Metodologia de Investigação em Educação - 1.º Ano - 2024-2025 - PDF
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Instituto Politécnico de Bragança
2024
Ilda Freire Ribeiro
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This document is a set of lecture slides on research methodology for a first year undergraduate course in Basic Education. It covers topics such as research in education, methodologies, and assessment. It does not contain any questions therefore it's not an exam paper.
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METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO L ICENCIATURA EM EDUCAÇÃ O BÁSICA - 1.º ANO 2024-2025 ILDA FREIRE RIBEIRO [email protected] METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E EDUCAÇÃO INFORMAÇÕES GERAIS GUIA ECTS GUIA ECTS 1. Investigação em educação...
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO L ICENCIATURA EM EDUCAÇÃ O BÁSICA - 1.º ANO 2024-2025 ILDA FREIRE RIBEIRO [email protected] METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E EDUCAÇÃO INFORMAÇÕES GERAIS GUIA ECTS GUIA ECTS 1. Investigação em educação - A importância da investigação em educação CONTEÚDOS - Questões éticas na investigação PROGRAMÁTICOS - Investigação qualitativa, quantitativa e mista: técnicas de recolha de dados. 2. Planificação e estrutura de uma investigação em educação - Construção e discussão de projetos de investigação em educação - Introdução - Desenho da investigação - Revisão de literatura e bibliografia - Execução da investigação - Resultados e conclusões da investigação - Reflexões, limitações e sugestões para investigações futuras - Redação de um trabalho científico Conteúdos 3. Dados qualitativos programáticos - Questões de investigação - Análise de conteúdo: Unidade de análise e categorias - Tratamento e interpretação de dados qualitativos - -Investigação quantitativa 4. Dados quantitativos - Hipóteses de investigação - Amostras e sua caracterização - Tratamento e interpretação de dados quantitativos 1. Avaliação Contínua - (Ordinário, Trabalhador) AVALIAÇÃO (Final) - Prova Intercalar Escrita - 50% (Teste escrito sumativo) 2 de dezembro 2024 - Elaboração de Trabalho - 50% (Realização e discussão das tarefas propostas) 14 de janeiro de 2025 2. Avaliação por exame - (Ordinário, Trabalhador) (Recurso, Especial) a partir de dia 27 de janeiro de 2025 - Exame Final Escrito - 100% BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 1. Bardin, L. (2014). Análise de conteúdo (4. ª Ed. ). Edições 70. 2. Estrela, A. (2015). Teoria e prática de observação de classes. Uma estratégia de formação de professores. Porto Editora. 3. Flick, U. (2013). Métodos qualitativos na investigação científica. Monitor. 4. Reis, F. L. (2018). Investigação científica e trabalhos académicos: Guia prático. Edições Sílabo. 5. Vilelas, J. (2017). Investigação: O processo de construção do conhecimento (2. ª Ed. ). Edições Sílabo. 1-INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO - A importância da investigação em educação - Questões éticas na investigação - Investigação qualitativa, quantitativa e mista: técnicas de recolha de dados PA R A CONTEXTUALIZAR O que entende por: METODOLOGIA INVESTIGAÇÃO EDUCAÇÃO EM TORNO DE CONCEITOS É a reprodução sensível e conceptual da realidade objetiva, natural e social, efetuada pelo cérebro humano. O termo “conhecimento” restringe-se ao ser humano. O QUE É O O conhecimento é expresso pela linguagem, CONHECIMENTO? oral e escrita. REALIDADE OBJETIVA (NATURAL E SOCIAL) - CÉREBRO HUMANO + ATIVIDADE SOCIAL = CONHECIMENTO e LINGUAGEM Fase sensível Sensações (decorrentes dos estímulos biológicos) Perceções (imagem subjetiva que reflete uma realidade objetiva) Representações (decursivas do contacto direto com o mundo) Fase conceptual (Para determinar a essência dos fenómenos e para detetar realidades não apreensíveis sensorialmente necessitamos dos FASES DO conceitos e dos processos lógicos a eles ligados) CONHECIMENTO Conceitos (permitem perceber as relações existentes entre aspetos da realidade objetiva - natural e social) Juízos (a afirmação ou a negação de algo relativamente a um sujeito) Deduções (é uma cadeia de juízos organizados de tal forma que cada um deles se depreende dos outros, segundo leis lógicas) As leis científicas A ciência tem por resultam da realidade Um sistema de leis objetivo fundamentar objetiva: existem científicas denomina- e sistematizar o independentemente se teoria científica. conhecimento. do sujeito. A hipótese pode surgir: Hipótese (forma mais A partir de observações acumuladas que não tiveram explicação com base nas teorias anteriores - generalização empírica; importante de aparecimento das leis e das teorias A partir da conjetura criativa do cientista, que tem em conta outras leis e teorias firmemente estabelecidas. científicas) A hipótese é posteriormente sujeita a validação por via da experimentação (forma científica da prática). Observação científica da realidade objetiva Uma experimentação efetuada: com base num com um com base com dado com base num objetivo numa instrumentos conhecimento plano prévio; rigorosamente metodologia científico; adequados; definido; adequada. Observação Leis e teorias Hipótese Experimentação ou conjetura científicas METODOLOGIA Palavra composta por três vocábulos gregos: Metà (“para além de”) odòs (“caminho”) logos (“estudo”) O conceito faz alusão aos métodos de investigação que permitem obter certos objetivos numa ciência. INVESTIGAR (do latim investigare) Este verbo refere-se à ação de seguir os vestígios de algo ou alguém. Também faz referência à realização de atividades intelectuais e experimentais de modo sistemático (pesquisar), com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre um determinado assunto. A investigação não INVESTIGAR acontece fora do tempo e do espaço. Partimos sempre de uma situação, de um ponto de vista, de um conjunto de saberes (Prigogine,1997). Prigogine, I. (1997). O fim da era das certezas. Ática METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO Refere-se simplesmente à forma como um investigador concebe sistematicamente um estudo para garantir resultados válidos e fiáveis que satisfaçam os objetivos da investigação. Utiliza-se para resolver um problema de investigação através da recolha de dados utilizando várias técnicas, fornecendo uma interpretação dos dados recolhidos e tirando conclusões. Na sua essência é o plano para um projeto ou estudo de investigação. A investigação é, em primeiro lugar, obter conhecimentos sobre algo… contudo, não procuramos qualquer conhecimento, mas sim um conhecimento que ultrapasse o nosso entendimento imediato sobre as coisas para a explicação ou para a compreensão da realidade que observamos. Daqui decorre a necessidade de diferenciarmos o tipo de pesquisa e o tipo de método O método dedutivo é uma abordagem lógica onde se parte de uma premissa geral para chegar a conclusões específicas. MÉTODOS Começa com uma teoria ou princípio geral e, por meio da lógica, aplica CIENTÍFICOS esse princípio a casos particulares para testar a validade da teoria. GERAIS DO Características principais: CONHECIMENTO Parte do geral para o particular: A dedução começa com uma regra ou lei geral e procura aplicar essa regra para entender eventos ou situações específicas. Lógica formal: Utiliza o raciocínio lógico, onde se assume que, se as premissas são verdadeiras, a conclusão também será. Exemplo: Premissa 1: Todos os seres humanos são mortais. Premissa 2: Sócrates é um ser humano. Conclusão: Sócrates é mortal. Aplicação Na educação, o método dedutivo pode ser útil para ensinar conteúdos que já têm princípios bem estabelecidos, como nas ciências exatas. Por exemplo, na matemática, parte-se de uma fórmula geral e aplica-se em problemas específicos. MÉTODOS Método indutivo - parte de observações específicas para chegar a CIENTÍFICOS conclusões ou generalizações mais amplas. GERAIS DO Utiliza-se em contextos onde se observam padrões ou regularidades em casos particulares e, a partir dessas observações, formula-se uma teoria ou CONHECIMENTO regra geral. Características principais: Parte do particular para o geral: Começa com a análise de casos ou exemplos específicos e, com base neles, propõe-se uma generalização. Probabilidade: As conclusões baseadas na indução não são logicamente certas, mas têm um grau de probabilidade. Mesmo com várias observações, não é garantido que a generalização será sempre verdadeira. Exemplo: Observação 1: O sol hoje nasceu a leste. Observação 2: O sol ontem nasceu a leste. Observação 3: O sol anteontem nasceu a