Perspetivas e Teorias das Emoções PDF

Perspetivas e teorias das emoções Emoções Nota: Os sentimentos são experiências subjetivas (interpretação) do estado emocional. O humor/estado de espírito é...

Perspetivas e teorias das emoções Emoções Nota: Os sentimentos são experiências subjetivas (interpretação) do estado emocional. O humor/estado de espírito é um estado afetivo de baixa As emoções são reações a um estímulo compostas por três intensidade e longa duração. componentes: ➥Componente neurofisiológica – ativação do sistema nervoso; Funções ➥Componente cognitiva – interpretação e significado atribuído aos ➥Adaptativa – preparam o organismo para uma ação; estímulos; Nota: adaptação biológica e cultural. ➥Componente comportamental – dimensão observável das ➥Social – expressam o nosso estado afetivo, facilitam a interação emoções. social e ajudam as pessoas à nossa volta a prever o nosso comportamento e vice-versa; Nota: Os comportamentos podem ser funcionais (permitem alterar a situação no ambiente exterior, lidando de forma direta com a situação que gerou a ➥Motivacional – a relação entre as emoções e a motivação é emoção) ou expressivos (não têm uma ação direta sobre o ambiente, apenas bidirecional (o comportamento motivado produz uma reação visam informar outros indivíduos acerca do estado emocional da pessoa). emocional e a reação emocional motiva o comportamento). Características Emoção vs. humor vs. traços afetivos As emoções são originadas por um estímulo/evento (‘‘trigger’’, externo ou interno), possuem um onset rápido e uma duração breve (muito curta); São automáticas (podem não ser conscientes) e orientadas para a ação (motivação); Possuem valência (positiva ou negativa) e variam em intensidade (arousal). Métodos de avaliação As emoções podem ser definidas por respostas em sistemas parcialmente independentes, mas que interagem entre si. Podem resultar da interpretação do evento (appraisal) e da interpretação subjetiva da experiência emocional (sentimento) ➙envolve COGNIÇÃO. Podem envolver sensações corporais, respostas bioneurofisiológicas e comportamento expressivo ➙ BODY Emoção vs. Humor 1 ♡ Comportamentais – expressões faciais (FACS), linguagem No estudo das emoções, o EEG identifica padrões de atividade corporal (posturas e gestos), vocalizações. associados a estados emocionais específicos. Diferentes ondas cerebrais (gama, theta, alfa, beta, delta) estão relacionadas a essas FACS (Facial Action Coding System) emoções. A técnica permite medir potenciais evocados (ERPs), mudanças breves Criado por Paul Ekman e Wallace Friesen, o FACS é uma ferramenta no sinal EEG em resposta a um estímulo. desenvolvida para codificar e interpretar as expressões faciais humanas, dividindo-as em componentes individuais do movimento O EEG permite medir a valência (positiva ou negativa) e o arousal muscular (unidades de ação, AUs). (nível de ativação), proporcionado uma visão detalhada das respostas emocionais. Permite a análise precisa e objetiva das expressões faciais (associadas a emoções básicas e/ou mais complexas), bem como a sua classificação. Permite ainda a comparação entre expressões genuínas e forçadas. Esta técnica tem aplicações em diversas áreas como a psicologia, neurociência, marketing, animação, análise de dor, etc. Pode ser usada de forma manual por especialistas treinados ou por meio de softwares automatizados que reconhecem e medem as expressões faciais a partir de imagens ou videos. EMG (eletromiografia) Técnica que mede a atividade elétrica dos músculos. Envolve a colocação de elétrodos na pele sobre o músculo que se quer estudar. No estudo das emoções, a EMG é uma ferramenta útil para investigar como as emoções se manifestam fisicamente nos músculos, Nota: o zigomático é um bom indicador de valência positiva e o corrugador é sobretudo nas expressões faciais. bom indicador de valência negativa. ➥A EMG pode medir a atividade elétrica dos músculos faciais, ajudando a identificar emoções específicas, como felicidade, tristeza, raiva e surpresa, e como se refletem nas expressões faciais (ex: atividade nos músculos que levantam os lábios pode indicar felicidade). ➥Permite ainda analisar como a ativação muscular está relacionada a estados emocionais (ex: tensão muscular pode ser maior em estados de stress ou ansiedade), e pode detetar respostas musculares automáticas, ajudando a entender reações emocionais inconscientes. ➥A EMG pode ser usada para validar dados de autoavaliação emocional, comparando as respostas emocionais relatadas pelo participante com as respostas musculares observadas. ♡ Medidas fisiológicas e neurológicas – respiração, pressão arterial, EEG, EMG, tempª da pele, resposta galvânica da pele, PPG, eye-tracking. EEG (eletroencefalografia) Técnica funcional e relativamente não invasiva, que regista a atividade elétrica do cérebro em resposta a diferentes estímulos ou tarefas. Para a medição do EEG, utiliza-se uma touca e elétrodos no couro cabeludo, Para captar o sinal, elétrodos são colocados sobre os músculos de e aplica-se gel condutor para permitir e melhorar a condução dos interesse, numa configuração bipolar: 2 elétrodos ativos alinhados sinais elétricos. Esta técnica possui uma excelente resolução temporal, paralelamente em cada músculo e 1 elétrodo passivo num ponto registando mudanças na atividade elétrica cerebral em inócuo. São afixados aos músculos com adesivo, logo após ser milissegundos. aplicado o gel condutor. 2  Resposta galvânica da pele Medida da atividade elétrica da pele, que reflete mudanças na atividade das glândulas sudoríparas. É frequentemente utilizada em psicologia, neurociência e medicina para avaliar as respostas emocionais e do sistema nervoso autónomo (SNA). Nota: O SNA é responsável por regular funções involuntárias do corpo. Desempenha um papel fundamental na regulação de processos fisiológicos essenciais, tais como controlo das funções viscerais, regulação da frequência cardíaca, controlo da pressão arterial, regulação da respiração, atividade digestiva, e resposta ao stress. Sistema nervoso autónomo Nota: Preferência pela região mais acima das falanges distais de dois dedos (maior reatividade das glândulas face a fatores psicológicos)! Colocamos os elétrodos na mão não dominante, porque convém que a pessoa tenha a mão dominante livre para executar a tarefa que lhe pedimos para fazer. Eye-tracking O eye-tracking é uma técnica que monitoriza e regista os movimentos oculares de uma pessoa. Utiliza rastreadores oculares que podem ser fixados num computador ou integrados em óculos especiais. Os rastreadores captam dados sobre para onde a pessoa está a olhar, a fixação, a duração, velocidade, movimentos dos olhos, blinks e Nota: o SNA simpático ativa o corpo para a ação, enquanto o parassimpático diâmetro da pupila. acalma o corpo de modo a conservar energia. Nota: enquanto a atividade pupilar é uma medida do SN autónomo, os movimentos oculares são uma medida do SN somático. A resposta galvânica da pele é medida aplicando uma pequena O eye tracker usa uma fonte de luz (infravermelha) dirigida aos olhos corrente elétrica à pele e avaliando a condutância. Quando uma e capta imagem em