Aula 2: Da Produção Artesanal à Produção Industrial (PDF)
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This document is an educational resource on the transition from artisanal to industrial production, analysing its impact on societal and business processes.
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2 AULA Da produção artesanal à produção industrial...
2 AULA Da produção artesanal à produção industrial Meta da aula Analisar a passagem da produção artesanal à produção industrial e seus reflexos nos estudos dos processos objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: diferenciar produtos artesanais de industriais em 1 relação ao modo de produção; 2 em um estudo de caso, classificar o modo de produção de uma empresa. História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial INTRODUÇÃO Nesta aula de História do Pensamento Administrativo, você irá observar alguns aspectos históricos – de forma breve – em relação à evolução da mão-de-obra e sua representação como categoria social, aplicando-os às práticas de trabalho artesanal e industrial. Para tal, você está convidado a relembrar resumidamente alguns movimentos sócio-históricos que permitiram o surgimento do trabalhador, sua inserção na atividade trabalhista e na sociedade. Em seguida, você verá as principais características das práticas administrativas de manufatura e indústria. DOS ESCRAVOS AOS BURGUESES Você já sabe que o Império Romano, marco da História Ocidental, tinha como objetivo conquistar e ocupar novos territórios, colonizando-os. Entretanto, essa colonização era nitidamente marcada por uma relação servil – ou de subordinação direta, posto que os altos cargos públicos eram ocupados, quase que exclusivamente, por romanos. Além disso, era evidente o descontentamento dos povos colonizados, pois, além de perderem sua liberdade, pagavam altos impostos para sustentar a ascensão do Império e os grandes gastos do imperador. Com a decadência e a destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do século V d.C., conseqüência das inúmeras invasões dos povos bárbaros e das más políticas econômicas dos imperadores, várias regiões da Europa passaram a apresentar baixa densidade populacional e baixo desenvolvimento urbano. Isso ocorria devido às mortes provocadas pelas guerras, às doenças e à insegurança existentes logo após o fim do Império. ! A partir do século V d.C., temos o início da chamada Idade Média. Em decorrência da queda do Império e das invasões, os nobres romanos começaram a se afastar das cidades. Nessa nova jornada, os nobres levavam consigo camponeses das cidades colonizadas (com medo de serem saqueados ou escravizados). 30 CEDERJ Os povos bárbaros dominaram a Europa Medieval, e isso levou 2 a uma conseqüência: tornou-se praticamente impossível a união dos AULA descendentes de nobres romanos para organizar novas cidades ou para reunir as famílias de nobres e se reorganizarem. Entetanto, como eles eram donos de pequenas áreas de terra, passaram a estabelecer uma nova forma de sociedade: o feudalismo. Os senhores feudais tinham como principal função guerrear e defender seu feudo, além de exercer considerável poder político sobre as demais classes. Os servos, constituídos pela maior parte da população camponesa, presos à terra e sofrendo intensa exploração, eram obrigados a prestar serviços ao senhor e a pagar-lhe diversos tributos em troca da permissão de uso da terra e de proteção militar. Entretanto, paralelamente à expansão de alguns feudos, muitas terras européias da Idade Média tornaram-se livres das relações servis e do predomínio dos senhores feudais, por falência dos nobres ou por incapacidade de gerir suas posses. Logo, tais terras transformaram-se em cidades. Essas cidades chamavam-se burgos, e os habitantes, burgueses. Os cidadãos dessa nova categoria social tinham liberdade para organizarem-se, e os papéis sociais na comunidade tornaram-se mais diversos (ao contrário da simples relação servo/senhor), propiciando uma atividade econômica vigorosa e o surgimento de profissionais autônomos (como os mestres de carpintaria, por exemplo) para atender à demanda de uma cidade. DO SERVO AO ARTESÃO Diferentemente dos feudos, nos quais o trabalho