Métodos de Avaliação I PDF

Summary

Este documento apresenta conceitos introdutórios sobre avaliação psicológica, explora diferentes contextos de aplicação (psiquiátrico, médico, legal) e discute a importância da compreensão do indivíduo. O principal foco é descrever as etapas e as principais questões em cada cenário.

Full Transcript

Métodos de Avaliação I Conceitos I ntrodutórios AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: atividade complexa, integrativa e conceptual que envolve obter inferências de múltiplas fontes de informação para alcançar uma compreensão abrangente de um paciente ou sistema de pacien...

Métodos de Avaliação I Conceitos I ntrodutórios AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: atividade complexa, integrativa e conceptual que envolve obter inferências de múltiplas fontes de informação para alcançar uma compreensão abrangente de um paciente ou sistema de pacientes (recolha e integração de informação através de uma série de técnicas, para avaliar o comportamento, as capacidades e outras características de uma pessoa, nomeadamente, para efeitos de elaboração de uma recomendação de diagnóstico ou tratamento) Envolve a capacidade de avaliar o grau de necessidade, o estado mental, desenvolver perfis psicológicos em resposta a problemas específicos e interpretar o resultado A competência de avaliação exige que os psicólogos integrem dados de múltiplas fontes, que respondam eficazmente às questões de encaminhamento e comuniquem claramente as suas inferências e recomendações Para diferentes investigadores, a avaliação psicológica é um processo em que o psicólogo visa: Conseguir uma descrição precisa do funcionamento de um individuo Identificar as necessidades clínicas da pessoas (ex. quais as intervenções mais adequadas) Fazer um diagnóstico diferencial de todos os tipos de distúrbios mentais Acompanhar o progresso de intervenções a decorrer Dimensão central da prática psicológica, fundamental na compreensão das dinâmicas psicológicas subjacentes aos casos e na monitorização de processos de intervenção Psicólogos avaliam diversos problemas psiquiátricos e preocupações não psiquiátricas numa gama de cenários clínicos, educacionais, organizacionais, forenses e outros Dados na avaliação podem ser recolhidos através de entrevistas, observação, testes padronizados, medidas de autorrelato, dispositivos de medição fisiológica ou psicofisiológica ou outros procedimentos e aparelhos especializados Para a condução de uma avaliação eficaz o psicólogo deve: Clarificar a questão que levou ao pedido/encaminhamento Compreender o contexto de encaminhamento Seguir orientações éticas Selecionar os instrumentos mais adequados para a problemática que está a ser estudada Fazer uma interpretação adequada e integrada de toda a informação recolhida 1 Métodos de Avaliação I Ao longo de processo de avaliação, os psicólogos devem tentar compreender o problema em questão e as exigências únicas encontradas em diferentes contextos – caso contrário, os examinadores, apesar de poderem ser especializados na administração e interpretação de testes psicométricos, podem administrar uma série desnecessária de testes e, na pior das hipótese, fornecer informações inúteis a quem efetuou o pedido e aos próprios pacientes Ou seja, uma investigação aprofundada do motivo subjacente a um pedido de avaliação pode, por vezes, levar à descoberta de que a avaliação através de testes nem sequer é necessária/justificada Pedido da avaliação: Podem ser solicitados por diversas pessoas ou entidades São muitas vezes vagos Muitas vezes não coloca uma questão especifica que deve ser respondida ou uma decisão que deve ser tomada, embora muitas vezes seja essa a pretensão de quem solicita a avaliação Cabe ao psicólogo a responsabilidade de explorar e clarificar a questão que levou ao pedido/encaminhamento Psicólogos devem especificar a potencial utilidade da avaliação psicológica na determinação de diferentes alternativas de diagnóstico ou tratamento e os seus possíveis resultados Psicólogos devem ainda deixar claras as vantagens e a utilidade dos testes psicológicos mas devem também explicar as limitações inerentes ao processo de avaliação Para que seja possível esclarecer a questão do pedido/encaminhamento e conduzir uma avaliação psicológica relevantes → os psicólogos devem conhecer e estar familiarizados com os diferentes contextos em que poderão trabalhar Contextos mais frequentes são o psiquiátrico, o médico, o legal, o educacional, o da psicologia clinica e o organizacional Em qualquer caso, o psicólogo deve desenvolver uma compreensão aprofundada da complexidade do contexto social do paciente, incluindo fatores interpessoais, dinâmicas familiares e a sequência de eventos que conduziu ao pedido Psicólogo deve compreender claramente como é que a informação que transmite será usada É essencial que o psicológico perceba que tem uma responsabilidade significativa, porque as decisões tomadas em relação aos seus pacientes, que muitas vezes se baseiam nos resultados da avaliação conduzida, podem frequentemente ser pontos de mudança importantes na vida destes 2 Métodos de Avaliação I Uma das questões que, por princípio, se assume como preponderante na avaliação com recurso a testes psicológicos é que estes últimos devem ser utilizados como meios auxiliares de diagnóstico Testes de diagnóstico não se podem nunca substituir à relação entre o profissional e o avaliado, dado que, para além das suas evidentes limitações, poderão distorcer o verdadeiro objetivo da psicologia: compreender o individuo para ajustar ou, pelo menos, para potenciar a sua autonomia Por maior qualidade que a prova psicológica tenha, nunca prescinde de uma correta interpretação do psicólogo, pelo que este último deve ser sempre melhor do que a prova utiliza O psicólogo deve, pois, preocupar-se em ser tão competente na avaliação como em qualquer outra área da intervenção psicológica, sendo que isso implica o domínio de competências especificas ao nível da aplicação dos instrumentos e da interpretação dos resultados Assim, o psicólogo não deve colocar-se ou permitir que o coloquem, no papel de “técnico de testes” ou de psicometrista O trabalho de psicólogo não deve ser apenas basear-se na administração, cotação e interpretação de testes mas sim em compreender o contexto do pedido no seu sentido mais lato Isto pressupõe que, numa avaliação psicológica, o psicólogo integre dados provenientes de várias fontes Os testes por si só, são limitados, na medida em que não são flexíveis nem sofisticados o suficiente para aferirem a complexidade de um pedido ou encaminhamento Na prática, levar a cabo um processo de avaliação psicológica implica: Capacidade para decidir se é necessário utilizar instrumentos psicométricos e escolher os instrumentos apropriados ao sujeito e às questões pretendidas Conhecimento e experiência ao nível da aplicação e cotação dos instrumentos selecionados Competência para interpretar e integrar os resultados de uma forma útil e compreensiva Avaliação psicológica é uma atividade extremamente complexa e delicada, devendo pautar-se elevados padrões de excelência e de rigor ético e deontológico Ética pode ser definida como as regras ou os princípios que orientam a conduta dos membros de uma dada profissão procurando regular, educar e até inspirar quem exerce essa mesma profissão – Código Deontológico da OPP 3 Métodos de Avaliação I CONTEXTO PSIQUIÁTRICO Pedidos surgem por parte de um psiquiatra que pode estar a fazer o pedido de encaminhamento no papel de administrador, terapeuta ou médico Pedidos de avaliação para efeitos de decisões administrativas (ex. risco de suicídio, admissão/alta e a adequação de procedimentos médicos) Psicólogo deve determinar exatamente que informação é pretendida, particularmente sobre quaisquer decisões que devem ser tomadas sobre o paciente – deve estar especialmente consciente e sensível às responsabilidades legais dos administradores Psicólogo deve avaliar aspetos como os mecanismos de defesa, o diagnóstico, o estilo cognitivo e a história psicossocial do paciente Peidos de avaliação psicológico para efeitos de decisão sobre a adequação de procedimentos terapêuticos: o Psicólogo avalia a adequação do cliente para determinada terapia, as estratégias que são mais prováveis de serem eficazes, potenciais problemas que possam ocorrer durante o curso de terapia e o resultado provável da terapia o Psicólogo pode avaliar aspetos como a capacidade de insight, o diagnóstico, o estilo de coping, o nível de resistência, o grau de incapacidade funcional e a complexidade do problema Administradores de um hospital ou departamento devem frequentemente tomar decisões sobre problemas como o risco de suicídio, admissão/alta e a adequação de uma grande variedade de procedimentos médicos Para tomar decisões administrativas, nem sempre é suficiente a existência de um diagnóstico psiquiátrico formal DSM-5 (American Psychology AssociationI, 2013) Exemplo: Um paciente pode ser diagnosticado com perturbação bipolar mas a existência deste rótulo não indica, por si só, o grau de perigo que o paciente representa para si mesmo ou para os outros. Para este tipo de avaliação, é necessária a intervenção de um psicólogo 4 Métodos de Avaliação I Contexto médico Pedidos surgem normalmente por parte de um médico de família, médico de especialidade, médico do trabalho e médico do seguro Pedidos por parte do médico de família: o Situações mais frequentes em que os médicos podem