Os Povos Originários: História, Técnicas e Conhecimentos PDF

Summary

Este documento discute a história e os conhecimentos dos povos originários do Brasil, incluindo suas técnicas de sobrevivência, práticas agrícolas e conhecimentos medicinais tradicionais. O texto também destaca a importância das relações entre os povos originários e a natureza, e a riqueza de sua cultura.

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**1. Os povos originários** **Histona** **No estudo desses agrupamentos, os antropólogos têm utilizado a referência linguística para designá-los. Isso equivale a dizer que a matriz de fala cria uma referência cultural que favorece nossa compreensão sobre sua diversidade. Por isso, entendemos tais...

**1. Os povos originários** **Histona** **No estudo desses agrupamentos, os antropólogos têm utilizado a referência linguística para designá-los. Isso equivale a dizer que a matriz de fala cria uma referência cultural que favorece nossa compreensão sobre sua diversidade. Por isso, entendemos tais grupos com base em troncos linguísticos que, em maior ou menor grau, aproximavam determinados conjuntos de pessoas. Por exemplo, os Kayapó compõem parte do grupo linguístico Jê, assim como os Xavante. Os Macuxi estão associados à matriz Karib, os Terena (D à língua Aruak. Por outro lado, na matriz Tupi poderíamos encontrar os Tupi-Guarani, os Tupiniquim e OS Tupinambá. A propósito, esses povos foram aqueles que estabeleceram os primeiros contatos com os portugueses no século XVI, uma vez que habitavam o litoral. Em razão dessa grande pluralidade, termos que generalizam os povos originários são sempre imprecisos para dar conta da complexidade de suas formações culturais. Mesmo sendo povos com suas particularidades, a língua era um fator que viabilizava a comunicação entre eles, aproximando alguns e afastando outros Observe com atenção o mapa; nele podemos ter uma percepção mais apurada da complexidade e pluralidade das matrizes linguísticas dos Povos originários. Do Brasil (século XVI) povos originários em várias das comunidades nativas, a organização social era pautada nas relações de parentesco com vínculos estruturados de uma ancestralidade comum, a unidade política da comunidade constituía um universo no interior do qual orbitavam rituais, saberes, valores e conjunto de práticas reli- todo O conjunto de práticas religiosas que ordenavam a vida coletiva. Em diversos momentos, esses ordenamentos se fundiam a outros construídos por povos distintos, em amplos processos de relações culturais. A noção de fronteira como conhecemos não pode ser aplicada maneira semelhante à apropriação que Os povos originários faziam do território. Nesse sentido, as relações Pano sociais estruturavam-se pela dimensão Charua são afetiva e estavam submetidas Outros grupos a uma cosmovisão muito particular BRASIL - 500 anos. Sao Paulo: Abril, 2000. p. 10 \[Adaptado. que entrelaçava povos e culturas.** **\[23:08, 26/11/2024\] Gledson: Ciêngias Humanas** **148** **Os povos originārios possuiam os próprios mitos, narrativas e explicacões religiosas para a origern da vida e a ordenação da natureza Muitas dessas perspectivas reconheciam espiritos\" nos animais, plantas 2 rios. Tal visão de mundo incorporava a natureza como uma totalidade que também inclula ○ proprio humano. Como parte integrante do ambiente natural (e esse natural sendo animado pela dimensào espi- ritual), os povos oniginários nào faziam grandes diferenças entre realidade e religião, Mundo fisico e meta- tisico, material e espiritual eram esferas que se misturavam, de modo que podernos atirmar que a nature- za era nitualizada (ou a religiào era naturalizadā) Essa forte relação comn a natureza per- mitiu aos povos originários conhecer pro- fundamente o território onde, posterior- mente, nasceria ○ Brasil, Eles nomearam rios, montanhas, vales, árvores, plantas, animais e conheciamn muito bemn várias aplicações medicinais.Com seus símoo- los e ritos proprios, era muito comum as diferentes tribos elaborarem suas festmi- dades e cerimónias, as quais podiam ce- lebrar momentos de passagem dos jovens para a \"vida adulta\", boas caçadas, boas colheitas, o nascimento de um bebė, o ca- samento, ou, simplesmente, reverenciar os espiritos\" dos ancestrais que, segundo sua RUGENDAS, Johann M. Ponte de cipó. Litografia aquarelada, c. 1835 crença, de alguma forma ainda