Os Axiomas de Zurique (2016) - PDF

Summary

Este livro, "Os Axiomas de Zurique", de Max Gunther (2016), apresenta um guia sobre investimentos e como lidar com riscos em apostas e especulações. O autor descreve os Axiomas, regras para administrar riscos e aumentar as probabilidades de ganhos em diferentes cenários, incluindo o mercado de ações e outros tipos de investimentos.

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Tradução de ISAAC PILTCHER 1ª edição Rio de Janeiro | 2016 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G985a Gunther, Max Os axiomas de Zurique [recurso eletrônico] / Max Gunther ; tradução I...

Tradução de ISAAC PILTCHER 1ª edição Rio de Janeiro | 2016 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G985a Gunther, Max Os axiomas de Zurique [recurso eletrônico] / Max Gunther ; tradução Isaac Piltcher. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Best Business, 2016. recurso digital Tradução de: The Zurich axioms Formato: epub Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: world wide web ISBN 978-85-6890-546-3 (recurso eletrônico) 1. Investimentos - Análise. 2. Ações (Finanças). 3. Especulação (Finanças). 4. Livros eletrônicos. I. Piltcher, Isaac. II. Título. 16-34175 CDD: 332.63228 CDU: 336.761 Os Axiomas de Zurique, de autoria de Max Gunther. Texto revisado conforme o Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa. Primeira edição impressa em julho de 2016. Título original inglês: THE ZURICH AXIOMS Copyright © 1980, 1985 Max Gunther. Publicado originalmente no Reino Unido por Harriman House Ltd. em 2005, www.harriman-house.com. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito da editora, sejam quais forem os meios empregados. Design de capa: Leonardo Iaccarino. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela Best Business, um selo da Editora Best Seller Ltda. Rua Argentina 171 - 20921-380 - Rio de Janeiro, RJ - Tel.: (21) 2585-2000 que se reserva a propriedade literária desta tradução. Produzido no Brasil ISBN 978-85-6890-546-3 Seja um leitor preferencial Best Business. Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções. Atendimento e vendas diretas: [email protected] ou (21) 2585-2002. Escreva para o editor: [email protected] www.record.com.br Sumário Introdução: O que são e como foram criados O 1º Grande Axioma: DO RISCO O 2º Grande Axioma: DA GANÂNCIA O 3º Grande Axioma: DA ESPERANÇA O 4º Grande Axioma: DAS PREVISÕES O 5º Grande Axioma: DOS PADRÕES O 6º Grande Axioma: DA MOBILIDADE O 7º Grande Axioma: DA INTUIÇÃO O 8º Grande Axioma: DA RELIGIÃO E DO OCULTISMO O 9º Grande Axioma: DO OTIMISMO E DO PESSIMISMO O 10º Grande Axioma: DO CONSENSO O 11º Grande Axioma: DA TEIMOSIA O 12º Grande Axioma: DO PLANEJAMENTO Introdução O que são e como foram criados os Axiomas Vejam o quebra-cabeça que é a Suíça. Essa minha terra ancestral é um lugarejo pedregoso, com uma área menor que a do estado do Rio de Janeiro. Não tem 1 centímetro de litoral. É uma das terras mais pobres em minerais que se conhece. Não tem uma gota de petróleo que possa chamar de sua e mal consegue um saco de carvão. Quanto à agricultura, o clima e a topogra a são inóspitos a quase tudo. Há trezentos anos a Suíça se mantém fora das guerras europeias, principalmente porque, durante todo esse tempo, não apareceu um invasor sequer que realmente a quisesse. Com tudo isso, os suíços estão entre as pessoas mais ricas do mundo. Em renda per capita, comparam-se aos norte-americanos, alemães e japoneses. Sua moeda é das mais fortes do mundo. Como conseguem isso? Conseguem-no porque são os investidores, especuladores e jogadores mais espertos do mundo. O assunto deste livro é apostar para ganhar. Isso talvez dê a impressão de que se trata de um livro para todo mundo. Não é. Claro, todo mundo quer ganhar; mas nem todos querem apostar, e é aí que reside uma diferença da maior importância. Muita gente, a maioria provavelmente, quer ganhar sem apostar. Esse é um desejo perfeitamente compreensível, e não há nada de errado com ele. Na verdade, muitos dos mais antigos ensinamentos sobre a Ética do Trabalho frisam bem isso. Dizem-nos que correr riscos é uma tolice. Uma pessoa prudente não corre riscos maiores que os exigidos pelos termos básicos da existência humana. Viver bem é ganhar a vida com o suor do próprio rosto — algo meio aborrecido, talvez, mas seguro. Mais vale um pássaro na mão... Bem, as regras do jogo são muito claras. Se você é contra o jogo por motivos losó cos, encontrará pouca coisa útil neste livro — a menos, é claro, que ele mude sua maneira de pensar. Mas, se não é totalmente contrário a assumir riscos razoáveis — melhor ainda, se gosta de se arriscar, como os suíços gostam —, este livro foi feito para você. Os Axiomas de Zurique trata de riscos e de como administrá-los. Se você estudar os Axiomas com a atenção que merecem, eles serão capazes de possibilitar que ganhe mais apostas do que acreditava ser possível. Vamos falar claro: com eles, você pode car rico! Aqui são abordadas as apostas no sentido mais amplo. Você verá o mercado de ações mencionado com frequência porque é daí que vem a maior parte de minha experiência, mas o livro não se limita a esse grande mercado de sonhos. Os Axiomas se aplicam às especulações com mercadorias, metais preciosos, arte, antiguidades e imóveis; às marchas e contramarchas do dia a dia dos negócios; aos jogos de cassino ou de mesa. Em resumo, os Axiomas se aplicam a qualquer situação em que você arrisque dinheiro visando ganhar mais dinheiro. Qualquer adulto sabe que a vida é um jogo. Muitos, provavelmente a maioria, sentem-se bastante infelizes com esse fato e passam a vida buscando meios e modos de aceitar o menor número de apostas possível. Outros, porém, fazem justamente o contrário. Entre estes estão os suíços. Nem todos os suíços exibem esse traço, é claro, mas os que o exibem são grande número. O su ciente, com certeza, para permitir generalizações sobre o caráter nacional dos cidadãos desse país, que não se transformaram nos banqueiros do mundo por carem escondidos em quartos escuros, roendo as unhas, mas por enfrentarem riscos de frente, e tratando de descobrir meios de administrá-los. Do alto de suas montanhas, os suíços olham o mundo à sua volta e veem-no cheio de riscos. Sabem que é possível a uma pessoa reduzir ao mínimo os riscos que corre, mas também sabem que, se zer isso, tal pessoa estará abandonando toda esperança de vir a ser algo além de um rosto na multidão. Na vida, para qualquer espécie de ganho — em dinheiro, em estatura pessoal, o que quer que se de na como “ganho” —, você tem de arriscar um pouco de seu capital material e/ou emocional. Tem de comprometer dinheiro, tempo, amor, alguma coisa. Essa é a lei do universo. A não ser por pura sorte, não há como escapar. Nenhuma criatura na face da Terra está isenta de obedecer a essa lei impiedosa. Para se tornar borboleta, a lagarta precisa engordar, e é obrigada a se aventurar por onde há passarinhos. Não tem apelação: é a lei. Observando isso, os suíços concluíram que a maneira sensata de levar a vida não é fugindo dos riscos, mas expondo-se deliberadamente a eles. É entrar no jogo. Apostar. Mas não à maneira irracional da lagarta. Ao contrário: apostar com cautela e deliberação; apostar de tal maneira que grandes ganhos sejam mais prováveis que grandes perdas — apostar e ganhar. Isso é possível? Com toda a certeza. Existe uma fórmula para consegui-lo. “Fórmula” talvez não seja a palavra adequada, uma vez que sugere ações mecânicas e ausência de opções. Melhor seria dizer “ loso a”. Essa fórmula, ou loso a, consiste de 12 profundas e misteriosas regras para se assumirem riscos, os chamados “Axiomas de Zurique”. Atenção: ao primeiro contato, os Axiomas são um pouco assustadores. Não são do tipo de conselhos sobre investimentos que a maioria dos assessores costuma oferecer. Na realidade, contradizem alguns dos mais estimados clichês da indústria do aconselhamento nanceiro. A maioria dos especuladores suíços bem-sucedidos dá pouca atenção aos conselhos convencionais sobre investimentos. O sistema deles é melhor. A expressão “Axiomas de Zurique” foi cunhada em um clube de suíços que operavam em mercadorias e ações, e que se estabeleceu à volta de Wall Street, depois da Segunda Guerra Mundial. Meu pai foi um dos fundadores. Bem, não era exatamente um clube, pois não tinha estatutos, não se pagava mensalidade nem havia uma lista de sócios. Era apenas um grupo de homens e mulheres que se davam bem, queriam car ricos e partilhavam da convicção de que ninguém jamais cou rico por meio do salário. Encontravam-se de vez em quando no Oscar’s, no Delmonico e em outros bares de Wall Street. Esses encontros continuaram ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970. Conversavam sobre muitos assuntos, mas principalmente sobre riscos. O trabalho de codi car os Axiomas de Zurique começou com uma pergunta que z a meu pai e ele não soube responder. Meu pai era um banqueiro suíço, nascido e criado em Zurique. Na certidão de nascimento, seu nome era Franz Heinrich; na América, porém, todos o chamavam de Frank Henry. Quando morreu, há alguns anos, os obituários deram grande destaque ao fato de ele dirigir a lial de Nova York do Schweizer Bankverein — o gigante nanceiro de Zurique, a União de Bancos Suíços. O trabalho era importante para ele, mas certa vez me disse o que realmente queria gravado em sua lápide: “Ele apostou e ganhou.” Começamos a conversar sobre especulação quando eu ainda estava no ensino médio. Ele pegava o meu boletim e reclamava que a grade curricular era incompleta: “Não ensinam aquilo de que você mais precisa: especulação. Como correr riscos e ganhar. Um garoto se criar na América sem saber especular... nossa... é o mesmo que estar em uma mina de ouro e não ter uma pá.” Quando eu estava na faculdade, e depois, prestando serviço militar, tentando decidir o que fazer na vida, escolhendo qual carreira seguir, Frank Henry dizia: “Não pense apenas em termos de salário. Ninguém ca rico com salário, e há muita gente que ca pobre. Tem que ter mais do que isso. Algumas boas especulações, é disso que você precisa.” En m, uma conversa tipicamente suíça. O fato é que absorvi essas coisas como parte de minha educação. Quando dei baixa, com algumas centenas de dólares de soldos atrasados e ganhos de pôquer, segui os conselhos de Frank Henry e passei longe das cadernetas de poupança, pelas quais ele nutria o mais profundo desprezo. O dinheiro foi para a Bolsa de Valores. Ganhei um pouco, perdi um pouco, e acabei saindo mais ou menos como havia entrado. Enquanto isso, na mesma Bolsa, Frank Henry fazia um carnaval. Entre outros negócios, ganhou uma fábula em ações de minas de urânio no Canadá, loucamente especulativas. “Como se explica isso?”, perguntei, chateado. “Eu invisto com toda a prudência e não acontece nada. Você compra pastagens de alces e ca rico. Há algo que não estou percebendo?” “É preciso saber fazer a coisa”, disse ele. “Tudo bem. Então, me ensine.” Meu pai cou me olhando, calado, pensativo. Como quei sabendo depois, o que ele tinha na cabeça eram regras do jogo especulativo, absorvidas ao longo de uma vida inteira. São regras que pairam no ar, entendidas, mas raramente enunciadas, nos círculos de banqueiros e especuladores suíços. Tendo vivido nesses círculos desde que conseguira seu primeiro emprego como auxiliar de escritório, aos 17 anos, Frank Henry tinha tais regras entranhadas nos ossos. Mas não era capaz de especi cá- las, nem de me explicar como funcionavam. Conversou a respeito com outros suíços que também operavam em Wall Street. Esses seus amigos tampouco sabiam exatamente quais regras eram essas. Mas, a partir desse momento, tomaram para si a tarefa de isolá-las e classi cá-las em suas mentes. Começou como uma brincadeira, mas, à medida que os anos se passavam, a coisa foi cando mais séria. Criaram o hábito de questionar a si próprios e uns aos outros sobre as manobras especulativas mais importantes: “Por que está comprando ouro agora?”, “O que o fez vender essa ação quando está todo mundo comprando?”, “Por que está fazendo isto, e não aquilo?”