Coragem! Chapter 2 & 3 PDF

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Summary

This is a children's book, focusing on a young boy's experience in finding a lost friend in a mountain setting.

Full Transcript

# 2 Perdido A pedra fortemente lançada por Jeremy quicou nas claras águas do lago da montanha e formou pequenas ondas que corriam em todas as direções. Junto à margem, dois cavalos saltaram e relincharam de susto em resposta ao profundo *splash* da água. - Ei! - disse Carolyn, amiga de longa da...

# 2 Perdido A pedra fortemente lançada por Jeremy quicou nas claras águas do lago da montanha e formou pequenas ondas que corriam em todas as direções. Junto à margem, dois cavalos saltaram e relincharam de susto em resposta ao profundo *splash* da água. - Ei! - disse Carolyn, amiga de longa data do rapaz, que estava sentada em uma toalha de piquenique estendida sobre a grama ali perto. - Você está assustando nossos animais. Vá com calma. Jeremy enfiou as mãos nos bolsos e chutou uma pedra solta. - Como posso relaxar quando minha vida está indo de mal a pior? Ele ouviu a risada de Carolyn. - Aqui no acampamento, você tem uma atividade tão legal! Além disso, tem a minha amizade. Seu irmão me acha bonita. O adolescente sorriu, apesar de sua frustração. - Meu irmão tem cinco anos. - Bem - retrucou Carolyn, fingindo arrumar o cabelo -, ele já tem idade para apreciar as belas coisas da vida. ## Perdido 15 Jeremy foi até a toalha e se sentou ao lado da amiga. - É só que... bem... às vezes, fico meio confuso. Quero dizer, estou aqui, bancando o conselheiro de um grupo de crianças, ensinando-as a andar a cavalo e tentando ajudá-las a se divertir neste acampamento. Então uma delas me faz uma pergunta que eu não consigo responder. Eu me sinto tão estúpido. Quando se trata de religião, eu sou um fracasso. - Por que você diz isso? - Eu sei falar sobre Daniel na cova dos leões ou sobre Moisés atravessando o Mar Vermelho, mas um menino me perguntou como eu sei que Deus me ama mesmo quando não sinto que Ele me ama. Como explicar isso? Carolyn concordou com a cabeça. - Eu entendo o que você quer dizer. Ela fez uma pausa. - Talvez você devesse perguntar isso ao pastor de nossa igreja. Ele parece ser legal. - Ele é - concordou Jeremy -, mas ele não pôde vir neste acampamento. Só sei que esse garoto vai me incomodar de novo hoje à noite. Ele é um garotinho insistente. A garota olhou para o céu de fim de tarde. - Bem, não sei o que dizer. E acho que é melhor voltarmos para o acampamento. Ela sorriu para seu amigo. - Gostei do nosso piquenique, embora você tenha assustado os cavalos e batido no lago. Jeremy riu. - Desculpe-me por isso. Eu também me diverti. Você é uma verdadeira amiga. Carolyn suspirou. - Sim, eu sei. ## Coragem! 16 Os dois juntaram as coisas e montaram nos cavalos. Durante a cavalgada de volta para o acampamento, não se ouvia qualquer barulho, exceto o pio distante de um falcão e o farfalhar suave das ondulações no lago. Jeremy e Carolyn estavam apreciando a paisagem e se deliciando com o ar fresco da montanha quando, de repente, a égua do rapaz começou a agir de maneira estranha. - Qual é o problema, garota? - perguntou Jeremy. - Olhe - Carolyn apontou para um tronco caído a alguns metros de onde as duas trilhas se cruzavam. Lá, sentado sozinho, estava um menino de sete ou oito anos. Seu rosto estava sujo de lama e sua jaqueta parecia rasgada, como se ele tivesse rastejado pelo mato. - Olá? - disse Jeremy, controlando rapidamente seu animal para fazê-lo parar. - Você está bem? O menino ergueu o queixo. - Não - disse ele. - Estou perdido. - Há quanto tempo você está aqui? - Desde esta manhã. Meus pais estavam pescando no *Big Lake*, e eu fui dar uma volta. Você sabe onde fica o *Big Lake*? - Claro que sim - respondeu Jeremy, escorregando de sua sela e caminhando até o garotinho. - Eu trabalho em um acampamento lá perto. Quer uma carona de volta? Vamos encontrar sua mãe, seu pai e todo mundo. O menino concordou. - Fiquei meio assustado. - Eu sei - disse o adolescente. - Isso é o que acontece quando você fica perdido. Mas você fez a coisa certa. Você veio para essa