tempo real. Os dados podem ainda ser pessoa experimenta emoções intensas, a atividade das glândulas representados em heatmaps (‘‘mapas de calor’’), que mostram as sudoríparas aumenta, levando a um aumento da humidade da pele. áreas de maior fixação visual num estímulo. Esse aumento da humidade reduz a resistência elétrica da pele, resultando em maior condutância. Existem 2 tipos de glândulas sudoríparas, mas as écrinas são aquelas que nos dão respostas de ‘‘suor psicológico’’ e têm maiores implicações para a Psicofisiologia. Essas glândulas são responsáveis pela termorregulação e estão concentradas nas superfícies palmares e plantares. Logo, geralmente, são colocados elétrodos nas palmas das mãos ou nas solas dos pés. A regulação dessas glândulas é feita sobretudo pelo SNA simpático (mas também pelo córtex frontal, hipotálamo e sistema límbico). A duração da fixação do olhar em determinados elementos fornece-nos informações sobre a atenção e interesse da pessoa em diferentes partes de um estímulo visual. Maior grau de ativação do SNA simpático ➙ Maior ativação de um maior nº de glândulas ➙ Maior quantidade de suor ➙ Quanto mais A técnica de eye-tracking é amplamente utilizada no estudo das suor, menor é a resistência à passagem de eletricidade na camada emoções: córnea da pele ➙ Origina mudanças observáveis na atividade eletrodérmica. ➥Estuda como as pessoas percebem e interpretam expressões faciais; 3 ➥Permite investigar como diferentes imagens ou vídeos evocam PPG (fotopletismografia) respostas emocionais; A PPG é um método ótico não invasivo utilizado para medir as ➥Pode ser utilizado para estudar como as emoções de outras pessoas variações no volume sanguíneo num tecido, geralmente a pele, influenciam a atenção e o comportamento; usando luz. ➥Em marketing, por ex., pode ser usada para avaliar como as Utiliza luz que é enviada para a pele. A luz é parcialmente absorvida emoções influenciam a perceção de anúncios e produtos, ajudando a pelo sangue e refletida de volta para o sensor. As variações na otimizar estratégias de comunicação. quantidade de luz refletida correspondem às mudanças no volume sanguíneo, permitindo a medição do pulso. Nota: Há uma maior dilatação da pupila em emoções com elevado arousal e Um dispositivo PPG típico consiste num emissor de luz (LED) e um constrição em emoções de baixo arousal. fotodetetor. O emissor projeta a luz sobre a pele, enquanto o fotodetetor capta a luz refletida. Temperatura da pele A PPG gera um sinal que reflete as pulsações do coração. Permite-nos A temperatura da pele poderá variar em resposta a diferentes estados extrair informações sobre a frequência cardíaca, oxigenação do emocionais devido à ativação do sistema nervoso autónomo. sangue e outros parâmetros hemodinâmicos. Quando uma pessoa experimenta emoções muito intensas, o SNA é ativado. ♡ Medidas subjetivas/autorrelato – escalas, relato livre, listas de Em situações de stress ou medo, o corpo pode passar por adjetivos vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos), o que resulta ➥ PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) numa diminuição da temperatura. Por outro lado, emoções positivas ➥ SAM (Self-Assessment Manikin) ou estados de relaxamento podem levar à vasodilatação (alargamento ➥ PAM (Photographic Affect Meter) dos vasos sanguíneos), resultando num aumento da temperatura da ➥ ESM (Experience Sampling Methods) pele. Nota: as emoções também podem afetar a forma como uma pessoa percebe a temperatura, levando a sensações de calor ou frio que não correspondem à temperatura real do ambiente. Categorias Emoções primárias/básicas – manifestadas e reconhecidas A tempª da pele é medida usando termómetros digitais, termómetros universalmente entre culturas (felicidade, tristeza, medo, nojo, raiva, infravermelhos, câmeras térmicas ou sensores de temperatura. surpresa e desprezo). No estudo das emoções, medir a tempª pode ajudar a avaliar as Emoções secundárias/complexas – dependentes da experiência social respostas emocionais de um indivíduo em diferentes contextos; é para a sua construção (ex: orgulho, vergonha, schadenfreude). frequentemente utilizada em pesquisas sobre stress; pode ser medida durante interações sociais para entender como as emoções dos participantes afetam as reações fisiológicas e dinâmica social... Comoção ou ‘‘being moved’’ Emoção que aparece de modo intenso, repentino, em relação a um Nota: enquanto a tempª da pele mede o calor, a RGP mede a eletricidade evento, pessoa ou grupo de pessoas que nos inspira/comove. causada pela sudorese. Avaliação/interpretação (appraisal) Intensificação repentina de comunhão/união/partilha Valência Emoção positiva Sentimento (label experience) Experiência subjetiva: ‘‘comoção’’, ‘‘tocado’’, ‘‘emocionado’’ Sensações corporais (body sensations) Lágrimas, arrepios, calor, nó na garganta Motivação – tendências para a ação Aproximação (approach) 4 Isoladamente estas características podem ser de muitas Arousal emoções, mas a sua ocorrência conjunta (algumas ou todas) é Determina o grau de excitação ou o que a diferencia de outras emoções. ativação que uma pessoa sente em Alguns autores consideravam que este estado correspondia a relação a um estímulo. ➙ preparação para a ação. uma mistura de emoções. Mas há autores que procuram diferenciar ‘‘comoção’’ de outras Relação curvilínear, em ‘‘V’’ emoções... Modelo circumplexo de Russell As emoções são experiências que variam em duas dimensões contínuas: arousal e valência. Eixos: ➥ Horizontal: Valência Positiva (direita) Negativa (esquerda) ➥ Vertical: Arousal Alta ativação (cima) Outras emoções que podem surgir associadas à comoção: Baixa ativação (baixo) O arousal varia ao longo de um eixo de intensidade, aumentando de neutro até ao máximo de excitação. A valência pode ser descrita como: ➥ contínua bipolar (entre triste e feliz) ➙ modelo circumplexo; ➥ dimensões positiva e negativa independentes (emoção pode ter valência positiva e negativa ao mesmo tempo); ➥ valor hedónico (distância do neutro). Modelo motivacional das emoções (Lang & Bradley) As reações emocionais estão organizadas através de estados motivacionais que estão na sua base. Defendem que esses estados são, de forma geral, defensivos ou de aproximação, que evoluíram para promover a sobrevivência da espécie (considerando a aprendizagem, a cultura...) Nota: por vezes é adicionada outra dimensão, a Valência dominância/controlo – grau de controlo que o sujeito sente Grau de prazer que uma pessoa sente em relação a um estímulo. sobre o estímulo. Determina a direccionalidade da resposta (aproximação vs. defesa). O modelo circumplexo de Russel enfatiza o aspeto afetivo ➥ Valência positiva (sistema apetitivo) ➙ motivação para a (sentimentos de ativação, prazer/desprazer) das emoções, não os aproximação; aspetos comportamental, fisiológico ou cognitivo. Refuta ainda a ➥ Valência negativa (sistema defensivo) ➙ motivação para existência de um perfil fisiológico específico para cada emoção. E afastamento ou evitação (mas poderá ser de aproximação, se não for sugere que o que consideramos ‘‘emoções básicas’’ é psicológica e possível o afastamento) socialmente construído, em vez de ser universal e um produto evolutivo. Core affect: Aspeto afetivo da emoção em termos de valência e arousal. 