solicitar os serviços de um psicólogo envolvem a presença de uma perturbação psicológica subjacente e fatores emocionais associados a queixas médicas o Pode ser solicitado que o psicólogo avalie aspetos como défices neuropsicológicos, potenciais tratamentos psicológicos para a dor crónica, potenciais tratamentos da dependência química Pedidos por parte de médicos de especialidade: o É muitas vezes solicitada avaliação pré cirúrgica para avaliar a probabilidade de uma reação de stress grave a uma cirurgia o Alguns médicos, particularmente pediatras, solicitam avaliação psicológica por preocupações relacionadas com a detenção de sinais precoces de perturbação psicológica grave – nestas situações o psicólogo deve avaliar a condição psicológica atual do paciente e os fatores ambientais que contribuem para a problemática (deve ainda recomendar a próxima fase de intervenção) Pedidos por parte de médicos de trabalho ou médicos de seguro: o Muitas vezes solicitada a avaliação neuropsicológica após acidentes o Psicólogo pode avaliar o funcionamento psicológico resultante de possíveis anomalias cerebrais ▪ Áreas típicas de avaliação centram-se principalmente na presença de uma possível deterioração intelectual em áreas como a memória, sequenciação, raciocínio abstrato, organização espacial e capacidades executivas Contexto legal Pedidos podem surgir em qualquer fase do processo de decisão judicial e ser solicitados por qualquer interveniente do sistema de justiça, sendo muitas vezes solicitada: Avaliação de credibilidade das declarações ou da competência para testemunhar Avaliação psicológica de uma vitima para ajudar a determinar o impacto traumático 5 Métodos de Avaliação I Avaliação psicológica da personalidade ou do grau de perigosidade e risco de um arguido para ajudar a determinar uma sentença ou planear um programa de reabilitação Avaliação da qualidade de relatórios de outros profissionais de saúde mental Ajuda para determinar as especificidades de um crime Contexto educacional Pedidos surgem normalmente por parte de funcionários escolares: Psicólogos são frequentemente solicitados a avaliar crianças com dificuldades de aprendizagem ou que podem precisar de colocação especial no sistema Áreas mais importantes são a avaliação da natureza de extensão das dificuldades de aprendizagem de uma criança, avaliação dos pontos fortes e fracos da inteligência, avaliação das dificuldades comportamentais, desenvolvimento de um plano educativo, estimar a recetividades de uma criança a uma intervenção psicoterapêutica e recomendar alterações no programa pedagógico de uma criança Psicólogos podem também realizar processos de orientação vocacional Contexto de psicologia clinica Pedidos surgem normalmente por parte dos próprios pacientes ou familiares Psicólogo deve aferir a natureza do pedido e proceder a uma avaliação consoante a problemática e os sintomas que são apresentados Contexto organizacional Do ponto de vista das empresas, o psicólogo pode avaliar, por exemplo, o desempenho individual numa função laboral, incluindo o desempenho individual como membro de uma equipa, desempenho de uma equipa enquanto equipa, não como agregação de contribuições individuais, viabilidade de uma equipa, produtividades (no sentido económico) de: Indivíduos Equipas Unidades organizacionais Eficácia da unidade organizacional 6 Métodos de Avaliação I Do ponto de vista dos trabalhadores, o psicólogo pode avaliar pro exemplo, a motivação e a satisfação com o seu posto ou local de trabalho, perceção de tratamento justo, frequência de ferimentos por acidentes, saúde e bem-estar geral, incluindo saúde física e mental, stress percebido e conflito família-trabalho CÓDIGO DEONTOLÓGICO DA ORDEM DOS PSICÓLOGOS PORTUGUESES (OPP): princípios gerais pretendem ser orientações para os profissionais, no sentido de os guiar para uma atuação centrada nos ideais da intervenção psicológica Pretende integrar os princípios éticos da atividade profissional da psicologia em Portugal, em qualquer área de aplicação ou contexto, com o objetivo de guiar os psicólogos no sentido de práticas de excelência Princípios Gerais: A. Principio pela Dignidade e Direitos da Pessoa B. Competência C. Responsabilidade D. Integridade E. Beneficência e Não-Maleficência Princípios Específicos: A. Consentimento informado B. Privacidade e Confidencialidade C. Relações Profissionais D. Avaliação Psicológicas E. Prática de Intervenção Psicológica F. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas G. Investigação H. Declarações Públicas Especificidade da avaliação psicológica Avaliação psicológica, até por ser uma área de exclusividade na atividade do psicólogo, não está isenta de problemas e dificuldades Consentimento informado na avaliação psicológica: Torna-se prioritário discutir todas as limitações inerentes a um processo deste tipo, incluindo as questões relacionadas com a privacidade, evitando que as pessoas possam ficar desiludidas ou mesmo revoltadas com os resultados de avaliações que muitas vezes não procuraram e lhes foram propostas ou mesmo impostas 7 Métodos de Avaliação I Quanto maior é a participação ativa da pessoa no seu processo de avaliação → + congruentes serão os seus resultados – por isso, quando o processo é solicitado por uma terceira pessoa, incluindo os processos legais, o consentimento informado deve ser obtido de igual modo, devendo ser discutidas as razões para a avaliação, a utilização dos resultados e as suas possíveis consequências, qual a informação pretendida e a quem será revelada Limitações dos instrumentos utilizados em Portugal: Estudos psicométricos com vista à adaptação dos testes psicológicos são difíceis de levar a cabo, dado que exigem muitos recursos e tornam-se pouco rentáveis Existe a tentação de utilizar instrumentos de avaliação psicológica que não estão adaptados, estandardizados e aferidos para a população portuguesa, o que retira legitimidade ao processo e torna muito complexa a obtenção de um consentimento realmente informado Tal prática, não pode nem deve, merecer aceitação por parte do profissional de psicologia Devoluções dos resultados Exceções à obrigação da devolução dos resultados: o Contexto de processos judiciais ou em sede de avaliações solicitadas por entidades externas à pessoa, como empresas ou outro tipo de instituições Ainda assim, a responsabilidade do psicólogo para com o sujeito avaliado não diminui o Nestas exceções, sempre que possível, o psicólogo deve partilhar o resultados da avaliação, sendo que deverá, sem exceções, discutir no inicio do processo as condições do mesmo, nomeadamente as questões de privacidade e as questões relacionadas com os objetivos da avaliação Comunicação Forma como os resultados são transmitidos à pessoa deve ser objeto de cuidados especiais o Deve existir uma atenção especial em relação ao tipo de linguagem utilizada, que deve ser adaptada às características do cliente o Deve ter tido em consideração que as informações comunicadas não são neutras para a pessoa dado que comportam consequências emocionais para o individuo – logo a utilização de rótulos psicopatológicos deve ser limitada, de forma a evitar estigmatizar a pessoa, ou mesmo, para não 8 Métodos de Avaliação I se correr o risco de apresentar um quadro inalterável que poderá contribuir para eternizar o problema vivido CONCLUSÕES Avaliação psicológica é uma atividade profissional comum a todas as áreas da psicologia, mas é baseada na subjetividade da interpretação realizada pelo profissional, pelo que isso deve ser tipo em consideração como uma limitação da mesma Os resultados objetivos da aplicação dos instrumentos de avaliação psicológica deverão servir para confirmar ou infirmar as hipóteses que se colocaram na sequência da impressão construída sobre a pessoa durante o processo de entrevista Limitações da avaliação em psicologia devem ser discutidas e esclarecidas antes do inicio do processo, assim como devem ser deixadas bem claras na entrega dos resultados Psicologia serve para promover o autoconhecimento da pessoa e não para lhe fornecer uma identidade artificial baseada em facetas escondidas e misteriosas da sua personalidade, descobertas magicamente pelo psicólogo Importância da obtenção do consentimento informado na avaliação psicológica decorre do facto de os resultados da mesma não serem inquestionáveis e absolutos Avaliação psicológica devem estar restringida aos especialistas de psicologia sendo responsabilidade do psicólogo evitar o seu uso por parte daqueles que não têm competências especificas para tal Reavaliação de um processo levado a cabo por um colega deve limitar-se a comentários sobre a relação entre os resultados do teste e a sua interpretação, apontando os erros de cotação ou de interpretação que possam existir Qualquer documento, referenciado como testes, que não disponha de um manual devidamente organizado carece de utilidade profissional Psicólogo está obrigado, se solicitado, a fornecer ao seu cliente os dados da avaliação, incluindo os resultados brutos e estandardizados, as repostas às questões ou estímulos dos testes bem como as notas correspondentes ao comportamento do cliente durante o processo Materiais do instrumento de avaliação não deve, ser disponibilizados aos clientes 9 Métodos de Avaliação I Psicólogo deve enfatizar que os dados da avaliação só terão utilidade se interpretados por um profissional de psicologia Dados resultantes de um computador não devem ser produtor final (devem ser um recurso para a elaboração do