... Obrigavam-se, mutuamente, a elaborar as ideias que os guiavam. A lista de regras foi evoluindo aos poucos. Foi cando menor, e as regras mais aguçadas, mais bem-formuladas, com o passar do tempo. Ninguém se recorda quem criou a expressão “Axiomas de Zurique”, mas foi assim que as regras se tornaram conhecidas até hoje. Nos últimos anos, os Axiomas não mudaram muito. Cessaram de evoluir. Como se sabe, estão hoje em sua forma nal: 12 Grandes Axiomas e 16 Axiomas Menores. O valor deles me parece incalculável, e aumenta a cada vez que os estudo — um sinal seguro de sua verdade fundamental. São ricos em camadas secundárias e terciárias de signi cado; alguns são friamente pragmáticos, enquanto outros beiram o misticismo. Não são apenas uma loso a da especulação: são marcos para uma vida de sucesso. E enriqueceram muita gente. 1.O 1º Grande Axioma: DO RISCO Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante. Há muitos anos, duas jovens formadas pela mesma universidade resolveram buscar juntas as suas fortunas. Foram para Wall Street e trabalharam em diversos empregos. Ambas acabaram como funcionárias da E. F. Hutton, uma das maiores corretoras do mercado. Foi assim que conheceram Gerald M. Loeb. Falecido há anos, Loeb foi um dos mais respeitados assessores de investimentos do mercado. Aquele gênio calvo era um veterano das diabólicas baixas da década de 1930 e das fantásticas altas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. E, ao longo disso tudo, manteve a cabeça fria. Nasceu pobre, morreu rico. Seu livro The Battle for Investment Survival [A batalha pela sobrevivência em investimentos, em tradução livre] talvez seja a cartilha mais popular sobre estratégia de mercado já escrita. É, com certeza, das que se leem com o maior prazer, pois Loeb era um contador de histórias nato. Ele contou a história das duas jovens certa noite, quando jantávamos em um restaurante perto da Bolsa. Chamava a atenção para um aspecto, que Loeb achava importante assinalar, a respeito de correr riscos. Tímidas, as jovens o procuraram pedindo conselhos sobre investimentos. Foram conversar com ele em diferentes ocasiões, mas Loeb sabia que eram muito amigas e, com certeza, comparariam o que lhes dissesse. No começo, a situação nanceira das duas era idêntica. Haviam iniciado carreiras promissoras e, em questões de salário e de status, faziam progressos modestos. Seus salários começavam a ser mais do que precisavam para cobrir as necessidades básicas de suas vidas. A cada ano, depois do acerto com o Imposto de Renda, sempre sobrava alguma coisa. Embora não fosse muito, era o su ciente para deixá-las preocupadas acerca de onde investir tais economias, pois, ao que tudo indicava, no futuro haveria mais. Perguntaram a Gerald Loeb o que fazer. Tomando chá com torradas em um de seus lugares favoritos, o paternal Loeb tentou lhes explicar as diferentes possibilidades. Rapidamente, porém, tornou-se evidente que ambas já haviam decidido. O que procuravam era tão somente a con rmação de que estavam certas. Ao contar essa história, Loeb, maliciosamente, chamava uma de Sylvia, a Sóbria, e a outra de Mary, a Louca. Em termos nanceiros, a ambição de Sylvia era encontrar o abrigo da segurança absoluta. Queria seu dinheiro em uma conta remunerada ou em outra espécie de poupança que lhe garantisse retorno e preservação do capital. Mary, por outro lado, aceitava certos riscos, esperando fazer crescer seu pouco capital de forma mais signi cativa. Levaram adiante suas respectivas estratégias. Um ano depois, Sylvia tinha seu capital intacto, os juros e uma gostosa sensação de segurança. Mary andava toda esfolada. Tomara uma surra em um mercado tumultuado. Desde a compra inicial, suas ações haviam caído cerca de 25%. Sylvia foi generosa o bastante para não espezinhar a outra com um “Eu não disse?”. Ao contrário, mostrou-se horrorizada: “Que coisa terrível!”, exclamou, ao tomar conhecimento das desventuras da amiga. “Nossa, você perdeu um quarto do seu dinheiro! Que horror!” Como acontecia às vezes, os três almoçavam juntos. Loeb observava Mary com toda a atenção. Ficou quieto, à espera da reação dela às manifestações de solidariedade de Sylvia. Temia que as primeiras perdas desencorajassem Mary, fazendo-a sair do jogo, como acontece com muitos especuladores neó tos. (“Todos esperam grandes ganhos instantâneos”, dizia ele, lamentando-se. “Quando não triplicam o dinheiro no primeiro ano, saem batendo portas como crianças mimadas.”) Mary, porém, tinha garra. Sem se abalar, sorriu: “Pois é... tive prejuízo. Mas veja só o que mais eu consegui...” Reclinou-se sobre a mesa, aproximando-se da amiga: “Sylvia, eu estou vivendo uma aventura!” A maioria das pessoas se agarra à segurança como se fosse a coisa mais importante do mundo. E a segurança parece ter muito a seu favor. Faz com que a pessoa se sinta protegida; é como estar sobre uma cama quentinha em noite de inverno. Cria uma sensação de tranquilidade. A maioria dos psicólogos e psiquiatras da atualidade diria que isso é bom. Uma das principais convicções da psicologia moderna é que a sanidade mental signi ca, acima de tudo, manter-se calmo. Essa pouco examinada convicção domina, há décadas, o pensamento analítico. Um dos primeiros livros a tratar desse dogma chama-se How to Stop Worrying and Start Living [Como evitar preocupações e começar a viver, em tradução livre], enquanto The Relaxation Response [A reação relaxada, em tradução livre] é um dos mais recentes. Os analistas garantem que as preocupações nos fazem mal. Eles não oferecem nenhuma prova con ável de que tal assertiva seja verdadeira. Ela se transformou em verdade aceita simplesmente por ser repetida in nitas vezes. Os devotos de disciplinas místicas e meditacionais, especialmente as asiáticas, vão mais longe. Valorizam tanto a tranquilidade que, em muitos casos, estão dispostos até a suportar a pobreza em seu nome. Algumas seitas budistas, por exemplo, a rmam que não se deve lutar pela posse de bens materiais e que a pessoa deve até abrir mão dos que possui. A teoria diz que, quanto menos o indivíduo tiver, menos terá com que se preocupar. É claro que a loso a dos Axiomas de Zurique diz exatamente o oposto. Libertar-se de preocupações pode até ser uma coisa boa, em certo sentido. Mas qualquer bom especulador suíço lhe dirá que, se seu principal objetivo na vida é fugir das preocupações, você nunca deixará de ser pobre. E vai morrer de tédio. A vida é para ser vivida como uma aventura, e não de maneira vegetativa. E é possível de nir aventura como um episódio no qual se enfrenta algum tipo de risco e se procura superá-lo. Ao enfrentar riscos, sua reação natural, sadia, será a de entrar em um estado de preocupação. Preocupações são parte integrante dos grandes prazeres da vida. Casos de amor, por exemplo. Se você teme se comprometer e assumir riscos, jamais se apaixonará. Sua vida será calma como um lago azul, mas quem quer viver assim? Outro exemplo: os esportes. Um acontecimento esportivo é um episódio no qual os atletas e, por tabela, os espectadores se expõem a riscos — com os quais se preocupam loucamente. Para a maioria dos espectadores, é uma pequena aventura, mas, para os atletas, trata-se de uma aventura de grandes proporções. É uma situação em que o risco é cuidadosamente criado. Nós não iríamos assistir a eventos esportivos, nem a qualquer outra competição, se não nos dessem alguma forma de satisfação básica. Precisamos de aventuras. Às vezes, talvez precisemos também de tranquilidade. Mas isso não nos falta à noite, quando dormimos, nem em algumas horas que passamos acordados, na maioria dos dias. Em 24 horas, oito ou dez de tranquilidade deveriam ser su cientes. Sigmund Freud compreendia a necessidade de aventura. Embora se mostrasse confuso com o “objetivo” da vida e tivesse tendência a se perder em incoerências quando tratava do assunto, ele não tinha a improvável convicção de que o objetivo da vida é ter calma. Muitos de seus discípulos acreditavam nisso, mas não ele. Na realidade, fazia até algum esforço para ridicularizar a ioga e outras disciplinas psicorreligiosas asiáticas, que considerava as expressões máximas da escola de sanidade mental que tem o “mantenha a calma” por princípio. Na ioga, o objetivo é alcançar a paz interior à custa de tudo mais. Como Freud observou em O mal-estar na civilização, qualquer pessoa que alcance plenamente os objetivos de uma tal disciplina “sacri cou sua vida”. Em troca de quê? “Terá apenas alcançado a felicidade da quietude.” Parece mau negócio. A aventura é que dá sabor à vida. E a única maneira de viver uma aventura é expondo-se a riscos. Gerald Loeb sabia disso. Daí não poder aprovar a decisão de Sylvia, a Sóbria, de pôr seu dinheiro na poupança. Mesmo quando os juros estão relativamente mais altos, qual é o lucro? No começo do ano, você entrega US$100 ao banqueiro. No m do ano, ele lhe devolve US$109. Grande vantagem! Fora a chatice. É bem verdade que, em qualquer país civilizado, em um banco sério, seus US$100 estão seguros. A menos que ocorra uma grande calamidade econômica, você não perderá nada. No decorrer do ano, os juros podem baixar um pouquinho, mas o banqueiro jamais lhe devolverá menos que os US$100 originais. Mas onde está a graça? Onde está o desa o? Onde está a emoção? E, principalmente, onde está a esperança de car rico? Além do mais, sobre os juros — os US$9 —, cobra-se imposto de renda. O que sobrar deve dar para empatar com a in ação, quando muito. Desse modo, você jamais conseguirá qualquer mudança substancial em sua situação nanceira. Tampouco cará rico com salário. É impossível. A estrutura econômica mundial está montada contra você. Se um emprego for a base de seu sustento, o máximo que você pode esperar é passar pela vida sem ter de mendigar um prato de comida. E nem isso é garantido. Por mais estranho que possa parecer, a maioria dos homens depende exatamente de salários e de alguma economia a que possa recorrer em caso de emergência. Frank Henry vivia se irritando com o fato de a classe média ser inexoravelmente empurrada nessa direção, por questão de educação e de condicionamento social. “Nem a criançada escapa”, costumava resmungar. “Professores, pais, orientadores, todo mundo ca martelando na cabeça da criança: faça seu dever ou não vai arranjar um bom emprego. Um bom emprego... Como se isso fosse a ambição máxima de um ser humano. E por que não uma boa especulação? Por que não falam com as crianças a respeito disso?” Eu fui uma criança com quem falaram — e muito — a respeito. A regra básica de Frank Henry dizia que só metade do potencial de uma pessoa deveria ser aplicada em ganhar um salário; a outra metade, em investimentos e especulações. Porque a pura verdade é a seguinte: a menos que você tenha pais ricos, a única maneira de sair da pobreza — sua única esperança — é submeter-se a riscos. Certo, é claro, trata-se de uma via de mão dupla. Assumir riscos implica a possibilidade de perda, em vez de ganho. Ao especular com seu dinheiro, você se arrisca a perdê-lo; em vez de acabar rico, pode acabar pobre. Mas veja as coisas por outro ângulo: como um assalariado comum, perseguido pelo imposto de renda e arrasado pela in ação, carregando boa parte do mundo em seus pobres ombros, sua situação nanceira, de qualquer forma, já é uma droga. Então, que diferença faz, realmente, se car um pouquinho mais pobre, na tentativa de se tornar mais rico? E, tendo os Axiomas de Zurique como parte de seu equipamento, é improvável que que mais pobre. O que você tem é a chance de se tornar muito mais rico. Há mais espaço para subir do que para descer, e, aconteça o que acontecer, você, pelo menos, estará vivendo uma aventura. Com o potencial de ganho tão maior que o de perda, o jogo está armado a seu favor. As amigas de Gerald Loeb, Sylvia e Mary, ilustram o que