5 Estudos comportamentais com estímulos emocionais variados como Affective Norms for English Words (ANEW) rostos, imagens (IAPS), palavras, sons (IADS), que utilizam este tipo de Conjunto de palavras em inglês avaliado em termos da sua classificação produziram resultados congruentes com o modelo de capacidade de induzir emoções. Cada palavra foi classificada em 3 Russell. dimensões afetivas principais: ➥valência ➥arousal ➥dominância/controlo percebido É amplamente utilizado para estudar como diferentes palavras afetam o estado emocional dos indivíduos. International Affective Digitized Sounds (IADS) Avaliações subjetivas e relação com fatores Coleção de sons digitalizados que foram selecionados para evocar motivacionais (interesse) e cognitivos (atenção) emoções. Assim como o ANEW, os sons do IADS foram classificados pelos participantes em termos das mesmas 3 dimensões: valência, Quanto mais os estímulos são atraentes/interessantes, mais presto arousal, dominância. atenção. A principal diferença entre os dois é que o IADS utiliza estímulos auditivos que podem variar de sons agradáveis até sons perturbadores. Nota: Em laboratório, é mais difícil induzir emoções positivas do que negativas. Dependendo da emoção, o tipo de estímulo a utilizar em laboratório tem de ser muito bem pensado. Por ex., a raiva é melhor induzida com videos/filmes, do que com música. Indução de emoções: diferentes estímulos ---- International Affective Picture System (IAPS) Para além da valência e arousal, Cowen et al. (2020) apresentaram O IAPS foi desenvolvido por Lang e colaboradores, é uma coleção de outras dimensões: imagens projetadas para induzir e medir emoções em contextos de investigação psicológica e neurocientífica. O IAPS é amplamente utilizado em estudos sobre emoções, atenção e memória. Contém uma variedade de imagens (que abrangem uma ampla gama de temas) que evocam diferentes respostas emocionais. As imagens são classificadas com base na valência (grau em que uma imagem é percebida como agradável ou desagradável) e arousal (o nível de excitação ou ativação que a imagem provoca). As emoções induzidas por essas imagens são frequentemente Avaliação das emoções: indicadores subjetivos medidas por meio de respostas fisiológicas, autorrelatos e/ou MAXQDA avaliações comportamentais. O software MAXQDA permite a análise de sentimentos que são expressos num texto. O texto pode ser classificado, mas também é possível classificar automaticamente. Mas apenas a valência (positivo, negativo, neutro)! 6 Application Programming Interface (API) Avaliação das emoções: Permite recolher automaticamente os tweets e filtrar por palavras ou indicadores comportamentais ➙ Face hashtags. Sir Charles Bell, médico cirurgião/anatomista, neurologista e artista, descreveu a paralisia facial. Procurou perceber como as emoções são produzidas no corpo, e como ocorre a coordenação entre os movimentos da face e os do coração, pulmões e os membros. ➙ A expressão facial como uma janela para as emoções O seu trabalho contribuiu para o estudo da organização do sistema nervoso. Desenhou a trajetória dos nervos faciais em paralisias faciais unilaterais, e criou ilustrações de expressões emocionais e correspondente musculatura facial, fazendo um mapa detalhado dos Experience Sampling Methods (registo regular) músculos faciais e movimentos associados a emoções específicas. Guillaume Duchenne, médico neurologista parisiense, estudou como os músculos da face produzem expressões faciais. Usou correntes elétricas em determinados músculos e nervos faciais. Embora pareça que os participantes sentiam dor, na verdade não sentiam nada. Identificou muitos tipos de sorrisos, mas apenas alguns considerou genuínos ou verdadeiros. Avaliação das emoções: indicadores corporais / comportamentais ‘‘A expressão de franca alegria expressa-se na face pela contração combinada do músculo zigomático maior e a parte inferior do músculo orbicular do olho. A falsa alegria, o riso enganador, não provoca a contração da parte inferior do músculo orbicular’’. Nota: Este último músculo é considerado o ‘‘músculo da bondade, amor e impressões agradáveis’’. 7 Avaliação das emoções: Da fotografia à cronofotografia, seguida por cinematografia indicadores comportamentais Darwin argumentou que muitos movimentos e gestos em humanos e Charles Darwin estudou como as emoções se expressam nos humanos outras espécies incluem uma coordenação de movimentos faciais e e outros animais. Usou fotografias de expressões naturalistas e em corporais, causados por estados mentais internos: as ‘‘expressões pose, e incluiu estudos de anatomia e algumas fotografias de emocionais’’. Duchenne de Boulogne. A cronofotografia é uma técnica fotográfica para captar múltiplas fases Foi um dos primeiros investigadores a usar questionários. Observou dos movimentos. expressões de humanos (crianças e adultos) e outras espécies, interessando-se pelo ‘‘normal’’ e ‘‘patológico’’. Defendeu uma perspetiva evolutiva: ➥Herança evolutiva: as emoções dependem da forma como o sistema nervoso está concebido. ➥Acreditava que existia bidirecionalidade entre o corpo-mente; ➥Homologia das expressões entre os homens e animais; ➥Algumas emoções ‘‘básicas’’ (medo, raiva, surpresa, tristeza) presentes em diferentes culturas. Nota: Mas não referiu as suas funções sociais, informativas e evocativas. Abordagem evolutiva Adaptação evolutiva ao ambiente: Processo pelo qual uma espécie desenvolve características ao longo de várias gerações, em resposta às pressões seletivas do ambiente em que vive. Estas adaptações aumentam a probabilidade de sobrevivência e reprodução, facilitando a adequação ao seu ecossistema. Surgem por meio da seleção natural: organismos mais aptos a lidar com as condições ambientais transmitem seus genes para as próximas gerações. Registo e ‘‘quantificação’’ das expressões corporais (emocionais) Emoções: Derivam de hábitos que foram úteis (funcionais) no passado evolutivo Darwin Correspondence Project e individual – algumas “ações” emocionais continuam a manifestar-se (úteis ou não), sendo ativadas (in)voluntariamente Iniciativa dedicada à recolha, transcrição, edição e publicação das cartas de Darwin. O projeto tem como objetivo disponibilizar a vasta As emoções básicas têm sinais universais distintos entre si que são correspondência de Darwin para o público e para estudiosos na área, inatos. São evidentes desde fases muito iniciais no desenvolvimento, de forma acessível e organizada. manifestando-se no nascimento ou, pelo menos, durante o primeiro ano de vida. As cartas de Darwin abrangiam um período de mais de 40 anos, envolvendo a correspondência a familiares, amigos, cientistas, e até mesmo desconhecidos que o procuravam para discutir as suas ideias. Essas cartas abordavam uma grande variedade de temas, sobre a teoria da evolução por seleção natural, observações científicas, debates com colegas, preocupações pessoais e familiares, etc.. Darwin tinha um grande interesse em como as emoções humanas e animais são expressas, e explorou isso amplamente no livro "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais" (1872). Uma das experiências famosas, discutida nas suas cartas, envolvia testar a reação emocional das pessoas a expressões faciais. http://www.darwinproject.ac.uk/emotion-experiment 8  Teoria diferencial das emoções (Carrol Izard) Carrol Izard propôs a Teoria Diferencial das Emoções, com ênfase nas emoções discretas como processos experienciais/motivacionais distintos. 