habitavam Museu de Arte Brasileira. Os povos originários viviam em harmonia com a natureza. Dela retiravam sua sobrevivência e habitação. ○ mesmo territorio Essa intensa e imediata relação com os antepassados motivou o desenvolvimento de inúmeras formas de ritos funerários. Segundo várias culturas nativas, os mortos, de alguma forma, eram responsáveis por uma espé- cie de proteção espiritual do lugar. Nesse sentido, a morte possuia outro significado, diferente da ideia de \"fim da vida\". uma vez que era possível a comunicação entre os seres vivos e aqueles que já tinham partido. Em alguns casos, os ritos funerários estavam associados à iniciação de jovens, por se tratar, simbolicamente, de um novo momento da vida daquele ser humano. ula A associação entre vivos e mortos criava ed uma unidade que explicitava essa fusão dos elementos mundanos aos espirituais. ;ão/Coleç Em larga medida, esses povos nativos estruturavam sua vida em comunidade Reprodt com base nesse referencial religioso A relação que os nativos faziam com o meio ambiente também era mui- to particular.De maneira geral, havia a percepcão de que os seres espirituais que animavam as florestas, os rios e os animais eram semelhantes aos se- res humanos. Nesse sentido, a comu- nhão com a natureza proporcionāva uma lógica de relação que não estava pautada na exploração tal como a co- nhecemos. Entretanto, para fazer seus roçados e dinamizar praticas agricolas, era comum que os nativos desmatas- sem e queimassem porções de terra, prática conhecida como coivara. Nesse Celebracão de uma comunidade nativa do Brasil representada por sentido, o uso dos recursos naturais era Theodore de Bry no século XVI. As pinturas corporais eram elementos estéticos e simbólicos que compunham as cerimônias religiosas. diterente da nossa perspectiva** **stona** **Enquanto hoje em dia nossa sociedade fundamenta a agricultura com oase na ógica da busca pelo lu- a cro, os nativos articulavam OS plantios e colheitas tendo em vista uma dimensão religiosa e a necessidade da comunidade, Os conhecimentos de agricultura eram passados de geraçao em geração. O fundamento dessa simbiose com o meio natural alicerçava-se na ausència da nocão de propredade pri- vada. Todos que compunham as tribos tinham a possibilidade de fazer USO da terra, normalimente por meio de a uma agricultura de subsistència. Como não havia grandes métodos de conservação de alimento, recorrer às as colheitas e à pesca era uma alternativa viável à sobrevivência naquele ambiente, A domesticação da mandioca foi um grande salto nesse processo, pois ela se mantém boa para o consumo durante muito tempo ainda no solo. Sỏ encontro onde moro** **SESI EFO7HI3.a.25 Observe a imagem a seguir e faça que se pede** **S** **Região do Anhangabaú, em São Paulo O nome vem do tupi e significa \"rio do mau espirito\". Na região havia um rio, que O** **foi canalizado com o desenvolvimento urbano.** **A ocupação que os povos originários fizeram em diversos territórios espalhados por onde hoje é o Brasil pode ser percebida até os dias atuais. Uma evidência dessa presença mantém-se pelos nomes de vånias cidades, regiões, rios, bairros ou ruas que compõem as paisagens rurais e urbanas. Um exemplo pode ser muito bem visto na cidade de São Paulo A principio, a região era ocupada por comunidades indigenas ate a chegada dos primeiros religiosos católicos. Um dos rios que cruzam a atual cidade é chamado de Taman- duateí. nome vem da referência que os nativos faziam ao fato de os alagamentos da vårzea proporcio- narem a morte dos peixes, o que atraia muitas formigas para a área. Não raro os tamanduas eram vistos comendo essas formigas, dai o nome do rio, que, em tupi, significa \"rio dos tamanduås verdadeiros Pensando sobre essas permanências, realize uma pesquisa procurando identificar pelo menos três cidades, rios, bairros, entre outros locais, que têm nomes de origem indigena. Busque com- preender por que os locais têm esses nomes e desde quando eles foram nomeados dessa forma Identifique também o significado desse nome na linguagem dos povos nativos** **2. Técnicas e conhecimentos** **Os povos originarios desenvolveram sofisticadas soluçoes para Os probl lemas que Ines apareciam no cotidiano Muitas delas dizem respeito a técnicas de sobrevivência e formnas de melhor se estabelecerem nos ambientes em que viviam Esses conhecimentos ancestrais foram desenvolvidos e passados através das gerações. A seguir, estão dispostas informaçoes importantes que nos ajudam a compreender mehor alguns aspectos do desenvolvimento cultural dos povos originários.