pode acontecer. Na última vez que soube delas, estavam com 50 e poucos anos. Ambas haviam se casado e divorciado, e ambas continuavam a administrar suas nanças da maneira como haviam conversado com Loeb, no começo de suas carreiras. Sylvia pusera todas as suas economias em poupança, CDBs, títulos municipais isentos de impostos e outros abrigos “seguros”. Os títulos municipais não eram tão seguros quanto lhe haviam dito, pois, durante a louca e inesperada subida das taxas de juros, na década de 1970, todos perderam boa parte de seu valor. A poupança e os CDBs mantiveram intacto o resto de seu capital, mas a in ação de dois dígitos na década de 1970, igualmente inesperada, desgastou desastrosamente o poder de compra do dinheiro de Sylvia. Seu melhor negócio, enquanto estava casada, foi a compra de uma casa. Ela e o marido eram coproprietários. Quando se divorciaram, acertaram a venda da casa, dividindo meio a meio o apurado. O imóvel havia valorizado muito ao longo do tempo, e ambos saíram com bem mais do que haviam investido. Ainda assim, Sylvia não estava rica, longe disso. Depois do divórcio, voltou a trabalhar em uma corretora, e está obrigada a continuar trabalhando até atingir a idade da aposentadoria, quando passará a receber uma pensão. Não será grande coisa, mas não poderá prescindir dela, porque o que tem não é su ciente para garantir sua velhice. Sylvia organizou sua vida nanceira em torno do salário como principal sustento. Não morrerá de fome, provavelmente, mas sempre terá de pensar duas vezes antes de comprar um par de sapatos. Com seus gatinhos de estimação, passará o resto da vida em um conjugado, que nunca será aquecido o bastante no inverno. Quanto a Mary, está rica. Como qualquer um que não seja maluco, ela sempre se preocupou com a segurança de seu capital, mas jamais permitiu que essa preocupação se impusesse a tudo mais em sua loso a nanceira. Assumiu riscos. Passado o penoso começo, alguns riscos começaram a produzir resultados. Ganhou muito dinheiro na excelente fase da Bolsa, na década de 1960, mas o que garantiu realmente suas especulações foi o ouro. Os norte-americanos puderam começar a usar o metal amarelo como investimento em 1971, quando o então presidente Nixon rompeu o elo o cial entre ouro e dólar. Até então, o preço do ouro era imóvel — US$35 a onça troy. Com a decisão de Nixon, o preço disparou, mas Mary andou rápido. Contra os conselhos de inúmeros assessores nanceiros conservadores, comprou contratos do metal a preços entre US$40 e US$50 a onça. Antes do nal da década, o preço atingiu US$875. Mary vendeu a maior parte do que havia comprado a preços em torno dos US$600. Até então, gozara de uma situação nanceira confortável; daí em diante, estava rica. É proprietária de uma casa, um apartamento na cidade e outro em uma ilha do Caribe. Passa boa parte do tempo viajando — de primeira classe, é óbvio. Há muito tempo largou o emprego. Como conversara com Gerald Loeb, o salário era um detalhe em seu quadro nanceiro. Os dividendos que recebia sempre foram maiores que seu salário. Parecia-lhe desproporcional, então, passar cinco de cada sete dias ganhando aquela miséria. É verdade que ao longo dos anos os assuntos nanceiros deram muitas preocupações a Mary; provavelmente, preocupações bem maiores do que Sylvia jamais conheceu. Em sua pobre velhice, isso talvez vá servir de algum consolo para Sylvia. Ela jamais teve de ir dormir sem saber se estaria pobre ou rica na manhã seguinte. Sempre fora capaz de fazer alguma estimativa sobre sua situação nanceira no ano seguinte, ou dali a dez anos. Seus cálculos nem sempre foram corretos, principalmente naqueles anos em que os títulos municipais andaram derretendo feito gelo ao sol; o fato, porém, é que suas estimativas eram aproximadas. Isso deve ter sido um grande conforto. Em contraste, durante os anos em que esteve acumulando sua fortuna, Mary só era capaz de fazer os palpites mais disparatados sobre seu futuro. Houve, com toda a certeza, noites em que dormiu muito mal, ou nem dormiu. Houve épocas em que andou apavorada. Mas vejam qual foi seu retorno. Muitos dos mais célebres operadores de Wall Street jamais esconderam que um estado de preocupação quase permanente é parte de seu estilo de vida. Poucos, porém, dizem isso em tom de queixa. Ao contrário, falam quase com alegria. Gostam do modo como vivem. Desses especuladores, um dos mais famosos foi Jesse Livermore, que brilhou em Wall Street no começo do século XX. Alto, boa-pinta, com os cabelos muito louros, onde aparecia atraía multidões. As pessoas viviam lhe pedindo dicas de investimentos, e ele era permanentemente perseguido por repórteres de jornais e revistas que tentavam arrancar dele qualquer dito sábio. Certo dia, um jovem jornalista, muito sério, perguntou-lhe se, considerando toda a luta e as tensões para chegar lá, valia a pena ser milionário. Livermore respondeu que gostava muito de dinheiro, de forma que, sim, para ele valia a pena. Mas o repórter insistiu: não havia noites que um especulador em ações passava sem dormir? Vale a pena a vida, quando se passa o tempo todo preocupado? “Olha aqui, rapaz, ouça bem”, disse Livermore. “Toda atividade tem seus problemas, seus apertos. Se você cuidar de abelhas, vai levar ferroadas. No meu caso, são as preocupações. É aceitá-las ou continuar pobre. Se eu puder escolher entre preocupações e pobreza, sempre vou preferir as preocupações.” Livermore, que alcançou e perdeu quatro imensas fortunas especulando na Bolsa, não apenas aceitava o estado de preocupação, como também parecia apreciá-lo. Certa noite, ele e Frank Henry estavam bebendo em um bar quando Livermore lembrou-se, de repente, que tinham um jantar. Telefonou para a an triã, apresentou suas envergonhadas desculpas, pediu mais um drinque e explicou a Frank Henry que costumava car distraído e esquecido quando estava no meio de uma jogada delicada no mercado. Frank observou que, tanto quanto havia reparado, jamais houvera um momento em que Livermore não estivesse envolvido em uma jogada delicada no mercado. Livermore concordou na hora. Em determinado momento, se não estivesse metido em uma jogada, preocupava-se com meia dúzia delas que estava armando para a semana seguinte. Admitia que se preocupava o tempo todo com suas especulações, até dormindo. Mas dizia que achava bom: “É como eu gosto. Acho que não me divertiria nem a metade do que me divirto se soubesse sempre como seria rico no dia seguinte.“ Frank Henry nunca se esqueceu dessas palavras e, décadas mais tarde, ainda as citava. Isso é o que expressa a loso a do 1º Grande Axioma. Infelizmente, Jesse Livermore não dispôs de todos os outros Axiomas para socorrê-lo, e sua história não teve um nal feliz. Mais adiante voltaremos a falar dele. Toda essa conversa acerca de riscos e preocupações pode dar a impressão de que a vida de um especulador se passa à beira de um precipício. Não é verdade. É certo que há momentos em que você sente os pelos arrepiados, mas são raros e geralmente não duram muito. Durante a maior parte do tempo você tem preocupações su cientes apenas para dar algum sabor à vida. O nível de risco de que estamos falando não é muito alto. Virtualmente, todas as jogadas nanceiras que visam o lucro envolvem riscos, o indivíduo se dizendo especulador ou não. A única forma praticamente sem riscos de lidar com dinheiro é colocá- lo em contas remuneradas em bancos, comprar títulos do governo norte-americano1 ou guardá-lo em uma forma qualquer de poupança. Mas já vimos bancos quebrarem. Se o banco que guarda seu dinheiro quebrar, você será ressarcido pela Federal Deposit Insurance Corporation (Empresa Federal de Seguros de Depósitos), mas só depois de longa demora, e sem juros. De repente, se uma dúzia de bancos explodissem ao mesmo tempo, numa espécie de catástrofe econômica nacional, nem a FDIC seria capaz de honrar seus compromissos. Quebraria junto. Numa situação dessas, ninguém sabe o que aconteceria com os depositantes. Felizmente, as chances de que esse pesadelo ocorra são mínimas. Uma conta em um banco norte-americano, neste mundo cheio de turbulências, é o mais perto que se pode chegar de um investimento praticamente sem riscos. Contudo, exatamente porque o risco é baixo, o retorno é igualmente baixo. À cata de resultados melhores, homens de ânimo aquisitivo aplicam seu dinheiro em outras jogadas, mais arriscadas. No entanto, por mais estranho que possa parecer, a maioria faz isso sem admitir que é o que está fazendo. Faz de conta que age com muita prudência e sensatez. Não está assumindo riscos, não está especulando, não está... psiu, fale baixinho a palavra... jogando. Não, eles estão investindo. Vale a pena explorarmos as supostas diferenças entre investir e especular. Isso pode estar atrapalhando você na assimilação do 1º Grande Axioma. Nós, os estudiosos dos Axiomas de Zurique, nos chamamos, francamente, de especuladores. Você pode car com a impressão de que estamos lhe dizendo, ou de que viremos a lhe dizer, que corra riscos loucos e impensados. Pode lhe agradar mais a ideia de “investir” que a de especular. Ser um “investidor” parece mais seguro. Na realidade, porém, não existe diferença nenhuma. Como dizia Gerald Loeb, que não tinha papas na língua: “Todo investimento é especulação. A única diferença é que alguns admitem isso e outros, não.” Pessoas que se oferecem para aconselhá-lo na administração de seu dinheiro quase sempre se apresentam como assessores de “investimentos”, não de especulações. Parece mais sério, impressiona mais, além de permitir cobrar mais pelos serviços. Toda a imprensa especializada, dos boletins informativos às principais revistas que cobrem as várias áreas de especulação, quase sempre se identi cam como publicações sobre “investimentos”. Mas todas, exatamente como o fazem os Axiomas de Zurique, tratam de especulação. Existe até um tipo de papel que os especialistas nanceiros gostam de chamar de “investimento-padrão”. Passa uma ideia de grande dignidade, assusta um pouco e dá a impressão de muita segurança. Falando desses papéis com a apropriada solenidade, um desses assessores é capaz de convencer um novato de que se trata, a nal, do longamente buscado investimento de alto rendimento e sem riscos. As ações da IBM, por exemplo. Não há papel mais blue. Em Wall Street, a IBM é apelidada de “Big Blue”.2 Um investimento-padrão como IBM não tem erro, não é verdade? Pois é, mas tem. Se houvesse comprado IBM em 1973, quando o papel atingiu o pico e todos os assessores de investimento do mundo o empurravam, você teria de esperar nove anos para recuperar o capital. Teria sido melhor negócio guardar seu dinheiro em um pé- de-meia. Por mais digno que pareça, não existe investimento sem risco. Para mais um exemplo, tomemos a General Motors. É outra ação que, em geral, aparece na lista dos corretores como investimento- padrão. Estava em todas as listas, em 1971, quando todo mundo achava que a GM seria a dona do mundo. Todos diziam que, com ela, não havia nada de especulativo. Era o tipo do papel que os inventariantes mais conservadores compravam para viúvas e órfãos. Era investimento. Mas algo de errado aconteceu com esse investimento-padrão. Se tivesse comprado em 1971, no pico, 15 anos depois você ainda estaria esperando o retorno de seu capital. Chamar uma operação de “investimento” não modi ca os fatos: uma jogada será sempre uma jogada. Era de se esperar que tivessem aprendido isso na debacle de 1929, quando todo mundo viu que Wall Street não passava de uma gigantesca mesa de roleta, engolindo o dinheiro dos jogadores com espantosa velocidade. As histórias sobre papéis que eram investimentos-padrão em 1929 são de chorar. A New York Central Railroad custava US$257, três anos depois estava a US$9; a Radio Corporation, ancestral da RCA, caiu de US$574 para US$12, enquanto uma GM, então bem mais jovem, despencava de US$1.075 para US$40. Como dizia Loeb, todo investimento é especulação. Você traz seu dinheiro e corre os riscos. Quer esteja apostando em GM ou em qualquer outra coisa, é um especulador. Melhor admiti-lo. Não faz sentido tentar se iludir. De olhos bem abertos, você consegue entender melhor o mundo. Os Axiomas de Zurique tratam de especulação, e não escondem esse fato. Isso não signi ca que tratam de riscos assumidos loucamente. Quer dizer apenas que são muito francos. 