trilha e ficou aqui. Estou muito orgulhoso de você. Agora, deixe-me ajudá-lo a subir. Vamos voltar e encontrar seus pais. Eles provavelmente estão muito preocupados. ## Perdido | 17 Enquanto o menino estava sendo içado para a sela, ele notou outra pessoa em um cavalo esperando por perto. - Quem é ela? - ele perguntou. - O nome dela é Carolyn - disse Jeremy. - Ela é uma amiga minha. O menino olhou para a garota por um longo momento. - Ela é linda - disse ele. Jeremy revirou os olhos. - Já ouvi isso antes. Trinta minutos depois, quando o trio entrava no *Big Lake Summer Camp*, rostos surpresos e aplausos os cercaram imediatamente. - Onde vocês o encontraram? - perguntou o diretor do acampamento, correndo até os cavalos. - Temos equipes de busca procurando por horas. Jeremy estava prestes a explicar o que havia acontecido quando um homem e uma mulher abriram caminho no meio da multidão. - Oh, Willie! Eles encontraram você. Graças a Deus, você está a salvo! - Mãe! - o menino chorou ao cair nos braços abertos da mãe. O homem e a mulher abraçaram o filho enquanto lágrimas de alegria escorriam por dezenas de rostos. Jeremy estava feliz. Quando ele olhou para Carolyn, ela estava com seu largo sorriso. Ambos estavam contentes por terem participado do resgate do pequeno Willie. O alegre reencontro continuou se repetindo na mente de Jeremy enquanto ele cumpria suas tarefas naquela noite, cuidando dos cavalos e certificando-se de que os acampantes estivessem alimentados e os pratos, devidamente lavados. Ele não conseguia tirar a cena daquele pai e daquela mãe de seus pensamentos, mesmo quando o sol se pôs sobre o lago e os grilos começaram suas serenatas noturnas. Uma oração especial de agradecimento foi oferecida no início da reunião em torno da fogueira do acampamento. Então o diretor pediu a Jeremy e Carolyn que contassem para todos os detalhes do resgate. ## Coragem! 18 Os dois adolescentes alegremente compartilharam os acontecimentos da tarde. Quando terminaram, Jeremy disse: - Sabem, uma pessoa me fez uma pergunta importante. Ele quer saber como podemos ter certeza de que Deus nos ama mesmo quando não sentimos que Ele nos ama. Bem, essa tarde descobri a resposta. O pequeno Willie estava perdido, mas seus pais não pararam de amá-lo. Eles estavam procurando em todos os lugares, mesmo que seu filho não soubesse. Deus ainda nos procura, mesmo que não possamos vê-Lo. Ele ainda nos ama, mesmo quando nos sentimos perdidos. Cabecinhas jovens se moveram, concordando, ao redor do brilho do fogo, enquanto brasas quentes subiam na escuridão total. - Portanto - Jeremy concluiu, com um sorriso gentil marcando seu rosto jovem -, para quem tem pensado nisso, eu digo que não se preocupe. Não há lugar para onde você possa ir ou nada que possa fazer que impeça o Pai Celestial de parar de procurá-lo e amá-lo. E isso deve nos fazer saber que temos muito valor. O adolescente olhou para Carolyn, que estava sentada com um orgulhoso sorriso iluminando seu rosto por causa do amigo. Parecia que duas pessoas haviam sido resgatadas naquela tarde. ## Não Tenha Medo! Pessoas que confiam em Deus tendem a ser mais corajosas. Elas acreditam em Deus quando outros se recusam a fazê-lo. Elas falam com Deus quando todo mundo fica em silêncio. Elas se tornam pessoas incomuns. No entanto, elas estão em boa companhia. Jesus também era incomum. Ele curou pessoas no sábado, embora os líderes da igreja de Sua época dissessem que isso era contra as leis religiosas feitas pelos homens. Ele jantou com homens e mulheres de má reputação, trazendo acusações dos religiosos e fazendo com que as línguas dos que se achavam mais santos se agitassem. Ele era amigo dos pobres e até percebeu quando uma viúva deu uma pequena oferta no templo. Ele andava com leprosos e aleijados, tratando-os como iguais. Portanto, se você quer se tornar tão incomum quanto Cristo era: - Faça coisas boas e ajude as pessoas, não importa que dia seja; - Não vire as costas para as pessoas que são alvo de boatos desagradáveis ou risadas injustas; - Se um aluno pobre aparecer na aula usando um par de tênis novos que não são exatamente da última moda, diga-lhe: "Ei, tênis legais! Aposto que você consegue correr mais rápido com eles!"; - Se você vir alguém com mobilidade reduzida lutando para subir escadas, abrir uma porta ou jogar futebol em uma cadeira de rodas, ajude essa pessoa a levantar-se, passar e vencer! ## 3 A Guerra de Angelina Angelina cuidadosamente se ergueu mais alto, abraçando o galho estreito com os braços e as pernas. A copa das árvores balançava na brisa fresca, levando-a para a frente e para trás em um arco vertiginoso. Mas ela não se importava. Ali em cima, o mundo parecia um pouco menos ameaçador, um pouco menos assustador. - Angelina Shiwotenko - ela ouviu uma voz distante chamar -, você não deve subir tão alto. Você pode cair. A jovem sorriu e olhou para a mãe, parada lá embaixo. - Estou bem - respondeu ela. - Quero ver quando o papai estiver voltando. Talvez ele traga algumas maçãs ou pão... Suas palavras foram interrompidas pelo som de um veículo se aproximando rapidamente. Um caminhão do exército alemão se chocou em uma elevação e seguiu pesadamente pela estrada rural; seu motorista estava obviamente com muita pressa. Quando o veículo passou derrapando perto de onde a garota estava, Angelina agarrou o galho com mais força. Na caçamba aberta do caminhão, estavam vários homens, seus uniformes estavam manchados de sangue e cobertos de lama. Em um instante, eles se foram, deixando para trás o leve cheiro da fumaça do escapamento. - Desça daí! - a menina ouviu a mãe pedir novamente. - Seu pai está ocupado tratando dos soldados feridos. Não acho que ele queira adicionar a filha mais nova à lista de pacientes. Angelina concordou com a cabeça. - Está bem, mamãe. Estou indo. Enquanto fazia seu caminho por entre os galhos, a menina de dez anos balançava a cabeça tristemente. Nos últimos três anos, ela e a família viram a vida no pequeno assentamento ucraniano ir de mal a pior. Com a Segunda Guerra Mundial devastando a Europa, nunca havia o suficiente para comer. Agora, com as forças militares alemãs lutando contra os russos, eles tinham de dividir as escassas provisões que a terra oferecia com dois exércitos inimigos. E tinha o pai. Na noite anterior, ela ouviu seus pais conversando. - Os alemães me obrigaram a cuidar de seus doentes - disse o homem, em voz baixa -, mas posso afirmar que eles estão ficando nervosos. As forças comunistas russas estão ficando mais fortes a cada dia. Fala-se em uma retirada. Se os nazistas partirem, eles prometem nos levar com eles. Você é um quarto alemã, Pauline. Hitler quer você para sua nação especial, "limpa". Podemos começar uma nova vida longe daqui. Enquanto Angelina ouvia, o homem fez uma pausa e então sua mãe falou baixinho. - Talvez eles até deixem você recuperar sua licença médica. Aqui na Ucrânia, você não pode atuar enquanto se recusar a entrar para o partido comunista. Mas ainda pode continuar seu trabalho como pastor. - Não. Isso não é suficiente – o homem interrompeu, com firmeza. - Deus me chamou para curar almas feridas, assim como corpos feridos. Devo fazer as duas coisas. - Então iremos com os alemães quando eles recuarem - concluiu mamãe, suavemente. - Vamos levar as meninas e deixar este lugar para sempre. "Deixar este lugar. Deixar este lugar." As palavras ecoaram nos pensamentos de Angelina durante toda a noite e no dia seguinte. Mesmo depois, ela se lembrava da urgência na declaração de sua mãe. A Alemanha parecia ser sua única esperança. Ela se perguntava como seria o novo país. Será que eles se sentiriam seguros e, mais importante, encontrariam o suficiente para comer naquela terra distante? ***** A locomotiva do trem de carga chiava com o vapor e cuspia água fervente enquanto esperava que os passageiros subissem a bordo. O pai guiava sua pequena família ao longo da plataforma da estação, dando instruções em voz alta acima do barulho dos oficiais que gritavam dando ordens para soldados confusos e do estrondo de tiros distantes. Angelina e sua irmã mais velha, Adventina, junto à mãe, sentiram uma certa emoção ao enfrentar a longa jornada. Para a jovem, a vida era uma aventura, não importava o que estivesse prestes a acontecer. Então ela viu as fileiras de