relatório) Na apresentação dos resultados deve existir o cuidado necessário para evitar a construção de rótulos estigmatizantes para a pessoa Entrevista: processo através do qual um psicólogo recolhe uma combinação de informações sociais, médicas, educacionais, familiares, psicológicas, desenvolvimentais acerca do paciente através do próprio ou de outras fontes (envolve comunicação cara-á-cara e não verbal entre um psicólogo e o cliente) Elementos central de avaliação em psicologia e psiquiatria Um dos métodos de avaliação para utilizados – permite uma recolha eficiente e relevante de informação para efeitos de diagnóstico e tratamento Método mais económico e eficiente do que outros métodos de avaliação que requerem conhecimentos ou equipamentos especializados e podem ser utilizadas em diversos contextos com vários pacientes Podem ser recolhidas informações provenientes de outras fontes, como registos médicos e escolares, para complementar as informações obtidas junto do cliente para estabelecer um diagnóstico, julgar a gravidade dos sintomas e sugerir um tratamento Configura-se como uma oportunidade para psicólogo construir uma relação com o cliente 10 Métodos de Avaliação I TI POS DE ENTREVISTA Vantagens - Pode ser adaptada às preocupações especificas do cliente - Permite flexibilidade na profundidade em que um problema ou sintoma será explorado - Natureza conversacional pode ajudar na construção da relação - Pode ser menos demorada do que outros tipos de entrevistas Entrevista Aberta - Pode ser administrada em qualquer lugar - Permite condução livre da entrevista - Amplamente utilizada em contexto clínico - Psicólogo escolhe a ordem através da qual coloca as questões que considera relevantes - Adoção de um tom de conservação entre o psicólogo e o cliente - Eficaz na exposição dos sentimentos, mecanismos de defesa e processos de pensamento dos clientes, - Psicólogo determina as áreas de conteúdo a serem o que fornece importantes insights para a abrangidas, o nível de detalhe em que cada área é psicoterapia abordada, a ordem na qual as informações são recolhidas, as perguntas colocadas a duração da Desvantagens entrevista, a forma como as informações são avaliadas, gravadas e interpretadas e quaisquer - Ampla variabilidade no tipo de informação outros aspetos considerados relevantes recolhida por diferentes profissionais, em função da sua orientação teórica e da apresentação do problema por parte do cliente - Pode focar informações triviais, em detrimento de informações relevantes, cruciais para um diagnóstico preciso - Falta de estrutura formal torna-a suscetível a erros - Requer um conhecimento aprofundado do sistema de diagnóstico, mais experiência, competência e formação do que outros formatos mais estruturados de entrevista 11 Métodos de Avaliação I Tópicos comuns: - Questões sobre o problema que originou o pedido - Dados sociodemográficos e identificação - Questões sobre a presença e gravidade dos sintomas psiquiátricos (se aplicável) - Historial médico, desenvolvimental, familiar - Percurso laboral - Historial de problemas físicos e mentais dos elementos da família - Envolvimento com a justiça - Serviço militar - Questões sobre a história da preocupação apresentada: a duração e a gravidade dos sintomas atuais, fatores psicossociais e outros que precipitaram o problema atual, forma como este problema tem impactado o funcionamento interpessoal do individuo a vários níveis -… - Avaliação do estado mental: - Descrição objetiva da aparência, comportamento, linguagem, Entrevista de estrutura flexível humor e estado emocional do cliente, conteúdo e processo de pensamento, insight e cognição no momento da avaliação - Tipo mais popular de entrevista clínica utilizada por psicólogos - Há alguma variabilidade entre os profissionais no que diz respeito experientes aos procedimento utilizados para avaliar esta áreas mas a observação informal durante a entrevista e a avaliação cuidadosa dos processos de - Normalmente começa com um pensamento como base no discurso formato livre onde as informações discutidas são - Observação informal do comportamento e do discurso durante a determinadas pelos problemas entrevista fornece informações sobre a aparência do cliente, o afeto, a trazidos pelo próprio cliente atividade motora, o sequenciamento de pensamentos e a capacidade (problema que originou o pedido) de atenção e concentração - Tipicamente incluem-se procedimentos breves para determinar a orientação e capacidades cognitivas como a atenção, a memória e a abstração Vantagens - Facilmente adaptável e modificada para abordar inúmeras metas de diagnóstico e tratamento perante restrições externas, como o tempo alocado para a entrevista Desvantagens: - Falta de estrutura formal → torna suscetível a erros - Requem um conhecimento aprofundado do sistema de diagnóstico, mais experiência, competência e formação do que outros formatos de entrevista mais estruturados 12 Métodos de Avaliação I Vantagens - Mais estandardizadas – reduz a margem de erro no diagnóstico Entrevista Semiestruturada - Permitem que os avaliadores coloquem questões - Permite maior flexibilidade durante a entrevista e de uma forma consistente com o seu estilo clínico e garante que um determinado conjunto de questões com base nas características e preocupações abordadas na entrevista únicas do cliente (isto inclui formular as suas próprias perguntas para clarificar a presença ou - Embora seja necessário abordar determinados ausência de critérios de diagnóstico e reformular tópicos, existe flexibilidade na ordem e na forma questões quando o cliente não as compreende) como as questões são colocadas Desvantagens - Vista como mais naturais do que entrevistas estruturadas porque podem ser personalizadas ao - Tal como as entrevistas estruturadas, as cliente e permitem uma maior espontaneidade, semiestruturadas são morosas, requerem formação embora seja necessário um maior julgamento clínico extensiva e domínio dos materiais de administração em comparação com as entrevistas estruturadas - São necessários manuais, livros e/ou folhas de pontuação para uma boa administração 13 Métodos de Avaliação I Vantagens - Avaliação sistematizada dos sintomas e do comportamento reduzem erros de diagnóstico - Asseguram um elevado nível de estandardização Entrevista Estruturada - Aumentam a confiança para comparações sistemáticas no tempo entre contextos e - Fornecem especificação detalhada sobre o tipo de diagnósticos para o mesmo cliente (que ocorre informação que deve ser incluída na entrevista e frequentemente em contextos clínicos) e entre como esta deve ser recolhida e registada diferentes clientes (como ocorre frequentemente em contextos de investigação) - São especificadas as áreas de informação abrangidas, a ordem pela qual a informação é Desvantagens abordada e o conteúdo das perguntas - Requerem formação avançada especializada para - Neste sentido, é fundamentalmente uma lista de garantir uma administração e cotação fiável sintomas e comportamentos, com orientações detalhadas sobre a forma como a entrevista deve ser - Muitas tendem a ser bastante extensas e realizadas e como os dados devem ser registados demoradas para completar, tornando-as impraticáveis em alguns contextos clínicos - Requerem pouca inferência clínica durante a recolha dos dados e não há necessidade de - Permitem flexibilidade limitada na recolha de interpretação clínica no processo de diagnóstico, o informação com base nas características e que garante que diferentes avaliadores obtenha, os preocupações únicas dos clientes mesmos dados sobre o mesmo paciente - Não estão bem equipadas para enfrentarem ameaças à validade dos dados devido à resistência, dissimulação, etc - Não abarcam todos os diagnósticos possíveis 14 Métodos de Avaliação I Relatórios de ava liação psicológica Produtos finais mais importantes da avaliação Representa os esforços do psicólogo para integrar os dados de avaliação num todo funcional para que a informação possa ajudar o cliente a melhorar a sua vida, ajudando a resolver problemas e a tomar decisões Relatórios de avaliação psicológica servem 2 funções importantes e distintas: Comunicação Documentação Formato do relatório depende da sua finalidade, bem como do estilo e orientação do psicólogo Qualidade e a utilidade de um relatório depende da qualidade e rigor da avaliação que deve ser minuciosa, válida (precisa) e clara Exige domínio sobre as áreas ou tipo de problemas evidenciados pelos pacientes Para muitos psicólogos, o processo de elaboração de um relatório permite-lhes compreender melhor o cliente e as suas necessidades Escrita ajuda a clarificar o pensamento Permite identificar lacunas na informação disponível e áreas onde são necessárias mais explicações ou mais informações Obriga a pensar na lógica e cuidadosamente porque o que escrevemos deve fazer sentido Garante que o psicólogo domina conceitos complexos porque para os explicar claramente é preciso compreendê-los 15 Métodos de Avaliação I PRI NCI PAIS CARACTERÍSTICAS Dimensão Varia substancialmente em função da finalidade e do contexto do pedido Relatório comum (ex. contexto clinico, educacional, vocacional): 5 a 7 páginas Relatórios em contextos específicos (ex. contexto forense): 7 a 10 páginas Deve incluir toda a informação necessária e relevante Estilo de escrita 1. Clareza a. Escolher palavras familiares ao leitor – definir termos que o leitor possa não conhecer b. Antecipar perguntas dos leitores – mas não devem ser incluídas informações