5 pressupostos: 1) Dez emoções fundamentais como principal sistema motivacional em humanos 2) Cada emoção fundamental tem propriedades motivacionais e fenomenológicas únicas. 3) Emoções fundamentais conduzem a diferentes experiências Critérios para emoções básicas: internas e comportamentos. ➥universal (intercultural e entre-espécies); 4) Emoções interagem entre si: 1 emoção pode ativar, amplificar ou ➥expressão característica (expressão facial, tom de voz, outros atenuar outra emoção. comportamentos...); 5) Os processos emocionais interagem e exercem influência sobre os ➥evidente no início de vida; processos homeostáticos, perceptivos, cognitivos e motores. ➥perfil fisiológico e neuronal característico; ➥coerência entre sistemas neurofisiológico e comportamental expressivo, e sentimento; ➥Servem funções específicas, importantes para a nossa sobrevivência, reprodução, bem-estar mental, físico e social, e funcionam como ‘‘pista social’’ (permitem comunicar, aproximar dos outros e manter relações sociais). Nota: no entanto, apenas são adaptativas quando se manifestam em contextos adequados e com intensidade e frequência apropriada. Não é possível mostrar a especificidade neurofisiológica (i.e., ativação de uma região cerebral associada a uma única emoção específica) “Emoções são um fenómeno complexo com componentes neurofisiológicos, ➙ As emoções estão envolvidas em várias regiões e redes motores-expressivos, e componentes experienciais. Os processos intra neuronais. individuais que permitem a interação entre estes componentes para Ex: a amígdala mostra uma ativação em função do medo, mas também raiva, produzir uma emoção são um fenómeno evolutivo biogenético”. – Izard, nojo, alegria e tristeza. 1977 Teoria da universalidade das emoções básicas (Paul Ekman) “Embora a amígdala seja necessária para facilitar o comportamento defensivo associado ao medo, investigação recente sugere que a rede neural do medo inclui o hipotálamo, algumas estruturas de regiões do córtex pré-frontal, entre outras que se encontram distribuídas pelo cérebro, e este envolvimento podem contribuir para gerar resposta Paul Ekman realizou estudos em diferentes defensivas sem a ativação da amígdala (Pellman & Kim, 2016) culturas, e chegou à conclusão de que existem expressões faciais universais das emoções (expressões faciais prototípicas reconhecidas de modo idêntico em diferentes países). Identificou um conjunto de emoções universais que são reconhecidas por pessoas de todas as culturas. 9 Concluiu que essas emoções têm bases Nojo 🤢 biológicas e estão associadas a Descrição: O nojo é uma emoção que surge como resposta a expressões faciais específicas, sendo estímulos repulsivos, como comida estragada, sujeira, ou facilmente reconhecíveis em qualquer comportamentos moralmente condenáveis. parte do mundo. Expressão facial: Nariz enrugado, lábios superiores levantados, Alegria 😄 expressão de aversão no rosto. Descrição: A emoção de alegria é associada a experiências positivas Função: Protege o indivíduo de potenciais fontes de contaminação e a um estado de bem-estar. Geralmente surge como resposta a ou perigo (físico ou moral), afastando-o do que é considerado nocivo. situações de sucesso, prazer ou interação social positiva. Expressão facial: Sorriso, elevação das bochechas, e rugas ao redor dos olhos (o chamado "sorriso verdadeiro" ou "sorriso de Duchenne"). Surpresa 😮 Função: Facilita a conexão social, sinalizando satisfação e harmonia. Descrição: A surpresa é uma emoção transitória que ocorre em resposta a um evento inesperado. Dependendo do contexto, pode ser positiva ou negativa. Tristeza 😢 Expressão facial: Olhos bem abertos, sobrancelhas levantadas, Descrição: A tristeza surge como resposta à perda, frustração ou boca aberta em forma de "O". deceção. É uma emoção importante para processar eventos negativos e pode levar à introspeção. Função: Facilita a atenção e a prontidão para novos eventos, ajudando a pessoa a reagir rapidamente ao inesperado. Expressão facial: Lábios caídos, franzimento leve das sobrancelhas, olhos lacrimejantes, rosto sem brilho. Função: Serve como um pedido de ajuda ou suporte social e permite Ekman realizou estudos em várias culturas ao redor do mundo, que as pessoas reflitam sobre as suas perdas ou dificuldades. incluindo tribos isoladas na Nova Guiné, que não tinham contato com a cultura ocidental. Mesmo essas tribos foram capazes de reconhecer corretamente as emoções expressas nas faces das pessoas nas Raiva 😡 fotografias, confirmando sua universalidade. Descrição: A raiva é uma emoção desencadeada por frustração, Mais tarde, Paul Ekman incluiu o desprezo 😒 como uma 7ª emoção injustiça ou ameaças. É um estado de ativação intensa e pode levar a básica. comportamentos defensivos ou agressivos. Descrição: O desprezo é uma emoção negativa, geralmente dirigida Expressão facial: Sobrancelhas juntas e abaixadas, olhos fixos e a outra pessoa, e reflete uma sensação de superioridade moral ou duros, lábios cerrados ou contraídos, narinas dilatadas. intelectual. É frequentemente associado a julgamentos ou avaliações Função: Prepara o corpo para a ação, ajudando a pessoa a lidar com de desrespeito, e muitas vezes surge quando alguém percebe outra ameaças e injustiças, e pode sinalizar a necessidade de mudança ou pessoa como inferior, incompetente ou moralmente errada. ação. Expressão facial: um lado do lábio superior sendo levantado e uma leve torção na boca. Pode ser uma expressão sutil, mas é reconhecida Medo 😱 como um sinal claro de julgamento negativo. Descrição: O medo é uma resposta a situações de perigo ou ameaça Função: O desprezo pode funcionar como um mecanismo social para percebida, gerando uma reação de fuga, luta ou paralisação. É rejeitar comportamentos ou atitudes consideradas inaceitáveis ou essencial para a sobrevivência, ajudando a evitar situações desprezíveis. Ele pode ser usado para expressar distanciamento ou potencialmente prejudiciais. superioridade em relação a alguém, servindo como uma forma de Expressão facial: Olhos bem abertos, sobrancelhas levantadas, regular normas sociais e morais. boca ligeiramente aberta, músculos faciais tensos. Função: Ativa o sistema de alerta do corpo, preparando-o para enfrentar ou escapar de ameaças (fight or flight response). 