tinha por finalidade a subsistência da comunidade, nos burgos existiam profissionais (oriundos da classe dos camponeses, em sua maior parte) cujas habilidades propiciavam um comércio de produtos necessários à vida social – como roupas e ferramentas agrícolas, por exemplo –, e isso lhes assegurava um certo status na comunidade. Com a emergência das corporações de ofício (associações de profissionais que trabalhavam em regime de cooperativas) na alta Idade Média (séculos XIV e XV), surgiu a divisão do trabalho sob forma de especialização na produção de determinadas categorias de bens. CEDERJ 31 História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial O trabalho realizado, em oposição à produção de subsistência do sistema feudal, tinha não só o objetivo de suprir necessidades da família, mas, sobretudo, da sociedade como um todo. O excedente de produção era oferecido no mercado regional e utilizado como objeto de troca e venda. Tal sistema denominava-se economia de troca. Corporações de ofício ? As corporações agregavam membros da sociedade que exerciam o mesmo ofício. Para fazer parte da corporação, era preciso inicialmente ser aceito como aprendiz por um mestre, po ois este detinha o conhecimento do ofício, as ferramentas necessárias e a matéria-prima para a produção. Marcelo Moura Figura 2.1: Produ- to manufaturado. Os aprendizes viviam com os mestres em troca de comida e roupa, especialmente pela possibilidade de aprender um ofício, pois trabalhavam na oficina. O aprendizado das tarefas era transmitido aos novos profissionais de maneira predominantemente prática, no próprio local de trabalho. Mas o que o mestre ganhava em troca? Na verdade, era bem simples. Em contrapartida ao ensino do ofício, o mestre-artesão obtinha mão-de- obra gratuita e fiel advinda de seus “pupilos”. A produção dessa época era em pequena escala, pois, como o artesão produzia uma unidade de cada vez, só tinha condições de fazer pequenas quantidades. Agrupados em oficinas, os artesãos tinham o completo domínio sobre o seu trabalho e eram senhores da produção. Além disso, o próprio método de produção artesanal fazia com que o profissional fosse parte fundamental de todo o processo produtivo, desde a seleção da matéria-prima até o acabamento final. 32 CEDERJ 2 O Aprendiz AULA A palavra "aprendiz" nunca esteve tão em alta como atualmente, e isso se deve a uma série de programas televisivos cujo título é justamente "O Aprendiz". Nestes, jovens (em sua maioria universitários) são desafiados a conquistar uma vaga cobiçadíssima ao lado do “mestre”. No canal de TV a cabo People & Arts há dois: um comandado pelo super-empresário e magnata Donald Trump e outro por Martha Stewart, idealizadora e apresentadora de um dos programas de maior audiência nos EUA. Mario Trejo O sucesso desse tipo de entretenimento se deve, entre outras razões, ao simples fato de que nele vão sendo revelados os elementos que permitiram aos “mestres” colecionar uma grande fortuna e ser extremamente bem-sucedidos nos negócios que comandam. Para quem não tem TV a cabo, há uma versão brasileira comandada pelo empresário Roberto Justus e exibido pela Rede Record. A título de curiosidade, Justus é formado em Administração. Figura 2.2: O mapa da mina. E a Administração, já existia? Sim, naquela época ela tinha como base a adoção de controles contábeis-financeiros com vistas ao registro da movimentação de mercadorias entre regiões. Sua maior importância centrava-se na organização da demanda da produção artesanal realizada pelas corporações e nos ganhos e garantias obtidos pela comercialização dos produtos. ! Veja como o historiador Arthur Birne, em História econômica da Europa, descreve a organização industrial medieval: Antes da Revolução Industrial a organização da indústria estava em harmonia com a pequena escala em que eram efetuadas as operações de manufatura. A unidade industrial era a oficina, onde o artífice-chefe labutava ao lado de seus oficiais assalariados e aprendizes, como fizera na Idade Média. A organização medieval das ligas artesanais sobreviveu em toda a Europa (1964, p. 20). DO ARTESÃO AO OPERÁRIO No período em que predominaram as corporações de ofício, a produção industrial era controlada pelas