** **Técnicas de caçar** **A caça entre os povos originários enwvolvia a produção de- varlas armas brancas utilizadas de muitas maneiras. Os alvos eram, geralmente, animais terrestres, comno capivaras, tarnanduás, tatus e onças, Macacos e répteis também eram caçados. Além deles, as técnicas serviamn para pegar peixes e animais marinnos, como tartarugas e pequenos jacarés. 0 arco e a flecha (com ponta aguda feita de madeira) foram algurnas das armas mais utilizadas. Importante salientar que os povos originarios do Brasil nåo conheceram ○ dominio da metalurgia. Além disso, armadilhas e venenos eram igualmente utilizados. Era muito comum o aperfeiçoamento de apitos e assovios que imitavam animais como estratégia para atrai-los para emboscadas.** **○ Como a imagem revela, as armas também eram utilizadas nas atividades bélicas. Os Guarani utilizavam o arco e a flecha de uma maneira propria nessas situaçoes.** **Técnicas de rastreamento Os povos originarios desenvolveram sofisticadas formas de interpretar os rastros que os animais e outros seres humanos deixavam na natureza. A observação de pegadas e outros vestigios, como a maneira como eventualmente os galhos de arvores e plantas estavam amassados ou cortados, poderia revelar, por exemplo, há quanto tempo eles haviam passado pela região. Esses sinais serviam para orientar a defesa em caso de conflito ou melhorar as estratégias de caça. A \"leitura\' do ambiente natural exige alto grau de concentração conhecimento das condições naturais. Além disso, demanda grande conhecimento sobre as espécies animais, que podem ser identificadas apenas com uma pegada marcada no solo. Os povos originários sabiam que, quanto mais profunda pegada, maior e mais pesado era o animal. Em alguns a casos, isso poderia significar uma boa caçada ou a urgente necessidade de fugir.** **Navegação ○ potencial de navegação fluvial foi amplamente utilizado pelos povos originarios. Para tal finalidade, muitas tecnologias náuticas foram inventadas. Entre as mais comuns estavam a canoa feita a partir de um grande tronco de arvore. Para sua construção, o primeiro passo era escolher um tronco que fosse grande o suficiente, depois havia a derrubada da arvore e a subsequente escavação da madeira. A ideia era tornar o tronco oco na medida em que se delineava o formato da canoa. ApOs da esse processo, em alguns casos, eram utilizadas resinas naturals para impermeabilizar a madeira, tornando sua vida útil mais prolongada.** **○ A imagem do século XVI evidencia uma canoa indigena. A boa flutuabilidade e a leveza faziam com que essa técnica fosse amplamente utilizada para percorrer longas distâncias.** **yesPhotographers/Shutterstoc** **P P** **Conhecimentos medicinais** **O grande contato com a floresta permitiu aos povos originarios conhecer profundamnente algumas propriedades medicinais de plantas encontradas na natureza.Com o uso de \"receitas\" que eram transmitidas por meio da tradição oral. algumas doenças poderiam ser curadas. Esse saber era quardado pelo xama, que era uma.especie de curandeiro da tribo, geralmente, com idade mais avançada, As técnicas na elaboracão dos chás medicinais podiam conter a fervura de plantas, a extração de óleos vegetais atê pequenas incisôes subcutâneas, Até os dias atuais, esses saberes chamam a atençao de pesquisadores e industrias farmaceuticas por todo o mundo** **A imagem, do seculo XIX, revela a grande diversidade de plantas com as quais os nativos conviviam. Os saberes medicinais permitiram o desenvolvimento de vários rerédios que são vendidos atuaimente nas farmácias.** **abeg aesig/onseg eg npe)** **Arte** **Os povos originários apresentavam grande riqueza de detalhes em suas produções artesanais.Com diversos vasilhames feitos de argila ou barro, sua ornamentação chegou a revelar motivos geométricos. A pintura corporal tinha várias finalidades,. podendo ser realizada em festividades religiosas, em caçadas ou para ir a um combate. Normalmente havia um apelo espiritual para evocação de antepassados. As construções também revelavam sofisticadas formas de edificação e só utilizavam madeira e elementos vegetais para a cobertura. Um telhado eficiente era importante para conseguir enfrentar fortes chuvas, sobretudo na região amazónica. Em alguns casos, as ocas (como as casas eram chamadas) podiam abrigar centenas de pessoas,** **O. A fotografia, do final do século XIX, evidencia com precisão a construção das ocas, O formato dos telhados possibilitava que a água escorresse e não formasse poças que acabariam molhando o interior.