Avaliação Psicológica - Conceitos Introdutórios PDF
Document Details
![ResponsiveDwarf6404](https://quizgecko.com/images/avatars/avatar-19.webp)
Uploaded by ResponsiveDwarf6404
Telma Sousa Almeida
Tags
Related
- Avaliação Neuropsicológica em Diferentes Contextos (PSA3612) PDF
- Psicologia Aplicada à Nutrição - Aspectos Psicológicos na Cirurgia Bariátrica - PDF
- Tipos de Entrevistas em Contexto Social e Organizações PDF
- Tipos de Entrevistas em Contexto Social e Organizacional
- Métodos de Avaliação I PDF
- Avaliação Psicológica de Adultos - 2024/2025 PDF
Summary
Este documento apresenta conceitos introdutórios sobre avaliação psicológica, discutindo a sua natureza complexa e integrativa. São abordados vários contextos de aplicação, incluindo os psiquiátricos, médicos, legais, educacionais e organizacionais. A avaliação psicológica é descrita como um processo de recolha e integração de diversas informações para compreensão mais abrangente de indivíduos ou sistemas de pacientes.
Full Transcript
Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ A avaliação psicológica é uma atividade complexa, integrativa e conceptual que envolve obter inferências de múltiplas fontes de informação para alcançar uma compreensão abrangente de um paciente ou sistema de pa...
Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ A avaliação psicológica é uma atividade complexa, integrativa e conceptual que envolve obter inferências de múltiplas fontes de informação para alcançar uma compreensão abrangente de um paciente ou sistema de pacientes. ⇥ Envolve a capacidade de avaliar o grau de necessidade, o estado mental, desenvolver perfis psicológicos em resposta a problemas específicos e interpretar o resultado. ⇥ A competência de avaliação exige que os psicólogos integrem dados de múltiplas fontes, que respondam eficazmente às questões de encaminhamento e comuniquem claramente as suas inferências e recomendações. (Peterson, et al., 2015) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ Consiste na recolha e integração de informação, através de uma série de técnicas, para avaliar o comportamento, as capacidades e outras características de uma pessoa, nomeadamente para efeitos de elaboração de uma recomendação de diagnóstico ou tratamento. ⇥ Para diferentes investigadores, a avaliação psicológica é um processo em que o psicólogo visa: ⇥ conseguir uma descrição precisa do funcionamento de um indivíduo ⇥ identificar as necessidades clínicas da pessoa (e.g., quais as intervenções mais adequadas) ⇥ fazer um diagnóstico diferencial de todos os tipos de distúrbios mentais ⇥ e acompanhar o progresso de intervenções a decorrer (Framingham, 2016; Meyer et al., 2001; Humboldt, et al., 2022) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ A avaliação psicológica é, assim, uma dimensão central da prática psicológica, fundamental na compreensão das dinâmicas psicológicas subjacentes aos casos e na monitorização de processos de intervenção. ⇥ Os psicólogos avaliam diversos problemas psiquiátricos (e.g., ansiedade, depressão, abuso de substâncias) e preocupações não psiquiátricas (e.g., inteligência, personalidade, interesses de carreira) numa gama de cenários clínicos, educacionais, organizacionais, forenses e outros. ⇥ Os dados da avaliação podem ser recolhidos através de entrevistas, observação, testes padronizados, medidas de autorrelato, dispositivos de medição fisiológica ou psicofisiológica, ou outros procedimentos e aparelhos especializados. (APA, 2022; Gonçalves, et al., 2017) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ As avaliações psicológicas podem ser solicitadas por diversas pessoas/entidades. ⇥ Para a condução de uma avaliação eficaz o psicólogo deve: ⇥ clarificar a questão que levou ao pedido/encaminhamento ⇥ compreender o contexto de encaminhamento ⇥ seguir orientações éticas ⇥ selecionar os instrumentos mais adequados para a problemática que está a ser estudada ⇥ fazer uma interpretação adequada e integrada de toda a informação recolhida (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ Ao longo do processo de avaliação, os psicólogos devem tentar compreender o problema em questão e as exigências únicas encontradas em diferentes contextos. Caso contrário, os examinadores — apesar de poderem ser especializados na administração e interpretação de testes psicométricos — podem administrar uma série desnecessária de testes e, na pior das hipóteses, fornecer informações inúteis a quem efetuou o pedido e aos próprios pacientes. ⇥ Ou seja, uma investigação aprofundada do motivo subjacente a um pedido de avaliação pode, por vezes, levar à descoberta de que a avaliação através de testes nem sequer é necessária/justificada. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ Os pedidos de avaliação psicológica são muitas vezes vagos: "Gostaria de uma avaliação psicológica do Sr. António", ou "Poderia avaliar o João, porque ele está com dificuldades na escola?" ⇥ O pedido muitas vezes não coloca uma questão específica que deve ser respondida ou uma decisão que deve ser tomada, embora muitas vezes seja essa a pretensão de quem solicita a avaliação. ⇥ Por exemplo, um professor pode querer provar aos pais que o seu filho tem um problema sério, ou um juiz pode querer informações sobre o funcionamento psicológico ou sobre a personalidade de um individuo para tomar uma decisão mais informada. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ Cabe ao psicólogo a responsabilidade de explorar e clarificar a questão que levou ao pedido/encaminhamento. ⇥ Os psicólogos devem especificar a potencial utilidade da avaliação psicológica na determinação de diferentes alternativas de diagnóstico ou tratamento e os seus possíveis resultados. ⇥ Os psicólogos devem ainda deixar claras as vantagens e a utilidade dos testes psicológicos, mas devem também explicar as limitações inerentes ao processo de avaliação. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica ⇥ Para que seja possível esclarecer a questão do pedido/encaminhamento e conduzir uma avaliação psicológica relevante, os psicólogos devem conhecer e estar familiarizados com os diferentes contextos em que poderão trabalhar. ⇥ Os contextos mais frequentes são o psiquiátrico, o médico, o legal, o educacional, o da psicologia clínica e o organizacional. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Psiquiátrico ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de um psiquiatra, que pode estar a fazer o pedido de encaminhamento no papel de administrador, terapeuta ou médico. ⇥ Os administradores de um hospital ou departamento devem frequentemente tomar decisões sobre problemas como o risco de suicídio, admissão/alta, e a adequação de uma grande variedade de procedimentos médicos. ⇥ Para tomar determinadas decisões administrativas, nem sempre é suficiente a existência de um diagnóstico psiquiátrico formal DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013). Por exemplo, um paciente pode ser diagnosticado com Perturbação Bipolar, mas a existência deste rótulo não indica, por si só, o grau de perigo que o paciente representa para si mesmo ou para os outros. Para este tipo de avaliação, é necessária a intervenção de um psicólogo. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Psiquiátrico ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de um psiquiatra, que pode estar a fazer o pedido de encaminhamento no papel de administrador, terapeuta ou médico. o Pedidos de avaliação para efeitos de decisões administrativas (e.g., risco de suicídio, admissão/alta, e a adequação de procedimentos médicos): O psicólogo deve determinar exatamente que informação é pretendida, particularmente sobre quaisquer decisões que devem ser tomadas sobre o paciente. Deve estar especialmente consciente e sensível às responsabilidades legais dos administradores. O psicólogo pode avaliar aspetos como os mecanismos de defesa, o diagnóstico, o estilo cognitivo e a história psicossocial do paciente. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Psiquiátrico ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de um psiquiatra, que pode estar a fazer o pedido de encaminhamento no papel de administrador, terapeuta ou médico. o Pedidos de avaliação para efeitos de decisão sobre adequação de procedimento terapêutico: O Psicólogo avalia a adequação do cliente para determinada terapia, as estratégias que são mais prováveis de serem eficazes, potenciais problemas ue possam ocorrer durante o curso da terapia e o resultado provável da terapia. O Psicólogo pode avaliar aspetos como a capacidade de insight, o diagnóstico, o estilo de coping, o nível de resistência, o grau de incapacidade funcional e a complexidade do problema. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Médico ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de um médico de família, médico de especialidade, médico do trabalho, médico do seguro. o Pedidos de avaliação por parte do médico de família: As situações mais frequentes em que os médicos podem solicitar os serviços de um psicólogo envolvem a presença de uma perturbação psicológica subjacente e fatores emocionais associados a queixas médicas. Pode ser solicitado que o psicólogo avalie aspetos como défices neuropsicológicos, potenciais tratamentos psicológicos para a dor crónica, potenciais tratamentos da dependência química. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Médico ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de um médico de família, médico de especialidade, médico do trabalho, médico do seguro. o Pedidos de avaliação por parte de médicos de especialidade: É muitas vezes solicitada avaliação pré cirúrgica para avaliar a probabilidade de uma reação de stress grave a uma cirurgia. Alguns médicos, particularmente pediatras, solicitam avaliação psicológica por preocupações relacionadas com a deteção de sinais precoces de perturbação psicológica grave. Nestas situações, o psicólogo deve avaliar a condição psicológica atual do paciente e os fatores ambientais que contribuem para a problemática. Deve ainda recomendar a próxima fase no processo de intervenção. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Médico ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de um médico de família, médico de especialidade, médico do trabalho, médico do seguro. o Pedidos de avaliação por parte de médicos do trabalho ou médicos do seguro: É muitas vezes solicitada avaliação neuropsicológica após acidentes. O Psicólogo pode avaliar o funcionamento psicológico resultante de possíveis anomalias cerebrais. As áreas típicas de avaliação centram-se principalmente na presença de uma possível deterioração intelectual em áreas como a memória, sequenciação, raciocínio abstrato, organização espacial e capacidades executivas. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Legal ⇥ Os pedidos podem surgir em qualquer fase do processo de decisão judicial e ser solicitados por qualquer interveniente do sistema de justiça. É muitas vezes solicitada: Avaliação da credibilidade das declarações ou da competência para testemunhar Avaliação psicológica de uma vítima para ajudar a determinar o impacto traumático Avaliação psicológica da personalidade ou do grau de perigosidade e risco de um arguido para ajudar a determinar uma sentença ou planear um programa de reabilitação Avaliação da qualidade de relatórios de outros profissionais de saúde mental Ajuda para determinar as especificidades de um crime (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Educacional ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte de funcionários escolares. Os psicólogos são frequentemente solicitados a avaliar as crianças com dificuldades de aprendizagem, ou que podem precisar de colocação especial no sistema escolar. As áreas mais importantes são a avaliação da natureza e extensão das dificuldades de aprendizagem de uma criança, avaliação dos pontos fortes e fracos da inteligência, avaliação das dificuldades comportamentais, desenvolvimento de um plano educativo, estimar a recetividade de uma criança a uma intervenção psicoterapêutica e recomendar alterações no programa pedagógico de uma criança. Os psicólogos podem também realizar processos de orientação vocacional. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto da Psicologia Clínica ⇥ Os pedidos surgem normalmente por parte dos próprios pacientes ou familiares. O Psicólogo deve aferir a natureza do pedido e proceder a uma avaliação consoante a problemática e os sintomas que são apresentados. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica Contexto Organizacional ⇥ Do ponto de vista das empresas o psicólogo pode avaliar, por exemplo, o desempenho individual numa função laboral, incluindo o desempenho individual como membro de uma equipa; desempenho de uma equipa enquanto equipa, não como agregação de contribuições individuais; viabilidade de uma equipa; produtividade (no sentido económico) de (a) indivíduos, (b) equipas e (c) unidades organizacionais; e eficácia da unidade organizacional. ⇥ Do ponto de vista dos trabalhadores o psicólogo pode avaliar, por exemplo, a motivação e a satisfação com o seu posto ou local de trabalho, perceção de tratamento justo, frequência de ferimentos por acidentes, saúde e bem-estar geral, incluindo saúde física e mental, stress percebido, e conflito família-trabalho. (Geisinger et al., 2013) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica – considerações finais ⇥ Em qualquer caso, o psicólogo deve desenvolver uma compreensão aprofundada da complexidade do contexto social do paciente, incluindo fatores interpessoais, dinâmicas familiares e a sequência de eventos que conduziu ao pedido. ⇥ O psicólogo deve compreender claramente como é que a informação que transmite será usada. ⇥ É essencial que o psicólogo perceba que tem uma responsabilidade significativa, porque as decisões tomadas em relação aos seus pacientes, que muitas vezes se baseiam nos resultados da avaliação conduzida, podem frequentemente ser pontos de mudança importantes na vida destes. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica – considerações finais ⇥ Uma das questões que, por princípio, se assume como preponderante na avaliação com recurso a testes psicológicos é que estes últimos devem ser utilizados como meios auxiliares de diagnóstico. ⇥ Os testes psicológicos não se podem nunca substituir à relação entre o profissional e o avaliado, dado que, para além das suas evidentes limitações, poderão distorcer o verdadeiro objetivo da psicologia: compreender o indivíduo para o ajudar ou, pelo menos, para potenciar a sua autonomia. (Ricou, 2014) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica – considerações finais ⇥ Por maior qualidade que a prova psicológica tenha, nunca prescinde de uma correta interpretação do psicólogo, pelo que este último deve ser sempre melhor do que a prova que utiliza. ⇥ O psicólogo deve, pois, preocupar-se em ser tão competente na avaliação como em qualquer outra área da intervenção psicológica, sendo que isso implica o domínio de competências específicas ao nível da aplicação dos instrumentos e da interpretação dos resultados. (Knapp & VandeCreek, 2006; Pryor, 1989; Ricou, 2014; Simões & Almeida, 1998) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica – considerações finais ⇥ Assim, o psicólogo não deve colocar-se, ou permitir que o coloquem, no papel de "técnico de testes" ou de psicometrista. ⇥ O trabalho do psicólogo não deve apenas basear-se na administração, cotação e interpretação de testes, mas sim em compreender o contexto do pedido no seu sentido mais lato. Isto pressupõe que, numa avaliação psicológica, o psicólogo integre dados provenientes de várias várias fontes. ⇥ Os testes, por si só, são limitados, na medida em que não são flexíveis nem sofisticados o suficiente para aferirem a complexidade de um pedido ou encaminhamento. (Groth-Marnat & Wright, 2016) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica – considerações finais ⇥ Na prática, levar a cabo um processo de avaliação psicológica implica: 1. Capacidade para decidir se é necessário utilizar instrumentos psicométricos e escolher os instrumentos apropriados ao sujeito e às questões pretendidas; 2. Conhecimento e experiência ao nível da aplicação e cotação dos instrumentos selecionados; 3. Competência para interpretar e integrar os resultados de uma forma útil e compreensiva. (Ricou, 2014) Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Avaliação Psicológica – considerações finais ⇥ A avaliação psicológica é uma atividade extremamente complexa e delicada, devendo pautar-se por elevados padrões de excelência e de rigor ético e deontológico. ⇥ A ética pode ser definida como as regras ou os princípios que orientam a conduta dos membros de uma dada profissão procurando regular, educar e até inspirar quem exerce essa mesma profissão. Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (APA, 2003; Heltzel, 2007; Day & White, 2008). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Código Deontológico da OPP ⇥ Regulamento n.º 258/2011, de 20 de Abril; 1ª Revisão a 26/12/2016, publicada no Diário da República – 2ª Série, n.º 246/2. ⇥ Pretende integrar os princípios éticos da atividade profissional da Psicologia em Portugal, em qualquer área de aplicação ou contexto, com o objetivo de guiar os psicólogos no sentido de práticas de excelência. Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Código Deontológico da OPP ⇥ Princípios gerais pretendem ser orientações para os profissionais, no sentido de os guiar para uma atuação centrada nos ideais da intervenção psicológica. ⇥ Princípios Gerais: A. Princípio pela Dignidade e Direitos da Pessoa; B. Competência; C. Responsabilidade; D. Integridade; E. Beneficência e Não-Maleficência. Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Código Deontológico da OPP ⇥ Princípios específicos pretendem delinear regras de conduta ética dos psicólogos nas várias áreas e contextos onde estes exercem as suas funções profissionais. ⇥ Princípios específicos: 1. Consentimento Informado; 2. Privacidade e Confidencialidade; 3. Relações Profissionais; 4. Avaliação Psicológica; 5. Prática e Intervenção Psicológicas; 6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas; 7. Investigação; 8. Declarações Públicas. Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica ⇥ A avaliação psicológica, até por ser uma área de exclusividade na atividade do psicólogo, não está isenta de problemas e dificuldades. O consentimento informado na avaliação psicológica ⇥ Torna-se prioritário discutir todas as limitações inerentes a um processo deste tipo, incluindo as questões relacionadas com a privacidade, evitando que as pessoas possam ficar desiludidas ou mesmo revoltadas com os resultados de avaliações que muitas vezes não procuraram e lhes foram propostas ou mesmo impostas. Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica O consentimento informado na avaliação psicológica ⇥ Quanto maior é a participação ativa da pessoa no seu processo de avaliação mais congruentes serão os os resultados. ⇥ Por isso mesmo, quando o processo é solicitado por uma terceira pessoa, incluindo os processos legais, o consentimento informado deve ser obtido de igual modo, devendo ser discutidas as razões para a avaliação, a utilização dos resultados e as suas possíveis consequências, qual a informação pretendida e a quem será revelada. (APA, 2002; Knapp & VandeCreek, 2006;Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica Limitações dos instrumentos utilizados ⇥ Em Portugal, os estudos psicométricos com vista à adaptação dos testes psicológicos são difíceis de levar a cabo, dado que exigem muitos recursos e tornam-se pouco rentáveis. ⇥ Desta forma, existe a tentação de utilizar instrumentos de avaliação psicológica que não estão adaptados, estandardizados e aferidos para a população portuguesa, o que retira legitimidade ao processo e torna muito complexa a obtenção de um consentimento realmente informado. ⇥ Tal prática não pode, nem deve, merecer aceitação por parte do profissional de psicologia. (Simões & Almeida, 1998; Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica A devolução dos resultados ⇥ Os resultados da avaliação psicológica são propriedade do sujeito avaliado e, por isso mesmo, devem ser entregues na forma de um relatório escrito, onde devem constar os resultados objetivos e a interpretação dos mesmos, acrescido de um prognóstico e de um conjunto de sugestões no sentido da promoção do bem-estar da pessoa. ⇥ A entrega desde relatório deverá ser mediada pela respetiva discussão em conjunto entre o psicólogo e o cliente como forma de promover a compreensão do mesmo. Ainda assim, o relatório deve ser escrito recorrendo a uma linguagem cuidada no sentido de diminuir a possibilidade de interpretações erróneas. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica A devolução dos resultados ⇥ O Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses defende, no artigo 4.8. “Comunicação dos resultados”, que o cliente tem direito de acesso aos resultados da avaliação bem como à informação adicional relevante para a sua interpretação. ⇥ Porém, é defendido que os materiais do instrumento de avaliação, como sejam os manuais, protocolos e questões ou estímulos dos testes, não devem estar acessíveis aos clientes, por forma a limitar a sua utilização abusiva. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica A devolução dos resultados Exceções à obrigação da devolução dos resultados: ⇥ No contexto de processos judiciais ou em sede de avaliações solicitadas por entidades externas à pessoa, como empresas ou outro tipo de instituições. ⇥ Ainda assim, a responsabilidade do psicólogo para com o sujeito avaliado não diminui. Nestes casos, e sempre que possível, o psicólogo deve partilhar o resultado da avaliação, sendo que deverá, sem exceções, discutir no início do processo as condições do mesmo, nomeadamente as questões de privacidade e as questões relacionadas com os objetivos da avaliação. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Questões Éticas Especificidades da Avaliação Psicológica A comunicação da informação A forma como os resultados são transmitidos à pessoa deve ser objeto de cuidados especiais. ⇥ Deve existir uma atenção especial em relação ao tipo de linguagem utilizada, que deve ser adaptada às características do cliente. ⇥ Deve ser tido em consideração que as informações comunicadas não são neutras para a pessoa dado que comportam consequências emocionais para o indivíduo. Logo, a utilização de “rótulos” psicopatológicos deve ser limitada, de forma a evitar estigmatizar a pessoa, ou mesmo, para não se correr o risco de apresentar um quadro inalterável que poderá contribuir para eternizar o problema vivido. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Conclusões ⇥ A avaliação psicológica é uma atividade profissional comum a praticamente todas as áreas da psicologia. Contudo, esta é baseada, em parte, na subjetividade da interpretação realizada pelo profissional, pelo que isso deve ser tido em consideração como uma limitação da mesma. ⇥ Os resultados objetivos da aplicação dos instrumentos de avaliação psicológica deverão servir para confirmar ou infirmar as hipóteses que se colocaram na sequência da impressão construída sobre a pessoa durante o processo de entrevista. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Conclusões ⇥ A importância da obtenção do consentimento informado na avaliação psicológica decorre do facto de os resultados da mesma não serem inquestionáveis e absolutos. ⇥ As limitações da avaliação em psicologia devem ser discutidas e esclarecidas antes do início do processo, assim como devem ser deixadas bem claras na entrega dos resultados. ⇥ A psicologia serve para promover o autoconhecimento da pessoa e não para lhe fornecer uma identidade artificial baseada em facetas escondidas e misteriosas da sua personalidade, descobertas magicamente pelo psicólogo. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Conclusões ⇥ A avaliação psicológica deve estar restringida aos especialistas de psicologia, sendo responsabilidade do psicólogo evitar o seu uso por parte daqueles que não têm competências específicas para tal. ⇥ A reavaliação de um processo levado a cabo por um colega deve limitar-se a comentários sobre a relação entre os resultados do teste e a sua interpretação, apontando os erros de cotação ou de interpretação que possam existir. ⇥ Qualquer documento, referenciado como teste, que não disponha de um manual devidamente organizado carece de utilidade profissional. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Conclusões ⇥ O psicólogo está obrigado, se solicitado para tal, a fornecer ao seu cliente os dados da avaliação, incluindo os resultados brutos e estandardizados, as respostas às questões ou estímulos dos testes bem como as notas correspondentes ao comportamento do cliente durante o processo. ⇥ Os materiais do instrumento de avaliação, como sejam manuais, protocolos e questões ou estímulos dos testes, não devem ser disponibilizados aos clientes. ⇥ O psicólogo deve enfatizar que os dados da avaliação só terão utilidade se interpretados por um profissional de psicologia. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Conceitos Introdutórios Conclusões ⇥ Os dados resultantes das interpretações realizadas por computador não devem ser utilizados como um produto final, mas sim como mais um recurso com vista à elaboração do relatório de avaliação. ⇥ Na apresentação dos resultados deve existir o cuidado necessário para evitar a construção de rótulos estigmatizantes para a pessoa. (Ricou, 2014). Telma Sousa Almeida © Entrevista ⇥ Historicamente, a entrevista clínica tem sido um elemento central de avaliação em psicologia e psiquiatria. ⇥ Um dos métodos de avaliação mais utilizados - permite uma recolha eficiente e relevante de informação para efeitos de diagnóstico e tratamento. ⇥ As entrevistas clínicas são um método mais económico e eficiente do que outros métodos de avaliação que requerem conhecimentos ou equipamentos especializados (por exemplo, testes psicológicos e neuropsicológicos) e podem ser utilizadas em diversos contextos, com uma grande variedade de pacientes. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista ⇥ Processo através do qual um psicólogo recolhe uma combinação de informações demográficas, sociais, médicas, educacionais, familiares, psicológicas, e desenvolvimentais acerca do paciente através do próprio ou de outras fontes (e.g., familiares). ⇥ Podem ser recolhidas informações provenientes de outras fontes, como registros médicos e escolares, para complementar as informações obtidas junto do cliente para estabelecer um diagnóstico, julgar a gravidade dos sintomas e sugerir um tratamento. ⇥ A entrevista configura-se, também, como uma oportunidade para o psicólogo construir uma relação com o cliente. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Definição The clinical interview is a distinct form of interviewing that involves a face-to- face verbal and nonverbal exchange between a clinician and client designed to gather data that is needed for diagnosis and treatment of the client. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura ⇥ Tipos de entrevista: 1. Entrevista aberta 2. Entrevista de estrutura flexível 3. Entrevista Semiestruturada 4. Entrevista Estruturada (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 11. Entrevista aberta Permite uma condução livre da entrevista. Amplamente utilizada em contexto clínico. Adoção de um tom de conversação entre o psicólogo e o cliente. O psicólogo determina as áreas de conteúdo a serem abrangidas, o nível de detalhe em que cada área é abordada, a ordem na qual as informações são recolhidas, as perguntas que são colocadas, a duração da entrevista, a forma como as informações são avaliadas, registadas e interpretadas, e quaisquer outros aspetos considerados relevantes. (Akin & Turner, 2006; Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 11. Entrevista aberta: vantagens Pode ser adaptada às preocupações específicas do cliente Permite flexibilidade na profundidade em que um problema ou sintoma é explorado A sua natureza conversacional pode ajudar na construção da relação Pode ser menos demorada do que outros tipos de entrevistas E pode ser administrada em qualquer lugar Psicólogo escolhe a ordem através da qual coloca as questões que considera relevantes Eficaz na exposição dos sentimentos, mecanismos de defesa e processos de pensamento dos clientes, o que fornece importantes insights para a psicoterapia (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 11. Entrevista aberta: críticas/desvantagens Ampla variabilidade no tipo de informação recolhida por diferentes profissionais, em função da sua orientação teórica e da apresentação do problema por parte do cliente. A entrevista pode focar-se em informações triviais, em detrimento de informações relevantes, cruciais para um diagnóstico preciso. A falta de estrutura formal torna-a suscetível a erros. Requer um conhecimento aprofundado do sistema de diagnóstico, mais experiência, competência e formação do que outros formatos mais estruturados de entrevista. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível Tipo mais popular de entrevista clínica utilizada por psicólogos experientes. Normalmente começa com um formato livre onde as informações discutidas são determinadas pelos problemas trazidos pelo próprio cliente (problema que originou o pedido). (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns a) Questões sobre o problema que originou o pedido (principais queixas) b) Dados sociodemográficos e de identificação (e.g., idade, escolaridade, estado civil, raça/etnia, ocupação laboral, residência). c) Questões sobre a história da preocupação apresentada: a duração e a gravidade dos sintomas atuais; fatores psicossociais e outros que precipitaram o problema atual; forma como este problema tem impactado o funcionamento interpessoal do individuo, a vários níveis (familiar, laboral social). d) Questões sobre a presença e gravidade de sintomas psiquiátricos (se aplicável) (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns e) Historial médico (doenças físicas e mentais, medicação, consumo de substâncias, etc.), desenvolvimental (parto, nascimento, infância, marcos desenvolvimentais, percurso escolar), familiar (incluindo relacionamentos amorosos), social f) Percurso laboral g) Historial de problemas físicos e mentais dos elementos familiares h) Envolvimento com a justiça i) Serviço militar j) Entre outros. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns k) Avaliação do Estado Mental: Descrição objetiva da aparência, comportamento, linguagem, humor e estado emocional do cliente, conteúdo e processo de pensamento, insight e cognição no momento da avaliação. Há alguma variabilidade entre os profissionais no que concerne aos procedimentos utilizados para avaliar estas áreas, mas a observação informal durante a entrevista e a avaliação cuidadosa dos processos de pensamento com base no discurso do cliente são essenciais. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns k) Avaliação do Estado Mental: A observação informal do comportamento e do discurso durante a entrevista fornece informações sobre a aparência do cliente, o afeto, a atividade motora, o sequenciamento de pensamentos, capacidade de atenção e concentração. Tipicamente incluem-se procedimentos breves para determinar a orientação (por exemplo, dia, data, mês, ano, local) e capacidades cognitivas como á atenção, a memória e a abstração. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível – vantagens É facilmente adaptável e modificada para abordar inúmeras metas de diagnóstico e tratamento perante restrições externas, como o tempo alocado para a entrevista. Entrevista de estrutura flexível – críticas/desvantagens A falta de estrutura formal torna este tipo de entrevista mais suscetível a erros. Requer um conhecimento aprofundado do sistema de diagnóstico, mais experiência, competência e formação do que outros formatos mais estruturados de entrevista. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 33. Entrevista Semiestruturada Permite uma maior flexibilidade durante a entrevista e garante que um determinado conjunto de questões são abordadas na entrevista. Embora seja necessário abordar determinados tópicos, existe flexibilidade na ordem e na forma como as questões são colocadas. Vistas como mais naturais do que entrevistas estruturadas porque podem ser personalizadas ao cliente e permitem uma maior espontaneidade, embora seja necessário um maior julgamento clínico em comparação com as entrevistas estruturadas. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 33. Entrevista Semiestruturada - vantagens Mais estandardizadas, reduzindo a margem de erro no diagnóstico. Permitem que os avaliadores coloquem questões de uma forma consistente com o seu estilo clínico e com base nas características e preocupações únicas do cliente (isto inclui formular as suas próprias perguntas para clarificar a presença ou ausência de critérios de diagnóstico e reformular questões quando o cliente não as compreende). Mais natural e espontânea do que uma entrevista totalmente estruturada. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 33. Entrevista Semiestruturada - desvantagens Tal como as entrevistas estruturadas, as entrevistas semiestruturadas são morosas, requerem formação extensiva e domínio dos materiais de administração. São necessários manuais, livros e/ou folhas de pontuação para uma boa administração. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada Fornecem especificação detalhada sobre o tipo de informação que deve ser incluída na entrevista e como esta deve ser recolhida e registada. São especificadas as áreas de informação abrangidas, a ordem pela qual a informação é abordada e o conteúdo das perguntas. Neste sentido, é fundamentalmente uma lista de sintomas e comportamentos, com orientações detalhadas sobre a forma como a entrevista deve ser realizada e como os dados devem ser registados. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada Estas entrevistas, requerem pouca inferência clínica durante a recolha dos dados e não há necessidade de interpretação clínica no processo de diagnóstico, o que garante que diferentes avaliadores obtenham os mesmos dados sobre o mesmo paciente. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada: vantagens A avaliação sistematizada dos sintomas e do comportamento reduzem erros de diagnóstico Asseguram um elevado nível de estandardização Aumentam a confiança para comparações sistemáticas no tempo, entre contextos e diagnósticos para o mesmo cliente (como ocorre frequentemente em contextos clínicos) e entre diferentes clientes (como ocorre frequentemente em contextos de investigação). (Allen & Becker, 2019; Rogers, 2001) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada: desvantagens Requerem formação avançada especializada para garantir uma administração e cotação fiável Muitas tendem a ser bastante extensas e demoradas para completar, tornando- as impraticáveis em alguns contextos clínicos Permitem flexibilidade limitada na recolha de informação com base nas características e preocupações únicas dos clientes Não estão bem equipadas para enfrentarem ameaças à validade dos dados devido à resistência, dissimulação, etc. Não abarcam todos os diagnósticos possíveis (Allen & Becker, 2019; Rogers, 2001) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica ◉ O relatório psicológico é um dos produtos finais mais importantes da avaliação. ◉ Representa os esforços do psicólogo para integrar os dados de avaliação num todo funcional para que a informação possa ajudar o cliente a melhorar a sua vida, ajudando a resolver problemas e a tomar decisões. ◉ Os relatórios de avaliação psicológica servem duas funções importantes e distintas: comunicação e documentação. ◉ O formato do relatório depende da sua finalidade, bem como do estilo e orientação do psicólogo. ◉ A qualidade e a utilidade de um relatório depende da qualidade e rigor da avaliação, que deve ser minuciosa, válida (precisa) e clara. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica ◉ Exige domínio sobre as áreas ou tipo de problemas evidenciados pelos pacientes. ◉ Para muitos psicólogos, o processo de elaboração de um relatório permite-lhes compreender melhor o cliente e as suas necessidades. ◉ A escrita ajuda a clarificar o pensamento. Permite identificar lacunas na informação disponível e áreas onde são necessárias mais explicações ou mais informações. Obriga a pensar logica e cuidadosamente porque o que escrevemos deve fazer sentido. ◉ Garante que o psicólogo domina conceitos complexos, porque para os explicar claramente é preciso compreendê-los. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Principais características Dimensão do relatório ◉ Varia substancialmente em função da finalidade e do contexto do pedido. ◉ Relatório comum (e.g., contexto clínico, educacional, vocacional): 5 a 7 páginas. ◉ Relatórios em contextos específicos (e.g., contexto forense): 7 a 10 páginas. ◉ Deve incluir toda a informação necessária e relevante. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Estilo de escrita 1. Clareza Escolher palavras familiares ao leitor. Definir termos que o leitor possa não conhecer. Antecipar as perguntas dos leitores. Porém, não devem ser incluídas informações desnecessárias cuja única finalidade poderá ser apenas satisfazer a curiosidade do leitor. Fornecer um contexto que dê sentido aos factos (este é o propósito da secção do enquadramento) Privilegiar frases curtas, mas variar no comprimento das frase. Evitar erros gramaticais. Não usar palavras supérfluas, evitar palavras longas. Dividir frases excessivamente complexas em duas ou mais frases mais curtas. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Estilo de escrita 2. Gramática Reportar resultados de testes no tempo presente: “os resultados da WISC-IV indicam que...” “Os dados do MMPI-2 sugerem que o João é...”. Reportar dados da observação comportamental no tempo passado – referem-se a eventos que ocorreram no passado, isto é, no momento da avaliação: “O Joel foi colaborante...”. Reportar dados do enquadramento de forma mista: “A professora Joana reportou que o Daniel é um bom leitor...”; “Os registos escolares da Clara indicam que esta foi expulsa da escola secundária dos Olivais...”. Reportar informação proveniente das entrevistas no tempo passado: “Ao longo da entrevista, a Joana reportou que não gosta de...”. Atenção à pontuação (localização das virgulas, ponto-e-vírgula, ponto final, etc.). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Estilo de escrita 3. Vocabulário Usar a linguagem com precisão – palavras mal escolhidas ou frases desleixadas podem resultar em interpretações erradas dos resultados da avaliação. É essencial ser claro acerca do grau de certeza dos resultados da avaliação e da nossa interpretação (e.g., “as competências verbais da Joana encontram-se abaixo da media, o que poderá resultar em dificuldades na escola [e não irá resultar em..]). Evitar o uso de jargão – dominar conceitos complexos para os conseguir explicar utilizando uma linguagem simples. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Formato ◉ Cada profissional deve escolher o formato e o estilo de relatório que melhor se adequa às necessidades do cliente e ao pedido efetuado. ◉ Diferentes contextos de avaliação requerem diferentes estilos e áreas de foco. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato I. Elementos de identificação: Nome, idade, escolaridade, profissão, data de nascimento da pessoa examinada, nome do psicólogo e local onde foi realizado o exame. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato I. Elementos de Identificação Identificação do/a examinado/a (avaliado/a; paciente; cliente; etc.) Nome: Data de nascimento: / Idade: Escolaridade: Profissão: Nacionalidade: etc... Identificação do autor do relatório Nome: Nº de Cédula Profissional: Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato II. Pedido inicial / Motivo da consulta de avaliação: Identificação da prevalência do pedido (quem solicita a avaliação, relação específica entre quem solicita a avaliação e pessoa avaliada). Preocupações atuais, queixas e problemas identificados (de quem solicita a avaliação e/ou da pessoa examinada) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato II. Pedido inicial/Motivo da Consulta de Avaliação Deve começar com uma breve frase orientadora que inclua informações essenciais sobre o cliente (e.g., "O Sr. José é um homem de 35 anos, casado, com o ensino secundário, que apresenta queixas de depressão e ansiedade"). O propósito da avaliação deve ser indicado de forma clara e orientada para o problema. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato II. Pedido inicial/Motivo da Consulta de Avaliação Alguns exemplos: Diagnóstico diferencial - presença dificuldades psicológicas (por exemplo, problemas de memória causados pela depressão) versus défice orgânico (por exemplo, problemas de memória devido às fases iniciais da doença de Alzheimer). Avaliação da natureza e extensão dos danos cerebrais. Avaliação para fornecer recomendações para orientação vocacional. Conhecimento pessoal sobre dificuldades ao nível das relações interpessoais. Avaliação das características de personalidade, existência ou não de psicopatologia e em caso afirmativo se a mesma condiciona o desempenho parental. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato III. Metodologia 3. Esta secção deve enumerar todos os procedimentos utilizados, incluindo: Datas das sessões e tempo despendido em cada sessão Entrevistas com a pessoa avaliada Entrevistas adicionais (cônjuges, filhos, pais, amigos, empregadores, médicos, advogados, assistentes sociais ou professores). Testes que foram administrados (nome formal do teste, seguido de iniciais) Consulta de registos (listar os registos que foram revistos e, dependendo da finalidade do relatório, detalhes adicionais de identificação) Observações (como observação em sala de aula; observação da interação pais-criança) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Esta secção deve incluir informações sobre: A história da pessoa que sejam relevantes para o problema que está a ser avaliado e para a interpretação dos resultados da avaliação. Dependendo do contexto, esta secção pode ser mais extensa (e.g., contexto legal) ou mais sucinta (e.g., contexto hospitalar). A seleção da informação a incluir e a excluir nesta secção depende do objetivo do relatório – não há regras específicas. É importante especificar a fonte da informação (“De acordo com o examinado..."). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual O produto final deve incluir uma boa história do problema, informação sobre eventos de vida significativos, dinâmica familiar, historial académico e profissional, interesses pessoais, historial médico, atividades diárias, relações interpessoais. A história pessoal do cliente pode incluir informações desde o nascimento, primeira infância, adolescência e idade adulta. Cada etapa tem áreas típicas para explorar e problemas a ter em conta. Por vezes, é importante incluir informação sobre os antecedentes emocionais e médicos dos pais e parentes próximos, porque certas perturbações ocorrem com maior frequência em algumas famílias do que na população geral. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Muitas vezes é útil uma descrição da atmosfera geral da família, incluindo os sentimentos do avaliado em relação aos membros da família e perceções das suas relações uns com os outros. A maior parte desta informação é recolhida durante as entrevistas que ocorrem nas sessões de avaliação psicológica. Porém, nem toda a informação que surge nas sessões deve constar do relatório (respeitar a confidencialidade e a privacidade das pessoas avaliadas). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Esta secção deve incluir também informações sobre: A história do problema, em particular, o inicio e a natureza dos sintomas. Desde que o avaliado notou estes sintomas, houve alguma mudança na sua frequência, intensidade ou expressão? Tentativas anteriores de tratamento e, em caso afirmativo, o resultado. Em alguns relatórios, a história do problema é a parte mais longa e mais importante desta secção. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Esta secção deve incluir também informações sobre: Fatores que atualmente reforçam o problema, ou seja, informação relativa à situação atual de vida do avaliado (e.g., mudanças, perdas; suporte familiar; relacionamentos interpessoais; emprego). Possível presença e natureza de défice orgânico (e.g., traumatismo craniano, acidentes vasculares cerebrais, etc.). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Estrutura cronológica: história desde nascimento até à idade adulta. Estrutura por tópicos: história psiquiátrica, história médica, história social, história educacional e história ocupacional ou outros tópicos relevantes para o pedido. Estrutura combinada: história cronológica é complementada por informações adicionais, tais como histórico familiar de perturbações psiquiátricas ou histórico de tratamentos. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental As observações comportamentais devem ser concisas, específicas e relevantes. Devem apenas explicar-se detalhadamente os comportamentos invulgares. A importância desta secção no relatório pode ser bastante variada. Por vezes, as observações comportamentais podem ser quase tão importantes como os resultados dos testes; noutras situações, esta descrição pode consistir apenas em pequenas observações. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental Esta secção deve incluir informações sobre: Aparência física - quaisquer características incomuns relacionadas com expressões faciais, roupas, corpo, maneirismos e movimentos. É especialmente importante observar contradições (e.g., um rapaz de 14 anos que age como um jovem de 18; ou uma pessoa que aparece suja, mas tem um excelente vocabulário e alto nível de fluência verbal). Comportamento perante as tarefas solicitadas e perante o examinador - comportamentos que refletem o nível de ansiedade, presença de depressão, ou grau de hostilidade (e.g., Avaliado esteve ativo, passivo ou submisso; muito preocupado com o seu desempenho ou relativamente indiferente); método de resolução de problemas (e.g., cuidadoso, metódico, impulsivo, desorganizado); verbalizações incomuns que o avaliado faz sobre o material de teste. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental Esta secção deve incluir informações sobre: Grau de cooperação do avaliado durante as sessões, incluindo durante a administração de testes. Este deve ser um fator a ter em conta para aferir a validade dos resultados da avaliação. Exemplo... “A avaliação instrumental ficou marcada pela existência de uma elevada desejabilidade social, no sentido de transmitir uma imagem demasiado valorizada de si mesma. As pontuações obtidas refletem uma marcada defensividade e negação, assim como uma recusa meticulosa em admitir quaisquer falhas que possam ser utilizadas contra si. Os resultados da avaliação sugerem que a examinada demonstra uma tendência para encobrir as suas fraquezas e considerar que as outras pessoas se deveriam conformar com a sua forma de pensar e de agir, com os seus estereótipos e com as suas expectativas sociais.” Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental Esta secção deve incluir informações sobre: Discurso e linguagem; humor e emoções; perceção; conteúdo e o processo de pensamento; funcionamento intelectual; orientação; memória, atenção e concentração; insight e julgamento. Exemplos... Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica V. Observação comportamental e estado mental “A X apresentou-se à hora agendada, com aspeto cuidado e com idade aparente coincidente com a idade real. Os seus comportamentos e atitudes foram consentâneos com a sua idade, nível de desenvolvimento e inserção sociocultural. Ao longo do processo de avaliação, a X demonstrou uma atitude colaborante, interessada e de disponibilidade na realização das tarefas propostas. Paralelamente, evidenciou ser conhecedora dos objetivos subjacentes à avaliação psicológica. Do exame direto realizado verificou-se que a X se mostrou reservada e tímida no contacto inicial com a examinadora, porém, ao longo do processo de avaliação, desenvolveu progressivamente uma relação de cooperação e confiança com a mesma. Aderiu às questões lhe foram colocadas, pedindo esclarecimentos sempre que não entendia determinada questão. A X evidenciou um discurso fluido, espontâneo coerente e uma linguagem cuidada e bastante expressiva, evidenciando facilidade de comunicação. Pronunciou-se loquazmente e num tom de voz regular, com variações prosódicas normais. Narrou de forma coerente e integradas as suas rotinas diárias, os seus interesses e preferências, exemplificando acontecimentos do quotidiano. Paralelamente, apresentou-se orientada no tempo, no espaço, auto e alopsiquicamente, não demonstrando alterações da senso-perceção, do curso e do conteúdo do pensamento.” (Adolescente, 15 anos, sem psicopatologia) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica V. Observação comportamental e estado mental “A Y apresentou-se as consultas revelando uma idade aparente coincidente com a real, ligeiramente desarranjada, roupas amarrotadas, sem maquilhagem. Apresentou lentificação psicomotora moderada, sentando-se afundada na cadeira. O contacto com o olhar foi limitado, manteve os olhos baixos. Chorou frequentemente e com facilidade. Revelou-se, de um modo geral, colaborante na entrevista. O humor revelou-se gravemente depressivo e desesperado. Embora afetivo, com restrição emocional. Afeto não reativo. O discurso foi fluente e gramatical. Verificou-se diminuição da espontaneidade do discurso, com aumento do tempo de latência e pausas. Ocasionalmente, manifestou dificuldade em encontrar palavras. Empregou uma fala monocórdica com pouca variação prosódica. Apresentou Ideação suicida ativa, dizendo “a vida deixou de valer a pena”, mas negou ideação homicida. Conteúdo focado na baixa autoestima e raiva contra o marido. Apresentou ainda ruminações de culpa. Negou desconfianças, ideias delirantes, ilusões ou alucinações e não evidenciou perturbação do pensamento. Orientada auto e alopsiquicamente no tempo e no espaço. Revelou défice de atenção, diminuição da concentração, ligeiro défice da memoria a curto prazo, insight diminuído pelos sintomas depressivos e juizo critico alterado, como evidencia a ideação suicida.” (Mulher, 43 anos, Depressão major) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica V. Observação comportamental e estado mental “A J e uma mulher jovem, ligeiramente obesa. Apresentou-se ás consulta vestida de forma prática mas com maquilhagem. Deambulou frequentemente pela sala e gesticulou vigorosamente enquanto falava. Revelou-se parcialmente colaborante, mas referiu que só veio porque o marido insistiu e que se “sente ótima e não precisa de psicólogos”. Estava eufórica e descreveu o seu humor como ótimo. Exprimiu facilmente o seu humor alegre, mas as emoções eram lábeis, com alguns comentários mais secos e irritados quando interrompida pela examinadora. As suas emoções revelaram-se congruentes com o conteúdo de pensamento, mas não com a situação. Verificou-se pressão do discurso, falava muito alto, apesar de fluente e gramatical e com prosódia normal. Ao longo da avaliação manifestou-se preocupada com a sua raiva em relação aos vizinhos, achando que eles podem interferir com a sua audição de dança. Evidenciou ideias delirantes de grandeza, revelando achar que os outros sentem inveja da sua beleza e do seu jeito de dançar. Negou alucinações, ideação suicida ou pensamentos de agredir terceiros. Esteve alerta e orientada. Porém distraia-se facilmente, teve uma execução fraca nas series de setes e recusou-se a responder a perguntas de memoria a longo prazo. Reconheceu que tinha que retomar a medicação, mas minimizou a perturbação do humor e as alterações de pensamento, revelando não compreender facilmente a interrupção da medicação e o seu estado atual. Demonstrou apreciar a sua euforia e não ver que seja um problema.” (Mulher, 32 anos, Perturbação Bipolar, maníaca) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Secção principal do relatório. Nesta secção, é apresentada a nossa interpretação clínica dos dados da avaliação. Passos para a integração dos dados da avaliação: Encontrar o foco da avaliação → Identificar os domínios do funcionamento a avaliar → Organizar e integrar dados → Lidar com disparidades → Lidar com conclusões incidentais → Responder às questões do pedido → Sugerir recomendações. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Encontrar o foco Diagnóstico de psicopatologia? Recomendações de tratamento? Dificuldades de aprendizagem? Etc. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Domínios do funcionamento que devem ser abordados: (1) funcionamento comportamental (2) funcionamento emocional (3) funcionamento cognitivo (4) funcionamento interpessoal (5) autoconceito. Podem ser adicionados outros domínios adicionais conforme necessário. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica No processo de organizar e integrar os dados, o psicólogo deve: (1) Extrair informações sobre cada domínio a partir das entrevistas, dos resultados dos testes, consulta de registos e observações comportamentais, tendo em conta o foco da avaliação. (2) Possuir excelentes capacidades de raciocínio e forte pensamento crítico. (3) Possuir/desenvolver excelente domínio das temáticas a avaliar (através de revisão da literatura, cursos de formação, supervisão). Poderá ser útil utilizar uma grelha para organizar a informação. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Lidar com disparidades: (1) Excluir "maus” dados: Como decidir se os dados são "maus", isto é, pouco fiáveis ou inválidos? Se determinados dados são inconsistente com todos os outros elementos e/ou inconsistentes com os comportamentos do avaliado. Nem sempre e fácil decidir sobre a fiabilidade dos dados (especialmente nos testes psicológicos), por isso, o melhor é agir com cautela e reportar os dados anómalos (inconsistentes) no relatório escrito, indicando que as razões da anomalia não são claras, ou, se for o caso, que a pontuação é considerada inválida. (2) Conhecer bem os procedimentos utilizados – o que os testes medem e como medem (características psicométricas). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Lidar com disparidades: (3) Desenvolver inferências a partir de padrões de dados: dados que vão no mesmo sentido (e.g., resultados elevados numa escala de depressão e descrição, em entrevista, de sintomatologia depressiva pelo próprio e por outros significativos) (4) Utilizar a literatura para dar sentido às disparidades (e.g., em que circunstâncias as diferenças de scores nas subescalas da WISC-III são significativas?) (5) Prestar atenção ao comportamento e circunstâncias do avaliado (e.g., alguém que está a ser avaliado para receber uma indemnização pode simular sintomas; enquanto alguém envolvido num processo de promoção e proteção pode dissimular sintomas, para dar boa impressão) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Lidar com conclusões incidentais: Por vezes, no decorrer de uma avaliação surgem dados/informações inesperadas que sugerem um problema que não se considerava existir (e.g., um rapaz inteligente e talentoso está a ser avaliado no âmbito de um processo de seleção para integrar uma escola de elite. No decorrer da avaliação ele realiza uma bateria de testes e, para surpresa de todos, os resultados sugerem que ele tem uma fraqueza na matemática e pode cumprir critérios para uma perturbação de aprendizagem relacionada com a matemática). Estas descobertas devem ser, pelo menos, documentadas e, se possível, exploradas. Se a constatação for importante, deve considerar-se recomendar uma avaliação adicional. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Todos os casos são únicos. Para responder ao pedido, podemos seguir estas etapas: Recolher informação, encontrar o foco da avaliação e selecionar a informação relevante para cada domínio de funcionamento. Em seguida, usar boas habilidades lógicas e de raciocínio para retirar conclusões precisas e relevantes. Mesmo em casos complexos, se as perguntas forem bem colocadas e os dados recolhidos adequadamente, as respostas estão quase sempre presentes. Por vezes menos é mais – devemos excluir informações que não são importantes e focar- nos nas questões ou preocupações principais. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Todos os casos são únicos. Para responder ao pedido, podemos seguir estas etapas: Prestar atenção às circunstancias - os resultados da avaliação são sobre um indivíduo, mas o indivíduo faz parte de uma família e vive e trabalha com outras pessoas. As questões individuais são muitas vezes apenas uma pequena parte de um quadro maior e mais complexo. Uma avaliação não é uma bola de cristal; nem os psicólogos não podem prever o futuro. Mas é um método imperfeito, mas muitas vezes poderoso para aprender sobre uma pessoa, sobre os seus problemas, vulnerabilidades e pontos fortes. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VII. Conclusões e recomendações Nesta secção devemos selecionar os aspetos mais importantes e sumariá-los. Devemos ter cuidado para não sobrecarregar o leitor com detalhes desnecessários. Uma estratégia útil é fornecer respostas breves/numeradas a cada uma das questões do pedido. Esta secção deve ser escrita como se fosse a única secção que o leitor irá ler. O principal objetivo desta secção do relatório é tecer recomendações, porque estas sugerem que medidas podem ser tomadas para resolver os problemas apresentados. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VII. Conclusões e recomendações Tecer recomendações no final da avaliação é importante. Estas devem: Ser realistas, práticas e alcançáveis. Ser específicas, mas não tão específicas que acabem por ser restritivas. Ser focadas - não devemos tecer recomendações fora da nossa área de especialização. Devemos ser cuidadosos e respeitar os limites profissionais. Ser adequadas ao pedido e ao público alvo do relatório. Abranger todas as bases, o problema trazido inicialmente e outros que surgem na avaliação. Antecipar os problemas e abordá-lo. Focadas no avaliado e nas suas necessidades. Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas ◉ Em termos mais gerais, uma entrevista clínica infantil consiste numa sessão formalmente agendada com um propósito específico em que existe uma relação definida entre o entrevistador e o entrevistado. ◉ Os entrevistados mais comuns são a criança, os seus cuidadores e professores. ◉ O entrevistador usa um questionamento propositado para direcionar o fluxo da conversa através da escolha de perguntas, tópicos ou do conteúdo da discussão. ◉ O entrevistador valoriza, sem julgamentos, o conteúdo e outros aspetos da interação (por exemplo, afetos, comportamento). (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas ◉ O entrevistador segue as orientações éticas e deontológicas relativas à confidencialidade da informação que recolhe. ◉ As entrevistas clínicas infantis focam-se tipicamente: 1. Pontos fortes (por exemplo, relações individuais, relações familiares, recursos, objetivos e aspirações) 2. Fraquezas (por exemplo, vulnerabilidades económicas, individuais, familiares, discriminações), 3. Cultura (por exemplo, expectativas e rituais) 4. Resultados desejados (por exemplo, aumentar o rendimento escolar; inclusão da criança e da família num plano de tratamento). (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas ◉ De uma forma geral, as entrevistas de diagnóstico de crianças podem ser distinguidas tendo em conta a sua estrutura. ◉ As entrevistas não-estruturadas dão total liberdade ao psicólogo para colocar as questões que entende necessárias e pertinentes. Apesar de algumas questões poderem ser semelhantes entre entrevistadores, não existem procedimentos estandardizados. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas ◉ As entrevistas semiestruturadas também proporcionam ao psicólogo alguma flexibilidade, no sentido em que este pode decidir por que ordem as questões serão colocadas, a maneira como as frases são exprimidas, e a forma como as respostas são registadas. ◉ As entrevistas estruturadas, restringem a liberdade do psicólogo. É esperado que o psicólogo coloque todas as questões da mesma maneira e na mesma ordem, assim como registe todas as respostas de uma forma previamente especificada. (Allen & Becker, 2019; Grills-Taquechel & Ollendick, 2008; Grills-Taquechel et al., 2009; Summerfeldt et al., 2010) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas ◉ As entrevistas de diagnóstico para crianças atuais tendem a ser estruturadas ou semiestruturadas. ◉ Incentivam a recolha de informação de vários informadores. ◉ As duas tendências mais dominantes no desenvolvimento de entrevistas clínicas de diagnóstico infantil são: baseadas em faixas etárias alargadas (por exemplo, entrevistas para idade pré-escolar; adolescentes) e entrevistas especializadas para perturbações específicas (por exemplo, depressão; perturbações da ansiedade). (Allen & Becker, 2019; Egger et al., 2006; Silverman & Nelles, 1988) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas ◉ A grande maioria das entrevistas apresentam um formato semelhante, sendo constituídas por: 1. Secção introdutória com a finalidade de auxiliar na construção da relação e obter informação inicial relacionada com os problemas atuais; 2. Módulos específicos para sintomas, que geralmente começam com questões de rastreio e determinam se se pode avançar ou se se tem de continuar com as questões (i.e., relacionadas com a frequência, intensidade, duração) 3. Decisão da presença ou ausência de um diagnóstico. (Allen & Becker, 2019; Grills-Taquechel & Ollendick, 2008) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças Entrevistas estruturadas e semiestruturadas 1. Entrevistas gerais que abrangem uma ampla gama de condições de saúde mental, incluindo perturbações emocionais, comportamentais, de substâncias, de desenvolvimento e perturbações psicóticos. Estas entrevistas estão muitas vezes, embora nem sempre, alinhadas com o sistema de diagnóstico DSM e as suas várias edições. 2. Entrevistas específicas que cobrem uma ou algumas condições psiquiátricas em muito maior profundidade. (Akin & Turner, 2006; Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Crianças e Adolescentes Entrevistas estruturadas e semiestruturadas Alguns exemplos de entrevistas utilizadas com crianças e adolescentes: ◉ Escala para Perturbações Afetivas e Esquizofrenia para Crianças em Idade Escolar - Versão Atual e ao Longo da Vida (K-SADS-PL) ◉ Escala de Classificação de Depressão Infantil – Revista (ECDI-R) ◉ Escala de Interferência da Ansiedade na Vida da Criança – versões para Pais e Crianças (CALIS-P e CALIS-C). ◉ Entrevista Diagnóstica de Crianças e Adolescentes (DICA) ◉ Entrevista Diagnóstica de Crianças (DISC) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos De onde surgem os pedidos? ◉ Médico ◉ Psiquiatra ◉ Contexto de Justiça (Perícias) ◉ Contexto Clínico (o próprio) ◉ Contexto Organizacional (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica ◉ O estilo de entrevistador é fortemente influenciado pela sua orientação teórica e por considerações práticas. ◉ Profissionais fortemente influenciados por teorias centradas no cliente tendem a ser não diretivos e a evitar questões muito estruturadas - o objetivo é criar um tipo de relação interpessoal que fomente a auto-mudança. ◉ Profissionais influenciados por teorias comportamentais tendem a ser mais diretivos e dar preferência a questões estruturadas - baseia-se no pressuposto de que a mudança ocorre devido a influências e consequências externas específicas, pelo que as entrevistas são direcionadas para a obtenção de informações específicas. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica Entrevista de diagnóstico vs. Entrevista informativa/exploratória Compreender o contexto, a história e a Estabelecer um diagnóstico específico perspetiva da pessoa DSM-5 (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista de diagnóstico ◉ Processo de quatro passos: O Psicólogo desenvolve pistas de diagnóstico Considera-as em relação a critérios de diagnóstico Recolhe histórico psiquiátrico (e com base nesta informação) Desenvolve um diagnóstico com estimativas de prognóstico É provável que uma entrevista com este objetivo seja mais diretiva com uma ponderação cuidadosa dos critérios de inclusão e exclusão de diferentes perturbações. (Allen & Becker, 2019; Othmer & Othmer, 1994) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista informativa/exploratória Muitos profissionais defendem que o objetivo da entrevista clínica é compreender o contexto, a história e a perspetiva do entrevistado/avaliado. Assim, preocupam-se mais em aferir e compreender o estilo de coping do cliente/paciente, a rede de suporte, a dinâmica familiar ou a natureza dos problemas/dificuldades. É provável que uma entrevista com este objetivo seja menos diretiva e mais flexível. (Allen & Becker, 2019; Othmer & Othmer, 1994) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica ◉ Não há um estilo correto e um estilo errado - ambos são válidos. ◉ Porém, um estilo pode ser apropriado e eficaz num contexto (ou com um cliente), e ineficaz ou inadequado noutro contexto. ◉ Uma abordagem ambígua e desestruturada pode tornar uma pessoa extremamente ansiosa ainda mais ansiosa, enquanto uma abordagem direta pode revelar-se mais eficaz com pessoas com estas características. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica ◉ Um cliente passivo e tímido também é provável que inicialmente exija um estilo de pergunta e resposta mais direto. ◉ Um estilo menos estruturado, muitas vezes, incentiva a autoexploração mais profunda do cliente, permite que os profissionais observem as capacidades organizacionais do cliente, e pode resultar em maior relação, flexibilidade e sensibilidade à singularidade do cliente. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Problema e História do Problema Descrição do problema Intensidade e duração Início Tratamento anterior Alterações na frequência Tentativas de resolução Antecedentes/consequências Tratamento formal (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento familiar Nível socioeconómico Cultura Ocupações dos pais Saúde atual dos pais História emocional/médica Relações familiares Casado/separado/divorciado Educação urbana/rural Constelação familiar (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento Pessoal Infância Marcos do desenvolvimento Histórico médico precoce Atmosfera familiar Controlo dos esfincters Quantidade de contacto com os pais (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento Pessoal Infância Ajustamento na escola Relações com os pares Realização académica Relação com os pais Passatempos/atividades/interesses Mudanças de vida importantes (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento Pessoal Adolescência Todas as áreas listadas para a infância Presença de acting out (questões legal, envolvimento com drogas, comportamento sexual) Namoros precoces Reação à puberdade Abuso infantil (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento Pessoal Idade Adulta Carreira/ocupação Violência doméstica Relações interpessoais História médica/emocional Satisfação com objetivos de vida Relação com os pais Passatempos/interesses/atividades Estabilidade económica Relação romântica/casamento Abuso de substâncias (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento Pessoal Idade Adulta mais avançada História médica Integridade do ego Reação à diminuição das capacidades Estabilidade económica (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica – Tópicos relevantes ◉ Enquadramento Pessoal Outros tópicos Auto-conceito (positivo/negativo) Preocupações somáticas (dores de cabeça, Memórias mais felizes/tristes dores de estômago, etc.) Memória mais antiga Eventos que criam felicidade/tristeza Medos Sonhos recorrentes/notáveis (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica ◉ Cada um destes tópicos poderá ser convertido em questões específicas. Podemos começar por questões mais amplas e gerais, tornando-as progressivamente mais específicas, se necessário. Por exemplo: ◉ “Fale-me sobre as suas principais preocupações atuais.” ◉ “Como é que estas questões o/a afetam na sua vida?” ◉ “Quando é que começaram estas dificuldades?” ◉ “Com que frequência ocorrem?” ◉ “Há alturas em que esteja melhor ou pior??” ◉ “O que acontece depois de ter esses comportamentos?” (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica ◉ Compreender as respostas emocionais é especialmente relevante em entrevistas clínicas que se focam nas dificuldades pessoais de um cliente. ◉ Clientes têm muitas vezes dificuldades em expressar-se de forma clara e precisa, por isso os psicólogos devem inferi-las da expressão não verbal. ◉ Por exemplo, o contacto visual pode transmitir envolvimento; rigidez da postura pode sugerir defensividade; os movimentos das mãos ocorrem frequentemente para além da intenção consciente da pessoa, sugerindo nervosismo, intensidade ou relaxamento. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Avaliação Psicológica de Adultos Entrevista clínica ◉ Retirar ou não retirar notas? ◉ A favor: suscetível de capturar mais detalhes e resultar em menos distorções de memória do que registar informação após a conclusão da entrevista. ◉ Contra: pode aumentar a ansiedade, levantar questões sobre o anonimato, aumentar a probabilidade de um clie