oficinas, e o comércio estava limitado a associações regionais que administravam a produção e o consumo. O resultado disso era uma certa acomodação, uma forma CEDERJ 33 História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial de da produção, limitando inclusive a evolução Thomas Klix CARTELIZAÇÃO tecnológica (novas ferramentas, novas práticas etc.). Com isso, o crescimento econômico era também bastante limitado, em virtude de a produtividade estar exclusivamente associada ao consumo direto e local. Na época, o escambo, como vimos, era a prática econômico- Figura 2.3: Oficina de um mestre-ferreiro. comercial usada. Inicialmente, o que era produzido era inteiramente consumido no local. À medida que o consumo aumentou – em virtude CARTELIZAÇÃO do aumento da população, do excedente da produção e das trocas inter- Cartel, em sentido regionais motivadas pela necessidade de adquirir produtos que não eram estrito, é a associação manipulados localmente –, o comércio se fortaleceu. entre empresas Adrian Adrian do mesmo ramo Logo, o mercado consumidor de produção com objetivo de dominar o passou a exigir uma maior oferta de mercado e disciplinar produto, fazendo com que as antigas e a concorrência. As partes entram em tradicionais oficinas fossem ampliadas acordo sobre o preço, que é uniformizado para dar vazão à demanda. Aos geralmente em nível poucos, as oficinas transformaram- alto, e cotas de produção são fixadas se em fábricas, e nelas a produção para as empresas- membros. Isso ganhou uma escala maior, e o Figura 2.4: Ruínas de uma antiga fábrica. ocorreu – e ainda ocorre – no comércio trabalho, um ritmo intenso. de combustível, por Com o surgimento das fábricas, houve necessidade de dividir o exemplo, no qual postos de gasolina ofício, pois os mestres artesãos eram poucos e limitados à produção em “combinam” o mesmo valor de venda, ainda pequena escala. Essa divisão social do trabalho criou novas categorias de que representem trabalhadores, e estes foram divididos em setores, em partes da produção distribuidoras diferentes. O objetivo (alguns ficavam responsáveis pela coleta de matéria-prima, outros pela é manter o preço alto e limitar a separação do material etc.). concorrência, pois todos comercializam o produto pelo mesmo DAS OFICINAS PARA AS FÁBRICAS preço. Em sentido contextual, no sentido O aumento do consumo exigiu aumento da produção. A população a que estamos nos referindo agora, das cidades crescia porque nelas os camponeses poderiam ter um ofício cartelização é a e melhorar de vida, e o comércio entre cidades já era uma realidade. impossibilidade de haver concorrência Isso originou uma demanda superior à da época, favorecendo a criação (aumento de oferta) e expansão comercial de máquinas para aumentar a produtividade. Um bom exemplo de da produção artesanal maquinização da produção foi a criação de máquinas comandadas por um (permitir novas trocas entre produtos de só artesão capazes de tecer oitenta fios ao mesmo tempo. outras regiões). 34 CEDERJ Com isso, muitas das tarefas realizadas manualmente por esses 2 profissionais foram mecanizadas, ou seja, boa parte da mão-de-obra AULA foi substituída por máquinas, o que gerou uma divisão no trabalho, e também diminuiu o status social do trabalhador-especialista (como os mestres). Nesse momento desapareceram os ofícios. As tarefas foram simplificadas e padronizadas. Tornaram-se, portanto, tarefas simples e repetitivas, que poderiam ser executadas por pessoas sem nenhuma qualificação. ? O sistema de produção industrial, surgido nos séculos XVIII e XIX, diferia substancialmente do sistema t radicional. Neste, as fábricas se caracterizavam pelas relações escravagistas, com predominância do trabalho cativo, de tecnologias esttacionárias (instrumentos rudimentares e ferramentas de uso comum) e, sobretudo, pela ausência da necessidade capitalista de expandir e cada unidade de capital empregado. Obtinha mão-de-obra gratuita e fiel advinda de seus “pupilos”. Isso motivou uma súbita e violenta competição por postos de trabalho. A unidade doméstica de produção – a oficina, o artesanato em família – desapareceu, surgindo daí uma pluralidade de operários e de máquinas nas fábricas. A esse período histórico