** **Agricultura D ○ dominio da agricultura for fundamental para a sobrevivencia dos povos originários. Em alguns casos, grandes roçados continham plantações de arvores frutiferas de caju, pequi e banana. Além disso, suas fibras vegetais podiam servir de matéria-prima para 0 artesanato. Condimentos e estimulantes também faziam parte do repertorio alimentar de diversas comunidades que conseguiam, inclusive, superar periodos de escassez com a fartura de alimentos. Aiguns tubérculos e cocos são oferecidos pela natureza ao longo de praticamente todo o ano, tornando possivel o provimento de aldeias que chegavam a 2 mil pessoas.** **A fotografia registra o dia a dia em uma aldeia,. Notamos um 9 homem barreando as paredes de uma casa de reza de sua comunidade.** **oeps** **manəs** **54** **3. A marcha dos Tupi a população nativa antes da chegada dos europeus no final do secuio XV Segundo alguns antropologos milhões de pessoas. Entre elas estavam os Tupi. Compondo originalmente totalizava algo perto ○ noroeste da região amazónica, eles realizaram uma grande marcha nômade pelo terrtorio onde hoje eo de Brasil, atravessando ○ Cerrado do planalto na direção sul, chegando até as regiões litoraneas. Após esse momento, estudiosos defendem que houve uma separação, formando diversos vetores de povoamento e ocupacão. Com uma grande diversificação cultural o complexo quadro social construido pela diaspora Tupi foi surpreendido, em um primeiro momento, pela invasao estrangeira europeia na perspectiva religiosa construida pelo grupo Esse nomadismo tupi encontra sua legitimidade Segundo sua mitologia, a caminhada objetivava o encontro de uma \"terra sem males\". Alguns estudiosos ideia de paraiso cristão. Obviamente, trata-se de duas perspectivas religiosas muito distintas, de modo que ○ aproximação tem, tão somente, um fundamento didatico. Esse \"paralso associam essa noção a terrestre tup motivāva uma busca incessante, dinamizando as movimentaçoes dos grupos, em especial se os Tupi-Guarani tivessem convicção a respeito do fim do mundo, de forma que asalvação Só senia dos Tupi-Guarani. 0 encontro desse lugar proporcionaria tambem o encontro com os ancestrais. E como possivel mediante o encontro da \"terra sem males Essa complexa escatologia religiosa compunha cosmovisáo desses povos originários antes da che- ro gada dos conquistadores europeus. Tal crença sobreviveu ao tempo e tem motivado diversas pesquisas antropológicas. Há quem diga que tal movimentação assumia, inclusive, traços messiâni iCos, no sentido de ser liderada por chefes religiosos Outros especialistas afirmam que a deia de \'terra sem males asta- busca por uma terra boa e ser cultivada, em um sentido agricola que favorecesse a Va mais associada e sobrevivência. Seja como for, O fato e que OS movimentos migratorios dos OoVOS originårios foram funda- estabelecimento de múltiplas formas de apropriacão do territorio tempos ocupação o mentais para ro antes do contato com OS portugueses Alguns estudos mais recentes mapeiam jornada realizada pelos Tupi tendo em VISta OS rastros dexa- trabalho dos antropologos está diretamente associado a Arqueologia, que investiga dos. Nesse sentido, o solo e várias camadas do subsolo em busca de vestigios. Entre as principais descobertas estão Os restos de fogueiras de, aproximadamente, três mil: anos atrás, na região de Araruama, no estado do RiO de Janei- ro, comprovando a presença humana na região muito tempo antes do que se acreditava Entre as diversas tribos que compunham a matriz linguistica tupi, destacam-se os Tupinambá. Um dos gren- des estudiosos desses povos foi ○ sociólogo Florestan Fernandes. Em sua obra A organizacão social dos Tupi- nambá, de 1963, ele explicita que a guerra possuía uma importante função de organização social fundamentada nas práticas religiosas desses povos. Essa relação entre guerra e religião estruturava ritos e cerimónias de sacrifi- cios de inimigos capturados que, em vários momentos, atendiam ao desejo de vingança dos