leste. Conclusão (generalização): O sol nasce SEMPRE a leste. Aplicação Na educação, o método indutivo é usado quando se deseja estimular a descoberta e o desenvolvimento de hipóteses pelos alunos. Em ciências, por exemplo, pode-se observar fenómenos específicos e, a partir deles, criar teorias. MÉTODOS Método Experimental CIENTÍFICOS GERAIS DO Como funciona: Baseia-se na manipulação controlada de CONHECIMENTO variáveis para observar os efeitos e determinar relações de causa e efeito. O investigador cria um ambiente experimental onde uma variável (variável independente) é alterada para observar o impacto sobre outra variável (variável dependente). Passos principais: Definição do problema e hipótese. Planeamento do experimentação. Recolha de dados (controle e manipulação de variáveis). Análise dos resultados. Conclusão sobre a relação de causa e efeito. Aplicação: Muito utilizado em áreas como as ciências naturais, psicologia e educação. Verdade Objetiva Verdade Absoluta A verdade objetiva é aquela que não depende das A verdade absoluta é aquela que é verdadeira em opiniões, crenças ou perceções pessoais. todas as circunstâncias, tempos e lugares. É uma verdade que se mantém verdadeira, Não se altera com base em diferentes contextos ou independentemente do ponto de vista ou da interpretações. experiência de quem a afirma. Se algo é considerado uma verdade absoluta, deve Exemplo: A afirmação "a água é composta por ser sempre verdadeiro, sem exceções. dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio Exemplo: Em muitas religiões, certas doutrinas ou (H2O)" é uma verdade objetiva, pois pode ser dogmas são considerados verdades absolutas, verificada por meio de métodos científicos e não como a crença de que "Deus existe" ou "2 + 2 = 4" depende de crenças pessoais. (na matemática elementar). Implicação: A verdade objetiva é frequentemente Implicação: A verdade absoluta sugere que há associada ao conhecimento científico e factos factos ou afirmações que não são influenciados por verificáveis, que podem ser corroborados tempo, cultura, ou qualquer variação circunstancial. independentemente de quem observa ou em que É uma verdade universal, sem margem para contexto. modificação ou relativização. V E R DA D E R E L AT I VA Exemplo: A afirmação "é aceitável comer carne" pode ser uma Pode variar conforme a pessoa, verdade relativa, pois em algumas É aquela que depende do ponto grupo ou situação, e aquilo que é culturas isso é comum e de vista, contexto ou cultura. considerado verdadeiro em um moralmente aceitável, enquanto contexto pode não ser em outro. em outras (como em algumas vertentes do vegetarianismo ou veganismo) é considerado errado. Implicação: A verdade relativa O que é verdadeiro para uma sugere que a verdade não é fixa, pessoa pode não ser para outra, e mas moldada pelas perceções e isso é aceito como parte da circunstâncias de cada indivíduo ou natureza da verdade. grupo. INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO Vemos o mundo de diferentes maneiras e nele Em educação há muitas situamos as mudanças que procuramos escolas, diversos construir. professores e diferentes Os objetivos que fazem toda a diferença em relação à nossa conceção de educação e de ESCOLA. conceções. Em educação os resultados Em educação é preciso tempo para não são visíveis e (trans)formar (Benavente, 2005). imediatos. Benavente, A. (2015). O quê investigar em Educação? Revista Lusófona de Educação, 29, pp. 9-23 Stenhouse, L. (1987). La investigación como base de la enseñanza. Morata. A educação é um campo de ação e pensamento multireferenciado se: recordarmos a diversidade de práticas educativas, bem como de percursos, contextos profissionais e áreas disciplinares de formação de base dos sujeitos que investigam em educação, a qual origina uma multiplicidade de trajetos e interesses de pesquisa; tomarmos em consideração a diversidade de perspetivas disciplinares, epistemológicas e metodológicas que integra. Neste campo científico coexistem diversas perspetivas disciplinares e abordagens metodológicas, ao mesmo tempo que a comunidade científica é composta por profissionais de vários contextos de educação/formação e segmentos do sistema educativo. A investigação em educação, segundo Berger (2009), pode ser simultaneamente INV E S T I G A Ç Ã Oencarada de duas formas substancialmente distintas: EM EDUCAÇÃO Essencialmente como um trabalho crítico, isto é, como um trabalho de contestação, de problematização das práticas sociais. Essencialmente como um trabalho de investigação na sua forma positiva, isto é, como um trabalho que pretende enumerar verdades que se admite poderem constituir instrumentos de desenvolvimento e de progresso. Berger, G. (2009). A Investigação em Educação: modelos socioepistemológicos e inserção institucional. Educação, Sociedade & Cultura, 28, pp. 15-192 A investigação em educação é um fenómeno que, tendo implicações práticas, metodológicas e epistemológicas, tem fundamentalmente um significado social (Berger , 2009). O problema da identidade da investigação em educação, que tem consequências importantes na definição das Ciências da Educação, atravessa todo um dispositivo próprio de investigação. Na realidade, quando procuramos definir as Ciências da Educação fazemo-lo, em geral, a partir das disciplinas, ou seja, a partir de uma investigação que integra o conjunto de trabalhos desenvolvidos a partir de quadros disciplinares, como a Economia, a Sociologia, a Psicologia, etc. A investigação sobre educação integra pois o conjunto de trabalhos produzidos a partir destas disciplinas, a partir dos conceitos, metodologias e campos teóricos por elas definidos. O grande objetivo da investigação é a produção de conhecimento O progresso na qualidade da educação requer um conhecimento atualizado, alimentado constantemente por pesquisas pertinentes e desafiadoras. a ser sempre um trabalho de reelaboração, de reinterpretação de um conjunto de fenómenos que todos nós experienciamos; A investigação tende, pois, e a ser uma formalização dum saber tendencialmente já constituído que gera uma relação simultaneamente de expetativa e de rejeição (Berger, 2009). O paradigma de investigação em educação apresenta duas principais funções: ii) a legitimação entre os i) a unificação de conceitos, investigadores de critérios de visões/perspetivas e de pertença validade interpretação que a uma epistemologia comum subjazem a um determinado nas questões teóricas e paradigma de investigação metodológicas; (Coutinho, 2018) Coutinho, C. (2018). Metodologia de investigação em Ciências Sociais e Humanas: teoria e prática. Edições Almedina. Licenciatura em Educação Básica (LEB) A necessidade de pesquisar surge a partir de: 36 Toda a investigação científica, para se aproximar ao fenómeno estudado, necessita: Seguir uma ordem determinada de passos; como certas regras ou procedimentos gerais ou particulares que possibilitam, na integração, captação dos movimentos dos fenómenos ou do estudo; de ser desenvolvida; da perceção das suas múltiplas contradições. 37 Tem como objetivo despertar a atenção do interlocutor (leitor). Deve explicar a importância do tema e o valor da pesquisa, apresentando as opções metodológicas e alguns dos resultados mais significativos (sinopse). Fazer uma apresentação abrangente do problema da pesquisa. Argumentar as razões que dão relevância ao trabalho. Comentar os principais objetivos e questões que se pretende abordar durante a pesquisa. 38 Licenciatura em Educação Básica (LEB) Tem como principal propósito demonstrar que o investigador sabe procurar a informação teórica que sustente o tema a investigar. Apontar os tópicos de pesquisa e construir uma lógica entre eles. Indicar algumas publicações que darão suporte teórico à investigação (ver onde se pode pesquisar!). 39 Licenciatura em Educação Básica (LEB) As questões da pesquisa devem estar diretamente relacionadas com a estrutura concetual proposta na revisão da literatura. Podem ser aperfeiçoadas ao longo do desenvolvimento do trabalho. Elaborar poucas questões, mas que sejam claras e operacionalizáveis a partir da metodologia a ser utilizada. Delimitar bem a finalidade das perguntas para facilitar o desenvolvimento teórico e empírico (trabalho de campo). 40 Licenciatura em Educação Básica (LEB) É a parte fundamental de um projeto de pesquisa, uma vez que nos permite traçar os caminhos a seguir para responder às questões formuladas. Uma metodologia bem formulada e pensada minimiza as nossas dúvidas para alcançarmos os objetivos Descrever todos os procedimentos, técnicas e instrumentos a utilizar. Detalhar as técnicas de forma lógica e linear de forma a integrar todas as fases do trabalho de investigação. 