de intensas modificações socioeconômicas que transformaram a Europa dos séculos XVIII e XIX se dá o nome de Revolução Industrial. Com a Revolução Industrial, iniciou-se um processo ininterrupto de produção coletiva em massa, de geração de lucro e de acúmulo de capital. As sociedades foram superando os tradicionais critérios da aristocracia (principalmente a do privilégio de nascimento, a descendência nobre), e os novos “senhores” passara a ser os donos das fábricas e do capital. A independência do artesão durou pouco. O capitalista, afinal, criou algo novo que lhe garantiu domínio total sobre o trabalho humano. Com o surgimento das primeiras fábricas e da divisão do trabalho, nascia o capitalismo industrial. CEDERJ 35 História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial ! Você não deve pensar que o trabalho artesanal deixou de existir. Ao contrário, ele está mais presente do que nunca, pois há necessidades específicas que não podem ser feitas em linhas de produção, por diversos motivos (operacionais, mercadológicos etc.). Tampouco você deve concluir que a industrialização foi responsável pela desumanização do trabalho. Tanto a produção artesanal quanto a industrial sofreram um processo de acomodação imposto pelo mercado. Se você quer um armário sob medida, por exemplo, não será possível modificar toda a linha de montagem de uma fábrica para moldar-se ao seu projeto. Para necessidades específicas, modos de produção específicos. MANUFATURA X INDUSTRIALIZAÇÃO: CARACTERÍSTICAS DOS MODOS DE PRODUÇÃO Voltando aos dias atuais (e deixando as questões ideológicas trazidas pela História para sua reflexão), veja as principais diferenças entre o sistema artesanal e o sistema industrial moderno. Uma delas, talvez a mais importante, é o nível de produção: o artesanal, em pequena escala; e o industrial, em grande escala. Mas existem outras diferenças substanciais entre a manufatura e a produção em massa, que você verá nos quadros a seguir (conforme RIFKIN, 2004, p. 96). Processo artesanal Produção em massa trabalhadores altamente profissionais especializados qualificados; projetam produtos que serão Tabela 1 uso de ferramentas manuais; fabricados por trabalhadores não-qualificados ou fabricação de cada semiqualificados, operando produto de acordo com as equipamentos caros e de especificações do finalidades específicas; comprador; são produzidos artigos os produtos são feitos um de padronizados em grande cada vez. quantidade. Na produção artesanal, o produto é feito por encomenda, sendo produzido um de cada vez com o uso de ferramentas manuais. O artesão tem o pleno domínio do processo produtivo, pois conhece e realiza todas 36 CEDERJ as tarefas. Por isso, as mercadorias costumam ter preço acima do alcance 2 da maior parte da sociedade, pois a produção é uma forma de arte. AULA Na produção em massa, ao contrário, o produto é feito em série, em grandes quantidades, de forma padronizada. Os trabalhadores são divididos em postos de trabalho ao longo da linha de Lotus Head produção e ficam responsáveis por apenas uma ou duas tarefas. Ao contrário da produção artesanal, na qual o trabalho era especializado, o trabalhador da produção industrial é não-qualificado ou semiqualificado. Seu conhecimento do processo de produção é restrito, Figura 2.5: Engrenagens no limitando-se a realizar tarefas rotineiras e repetitivas. lugar de homens. Na produção em massa, as mercadorias atingem um preço mais baixo e acessível à grande maioria da sociedade. Feitas em grandes quantidades, seu custo obrigatoriamente cai. As peças são feitas a máquina e padronizadas, sendo todas iguais, pois seguem um mesmo processo de produção. Há grande economia de tempo, pois usa-se a linha de montagem, na qual o trabalho é fragmentado em tarefas dispostas em seqüência. Atividade 1 Que tal fazermos uma breve parada para uma atividade? Não se preocupe, será um exercício bastante fácil, cujo objetivo é verificar se você realmente percebeu as peculiaridades dos modos de produção estudados. A seguir, você vai encontrar uma série de características de modos de produção. Algumas referem-se à produção artesanal, outras dizem respeito à produção em massa. Coloque a sigla PA (produção artesanal) nos