antepassados. Havia rituais nos quais a tribo se alimentava de algum guerreiro capturado. Esse tipo de ritual é chamado de antropo- fagia, Se o prisioneiro fosse outro Tupinambá, esse guerreiro fazia questão de não fugir, pois tal atitude pode- ria significar covardia A ideia era morrer com honra, por isso po- demos dízer que havia uma ética na função social guerra entre os Tupinambá. E importante res- saltar que a antropofagia não se trata apenas da comensurabilida- de da carne humana, tal como canibalismo, mas de um ritual de tratamento com ○ adversario E sendo realizado apenas em even- tos específicos** **○ A gravura do século XVI representa os Tupinambá, As ornamentações nos proporcionam uma percepção acerca da vida desses povos originarios (obviamente, com base na perspectiva europeia).** **A guerra entre os Tupinambo tsmþem estava felacionads conflitos com outras comunidades nativas. A ideia era se apropfiar de porchies de terra Com maiores terra sem males\", caminher emn busca de noves terras potenciais de plantio, colheita, com caçe pesca prokima, Por isso, podsmos mento ontre a dimensáo religiosa, a beligerante e os desiocamertos pelo terrtbrig onde hoe o Bras A centralidade da religião e das praticas guerreiras ordenava garentir possibilidades de sobrevivencia medianite eyentuais eg0tarrertos dos meios naturais, dos poros tupinamibas de modo a As praticas religiosas dos Tupinamnbá não forarn bem vistas pelos europeus aue chegaram s Arnerica no se- çarrega um preconceito religioso. A palavra é forrada com baze na historia de Noe descrta no Artigo Testamerto culo XVI, Desde o contexto colonial, seus rituais de antropofagia foramn descritcs coro caricaismo, Este termo Segundo a narrativa bíblica, Noé teria lançado urnia mnaldição sobre os descendertes de Cam,seufiho mais novo, Por isso, ser um canibal era equivalente a ser ur amaldiçoado, portarto, alg uem que se afasta- va dos preceitos e determinaçoes morals impostos pelo cristianismo. Chamnar os Tupinamibá de canoas significe assumir a visão que se criou no século XVI como verdadeira, o que implica preconceito. Por isso. precisamos ter certo cuidado ao abordar o tema, Ao usar o termo antropofagia, estamos assumindo que não se,tratava de povos amnaldicoados, mas que possulamn umna referência religiosa ritual ferente daquela construida pelos cristäos ao longo de sua história cerimonal di- O historiador e sociólogo brasileiro Florestan Fernandes estudou o impacto desse contato entre indi- genas e europeus nas sociedades locais, Ele argumenta que a quase extinção dos Tupinambá se deu em razão da imposicão europeia dos regimes de trabalho compulsório A tentativa de desestruturação da culturà ancestral mobilizou diversos esforços por parte dos nativos no sentido de fazer frente as impo- sicões europeias. Os conflitos, nesse sentido, envolviam, além da relação com o território, a urgencia em reconstruir toda uma dimensão social que dava sentido à vida.** **narca** **S** **ional da** **jo/** **○ Mulher tupinambá, de Albert Eckhout (oleo sobre tela, 1641)** **Viajando na cultura** **documentário O retorno da terra, dirigido por Daniela Alarcon (Brasilia TV da Associacão Brasileira de Antropologia, 2017), mostra as angústias de uma comunidade Tupinambá no sul da Bahia em face do processo de demarcaçao de terras. 0 ponto de vista dos indigenas revela a perspectiva desses povos sobre OS diversos ataques sofridos no processo de disputa territorial A produção traz uma excelente oportunidade de observar, além dos conflitos atuais. a visão cosmologica e religiosa Tupinambá.** **\[23:11, 26/11/2024\] Gledson: 4. Tensões entre povos originários e portugueses E muito claro para os historiadores antropólogos que no final do século XV alterou profundamente rios. Do ponto de vista das tribos tupis que ocupāvam O litoral, houve uma inwasão estrangeira ove chegada dos portugueses nə Aenktira modo de vida daqueles que no limite, significou desestruturaçao de suas sociedades Comno Os povos originários nào posssiam viviar nesses escrita OS principais registros do (des)encontro foram feitos pelos europeus Obviarnente, Os natinos não aceitaram passivamente a conquista e muitas tensões marcaram a relação que se estabeleceu Para europeu do século XVI, existiam \"índios bons\" e \"indios maus\". Os homens brancos chamavam O de bons aqueles que aceitavam e que pareciam expressar