1º AXIOMA MENOR Só aposte o que valer a pena. Um antigo clichê diz que “só se deve apostar o que se possa perder”. Ouve-se isso em Las Vegas, em Wall Street e onde quer que se arrisque dinheiro em busca de mais dinheiro. Lê-se a mesma coisa em livros que oferecem conselhos sobre investimentos e administração nanceira do tipo convencional. É tão repetido, em tantos lugares, que acabou adquirindo uma aura de verdade, exatamente como os clichês psicanalíticos sobre manter a calma. Antes, porém, de incluí-lo em seu instrumental especulativo, é melhor estudá-lo com cuidado. Como a maioria das pessoas o interpretam, é uma fórmula que praticamente garante maus resultados. O que será uma soma “que se possa perder”? A maioria talvez a de nisse como “uma soma que, se eu perder, não vai doer”. Ou “uma soma que, se eu perder, não representará diferença signi cativa em meu bem-estar nanceiro”. Em outras palavras, US$1, US$2 ou US$20, ou algumas centenas. Essas são as quantias que a maior parte da classe média consideraria “perdível”. Em consequência, é com esse tipo de dinheiro que a maioria da classe média especula, se é que o faz. Mas veja bem: se apostar US$100 e dobrar o dinheiro, você continuará pobre. A única maneira de derrotar o sistema é apostando quantias que valham a pena. Claro, isso não signi ca que deve jogar com somas que, perdidas, levariam você à bancarrota. A nal de contas, há o aluguel a pagar, as crianças precisam comer. Mas signi ca, isso sim, que tem de superar o medo de se machucar. Se a quantia for tão pequena a ponto de sua perda não representar diferença signi cativa, o mais provável é que tampouco trará ganhos signi cativos. A única maneira de ganhar muito apostando pouco é correr atrás de uma possibilidade em milhões. Você pode, por exemplo, comprar um bilhete de loteria por US$1 e ganhar US$1 milhão. É gostoso sonhar com isso, mas, de tão grandes, as probabilidades contrárias causam depressão. No curso normal de uma jogada especulativa, você tem de começar disposto a se machucar, nem que seja só um pouquinho. Talvez pre ra começar modestamente e, à medida que for ganhando experiência e con ança na solidez de sua psique, ir aumentando a dose de preocupação. Cada especulador acaba encontrando o próprio nível de tolerância a riscos. Alguns, como Jesse Livermore, apostam com tamanha ousadia que são capazes de quebrar com espantosa rapidez — o que, conforme já vimos, com Jesse ocorreu quatro vezes. Seu nível de risco era tão elevado que assustava os outros especuladores, inclusive os mais calejados. Frank Henry, cujo nível de risco era mais baixo, costumava analisar as jogadas de Jesse e chegar em casa balançando a cabeça, cheio de espanto: “O homem é louco!”, dizia. Certa vez, ele calculou que, se todas as suas especulações explodissem em sua cara de uma vez, em um único e imenso cataclismo, quando a poeira assentasse, ele estaria valendo mais ou menos a metade do que valia ao começar. Perderia 50%. De outro ponto de vista, preservaria 50%. Era esse o nível de tolerância à preocupação que ele escolhera. Outro que acreditava em apostas que valessem a pena era J. Paul Getty, um dos reis do petróleo. Sua história é instrutiva. A maioria das pessoas parece pensar que ele herdou sua imensa fortuna do pai, ou que, pelo menos, herdou o começo dela. A verdade é bem outra. J. Paul Getty fez fortuna sozinho e começou como um especulador comum, de classe média, como você e eu. Ficava irritadíssimo quando diziam que havia recebido a vida em uma bandeja de prata. “De onde vem essa ideia?”, certa vez gritou ele para mim, exasperado. (Havíamos nos encontrado na sede da Playboy. Ele era acionista da empresa, durante alguns anos foi editor de economia da revista e nela publicou 34 artigos. Era sua maneira de relaxar quando não estava ganhando rios de dinheiro.) Finalmente, Getty concluiu que era a imensidão de sua fortuna que fazia quase todo mundo pensar de maneira precipitada e errada. As pessoas, evidentemente, achavam difícil acreditar que um homem sozinho pudesse começar com uma soma modesta, padrão classe média, e transformá-la em US$1 bilhão. Pois foi exatamente o que J. Paul Getty fez. A única vantagem que teve sobre você ou sobre mim foi que começou no início do século, quando tudo custava mais barato e não existia imposto de renda. Além de alguns modestos empréstimos, não levou um tostão do pai, homem frio e intimidante. E os empréstimos foram cobrados nos prazos estabelecidos, não valendo desculpas de qualquer natureza. A coisa mais valiosa que Getty recebeu do pai foi instrução, não dinheiro. George F. Getty era um advogado de Minneapolis, especulador autodidata, que acertou na mosca na corrida do petróleo em Oklahoma, no início do século, e criou regras que se parecem um pouco com alguns dos Axiomas de Zurique. Era um homem sério, de inabaláveis convicções plantadas na Ética do Trabalho. Como J. Paul escreveria depois, na Playboy: “George F. não admitia a ideia de que o lho de um homem rico devesse ser mimado, estragado, ou que recebesse dinheiro de presente quando já tivesse idade su ciente para ganhar sua própria vida.” Assim, J. Paul teve de sair em busca de sua própria fortuna. No começo, achou que queria ser diplomata ou escritor, mas a paixão do pai pela especulação estava em seu sangue. Foi atraído para Oklahoma, para o petróleo. Trabalhando nos campos, juntou algumas centenas de dólares. À medida que suas economias cresciam, crescia também sua vontade de arriscá-las. Foi então que ele demonstrou compreender o princípio básico do 1º Axioma Menor. Aprendera-o com o pai: Só aposte o que valer a pena. Com US$50, ou até menos, poderia ter se associado a algum negócio. Não faltavam oportunidades desse tipo. Os campos de petróleo andavam cheios de independentes e de grupos de especuladores que precisavam de dinheiro para continuar perfurando poços. Por uns poucos dólares, vendiam parcelas mínimas de suas operações a qualquer um. Mas Getty sabia que, com essas participações minúsculas, nunca caria rico. Saiu atrás de coisa maior. Perto da vila de Stone Bluff encontrou um especulador oferecendo 50% de um direito de prospecção sobre uma área que Getty considerou promissora. Resolveu arriscar. Ofereceu US$500 pelo negócio, quase tudo que tinha. Ninguém ofereceu mais, e J. Paul Getty, assim, acabava de ingressar o cialmente no ramo do petróleo. Em janeiro de 1916 o primeiro poço-teste da área mostrou-se um sucesso: mais de 700 barris/dia. Pouco depois, Getty vendeu sua parte por US$12 mil, e foi desse modo que sua fabulosa fortuna começou. “Claro que tive sorte”, diria ele, anos mais tarde, recordando sua primeira jogada. “Podia ter perdido. Mas, mesmo que isso houvesse acontecido, não teria modi cado minha convicção de que aquele era o risco a correr. Ao assumir tal risco (e não era pequeno, devo admitir), eu estava me dando a possibilidade de alcançar algo interessante. Possibilidade, veja bem, esperança. Se houvesse recusado a oportunidade, não teria tido a esperança.” Ele ainda acrescentou que, se tivesse perdido, não teria sido o m de seu mundo. Simplesmente voltaria a cavar algum dinheiro, e tentaria de novo. “Me parecia, então, que eu tinha muito mais a ganhar do que a perder”, recordaria Getty. “Se ganhasse, seriam várias maravilhas juntas. Se perdesse, doeria, mas não seria grande coisa. O caminho a tomar parecia claro. O que você teria feito?” 2º AXIOMA MENOR Resista à tentação das diversi cações. Diversi cação. Examinemos o que quer dizer essa palavra, e como ela pode afetar seus esforços para car rico. No sentido empregado pela comunidade de investimentos, signi ca espalhar o dinheiro. Esticá-lo ao máximo. Colocá-lo em uma porção de pequenas especulações, e não em umas poucas e grandes. Segurança: essa é a ideia por trás da atitude. Seis de seus investimentos dando em nada, talvez outros seis deem em alguma coisa. Se a U-Lá-Lá Eletrônica falir e sua ação cair para US$0,03, é possível que sua especulação com a Oba-Oba Computadores alcance melhor resultado. E se tudo desabar, ao menos seus títulos municipais talvez se valorizem, mantendo-o à tona. A ideia é essa. Na ladainha dos aconselhamentos convencionais de investimentos, “uma carteira diversi cada” está entre os objetivos mais procurados e reverenciados. Só uma coisa é melhor: uma carteira diversi cada apenas de investimentos-padrão. Se é isso que você tem, então está com tudo! É o que eles gostam de dizer. O fato é que a diversi cação, ao reduzir os riscos, reduz também, na mesma medida, qualquer esperança que você possa ter de car rico. A maior parte de nós, aventureiros de classe média, começa as proezas especulativas com um capital limitado. Digamos que você dispõe de US$5 mil e quer que seu bolo cresça. O que vai fazer com seu dinheiro? A sabedoria convencional manda diversi car. Fazer dez apostas de US$500 cada. Seriam, por exemplo, US$500 de GM, já que a indústria automobilística parece estar em uma boa fase; US$500 no open, para o caso de as taxas subirem; US$500 em ouro, para cobrir a possibilidade de tudo mais dar errado e assim por diante. Pronto: todas as eventualidades estão cobertas. Dá um quentinho na barriga, não dá? Você está protegido de praticamente todos os perigos — inclusive do perigo de enriquecer. A diversi cação tem três grandes defeitos: 1. Obriga-o a violar o preceito do 1º Axioma Menor, de que se devem sempre fazer apostas que valham a pena. Se todo o seu capital inicial já não é grande coisa, diversi cá-lo só piora. Quanto mais se diversi ca, menores se tornam as especulações. Levada a situação a extremos, você pode acabar com quantias que realmente não valem nada. Como observamos no 1º Axioma Menor, um grande ganho sobre um capital pequeno nos deixa praticamente no ponto em que começamos: pobres. Digamos que Oba-Oba Computadores tenha sido brilhante, e o preço da ação dobrou. Quanto você ganhou? Quinhentas pratas. Não é por aí que você vai atingir as alíquotas mais altas do imposto de renda. 2. Ao diversi car, você cria uma situação em que, provavelmente, ganhos e perdas acabam se cancelando e deixando-o exatamente onde começou — no Ponto Zero. Você comprou dois papéis que, digamos, não eram exatamente investimentos-padrão: Oba-Oba Computadores e U-Lá-Lá Eletrônica. Se as duas empresas fossem abençoadas, e viessem a disparar, pensou você, suas ações subiriam. Tudo bem, digamos que tenha acertado os palpites. As empresas prosperaram e lhe proporcionaram um ganho de US$200 em cada especulação de US$500. Na hora em que você estava comprando a U-Lá-Lá e a Oba- Oba, porém, seu conselheiro de investimentos solenemente o alertou de que era melhor se proteger de riscos, por meio da diversi cação. Para o caso de mau tempo, ele costumava sentenciar, era bom ter um pouco de papéis conservadores e outro pouco de ouro. Você, então, foi lá e comprou US$500 em ouro e outros US$500 de um fundo que opera com títulos de 30 anos do Departamento de Estradas de Rodagem de seu estado natal. São títulos perfeitos, isentos de impostos, e nunca se deram mal. De repente, você está no meio de uma explosão na economia. Como há muita demanda de capital pelo comércio, e de crédito aos consumidores, os juros disparam, o que derruba o valor de seus papéis com juros pre xados. Caíram em US$100. Quanto ao ouro, quem tem o metal amarelo está freneticamente vendendo, a m de fazer dinheiro. Todo mundo quer aplicar em ações, que estão disparando, ou pôr o dinheiro nos novos tipos de contas bancárias, que pagam aqueles juros fenomenais. O valor escoa de seu ouro como se fosse de um balde furado e, logo, o que você comprou por US$500 está valendo US$200. Muito bem, você ganhou US$400 nas ações e perdeu US$400 nos títulos e no ouro. Qual é a graça? 