parênteses que precedem aquelas características que, em sua opinião, são típicas da produção artesanal, e a sigla PM (produção em massa) nos parênteses que precedem as características que se referem a este modelo de produção. ( ) Os produtos são feitos sob encomenda. ( ) A produção é feita em série. ( ) Uma única pessoa faz todas as tarefas que compõem o ciclo produtivo. ( ) Cada peça ou componente pode ser montado em qualquer sistema equivalente. ( ) Cada pessoa tem uma tarefa fixa. Resposta PA – PM – PA – PM – PM CEDERJ 37 História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial O SISTEMA FÁBRICA A fábrica, essencialmente, é o local de reunião dos trabalhadores com o intuito de produzir algo. O sistema fábrica é, portanto, o resultado da concentração dos trabalhadores num mesmo local de trabalho. Dominado e controlado pelo capitalista (investidor, aquele que detém o capital), o trabalhador utiliza os meios de produção que não lhe pertencem, trabalhando em um ambiente estranho e produzindo um produto a ser vendido para clientes que não são os seus. ? Entendendo o passado Os artesãos, especialistas autônomos e profundos conhecedores do seu ofício, viram-se, de repente, presos e confinados a um ambiente fechado – a ffábrica. E, ali, sujeitos ao controle, à disciplina e aos métodos de e gestão que lhes eram impostos. Autores como Decca e Bra averman enfatizaram o caráter despótico das fábricas: (...) o sistema de fábrica ao ser implantado trouxe consigo todas as seqüelas relacionadas à disciplina, hierarquia e controle do processo de trabalho, e o saber técnico aplicado esteve muito longe de ser detido pelos próprios trabalhadores (DECCA, 1987, p. 38). Dentro das oficinas, a gerência primitiva assumiu formas rígidas e despóticas, visto que a criação de uma força de trabalho livre exigia métodos coercitivos para habituar os empregados às suas tarefas e mantê-los trabalhando durante dias e anos (BRAVERMAN, 1977, p. 67). Na fábrica predominam a hierarquia, a disciplina, a vigilância e, sobretudo, o controle de tarefas e movimentos dos trabalhadores dispostos em seqüência nas linhas de produção. A divisão do trabalho em setores, funções e posições tornou-se o conceito-chave para a indústria capitalista, já que permitia justamente o controle da produção e dos trabalhadores. A produção deslocou-se da oficina caseira, de propriedade do artesão, para a fábrica, de propriedade do capitalista. Dono da fábrica e dos meios de produção (ferramentas, máquinas, equipamentos), o capitalista criou um “sistema de gerência” despótico, baseado no controle, 38 CEDERJ na disciplina, na ordem e na obediência hierárquica. E criou métodos e 2 sistemas de trabalho rápido, gerando maior produção, produtividade e AULA lucro. É nesse contexto que surge a primeira teoria administrativa – a Gerência ou Administração Científica, que você verá na Aula 3. Produção artesanal http:// www.mamiraua.org.br/5-1-4.html Homem ou máquina? Charles Chaplin, em seu filme Tempos modernos, satirizou o modo de produção capitalista das fábricas. A cena em que ele, como operário, trabalhando numa linha de montagem, se desespera por não conseguir acompanhar o intenso ritmo de trabalho que lhe é imposto pela esteira é um dos momentos sublimes da história do cinema. A cena inicial, na qual os trabalhadores surgem pequenos comparados ao tamanho colossal da fábrica e das máquinas, já evidencia a natureza da crítica chapliniana ao sistema capitalista de produção: o apogeu da máquina e a submissão do homem ao ritmo frenético da produção. As cenas posteriores na linha de produção satirizam a total dependência do homem à máquina. É possível imaginar o ambiente precário das fábricas no início da Revolução Industrial. Artesãos e agricultores eram transformados em operários e submetidos à rigorosa disciplina do capital e ao ritmo intenso da produção industrial. Assista ao filme; vale a pena! CONCLUSÃO A Administração nasceu com as primeiras comunidades primitivas, quando já existia uma rudimentar divisão do trabalho. Os homens se dedicavam à caça e à pesca, e as mulheres, às atividades domésticas. O homem primitivo construía suas próprias ferramentas a partir de um conjunto de atividades básicas, como