10 Em 1970, Hjortso relacionou músculos a unidades de ação E também o Animal FACS. Ex: ChimpFACS (Um sistema FACS para específicas. Em 1978, Ekman e Friesen criaram o FACS (The Facial chimpanzés); MaqFACS, GibbonFACS; OrangFACS; CalliFACS; Action Coding System) sistematizado a partir de Hjortso. DogFACS; CatFACS; EquiFACS...) Em vez de usar elétrodos, filmou as pessoas e foi atribuindo números consoante o que é ativado. Cada área da face tem um código. Nota: EMFACS (Emotion FACS) - específico só para emoções. Aplicação seletiva do FACS para codificar comportamentos que provavelmente têm significado emocional. Segundo Ekman, indutores (estimulam emoções), ativam os músculos faciais. Mas aspetos culturais são relevantes (têm determinadas regras de exibição de emoções – display rules). Display rules à ‘‘regras’’ / normas socioculturais (de exibição), aprendidas, internalizadas, sobre o modo apropriado de expressar emoções (i.e., como, quando, e onde expressar, neutralizar ou modificar as emoções). Variam em função do contexto sociocultural, género, padrões familiares, etc. Existe ainda o Baby FACS: Facial Action Coding System for Infants Estamos equipados para mostrar o que sentimos, mas a cultura pode (Oster & Rosenstein, 1993) contribuir para regular essa exibição (e até podemos não a mostrar). As display rules vão ter impacto nas expressões faciais, a nível psicofisiológico... à(componente cultural muito forte) 11 Em 1971, Ekman solicitou que americanos e japoneses observassem Sistemas automáticos para análise de faces um filme indutor de stress. Sozinhos ou na presença do investigador. Conclusão: isoladamente conseguem mostrar o que estão a sentir; Face Reader Ferramenta avançada para análise automática de expressões faciais, quando acompanhados, não é aceite socialmente demonstrar o que baseada em inteligência artificial e aprendizagem profunda. estão a sentir. Nota: efeitos de audiência à expressão distinta em público e privado. Opera em três etapas principais: Nota: Hipomimia a redução ou perda da expressão facial devido à 1) Detecção Facial (Face Finding): Utiliza um algoritmo de Deep diminuição dos movimentos musculares responsáveis pelas Learning para localizar e identificar rostos em imagens ou expressões faciais. Esse sintoma é frequentemente associado a vídeos. condições neurológicas ou psiquiátricas e pode dar à pessoa uma 2) Modelagem Facial (Face Modeling): Cria um modelo facial aparência de rosto fixo, pouco expressivo. artificial detalhado, utilizando cerca de 500 pontos-chave para No entanto, a hipomimia também pode estar relacionada a regras mapear características específicas do rosto. culturais. Diferentes culturas possuem normas sociais que regulam 3) Classificação de Expressões (Face Classification): Analisa as a expressão emocional. Em alguns contextos, é esperado que as expressões faciais detetadas por meio de redes neurais pessoas restrinjam ou controlem as expressões faciais, especialmente artificiais, classificando-as com base em padrões emocionais em situações públicas. predefinidos. Resultados fornecidos pelo FaceReader: Em resumo.... Expressões Básicas: Identifica emoções fundamentais, como felicidade, tristeza, raiva, surpresa, medo e nojo. Mede o grau de positividade ou negatividade (valência) e o nível de excitação emocional (ativação). Unidades de Ação: Analisa movimentos musculares específicos, baseados no sistema FACS. Orientação da Cabeça: Deteta a posição e movimento da cabeça em diferentes direções. Direção do Olhar: Monitoriza para onde a pessoa está a olhar, analisando o foco visual. Nota: ‘‘attitudes about emotions’’ à regras de descodificação (num estudo Modelo circumplexo do afeto de Matsumoto & Kudoh, 1993, americanos e japonenes avaliaram a Valência = Alegria – (menos) a intensidade com valor de intensidade intensidade de sorrisos de forma distinta). mais elevado. 12 Arousal = classificação com base na ativação das 20 unidades de ação Será que a teoria geral do feedback facial para expressões de alegria do FACS. é corroborada? Fazer poses de expressão facial alegre influencia o sentimento de alegria? à SIM! Poses de expressão facial alegre iniciam sentimentos de alegria ou apenas o intensificam? à AMBOS! O efeito do feedback facial é eliminado se não houver consciência das hipóteses experimentais? à NÃO! Os efeitos ocorrem mesmo quando os participantes conhecem as hipóteses do investigador. Qual a dimensão do efeito? Pequeno (e variável: depende do tipo de emoção discreta). O feedback facial não é o principal determinante da experiência emocional, MAS é um dos muitos componentes do sistema nervoso periférico que contribuem para a experiência emocional. Corporalização das emoções Emoção está ligada ou relacionada ao corpo, algo que se manifesta Hipótese do feedback facial fisicamente. As próprias expressões faciais (músculos ativados) produzem mudanças nos estados emocionais e regulam a experiência emocional. Ou seja, o próprio estímulo do corpo pode produzir EFEITOS: estados emocionais. Respostas emocionais a estímulos; Respostas fisiológicas (e.g., frequência cardíaca, condutância da pele, temperatura do sangue) Ativação do córtex pré-frontal e da amígdala. Processos cognitivos: Rapidez na leitura de conteúdo emocional; rapidez com que classificam informações como emocionais. “Sometimes your joy is the source of your smile, but sometimes your smile ‘‘Essas teorias geraram muita investigação que mostrou que as expressões can be the source of your joy.” (Thích Nhât Hanh, 1926) corporais desempenham um papel crucial nas nossas experiências emocionais’’ Funções das expressões faciais: - Sistema interno de feedback sobre o self - Meio de comunicação social Mas será que é possível replicar os resultados do estudo com a metodologia da caneta-na boca (pen-in-mouth)? NÃO! Tanto a imitação quanto a ação facial voluntária iniciam e amplificam sentimentos de felicidade. No entanto, as evidências foram menos conclusivas quando o feedback facial foi manipulado de forma sutil por meio da tarefa da caneta na boca (os participantes na condição da caneta na boca foram menos propensos a relatar que a expressão facial de felicidade que apresentaram parecia genuína). 13 Corporalização das emoções (cont.) Exercício de respiração 4-7-8 (estratégia de indução) 4 tempos – inspirar 7 tempos – reter 8 tempos - expirar Nota: podemos manipular diferentes estados afetivos em laboratório com diferentes estratégias de indução. Linguagem corporal: postura e movimento Navarasas: Dança indiana que tem poses diferentes para 9 emoções Alguns estudos reforçam que a utilização dessas posturas tem um distintas. Com essas posições vão criando histórias com significado impacto ao nível do autorrelato e diferenças a nível fisiológico, mas dentro da cultura. alguns outros estudos quando replicaram esse estudo da Amy Cuddy não obtiveram essas alterações à É controverso. Nota: Um estudo de replicação segue a mesma metodologia (mas posso adicionar algo que não foi previsto anteriormente, para colmatar alguma falha). Em revisões sistemáticas olho para artigos com semelhanças (defino critérios de inclusão para os incluir). Na meta-análise olho para as análises desses artigos e faço outra análise quantitativa. Uma meta análise precisa de uma revisão sistemática. Haka: Dança tradicional dos Mãori da Nova Zelândia. Originalmente usada por guerreiros antes de batalhas para demonstrar força e intimidar oponentes. Atualmente tem diversas funções sociais em O estudo de Hillman et al. (2004) tentou perceber que tipo de cerimónias/celebrações: expressar orgulho, união, luto. ajustes a pessoa fazia quando era exposta a determinadas imagens Além de expressar emoções, pode ser utilizado para amplificá-las, com valência positiva ou negativa. Esses ajustes também variaram aumentar sentimentos de força e energia coletiva. consoante o género dos participantes. Investigação: efeitos da linguagem corporal à Várias revisões sistemáticas e meta-análises Postura expansiva (sugere que a pessoa é mais alta, maior, superior, do que uma pose neutra: dominância, poder, alegria) vs. contraída (sugere que a pessoa é mais baixa, pequena, inferior, do que uma pose neutra: submissão, medo, tristeza). 