homens feridos gemendo, deitados em camas de palha empoeiradas, corpos alinhados em vários vagões como lenha recém cortada. Essas vítimas feridas da guerra viajariam com os refugiados. O trabalho do pai era garantir que o maior número possível de soldados chegasse vivo ao ponto final. Cheiro de infecção e de suor pairava no ar como uma névoa sufocante. Mas essa não era para ser uma viagem de lazer. Os passageiros que lotavam a plataforma e se comprimiam nos vagões abertos fugiam para salvar a vida. Ficar para trás significava prisão e morte certa nas mãos dos comunistas que se aproximavam. ## A Guerra de Angelina | 23 Os dias seguintes transcorreram em uma mistura de longas esperas e movimentos apressados e bruscos sobre trilhos perigosos. Aviões de guerra sobrevoavam, jogando morte de suas asas, com bombas explodindo, levantando toneladas de terra e transformando trilhos de aço em esculturas grotescas. Parecia que nada poderia impedir a corrida desesperada e impetuosa dos russos em direção à Alemanha. Os passageiros sentavam-se amontoados em vagões, esperando e orando para que a próxima bomba falhasse, ou caísse longe, e que eles vivessem para ver outro nascer do sol. Por fim, a viagem acabou. A fronteira alemã chegou e ficou para trás. Enquanto a locomotiva suspirava de alívio ao final da viagem, Angelina leu a placa pendurada na plataforma da estação. Com letras em negrito, anunciava a todos que eles haviam chegado a LEIPZIG. ***** O prédio tremia com as vozes e a comoção incessante das pessoas. "Então essa é a Alemanha", refletiu Angelina enquanto seguia os pais para uma grande sala com outras 40 pessoas. - Parece que agora fazemos parte de uma grande família - disse o pai, olhando para os jovens e velhos moradores do movimentado acampamento da cidade. - Onde vamos dormir? - perguntou Adventina. - Ali - disse a mãe, apontando para as fileiras de treliches alinhadas nas paredes. - Angelina, vou deixar você ficar na cama de cima, já que você gosta de escalar as coisas. - Não é exatamente uma árvore - ela disse, sorrindo -, mas, se eu olhar pela janela enquanto estou deitada na minha cama, talvez consiga fingir que estou no alto dos galhos lá de casa. - Não - falou o pai. - Esta é nossa casa. Nunca mais voltaremos à Ucrânia. Você entende? - Sim, papai - respondeu Angelina, balançando a cabeça solenemente. - Esta é minha casa... por enquanto. - Isso mesmo - disse o homem, sorrindo, com os olhos cheios de ternura familiar. - Somos uma família. Aonde quer que formos, desde que estejamos juntos, estamos em casa. A vida no acampamento ditava um padrão de trabalho e de sono. Exceto pelos grandes insetos que percorriam o teto à noite, caindo inesperadamente em quem dormia logo abaixo, Leipzig definitivamente estava um passo acima do que a família havia deixado para trás. Mas, assim que as coisas pareciam estar melhorando, o governo alemão informou ao pai de Angelina que ele deveria se apresentar para a entrada imediata no exército como soldado. - Não posso ir - sussurrou o homem na noite do anúncio. Angelina se inclinou sobre a borda do seu beliche na escuridão, tentando ouvir suas palavras. - Como posso eu, um médico e pastor adventista do sétimo dia, pegar uma arma e matar alguém, mesmo que seja um inimigo? Devo obedecer a Deus, não aos homens. - O que você vai fazer? - perguntou a mãe. Depois de uma longa pausa, o homem anunciou: - Vou passar fome até morrer. Angelina perdeu o fôlego. Ela ouviu direito? Depois de sobreviver aos comunistas na Ucrânia e à angustiante viagem de trem para a Alemanha, seu pai morreria de fome? ## Uma Família - Angelina Shiwotenko? - o homem com um uniforme cuidadosamente passado lendo a lista fez uma pausa e olhou para os rostos reunidos ao seu redor. - Angelina está aqui? - Sim, senhor - veio uma resposta tímida do meio da multidão. - Ótimo - respondeu o oficial, marcando o nome da garota. – Você e os outros da minha lista serão enviados para outro campo para novas ordens de trabalho. Os ônibus chegarão amanhã cedo. Não é longe e o trabalho não é difícil. Führer Hitler aprecia seus esforços em nome do nosso grande país, a Alemanha, que luta