desnecessárias cuja única finalidade poderá ser apenas satisfazer a curiosidade do leitor c. Fornecer um contexto que dê sentido aos facto – este é o propósito da secção do enquadramento d. Privilegiar frases curtas mas variar no comprimento das frases e. Evitar erros gramaticais f. Não usar palavras supérfluas, evitar palavras longas g. Dividir frases excessivamente complexas em 2 ou mais frases mais curtas 2. Gramática a. Reportar resultados de testes no tempo presente b. Reportar dados da observação comportamental no tempo passado porque se referem a eventos que ocorreram no passado (ou seja, no momento da avaliação) c. Reportar dados do enquadramento de forma mista d. Reportar informações proveniente das entrevistas no tempo passado e. Atenção à pontuação 3. Vocabulário a. Usar a linguagem com precisão – palavras mal escolhidas ou frases desleixadas podem resultar em interpretações erradas dos resultados da avaliação b. Essencial ser claro acerca do grau de certeza dos resultados da avaliação e da nossa interpretação (usar o “poderá acontecer isto” e não “vai acontecer isto”) c. Evitar o uso de jargão – dominar conceitos complexos para os conseguir explicar utilizando uma linguagem simples 16 Métodos de Avaliação I Formato/Proposta de formato Cada profissional deve escolher o formato e o estilo de relatório que melhor se adequa às necessidades do cliente e ao pedido efetuado Diferentes contextos de avaliação requerem diferentes estilos e áreas de foco 1. Elementos de identificação a. Nome b. Idade c. Escolaridade d. Profissão e. Nacionalidade f. Data de nascimento g. Nome do psicólogo h. Nº da cédula profissional i. Local onde foi realizado o exame 2. Pedido inicial/Motivo da consulta de avaliação a. Identificação da prevalência do pedido – quem solicita a avaliação, relação especifica entre quem solicita a avaliação e a pessoa avaliada b. Preocupações atuais, queixas e problemas identificados (de quem solicita a avaliação e/ou da pessoas examinada) c. Deve começar com uma breve frase orientadora que inclua informações essenciais sobre o cliente (ex. O Sr. José é um homem de 35 anos, casado, com o ensino secundário, que apresenta queixas de depressão e ansiedade) d. Propósito da avaliação deve ser indicado de forma clara e orientada para o problema Ex. Diagnóstico diferencial – presença de dificuldades psicológicas (ex. problemas de memória causados pela depressão) VS défice orgânico (ex. problemas de memória devido às fases iniciais da doença de Alzheimer) Avaliação da natureza e extensão dos danos cerebrais Avaliação para fornecer recomendações para orientação vocacional Conhecimento pessoal sobre dificuldades ao nível das relações interpessoais Avaliação das características da personalidade, existência ou não de psicopatologia e em caso afirmativo, se a mesma condiciona o desempenho parental 17 Métodos de Avaliação I 3. Metodologia a. Deve enumerar todos os procedimentos utilizados: i. Datas das sessões e tempo despendido em cada sessão ii. Entrevista com a pessoa avaliada iii. Entrevistas adicionais com outras pessoas do círculo do paciente iv. Testes que foram administrados (nome formal do teste, seguido de iniciais) v. Consulta de registos – listas os registos que forem revistos e, dependendo da finalidade do relatório, detalhes adicionais de identificação vi. Observações (ex. observação em sala de aula, observação mãe-bebé) 4. Enquadramento/Historial relevante e informação contextual a. Deve incluir: i. Informações da história da pessoa que sejam relevantes para o problema que está a ser avaliado e para a interpretação dos resultados da avaliação (história do problema) 1. Dependendo do contexto pode ser mais extensa (ex. contexto legal) ou mais sucinta (ex. contexto hospitalar) 2. Inicio e natureza dos sintomas 3. Mudanças na frequência, intensidade ou expressão 4. Tentativas anteriores de tratamento e, em caso afirmativo, o resultado 5. Fatores que atualmente reforçam o problema a. Informação relativa à situação atual de vida do avaliado (ex. perdas, suporte familiar, relacionamentos interpessoais, emprega) 6. Possivel presença e natureza de défice orgânico (ex. traumatismo, craniano, acidentes vasculares cerebrais, etc) ii. Seleção da informação a incluir nesta secção depende do objetivo do relatório (sem regras especificas) iii. Importante especificar a fonte de informação iv. Boa história do problema v. Informação sobre eventos de vida significativos vi. Dinâmica familiar vii. Historial académico e profissional viii. Interesses pessoais ix. Historial médico x. Atividades diárias xi. Relações interpessoais xii. Desde a primeira infância, adolescência e idade adulta (cada etapa tem áreas típicas para explorar e problemas a ter em conta) 18 Métodos de Avaliação I b. Por vezes, importante incluir informação sobre os antecedentes emocionais e médicos dos pais e parentes próximos porque certas perturbações ocorrem com maior frequência em algumas famílias do que na população geral c. Muitas vezes é útil uma descrição da atmosfera geral da família, incluindo i. sentimentos do avaliado em relação aos membros da família ii. Perceções das suas relações uns aos outros d. Maior parte desta informação é recolhida durante as entrevistas que ocorrem nas sessões de avaliação psicológica – nem toda a informação que surge nas sessões deve constar do relatório, deve respeitar a confidencialidade e privacidade das pessoas avaliadas e. Estrutura cronológica: história desde o nascimento até à idade adulta f. Estrutura por tópicos: história psiquiátrica, médica, social, educacional, ocupacional ou outros tópicos relevantes para o pedido g. Estrutura combinada: história cronológica é complementada por informações adicionais, tais como histórico familiar de perturbações psiquiátricas ou histórico de tratamentos 5. Observação comportamental e estado mental a. Observações comportamentais devem ser concisas, específicas e relevantes b. Devem apenas explicar-te detalhadamente os comportamentos invulgares c. Importância desta secção pode ser bastante variada i. Por vezes as observações comportamentais podem ser quase tão importantes como os resultados dos testes, noutras situações, esta descrição pode consistir apenas em pequenas observações d. Deve incluir: i. Aparência física 1. Quaisquer características incomuns relacionadas com expressões faciais, roupas, corpo, maneirismos e movimentos 2. Essencialmente importante observar contradições (ex. um rapaz de 14 anos que age como se tivesse 18; uma pessoa que parece suja com um excelente vocabulário e alto nível de fluência verbal) ii. Comportamento perante as tarefas 1. Solicitadas e perante o examinador – comportamentos que refletem o nível de ansiedade, presença de depressão ou grau de hostilidade 2. Método de resolução de problemas (ex. cuidadoso, metódico, impulsivo, desorganizado) 19 Métodos de Avaliação I 3. Verbalizações incomuns que o avaliado faz sobre o material de teste iii. Grau de cooperação do avaliado durante as sessões, incluindo durante a administração de testes – deve ser um fator a ter em conta para aferir a validade dos resultados da avaliação Ex. A avaliação instrumental ficou marcada pela existência de uma elevada desejabilidade social, no sentido de transmitir uma imagem demasiado valorizada de si mesma. As pontuações obtidas refletem uma marcada defensividade e negação, assim como uma recusa meticulosa em admitir quaisquer falhas que possam ser utilizadas contra si. Os resultados da avaliação sugerem que a examinada demonstra uma tendência para encobrir as suas fraquezas e considerar que as outras pessoas se deveriam conformar com a sua forma de pensar e de agir, com os seus estereótipos e com as suas expectativas sociais. iv. Discurso e linguagem v. Humor e emoções vi. Perceção vii. Conteúdos e o processo de pensamento viii. Funcionamento intelectual ix. Orientação x. Memória xi. Atenção xii. Concentração xiii. Insight e julgamento Ex. A X apresentou-se à hora agendada, com aspeto cuidado e com idade aparente coincidente com a idade real. Os seus comportamentos e atitudes foram consentâneos com a sua idade, nível de desenvolvimento e inserção sociocultural. Ao longo do processo de avaliação, a X demonstrou uma atitude colaborante, interessada e de disponibilidade na realização das tarefas propostas. Paralelamente, evidenciou ser conhecedora dos objetivos subjacentes à avaliação psicológica. Do exame direto realizado verificou-se que a X se mostrou reservada e tímida no contacto inicial com a examinadora, porém, ao longo do processo de avaliação, desenvolveu progressivamente uma relação de cooperação e confiança com a mesma. Aderiu às questões lhe foram colocadas, pedindo esclarecimentos sempre que não entendia determinada questão. A X evidenciou um discurso fluido, espontâneo coerente e uma linguagem cuidada e bastante expressiva, evidenciando facilidade de comunicação. Pronunciou-se loquazmente e num tom de voz regular, com variações prosódicas normais. Narrou de forma coerente e integradas as suas rotinas diárias, os seus interesses e preferências, exemplificando acontecimentos do quotidiano. Paralelamente, apresentou-se orientada no tempo, no espaço, auto e alopsiquicamente, não demonstrando alterações da senso-perceção, do curso e do conteúdo do pensamento.” (Adolescente, 15 anos, sem psicopatologia) A Y apresentou-se as consultas revelando uma idade aparente coincidente com a real, ligeiramente desarranjada, roupas amarrotadas, sem maquilhagem. Apresentou lentificação