41 Licenciatura em Educação Básica (LEB) Nesta etapa devem-se comentar as contribuições/resultados da investigação. Resultados esses que têm de estar diretamente relacionados com as questões e objetivos da investigação e têm de ser coerentes com o estudo. Dependendo da abordagem metodológica podem, ou não, ser generalizáveis. Conferir se esses resultados poderiam ser atingidos se utilizássemos outra metodologia. 42 Identificação e formulação do problema (Questões/hipóteses do Definição da metodologia estudo, definição de objetivos, (Enquadramento contexto) metodológico/teórico, procedimentos) Análise dos dados (Quantitativa e Recolha de dados (Recolha de Qualitativa) informação útil) Conclusão (Apresentação de Redação do relatório resultados, balanço e reflexão (Apresentação estruturada do crítica) trabalho realizado) 43 AT I T U D E I N V E S T I G AT I VA O conceito de pesquisa, validado pelos pesquisadores das universidades, é complexo e caracterizado, sobretudo, pelo rigor do método, da comprovação, sendo amplamente divulgado no meio académico. Segundo Beillerot (1991) “nos meios universitários, o uso da palavra ‘pesquisa’ no singular (…) envolve um pressuposto pleno de sentidos, equívocos e conivências: para o bem ou para o mal, no âmbito da universidade, a pesquisa ou é científica ou não é pesquisa” (p. 19). Inferimos, portanto, que o zelo e o rigor na produção de pesquisas “científicas” pelas universidades são ações incontestáveis. 45 Beillerot, J. (1991). La recherche, essai d'analyse. Recherche et Formation, n. 9, 17-31. A pesquisa escolar está circunscrita no contexto da pesquisa educacional como um elemento constitutivo da construção do conhecimento. Construir conhecimento implica o ato de ensinar e aprender – aqui entendido como a criação de possibilidades – para que o sujeito chegue sozinho às fontes de conhecimento que estão à sua disposição na sociedade. O trabalho de pesquisa na escola requer que se mobilizem um conjunto de atividades orientadas pelo professor, com o objetivo de procurar, descobrir e criar um determinado conhecimento acerca de um objeto de estudo. A pesquisa escolar é uma “atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados” (Minayo, 1993, p.23). Minayo, M. C. S. (1993). O desafio do conhecimento. Hucitec. No exercício de sua prática pedagógica, o professor atua em diversos níveis: Conduz o processo de ensino-aprendizagem Avalia os alunos Situações problemática. Contribui para a construção do projeto educativo da escola e para o Necessidade do desenvolvimento da relação da escola com a professor se envolver em comunidade. investigação. 47 EM SÍNTESE… Na verdade, o ensino é mais Trata-se de uma atividade do que uma atividade complexa que envolve É necessário que o professor rotineira onde se aplicam simultaneamente aspetos faça uma constante simplesmente metodologias intelectuais, políticos e de exploração, avaliação e predeterminadas. gestão de pessoas e reformulação de sua prática. recursos. Para uma participação ativa e É indispensável consistente na vida da escola É preciso experimentar compreender bem os requer-se que o professor tenha formas de trabalho que modos de pensar e as uma capacidade de conduzam os alunos a obter argumentar e fundamentar as dificuldades próprias das os resultados desejados. suas propostas pedagógicas crianças. para aquele grupo específico de crianças. A base natural para esta atuação, tanto na sala de aula como na escola, é a atividade investigativa, no sentido de atividade inquiridora, questionadora e bem fundamentada. 48 EM SÍNTESE… Podemos dizer que a pesquisa da prática, na sua participação no desenvolvimento curricular, constitui um elemento decisivo da identidade profissional dos professores. Alarcão (2005) sustenta que todo o bom professor tem de ser também um pesquisador, desenvolvendo uma investigação em íntima relação com a sua função de professor. Zeichner (1998) sustenta que a pesquisa realizada pelos profissionais sobre a sua prática, longe de se constituir num mero processo de desenvolvimento profissional, representa um importante processo de construção de conhecimento. Alarcão, I. (2005). Professores reflexivos em uma escola reflexiva. Cortez. 49 Zeichner, K. (1998) Para além da divisão entre professor pesquisador e pesquisador académico. Em M. G. Geraldi, D. Fiorentini, & M. Pereira (orgs.), Cartografias do trabalho docente (pp. 207-236). Mercado das Letras. EM SÍNTESE… “Realmente não posso conceber um professor que não se questione sobre as razões subjacentes às suas decisões educativas, que não se questione perante o insucesso de alguns alunos, que não faça dos seus planos de aula meras hipóteses de trabalho a confirmar ou infirmar no laboratório que é a sala de aula, que não leia criticamente os manuais ou as propostas didáticas que lhe são feitas, que não se questione sobre as funções da escola e sobre se elas estão a ser realizadas.” (Alarcão, 2005, p. 5). QUESTÕES ÉTICAS NA INVESTIGAÇÃO 51 Compreender melhor o mundo Licenciatura e ser Básica em Educação cidadão (LEB) (auto)crítico, investigar para saber. Inscreve-se nos processos de investigação, nas trajetórias de vida (pessoais e profissionais) de quem investiga, conduzindo à compreensão de que investigar não produz apenas conhecimento sobre os fenómenos que se investigam, mas também sobre a própria pessoa que investiga, realçando as suas capacidades reflexivas, de questionamento e de comunicação. Implica decisões, escolhas situadas e fundamentadas. (Hamidas & Azevedo, 2013, pp.6-7). 52 Hamidas, G., & Azevedo, N. (2013). Investigar em educação: Reflexões e perspetivas multidisciplinares. Interacções, N.º 27, 1-12. http://www.eses.pt/interaccoes. O uso do conhecimento que se produz, respondendo ao “para quê” investigar, introduz-lhe também como elemento central a dimensão ética (Hamidas, & Azevedo, 2013). Toda a investigação científica é uma atividade humana de grande responsabilidade ética pelas características que lhe são inerentes (Martins, 2008). Para quê conhecer se não for para que esse conhecimento permita construir uma vida melhor, uma escola melhor, uma sociedade melhor? 53 5 PRINCÍPIOS DA ÉTICA A TER EM CONTA NA INVESTIGAÇÃO RESPEITO PELOS HONESTIDADE INTEGRIDADE TRANSPARÊNCIA RESPONSABILIDADE DIREITOS DOS PARTICIPANTES Definidos no Relatório Belmont (https://www.hhs.gov/ohrp/sites/default/files/the-belmont-report-508c_FINAL.pdf) - fonte primordial de inspiração do pensamento e da ação ética ao nível da investigação envolvendo seres humanos. 54 HONESTIDADE Aplicação na investigação: Os Exemplo: Um investigador deve investigadores devem garantir que relatar os resultados verdadeiros, Definição: Ser honesto significa não falsificam, manipulam ou mesmo que não suportem a agir com verdade em todas as omitem dados para obter hipótese original ou sejam fases da investigação, desde a resultados desejados. Todas as considerados "não significativos". recolha de dados até à publicação práticas de pesquisa, análises e Alterar ou selecionar dados para dos resultados. conclusões devem ser relatadas de obter resultados "melhores" é uma forma precisa e fidedigna. violação da honestidade. INTEGRIDADE Aplicação na investigação: Exemplo: Um investigador que Definição: Integridade refere- Implica a coerência entre o que dá o devido crédito a todos os se à adesão aos valores morais o investigador diz e faz, coautores do seu trabalho e e éticos da investigação, assegurando que não há atos não copia ideias ou dados de garantindo que o processo é de má conduta científica, como outros sem autorização ou realizado de forma justa e plágio, duplicação de citação adequada está a responsável. publicações ou concessão demonstrar integridade. indevida de autoria. TRANSPARÊNCIA Definição: Transparência implica que todas as etapas do processo de investigação sejam conduzidas de forma aberta e acessível, permitindo que os métodos, dados e resultados possam ser verificados e replicados por outros. Aplicação na investigação: Os investigadores devem descrever os métodos e resultados de forma clara e completa, permitindo que outros possam avaliar a validade das suas descobertas. Também inclui a divulgação de possíveis conflitos de interesses. Exemplo: Publicar um estudo num repositório aberto, com acesso aos dados brutos e metodologias detalhadas, facilita a transparência. Se um investigador recebeu financiamento de uma empresa privada, deve divulgar essa informação. Definição: Responsabilidade implica que o investigador