3. Ao diversi car, você vira um malabarista que tenta manter no ar uma porção de bolas ao mesmo tempo. Bolas demais. Se tiver somente umas poucas especulações em andamento e uma ou duas se derem mal, dá para adotar uma posição defensiva. O 3º Grande Axioma, além de outros, refere-se a essa situação. Mas, se tem uma dúzia de bolas no ar e a metade delas começa a ir na direção errada, suas chances de escapar incólume do dilema não são lá essas coisas. Quanto maior o número de especulações em que você entra, mais tempo e estudos terá de lhes dedicar. A confusão pode se generalizar. Quando as coisas começam a dar errado — o que é inevitável, como você sabe — e surge um problema atrás do outro, você pode acabar à beira do pânico. Geralmente, o que acontece numa situação dessas, especialmente com novatos no mercado, é que cam paralisados. Como são pressionados a tomar decisões difíceis demais, depressa demais, acabam não fazendo coisa nenhuma. Conseguem apenas car estáticos, cheios de espanto, vendo seu dinheirinho derreter diante de seus olhos arregalados. Quando se pensa nesses três grandes defeitos da diversi cação, colocando-os diante de sua única qualidade — a segurança —, diversi car já não nos parece algo tão bom assim. Um pouco de diversi cação, provavelmente, não fará mal. Três boas especulações, talvez quatro, até uma meia dúzia, se sua atração por tal quantidade for muito forte. Pessoalmente, não gosto de ter mais de quatro de uma só vez; durante a maior parte do tempo especulo em três ou menos — às vezes, em uma coisa só. Uma quantidade maior faz com que eu me sinta desconfortável. Isso vai muito da preferência pessoal, e da maneira de pensar de cada um. Se achar que pode operar e cazmente com um número maior, tudo bem. Mas não diversi que só por diversi car. Você se torna um concorrentezinho num concurso de supermercado, no qual o objetivo é encher o cesto o mais rápido possível. Acaba indo para casa com um monte de porcarias caras que nem queria. Ao especular, você deve pôr seu dinheiro em alternativas que realmente o atraiam, e em mais nenhuma. Jamais compre alguma coisa só porque precisa arredondar “uma carteira diversi cada”. Como dizem alguns em Wall Street: “Ponha todos os seus ovos no mesmo cesto, e tome conta dele.” Esse é o único clichê nanceiro que resiste a uma análise. O primeiro que o disse não era certamente dado a diversi cações. É muito mais fácil tomar conta de um, ou de uns poucos cestos, do que de uma dúzia deles. Quando a raposa aparecer querendo roubar os ovos, você poderá cuidar dela sem ter de car correndo em círculos. Estratégia especulativa Façamos uma rápida revisão do 1º Grande Axioma. Especi camente, o que ele aconselha a fazer com seu dinheiro? Manda arriscá-lo. Não tenha medo de se machucar um pouco. Geralmente, a taxa de risco em que estará envolvido não chega a causar arrepios. Ao se decidir a enfrentá-la, estará se dando a única chance realista de se pôr acima da pobreza. O preço a pagar por essa chance gloriosa é um estado de preocupação permanente. Essa preocupação, porém, insiste o 1º Grande Axioma, não é a doença que a moderna psicologia acredita ser. É o molho forte e picante da vida. Quando você se habituar com seu sabor, não passará mais sem ele. Notas: 1. O autor se refere o tempo todo ao mercado norte-americano. (N. do T.) 2. Blue: literalmente, “azul”. No jargão de Wall Street, blue chips são as ações de primeira linha. A IBM é de primeiríssima linha, é a Big Blue. (N. do T.) 2.O 2º Grande Axioma: DA GANÂNCIA Identi que o lucro sempre cedo demais. Seja o jogo feito no mercado nanceiro, em uma mesa de pôquer ou em qualquer outro lugar, o que os amadores fazem é isto: demoram demais nas paradas — e perdem. O que os leva a agir assim chama-se ganância, e é disto que trata o 2º Grande Axioma. Se conseguir dominar a ganância, praticando este único ato de autocontrole, você se tornará um especulador melhor que 99% dos que andam por aí atrás de fortuna. Só que não é fácil parar quando se está ganhando. A ganância é algo entranhado na mente humana. A maioria de nós a tem em altas proporções, e ela deve ter inspirado mais sermões dominicais do que qualquer outro de nossos traços menos nobres. E os sermões costumam ser dramáticos, pontuados de suspiros. Soam desesperados, e o desespero vem da sensação de que a ganância está de tal forma entranhada em nossas almas que arrancá-la é tão difícil quanto mudar a cor de nossos olhos. Uma coisa é óbvia: não há sermão capaz de exorcizá-la. Sermões jamais surtiram qualquer efeito sobre ela. E você tampouco conseguirá derrotá-la ouvindo sermões, nem pregando-os. Um caminho mais pragmático e promissor seria pensar no belo e estranho paradoxo que existe no coração do 2º Grande Axioma: ao reduzir a ganância, você aumenta suas chances de car rico. Uma pausa para a de nição de nossos termos. No contexto do 2º Grande Axioma, a ganância signi ca querer em excesso, querer mais, sempre mais. Signi ca você querer mais do que queria no começo, ou mais do que seria justo esperar. Signi ca perder o controle de seus desejos. A ganância é a prima inchada e autodestruidora do comprismo. No sentido aqui empregado, “comprismo” é o desejo natural de maior bem-estar material, sem conotação pejorativa. Os Axiomas de Zurique foram criados por pessoas dotadas de uma saudável dose desse comprismo, e é improvável que você estivesse aqui estudando os Axiomas se não tivesse essa característica. Todo animal na face da Terra tem o instinto de buscar comida, um lugar para viver, os meios de autoproteção. Nesse sentido, o que nos difere das demais criaturas é que nossos desejos são mais complicados. Não se envergonhe de seu comprismo, pois ele é parte de seu equipamento de sobrevivência. O comprismo descontrolado, porém, enlouquecido a ponto de invalidar suas nalidades legítimas, é ganância. E é preciso temê-la, fugir dela. É inimiga do especulador. Uma pessoa que dedicou quase toda a vida ao estudo da ganância foi Sherlock Feldman, durante anos gerente do Dunes, um dos maiores cassinos de Las Vegas. Grandalhão, sempre de óculos de aros grossos e um sorriso de melancólico bom humor, Feldman costumava analisar os fregueses no turno que escolhera para si nos salões, das duas às dez da manhã. O que ele viu ali o transformou em uma espécie de lósofo bissexto. Dizia: “Se eles quisessem menos, iriam para casa com mais.” Criara seu próprio axioma sobre a ganância. Tinha uma compreensão perfeita do problema, sendo ele próprio um jogador consumado. Na juventude, ganhou e perdeu várias fortunas; nalmente, quando aprendeu a se controlar, acabou morrendo confortavelmente rico. Ao falar sobre os frequentadores do Dunes, dizia ele: “Para a maioria, o que fazem aqui dentro não tem muita importância. Estão só se divertindo. Perdem 100 ou 200 pratas, e daí? Mas, se o jeito como jogam é o mesmo com que conduzem suas vidas no dia a dia, então, pode ser grave. Em muitos casos, dá até para ver por que não são ricos. Você olha para eles aqui e logo percebe que não irão a parte alguma que valha a pena. Por quê?” Feldman certa vez exempli cou com o caso de uma mulher que aparecera no cassino com um punhado de dinheiro que estava preparada para perder se divertindo: “Ela encostou em uma mesa de roleta e apostou US$10, não me lembro em que número, seu número de sorte, seu aniversário, sei lá. E, sabe, deu tal número, e ela cou US$350 mais rica. Pegou, então, US$100 e pôs em outro número, que também deu! Dessa vez ela embolsou US$3.500. Os amigos zeram uma roda em volta dela e mandaram que apostasse mais, pois aquela era sua noite de sorte. A mulher olhou em torno, e eu praticamente podia ver a ganância crescendo em seus olhos.” Feldman interrompeu a história e enxugou a testa, antes de prosseguir: “Ela continuou jogando. Cansou de ganhar nos plenos e passou a apostar na cor e nas dúzias. Jogava algumas centenas de dólares de cada vez, e não parava de ganhar. Seis, sete vezes seguidas. A mulher estava realmente numa maré incrível. De repente, havia ganhado US$9.800. Era de pensar que seria su ciente, não era? Eu teria parado muito tempo antes. US$1 mil ou US$2 mil já teriam me deixado contente. Mas a mulher não se contentou nem com US$9.800. A essa altura a ganância já a havia deixado “alta”. Dizia que só faltavam US$200 para chegar aos US$10 mil redondos.” E, tentando buscar o número redondo, gordo, a mulher da história de Feldman começou a perder. Seu capital foi derretendo, e ela, para recuperá-lo, ia fazendo apostas maiores, com chances menores. E acabou perdendo tudo, inclusive os próprios US$10 iniciais. Essa história ilustra o sentido original da conhecida advertência: “Não force a sua sorte.” Ou, como preferem os suíços: “Não estique sua sorte.” A maioria das pessoas diz isso quase sem pensar, sem se dar conta de seu sentido profundo. Mas esse aviso merece ser estudado com mais cuidado do que geralmente lhe dedicam. O que ele quer dizer é o seguinte: no jogo, ou no curso de uma jogada especulativa, de tempos em tempos haverá períodos de ganhos. Você achará tão bom que vai desejar que durem para sempre. Com certeza, terá o bom senso de admitir que a realização de tal desejo é impossível, mas, se tiver sido agarrado pela ganância, vai se convencer a esperar, ou a acreditar que tais períodos durarão pelo menos um bom tempo... e mais um pouco... e um pouquinho mais... E irá navegando, na crista da onda, até que você e o seu dinheiro se precipitem em uma cachoeira. O perturbador fenômeno dos períodos de ganhos será estudado em mais detalhes no 5º Grande Axioma. (Os Axiomas se interligam em um intrincado desenho; é praticamente impossível falar de um sem mencionar os demais.) A esta altura o que queremos ressaltar é que não se pode saber de antemão quanto vai durar um período de ganhos. Pode durar muito tempo. Mas também pode acabar quando o relógio marcar o próximo segundo. O que fazer, então? É preciso presumir que qualquer conjunto ou série de eventos que resultem em ganhos para você terão breve duração, e que seus lucros, portanto, não serão absurdamente grandes. Sim, é verdade, a gostosa série de acontecimentos pode prosseguir até resultar em ganhos colossais. Pode. Mas você, do seu ponto de vista no começo da tal série, obrigado a decidir se continua ou se sai, incapaz de ver o futuro, cará em posição muito melhor se optar pela média. E a média, de modo esmagador, recomenda que saia cedo. Longos períodos de altos ganhos cam famosos e todo mundo comenta; são notícia justamente por serem raros. Os modestos e breves são mais frequentes. Aposte sempre nos períodos breves e modestos. Não se deixe dominar pela ganância. Quando estiver com um bom lucro, aproveite-o e caia fora. Algumas vezes, lamentará ter saído. O período de ganhos prosseguirá sem sua participação, e você vai car melancólico, contabilizando o que deixou de lucrar. Olhando para trás, sua decisão de sair terá sido um erro. É uma experiência deprimente. Acontece com todo especulador, e não pretendo minimizá-la. Às vezes, dá vontade de chorar. Mas mantenha a cabeça erguida, anime-se. Para compensar uma ou duas decisões erradas de sair antes do tempo, haverá dúzias de ocasiões em que a decisão terá sido acertada. A longo prazo, o controle da ganância dá mais dinheiro. O 2º Grande Axioma manda sempre realizar o lucro cedo demais. “Cedo demais?” O que, exatamente, isso quer dizer? Meio estranho, não? Trata-se da necessidade de realizar os lucros antes que o período de ganhos tenha atingido o pico. Não tente espremer até o último centavo possível. Raramente funciona. Não se preocupe com a hipótese de que os ganhos continuem ainda por um longo tempo, com a possibilidade de se arrepender. Não tenha medo do arrependimento. Como não consegue avistar o pico, cabe-lhe presumir que esteja próximo, e não longe. Realize o lucro e caia fora. É como escalar uma montanha em noite negra