanos que encurtam os circuitos de produção- como a agricultura ção e do processamento. A pesquisa científi- ca pode contribuir para prover alimentos com -consumo, promovendo a urbana, cultivos composição enriquecida em nutrientes essen- sustentabilidade. protegidos, ciais (biofortificados) e desenvolver alternativas Como forma de agregação hidropônicos e para acompanhar as tendências de mercado de valor, é necessário pro- aeropônicos, e de produtos alternativos à carne (plant-based mover o fortalecimento de agricultura em e insetos) e novas fontes de proteínas vegetais agroindústrias, em todas as novos espaços com alto valor proteico (feijões, grão-de-bico e escalas de produção, bus- e condições, pulses em geral). cando, ao mesmo tempo, o também merecem O crescimento de nichos de consumo de algas e aproveitamento integral das a atenção da produtos cultivados em biorreatores e impressos matérias-primas e a geração pesquisa. em 3D gera novas oportunidades de pesquisa e de empregos e de renda nos de negócios. Ainda, outras formas de produção locais em que elas são obtidas. A agroindustria- que utilizam menos água e solo, tais como a agri- lização é um vetor ímpar para valorização das cultura urbana, cultivos protegidos, hidropônicos vocações locais e regionais e estabelecimento e aeropônicos, e agricultura em novos espaços e de mercados nacionais e internacionais que po- condições (cultivos/criações verticais e indoors, dem gerar valor monetário substancial, sendo agricultura espacial), também merecem a aten- decisivos para o fortalecimento das bioecono- ção da pesquisa. Será importante aproveitar mias regionais. oportunidades de parcerias com associações pro- Esforços deverão ser intensificados para a rea- fissionais (medicina, nutrição e outras), como as lização de estudos visando ao conhecimento e indústrias farmacêutica e de alimentos, de suple- ao aproveitamento sustentável de componen- mentos alimentares e de rações animais, buscan- tes da sociobiodiversidade brasileira para a con- do maior interface entre tecnologias e produtos solidação de cadeias produtivas regionais com para a saúde humana e os sistemas alimentares potencial para a inclusão socioprodutiva das correlatos. Além disso, deverão ser realizados es- comunidades locais, bem como para alcance tudos que valorizem as raízes populares e o pa- de novos mercados, a exemplo das cadeias pro- trimônio alimentar e cultural regional, definindo dutivas do açaí, do cacau e de outros produtos certificações de qualidade, indicações geográfi- amazônicos. cas e denominação de origem. Especificamente na Amazônia, entre 2017 e Também em conformidade com anseios de 2019, foram exportados 64 produtos oriundos uma parcela dos consumidores e o crescimen- de extrativismo florestal não madeireiro, de to previsto do mercado global de alimentos e sistemas agroflorestais, de pesca e piscicultura bebidas orgânicos, a pesquisa deverá intensi- e de hortifruticultura tropical, gerando receita ficar os trabalhos com agricultura orgânica e anual de aproximadamente US$ 298 milhões, agroecológica. Esses sistemas não só podem uma parcela ainda pequena (0,17%) quando fornecer alimentos livres de agrotóxicos, mas se considera a movimentação mundial desses também têm o potencial de fortalecer a ativi- mesmos produtos (Coslovsky, 2021). PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 15 Uma outra vertente relevante é o aumento da Quando se apresentam os dados do Censo escala de produção e a agregação de valor a ca- Agropecuário 2017 por estratificação de renda deias produtivas bem organizadas, como as de e participação no valor bruto da produção (VBP) carnes, laranja, soja e açúcar, que operam em dos estabelecimentos agropecuários – consi- escalas globais e contribuem para a segurança derando três estratificações: extrema pobreza, alimentar mundial. A tendência é a mesma para baixa renda e média e alta renda –, os números outras cadeias, como a do leite, da celulose, das mostram um cenário de forte concentração da frutas e outras em que o País experimenta acen- renda e da produção. Enquanto 69% dos esta- tuado crescimento. É importante considerar belecimentos classificados como em situação que o aumento da eficiência acarreta, potencial- de extrema pobreza são responsáveis por ape- mente, a produção de excedentes de vários pro- nas 4% do VBP e os 22% de baixa renda são dutos agrícolas, o que, por sua vez, requer em- responsáveis por 11% do VBP, os 9% de média e alta renda são responsáveis por 85% do VBP penho do governo na manutenção da presença (Favareto et al., 2022). do produto brasileiro nos mercados externos, assim como na busca contínua por abrir novos Para enfrentar os desafios de inclusão sociopro- espaços para destinação de tais produtos. Em dutiva, é necessário considerar a heterogenei- relação à pesquisa e inovação, esse ambiente de dade de situações existentes no País. Além dis- negócios impõe preocupação constante no in- so, é fundamental que, aliados