deve assumir as consequências das suas ações e garantir que a investigação é RESPONSABILIDADE realizada de acordo com os padrões éticos, tanto no tratamento dos dados quanto na interação com os participantes. Aplicação na investigação: Significa Exemplo: Se um erro é identificado garantir que a pesquisa é conduzida numa publicação científica, o de forma ética, com respeito pelos investigador tem a responsabilidade participantes, e que os resultados de corrigi-lo publicamente, são utilizados de forma adequada. informando a comunidade científica. Inclui a responsabilidade de Também implica o dever de respeitar supervisionar estudantes ou colegas prazos e compromissos assumidos e a garantir que estão conscientes com financiadores ou instituições. das suas obrigações éticas. RESPEITO PELOS DIREITOS DOS PARTICIPANTES Definição: Este princípio implica que os direitos e dignidade dos participantes devem ser sempre respeitados durante o processo de investigação. Isso inclui o direito à privacidade, ao consentimento informado e à proteção contra danos. Aplicação na investigação: Os participantes devem ser informados claramente sobre os objetivos da pesquisa, o que implica a sua participação, e têm o direito de desistir a qualquer momento. Deve-se garantir a confidencialidade dos dados e a proteção dos participantes contra qualquer tipo de exploração ou risco. Exemplo: Antes de envolver pessoas num estudo, o investigador deve obter o consentimento informado, explicando os possíveis riscos e benefícios. Além disso, deve garantir que as informações pessoais dos participantes não são divulgadas sem autorização. EM SÍNTESE… Honestidade: Ser verdadeiro em todo o processo de investigação. Integridade: Agir de acordo com valores morais e éticos, sem fraude ou plágio. Transparência: Tornar o processo de investigação claro, acessível e verificável. Responsabilidade: Assumir as consequências e realizar o trabalho de forma ética. Respeito pelos direitos dos participantes: Proteger a dignidade, privacidade e segurança dos participantes. Três eixos éticos fundamentais comuns que devem regular a conduta do investigador em educação 1. Princípios e 2. Valores dos 3) Valores dos valores referentes investigadores face investigadores face aos participantes ao conhecimento à sociedade Consentimento Competência, Transparência, informado, Honestidade, Responsabilidade, Confidencialidade, Imparcialidade, Rigor, Anonimato, Confiabilidade, Integridade, Objetividade, Dignidade, Clareza. Rigor, Segurança e bem- Responsabilidade, estar. Integridade, Autonomia CONSENTIMENTO INFORMADO 3. O voluntariado O consentimento 1. A informação 2. O investigador deve ser informado deve ser dada em deve assegurar-se assegurado, sendo pressupõe três várias formas que o sujeito pois proibidas componentes: complementares, entende a todas as ações que informação, incluindo a forma informação que visem coagir o compreensão e escrita. lhe fornece. sujeito a participar voluntariado. na investigação. A informação a ser prestada deve ser clara, objetiva e absolutamente necessária; deve incidir sobre os objetivos, os métodos e consequências do estudo. 62 O presente inquérito por questionário integra-se num trabalho de investigação, de natureza exploratória, que visa compreender como é que os professores organizaram as suas estruturas de apoio para a identificação das medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão ao longo da escolaridade obrigatória em tempos de pandemia COVID-19, mais especificamente na educação básica, identificando a(s) forma(s) como conseguiu lidar com as diferenças individuais de cada criança e como pensa que a escola (enquanto instituição) reconheceu o trabalho realizado com a diversidade de alunos no Ensino a Distância (E&D). Para preencher este inquérito por questionário deve investir por volta de 7 minutos, aproximadamente. Por conseguinte, solicitamos e agradecemos a sua colaboração para a concretização desta investigação, cujos resultados poderão contribuir para o estabelecimento de um marco de referência comum e que sirva de base para se (re)pensar os processos de E&D que favoreçam mais o processo de inclusão, bem como a gestão integrada do currículo, considerando os três níveis de intervenção (medidas universais, medidas seletivas e medidas adicionais) para os quais aponta o Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho. As respostas ao questionário são anónimas e confidenciais e os dados serão utilizados apenas no âmbito deste estudo. As questões marcadas com um asterisco (*) são obrigatórias. Para qualquer informação contacte: EXEMPLO C O N F I D E N C I A L I DA D E , A N O N I M ATO, PRIVACIDADE E DIGNIDADE Às/aos participantes da investigação deve ser assegurada a sua privacidade, bem como o anonimato e confidencialidade dos dados por eles fornecidos. O armazenamento e utilização de dados pessoais devem ser mantidos de forma segura e acessível, por um período de pelo menos cinco anos desde o final do estudo/projeto. A/os investigadores devem zelar pela dignidade e bem-estar do/as participantes face aos eventuais riscos (psicológicos, atribuição de rótulos que ocorram em contexto experimental com consequências potencialmente negativas; ofensas à reputação, danos para as relações familiares e interpessoais) que possam ocorrer subjacentes à sua participação. Questões de ética… na formulação do problema sem fundamentação do que outros já investigaram e concluíram sobre o assunto; Seria eticamente inadequado defini-lo de forma tão ampla que se torne formular um impraticável; problema associar um julgamento valorativo. 65 Questões de ética… na revisão de literatura Respeitar o princípio da integridade académica - materializável nas citações e referências, respeitando o pensamento do(s)/a(s) autor(es)/a(as). Seja qual for o formato da revisão, esta visa apresentar o «estado da A prática de plágio é crime, punível por lei (pode ir até arte»… aos 3 anos de prisão) (Lei n.º 92/2019, de 04 de setembro - Décima quarta alteração ao Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março). 66 Questões de ética…na população e amostra Licenciatura em Educação Básica (LEB) A participação na Deve ser obtido por escrito após o esclarecimento das fases da investigação investigação e das consequências para a pessoa (ou pessoas) participante(s). pressupõe… O(s) participante(s) pode(m) retirar o seu consentimento em qualquer momento da investigação, sem que isso implique quaisquer consequências para essa(s) pessoa(s). 67 Questões de ética…na recolha Licenciatura de dados em Educação Básica (LEB) A recolha de dados na investigação pressupõe… CODIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE RECOLHA DOS DADOS 68 Questões de ética…na análise Licenciatura de dados e Básica (LEB) em Educação conclusões A análise de dados na investigação pressupõe que … A investigação deve ser isenta e cuidadosamente confrontada com o que outros autores tenham produzido. 69 Questões de ética…na divulgação - do Licenciatura em projeto ou Educação Básica (LEB) dos resultados A divulgação na investigação pressupõe que … Licenciatura em Educação Básica (LEB) CAPÍTULO LIVROS APRESENTAÇÕES DE LIVRO EM EVENTOS CIENTÍFICOS REUNIÕES ARTIGOS EM REVISTAS CIENTÍFICAS CONFERÊNCIAS MEIOS DISPONÍVEIS PARA DIVULGAR OS FOLHETOS RESULTADOS POSTER FICHEIROS DISPONÍVEIS NA FLYERS INTERNET OU COMUNICAÇÃO REPOSITÓRIO ORAL CIENTÍFICO EM SÍNTESE… A ética na investigação é o alicerce de uma prática científica responsável, garantindo que o conhecimento seja produzido sem comprometer os direitos humanos, a dignidade dos participantes e o bem-estar social. Promove a confiança na ciência e assegura que os benefícios do avanço do conhecimento sejam acessíveis a todos, de forma justa e equitativa. TA R E FA D E AULAS 1. CENÁRIOS DE INVESTIGAÇÃO 2. DILEMAS ÉTICOS NA INVESTIGAÇÃO 1. Manipulação de Dados para Resultados Favoráveis Cenário: Um investigador está a realizar um estudo sobre os efeitos de um novo medicamento. Os dados preliminares não mostram diferenças significativas entre o grupo experimental e o grupo de controlo. Para conseguir resultados mais favoráveis, o investigador decide excluir alguns dados que ele considera "outliers" (dados que se diferenciam drasticamente de todos os outros) e que prejudicam o efeito esperado do medicamento. Questão Ética: A exclusão seletiva de dados pode resultar numa distorção dos resultados e numa falta de rigor científico. O investigador deve reportar todos os dados, incluindo os que não corroboram a sua hipótese, para manter a integridade do estudo. DILEMAS ÉTICOS NA INVESTIGAÇÃO Ler bem os Procurar refletir dilemas sobre: Como tomar Que princípios O que fariam uma decisão éticos estão em nesta situação? que respeite conflito? esses princípios? **Situação:** Um investigador está a conduzir um estudo que está a demorar mais do que o previsto e os resultados obtidos até agora não são conclusivos. Para terminar a investigação rapidamente e obter os resultados esperados, o investigador considera a possibilidade de alterar alguns dados. **QUESTÃO:** O investigador deve alterar os dados para 1. obter um resultado mais claro? FA L S I F I C AÇ ÃO DE DADOS **Resposta orientadora:** Não, falsificar ou manipular dados é uma violação grave da ética na investigação. Os resultados devem ser autênticos, mesmo que não sejam os esperados ou conclusivos. A integridade dos dados é fundamental para a validade da pesquisa e para a confiança pública na ciência. **Situação:** Uma investigadora está a recolher dados de um grupo de crianças em idade escolar. Ela pretende aplicar um questionário, mas devido a limitações de tempo, decide não pedir o consentimento formal dos pais ou responsáveis, assumindo que não haverá riscos. 