psicomotora moderada, sentando-se afundada na cadeira. O contacto com o olhar foi limitado, manteve os olhos baixos. Chorou frequentemente e com facilidade. Revelou-se, de um modo geral, colaborante na entrevista. O humor revelou- se gravemente depressivo e desesperado. Embora afetivo, com restrição emocional. Afeto não reativo. O discurso foi fluente e gramatical. Verificou-se diminuição da espontaneidade do discurso, com aumento do tempo de latência e pausas. Ocasionalmente, manifestou dificuldade em encontrar palavras. Empregou uma fala monocórdica com pouca variação prosódica. Apresentou Ideação suicida ativa, dizendo “a vida deixou de 20 Métodos de Avaliação I valer a pena”, mas negou ideação homicida. Conteúdo focado na baixa autoestima e raiva contra o marido. Apresentou ainda ruminações de culpa. Negou desconfianças, ideias delirantes, ilusões ou alucinações e não evidenciou perturbação do pensamento. Orientada auto e alopsiquicamente no tempo e no espaço. Revelou défice de atenção, diminuição da concentração, ligeiro défice da memoria a curto prazo, insight diminuído pelos sintomas depressivos e juizo critico alterado, como evidencia a ideação suicida.” (Mulher, 43 anos, Depressão major) 6. Resultados/Avaliação psicológica a. Secção principal b. Interpretação clinica dos dados de avaliação c. Passos para a integração dos dados da avaliação: i. Encontrar o foco da avaliação (ex. diagnóstico de psicopatologia, recomendações de tratamento, dificuldades de aprendizagem, etc) ii. Identificar os domínios do funcionamento a avaliar 1. Funcionamento comportamental 2. Funcionamento emocional 3. Funcionamento cognitivo 4. Funcionamento interpessoal 5. Autoconceito iii. Organizar e integrar dados (poderá ser útil uma grelha para organizar tudo) 1. Extrair informações sobre cada domínio a partir das entrevistas, dos resultados dos testes, consulta de registos e observações comportamentais, tendo em conta o foco da avaliação 2. Possuir excelentes capacidades de raciocínio e forte pensamento critico 3. Possuir/desenvolver excelente domínio das temáticas a avaliar (através de revisão da literatura, cursos de formação, supervisão) iv. Lidar com disparidades 1. Excluir "maus” dados: Como decidir se os dados são "maus", isto é, pouco fiáveis ou inválidos? Se determinados dados são inconsistente com todos os outros elementos e/ou inconsistentes com os comportamentos do avaliado. Nem sempre e fácil decidir sobre a fiabilidade dos dados (especialmente nos testes psicológicos), por isso, o melhor é agir com cautela e reportar os dados anómalos (inconsistentes) no relatório escrito, indicando que as razões da anomalia não são claras, ou, se for o caso, que a pontuação é considerada inválida 2. Conhecer bem os procedimentos utilizados – o que os testes medem e como medem (características psicométricas) 3. Desenvolver inferências a partir de padrões de dados: dados que vão no mesmo sentido (ex. resultados elevados numa escala de depressão e descrição, em entrevista, de sintomatologia depressiva pelo próprio e por outros significativos) 4. Utilizar a literatura para dar sentido às disparidades (e.g., em que circunstâncias as diferenças de scores nas subescalas da WISC-III são significativas?) 21 Métodos de Avaliação I 5. Prestar atenção ao comportamento e circunstâncias do avaliado (e.g., alguém que está a ser avaliado para receber uma indemnização pode simular sintomas; enquanto alguém envolvido num processo de promoção e proteção pode dissimular sintomas, para dar boa impressão) v. Lidar com conclusões incidentais 1. Por vezes, no decorrer de uma avaliação surgem dados/informações inesperadas que sugerem um problema que não se considerava existir (ex. um rapaz inteligente e talentoso está a ser avaliado no âmbito de um processo de seleção para integrar uma escola de elite. No decorrer da avaliação ele realiza uma bateria de testes e, para surpresa de todos, os resultados sugerem que ele tem uma fraqueza na matemática e pode cumprir critérios para uma perturbação de aprendizagem relacionada com a matemática) 2. Estas descobertas devem ser, pelo menos, documentadas e, se possível, exploradas. Se a constatação for importante, deve considerar-se recomendar uma avaliação adicional vi. Responder às questões do pedido 1. Todos os resultados são únicos 2. Para responder ao pedido, podemos seguir estas etapas: a. Recolher informação, encontrar o foco da avaliação e selecionar a informação relevante para cada domínio de funcionamento b. Usar boas habilidades lógicas e de raciocínio para retirar conclusões precisas e relevantes c. Mesmo em casos complexos, se as perguntas forem bem colocadas e os dados recolhidos adequadamente, as respostas estão quase sempre presentes d. Por vezes menos é mais – devemos excluir informações que não são importantes e focarmos nas questões ou preocupações principais. e. Prestar atenção às circunstancias - os resultados da avaliação são sobre um indivíduo, mas o indivíduo faz parte de uma família e vive e trabalha com outras pessoas. As questões individuais são muitas vezes apenas uma pequena parte de um quadro maior e mais complexo f. Uma avaliação não é uma bola de cristal (nem os psicólogos não podem prever o futuro) mas é um método imperfeito, mas muitas vezes poderoso para aprender sobre uma pessoa, sobre os seus problemas, vulnerabilidades e pontos fortes vii. Sugerir recomendações 7. Conclusões e recomendações a. Selecionar os aspetos mais importantes e sumarizá-los 22 Métodos de Avaliação I b. Não sobrecarregar o leitor com detalhes desnecessários c. Fornecer respostas breves/numeradas a cada uma das questões do pedido d. Deve ser escrita como se fosse a única secção que o leitor irá ler e. Objetivo principal: tecer recomendações porque estas sugerem que medidas podem ser tomadas para resolver os problemas apresentados, devem incluir: i. Ser realistas, práticas e alcançáveis ii. Ser específicas, mas não tão específicas que acabem por ser restritivas iii. Ser focadas - não devemos tecer recomendações fora da nossa área de especialização. Devemos ser cuidadosos e respeitar os limites profissionais iv. Ser adequadas ao pedido e ao público alvo do relatório v. Abranger todas as bases, o problema trazido inicialmente e outros que surgem na avaliação vi. Antecipar os problemas e abordá-lo vii. Focadas no avaliado e nas suas necessidades Avaliação psicológica CRIANÇAS E ADOLESCENTES Entrevista Em termos mais gerais, uma entrevista clínica infantil consiste numa sessão formalmente agendada com um propósito específico em que existe uma relação definida entre o entrevistador e o entrevistado Os entrevistados mais comuns são a criança, os seus cuidadores e professores O entrevistador usa um questionamento propositado para direcionar o fluxo da conversa através da escolha de perguntas, tópicos ou do conteúdo da discussão O entrevistador valoriza, sem julgamentos, o conteúdo e outros aspetos da interação (por exemplo, afetos, comportamento) O entrevistador segue as orientações éticas e deontológicas relativas à confidencialidade da informação que recolhe 23 Métodos de Avaliação I Focam-se tipicamente: Pontos fortes Fraquezas Cultura Resultados desejados De uma forma geral, as entrevistas de diagnóstico de crianças podem ser distinguidas tendo em conta a sua estrutura: Entrevistas não-estruturadas o Dão total liberdade ao psicólogo para colocar as questões que entende necessárias e pertinentes. Apesar de algumas questões poderem ser semelhantes entre entrevistadores, não existem procedimentos estandardizados Entrevistas semiestruturadas o Proporcionam ao psicólogo alguma flexibilidade, no sentido em que este pode decidir por que ordem as questões serão colocadas, a maneira como as frases são exprimidas, e a forma como as respostas são registadas Entrevistas estruturadas o Restringem a liberdade do psicólogo o É esperado que o psicólogo coloque todas as questões da mesma maneira e na mesma ordem, assim como registe todas as respostas de uma forma previamente especificada As entrevistas de diagnóstico para crianças atuais tendem a ser estruturadas ou semiestruturadas Incentivam a recolha de informação de vários informadores As duas tendências mais dominantes no desenvolvimento de entrevistas clínicas de diagnóstico infantil são: Baseadas em faixas etárias alargadas (por exemplo, entrevistas para idade pré-escolar; adolescentes) Entrevistas especializadas para perturbações específicas (por exemplo, depressão; perturbações da ansiedade) A grande maioria das entrevistas apresentam um formato semelhante, sendo constituídas por: Secção introdutória o Finalidade: auxiliar na construção da relação e obter informação inicial relacionada com os problemas atuais 24 Métodos de Avaliação I Módulos específicos para sintomas o Começam com questões de rastreio e determinam se se pode avançar ou se se tem de continuar com as questões (i.e., relacionadas com a frequência, intensidade, duração) Decisão da presença ou ausência de uma diagnóstico Entrevistas estruturadas e semiestruturadas Entrevistas gerais: Abrangem uma ampla gama de condições de saúde mental, incluindo perturbações emocionais, comportamentais, de substâncias, de desenvolvimento e perturbações psicóticos Estão muitas vezes, embora nem sempre, alinhadas com o sistema de diagnóstico DSM e as suas várias edições Entrevistas específicas: Cobrem uma ou algumas condições psiquiátricas em muito maior profundidade Alguns exemplos de entrevistas utilizadas com crianças e adolescentes: Escala para