e fechada. A visibilidade é zero. Lá em cima, em algum lugar, está o pico, e, do outro lado dele, um abrupto despenhadeiro, caminho para o desastre inevitável. Você quer chegar o mais alto possível. Idealmente, gostaria de chegar ao pico e parar. Sabe, porém, que o “ideal” raramente acontece na vida, e não é bobo a ponto de achar que acontecerá agora. O bom senso manda parar a escalada quando achar que atingiu uma boa altitude. Pare antes do pico. Pare cedo demais. É verdade, quando a neblina se des zer e o sol aparecer, talvez se encontre a menos da metade do caminho. Poderia ter escalado muito mais, certo. Mas não que se lamentando. Não está no topo, mas andou um bom pedaço. Seu lucro foi bom, está no bolso, e é isso que importa. Está em uma situação muitíssimo melhor do que o bando de idiotas que continuou aos tombos em direção ao pico e foi se espatifar do outro lado, despenhadeiro abaixo. No começo da década de 1980 isso aconteceu muito com as especulações imobiliárias. Vejamos, por exemplo, o triste caso de Alice e Harry, um casal de Connecticut. Contaram-me a experiência deles, por acharem tratar-se de um grande ensinamento. É quebrando a cara que se aprende, e queriam passar adiante a lição. Prometi não revelar suas identidades. Alice e Harry não são seus nomes verdadeiros. Com quarenta e poucos anos, ambos são bonitões, inteligentes, ambiciosos. Trabalham e têm bons salários. Sua renda familiar, padrão de vida e aspirações sociais os colocam no nível inicial da classe mais alta. Têm dois lhos em universidades particulares. Como tantos outros com padrão médio de renda no nal do século XX, sempre acharam difícil viver nos limites de seus recursos. Jamais conseguiram guardar algo para aplicar, e seus investimentos sempre foram em contas remuneradas, apólices de seguros ou outros tipos de poupança. Especulação mesmo, e boa, só a casa deles. No começo da década de 1970 tinham ido para a chique Fair eld, em Connecticut, e comprado uma casa no limite de sua capacidade nanceira. Fora uma decisão pensada. Tendo passado anos economizando, e sempre se sentindo pobres, ou pelo menos não ricos, estavam começando a perceber o 1º Grande Axioma, a achar que não vinham arriscando o bastante. Como para a maioria das pessoas de sua classe social, a casa signi cava duas coisas para eles: não só um lugar para morar, mas também um investimento, possivelmente muito bom. No caso de Alice e Harry, foi uma excelente especulação. Na região de Fair eld, os imóveis se valorizaram na década de 1970, embora não tão espetacularmente quanto em Marin, na Califórnia, ou em Dade, na Flórida. Começam os anos 1980 e nossos heróis estimam que a casa vale duas e meia ou três vezes o que haviam pago fazia menos de dez anos. Hora de vender. As crianças tinham crescido e se tornado independentes. Alice e Harry já não precisavam mais de uma casa tão grande. Na verdade, estavam cansados de morar longe da cidade e das chatices de serem proprietários. Queriam mudar para uma coisa menor, um apart-hotel ou um apartamentozinho comum. A bela valorização da casa tornava mais atraente a ideia de vender. Teriam um lucrozinho simpático. O valor da casa praticamente triplicara; mas considerando a hipoteca — que tem exatamente o mesmo efeito do depósito nas operações a futuro com ações ou mercadorias —, o dinheiro que eles haviam investido na casa se multiplicara por mais de seis. Realmente, nada mau. Foi então que a ganância os pegou pelo pescoço. Queriam mais, e esperaram. Alice lembrava-se de ter lido, ou ouvido contar, que em Marin, nos mesmos dez anos, o valor dos imóveis se multiplicara por dez. “Aí nós pensamos”, conta ela. “Não seria uma beleza? Aconteceu em Marin, por que não pode acontecer em Fair eld? Se nossa casa valesse dez vezes mais, caríamos milionários!” Harry recorda que seu principal motivo foi o medo de se arrepender: “Eu pensava: claro, seria uma beleza poder vender a casa por três vezes mais do que pagamos. Mas se eu vendo e daqui a alguns anos co sabendo que o sujeito que comprou tornou a vender por três vezes mais do que pagou? Seria capaz de dar um tiro na cabeça!” Aguardaram. Atingiram o pico. E desabaram pelo despenhadeiro do outro lado. Como ocorre na maioria dos casos, o pico estava mais próximo do que queriam acreditar. Em 1981/1982 o mercado imobiliário de Fair eld — como o da maior parte da periferia das cidades norte- americanas — despencou, especialmente no caso das casas grandes. Em alguns bairros, não se compravam casas por dinheiro nenhum. Finalmente, com grande atraso, quando Alice e Harry resolveram vender, o mundo rudemente lhes deu as costas. Pouca gente apareceu para olhar, e, menos ainda, com intenção real de compra. Até os corretores da região, geralmente um pessoal muito empolgado, pareciam desanimados. Um ano depois, Alice e Harry tinham recebido uma única proposta de compra. O preço oferecido foi um choque. Era superior ao que haviam pago, mas não muito. Teriam ganhado mais se houvessem guardado o investimento original na poupança. Da última vez que os vi, continuavam esperando o mercado se recuperar. Tinham aprendido a lição. Não mais pretendiam car milionários com a casa. Tinham estabelecido o preço pelo qual gostariam de vender — algo que lhes daria um bom lucro, mas não uma fortuna. Estavam decididos a vender assim que a casa chegasse àquele preço, por mais que o mercado estivesse efervescente, por maiores que fossem as expectativas futuras do mundo inteiro. Em outras palavras, estavam decididos a vender cedo demais. Espero que não arredem o pé dessa decisão. Para alguns, parece incrivelmente difícil cumprir o que preceitua o 2º Grande Axioma. O maior problema parece ser o medo do arrependimento, um medo que foi o maior inimigo de Harry e pode continuar a ser — e Harry não está só. É nas cercanias das bolsas de valores que o medo é mais comum e especialmente intenso. Um dos mais antigos ensinamentos de Wall Street diz que não se deve olhar a cotação de uma ação que já se vendeu. A advertência não visa ajudar a ganhar dinheiro, mas evitar crises de choro. “Ficar na saudade” é uma das sensações mais penosas que um especulador do mercado de ações é capaz de experimentar. Eu que o diga! Por exemplo, quando vendi Gulf Oil a US$31, e quei olhando o papel bater US$60, um ano depois; ou quando descarreguei 1.500 IBM a pouco mais de US$70, e a porcaria do papel foi parar em US$130. Ou... ou... mas chega, já chega! A gente não deve se torturar. Em vez de car chorando esse pouco leite derramado, eu deveria estar me felicitando por todas as vezes em que vender cedo demais foi atitude de gênio. Deveria estar; mas, mesmo para um sujeito como eu, diplomado nos Axiomas, há noites em que nada dá jeito na saudade que vem chegando, vem chegando e se instala. Prometi não minimizar as penas dos possíveis arrependimentos, e não o farei. Tampouco tenho remédios a oferecer. Para essa dor, não há analgésicos. É simplesmente algo com que o especulador tem de aprender a conviver. Esse medo do arrependimento deve ser tão forte nos arredores de Wall Street porque as ações têm cotações diárias, todos os dias úteis. Isso também ocorre em outras áreas de especulação, mas não em todas — em imóveis, por exemplo, não acontece. Você pode ter uma ideia geral, bem vaga, de quanto vale sua casa, seu chalé nas montanhas ou seu apartamento naquela praia do Caribe, mas não basta abrir o Wall Street Journal e veri car a cotação exata, diariamente. Essa ausência de cotações diárias dá certa proteção emocional, ela nos resguarda. A menos que a propriedade se ache realmente à venda, e você esteja recebendo ofertas, não há muito que possa fazer além de dar palpites sobre quanto pode valer. Tampouco pode saber exatamente o valor de mercado de uma casa que vendeu no ano passado, ou há dez anos — o que é outra bênção divina. Se especular com ações, porém, basta abrir o jornal ou dar um telefonema para seu corretor que você ca logo sabendo, com toda a precisão, quanto o mercado estava querendo pagar ontem por qualquer papel que você possui, possuiu ou teve vontade de possuir. Um mês, um ano depois de ter caído fora, se quiser se atormentar, basta olhar no jornal e ver se o período de ganhos continuou sem sua presença. Os que especulam em ações vivem agindo assim, e se martirizando. E isso é o que pode toldar o raciocínio de uma pessoa, a ponto de aproximá-la do perigo. Certa noite, fui tomar um drinque com um velho amigo de Frank Henry, um especulador sul-americano. O homem estava morto de pena de si próprio e parecia ter bebido a tarde toda. Aos poucos, foi se abrindo, e quando consegui perceber do que se tratava, eu estava ouvindo uma tragédia nanceira. Frank Henry sempre achara que aquele tipo simpático era emocional demais para Wall Street. Embora eu não soubesse desse detalhe, tinha conhecimento de que norte-americanos e suíços gostavam de atraí-lo para altas mesas de pôquer, e ele acabava sempre limpo. À medida que, aos poucos, vinha à luz sua tragédia, eu ia percebendo que talvez Frank Henry tivesse razão. O homem estava com problemas na Bolsa, provavelmente pelas mesmas razões que os tinha na mesa de pôquer. Embora soubesse, racionalmente, o que fazer nas diversas circunstâncias, nem sempre conseguia fazê-lo. O problema que o atormentava, naquela noite, começara muito antes. Havia adquirido uma bolada de ações da Wometco Enterprises, uma empresa com interesse nas áreas de cinema e TV. O preço subira bem, e passara a oscilar. O seu lucro já era bom, e não havia razão para acreditar que a alta prosseguiria. De forma sensata, então, passara os papéis adiante. Ato contínuo, devido a fatores imprevisíveis, o preço da ação quadruplicara. Então, o amigo de Frank Henry entrara numa crise de ódio e arrependimento. O negócio cou tão feio que ele passou a ter medo de vender qualquer coisa. Estava paralisado pelo temor de que a história, inexoravelmente, se repetisse: bastaria vender um papel, e lá iria ele para cima. Seu temor se transformara praticamente em pânico. Havia operações que sabia ter de fazer, mas não conseguia se mexer. Uma situação em especial o atormentava. Depois de liquidar Wometco, pusera a maior parte de seus recursos em outra empresa ligada a cinema e TV, a Warner Communications. Conhecia bem o mercado de entretenimento e, com um pouco mais de autocontrole, teria feito fortuna nessa área. Suas ações da Warner subiram, resultando, de novo, em bons ganhos. Entre Wometco e Warner, tinha praticamente dobrado o capital. Seria de pensar que era o bastante. Hora de cair fora. Como diz o Axioma, era cedo demais. Mas ele não conseguiu sair. Agarrou-se ao papel. Sem qualquer indício anterior, então, a divisão Atari da Warner afundou em um lamaçal de problemas. E, num mergulho ininterrupto e ensandecido, as ações da Warner Communications perderam cerca de dois terços do valor. 