33 estudos de Carney, Cuddy e Yap (2015) e Cuddy, Schultz e Fosse (2018) demonstraram que poses expansivas têm efeitos positivos a nível emocional e cognitivo (pensamentos positivos), mas também a nível hormonal (testosterona e redução de cortisol) e comportamento (risco). Já Gronau et al. (2017) observaram um efeito da linguagem expansiva no sentimento de poder, MAS não observaram alterações hormonais ou ao nível do comportamento. 14 Elkjaer et al. (2022) estudaram efeitos da posição submisso vs. Paradigmas situacionais (Criar uma situação artificial que imita expansivo. Noutros estudaram uma postura submissa vs. neutro e experiências do dia a dia (ex. uma situação de conflito, perda ou também se verificaram efeitos. felicidade) para induzir emoções reais e naturais). Interações sociais (Interagir com outras pessoas para induzir “A ausência de linguagem corporal “contraída” tem efeitos positivos nos sentimentos de “dominância” e comportamento’’ emoções (ex. apoio social pode gerar confiança ou felicidade). Estímulos comportamentais (usar comportamentos observáveis Movimento vs. postura à efeito superior para corpo em movimento, [ex: sorrir ou gesticular] para gerar emoções [felicidade ou raiva). em comparação com a simples ‘‘postura’’. Procedimento Velten (a pessoa é instruída a ler uma série de Nota: Estes resultados são independentes da idade, género, tempo frases em voz alta ou silenciosamente. Essas frases descrevem despendido a realizar a postura/movimento. sentimentos ou pensamentos que refletem um estado Nota: o autorrelato é muito importante, mas é necessário medir outras coisas, emocional específico [positivo ou negativo]. A repetição dessas tal como a nível fisiológico, neurológico... etc. frases leva a pessoa a internalizar os pensamentos sugeridos, influenciando assim o seu estado emocional). Reforços (usar recompensas ou punições para aumentar ou Procedimentos e técnicas de indução de estados diminuir emoções (ex: elogios geram felicidade). afetivos Farmacológica (uso de medicamentos ou substâncias para Conceitos importantes: alterar emoções [ex: antidepressivos para melhorar o humor] ). Comportamento expressivo/tarefas de ação facial dirigida (manipular expressões faciais ou posturas corporais para induzir emoções [ex: sorrir para sentir alegria] ). Entramos de uma forma espontânea num processo de regulação emocional: Nota: daí não dizer ‘‘controlo’’ mas sim ‘‘regulação’’. Na indução de estados afetivos podemos recorrer a: Estímulos externos: Imagens, músicas, sons, filmes, odores. Estímulos internos: Recordação de memórias, imaginação guiada (uma descrição ajuda a pessoa a imaginar determinado cenário), reflexão pessoal (ex: pedir à pessoa para refletir sobre uma situação em que sentiu culpa e o que ela podia ter feito). 15 Dimensões relevantes dos estímulos: Método de indução de stress – Trier Social Stress Test Intensidade É considerado o protocolo laboratorial mais eficaz, ecológico e Complexidade confiável na indução de stress. Validação Facilidade em captar e manter a atenção Uso (ou não) de instruções explícitas Validade ecológica (apesar de algo ocorrer em laboratório, se consegue de alguma forma ter em consideração algumas características que aquele procedimento teria noutra) Os procedimentos e técnicas de indução de estados afetivos são, em média, eficazes! Protocolo: O participante chega ao laboratório. Quando é informado à Mas a eficácia varia com o tipo de indução, a emoção a ser dizem-lhe que vai fazer uma tarefa de stress. Preenche um induzida. questionário. Depois está 5 minutos a relaxar (baseline). Damos as Ativação conjunta à indução de emoções positivas conduz a uma instruções da 1ª tarefa. Damos depois as instruções da 2ª tarefa. E correspondência na diminuição das emoções negativas (e vice-versa). damos estratégias de regulação emocional. Nota: nenhum dos juízes podia reagir ao discurso (têm uma expressão Participantes reagem mais à indução de emoções negativas do que neutra). Se a pessoa parasse de falar, diziam ‘‘ainda tem tempo’’. positivas. De acordo com a revisão de Siedlecka e Denson (2019), o procedimento mais eficaz para induzir as várias emoções são os estímulos visuais (imagens ou vídeos). A música, por ex., é principalmente recomendada para alegria ou tristeza. Procedimentos e técnicas de indução de estados afetivos – positivos Como induzo estados afetivos que podem ter continuidade (ao longo do tempo) em termos de efeito? Razões para isto induzir um elevado nível de stress em laboratório: Estudo com participantes saudáveis vs. clínicos Período de antecipação promove um aumento do stress; Procedimentos eficazes sobretudo para participantes clínicos Posição neutra e expressão facial dos juízes ‘‘especialistas em 16 emoções diferentes análise do comportamento’’ é neutra, causando incerteza sobre Várias técnicas utilizadas: VR, videos, imagens estáticas, música, o que estarão a pensar e a analisar, não há feedback da parte procedimento Velten, memórias autobiográficas, tarefas de deles; escrita, mindfulness, tarefas de projeção futura, exercício de Bata branca (estamos perante ‘‘peritos’’); gratidão... Câmara e microfone; O participante não tinha relógio (também por causa das medidas fisiológicas)... Já se tentaram fazer alterações ao protocolo... por ex., os juízes darem feedback positivo ou negativo. 16 Outras variações: TSST-G (em grupo), TSST-VR (realidade virtual), TSST- Funções adaptativas vs. não adaptativas C (com crianças) Medo Função adaptativa: proteção; fuga ao perigo Função não adaptativa: fobias, ansiedade Tristeza Função adaptativa: processo de luto; reflexão pessoal; pedir ajuda Função não adaptativa: depressão Raiva Função adaptativa: proteção; combater injustiças; defender direitos Função não adaptativa: violência, agressividade Revisão da perspetiva evolucionista Nojo Função adaptativa: prevenção da doença / contaminação Vejo um urso Função não adaptativa: POC, perturbações alimentares - Tento lembrar-me de uma solução racional? - Será que tenho tempo? – Hum… eu posso Alegria nunca ter estado numa situação semelhante… Função adaptativa: aproximação, reforço das relações sociais Função não adaptativa: euforia excessiva; negligência de problemas O sistema nervoso parece programado para reagir ao medo em relação a um objeto grande em movimento (Damásio, 1996). Existem emoções universais? à O que sugere uma história evolutiva! Natureza das emoções A nossa herança não nos diz exatamente o que devemos fazer numa dada situação. Uma dada opção pode revelar-se um erro. As emoções favorecem