Perturbações Afetivas e Esquizofrenia para Crianças em Idade Escolar - Versão Atual e ao Longo da Vida (K-SADS-PL) Escala de Classificação de Depressão Infantil – Revista (ECDI-R) Escala de Interferência da Ansiedade na Vida da Criança – versões para Pais e Crianças (CALIS-P e CALIS-C) Entrevista Diagnóstica de Crianças e Adolescentes (DICA) Entrevista Diagnóstica de Crianças (DISC) Escala para Perturbações Afetivas e Esquizofrenia para Crianças em Idade Escolar – Versão Atual e ao longo da vida (K-SADS-PL) Entrevista semiestruturada que avalia a presença de doenças psiquiátricas, em crianças e adolescentes (6-18 anos) Avalia 32 diagnósticos psiquiátricos de acordo com o DSM IV-TR, explorando um total de 82 sintomas É administrada à criança ou ao adolescente e aos pais 25 Métodos de Avaliação I Ambas as aplicações são efetuadas pelo mesmo avaliador para que este possa comparar as respostas dos dois informadores, analisar se existem discrepâncias, e pontuar conforme a conclusão a que chegue O tempo de administração pode durar entre 35 a 80 min por pessoa, dependendo da gravidade e complexidade dos problemas apresentados. Principais diagnósticos avaliados: Perturbações do humor (depressão major, distimia, mania, hipomania, ciclotimia, perturbações bipolares) Esquizofrenia e outras perturbações psicóticas (perturbação esquizoafetiva, esquizofrenia, perturbação esquizofreniforme, perturbação psicótica breve) Perturbações da ansiedade (perturbação de pânico, agorafobia, perturbação de ansiedade de separação, perturbação evitante da infância e adolescência, fobia específica, fobia social, perturbação da ansiedade generalizada, perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação pósstress traumático) Perturbações do comportamento alimentar (anorexia nervosa, bulimia nervosa) Perturbações disruptivas do comportamento e de défice de atenção (perturbação de hiperatividade com défice de atenção, perturbação do comportamento, perturbação de oposição) Perturbações da eliminação (enurese, encoprese) Perturbações de tiques (perturbação de tique transitório, perturbação de gilles de la tourette, perturbação de tiques motor ou vocal crónicos) Abuso do álcool, abuso de substâncias, e perturbações da adaptação Composição: 1. Entrevista Introdutória não estruturada a. Duração: 10 a 15 minutos b. Nesta secção obtêm-se dados demográficos, de saúde, queixas atuais e de tratamento psiquiátrico anterior, informação sobre o funcionamento escolar da criança, passatempos e o relacionamento com a família e com os pares c. Esta secção deve ser usada para estabelecer uma relação com os pais e com a criança e nunca deve ser omitida 2. Entrevista de Rastreio Diagnóstico; a. Exploram-se os principais sintomas dos diferentes diagnósticos avaliados na KSADS-PL b. As perguntas devem ser tão neutras quanto possível 26 Métodos de Avaliação I c. Após os sintomas principais associados a cada diagnóstico serem explorados, devem explorar- se os critérios de exclusão para os episódios da perturbação no momento atual e no passado 3. Listagem dos Suplementos a Utilizar; a. A Lista dos Suplementos a Utilizar deve ser destacada antes de começar a entrevista b. Os suplementos a serem utilizados devem ser assinalados nos espaços fornecidos, juntamente com as datas de possíveis episódios atuais ou passados da perturbação 4. Suplementos de Diagnóstico adequados; a. 1) Perturbações do Humor, 2) Perturbações Psicóticas; 3) Perturbações da Ansiedade; 4) Perturbações do Comportamento; 5) Abuso de Substâncias e Outras Perturbações b. Os critérios de exclusão na Entrevista de Rastreio especificam quais suplementos devem ser completados c. Cada suplemento tem uma lista de sintomas, perguntas, e critérios para avaliar o episódio atual (EA) e o episódio de maior gravidade no passado (EMGP) da perturbação d. Os suplementos devem ser administrados na ordem em que os sintomas dos diferentes diagnósticos surgiram 5. Ficha de Resumo dos Diagnósticos ao Longo da Vida; a. O resumo da informação diagnóstica ao longo da vida é baseada na síntese dos dados obtidos de todas as fontes b. A Ficha permite registar a seguinte informação para cada diagnóstico: presença ou ausência de um episódio atual ou passado; idade de início do primeiro episódio; idade de início do episódio atual; número total de episódios; e tempo total do(s) episódio(s) c. A informação acerca do historial de tratamento é também registada na Ficha 6. Pontuações da Escala de Avaliação Global das Crianças (EAG-C) a. É atribuída uma pontuação da EAG-C para avaliar o nível de funcionamento atual das crianças Escala de Classificação de Depressão Infantil – Revista (ECDI-R) Entrevista psicológica que mede a gravidade da depressão em crianças e adolescentes com idades entre os 6 e os 12 anos Apesar de ter sido uma entrevista desenvolvida inicialmente para avaliar crianças, os estudos apontam que é bastante confiável na avaliação de adolescentes entre os 12 e os 16 anos anos (Mokros & Poznanski, 1992) 27 Métodos de Avaliação I Entrevista composta por 17 itens que se reportam à última semana. Formato de resposta Likert, de 7 pontos. Cálculo da nota global é obtida através de um somatório Os primeiros 14 itens são questões feitas ao entrevistado (a formulação das questões foi baseada nos critérios de diagnóstico de depressão do DSM) Os últimos 3 itens são avaliados através do comportamento não-verbal do sujeito. Permitem avaliar a expressão facial do afeto depressivo, o discurso desatento e a hipoatividade Áreas sintomáticas avaliadas: Dificuldades nas tarefas escolares; Dificuldade em divertir-se; Isolamento social; Perturbação do sono; Os itens estão dispostos por ordem crescente de invalidação, Perturbação do apetite; ou seja dos menos intrusivos para os mais intrusivos, no Fadiga excessiva; entanto, sendo uma entrevista semiestruturada, o Queixas físicas; entrevistador pode alterar a ordem das questões de modo a Irritabilidade; adequar-se à conversa que se vai estabelecendo Culpa excessiva; Baixa autoestima; Sentimentos depressivos; Ideação mórbida; Ideação suicida e Choro excessivo A ECDI-R tem uma pontuação mínima de 17 pontos e máxima de 113 pontos (pontuação bruta). Cada item varia entre 1 e 7 pontos com exceção dos itens 4, 5 e 16 que variam entre 1 a 5 pontos. A cotação dada a cada item está relacionada com o grau de gravidade de sintomatologia depressiva, onde 1 – normal; 2 – sintomatologia depressiva duvidosa; 3 e 4 – sintomatologia média ou ligeira; 5 – sintomatologia moderada; 6 e 7 – sintomatologia depressiva severa Resultados padronizados inferiores a 39 são extremamente raros, recomendando-se o recurso a outras fontes de informação; Embora o foco de obtenção de informação Resultados padronizados entre 40 e 54 indicam que é improvável a seja a criança/adolescente a entrevista confirmação de perturbação depressiva; também pode ser realizada com os pais ou Resultados padronizados situados entre 55 e 64 preveem que seja possível a pessoas significativas para a confirmação de diagnóstico depressivo; criança/adolescente Resultados entre 65 e 74 considera-se que é provável a confirmação de diagnóstico; Resultados entre 75 e 84 considera-se muito provável a confirmação de uma Os resultados brutos podem ser perturbação depressiva transformados em resultados Resultados acima dos 85 é quase certo que o diagnóstico de perturbação padronizados depressiva seja confirmado. 28 Métodos de Avaliação I Os pontos de corte estão estabelecidos e associados a eles encontra-se a respetiva interpretação dos resultados Em relação à pontuação dada por cada item o ponto de corte é 3-4 (resultados brutos). Assim, itens que pontuem acima de 4 indicam a presença de sintomatologia depressiva. Resultados brutos de 40 pontos são considerados pontos de corte para a presença de sintomatologia em crianças e resultados de 45 pontos são considerados pontos de corte para a presença de sintomatologia depressiva em adolescentes Consegue discriminar entre diferentes níveis de gravidade de sintomatologia depressiva, possibilitando a identificação de crianças/adolescentes não deprimidos, com sintomatologia duvidosa, com sintomatologia depressiva ligeira, com sintomatologia depressiva moderada e com sintomatologia depressiva severa Escala de Interferência da Ansiedade na Vida da Criança – versões para Pais e Crianças (CALIS-P e CALIS- C) O CALIS-C (9 itens) e o CALIS-P (16 itens) fornecem duas medidas (uma para administrar à criança e outra aos pais) que avaliam até que ponto a ansiedade da criança tem impacto no seu funcionamento escolar, social e familiar O CALIS-P também fornece um conjunto adicional de itens que avaliam a interferência que a ansiedade da criança tem na vida dos pais Os itens estão divididos em três subescalas: Interferência externa, Interferência doméstica (tanto para relatos da criança, como para relatos dos pais sobre a criança) e Interferência na Vida dos Pais (apenas para relatos dos pais) As pontuações de todos os itens relevantes para a interferência na vida da criança são combinadas para produzir uma pontuação total - Interferência da Vida Infantil (relato de crianças e pais) e para o relato dos pais todos os itens são combinados para produzir uma pontuação total Cada item é avaliado numa escala de Likert de 5 pontos : (0) não, nada (1) apenas um pouco, (2) às vezes, (3) bastante e (4) muito 29 Métodos de Avaliação I Entrevista diagnóstica de crianças e adolescente (DICA) Esta entrevista destina-se a crianças e jovens entre os 6 e os 17 anos Requer um treino intensivo de 2 a 4 semanas, dependendo da experiencia do entrevistador Abrange mais de 20 perturbações diagnósticas, tais como défice de atenção/hiperatividade, perturbações de ansiedade e humor, várias categorias de perturbações relacionadas com o uso de substâncias, perturbações alimentares e de eliminação, e perturbações de oposição e de comportamento Outras questões gerais abrangem sintomas psicóticos, fatores perinatais, funcionamento psicossocial, défices e fatores de risco e de proteção Cada secção de diagnóstico começa com questões de rapport-building, passando para questões mais específicas de resposta sim/não sobre sintomas e os estados emocionais em torno destes sintomas A entrevista DICA está construída de forma a permitir que o entrevistador mude para uma secção diferente, dependendo das respostas fornecidas Os entrevistadores são encorajados a recolher informações contextuais ao longo da entrevista e a observar itens que podem exigir um acompanhamento mais detalhado As tarefas de diagnóstico são baseadas em manual A primeira secção (rapport building) contém questões sobre dados sociodemográficos, notas, atividades extracurriculares, e uma série de outras questões como "O que gostas de fazer nos teus tempos livres?" e "O que é que tu e os teus amigos fazem juntos?”