certa inocencia em relação aos laços de domninação. Ja S maus eram aqueles escambo (troca de produtos), que não eram imediatamnente violenitos indigenas e tribos que se revoltavam e mobilizavam forças guerreiras para combater presença europea O termo tapuia, que em tupi quer dizer \'inimigo\' foi assimilado para caracterizar esses nativos. Entre Os principais tapuias estavam OS Tupinambá, cuja prática antropofágica foi muito malvista pelos europeus a nesse contexto, termo canibal foi muito usado para se referir cerimonia indigena A perspectiva crista ○ condenava prática religiosa daqueles povos, legitimando D Estabelecer confrontos contra O que ficou conhecido como guerra justa OS tapuias tupinambás assumia, nesse sentido, uma perspectiva religiosa de combate aos infiéis para afirmar a fé cristă na América. Durante muito tempo, a história do Brasil foi narrada de forma a construir uma versão passiva e dódi dos povos originários, como se as tribos tivessem aceitado a conquista. Entretanto, já há um bom tempo, diversos historiadores têm demonstrado que a violência foi uma prática sistematica e o confronto se fez presente desde os primeiros contatos entre europeus e indigenas. Guando falamos em praticas violentas, não podemos nos esquecer de que não se trata, exclusivamente, de formas fisicas de agressão. Saques, violência moral, psicológica, sexual e apropriação de regiões americanas também fizeram parte do reper. tório agressivo expresso pelos europeus. A falta de unidade política entre as comunidades foi um fator que facilitou a conquista, pois não havia um fortalecimento dos guerreiros nativos em torno de uma lide- rança que pudesse aglutinar e organizar uma resistencia geral contra os nvasores. Mesmo tendo em vista o uso da violência, a principal causa da mortandade nativa esteve associada às doenças trazidas do Velho Mundo. Alguns estudos chegam a afirmar que, aproximadamente. 90% das mortes foram causadas por vírus bactérias Oara as quais não havia remédio Ou possibilidades de O cura. O genocidio atingia crianças, idosos mulheres e toda a sorte de pessoas nativas.** **R Hoata** **Oufirta** **O Confronto entre europeus e nativos retratado por Theodor De Bry no século XVI. Observa-se a diferença entre as tecnologias belicas dos grupos combatentes.** **\[23:12, 26/11/2024\] Gledson: Em mhuitas narrativas da época, Os POvOs orginarios s8o descritos como pessoas em uma orgark zação sofisticada. Eram vistos como barbaros pelos europeus. que perpetuavam a nocao de Que essas comunidades possuiam uma naturezə irracional Entretanto, pesquisadores demonstram Que as dferentes formas de resistenciə emn conjunto contra presença europela revelam uma relativa organ Zaçdo internia entre os nativos. Não raro diversas fugas eram organizadas no interior dos locais nos quars submetidos ao trabalho forçado Guanto mans S indigenas capturados eram mantidos em cativeiro invasores territono do interior, maior a organização local de resistência Nesse sentido Os europeus penetravam O nativos eram, ao mesmo tempo, vitimas e protagonistas de movimentos de violencia. Entre as principais formas de resisténcia nativa esteve a Confederacão dos Cariris Localizada no atual Nordeste. o movimento fol uma organização indígena que contou com a presença de tribos que estavam onde hoje é o Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraiba. Esses são os nomes dos estados atuais, importante dizer que esses não eram OS nomes que os nativos davam para a região. Tal movimento foi organizado na medida em que se intensificaram as invasoes sobre as terras dessas comunidades ideia dos portugueses era se apropriar dos locais com vistas, em geral, o estabelecer areas de CUltvo Os nativos estruturaram ataques a diversas vilas e pequenas cidades rundadas pelos europeus. Entre OS séculos XVil ẹ XVIll, diversos conflitos marcaram as tensões locais, que acabaram com a vitona portugue- sa e o subsequente exterminio das populações da região A superioridade militar europeia, que já dominava a pólvora. e a dificuldade de ampliar as alianças Io- cais entre os nativos foram fatores que dificultaram os mecanismos de resistència indigena. As rivalidades locais foram muito bem exploradas pelos portugueses, que não se furtavam em estimular contendas entre os próprios natıvos com a finalidade de fragilizars as possibilidades de união. Nesse sentido. tais