nobremente contra a agressão estrangeira. Desejo uma noite agradável a todos vocês. Com isso, o homem de uniforme se virou e saiu rápido da sala lotada, deixando para trás vozes agitadas. Mais trabalho, maior circulação de pessoas e habilidades; a Alemanha estava fazendo o possível para resistir à pressão constante aplicada pelo avanço dos exércitos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia. Todos, homens, mulheres e crianças, dentro das fronteiras alemãs eram obrigados a trabalhar de alguma forma para ajudar no esforço de guerra. - Mas... eu não quero deixar vocês! - Angelina soluçava nos braços da mãe. - Vou ficar sozinha e com medo. Não seremos mais uma família. - Você não deve se preocupar, filha - disse o pai disse, enquanto The acariciava o cabelo loiro e macio. - Vou lhe dizer uma coisa. Todos os dias, ao meio-dia, quando os sinos da igreja aqui em Leipzig tocarem, onde quer que estejamos ou o que quer que estejamos fazendo, faremos uma pausa e oraremos. Estaremos orando juntos, como se estivéssemos no mesmo cômodo. Angelina concordou enquanto olhava para o rosto gentil de seu pai. - Papai? Você... você vai morrer? - Por que você está perguntando uma coisa dessas? - Eu ouvi você e a mamãe conversando algumas semanas atrás. Você disse que iria morrer de fome para que eles não o levassem para o exército. Você vai morrer? - Não, minha querida! Estou apenas me enfraquecendo para que não me forcem a entrar no exército e me ordenem a matar pessoas. Em vez disso, quero conseguir minha licença médica alemã para poder salvar vidas e contar aos outros sobre Jesus. Angelina analisou seu pai por um momento. Seus olhos estavam escuros e fundos, seus braços e dedos, ossudos e enrugados. Então ela entendeu. Ele não iria se matar de fome. Estava apenas tentando de todas as formas não se tornar um soldado combatente. Um alívio inundou seu corpo enquanto ela abraçava o homem. - Amo muito você, papai - disse ela, enterrando o rosto em seu peito esquelético. - Às vezes tenho tanto medo. O que acontecerá conosco quando os americanos ou os russos vierem? - Espero que os americanos nos encontrem primeiro - sussurrou o homem. - Ouvi dizer que eles são muito mais gentis do que os russos. Mas agora devemos trabalhar e sonhar com nosso futuro juntos depois da guerra. Você deve entrar naquele ônibus e, quando ouvir os sinos da igreja tocando, lembre-se de orar. Dessa forma, permanecemos uma família, certo? Angelina concordou. ***** Após alguns meses de separação, Angelina e sua família receberam a notícia de que estavam sendo transferidos para outro acampamento em uma cidade distante. A essa altura, o pai da menina precisou ser hospitalizado por causa da desnutrição. Em poucos dias, foi decidido que seus serviços não seriam necessários no exército. Ele estava livre para buscar sua licença médica alemã ou morrer, o que viesse primeiro. O pastor Shiwotenko venceu sua batalha particular e secreta com o exército. A família se estabeleceu em sua nova casa na cidade de Freiburg. Pelo menos, todos estariam trabalhando no esforço de guerra no mesmo lugar, em vez de estarem em campos separados. ## A Guerra de Angelina | 27 Certa tarde, o pai pegou suas duas filhas pela mão e as levou colina abaixo em busca de comida, uma atividade comum dos refugiados na Alemanha devastada pela guerra. - Aposto que há uma mulher na vila assando pães neste exato momento - afirmou o homem, com confiança, enquanto caminhavam pela estrada poeirenta - e ela ficará feliz em compartilhar alguns conosco. - Estou com frio, papai - disse Angelina, tentando afastar o frio do inverno. - É só mexer os dedos dos pés enquanto caminha - sugeriu o homem. - Isso pode ajudar a esquentá-los um pouco. Chegando à periferia da aldeia, eles decidiram se separar e cada um escolheu algumas casas para bater e pedir comida. Angelina bateu timidamente à porta da frente da primeira casa e esperou com expectativa. - Ora, ora - veio uma voz atrás da tela. - O que você está fazendo aí fora em um dia tão frio de inverno? A garota sorriu. Embora ela entendesse um pouco de alemão, tinha dificuldade em falar. Contudo, ela aprendeu uma frase com