. Estas questões não são morosas e oferecem outra oportunidade para estabelecer a relação com a criança Os entrevistadores devem seguir o guião de entrevista o mais fielmente possível, havendo alguma flexibilidade para pequenos desvios do instrumento O modo de colocar questões adicionais deve seguir um padrão pré-estabelecido, para que todos os entrevistadores coloquem questões da mesma forma. No manual são fornecidos exemplos de questões alternativas que podem ser colocadas No manual consta informação sobre como os entrevistadores podem manter o interesse do entrevistado 30 Métodos de Avaliação I Com as crianças mais novas, os entrevistadores são encorajados a falar num tom de voz “animado” (ajustado de acordo com a resposta da criança), usando gestos manuais e corporais, se necessário. As crianças mais novas têm acesso a pausas frequentes, bem como acesso a livros para colorir e pequenos brinquedos Entrevista Diagnóstica de Crianças (DISC) Esta entrevista é desenhada para crianças e jovens entre os 6 e os 17 anos e tem versões para as crianças e jovens e para os pais A entrevista abrange mais de 30 das perturbações psiquiátricas mais comuns na juventude e é bastante extensa através da ansiedade, humor, comportamento psicótico, disruptivo, uso de substâncias e outras perturbações psiquiátricas (quase 2500 perguntas no total) Altamente estruturada - não foi concebida para depender do julgamento clínico A maioria das perguntas são de resposta sim/não, embora alguns itens sejam de natureza aberta O tempo de administração pode durar de 45 a 120 min por informador, dependendo da gravidade dos problemas apresentados As perguntas iniciais na DISC envolvem informações demográficas, idade de início de sintomas, défices/dificuldades, eventos memoráveis e intervenção passada Depois da secção inicial, é solicitado um conjunto de perguntas fundamentais ou estaminais (358) para recolher informação sobre amplos indicadores de problemas, e posteriormente seguem-se cerca de 1300 perguntas contingentes, com base em respostas anteriores As questões contingentes são cobertas em várias secções e incluem informações sobre a frequência, a duração, a intensidade dos problemas, e vários construtos transdiagnósticos, tais como a irritabilidade Explora a sintomatologia e os diagnósticos no último mês e no último ano O foco é colocado na ansiedade, humor, perturbações disruptivas, uso de substâncias, esquizofrenia, entre outras São colocadas 499 questões sobre a vida em geral em casos em que não se verifica sintomatologia, focando-se em se alguns diagnósticos podem ter-se aplicado para além do ano passado quando a criança era mais jovem 31 Métodos de Avaliação I Podem ser documentados episódios passados de psicopatologia, após os 5 anos A entrevista é tipicamente pontuada com recurso a um computador, abrangendo 34 diagnósticos psiquiátricos ADULTOS Pedidos De onde surgem os pedidos? Médico Psiquiatra Contexto de Justiça (Perícias) Contexto Clínico (o próprio) Contexto Organizacional Entrevista O estilo de entrevistador é fortemente influenciado pela sua orientação teórica e por considerações práticas Profissionais fortemente influenciados por teorias centradas no cliente tendem a ser não diretivos e a evitar questões muito estruturadas - o objetivo é criar um tipo de relação interpessoal que fomente a auto-mudança Profissionais influenciados por teorias comportamentais tendem a ser mais diretivos e dar preferência a questões estruturadas - baseia-se no pressuposto de que a mudança ocorre devido a influências e consequências externas específicas, pelo que as entrevistas são direcionadas para a obtenção de informações específicas Não há um estilo correto e um estilo errado - ambos são válidos Porém, um estilo pode ser apropriado e eficaz num contexto (ou com um cliente), e ineficaz ou inadequado noutro contexto Uma abordagem ambígua e desestruturada pode tornar uma pessoa extremamente ansiosa ainda mais ansiosa, enquanto uma abordagem direta pode revelar-se mais eficaz com pessoas com estas características Um cliente passivo e tímido também é provável que inicialmente exija um estilo de pergunta e resposta mais direto 32 Métodos de Avaliação I Um estilo menos estruturado, muitas vezes, incentiva a autoexploração mais profunda do cliente, permite que os profissionais observem as capacidades organizacionais do cliente, e pode resultar em maior relação, flexibilidade e sensibilidade à singularidade do cliente Cada um destes tópicos poderá ser convertido em questões específicas. Podemos começar por questões mais amplas e gerais, tornando-as progressivamente mais específicas, se necessário. Por exemplo: “Fale-me sobre as suas principais preocupações atuais.” “Como é que estas questões o/a afetam na sua vida?” “Quando é que começaram estas dificuldades?” “Com que frequência ocorrem?” “Há alturas em que esteja melhor ou pior??” “O que acontece depois de ter esses comportamentos?” Compreender as respostas emocionais é especialmente relevante em entrevistas clínicas que se focam nas dificuldades pessoais de um cliente Clientes têm muitas vezes dificuldades em expressar-se de forma clara e precisa, por isso os psicólogos devem inferi-las da expressão não verbal. Por exemplo: o contacto visual pode transmitir envolvimento; rigidez da postura pode sugerir defensividade; os movimentos das mãos ocorrem frequentemente para além da intenção consciente da pessoa, sugerindo nervosismo, intensidade ou relaxamento. Tópicos releva ntes Problema e História do Problema Descrição do problema Início Alterações na frequência Antecedentes/consequências Intensidade e duração Tratamento anterior Tentativas de resolução Tratamento formal Enquadramento familiar Nível socioeconómico Ocupações dos pais História emocional/médica Casado/separado/divorciado Constelação familiar 33 Métodos de Avaliação I Cultura Saúde atual dos pais Relações familiares Educação urbana/rural Enquadramento pessoal Infância o Marcos do desenvolvimento o Atmosfera familiar o Quantidade de contacto com os pais o Histórico médico precoce o Controlo dos esfincters o Ajustamento na escola o Realização académica o Passatempos/atividades/interesses o Relações com os pares o Relação com os pais o Mudanças de vida importantes Adolescência o Todas as áreas listadas para a infância o Presença de acting out (questões legal, envolvimento com drogas, comportamento sexual) o Namoros precoces o Reação à puberdade o Abuso infantil Adulto o Carreira/ocupação o Relações interpessoais o Satisfação com objetivos de vida o Passatempos/interesses/atividades o Relação romântica/casamento o Violência doméstica o História médica/emocional o Relação com os pais o Estabilidade económica o Abuso de substâncias Idade adulta mais avançada o História médica o Integridade do ego o Reação à diminuição das capacidades o Estabilidade económica Outros tópicos o Auto-conceito (positivo/negativo) o Memórias mais felizes/tristes o Memória mais antiga o Medos 34 Métodos de Avaliação I o Preocupações somáticas (dores de cabeça, dores de estômago, etc.) o Eventos que criam felicidade/tristeza o Sonhos recorrentes/notáveis Retira r ou não tira r notas? A favor Contra Solução Pode aumentar a ansiedade, Suscetível de capturar mais levantar questões sobre o Retirar notas quando necessário, detalhes e resultar em menos anonimato, aumentar a mantendo contacto ocular e distorções de memória do que probabilidade de um cliente se postura de escuta ativa sempre registar informação após a sentir como um objeto sob que possível conclusão da entrevista investigação, e criar uma atmosfera não natural Condução da entrevista Cobrir estas áreas durante as fases preliminares da avaliação deverá reduzir a probabilidade de falhas de comunicação e dificuldades posteriores 1. Fase inicial da entrevista - garantir que os sete seguintes pontos estão assegurados: a. Organizar as características físicas da sala que pareça habitada, mas não desarrumada; utilizar iluminação ideal; providenciar assentos para que o psicólogo e o cliente não estejam nem muito perto nem muito longe e de modo que o nível dos olhos seja aproximadamente igual b. Apresentar-se, indicar como prefere ser tratado (doutor, primeiro nome, etc.) e clarificar também como é que o cliente prefere ser tratado c. Indicar o propósito da entrevista, verificar a compreensão do cliente sobre o processo e esclarecer quaisquer discrepâncias entre estes dois entendimentos d. Explicar como será usada a informação derivada da entrevista e. Descrever a natureza confidencial das informações, os limites de confidencialidade e questões especiais relacionadas com a confidencialidade (por exemplo, como as informações podem ser obtidas e utilizadas pelo sistema de justiça) f. Explicar que o cliente tem o direito de não discutir qualquer informação que não queira divulgar. 