contedera- cões indigenas, como a do Cariri, foram pontuais e não caracterizam 0 processo de maneira geral, Mesmo com a desvantagem nativa, sua presenca e cultura não foram destruidas. Os confrontos como descrevemos neste capítulo não foram restritos à época colonial. Nos séculos XIX e XX, diversas tensões ocorreram. Reconfigurando a maneira de se relacionar com o meio natural e investindo energias em novas formas de organização, as populações nativas resistiram. A opressão contra os indigenas na sociedade brasileira é uma continuidade histórica e esse grupo continua a lutar pelos direitos de soberania de sua terra e pela permanência de suas práticas culturais.** **○ ECKHOUT, Albert. Danca dos Tapuias. Século X VIl.** **1. Africa e seus sentidos** **Segundo os últimos censos, a população negra e par- da compõe mais da metade das pessoas que habitam O Brasil. A ancestralidade de várias pessoas que moram no pais está intimamente atrelada ao continente africano. Isso SIgnifica que os povos, os costumes e a cultura africana são partes importantes da formação da identidade nacional. Durante muito tempo, a história do Brasil fo: narrada de modo a desconsiderar a matriz africana. Tal abordagem objetivo de demonstrar que as raizes do pais es- tavam exclusivamente vinculadas ao passado europeu tinha portanto, branco, Essa perspectiva racista e excludente foi desenvolvida no século XIX, mas ganhou muito eco ao longo do século XX. Hoje já compreendemos, de diversas formas, a importância dos africanos para a constituição das manifestacões culturais, praticas e saberes que en- contramos disseminados pela sociedade brasileira. Nesse sentido, estudar a Africa também investigar parte da formação social do Brasil dessa forma, compreender melhor quem somos. ○ estudo das sociedades africanas antes do processo de escravização americano leva em conta as especificidades dos povos e culturas que se desenvolveram no continente africano. E importante destacar que, alem dos egipcios ○ imagem traz d atriz Elizabeth Taylor, que interpretou Cleopatra em uma montagem de 963. antigos, existe uma serie de outros povoS na Africa, sobre- Vale destacar que Egito foi uma civilização O tudo na região central e mais ao sul, que tambėm merece africana do deserto as caract teristic cas etnicas destaque. Mais que uma exposição retorica e de conteudo, dessa sOCi edade nao foram evadas em conta nessa produção. Uma das evidencias disso eo objetivo da compreensão desse passado tem em vista fato de Cleopatra seri interpretada por uma atriz ○ mapear referenciais que contribuiram para a construção branca. do Brasil. Encontrar na Africa uma das matrizes que ajudaram no processo de formacão do pais significa reconhecer que esses poVos foram protagonistas da historia. A circulação e a transmissão de saberes tendo em vista a relação América- Africa estão de maneira intima ligadas ao passado da escravidão no Brasil. Por IsS0, estudo da historia da Africa nos remete ao século XV e ao periodo no qual os europeus chegaram ao continente americano. 0 que importa saber, de início, é que as sociedades africanas tinham outros referenciais sociais, culturais e politicos, diferentes daqueles dos europeus e associados a civilizações que possuiam as proprias respostas para problemas cotidianos. Dar visibilidade a essas especificidades sera o primeiro passo da nossa jornada** **2. Sociedades africanas** **Toda a extensão do rio Nilo foi um importante palco para o desenvolvimento de civilizações no continente africano. A mais famosa é, sem dúvida, ○ Egito. Suas piråmides e toda a mobilização de mão de obra para a cons- trução de canais e obras monumentais chamam a atenção até os dias de hoje. Essa civilização, entretanto, conecta- va-se e estabelecia intensas relações com o reino Kush localizado mais ao sul, próximo ao atual território do Sudão, O rio Nilo permitia importantes contatos comerciais, e não foram raras as investidas militares de um reino sobre 0 outro para estabelecer o dominio local.