2. **QUESTÃO:** A investigadora deve avançar sem o INFORMAR consentimento formal? OU NÃO INFORMAR? **Resposta orientadora:** Não, o consentimento informado é um princípio ético fundamental, especialmente quando os participantes são crianças. A investigadora deve garantir que os pais ou responsáveis dão o seu consentimento, para proteger os direitos e a segurança dos participantes. 3. IDENTIFICAR? SIM OU NÃO? **Situação:** Um investigador está a conduzir uma pesquisa qualitativa com entrevistas a professores, e alguns deles compartilham informações sensíveis sobre o seu ambiente de trabalho. O investigador pensa em publicar algumas dessas histórias, que são importantes para o estudo, mas que podem comprometer a identidade dos entrevistados. **QUESTÃO:** O investigador deve incluir essas informações no relatório final? **Resposta orientadora:** O investigador deve garantir que todas as informações pessoais e sensíveis sejam mantidas anónimas e confidenciais, a menos que os participantes tenham dado permissão explícita para partilhar essas informações. Se a publicação de detalhes específicos puder comprometer o anonimato, esses devem ser omitidos ou generalizados. 4. Incentivos aos participantes **Situação:** Para garantir uma boa taxa de resposta numa pesquisa, uma equipa de investigação decide oferecer um incentivo monetário aos participantes. No entanto, alguns colegas argumentam que isso pode influenciar as respostas ou pressionar participantes a aderirem sem refletirem adequadamente. **QUESTÃO:** Oferecer incentivos monetários é uma prática ética? **Resposta orientadora:** Os incentivos podem ser aceitáveis, desde que não sejam excessivos a ponto de coagir ou influenciar indevidamente os participantes. O valor deve ser modesto, reconhecendo o tempo e o esforço dos participantes, mas sem comprometer a integridade do consentimento. 5. CENÁRIO DE INVESTIGAÇÃO - COMPLEXO Intervenção Pedagógica Experimental sem Avaliação Adequada dos Riscos Cenário: Uma investigadora está a desenvolver uma nova metodologia pedagógica para melhorar o desenvolvimento da linguagem em crianças de 3 a 5 anos em contexto de educação de infância. Propõe testar a metodologia diretamente nas salas de aula, comparando o grupo experimental (que usa a nova metodologia) com um grupo de controlo (que usa as práticas pedagógicas tradicionais). A investigadora obtém consentimento da direção da escola, mas não explica em detalhe aos pais os riscos ou a natureza experimental da nova metodologia. Além disso, os professores envolvidos no estudo sentem-se pressionados a seguir o novo método, apesar das suas dúvidas sobre a sua eficácia e adequação para crianças com dificuldades de aprendizagem. 1. Sobre o Consentimento Informado Os pais receberam informações suficientes para dar o seu consentimento informado? O que mais deveria ter sido explicado? Como podemos garantir que o consentimento informado seja realmente compreendido pelos pais, especialmente quando se trata de uma intervenção pedagógica experimental? Quais seriam as possíveis consequências para as crianças e os pais se não forem adequadamente informados sobre a natureza experimental da metodologia? 2. Sobre a Exposição a Riscos A investigadora deveria ter conduzido um estudo piloto antes de implementar a nova metodologia com as crianças? Porquê? Em que circunstâncias é aceitável expor crianças pequenas a uma intervenção pedagógica experimental? Que medidas devem ser tomadas para minimizar os riscos? O que deveria ser feito se a metodologia começar a mostrar sinais de impacto negativo no desenvolvimento das crianças durante o estudo? 3. Sobre a Autonomia dos Professores Como é que a investigadora deveria ter lidado com as dúvidas e preocupações dos professores? Devem os professores ter o direito de recusar a implementação de uma nova metodologia com a qual não concordam? De que forma a pressão sobre os professores pode afetar a ética da investigação? Como podemos garantir que eles possam expressar as suas preocupações sem receio de represálias? Qual é o papel dos professores na proteção dos interesses das crianças durante um estudo de investigação? 4. Sobre a Justiça na Investigação Como é que se poderá garantir que tanto o grupo experimental como o grupo de controlo são tratados de forma justa durante o estudo? Se a nova metodologia for benéfica, deveria ser implementada para todas as crianças imediatamente? E se for prejudicial, o que deverá ser feito para proteger o grupo experimental? De que maneira a divisão entre grupos de controlo e experimental poderá criar desigualdades entre as crianças? Como minimizar essas desigualdades? 5. Sobre o Impacto Psicológico nas Crianças Quais serão os potenciais impactos psicológicos de introduzir uma metodologia experimental sem avaliar previamente a sua eficácia? Como é que esses impactos poderão ser evitados ou minimizados? Como é que se poderá saber se as crianças estão a reagir negativamente a uma nova intervenção pedagógica? Que sinais devemos procurar? Como é que o investigador poderá assegurar que a nova metodologia respeita o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças? 6. Sobre Confidencialidade e Publicação Como é que a investigadora poderá garantir que a identidade das crianças seja protegida durante a recolha de dados e a publicação dos resultados? Quais são as implicações éticas de utilizar vídeos ou gravações de crianças em apresentações académicas sem o devido consentimento dos pais? Se os resultados da investigação forem negativos, o que é que a investigadora deve fazer em termos de divulgação? Como poderá equilibrar a honestidade científica com o impacto potencial na reputação da escola e dos professores? 7. Questões Éticas Gerais Considerando todas as questões éticas levantadas neste estudo, acha que a investigadora deveria ter avançado com a intervenção pedagógica? Porquê? Que medidas poderiam ter sido tomadas para melhorar o planeamento ético desta investigação? Se fosse a investigadora, como procederia para garantir que todas as partes envolvidas (crianças, pais, professores, escola) estivessem devidamente informadas e protegidas? CENÁRIO DE Este cenário é complexo porque envolve uma INVESTIGAÇÃO série de dilemas éticos: COMPLEXO A importância do consentimento informado claro, especialmente ao lidar com crianças pequenas. A proteção dos direitos e bem-estar das crianças envolvidas numa investigação experimental. A responsabilidade de evitar a coerção (imposição, constrangimento) sobre os professores e permitir a sua autonomia profissional. A necessidade de justiça ao tratar de grupos de controlo e experimental, evitando prejuízos desnecessários para qualquer dos grupos. A confidencialidade e proteção da privacidade das crianças ao documentar e publicar os resultados. INVESTIGAÇÃO Q UA L I TAT I VA , Q UA N T I TAT I VA E M I S TA INVESTIGAÇÃO A perspetiva/abordagem quantitativa deriva duma epistemologia positivista a qual defende que há uma Q UA N T I TAT I VA realidade objetiva que pode ser expressa numericamente. Como consequência, enfatiza estudos que são experimentais por natureza, enfatiza medidas, e procura relações. Se num estudo são usados os seguintes termos ou conceitos: variável, controlo, validade, fidelidade, hipótese ou significância estatística, foi provavelmente usada a perspetiva quantitativa. M E TO D O LO G I A Q UA L I TAT I VA Enfatiza uma visão fenomenológica, na qual a realidade está inerente