3º AXIOMA MENOR Entre no negócio sabendo quanto quer ganhar; quando chegar lá, caia fora. Este 3º Axioma Menor visa ajudá-lo a resolver o sempre difícil e às vezes paralisante problema de saber quanto é o bastante. Conforme se viu, a ganância é a principal razão da di culdade de se tomar essa decisão. Quanto mais se tem, mais se quer. É da natureza do ser humano. Há outro fator, porém, que contribui muito para essa di culdade da maioria, talvez de quase todo mundo: é o fato peculiar de que, se uma especulação dá certo e a fortuna do especulador cresce, a posição recém-atingida se torna a posição inicial. Digamos que você começa com US$1 mil. Aplica-os dando certa garantia, numa especulação com prata. O palpite funciona e, um ano depois, você está com US$2 mil. Dobrou seu dinheiro. Beleza. Se conseguisse isso todo ano, breve estaria milionário. O problema, porém, é que não parece ser a beleza que é. Pelo contrário: de repente, você já está achando que esse dinheiro é seu por um mérito qualquer. A tendência é que passe a encará-lo assim, principalmente se o ganhou devagarinho, ao longo de um ano, e não uma bolada de uma só vez. Em vez de dar pulos e dizer “Epa, dobrei a minha grana!” ou “Olha só, estou com uma milha que não tinha antes!”, a sensação é de que sempre teve aquela soma. Os US$2 mil não parecem ser sua posição ao nal. A sensação é que se trata de uma nova posição inicial. Graças a isso, não será fácil cair fora de tal operação. Se você nunca especulou, nem sequer jogou um pôquer baratinho, isso pode parecer confuso. Também pode parecer um probleminha curioso, capaz de a igir outras pessoas, mas que com você não acontece. É compreensível que pense assim, mas está sendo otimista demais. Chega uma hora em que esse problema a ige praticamente todo mundo. Existe uma remotíssima chance de que você seja imune. O negócio é aprender a enfrentá-lo quando se apresentar. São inúmeras as atividades humanas em que as posições inicial e nal são claramente visíveis, percebidas e compreendidas. No atletismo, por exemplo. Quando um corredor chega ao nal dos 1.500 metros, sabe que é o m. Não existe a questão de correr outros 1.500 metros, a m de ganhar duas medalhas em vez de uma. As energias estão exauridas. A ta foi rompida e o placar já registra o vencedor. Acabou-se. É hora de ir para casa descansar, reunir energias para a próxima corrida. No mundo do jogo e das especulações, são poucos os pontos nais assim tão nítidos. Jogos de pôquer têm m, é verdade. Os hipódromos fecham ao nal do dia. De quando em quando, uma operação de Bolsa pode encerrar quando a empresa na qual se investiu é absorvida por uma empresa maior e deixa de existir. Na maioria dos casos, porém, é você mesmo que terá de decidir quando basta. Isso é muito, muito difícil de fazer, tão difícil que apenas uma minoria aprende. Na realidade, a maioria nem sequer chega a perceber a necessidade de fazê-lo. Mas é uma técnica que você tem de dominar. É a peça essencial do equipamento de um bom especulador. Seu nal — seu basta — é quando você cai fora, dá um suspiro de alívio e relaxa. Como o corredor ao nal da prova, você se joga na grama, ao lado da pista, e pensa: “Tudo bem, acabou. Cumpri meu objetivo inicial. Fiz o que vim fazer. Ganhei a minha medalha. Vou car aqui um pouquinho e saborear a vitória.” Ou então: “Tá legal, perdi, mas já acabou. Vou dar uma descansada, pensar e planejar a próxima. Amanhã eu corro de novo.” De um jeito ou de outro, você terá chegado ao nal. Como, porém, alcançar um nal assim, tão de nido, em um mundo no qual não há tas de chegada nem gongos marcando o m de cada round, principalmente quando cada posição atingida parece ser um novo ponto de partida? Vamos supor que você tenha comprado um punhado de ações da Union Carbide. Ou que tenha investido em ouro, ou na compra de sua casa. Essas não são corridas que terminam em um futuro previsível. São corridas abertas. Não há uma distância arbitrada. Você mesmo, sozinho, é que tem de decidir quando rompeu a ta de chegada. A corrida acaba quando você disser que acabou. O 3º Axioma Menor ensina a alcançar esse nal. Antes de começar a corrida, estabeleça onde é a linha de chegada. Isso facilita devolver as chas e embolsar o dinheiro? Não, claro que não. Mas ca muito mais fácil do que entrar em cada especulação com a ideia de que é uma corrida sem- m. Voltemos ao exemplo inicial. Você tem US$1 mil, e acha que prata é uma boa especulação. Diz a si mesmo: “Vou entrar nisto com o objetivo de...” Mas, seja qual for seu objetivo, não busque nada muito grandioso, seja modesto. Duplicar, alcançar US$2 mil em dois anos, digamos. Ou US$1.500 em um ano. Essa é a linha de chegada. Ao longo da corrida toda, não a perca de vista. E, quando a alcançar, caia fora. Vejamos como isso o ajuda, do ponto de vista psicológico. Ali está você, na linha de partida, com US$1 mil no bolso, na esperança de que se transformem em US$2 mil. Não dá para achar que os US$2 mil estão no papo, porque ainda não estão, e você sabe muitíssimo bem que podem nunca estar. A essa altura do campeonato, na linha de partida, US$2 mil parecem um prêmio pelo qual vale a pena brigar. Não parecem um novo ponto de partida. Parecem a chegada. À medida que a operação vai caminhando, mantenha viva essa sensação. Se e quando atingir o objetivo, a menos que haja razões indiscutíveis, óbvias, para transformar a linha de chegada em um novo ponto de partida, faça um carinho em sua sorte e caia fora. O que podem ser essas “razões indiscutíveis, óbvias” para se continuar em uma corrida cujo plano era terminar? Esse tipo de razões só pode ocorrer por alguma mudança drástica, imprevisível, nos fatos e nas circunstâncias que envolvem sua operação. Uma simples mudança não é su ciente: tem de ser um cataclismo. Surgiu uma situação inteiramente nova, que não apenas lhe dá esperança, mas também muita certeza de que o período de ganhos prosseguirá. Vamos supor, por exemplo, que você especula em mercadorias, está comprando concentrado de laranja em operações a prazo, e atingiu sua linha de chegada. Ao cumprir o que prometeu a si mesmo, está prestes a vender e pôr o lucro no bolso. Ouve, então, que uma geada fora de hora acabou com grande parte da safra de cítricos da Flórida. Em casos assim, pode ser uma boa ideia se manter na corrida ao menos um pouco mais, e ver o que acontece. Situações desse tipo, porém, são raras. Na maior parte do tempo, a ta de chegada só quer dizer uma coisa: acabou. Uma boa maneira de reforçar essa sensação de “ nal” é estabelecer alguma forma de premiação para si próprio. Se quiser, que seja uma medalha. Antecipadamente, prometa a si mesmo que, se e quando alcançar o objetivo preestabelecido, pegará parte do lucro e comprará um carro novo, um casaco de peles, um banjo de cinco cordas, o que lhe der prazer. Ou que levará sua mulher, ou alguém querido, para jantar o que houver de mais ridiculamente caro no restaurante mais caro da cidade. Com isso, o nal associa-se a algum fato real, a algum objetivo concreto. Muitos especuladores, mesmo uns curtidos veteranos da brincadeira, empregam esse estratagema psicológico. Frank Henry costumava presentear-se com ostras e churrasco de lé-mignon à americana — coisas que adorava e que não eram fáceis de encontrar em sua Suíça natal. Jesse Livermore, que às vezes tinha grande di culdade em encerrar suas especulações, a cada vitória presenteava-se com uma nova peça para sua coleção de antigas canecas de barbear. Mary, a amiga de Gerald Loeb, dava a si mesma um vestido ou um casaco. Considerando-se o volume de dinheiro arriscado, essas recompensas podem parecer triviais; o importante, porém, é a sensação de nal que esses prêmios, mesmo aparentemente bobos, podem produzir. Se funcionar com você, então, é esse o caminho a seguir. Não são poucos os solenes assessores de investimentos que franzem a testa para essa prática. Por motivos que ninguém jamais foi capaz de explicar direito, desde o século XVIII existe a crença de que dinheiro de investimento deve ser inviolável. Não se deve gastá- lo, especialmente em frivolidades como uma dúzia de ostras ou um casaco de peles. Existe até uma expressão para de nir esse sacrilégio: esbanjar o capital. Que pouca-vergonha! Mas, como gostava de perguntar Gerald Loeb: ”Por que você se dá tanto trabalho para ganhar dinheiro? Para que serve? Para car olhando?” Loeb, provavelmente, foi o primeiro corretor a dizer em público — e, parece, sem se envergonhar — que o investidor/especulador deve gastar parte de seus ganhos. Na realidade, Loeb chegava a ponto de a rmar que, num ano bom, alcançada ou não a linha de chegada, parte dos lucros deveria ser gasta. Dinheiro de investimento é dinheiro como outro qualquer, ele chamava a atenção. Não tem de car segregado, com um cartaz: “Não tocar.” É claro, existem dezenas de boas razões para você sentar no seu dinheiro. É uma grande ajuda na velhice; numa emergência, é um belo paraquedas; é algo para os lhos herdarem; é bom saber que está no cofre e assim por diante. Tudo muito bem. Só que ele também pode servir para lhe proporcionar um pouco de diversão. Tirar um pouquinho de vez em quando, especialmente numa posição nal, é muito melhor do que se imagina. É por isso que eu o aconselharia a manter seu capital especulativo o mais líquido que puder, bem acessível. Isso se faz melhor em algumas especulações do que em outras. Se seu dinheiro está tranca ado em um imóvel ou em uma coleção de moedas raras, é capaz de permanecer tranca ado até aparecer um comprador. Um número cada vez maior de bancos, porém, começa a oferecer empréstimos sobre ativos ilíquidos como esses, a juros perfeitamente razoáveis. Talvez você possa conseguir algo assim. Com outras especulações, o objetivo de liquidez vem se tornando cada vez mais fácil. Nos últimos anos, bancos e corretoras que operam em ações, opções, mercadorias e metais preciosos vêm criando para seus clientes tipos altamente inovadores de contas- correntes. Eu, por exemplo, mantenho todo o meu capital destinado a ações em um estranho cesto inventado pela minha corretora, a Merrill Lynch, chamado de “conta de fundos administrados”. É uma combinação de várias coisas: em parte, é uma conta normal de depósito de ações com a qual compro e vendo ações da maneira tradicional; mas também é conta-corrente, contra a qual emito cheques, ou saco com meu cartão de crédito. A conta paga tudo. Isso é que chamo de liquidez imediata. E é perfeito para se celebrar uma posição nal. Quando atinjo uma dessas posições, minha mulher, eu e meu cartão de crédito saímos por Nova York, para um m de semana de luxo e pecado. Estratégia especulativa Vamos, então, repassar o que nos ensina o 2º Grande Axioma. Diz: “Venda cedo demais.” Não espere a alta atingir o pico. Não espere que um período de ganhos prossiga inde nidamente. Não teste demais sua sorte. Parta do pressuposto de que tais períodos são breves. Quando atingir uma linha de chegada previamente estabelecida, liquide a posição e caia fora. Faça-o ainda que tudo pareça cor-de-rosa, mesmo que continue otimista e que todo mundo à sua volta esteja dizendo que a alta continuará rugindo sem parar. A única razão para não o fazer será algum fato novo, cujo surgimento praticamente garanta que você continuará ganhando por algum tempo. Exceto em circunstâncias assim inusitadas, habitue-se a vender cedo demais. E, uma vez vendido, não se atormente se a alta continuar sem a sua presença. É bem provável que ela não vá durar muito. Mas, se durar, console-se pensando nas tantas vezes em que, tendo vendido cedo demais, protegeu ganhos que, de outra forma, teriam ido por água abaixo. 