perfeição. - Temos fome - disse ela. - Você tem algo para comer, por favor? Angelina viu a mulher sorrir calorosamente. - Claro - veio a resposta, rapidamente. - Acabei de assar pão. Tenho algumas maçãs também. Você quer algumas? A garota sorriu. O papai estava certo! Aquela gentil mulher estava fazendo exatamente o que o pai havia predito. Correndo de volta para os outros, Angelina orgulhosamente mostrou-lhes seus presentes. - Espere - disse o homem. - Você não se esqueceu de alguma coisa? A garota pensou por um momento e observou o pão quentinho e as maçãs crocantes firmemente seguras em seus braços. - Não, papai. Acho _que não_. - Você se esqueceu de agradecer ao Senhor. Angelina sorriu e concordou timidamente com a cabeça. - Acho que sim - disse ela. Então, ali mesmo, parados na estrada rural com o vento de inverno assobiando no ouvido deles, os três estrangeiros inclinaram a cabeça e oraram, agradecendo a Deus a bondade dos estranhos e a comida da qual logo desfrutariam. ***** Depois de um tempo, o pai fez os testes do governo e recebeu uma licença para exercer a medicina na Alemanha. Ele imediatamente encontrou trabalho em Pirna, uma cidade a 18 quilômetros de Dresden. - Ficaremos seguros lá - disse ele. Logo eles descobriram que ele estava errado. - Ouçam! A mãe ergueu o dedo, interrompendo subitamente toda a conversa. Angelina olhou ao redor da pequena sala que agora chamavam de lar. A princípio, ela não ouviu nada. Depois, um copo sobre a mesa começou a vibrar, enviando minúsculas ondas circulares pela superfície da água que estava nele. A janela balançou ligeiramente, depois balançou novamente. Angelina e sua irmã sentiram as tábuas do assoalho tremerem sob seus pés quando um baixo e raivoso estrondo soou em seus ouvidos e um barulho pressionou seu estômago como uma mão invisível. - O que é isso? - as meninas perguntaram, em um rouco sussurro. As três se levantaram juntas e caminharam até a janela. Quando abriram as cortinas, ficaram boquiabertas. O céu noturno brilhava em rosa, vermelho e amarelo para o lado de Dresden. Batidas baixas e percussivas pulsavam no ar frio. Angelina olhou para o céu e notou que as estrelas pareciam estar piscando aleatoriamente. Mas esse mistério logo se revelou quando chamas brilhantes começaram a cair de um céu cheio de bombardeiros. Os aliados escolheram a cidade a 18 quilômetros de distância como alvo de bombardeio para aquela noite. Pelo céu escuro voavam centenas de aeronaves poderosas, todas carregadas com toneladas de destruição. Como o povo alemão havia apagado ou escondido cuidadosamente todas as luzes nas casas e cidades abaixo, os pilotos não tinham como saber se estavam realmente atingindo seus alvos. Alguns ficaram conhecidos por lançar suas bombas longe dos alvos pretendidos. O pai entrou correndo na sala, com o rosto pálido de angústia. - Venham! Temos que fugir, temos que fugir rapidamente - gritou ele - ou poderemos morrer! ## Milagres A estação de trem estava tumultuada. As pessoas gritavam e se empurravam, tentando se posicionar ao longo da plataforma para que estivessem paradas ao lado das portas abertas dos vagões quando o próximo trem chegasse. À distância, as batidas percussivas de bombas estourando ecoavam no ar frio, e um brilho misterioso lançado pela cidade em chamas de Dresden refletia nos rostos aterrorizados que passavam apressadamente. O pai abraçou a mãe e as duas filhas pequenas, tentando evitar que fossem empurradas para o lado e, quem sabe, até separadas da família. - Vamos ficar bem - assegurou. - Papai, estou com medo - chorou Angelina. - Continue orando - pediu o homem. Eles ficaram na plataforma por horas, esperando e orando. De repente, eles ouviram o apito estridente de uma locomotiva que se aproximava. O vapor anuviando o motor, o gemido profundo e o barulho dos carros só aumentavam o medo. Com uma guinada, o transporte parou. Ele já estava cheio de gente, algumas paradas precariamente entre os carros. O pai percebeu que não conseguiria reunir todos da família ao mesmo tempo, então entrou em ação. Angelina sentiu-se sendo erguida no ar e literalmente jogada por uma pequena janela aberta. Ela