aos esforços para tuito de assegurar o atendimento de exigências inclusão produtiva, haja outros que garantam a cada vez maiores de qualidade do que é oferta- satisfação das necessidades básicas de saúde, do, considerando a segurança dos alimentos, a infraestrutura e alimentação. Ao se ampliar o responsabilidade social e os aspectos ambien- tema para inclusão socioprodutiva, pretende- tais associados aos sistemas de produção. -se considerar não apenas o fortalecimento das capacidades econômicas e capacitação, mas as Relacionado a essa transição dos sistemas ali- demais dimensões sociais, ambientais e carac- mentares, há também um importante desafio terísticas de cada local. Os desafios enfrentados para o País, que é o da inclusão socioprodutiva nas áreas rurais demandam trabalho conjunto e e diz respeito ao número de estabelecimentos coordenado entre diferentes áreas, instituições com acesso restrito à tecnologia, ao crédito, à e atores e adaptado às necessidades e proble- assistência técnica e aos mercados. Em gran- mas regionais, territoriais e locais. de parte, esses estabelecimentos compõem o contingente afetado pela pobreza rural no Bra- sil, cujos grupos mais vulneráveis são formados Transição energética por mulheres, povos originários, comunidades A crise energética em curso, a intensificação da tradicionais e uma parcela dos agricultores fa- emergência climática e as crescentes incertezas miliares. Em relação ao uso de tecnologias, 10% políticas em todo o mundo têm aumentado a das propriedades rurais familiares com produ- pressão para acelerar a transição de uma matriz ção utilizam irrigação, 13% fazem correção do que utiliza fontes de energia com base em com- solo e 42% utilizam adubação (IBGE, 2017). Em bustíveis fósseis para uma de base em fontes relação ao acesso às tecnologias digitais, apenas renováveis, em um esforço de reduzir as emis- 33% têm acesso à internet. Além disso, somente sões de carbono. Como parte desse ambien- 18% recebem assistência técnica, o que repre- te cada vez mais complexo e interconectado, senta um importante desafio ao setor. a agricultura e todos os setores envolvidos na 16 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 geração de produtos e na prestação de serviços cuária tem buscado, por meio Em nosso país, a ela relacionados terão relevante participação de melhoramento genético 47,4% da energia na transição energética e na descarbonização convencional ou biotecnoló- utilizada é dos meios de produção brasileiros. gico (incluindo a edição gêni- obtida de fontes O Brasil tem matriz energética diferenciada de ca), aumentar a produtividade renováveis, todos os outros países no que se refere à utiliza- de biomassas para produção enquanto no ção de fontes renováveis. Em nosso país, 47,4% de etanol de primeira geração, restante do da energia utilizada é obtida de fontes renová- como cana-de-açúcar, sorgo mundo esse veis, enquanto no restante do mundo esse valor sacarino e milho, e de etanol é, em média, de 14%. De acordo com o Balanço de segunda geração, como ca- valor é, em Energético Nacional (Empresa de Pesquisa Ener- pim elefante, sorgo energia e média, de 14%. gética, 2022), em 2022, a energia gerada a partir resíduos agroindustriais. Novas da cana-de-açúcar (etanol e eletricidade) repre- matérias-primas poderão ser estudadas e intro- sentou 15,4% de toda a energia consumida no duzidas na cadeia produtiva do etanol, citando- Brasil, seguida pela energia gerada por hidrelé- -se o trigo, o triticale e outros cereais, a cana-do- tricas, que contribuiu com 12,5%. Por sua vez, a -reino, o bambu, o agave e outras espécies ricas energia proveniente de lenha e carvão vegetal em açúcares, amidos ou celulose. Para a produ- representou 9% do total, enquanto a energia de ção de biodiesel, além das matérias-primas já uti- fontes renováveis como lixívia, biodiesel e bio- lizadas e que são objeto de estudos para aumen- gás contribuiu com 7%. A energia eólica e solar to de produtividade e adaptação a diferentes representaram 2,3% e 1,2%, respectivamente. ambientes produtivos, como a soja, o dendê e a Especificamente quanto às matérias-primas para canola, há novas fontes de óleos vegetais a serem geração de biocombustíveis, a pesquisa agrope- exploradas, como camelina, carinata, macaúba, Foto: Juliano Corruli Corrêa PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 17 licuri, babaçu e outras provenientes da rica biodi- ser utilizadas para a fabricação de biodiesel, parte versidade brasileira. da soja que atualmente é utilizada para esse fim Com a perspectiva de aumento da utilização dos será liberada, aumentando o volume desse pro- biocombustíveis etanol e biodiesel nas misturas duto que pode ser direcionado para o mercado com os combustíveis fósseis automotivos, haverá externo, potencializando a obtenção de divisas necessidade de incrementar a produção desses internacionais. biocombustíveis, justificando a busca por ma- Ainda pensando em estudos que levem ao