3.O 3º Grande Axioma: DA ESPERANÇA Quando o barco começar a afundar, não reze. Abandone-o. O 2º Grande Axioma falou sobre o que fazer quando as coisas vão bem. O 3º Grande Axioma é sobre como escapar quando vão mal. E não há a menor dúvida de que irão mal. Pode apostar. Pode contar como certo que cerca de metade de suas operações especulativas irá para o brejo antes de você alcançar a linha de chegada. Em seus palpites sobre o futuro, vai errar a metade; a metade de suas opiniões sobre as forças econômicas será equivocada. A metade dos conselhos que ouvirá será ruim. A metade de suas esperanças está condenada a não se realizar. Mas anime-se. Isso não signi ca que vai perder US$1 para cada dólar que vier a ganhar. Se fosse assim, o negócio todo perderia o sentido. Isso só é verdade com os incompetentes. Jogadores e especuladores bem-sucedidos lidam melhor com as coisas. Em grande parte, progridem porque sabem o que fazer, sem hesitação, quando a maré se volta contra eles. Saber sair de uma situação complicada talvez seja o mais raro dos dotes especulativos. É raro por ser difícil de adquirir. Requer coragem e um tipo de honestidade a ada como uma navalha. É uma habilidade que diferencia homens e mulheres de meninos e meninas. Há quem diga que é a peça mais importante no instrumental de um jogador ou de um especulador. Uma pessoa que concordaria com isso é Martin Schwartz, ex- analista de valores que hoje se dedica em tempo integral a especular na Bolsa de Mercadorias e Futuros. A maioria dos pro ssionais prefere dizer que “opera” no mercado, mas nós continuaremos com nossa palavrinha: especulação. Em 1983, Schwartz aumentou de maneira espetacular seu capital de risco em 175%. Foi o vencedor do Campeonato Americano de Operadores, uma disputa anual patrocinada pelas corretoras da Bolsa de Mercadorias de Chicago — e cou bem mais rico. Perguntado sobre como obtivera resultados tão bons, Schwartz, ao responder ao New York Times, foi direto ao talento que considera essencial: “Vou lhe dizer como me tornei vencedor: aprendi a perder.” É mais ou menos a mesma coisa que se ouve nos cassinos. Quando indagado sobre o que caracteriza um bom jogador de pôquer, Sherlock Feldman respondeu: “Saber passar.” O amador ca na esperança de que suas cartas saiam, ou reza para que isso aconteça; o pro ssional estuda o meio de se safar quando não saem. Essa, provavelmente, é a grande diferença entre os dois. Ajuda a explicar por que o pro ssional não tem di culdade em viver do jogo, enquanto o amador quebrará a cara sempre que se sentar à mesa para enfrentar pro ssionais. A incapacidade de abandonar rapidamente um barco que esteja afundando, provavelmente, custou mais dinheiro a especuladores que qualquer outro erro. É responsável, com toda a certeza, pelo derramamento de mais litros de lágrimas do que qualquer outro acidente nanceiro. Susan Garner, que não faz muito tempo pediu demissão do Chase para se dedicar pro ssionalmente às especulações, diz: “Ficar preso em uma operação perdedora deve ser a maior dor que o dinheiro é capaz de provocar.” Hoje Susan faz muito sucesso, mas nem sempre foi assim. Custou a aprender as técnicas — principalmente a aprender a perder. Em uma de suas primeiras operações, ela se recorda, pagou US$2 mil por uma participação mínima em um projeto imobiliário em uma cidadezinha. Era um edifício comercial, em uma comunidade meio adormecida que parecia prestes a despertar. Havia um projeto para uma importante rodovia federal passar pela região, margeando a tal cidadezinha. Graças à estrada projetada e a outros fatores econômicos e geográ cos, todo mundo esperava que a cidade se transformasse em um importante polo comercial. Quando isso ocorre, os imóveis, naturalmente, costumam disparar — inclusive os prédios de escritórios. A especulação de Susan Garner parecia promissora. Mas, como costuma acontecer, o futuro foi adiado. O projeto da rodovia teve problemas de nanciamento. Cada vez que se falava dele, era para anunciar novos adiamentos. A princípio, as autoridades informavam que estava adiado por um ano, mais ou menos; depois eram dois, três, cinco anos. Finalmente, encontrou-se um funcionário corajoso, capaz de falar a verdade: honestamente, não sabia quando, nem mesmo se a estrada seria construída. A cada adiamento anunciado, a febre imobiliária arrefecia um pouquinho. O pequeno investimento de Susan Garner não tinha cotação diária nos jornais, mas ela não precisava de números exatos para saber que estava cando mais pobre. Pensou em liquidar. “Havia quem quisesse comprar minha parte”, diz ela. “Mas eu teria de vender com prejuízo, e não tive coragem. Da primeira vez, quando anunciaram o adiamento de um ano, tentei me convencer de que estava tudo bem, que era só esperar um pouco, não passava de um contratempo. Bastava eu ter paciência, pois logo a minha parte recuperaria seu valor.” Aí vieram as notícias de dois e três anos de adiamento. Um dos maiores condôminos do prédio, um advogado, ofereceu US$1.500 pela parte de Susan Garner. Ela não conseguiu engolir a ideia de perder US$500 — um quarto de seu capital —, e recusou. O camarada chegou a US$1.600, e ela não vendeu. À medida que os adiamentos eram anunciados, o preço afundava. O advogado reapareceu e ofereceu US$1 mil. Pouco depois, já eram só US$800. Quanto mais o preço baixava, mais Susan Garner sentia- se presa à sua pequena participação. “Já não se tratava nem de esperança de recuperar meus US$2 mil”, diz ela. “Eu estava uma fera comigo por não ter aceitado os US$1.500 que me haviam oferecido. E lá cava eu, na esperança de que a situação melhorasse, para não fazer um juízo tão ruim de minha competência. Quanto mais caía o preço, mais teimosa eu cava. Preferia a morte a ter de vender meu investimento de US$2 mil por míseros US$800!” Enquanto seu capital cava preso naquele mau negócio, a atenção de Susan era atraída para outras especulações. Queria se aventurar no mercado de antiguidades, principalmente mobiliário; as ações a atraíam. Um amigo lhe ofereceu, por uma pechincha, um álbum de selos do século XIX, que acabara de herdar, e ela se sentiu inclinada a fazer negócio. O problema era que os US$2 mil presos naquele prédio eram o grosso de seu capital de risco. Até liberá-los, mal podia se mexer. “Resolvi, nalmente”, conta, “que seria ridículo deixar meu dinheiro congelado daquele jeito.” Susan vendeu sua cota por US$750. E foi assim que veio a aprender a lição contida no 3º Grande Axioma: quando o barco começar a afundar, abandone-o. Atenção a estas palavras: quando começar a afundar. Não espere até a metade estar submersa. Não reze, não espere nada. Não cubra os olhos e que ali tremendo. Olhe em volta e veja bem o que está acontecendo. Estude a situação. Pergunte a si mesmo se o problema crescente tem solução. Procure indícios con áveis e tangíveis de que as coisas estão melhorando; se não vislumbrar nada no gênero, comece a agir, sem mais delongas. Calma e decididamente, antes que o pessoal todo entre em pânico, abandone o barco e salve sua pele. Nos casos de mercados com pregão diário, ações, mercadorias de operações a prazo etc., esse conselho pode ser traduzido em números. A regra de ouro de Gerald Loeb dizia que se deve vender quando o preço de uma ação cair entre 10% e 15% em relação ao preço mais alto alcançado enquanto se encontra em seu poder. Não importa se, a essa altura, você está perdendo ou ganhando. Frank Henry se permitia uma margem um pouco maior, entre 10% e 20%. A maioria dos especuladores tarimbados opera com regras muito semelhantes. Em todos os casos, a ideia é cortar os prejuízos cedo. Aceite pequenas perdas, para se proteger das grandes. Para exempli car, suponhamos que você tenha comprado um papel a US$100. O negócio começa logo a dar errado, e o preço cai para US$85. Nesse caso, o preço mais alto enquanto a ação esteve com você foi o da compra, US$100.Você está 15% abaixo desse nível, de modo que a regra manda vender. Se não perceber bons indicadores de que vai melhorar, abandone o barco. Ou tomemos um caso mais agradável. Você compra uma ação a US$100, e ela salta para US$120. Pronto, você logo acha que está prestes a car rico. Que dia mais lindo! Um problema inesperado, porém, atinge a empresa, e sua ação volta aos US$100. O que fazer? A essa altura você já sabe como agir. Na ausência de razões ponderáveis para acreditar que as coisas vão melhorar, venda. Saber agir, porém, é só a metade da batalha. Quando tentamos fazer o que manda o 3º Grande Axioma, três obstáculos costumam se erguer à nossa frente. Para alguns especuladores, são obstáculos grandes, intimidadores. Você tem de estar psicologicamente preparado para enfrentá-los. Mas, se mantiver a cabeça fria, conseguirá superá-los. O primeiro obstáculo é o medo de se arrepender — basicamente, o mesmo medo de que tratamos no 2º Grande Axioma. Nesse caso, o medo é de que perdedores se tornem ganhadores depois de você ter abandonado o barco. Isso acontece, e dói. Por exemplo: você comprou um pouco de ouro a US$400 a onça, digamos, e ele despenca para US$350. Não percebendo bons motivos para car, você resolve absorver o prejuízo de 12% e vende. Nem bem se completa a transação, explodem seis novas guerras, quatro países sul-americanos declaram moratória, os países da OPEP dobram o preço do petróleo, as bolsas de valores despencam em todo o mundo e quem tem dólares sobrando corre para se proteger sob o metal amarelo. O preço dispara e bate US$800 a onça. Ai! Pois é, dói demais. Cedo ou tarde, é provável que algo assim lhe aconteça. Não há como evitar. Essas reviravoltas da fortuna, porém, não acontecem todo dia. Com muito maior frequência, uma situação ruim permanece ruim, pelo menos por algum tempo. Os problemas que costumam causar quedas de preços em ativos especulativos — ações, mercadorias, imóveis etc. — tendem a perdurar. Surgem lentamente, e se vão com a mesma lentidão. Quase sempre, o correto é escapar assim que o preço mostra a primeira queda signi cativa. Há certas situações na vida, é verdade, em que o certo é esperar passar o mau tempo. Quando há dinheiro no meio, porém, é muito raro. Se você deixar o dinheiro car entalado em uma operação errada, e o problema perdurar, talvez se passem anos até poder usá- lo de novo. Seu capital ca preso, quando deveria, isso sim, estar trabalhando para você, correndo atrás de outros negócios bons e lucrativos. O segundo obstáculo à implementação do 3º Grande Axioma é a necessidade de se abrir mão de parte de um investimento. Para alguns, é uma dor insuportável. Se valer de consolo, porém, posso lhe garantir que, com a prática, ca menos doloroso. Você está especulando com moedas, suponhamos, e apostou US$5 mil na lira italiana. Seu palpite furou, a taxa de câmbio voltou- se contra você, e o que dá para salvar de seu capital não passa de US$4 mil. Como não há indícios decentes de que a coisa vai melhorar para o seu lado, o mais provável é que deva cair fora. Só que estará abandonando US$1 mil. E é isso que dói. Para alguns, a dor é tanta que não conseguem fazê-lo. O instinto do pequeno especulador típico manda que ele aguente as pontas, na esperança de, um dia, recuperar aqueles US$1 mil. Se você não dominar esse instinto, jamais passará de um pequeno especulador típico, podendo mesmo chegar a ser um especulador falido. O jeito de recuperar seus US$1 mil é tirar US$4 mil do investimento que azedou, e colocá-los em algo bom e produtivo. Se você especula dando certa garantia, a incapacidade de abandonar parte de um investimento se torna um problema duplamente grave. Usando dinheiro emprestado para aumentar seu poder de fogo, sua posição especulativa começa a car parecida com o mais deliciosamente torturante jogo do mundo: o pôquer. Vale a pena examinar um pouco essa semelhança. Na realidade, você terá grande vantagem em estudar o jogo de pôquer, se ainda não está familiarizado. Participe de alguns joguinhos de m de semana, ou organize alguns entre amigos, com um cacife baratinho. O pôquer serve para testar algumas características do ser humano em condições extremas. Há muito que aprender nesse jogo — sobre especulações e acerca de si mesmo. Quando se especula com recursos próprios — ou seja, quando não se usa dinheiro emprestado —, a vida é relativamente simples. Compram-se algumas ações, digamos, e paga-se à vista. Não há necessidade de fazer qualquer outro investimento além deste. Se o preço das ações despencar e você car plantado ali, não querendo abrir mão do que quer que tenha perdido, ninguém tem nada a ver com isso. A única coisa que acontece é você car ali sentado, vendo seu dinheiro encolher. Mas ninguém lhe pedirá para pôr mais dinheiro na operação. Agora vejamos o pôquer. No decorrer da mão, se quiser continuar na parada, você tem de car aumentando seu investimento. Digamos que esteja pedindo para ush. As probabilidades são contrárias a você; provavelmente, é uma mão perdedora. Mas já pôs muito dinheiro no pote, e não consegue convencer-se a sair. Contra tudo o que lhe dita o bom senso — além do 3º Grande Axioma —, resolve continuar. Essa, porém, não é uma especulação do tipo comum, à vista. Aqui trata-se de pôquer. Para prosseguir, é preciso pagar. E, se quiser ver a carta seguinte, isso tem um preço. O jogo exige que, para proteger dinheiro velho, invista-se dinheiro novo sem parar. Especular oferecendo certa garantia causa uma angústia semelhante. Para adquirir um papel

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