algumas opções em detrimento de outras... criam tendências de ações cujo resultado mostrou ser adaptativo no passado. Neurociência afetiva Porque temos emoções? De acordo com esta perspetiva, como é que as emoções e os estados As emoções têm as seguintes funções: de espírito se processam/integram a nível neuronal? Sobrevivência; 1) Homologia: estrutura e função semelhantes Motivar para a ação (controlam padrões musculares 2) Informação genética: muito semelhante numa dada espécie estereotipados); 3) Alterações fisiológicas semelhantes Proteção – reprodução; 4) Diferentes indutores (trigger) e diferentes modos de expressão Regulam o comportamento e as interações sociais; (mas…) A emoção controla o SNA; 5) O potencial para a experiência afetiva é estabelecido em regiões Influenciam o processamento cognitivo. básicas do cérebro (mas…), pelo que a experiência subjetiva depende da aprendizagem. Função não adaptativa: Nota: Há sistemas da emoção e do afeto que têm características comuns entre Experiência da emoção com diferentes espécies de mamíferos. frequência e intensidade elevadas. Algumas partilhadas com não mamíferos, como os pássaros. 17 7 sistemas Raiva (rage system) Apetitivo (seeking system) Expressões dos interesses pessoais e resposta à ameaça em situações Necessidades básicas, exploração do ambiente, procura de drásticas. recompensas, curiosidade, suporta atividades intelectuais humanas (Dopamina: + P. maníacas; - PHDA) Nota: a dopamina é um transmissor relacionado com a nossa capacidade para distinguir o que é real do que não é – logo, importante para a motivação e para o foco na tarefa. Brincar (playful system) Necessidade de envolvimento em relações sociais prazerosas, interação e limites sociais, brincadeira. A endorfina e a encefalina promovem comportamentos lúdicos e de alegria. Sexualidade (lust system) Necessidade de parceiro e companhia. Contributo de Jaak Panksepp Pressuposto 1: Existência de emoções primárias inatas (básicas), Cuidados maternais (nurturante system) filogenéticas, funcionais e geradas por circuitos cerebrais subcorticais Necessidade de cuidar dos descendentes. definidos geneticamente… mas que também podem ser aprendidos A oxitocina e a vasopressina promovem comportamentos de afeto e através de um sistema adaptativo (não são sistemas fixos!). ligação social e do comportamento protetor nas interações sociais. (Investigação em estimulação elétrica cerebral; farmacológica; e em lesões cerebrais (mamíferos) Pânico-angústia (panic system) Necessidade de contacto, estabelecer relações sociais (evitar o isolamento, angústia de separação). Nota: Investigação mais recente sobre “pessimismo” em cães (Mendl et al., 2010), otimismo (Rygula et al., 2012, 2015) e arrependimento em ratos (Steiner & Redish, 2014)… Pressuposto 2: Existência de códigos neuroquímicos para as emoções primárias, que incluem vários neuropeptídeos que regulam afetos específicos. Medo (fear system) Sobrevivência, evitar o mal-estar físico e a dor (autopreservação). Neuropeptídeos à substâncias químicas produzidas e libertadas pelas células cerebrais. (Datas da descoberta de neuropeptídeos que participam em várias funções cerebrais relacionadas com regulação/ativação de emoções, motivação e comportamento.) 18 Construtivismo psicológico Grande diversidade de configurações faciais em contexto natural (em vez de prototípicas); O construtivismo psicológico explora como as emoções são construídas por redes cerebrais gerais e influenciadas pela cultura e Variação como norma: experiência individual, em oposição à ideia de que são respostas “A variação é a norma” - Lisa Feldman Barrett afirma que a variação nas universais e biologicamente programadas. expressões emocionais é a norma e não a exceção. Não existe um Lisa F. Barrett padrão fixo para expressões faciais correspondentes a emoções específicas. Defende que as emoções não são entidades discretas e inatas, mas sim experiências construídas socialmente. A ocorrência de ações faciais específicas não é condição suficiente para garantir que tenha existido emoção. No entanto, a importância de reconhecer/comunicar emoções entre indivíduos sugere similaridade entre conceitos (numa cultura Interação entre biologia e cultura particular). “Não é possivel identificar as origens exatas de qualquer expressão facial, e essas origens serão sempre o resultado de interações complexas entre biologia e cultura”. Logo, isso implica que as emoções não podem ser reduzidas apenas a respostas biológicas universais Divergências Contexto e aprendizagem social Estudos sugerem que o reconhecimento de emoções, especialmente expressões como alegria, pode ser fortemente influenciado pelo contexto e pela aprendizagem cultural. O modelo locacionista propõe que emoções distintas são processadas em regiões cerebrais específicas. Já o construtivismo psicológico Debate: contesta isso, argumentando que emoções estão envolvidas em várias Enquanto Ekman defendia a universalidade das expressões regiões e redes neuronais (ex. a amígdala mostra uma ativação em emocionais básicas, críticos como Barrett propõem que as emoções função de medo, mas também raiva, nojo, alegria e tristeza). são construções sociais e culturais. Vs. Estudos modernos indicam que há um misto de elementos universais e culturais, levando à ideia de "universalidade mínima". Coerência entre componentes emocionais OU variabilidade e incoerência? Há inconsistências nos estudos sobre a relação entre respostas fisiológicas, comportamentais e subjetivas associadas às emoções. Por exemplo, a mesma emoção pode gerar diferentes comportamentos Debate atual sobre universalidade das configurações emocionais faciais dependendo do contexto e da pessoa. à há uma elevada variabilidade para cada emoção (face, vocal, comportamento, experiência subjetiva, fisiológicas, avaliações cognitivas) Exemplo: Uma pessoa pode sorrir por nervosismo ou chorar de alegria Insuficiência de evidências para universalidade total: Argumenta-se que a ideia de "universalidade mínima" é mais plausível, sugerindo semelhanças limitadas entre culturas, mas não uma universalidade completa. Alguma semelhança em diferentes culturas na interpretação/perceção de configurações faciais à Algumas expressões (alegria) são facilmente reconhecidas, mas associadas a aprendizagem (não inatas). 19 Convergências e divergências teóricas 1. Existem 8 emoções primárias que servem de base para as outras. 