ficou no topo da cabeça das pessoas e começou a escorregar sobre os ombros delas e a cair lentamente, passando por braços e pernas que se mexiam. - Papai! - ela gritou. Tudo o que ela podia ouvir eram as reclamações das pessoas que a cercavam. Ela tinha dificuldade para respirar enquanto deslizava lentamente cada vez mais para baixo na direção dos pés de seus companheiros de viagem. O trem deu um solavanco para frente, jogando-a nas tábuas do assoalho com uma dura pancada. Angelina começou a chorar. Deitada ali, cercada por pés nervosos e botas de couro endurecidas pela neve, ela chorava muito. Sua família foi deixada para trás com as bombas caindo. Todos eles morreriam antes que o sol da manhã nascesse em meio à fumaça e aos escombros que já estavam sendo lançados para o alto como um manto de morte. Então ela ouviu uma voz chamando seu nome. Parecia distante. - Angelina. ANGELINA! - Papai. Estou aqui. PAPAI! - Angelina - gritava a voz distante. - Estamos todos a bordo. Ainda estamos juntos! A garota estremeceu de alívio. De alguma forma, o pai dela, a mãe e Adventina conseguiram entrar no trem! Ao olhar em volta, entre as pernas de seus companheiros de viagem, ela percebeu um vaso sanitário de porcelana bem perto de sua cabeça. Na pressa de colocar sua preciosa filha no trem, o pai a jogou pela janela aberta de um banheiro. Pouco antes do amanhecer, o sobrecarregado trem entrou em Wallersberg. Não conhecendo ninguém, os quatro viajantes cansados sentaram-se em um banco frio na plataforma da estação para tentar traçar um plano de ação. Eles estavam com fome. Suas únicas posses eram as roupas finas e esfarrapadas que os protegiam do frio matinal. De repente, alguém que estava por perto falou: - Vocês têm um lugar para ficar? A pequena família se virou e olhou nos olhos de um casal alemão de meia-idade. - Temos uma pequena fazenda com espaço para mais alguns convidados - continuou o homem -, se não forem muitos. O pai levantou-se educadamente. - Senhor, somos uma família de quatro pessoas, mas... - ele fez uma pausa - somos ucranianos. Seu país está em guerra com o nosso. Deveríamos ser inimigos. O fazendeiro estendeu a mão. - Somos todos vítimas da mesma insanidade - afirmou. - Venham. Vocês podem ficar em nossa casa. Angelina e os outros seguiram o casal para fora da cidade e para o meio da floresta, onde encontraram uma pequena e aconchegante casa situada no meio de um tranquilo bosque. A garota sorriu abertamente enquanto olhava para as árvores altas e imponentes que se elevavam acima de sua cabeça. Ela gostava tanto de árvores, especialmente quando se sentava no alto, entre seus galhos. O ar frio do campo a revigorava. "Talvez o pior já tenha passado", ela pensou enquanto se sentava perto do fogo crepitante do casal na sala de estar. "Talvez as coisas melhorem de agora em diante." ***** A vida na pequena fazenda parecia quase normal. Apenas o estrondo distante de bombas explodindo e o ocasional carregamento de soldados feridos lembravam à Angelina de que as batalhas continuavam. ## Coragem! 32 Certa manhã, a guerra da qual eles pensavam ter escapado irrompeu na região com força total. - Rápido, temos que nos esconder no porão! -, o fazendeiro gritou por cima do barulho repentino de metralhadoras e o tum-tum de morteiros explodindo. - Ficaremos seguros lá. Todos saíram correndo pela porta da frente do aconchegante chalé e mergulharam no pequeno porão subterrâneo cavado a poucos metros da casa. Depois que algumas horas se passaram, o som da batalha diminuiu e todos deram um suspiro de alívio. Então ouviram passos pesados na entrada do porão. Lentamente, a porta se abriu com um rangido e um longo e frio cano de rifle emergiu do feixe de luz do sol. Uma voz falou na escuridão. Ninguém tinha certeza do significado daquelas palavras, mas a mensagem era clara. Angelina e os outros levantaram as mãos acima da cabeça e saíram cercados por soldados americanos, com armas apontadas em sua direção. O oficial encarregado fez sinal para que todos entrassem na casa. "Então é isso", Angelina pensou consigo mesma enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. "Eu vou morrer