au- térias-primas de interesse e aplicação regionais. mento de fontes energéticas renováveis utiliza- Isso também deverá acontecer para suprir a utili- das no Brasil, diversas espécies florestais podem zação desses mesmos produtos na fabricação de ser utilizadas para energia, a exemplo do euca- combustíveis avançados, como o bioquerosene lipto e do pínus, ou transformadas em carvão de aviação e o biodiesel marítimo, e mesmo na vegetal. Novas matérias-primas podem ter im- produção de hidrogênio de baixo carbono e die- portância regional para abastecer grandes con- sel renovável, chamados de “verdes”. sumidores de energia fóssil, como os setores si- Ademais, a utilização de matérias-primas diferen- derúrgico, metalúrgico e cimenteiro, bem como tes da cana-de-açúcar para a produção de etanol para substituir o carvão mineral em usinas ter- permitirá a disponibilização de maior quantidade melétricas e outras instalações industriais. Tais de açúcares – sacarose, glicose e frutose – para os matérias-primas podem ser produzidas em sis- mercados interno e externo, lembrando as múl- temas florestais, agroflorestais ou de integração tiplas utilizações que esses produtos têm nas in- lavoura-pecuária-floresta ou de recuperação dústrias alimentícias, farmacêuticas, de produtos de áreas degradadas. A pesquisa agropecuária dietéticos, entre outras. Da mesma forma, se a poderá desenvolver e aprimorar sistemas des- pesquisa obtiver outras oleaginosas que possam se tipo, não só para atender às demandas do 18 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Programa ABC+ (Brasil, 2023b), mas também como “um modelo de produção e consumo que para estabelecer parceria com associações seto- envolve o compartilhamento, o arrendamento, riais ou mesmo empresas privadas que almejam a reutilização, o reparo, a reforma e a reciclagem diminuir a respectiva “pegada de carbono”. de materiais e produtos existentes o maior tem- Com a possibilidade de uso da energia elétrica po possível”. Dessa forma, o ciclo de vida dos pro- dutos é estendido (Parlamento Europeu, 2023). gerada na propriedade e da comercialização do De maneira geral, a economia circular preconiza excedente [Resolução Normativa nº 482, de 2012, o aproveitamento integral das matérias-primas da Agência Nacional de Energia Elétrica (2012)], e o conceito se aplica a todas as cadeias produti- a pesquisa agropecuária pode criar alternativas vas, com a diminuição expressiva da quantidade para a integração de fontes energéticas tanto de resíduos depositados em aterros sanitários, para pequenos quanto para grandes produtores, processados em estações de tratamento ou dis- permitindo-lhes alcançar autonomia de energia postos de outras formas no meio ambiente. Um pelo menos em parte de suas atividades. Nessa componente importante da economia circular é linha, existem os sistemas integrados de pecuária a digestão anaeróbica para produção de biogás e cana-de-açúcar, em que o bagaço pode ser uti- e biometano e de biofertilizantes em diversas lizado para queima ou para alimentação animal, situações de cadeias produtivas animais e vege- e a utilização de resíduos vegetais e animais para tais. Além disso, destaca-se a utilização desses a produção de biogás utilizado em geradores elé- produtos em substituição aos combustíveis e tricos. Da mesma forma, outras fontes de energia, fertilizantes de origem fóssil. como a hídrica, eólica e solar, podem ser utiliza- das nas atividades produtivas ou exportadas para A pesquisa agropecuária poderá ainda contribuir a rede de distribuição. para o desenvolvimento de modelos de planeja- mento que permitam minimizar, e até mesmo eli- Outros campos de conhecimento em que a pes- minar, a possível competição quisa agropecuária terá importante contribuição no uso do solo e de outros re- Com a são no desenvolvimento e na melhoria de pro- cursos para a produção de ali- possibilidade de cessos produtivos e no aproveitamento de sub- mentos e de biocombustíveis. uso da energia produtos e resíduos. No primeiro caso, podem-se A análise da realidade brasi- elétrica gerada na incentivar as parcerias com a iniciativa privada leira com seus múltiplos as- propriedade e da para estudos envolvendo as novas matérias-pri- pectos e a implementação de mas, em situações que permitam estimular a comercialização soluções específicas para cada produção local ou regional de biocombustíveis situação regional poderão le- do excedente, ou produtos derivados dos processos desenvol- var ao aumento da eficiência a pesquisa vidos. Há também a possibilidade da utilização econômica e ambiental na ob- agropecuária do gás carbônico que vier a ser capturado a partir tenção conjunta dos produtos pode criar de tecnologias CCUS (Captura, Utilização e Arma- destinados à alimentação hu- alternativas para zenamento de Carbono, na sigla em inglês), que mana e animal e dos biocom- a integração serão implantadas por diversas empresas ou con- bustíveis, com a ampliação do de fontes sórcios nacionais ou multinacionais. conceito de biorrefinarias e de energéticas No aproveitamento de subprodutos e resíduos, processamento integrado das devem-se explorar as possibilidades de mode- matérias-primas e utilização tanto para los de produção em que se maximiza o aprovei- produtiva dos subprodutos e pequenos quanto tamento das matérias-primas e da energia ne- dos resíduos, no contexto da para grandes las contidas. A economia circular é conceituada circularidade. produtores. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 19 Transformação digital e a produtividade, reduzir os custos, promover a sustentabilidade e acessar mercados, entre ou- A transformação digital pode ser definida, numa tros. Para que esses objetivos sejam alcançados, perspectiva mais ampla, como um processo de será preciso ampliar significativamente a conec- mudança fundamental na sociedade e nas di- tividade no campo e promover a capacitação de ferentes indústrias pela utilização de tecnolo- produtores e demais elos das cadeias, de modo gias digitais (Agarwal et al., 2010; Majchrzak et a não aumentar o hiato já existente entre pe- al., 2016). No âmbito organizacional, Hess et al. quenos e grandes produtores. Segundo o Cen- (2016) sugerem que as empresas devem encon- so Agropecuário de 2017 (IBGE, 2017), cerca de trar maneiras de inovar e criar estratégias que 70% dos estabelecimentos rurais do País ainda considerem a transformação digital como uma não possuíam nenhum tipo de conexão com a forma de impulsionar e melhorar seu desempe- internet. nho operacional. Vial (2021), após uma extensa revisão da literatura, considerou a transforma- As oportunidades de Pesquisa, Desenvolvimen- ção digital como um processo que visa melho- to e Inovação (PD&I) surgem no uso de senso- rar uma entidade pela mudança significativa, res, drones e satélites para coleta de dados de combinando informação, computação, comuni- condições de solo, clima, desenvolvimento das cação e conectividade. plantas e dos animais, identificação de pragas É dentro desse contexto amplo que está inserido e doenças para uma gestão mais precisa das o processo de transformação digital da agricul- operações agrícolas. A agricultura de precisão tura, que se refere ao uso de tecnologias digitais se apoia no uso de GPS, automação e análise para otimizar as práticas agrícolas e os serviços, de dados para otimizar o uso de recursos, como desde a gestão até a distribuição ao consumi- água, fertilizantes e pesticidas, reduzindo cus- dor final. Os objetivos são aumentar a eficiência tos e minimizando o impacto ambiental. A internet das coisas é utilizada na integração de dispositivos conectados à internet para monitorar Foto: 24Novembers (AdobeStock) e controlar equipamentos agrícolas, colheitas e animais. 20 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 A internet das coisas é utilizada na integração de Ao mesmo tempo em que impacta a agricul- dispositivos conectados à internet para monito- tura, a evolução tecnológica na transformação rar e controlar equipamentos agrícolas, colhei- digital também abre novas perspectivas para o tas e animais, baseando a tomada de decisões desempenho de ações de PD&I. Nesse mesmo em dados em tempo real. Máquinas e robôs au- contexto, a adoção de ferramentas de ciência de dados amplia a capacidade de qualificar os tônomos são utilizados no plantio, na colheita e dados e resultados de pesquisa e melhora o po- na manutenção, aumentando a eficiência e mi- tencial analítico, de modo a permitir interpretar, tigando a escassez de mão de obra. Os produ- organizar e processar grandes volumes de da- tores têm diversos aplicativos disponíveis para dos a partir de informações existentes. apoiar a gestão das atividades agropecuárias. Diante disso, destaca-se que as discussões so- Concomitantemente, o sistema de assistência bre a transformação digital vão além daquelas técnica e extensão rural do País caminha para o relacionadas à conectividade ou automação de uso intensivo de canais digitais. atividades da agricultura no meio real. Elas tam- bém estão relacionadas às transformações na forma como o conhecimento é produzido e apli- A inclusão dos cado no campo. Referem-se a uma necessidade empregados de repensar as formas e os meios de articular, na era digital colaborar e conduzir a atividade de pesquisa, depende de assim como as formas e os meios de comunica- programa de ção e valoração do conhecimento técnico-cien- capacitação tífico, a fim de gerar inovação e impacto, com a agilidade e efetividade requeridas em um mun- continuada, do contemporâneo pós-pandemia. planejada e de investimentos no Essa transformação na forma de produzir conhe- cimento e tecnologia requer importantes inves- capital intelectual timentos em infraestrutura de tecnologia da in- da Embrapa. formação e em recursos humanos (capacitações e contratações) e ampla revisão e melhoria dos processos organizacionais, com consequente mudança de cultura organizacional. Trata-se, portanto, de uma ação estratégica, que depen- de de decisões e ações de curto e médio prazo para gerar os resultados esperados no médio e no longo prazo. Consequentemente, reforça-se a importância de incorporar, de forma robusta, a transformação das formas de fazer pesquisa e transferência de tecnologias. A inclusão dos em- pregados na era digital depende de programa de capacitação continuada, planejada e de in- Foto: wanniwat (AdobeStock) vestimentos no capital intelectual da Embrapa, potencializando a inteligência coletiva para o aumento da eficiência e da efetividade institu- cional. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 21 Atuação e relacionamento Foto: Massonv (AdobeStock) 22 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Partes interessadas e ecossistemas de inovação A Embrapa trabalha com vários atores dos se- tores público, privado, instituições de pesquisa Ecossistemas de nacionais e internacionais e sociedade civil or- inovação e parcerias ganizada. Ao mesmo tempo, esses atores in- fluenciam ou são influenciados pela Embrapa Os fluxos de conhecimento para a inovação da agricultura provêm de diversos agentes: institu- no processo de geração de conhecimento cien- tos públicos de pesquisa, universidades, centros tífico e tecnológico para os vários públicos be- privados de pesquisa e inovação, empresas glo- neficiários da pesquisa agrícola. A efetividade bais e locais do agronegócio, startups agrícolas, do uso das soluções tecnológicas geradas de- associações e cooperativas de produtores, ór- pende essencialmente das parcerias com os de- gãos que prestam assistência técnica, entre ou- mais atores do sistema de Pesquisa, Desenvolvi- tros que podem contribuir para que a Embrapa mento e Inovação Agropecuária. cumpra sua missão. Os sistemas de PD&I podem ser entendidos Beneficiários como ecossistemas de inovação, justamente porque dependem da interação bem-sucedida As soluções disponibilizadas pela Embrapa de diferentes agentes com setores produtivos e atendem às demandas tecnológicas dos vários organizações que fomentam a inovação, com- públicos do setor agropecuário, florestal, aquí- partilham conhecimentos e recursos e regulam cola e agroindustrial, para que possam realizar as decisões. Pode-se dizer que há três grandes as suas atividades produtivas. O conhecimento tipos de ecossistemas de inovação que se de- gerado também contribui para políticas públi- senvolveram no País: cas nacionais e globais relacionadas a esses se- Globais: Envolvem fluxos predominantemente tores. Indiretamente, essas soluções beneficiam globais e internacionalizados de conhecimento, toda a sociedade brasileira e global. Entre esses normalmente (mas não exclusivamente) volta- vários públicos, temos: dos às principais commodities agrícolas. Cadeias produtivas: Inclui pequenos, médios e Nacionais e regionais: Envolvem fluxos de grandes produtores rurais, extrativistas; coope- conhecimento voltados a produtos, proces- rativas, associações e federações de agricultura, sos e serviços consolidados da pauta agro- pecuária, setor florestal, aquícola; empresas de pecuária (não apenas commodities) e de insumos, de processamento/beneficiamento/ ampla importância social e econômica para transformação. o Brasil. Consumidores em geral: Inclui os consumido- Emergentes: Envolvem fluxos predominante- res brasileiros e globais de produtos agropecuá- mente locais voltados ao desenvolvimento de rios (utilizados diretamente ou transformados novos produtos, serviços e modelos de negó- pelas diferentes cadeias), seja na população ru- cios, com amplo potencial de desenvolvimento ral ou na urbana. regional e nacional, podendo, também, se inter- Entes públicos: Inclui instituições e órgãos pú- nacionalizar. blicos em todos os níveis governamentais, no Nesse contexto, a inovação agrícola é alimenta- executivo, legislativo e judiciário. da tanto por fluxos de conhecimentos globais, PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 23 fortemente internacionalizados, que exigem res dos ecossistemas de inovação agrícola. adaptações e complementos locais, quanto por O papel diferenciado de cada ator do ecossis- fluxos nacionais, regionais e emergentes, com tema de inovação traz a necessidade de a Em- foco em realidades produtivas de natureza local presa continuamente ampliar e melhorar os re- e com especificidades territoriais. lacionamentos com seus stakeholders, já que o Assim, a Embrapa deverá interagir, de forma alcance de cada objetivo estratégico depende complementar e sinérgica, com os demais ato- da ação conjunta com esses atores. Formas de atuação com partes interessadas A ampliação da adoção de soluções tecnológicas para a sustentabilidade requer o aprimoramento das parcerias com o setor privado, especialmente com empresas de serviços relacionados ao setor agropecuário e alimentar, empresas de processamen- to agroindustrial, associações e cooperativas de produtores familiares e não familia- res e assistência técnica