cortar, afiar, laminar e polir a pedra lascada. CEDERJ 39 História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial Mas foi com as grandes civilizações antigas que a Administração assumiu a forma de “gestão de cidades e de grandes empreendimentos”. Contudo, o surgimento da Administração como ciência ocorreu apenas no final do século XIX e início do século XX, com o nascimento das primeiras fábricas e com o surgimento do modelo capitalista de produção. Atividade Final Aplicando o conhecimento 2 Agora iremos pôr em prática aquilo que você aprendeu durante esta aula, porém com um grau de dificuldade: você deverá responder a partir de um conhecimento que não foi apresentado. Pode tentar! Leia e analise atentamente as diversas etapas deste exercício. Demanda é a quantidade de um bem ou serviço que pode ser adquirido por um preço definido em um dado mercado, durante uma unidade de tempo. A demanda sempre influencia a oferta, ou seja, é a demanda que determina o movimento da oferta. Para as empresas, além de identificar os desejos e as necessidades de seus consumidores, é muito importante identificar a demanda para um determinado produto ou serviço, pois é ela que vai dizer o quanto se comprará da oferta da empresa. Isto é, quem e quantos são os consumidores que irão adquirir o produto ou serviço. A revista Forbes publicou, em sua edição no 109, de 25/4/05, a matéria "Microcervejarias investem na produção artesanal e conquistam admiradores". A matéria sobre a cerveja Devassa (que nome sugestivo, você não acha?), que é fabricada artesanalmente em Campos de Jordão (SP), informa que ela é distribuída em 170 pontos-de-venda no estado do Rio de Janeiro, um ponto-de-venda em São Paulo e oito em Londres, Inglaterra. A produção mensal é de 70 mil litros/mês, sendo apenas 16 mil litros engarrafados. Tem três versões: a Devassa Loura, a Devassa Ruiva e a Devassa Negra (esta somente servida na versão chope). (milh industrializada artesanal 40 CEDERJ 2 Levando em consideração que... AULA a....as empresas precisam atender à demanda; portanto, não produzem muito mais do que vendem; b....a capacidade de produção é limitada pelo modo de confecção do produto (industrial ou artesanal); c....a cerveja artesanal, caso quisesse aumentar sua oferta, precisaria industrializar-se; d....a cerveja industrial pode facilmente aumentar sua produção caso haja um aumento da demanda; Responda: Em qual modo de produção a cerveja Devassa se encaixa? Por quê? ––––––––––––-––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– –––––––––––-–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––-–– ––––––––––-–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Resposta Comentada A cerveja Devassa apresenta um modo de produção artesanal-industrial. Sua produção não é totalmente automatizada e seu volume de produção é inferior ao padrão industrializado. Como seus ingredientes são especiais e sua qualidade é superior, além de ter um design criativo e sabores especiais, conseqüentemente seu preço é mais alto, e seus pontos de distribuição apresentam um certo requinte. Sua clientela também é diferenciada. Ela não é puramente artesanal, pois parte de seu processo produtivo é industrializado, e não é simplesmente industrializada, por não ser capaz de aumentar a produção rapidamente caso haja aumento da demanda. Se fosse esse o caso, a cerveja em questão perderia o referencial de qualidade que, neste caso, somente o processo artesanal pode oferecer. CEDERJ 41 História do Pensamento Administrativo | Da produção artesanal à produção industrial RESUMO Nas oficinas medievais predominava o modelo de produção artesanal. Com o desenvolvimento da maquinaria, fruto das descobertas científicas da Revolução Industrial, as fábricas emergiram como os novos locais de produção, em substituição às oficinas dos artesãos. Nas fábricas, o sistema artesanal deu lugar ao sistema industrial moderno, consolidando-o como modo de produção e dando origem aos modelos administrativos. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Na Aula 3 veremos os estudos pioneiros de Adam Smith, Babbage e Whitney sobre a divisão do trabalho, além da visão crítica de Marx e Braverman em relação a esse processo. 42 CEDERJ 2 AULA CEDERJ 43