à perceção dos indivíduos. Estudos derivados desta perspetiva são focados em significados e compreensão, tendo lugar em situações naturais. Se um estudo usa termos ou conceitos como os seguintes, provavelmente foi usada uma perspetiva qualitativa: naturalista, estudo de campo, estudo de caso, contexto, situacional, construtivismo, significado ou realidades múltiplas. As técnicas qualitativas permitem que o investigador estude um assunto em profundidade. A abordagem do trabalho de campo sem estar constrangido por categorias predeterminadas contribui para o aprofundamento, abertura, e detalhe da inquirição qualitativa. A fonte direta dos dados é o ambiente natural constituindo o investigador o instrumento principal CARACTERÍSTICAS Investigação descritiva Os investigadores interessam-se mais pelos processos do que pelos resultados ou produtos Os dados tendem a ser analisados de forma indutiva O significado é de importância vital (Bogdan & Biklen, 2013) QUANTITATIVA QUALITATIVA Descrição e explicação Compreensão e interpretação Estudos bem definidos e parciais Estudos «holísticos» Verificação de teorias e hipóteses Menor focalização teórica e «voos» mais livres Generalização e abstração Concentra-se na «teoria» local, por vezes com generalização Distinção entre factos e valores menos Procura de objetividade; distinção clara; reconhecimento da subjetividade entre factos e julgamentos de valores QUANTITATIVA QUALITATIVA Abordagem racional, verbal e lógica do O conhecimento tácito é considerado objeto de pesquisa importante, mas considera-se que nem sempre pode ser articulado em palavras Processamento quantitativo de dados Dados mais importantes são qualitativos Distância entre o investigador e o objeto da investigação Distância e envolvimento do investigador com o objeto de estudo Distinção entre experiência pessoal e ciência O investigador admite a influência mútua da experiência pessoal e da ciência e usa a sua O investigador tenta ser emocionalmente personalidade como instrumento neutro, mantendo uma clara distinção entre sentimentos e razão Usa os sentimentos e a razão nas suas ações O objeto de pesquisa é externo ao O investigador parcialmente cria o seu objeto investigador de estudo, por exemplo, dando significado a um documento ou processo QUANTITATIVA QUALITATIVA Objetivo Subjetivo Realidade estável Realidade dinâmica Quantitativo Qualitativo Produto Processo Medição controlada Observação naturalista Medição intrusiva Observação não controlada Perspetiva externa Perspetiva interna Generalizável Não generalizável Particularista Holística Positivismo lógico Fenomenologia As técnicas de recolha de dados mais comuns, de natureza quantitativa são o teste e o inquérito por questionário, embora também se possa usar a observação e a análise de documentos pré- existentes – por exemplo, os ficheiros da escola relativos às crianças. As técnicas de análise de dados quantitativos mais usadas são as da estatística, tanto descritiva como inferencial. As técnicas e instrumentos mais usuais de recolha de dados de natureza qualitativa são a observação, a entrevista e a análise de documentos. Na análise destes dados usa-se uma variedade de técnicas, incluindo a análise de conteúdo. TA R E FA D E A U L A 1. Procure definir metodologia de investigação qualitativa e quantitativa e explique qual é o seu principal objetivo no contexto da investigação científica em educação. 2. Explicite quais são as principais diferenças entre os tipos de dados recolhidos numa investigação qualitativa e numa quantitativa? 3. A investigação qualitativa é mais adequada para estudar que tipo de fenómenos ou questões de investigação? Dê dois exemplos adequados ao contexto educativo. 4. Explique as principais diferenças entre a forma como os dados são analisados em investigações de natureza qualitativa e quantitativa. 5. Indique uma vantagem e uma desvantagem da utilização da investigação de natureza qualitativa e quantitativa em educação. TA R E FA S D E A U L A Questão: De que forma é que as atividades extracurriculares poderão contribuir para o sucesso académico dos estudantes? Metodologia Quantitativa Tarefa: Elaborar um questionário simples (com 5 perguntas fechadas) para avaliar a opinião dos colegas sobre o tema. Metodologia Qualitativa Tarefa: Criar um guião de entrevista com 3 perguntas abertas, explorando as experiências e sentimentos dos participantes. RECOLHA DE DADOS Que aspetos Decidir o que se Ponderar sobre essa Considerar investigar: pretende escolha alternativas conteúdo, processo, INVESTIGAR interação… Preparar os instrumentos de Elaborar grelhas, Pensar sobre o que Testar e rever recolha de dados listas ou tabelas… poderá obter TESTES (inclui testes padronizados que geralmente contêm informações sobre a confiabilidade, validade e normas, etc.). EXEMPLO DE INSTRUMENTOS PA R A A QUESTIONÁRIOS (instrumentos de autorrelato). RECOLHA DE DADOS ENTREVISTAS (situações em que o pesquisador entrevista os participantes). FOCUS GROUP (um pequeno grupo de discussão com um grupo moderador presente para manter a discussão focada). GRELHAS DE OBSERVAÇÃO (olhando para o que as pessoas realmente fazem). OBSERVAÇÃO – UMA TÉCNICA DE RECOLHA DE DADOS ▪ Um ato de atenção, isto é uma concentração seletiva das atividades. ▪ Um objetivo específico, claro e explícito, o que facilitará a atenção sobre o objeto/sujeito a observar. ▪ Um ato inteligente, isto é, no domínio percetivo, o observador seleciona um pequeno número de informações pertinentes entre o largo leque de informações possíveis. Estrela, 2015 C R I T É R I O S G E R A I S PA R A O B S E R VA R “A observação permite efetuar registos de acontecimentos, comportamentos e atitudes, no Observar não é julgar: é só Neutralidade: observar com seu contexto próprio e sem “olhar” e não “ajuizar” isenção, sem tomar partido alterar a sua espontaneidade” (Sousa, 2005, p. 109) Objetividade: sem Universalidade: suscetível de Registo factual: podemos subjetividade, sem que outro observador observe filmar, gravar o especulações, sem inferências, o mesmo nas mesmas comportamento observado sem intuições, sem empirismos condições Sousa, 2005 FORMAS DE OBSERVAÇÃO QUANTO AO PROCESSO DE OBSERVAÇÃO NATURALISTA DIRETA OCASIONAL INDIRETA SISTEMÁTICA Estrela, 2015 FORMAS DE OBSERVAÇÃO QUANTO À SITUAÇÃO OU ATITUDE DO OBSERVADOR Participada Participante Intencional Distanciada Não participante Espontânea Estrela, 2015 VA N TA G E N S E D E S VA N TA G E N S DA OBSERVAÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS ▪ Alarga e aprofunda o conhecimento sobre ▪ Exige esforço e tempo quer a nível de cada grupo, para melhor responder às suas planificação quer a nível de registo; necessidades; ▪ A observação pode ser perturbada por outros ▪ Previne dificuldades que poderão surgir, acontecimentos. devido a inúmeros fatores; ▪ Exige uma concentração muito grande, pois ▪ Avalia constantemente a relação entre a num momento podem aparecer vários prática, a ação e mudanças de atitudes e estímulos; conhecimentos; ▪ O local pode influenciar a observação; ▪ Possibilita a intervenção do adulto no sentido ▪ Imprecisão dos meios sensoriais de orientar de outros em situações difíceis. QUANTOS PONTOS CINZENTOS? IIusão de grade de Hermann PA R A Q U E L A D O V O A M O S PÁ S S A R O S ? Escher QUAL É O MAIOR CÍRCULO LARANJA? B A Ilusão de Ebbinghaus Dizer as cores associadas a cada palavra O lado direito do cérebro tenta dizer a cor e lado esquerdo tenta ler a palavra INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS - TESTES Os testes são comummente usados em pesquisas para medir a personalidade, a Um investigador deve desenvolver um novo aptidão, a realização e o desempenho. teste para medir o conhecimento específico, Note-se que os testes também podem ser as habilidades, o comportamento ou a utilizados para complementar outras atividade cognitiva que está a estudar. medidas (seguindo o princípio fundamental da investigação mista). 108 VA N TAG E N S Permite a Propriedades Vários testes podem ser comparabilidade de Disponibilidade de dados psicométricas fortes (alta administrados a grupos medidas comuns em do grupo de referência. validade da medida). (economiza tempo). populações de pesquisa. Pode proporcionar Uma ampla gama de A taxa de resposta é alta "duros" dados testes está disponível (a para os ensaios do grupo quantitativos e fáceis de maioria do conteúdo pode administrado. analisar ser aproveitado). 