e extensão rural pública e privada. O relacionamento com as diferentes esferas e poderes do Estado também é importante para viabilizar a intro- dução de novas tecnologias por meio de políticas públicas. Em se tratando de geração de valor para cadeias produtivas e territórios, destaca-se a importância dos relacionamentos com órgãos de governo, nacionais e locais, e com representações das cadeias produtivas e demais atores dos ecossistemas regio- nais e setoriais de inovação, a exemplo de empresas de serviços e de processamento. No escopo de ciência e inovação para apoio a políticas públicas, são prioritárias as in- terações com os poderes executivo e legislativo federais ou estaduais, e com as insti- tuições internacionais ligadas à agricultura, meio ambiente e desenvolvimento rural. Como empresa pública, a atuação da Embrapa precisa ser acompanhada pela so- ciedade. Nesse contexto, aprimorar o controle social e nossa conexão com a socie- dade, por meio de ações de comunicação, passa pelo aperfeiçoamento da nossa capacidade de mostrar os resultados e impactos da atuação da Empresa, bem como de captar, continuamente, as expectativas e visões da sociedade. Dessa maneira, a transparência perante os órgãos de controle e meios de comunicação é necessária e deve ser contínua. Internamente, é fundamental destacar a rede de pessoas nas Unidades da Embrapa como stakeholder prioritário em todo o escopo de atuação da Empresa. Esse con- junto de competências é uma riqueza organizacional, que se traduz em vantagem comparativa nos ecossistemas de inovação onde atuamos. O engajamento e a coor- denação dos atores da rede Embrapa são elementos fundamentais para o alcance da nossa visão. 24 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Missão, visão e valores Missão Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustenta- bilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira. Visão Ser protagonista e parceira essencial na geração e no uso de conhecimentos para o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira até 2030. Valores Com base nesses pilares, os valores que balizam as práticas e os comporta- mentos da Embrapa e de seus integrantes são: Confiança e integridade: Somos confiáveis porque cultivamos e praticamos o comportamento ético e moral em todas as nossas ações, garantindo inte- gridade à nossa empresa. Respeito: Somos abertos ao novo e acreditamos tanto no crescimento pes- soal quanto no crescimento profissional a partir do respeito à diversidade de pessoas e opiniões. Cooperação: Buscamos interagir com todos os estratos geradores de conhe- cimento e de tecnologia e com todos os beneficiários a partir da geração de impacto por meio das tecnologias desenvolvidas por nós e nossos parceiros. Inovação: Buscamos soluções criativas e inovadoras que agreguem valor aos produtos e serviços que desenvolvemos. Excelência: Somos comprometidos com a realização do nosso trabalho e em- penhados em entregar os melhores resultados com alto grau de qualidade. Responsabilidade socioambiental: Buscamos alavancar o bem-estar socio- econômico da população brasileira em harmonia com o meio ambiente, por meio de conhecimentos e soluções inovadoras que contribuam para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 25 Escolhas estratégicas Foto: freeman83 (AdobeStock) 26 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Objetivos estratégicos A estratégia representada pelo conjunto de temas alimentares, a transição energética e a re- Objetivos Estratégicos (OEs) selecionados é in- volução digital. Reforçando uma visão sistêmica, fluenciada por políticas nacionais e globais em os objetivos estão inter-relacionados às dimen- vigência, assim como pela ação e estratégias sões da sustentabilidade, abordando os nexos e dos parceiros e outros atores envolvidos nos a complexidade da realidade na interação dos as- ecossistemas de inovação, além das demandas pectos econômicos, sociais e ambientais. Há OEs dos beneficiários. Por sua vez, a estratégia da que se conectam mais claramente à dimensão Embrapa, embasada por sua missão, visão e va- econômica da sustentabilidade, enquanto outros lores, também vai influenciar políticas, parceiros abordam com ênfase diferenciada os desafios so- e beneficiários, contribuindo para resiliência e cioeconômicos ou as questões relacionadas ao prontidão para desafios futuros. meio ambiente e à resiliência à mudança do cli- As três dimensões básicas da sustentabilidade – ma, considerando os diferentes públicos, escalas social, econômica e ambiental – vêm sendo tra- e abrangência territorial da agricultura nacional. balhadas na Embrapa desde a década de 1980, Finalmente, os dois últimos objetivos abordam quando foram realizados os primeiros exercí- a dimensão institucional, a qual está relacionada cios de planejamento estratégico. Entretanto, a uma transição cultural e transformação digi- nos últimos anos, a sustentabilidade do setor tal corporativa, que fortaleçam a capacidade