6. Explicar o papel e as atividades que gostaríamos que o cliente se envolvesse, os instrumentos que são suscetíveis de serem utilizados na avaliação, e o tempo total provável necessário g. Em algumas circunstâncias, isto pode ser formalizado com um contrato escrito 35 Métodos de Avaliação I h. Esclarecer valores (por hora, por sessão, custo total estimado, horária, o custo total estimado) e o intervalo de tempo esperado entre a faturação e o pagamento 2. Sequência das técnicas utilizadas: a. A maioria dos autores recomenda que a entrevista comece com perguntas abertas e, depois de observar as respostas do cliente, progrida para perguntas mais diretas b. Vantagem das questões abertas: exigem que os clientes compreendam, organizem e se expressem com pouca estrutura externa c. Permitem observar a fluência verbal, o nível de assertividade, o tom de voz, o nível de energia, as hesitações e as áreas de ansiedade do cliente d. Podem gerar-se hipóteses a partir destas observações, e explorar essas hipóteses e. Comentários facilitadores: mantêm ou encorajam o fluxo da conversa (e.g., “Conte-me mais…”; “Continue…”; acenar, contacto ocular) f. Pedidos de clarificação: pedir ao cliente que seja altamente específico e forneça exemplos concretos (e.g., um dia típico ou um dia que melhor ilustre o comportamento problemático) g. Comentários empáticos: (“Deve ter sido muito difícil para si”) h. Confrontação: confrontar, ou pelo menos comentar, inconsistências na informação ou comportamento de um cliente - pode produzir ansiedade, deve ser usado apenas se existir oportunidade suficiente para trabalhar a ansiedade gerada i. Evitar questões iniciadas por “porquê” – podem soar acusatórias ou críticas j. Alternativas: “O que pensa sobre…” ou “Como é que isso aconteceu…” em vez de “porquê?” 3. Finalizar a entrevista a. Dar indicação ao cliente/paciente de que a sessão terminará em breve (5 ou 10 min) b. Durante este tempo perguntar se há mais informação que o cliente/paciente queira partilhar ou se tem questões que queiras colocar c. Pode ser útil sumariar o que foi discutido na sessão Entrevista de diag nóstico Processo de 4 passos: 1. O psicólogo desenvolve pistas de diagnóstico 2. Considera-se em relação a critérios de diagnóstico 3. Recolhe histórico psiquiátrico (e com base nesta informação) 36 Métodos de Avaliação I 4. Desenvolve um diagnóstico com estimativas de prognóstico É provável que uma entrevista com este objetivo seja mais diretiva com uma ponderação cuidadosa dos critérios de inclusão e exclusão de diferentes perturbações Entrevista informativa/exploratória Muitos profissionais defendem que o objetivo da entrevista clínica é compreender o contexto, a história e a perspetiva do entrevistado/avaliado. Assim, preocupam-se mais em aferir e compreender o estilo de coping do cliente/paciente, a rede de suporte, a dinâmica familiar ou a natureza dos problemas/dificuldades É provável que uma entrevista com este objetivo seja menos diretiva e mais flexível Exame do estado mental Originalmente modelado a partir dos exames médicos físicos O exame de estado mental tem como objetivo avaliar os principais sistemas de funcionamento psicológico (aparência, função cognitiva, discurso, insight, humor etc.) Diversidade de métodos (estruturados vs. não estruturados) North Carolina Mental Status Examination (Ruegg, Ekstrom, Evans, & Golden, 1990) Missouri Automated Mental Status Examination Checklist (Hedlund, Sletten, Evenson, Altman, & Cho, 1977) Mini Mental State Examination (Folstein, Folstein, & McHugh, 1975) Montreal Cognitive Assessment (MoCA) Aparência geral, comportamento e colaboração Vestuário, postura, gestos, discursos, cuidados pessoais/higiene, e quaisquer características físicas incomuns, tais como deficiências físicas ou tiques Devemos prestar atenção ao grau em que o comportamento do cliente está em conformidade com as expectativas sociais (tendo em conta o contexto da sua cultura e posição social) Grau de colaboração e aderência aos pedidos do psicólogo Expressões faciais, contacto visual, nível de atividade, características físicas notáveis e atenção 37 Métodos de Avaliação I O cliente é amigável, hostil, sedutor ou indiferente? Ocorreu algum comportamento bizarro ou eventos significativos ocorrem durante a entrevista? Em particular, a fala pode ser rápida ou lenta, alta ou suave, ou incluir uma série de características incomuns adicionais Discurso e linguagem Ajuda a determinar a possibilidade de funcionamento cognitivo excecional ou deficitário, foco, confusão e possível perturbação de pensamento (e.g., alucinações, delírios, ideação suicida) Destacam características interpessoais, tais como timidez, ansiedade na interação com os outros, e agressividade Os psicólogos devem avaliar, no geral, a compreensão da linguagem (resposta adequada às questões) e denotar alguma dificuldade a este nível (encontrar palavras, usar vocabulário complexo e apropriado, usar frequentemente palavras desadequadas Humor Emoções dominantes e gama de emoções projetadas durante a entrevista (observado a partir do conteúdo do discurso do cliente, expressões faciais e movimentos do corpo) Pode ser avaliado de acordo com variáveis como a profundidade, intensidade, duração e adequação das emoções. O cliente pode ser frio ou caloroso, distante ou próximo, lábil, etc O humor do cliente também pode ser eufórico, hostil, ansioso ou deprimido Psicólogo deve avaliar o nível de congruência entre humor e o conteúdo do discurso Perceção e pensamento Perceção de si e do mundo o Denotar se existem ilusões ou alucinações. Por exemplo, a presença de alucinações auditivas é mais característica das pessoas com esquizofrenia, enquanto alucinações visuais vívidas são mais características de pessoas com síndromes cerebrais orgânicas Funcionamento Intelectual o Envolve a compreensão da leitura e da escrita, conhecimento geral, aritmética, interpretação da linguagem abstrata, como provérbios, grau em que os pensamentos e expressões do cliente são articulados versus incoerentes o Pode ser complementada com testes curtos e formais como partes da WAIS ou da WISC Pensamento o O discurso de um cliente pode muitas vezes ser considerado um reflexo dos seus pensamentos 38 Métodos de Avaliação I o O discurso pode ser coerente, espontâneo e compreensível ou pode conter características incomuns. Pode ser lento ou rápido, caracterizar-se por silêncios repentinos, ou ser alto ou invulgarmente suave o O cliente é franco ou evasivo, aberto ou defensivo, assertivo ou passivo, irritável, abusivo ou sarcástico? o Avalia-se o conteúdo e o processo de pensamento o Conteúdos de pensamento como ilusões podem sugerir uma condição psicótica, mas também podem ser consistentes com certas doenças orgânicas, tais como demência. A presença de compulsões ou obsessões deve ser acompanhada com uma avaliação do grau de conhecimento do cliente sobre a adequação destes pensamentos e comportamentos o Processos de pensamento como a presença de mudanças rápidas de tópicos podem refletir fugas de ideias. O cliente também pode ter dificuldade em produzir um número suficiente de ideias, incluir no discurso um número excessivo de associações irrelevantes, ou divagar o Orientação ▪ A capacidade de orientação - sabem quem são (pessoa), onde estão (local), e quando ocorreram ou ocorrem eventos atuais e passados (tempo) ▪ O tipo de desorientação mais frequente é no tempo; desorientação no espaço e relativamente à pessoa ocorre com menos frequência ▪ Quando a desorientação ocorre para o espaço, e especialmente para a pessoa, provavelmente é grave. A desorientação é mais consistente com condições orgânicas o Memória, atenção e concentração ▪ A memória a longo prazo é frequentemente avaliada solicitando informações factuais e de conhecimento geral sobre o mundo (por exemplo, datas importantes, grandes cidades de um país, três grandes chefes de Estado desde 2000) e sobre o próprio (acontecimentos importantes, data de casamento) ▪ A memória a curto prazo é frequentemente avaliada solicitando ao cliente que memorize e depois recorde uma frase ou um parágrafo, números ou informação sobre a sua vida (última refeição, como chegaram ao consultório) ▪ Para avaliar a atenção e a concentração há vários exercícios possíveis – séries de sete (contar adicionando 7 de cada vez) ▪ As pessoas ansiosas e preocupadas têm dificuldades com estas séries de setes, bem como com a repetição de dígitos, especialmente, na ordem inversa Insight e julgamento o Capacidade de interpretar o significado e o impacto do seu comportamento nos outros o Capacidade para cuidar de si mesmos, avaliar riscos, e fazer planos o Porque é que acham que foram encaminhados para avaliação? 39 Métodos de Avaliação I o Quais as suas atitudes em relação às suas dificuldades? (reconhece, nega?) o Como relacionam o seu p

Use Quizgecko on...
Browser
Browser