109 D E S VA N TAG E N S Pode ser caro se o Efeitos reativos O teste pode não teste tiver de ser ser apropriado para adquirido para cada (a desejabilidade um local ou participante da social pode ocorrer). população. pesquisa. Os testes são, por Alguns testes A não resposta para vezes, tendenciosos psicométricos itens selecionados contra certos grupos carecem de dados no teste. de pessoas. qualitativos. Um questionário é uma lista organizada de perguntas que visa obter informações de natureza muito diversa tais como interesses, motivações, atitudes ou opiniões das pessoas. Os questionários podem ser usados, por exemplo, para obter informação acerca de hábitos de estudo, da compreensão da utilização da biblioteca ou do tempo dispendido num determinado desempenho ou tarefa. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO No entanto, podem ser também usados para obter registos acerca do que os alunos fizeram (ou fariam) numa dada situação. Podem também ser muito úteis aos diretores de turma na recolha de informação referente à relação escola-família, podendo ser aplicados numa reunião com os encarregados de educação. E TA PA S DA E L A B O R AÇÃO D E UM INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Definição dos Objetivos Definição das Questões Identificação da População e Seleção da Amostra Elaboração das Questões Instruções de Aplicação Testagem das Questões Redação Definitiva Aplicação do Questionário Análise de Resultados INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Definição dos Objetivos Temos de definir o que queremos saber com muita clareza. (Imaginemos que queremos saber como é que os alunos organizam o seu trabalho diário. Mas esse objetivo é demasiado amplo. É preciso tornar então o objetivo mais concreto e explícito, ou seja, definir concretamente o que se pretende estudar. Por exemplo: Queremos saber quais são os hábitos de estudo dos alunos. O que significam hábitos de estudo? A organização do caderno diário é um hábito de estudo? Devemos ter bem presente quais os fatores a ter em conta e tentar, então, operacionalizar o conceito ‘hábitos de estudo’). Sem saber responder a estas questões não podemos passar à fase seguinte. EXEMPLOS DE OBJETIVOS Objetivo 1: Identificar as práticas que os estudantes consideram como hábitos de estudo e como estas influenciam a aprendizagem. Objetivo 2: Perceber a relação entre a organização do caderno diário e o desenvolvimento de outros hábitos de estudo entre os estudantes. Objetivo 3: Entender como é que a prática de organizar o caderno diário poderá contribuir para a autonomia e responsabilidade no processo de estudo. Objetivo 4: Conhecer as perceções dos estudantes sobre a importância da organização dos materiais de estudo, incluindo o caderno diário. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Identificação da População e Seleção da Amostra Muitas vezes não é possível aplicar o questionário a todos alunos e então opta-se por selecionar apenas uma amostra. Um dos problemas relacionados com as amostras é o de assegurar a sua representatividade. Para assegurar a representatividade teremos de garantir que os elementos da amostra apresentem as mesmas características da população a que pertencem. Essas características poderão ser o sexo, a idade, o ano de escolaridade, ou aspetos mais particulares como os alunos submetidos à avaliação sumativa extraordinária ou os alunos que já ficaram retidos. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Definição das Questões Por exemplo, quando A informação que perguntamos se uma turma tem, ou não, bons hábitos de desejamos recolher estudo, possivelmente está sempre pensamos que não tem. Por Nesta fase, temos de isso, há a necessidade de relacionada, de uma realizar o questionário para ter bem claro as maneira ou de outra, confirmar ou infirmar a nossa questões acerca das hipótese. Mas podemos estar com as expetativas também interessados em quais queremos que temos quando perceber se há qualquer recolher informação. decidimos fazer o relação entre os hábitos de estudo dos alunos e o seu questionário. ambiente familiar, a idade ou o ano de escolaridade. ALGUMAS QUESTÕES 1. Rotina de estudo (Quantas horas dedicas ao estudo por semana?; Onde costumas estudar?...) 2. Ambiente de estudo (Onde costumas estudar? Um ambiente silencioso contribui para um melhor estudo/concentração; Prefiro estudar com os outros colegas…) 3. Técnicas e estratégias de estudo (leituras de textos/manual, resumos/esquemas, organizar o caderno diário, resolver exercícios; usar o PC; …) 4. Planificar o estudo (Estudo com antecedência; Estudo apenas na véspera do teste…) 5. Objetivos (O meu hábito de estudo contribui para um maior sucesso escolar…) INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Elaboração das Questões A decisão sobre o tipo de questões a utilizar depende do tipo de informação de que dispomos. Por exemplo, se não temos uma ideia concreta acerca das opções que se colocam ao problema que queremos resolver, será útil fazer um questionário com perguntas abertas que nos ajudará a recolher grande quantidade de informação. As questões fechadas apresentam algumas vantagens em relação às abertas nomeadamente por serem mais facilmente quantificáveis, mais fáceis de preencher e de codificar. Garantem também maior fidelidade uma vez que todos os respondentes estão subordinados às mesmas opções o que depois facilita a comparação das respostas, contrariamente ao que se passa com as respostas a perguntas abertas. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Elaboração das Questões Na elaboração das questões devemos ter o cuidado de as construir de modo a terem significado claro para os respondentes e utilizar uma linguagem acessível a todos. Esta preocupação é de tal modo importante que devem ser eliminados ou reformulados quaisquer itens que suscitem dúvidas de interpretação e compreensão por parte dos alunos. No que diz respeito ao número de questões a colocar num questionário não há um número ideal. Haverá que contar com o cansaço que provoca a qualquer um de nós responder a um questionário muito extenso podendo gerar desmotivação e negligência nomeadamente na fase final do questionário. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Instruções de Aplicação As instruções devem fornecer Esta medida cria um clima de indicações precisas quanto à Deverá ainda oferecer maior disponibilidade e pode forma de preenchimento do garantias de anonimato e contribuir para uma maior questionário e explicitar a confidencialidade. fidelidade nas respostas. razão da sua aplicação. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Testagem das Questões A testagem dos itens pode ser feita apenas com um número reduzido de É através da testagem que se pode, alunos. No entanto, há que ter sempre por exemplo, saber se os itens estão o cuidado de selecionar alunos com mal construídos, se há palavras que os características semelhantes às participantes não entendem e que têm daqueles a quem vai ser administrado de ser substituídas por outras ou se o o questionário definitivo e de questionário é muito longo, o assegurar também que o questionário exemplo. piloto é aplicado em condições comparáveis às que existirão quando se administrar o questionário final. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Análise de Resultados Aplicação do Questionário O questionário pode ser É importante apelar à Após o preenchimento procede- elaborado no google forms e colaboração dos alunos e insistir se à análise dos dados obtidos terão de enviar o link de aos mais uma vez na importância da com o questionário. participantes, solicitando o seu recolha desta informação e na preenchimento. sinceridade nas respostas. INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Servem de instrumento Permitem recolher de diagnóstico informação de um VANTAGENS (dificuldades, elevado número de interesses, pessoas ao mesmo preferências, …); tempo; Contribuem para Permitem uma rápida enriquecer a avaliação recolha de informação; formativa; INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO Processo de elaboração e Nem sempre é fácil a DESVANTAGENS testagem de itens muito interpretação das moroso; respostas; É difícil saber se as pessoas estão a responder o que Não é possível ajudar as sentem ou se respondem pessoas em questões mal de acordo com o que formuladas. pensam que são as nossas expectativas; INQUÉRITO POR ENTREVISTA É um encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto. Tipos de Entrevista Padronizada ou estruturada - É uma entrevista que obedece a um plano sistemático ou estruturado, apresentando uma sequência de questões previamente escolhidas. Painel – Repetição de perguntas, de tempo em tempo. Despadronizada ou não