hoje." Ela sentiu o pai olhando para ela. Curvando-se, o homem sussurrou em seu ouvido: - Onde está sua fé, minha pequena? Ore muito! De repente, as armas dispararam ao redor, enchendo o ar com um barulho terrível de tremor de terra. - De volta ao porão! - o oficial ordenou, empurrando o grupo para fora da casa. Enquanto Angelina se jogava no chão de terra, ela se virou para se certificar de que sua família estava segura atrás dela. Todos estavam lá, exceto o pai. - Papai! - ela gritou. - Papai, onde você está? Parecia que os soldados americanos tinham outros planos para o gentil médico em seu poder. Eles ordenaram que ele ficasse na frente da casa, com os braços erguidos em sinal de rendição, de frente para os artilheiros alemães que atiravam por trás dos arbustos e das árvores. Os americanos esperavam que o exército que se aproximava não matasse alguém que se parecesse com seus compatriotas. Horrorizada, Angelina se encolheu na porta do porão observando as balas assobiando no alto, batendo no reboco branco da casa, transformando-o em um pó fino que caía sobre seu pai como uma neve mortal. As paredes, janelas e porta da frente explodiram e formaram pilhas quebradas enquanto ele permanecia imóvel, com braços erguidos, olhos fechados e com lábios proferindo palavras que só Deus podia ouvir. De repente, acabou. As armas silenciaram. Todos os soldados americanos estavam mortos. A casa estava em ruínas. Mas papai não foi tocado, graças à mira cuidadosa dos alemães. Angelina correu para os braços de seu pai e enterrou o rosto em seu casaco coberto de gesso. Ela não conseguia falar. Ela só conseguia chorar. Algumas semanas depois, as forças americanas e britânicas avançaram pela área novamente, desta vez em maior número, empurrando os alemães para trás. Todos sabiam que a guerra logo terminaria. ***** Certa manhã, Angelina acordou com um silêncio estranho e sinistro. Nenhum barulho de armas nos campos distantes. Nenhum avião sobrevoava. Nenhuma bomba caindo abalava a terra. Lentamente, a garota saiu e escolheu um grande carvalho. Com as mãos trêmulas, ela começou a subir. Mais alto, mais alto, mais alto... ela subiu até que pudesse ver por quilômetros em todas as direções. Nenhuma carroça puxada por cavalos cheia de corpos feridos e sangrando passou por baixo. Nenhuma fumaça fedorenta e detritos flutuantes pairavam no ar frio. O sol estava nascendo em um novo dia, um dia marcado pelo abençoado silêncio da paz. Lá no alto, Angelina sorriu enquanto o sol da manhã aquecia seu rosto. Finalmente, a guerra havia terminado. ***** Angelina e sua família se mudaram para os Estados Unidos alguns anos depois da guerra. Ela cresceu, se casou e se estabeleceu no norte da Califórnia, onde trabalhou para a *Pacific Press Publishing Association* por muitos e muitos anos. Se você perguntasse a Angelina o que a guerra lhe ensinou há tanto tempo, ela diria rapidamente: - Aprendi a procurar por milagres. Eles estão ao nosso redor. ## Não Tenha Medo! Você sabe como é um milagre? Não? Bem, confira a lista a seguir para saber se talvez você já tenha visto algum acontecendo: - O cinto de segurança que salva uma vida em um terrível acidente de trânsito. - Um médico habilidoso que restaura a saúde de um corpo doente. - Um amigo que fica ao seu lado mesmo quando todo mundo foge. - Um professor que se recusa a desistir de você, mesmo que você tenha reprovado duas vezes na prova. - Sua mãe ou seu pai que trabalham em dois empregos para pagar sua educação cristã. - Você sente a doçura do cheiro de lírios se abrindo. - Um casal de andorinhas que retorna ao mesmo ninho ano após ano. - Seus pais juntos em tempos difíceis e até parecendo se amar mais. - Uma pessoa que morre feliz com o amor de Deus preenchendo seu coração. - Você quer seguir seus amigos em alguma atividade pecaminosa, mas não o faz. Esses são milagres muito reais, que podem estar acontecendo bem debaixo do seu nariz. Não subestime a Deus. Ele está trabalhando duro agora mesmo, procurando tornar sua vida melhor, mais segura, mais saudável e com menos medo. Por que não parar e agradecer a Deus

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