de agropecuário brasileiro tornou-se um pressu- colaboração interna e externa da rede Embrapa, posto para sua competitividade global, princi- buscando sempre a excelência e a efetividade palmente no contexto desafiador da mudança nas atividades e resultados da Empresa. do clima e consequente necessidade de descar- Os OEs devem ser vistos e compreendidos na bonização das economias. Esse entendimento é perspectiva de interdependência e transver- reforçado pela lógica sistêmica da Agenda 2030 salidade entre eles. Essa característica permite e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentá- analisar as contribuições e os resultados gera- vel (Nações Unidas, 2015), em que a agricultura dos na Embrapa de forma dinâmica e multidi- sustentável e a alimentação saudável figuram mensional. Além disso, a construção do con- com inequívoca centralidade. junto dos OEs obedece premissas básicas de Dessa maneira, a sustentabilidade da agricultu- perenidade no tempo, considerando o horizonte ra é o fio condutor para o conjunto de OEs deste 2024–2030. A complexidade das contribuições Plano Diretor, traçando o futuro no pano de fun- para o processo de inovação é abarcada pela ca- do da emergência climática e da transição dos sis- racterística de abrangência de cada OE. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 27 Mapa da Estratégia O Mapa da Estratégia é uma representação de Esse contexto externo de drivers e atores in- como as escolhas estratégicas do PDE 2024- fluencia de forma dinâmica o direcionamento 2030 estão integradas ao contexto externo. e as prioridades da Empresa que, por sua vez, As transições globais são forças que afetam contribui para resolução de desafios científicos e todo o ambiente de atuação da Embrapa e tecnológicos, para políticas públicas e para ino- seus parceiros e as políticas nacionais/globais vação tecnológica, social e institucional nos ecos- vigentes e em elaboração. Ainda, os beneficiá- sistemas de inovação dos quais participa, em rios e parceiros podem ser vistos tanto como um intercâmbio de conhecimentos que permite fontes de demandas, oportunidades e desa- avanços e também mudanças de rumo. Na parte fios, quanto como destino de conhecimentos central do Mapa da Estratégia estão duas cama- Mapa Estratégico gerados e soluções em um processo constante das representando os OEs finalísticos e de gestão. de trocas. Na base, representando a identidade da Embra- pa, estão a missão, a visão e os valores. Transições Globais Tecnologias Recursos Naturais Emergentes e Mudança e Disruptivas do Clima Tendências de Fortalecimento Segurança Consumo e e Modernização Alimentar e Agregação Institucional Saúde Única de Valor Beneficiários Políticas Nacionais e Parceiros e Globais Transformação Digital Inclusão Produção Socioprodutiva Sustentável e e Digital Competitividade $ Bioeconomia e Economia Circular Missão Visão Valores Ilustração: Renato Berlim Fonseca. 28 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Produção Sustentável Gerar soluções tecnológicas e oportunidades de e Competitividade inovação para promover a sustentabilidade, a produtividade e a competitividade da agropecuária nacional. Especificações Métricas e indicadores de sustentabilidade: Desenvolver ou aperfeiçoar métricas e indica- Aumento de eficiência produtiva: Desenvol- dores de sustentabilidade relacionados aos sis- ver ações de PD&I que apoiem o uso eficiente temas de produção, como base para políticas dos recursos naturais, reduzam a dependência públicas, certificações, captação de investimen- do uso de insumos, diminuam os custos de pro- tos e para comunicação estratégica, contribuin- dução e contribuam para aumento da eficiência do para a construção e manutenção de imagem produtiva de sistemas agropecuários (incluindo positiva da agropecuária brasileira diante da co- sistemas integrados, aquícolas, e agroflorestais) munidade internacional. nos diferentes biomas e regiões. Aplicação de novas tecnologias: Desenvolver e transferir tecnologias voltadas para a sustentabi- lidade e a competitividade da agropecuária, uti- lizando, entre outros, recursos genéticos, biotec- nologias, nanotecnologias, materiais avançados, geotecnologias, ciência de dados, ciências cogni- tivas e comportamentais e inteligência artificial. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 29 Recursos Naturais e Gerar conhecimentos, tecnologias e informações Mudança do Clima para o uso racional dos recursos naturais dos biomas brasileiros e o enfrentamento e mitigação das mudanças do clima. Especificações Conservação de recursos genéticos: Desenvol- ver estudos e a contínua adaptação de recursos Redução da pressão sobre os biomas: Gerar e genéticos diante das mudanças climáticas, com disseminar soluções tecnológicas que visem ao base na manutenção de espécies, variedades e uso sustentável dos recursos naturais, à redu- práticas tradicionais e por meio da conservação ção da pressão sobre os biomas, à proteção da in situ e on farm sob a guarda de indígenas, po- biodiversidade, à recuperação de áreas degra- vos tradicionais, extrativistas, pescadores, ribei- dadas, à restauração de ecossistemas em apoio rinhos, quilombolas e agricultores familiares e à sustentabilidade dos sistemas produtivos e à ex situ em bancos de germoplasma. manutenção dos serviços ecossistêmicos. Práticas resilientes: Contribuir para a adoção Tecnologias para adaptação à mudança do cli- de boas práticas de conservação dos recursos ma: Gerar conhecimento e implementar avan- naturais dos ecossistemas terrestres e áreas ma- ços tecnológicos em ritmo e intensidades ca- rinhas e costeiras, fortalecendo a capacidade de pazes de se contrapor aos efeitos negativos da adaptação às mudanças do clima e às condições mudança do clima, de acordo com as especifici- extremas como secas, inundações, ciclones e dades regionais e territoriais. outros fenômenos naturais. Agricultura conservacionista: Incentivar a uti- lização de práticas agrícolas sustentáveis que preservem, mantenham e regenerem os ele- mentos da biosfera. Dados dos recursos naturais: Coordenar pes- quisas orientadas para a coleta e análise de dados dos recursos naturais (solo, água, biodi- versidade, florestas naturais, recursos minerais), mapeamento e monitoramento sistemático do território nacional, com foco na ocupação agrí- cola racional e apoio a políticas públicas. Paisagem agrícola, biodiversidade e serviços ecossistêmicos: Gerar e disponibilizar dados, informações e indicadores sobre a relação entre a paisagem agrícola, a conservação da biodiver- sidade e os serviços ecossistêmicos. 30 PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 Tendências de Consumo Gerar conhecimentos e tecnologias que promovam e Agregação de Valor a agregação de valor e a diversificação de produtos, processos e serviços oriundos das cadeias agropecuárias, florestais e agroindustriais, explorando as novas tendências de consumo. Especificações Demandas por novos produtos alimentares: Desenvolver novos produtos e tecnologias a partir de demandas do mercado consumidor, considerando atributos de saudabilidade, segu- rança, conveniência, vida útil, qualidades nutri- cionais, funcionais e sensoriais. Tecnologias relacionadas a fontes de proteí- nas: Desenvolver produtos plant-based; novas fontes de proteínas vegetais com alto valor pro- teico (feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico, en- tre outros); alimentos e rações animais à base de algas e microalgas, insetos comestíveis; carne cultivada; alimentos impressos em 3D. Agregação de valor ao modo de produção e/ou território: Agregar valor a produtos oriun- dos de sistemas de produção agroecológica ou orgânica, produtos da agrosociobiodiversidade; processamento de produtos da agricultura fa- miliar; atributos de origem, identidade genética e cultural; agroturismo e enoturismo, incluindo os produtos alimentares diferenciados e o turis- mo gastronômico. Valorização de atributos relacionados à sus- tentabilidade: Contribuir para a geração de conhecimentos relacionados às práticas de pro- dução e processamento que considerem o bem- -estar animal, a redução do impacto ambiental, a responsabilidade social e o comércio justo; apoio a políticas públicas para rastreabilidade, certificações, regramentos mínimos para segu- rança do consumidor; circularidade em todas as cadeias produtivas. PLANO DIRETOR DA EMBRAPA 2024–2030 31 Fortalecer a capacidade Segurança Alimentar de apoio à segurança e e Saúde Única soberania alimentar e à Saúde Única, gerando alimentos saudáveis em sistemas agrícolas sustentáveis. Especificações Produção de alimentos seguros: Gerar e disse- minar conhecimentos integrados para a produ- Parcerias para o acesso ao alimento de qualida- ção de alimentos seguros nos biomas brasilei- de: Contribuir para o acesso ao alimento de qua- ros, com base no uso correto de agroquímicos, lidade, seguro e promotor de saúde para os pú- antimicrobianos e antiparasitários associados a blicos e regiões mais vulneráveis, considerando a alternativas de controle, e apoiando a conscien- parceria com diferentes atores públicos e privados. tização dos produtores para o emprego adequa- Redução de perdas e desperdício de alimen- do dos insumos agropecuários. tos: Ampliar a eficiência do sistema produtivo Abordagens para Saúde Única: Fomentar abor- de alimentos por meio da redução das perdas dagens em PD&I que reconheçam e considerem e do desperdício de alimentos, em todas as eta- a interconexão da saúde humana, de plantas, de pas das cadeias de produção. animais e do meio ambiente na construção de Dieta brasileira: Desenvolver e disseminar so- soluções tecnológicas e políticas públicas para luções tecnológicas para as cadeias produtivas o setor agropecuário. dos alimentos que formam a base da dieta bra- sileira, considerando-se as especificidades re- gionais e nutricionais. Agricultura urbana e periurbana: Prover co- nhecimento e tecnologias para as agricultu