estruturada – Apresenta-se em três modalidades: - Entrevista focalizada (há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai estudar); - Entrevista clínica (trata-se de estudar os motivos, os sentimentos, a conduta das pessoa); - Entrevista dirigida (há liberdade total por parte do entrevistado). E N T R E V I S TA “um dos processos mais directos para encontrar informação sobre um determina o fenómeno, consiste em formular questões às pessoas que, de algum modo, nele estão envolvidos”. (Tuckman, 2000, p. 517) Trata-se de recolher informação relativa às representações ou perceções e interesses que as pessoas têm e são fonte essencial de informação para o estudo de caso (Yin, 2003), na medida em que nos dão informação que uma resposta escrita nunca revelaria (Bell, 1993). E N T R E V I S TA – G U I Ã O A construção de um guião é fundamental e é onde se encontram algumas questões gerais que serão exploradas mediante as respostas dadas pelos inquiridos. I N Q U É R I TO P O R E N T R E V I S TA Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer Deve ser usada por todos os perguntas, formular de VANTAGENS segmentos da população: maneira diferente, especificar analfabetos e alfabetizados; algum significado, como garantia de estar a ser compreendido; Dá oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que sejam relevantes e significativos; I N Q U É R I TO P O R E N T R E V I S TA Possibilidade de o entrevistado ser Dificuldade de expressão influenciado, consciente ou DESVANTAGENS e comunicação de ambas as inconscientemente, pelo partes; entrevistador, pelo seu aspeto físico, suas atitudes, ideias….; Retenção de alguns dados importantes Ocupa muito tempo e é receando que a sua difícil de ser realizada identidade seja revelada; POSSÍVEIS QUESTÕES Rotina e Organização 1. Podes descrever como é que organizas o teu estudo? Podes falar sobre o horário de estudo, a divisão das tarefas… 2. O que é que consideras essencial para manter uma rotina de estudo eficaz? Estratégias 3. Como é que escolhes os métodos de estudo mais adequados para cada disciplina ou tema? 4. Podes dar um exemplo de uma estratégia de estudo que funcionou muito bem consigo? Porquê? Concentração e Ambiente 5. De que forma é que o ambiente onde estudas influencia a tua concentração e produtividade? 6. O que é que fazes para minimizar distrações ou manter o foco durante períodos mais longos de estudo? EXEMPLO Analisar as características de um documento (mensagem escrita) através da comparação da codificação realizada por recetores distintos. Analisar o contexto ou o significado de conceitos presentes nas mensagens. Analisar as condições que induziram ou produziram a mensagem. ANÁLISE Os dados a analisar podem ter diversas origens: DE CONTEÚDO Dados invocados pelo investigador (dados de observação direta, notas de campo, documentos de arquivo, etc.) Dados suscitados pelo investigador (protocolos de entrevistas semidiretas e não diretivas, respostas abertas solicitadas em questionários, histórias de vida, diários, relatórios de práticas, portefólios, etc.) 134 EXPLORAÇÃO DO MATERIAL Consiste no período mais longo traduzido na etapa da codificação dos dados. Nesta etapa são realizados recortes em unidades de contexto e de registo. Depois de codificados passa-se à fase da categorização. Esta deverá manter os princípios de exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade e fidelidade e produtividade. Exaustividade – a Exclusão mútua – o conteúdo Homogeneidade – coerência categorização reúne todas as de cada categoria não se de critérios que torne a unidades de registo pertinentes sobrepõe. Este objetivo é caracterização legível como um para o objeto de pesquisa, e importante para a objetividade. todo. todas elas foram codificadas. Objetividade – uma da Pertinência – o sistema de Produtividade – um conjunto unidade de registo só deve categorias criado é defensável de categorias é produtivo se pertencer a uma dada e cada categoria tem sentido fornece resultados férteis em categoria, independentemente face ao material empírico e/ou índices de inferência, novas do analista que faz a sua ao quadro teórico de partida. hipóteses e em dados exatos. codificação Uma unidade de contexto é uma parte de frase, um segmento, que faz sentido por si só. Dela se pode extrair a unidade de registo que é o EXPLORAÇÃO elemento de significação a codificar ou classificar. As DO MATERIAL unidades de registo podem ser de dois tipos – formais (uma palavra, um objeto) ou CODIFICAÇÃO semânticas/temáticas (quando se formam unidades de sentido/ significado). Quando isolamos unidades de registo a partir das unidades de contexto, estamos a codificar. Isto é estamos a atribuir categorias e isolar a informação para a analisar. Análise de avaliação - que tem por finalidade medir as atitudes do locutor quanto aos objetos de que fala. Análise da enunciação – visa o discurso não como um dado mas como um processo pretendendo-se pesquisar as condições da palavra, da estrutura sintática, da lógica do discurso e do seu encadeamento, etc., para produzir inferências diretas.. Análise do discurso – pretende ser uma análise semântica ou EXPLORAÇÃO temática, sintática e lógica, feita através de uma análise autónoma DO MATERIAL do discurso. – TIPOLOGIAS Análise da expressão – opera com categorias formais de ordem DE morfológica e sintática para caraterizar estilos discursivos e fazer CODIFICAÇÃO inferências sobre a autoria de um texto, etc. … Análise das relações – apreender a coocorrências ou concomitâncias existentes num discurso ou num conjunto de discursos. Bardin (2009) EXEMPLO Sinopse das categorias e subcategorias emergentes das entrevistas aos formadores e coordenadores Categorias Subcategorias A. Programas de Formação A.1. Visão de uma “nova” cultura formativa em benefício das práticas A.2. Defesa de uma visão transformadora e emancipadora das práticas docentes A.3. Mudança de práticas: continuidades, ruturas, resistências A.4. A relação dos “outros” com os programas de formação e as “classes de aluguer” A.5. Formação disciplinar fechada sobre si mesma B. Práticas pedagógicas e colaboração entre professores B.1. Práticas transmissivas e a necessária abordagem à participação B.2. Relações de colaboração: nuances e significados C. Integração versus compartimentação curriculares C.1. Ensino por áreas e compartimentação do horário C.2. Monodocência e saberes disciplinares C.3. Monodocência e integração curricular C.4. Perspetivas disciplinares da integração 2. Planificação e estrutura de uma investigação em educação -Construção e discussão de projetos de investigação em educação - Introdução -Desenho da investigação -Revisão de literatura e bibliografia -Execução da investigação -Resultados e conclusões da investigação -Reflexões, limitações e sugestões para investigações futuras -Redação de um trabalho científico PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO (iv) a divulgação (iii) a dos interpretação resultados e (ii) a recolha da conclusões de elementos informação obtidas. (i) a que permitam recolhida com formulação responder a vista a tirar Toda a do problema esse conclusões; investigação ou das problema; envolve questões do quatro estudo; momentos principais: Na verdade, se as As questões devem questões não são de (i) A formulação de referir-se a problemas real interesse para o boas questões para que preocupem o professor, não será de investigação é um professor e devem ser esperar que ele tenha ponto de grande claras e suscetíveis de o investimento afetivo importância no resposta com os necessário para levar trabalho investigativo. recursos existentes. a investigação a bom termo. O interesse do professor é realmente resolver um problema que o preocupa ou compreender a situação que o intriga e não apenas investigar por investigar. É preferível que ele empregue as suas energias em questões onde possa ter resultados palpáveis do que em questões que estão muito para além do seu alcance. As questões podem evoluir com o próprio desenvolvimento do trabalho, mas é importante que essa variação vá no sentido de uma maior precisão e delimitação. Se as questões variam de modo errático, o mais provável é que no final não seja possível dar-lhes uma resposta minimamente aceitável (ii) A recolha de elementos para responder às questões do estudo pressupõe a realização de um plano de investigação, plano esse que traduz em termos práticos a metodologia do trabalho. De um modo geral, as investigações sobre a prática Dimensão colaborativa, recorrem aos planos de Problemas que surgem da fazendo intervir diversos atores trabal