2. Emoções opostas: Alegria vs. tristeza (conexão vs afastamento); nojo vs. confiança (rejeição vs. aceitação) 3. Combinações de emoções (sem cor) 4. Intensidade (intensidade crescente das extremidades para o centro Teorias construtivistas sociais As emoções são construídas (aprendidas) pela cultura. “Emotions are not remnants of our phylogenetic or evolutionary past nor can they be explained in strictly physiological terms; rather they are social constructions and they can be fully understood only on a social level of analysis” - James Averill As normas sociais (partilha de crenças e regras) é que fornecem os protótipos, com base nas quais as emoções são construídas. A cultura “é um SISTEMA de SIGNIFICADO partilhado por um grupo, através do qual os seus valores, atitudes, crenças, costumes e pensamentos coletivos são compreendidos. (…) O consenso sobre os Roda das emoções (Robert Plutchnick) significados dos símbolos, verbais e não verbais, partilhados pelos membros de uma comunidade” à São fenómenos que não podem Perspetiva que considera a universalidade das emoções. ser atribuídos ou explicados pela Genética ou Biologia. Comparação entre abordagens 20  VALORIZAÇÃO DO AFETO: AFETO IDEAL VS. AFETO ATUAL Teoria da valorização do afeto – proposta por Jeanne Tsai, explora como diferentes culturas influenciam a forma como as emoções são valorizadas e experienciadas, e como isso afeta o comportamento e o bem-estar. Emoções não são apenas respostas biológicas; também refletem valores sociais e objetivos culturais. A teoria sugere que: As pessoas preferem e procuram experimentar certos tipos de emoções (afetos ideiais), alinhados com valores culturais e sociais. Há uma diferença entre o afeto ideal (como as pessoas gostariam de se sentir) e o afeto atual (como as pessoas realmente se sentem). Essa diferença influencia comportamentos, bem-estar psicológico e relações interpessoais. Exemplo: Em culturas ocidentais, as pessoas podem valorizar emoções positivas e energéticas como alegria e entusiasmo (afeto ideal). Já em culturas orientais, emoções mais calmas e equilibradas, como paz e serenidade, podem ser mais desejadas. As normas na expressão e regras de exibição são regras / normas A teoria destaca que os valores culturais moldam quais emoções são socioculturais (de exibição) = aprendizagem e internalização do mais desejadas: modo apropriado de expressar emoções (i.e., como, quando, e onde 1. Culturas Ocidentais (ex: EUA): expressar, neutralizar ou modificar as emoções). Variam em função do - Valorizam emoções positivas e de alto arousal como entusiasmo e contexto sociocultural, género, padrões familiares, etc. excitação. - Encorajam a expressão emocional e associam emoções energéticas a Ex: Líderes Americanos no Governo, nas empresas e na academia têm sucesso e carisma. 6.25 mais vezes probabilidade de exibir o sorriso publicamente do 2. Culturas Orientais (ex: China, Japão): que os líderes Chineses. - Preferem emoções positivas e de baixo arousal como calma, serenidade e paz. - Enfatizam equilíbrio emocional e harmonia social, desencorajando expressões emocionais intensas. 21 Se o afeto atual estiver distante do afeto ideal pode gerar insatisfação emocional, stress e menor bem-estar psicológico. Por outro lado, quando as pessoas sentem emoções alinhadas com o afeto ideal, experimentam maior felicidade e bem-estar. Fatores que moldam o afeto ideal: Cultura: Valores culturais ensinam quais emoções são mais apropriadas e desejáveis. Personalidade e temperamento: Pessoas extrovertidas podem preferir emoções de alto arousal. Já pessoas introvertidas podem valorizar emoções de baixo arousal. Nota: na china a expressão de vergonha é muito importante em termos de Experiências sociais: Eventos vividos e normas sociais moldam relações interpessoais. Há 113 palavras para vergonha. Emoção sobre- - representada na cultura. expectativas emocionais. Objetivos pessoais: Metas específicas podem influenciar quais emoções são mais desejáveis em certos contextos (por exemplo, O curso da experiência emocional ser calmo para meditação ou energizado para desportos). As teorias vão dar-nos diferentes hipóteses, têm diferentes perspetivas. Como acontece a experiência emocional?? Tsai e Clobert (2019) propõem dois modelos culturalmente diferentes das emoções para compreender os fenómenos emocionais Quais as componentes mais rápidas? de acordo com 2 culturas: O arousal fisiológico precede, acompanha ou é independente da experiência emocional? Será que a cognição (pensamento) precede ou segue a experiência emocional (sentimento)? Serão processos independentes? Experiência emocional: sentimento de ter medo (representação mental da emoção, “label”) MENTE – CORPO: O teu coração bate porque sentes medo? Cultura e linguagem ou Muitas palavras que usamos para identificar estados emocionais CORPO – MENTE: Experiencias medo porque sentes o teu também estão relacionados com a aprendizagem e cultura em que coração a bater? estamos inseridos, e que determinam como experienciamos e compreendemos o mundo. William James explica-nos a experiência emocional como: Primeiro a ativação fisiológica, e depois a experiência emocional subjetiva. Não haverá emoção se não houver respostas corporais (fisiológicas) e, portanto, estas antecedem a experiência emocional... É a atividade do corpo que produz a emoção e não o contrário. Sensações corporais influenciam a mente à corporalização das emoções. Emoções (experiências emocionais) emergem de processos mais gerais que ocorrem nos centros motores e sensoriais. ‘‘we feel sorry because we cry, angry because we strike, afraid because we tremble’’ Nota: ‘‘Strike’’ – ativação muito forte em termos fisiológicos. 22 Para Carl Lange, as experiências emocionais Teoria de Cannon-Bard resultam de (e não causam) respostas vasomotoras no corpo. William James e Carl Lange estavam ambos a investigar este processo da mesma forma, então juntaram-se para fazer esta proposta. Excitação fisiológica (ativação ao nível do sistema nervoso) ao mesmo tempo que a experiência emocional (a interpretação). Nota: sentido mente (SNC) – corpo. O que acontece no corpo ajuda a intensificar a experiência emocional. Teoria de James-Lange (teoria periférica das emoções e fisiológica) Experienciamos uma emoção após tomarmos consciência de respostas corporais (fisiológicas) específicas que acompanham cada emoção: as emoções têm origem em respostas do Sistema Nervoso Periférico (PNS) que posteriormente é interpretado pelo SNC. Críticas à teoria de James-Lange (Cannon e Bard): Sustenta que as respostas fisiológicas são mais lentas que a experiência subjetiva das emoções; Criticam a ideia de especificidade fisiológica, pois podemos sentir determinada ativação fisiológica com emoções muito diferentes. Ex: Coração a bater muito rápido à posso estar muito alegre e entusiamado, ou fico assustado com algo.. (temos respostas fisiológicas muito semelhantes para emoções diferentes) Ambas as teorias de James-Lange e Cannon-Bard consideram as Corte nos nervos simpáticos e parassimpaticos em ratos e lesões alterações fisiológicas (James) ou neurológicas (Cannon) como na espinal medula em humanos à não tinham acesso à determinantes principais das experiências emocionais. resposta fisiológica, mas tinham a experiência emocional subjetiva.... (então William James e Carl Lange não estavam a Atualmente as Neurociências consideram que há uma rede mais considerar qualquer coisa...) complexa de interação entre o SNP e o SNC, em que ambos recebem Injetar adrenalina não provoca emoções e produzem a experiência emocional. 23 A recordar... A interpretação é feita com base nas pistas do contexto. Só depois dessa interpretação é que há um sentimento associado. Se eu interpretar como sendo um estímulo fisiológico, não será emocionalmente relevante... depende da interpretação que faço! Em suma... Importância do arousal (SNP) (como W. James)