** **Concentrando inicialmente o poder na cidade Kerma e depois em Napata, os kushs desenvolveram um sofistl- cado conhecimento de metalurgia, tornando-se grandes exportadores para as regioes dominadas pelos egifocios Alėm disso, madeira, tecidos e pedras preciosas tambémn eram comercializados com povos vizinhos. Dos intensos contatos, desdobraram-se cultos comuns emn relação aos egipcios, dos quais os kushs assimilaram referências cul- turais significativas para seu próprio desenvolvimento,** **seuguun,** **SPI** **2** **Mesmo muitos seculos antes de Cristo quistar territoriose a exercer o poder pormeio de uma espécie de rei, qual erà assessorado por ncbres sacerdo- kushs ja se constituiam em um imcério regional tes religiosos, A defesa do território ficava a cargo de uma força militar que garantia a ordem mcerial por meio do ecando a con- uso da violencia, dominio regional permitiu, inclusive, que os kushs se envolvessern com o comèrcio de cativos, ern geral povos conguistados e vendidos como mão de obra, Toda essa dindmica ros revela a intensidade das relações e organizações africanas construidas mutto tempo antes de os europeus chegarem, na época modema Outra sociedade importante que se desenvyolveu no continente africano fai a do Imgério do Mali, Segundo alguns historiadores, esse foi chamada de mandinga. Perceba que O termo ganhou um significado muitas vezes utilizado de maneira peorativa maior imnpério africano, maie Or ate que o do Egito, A matriz etnicə daquele pOvo era na lingua portuguesa, Originalmente, ele estava vinculado aos grupos que ocupavarn a regido \^orceste do conti- nente africano e se envolviamn com o comércio de ouro, sal, algodáo, amendoirn, cobre, marfim e cativos. As rotas que atravessavam a região do Saara e que integravam o império conectavam diferentes povos, permitindo grande efervescência cultural, Do ponto de vista religioso, o Império do Mali manteve, ern cornuridades agranas. as tradi- ções animistas e politeistas. Posteriormente, parte da região converteu-se ao slarnisrno. A história do Império do Mali durou, aproximadamente, duzentos anos e sucumbiu ern face do avanço do Im- pério Songai, que dominou o territorio ate o século XVII, Essas dinåmicas mostramn a inten- Principais Reinos Africanos (século XaxV sa disputa que pautava as relaçoes entre 8 Julo Mancel França 00 Se próprios africanos, sobretudo em razáo da cir- culação económica. Dominar o comércio pare- cia fundamental para O estabelecimento dos poderes locais, de modo que, quanto maior era D a aquisicão de riquezas, tambem maiores eram as possibilidades de manutenção dos exércitos que garantiam ac ordem politica. Os iorubas, por sua vez. compunham uma etnia linguistica que chegou a abarcar algo perto de 30 milhões de pessoas e ocu- pavam, entre outras regioes, parte da atual Nigéria. Sua organização poltica era marca- da pela descentralização e os poderes locais estavam, em larga medida, associados à di- mensão. religiosa, Entre as principais cidades OCEANO estavam Oyo, Ongo e Osu, as quais também INDI 8 OCEANO se notabilizavam como centros irradiadores ATLANTICO de referência culturais que influenciaram os povos vizinhos. Mais tarde assim como no caso do Império do Mali, o islamismo também assentou raizes na região. Por sua localização, esses povos tiveram um forte contato com os europeus da época moderna, sobretudo em razão da captura e do envolvimento no processo de escravizaçāo americana. Entre as etnias que mais foram vi- Rotas do con nércio tansaarano timadas pelo tráfico estava a nação Nagô, Roino de Gana - séc, Il1-XIl Reino do Mali- c. Xil-VI Grande parte deles foi embarcada em navios Império de Songhal séc. XV-XVI na Costa dos Escravos, uma localidade litorå- Reino de Benin - séc. XIl-XIX nea do Ocidente africano na qual o contato Reino da Congo- s6c. XIV-XV1 000000 5 com comerciantes europeus era intenso. Essa Reinos iorubás a90 1700 Mm Sudaneses Proieçlo Cilindrica informação revela motivo pelo qual existe Bantos uma grande presença de tradições culturais de matrizes iorubas no Brasil. Nesse sentido Fontes: MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporăneo: histórias, izações. São Paulo: Global, 2009. p. 57-87; PARKER, Gootfrey, as pessoas que tinham essas bagagens lin- linguas, culturas e LOVETT, Robert A. Atlas verbo de história universal Lisboa: Verbo, 1997 p.54-55; guisticas e culturais atravessaram forçada- HERNANDEZ, Leila Leite. A Africa na sala de aula: visita a histônia conter mporânea. Sáo Paulo: Selo Negro, 2005. p. 34, 41 Adaptaçbo. mente o oceano Atlântico e contribuiram para a formação do Brasil tal como o conhecemos** **3. O contato com os europeus na era moderna** **Fo no contexto da Expansão Marítima desenvolvida por Portugal que diversos reinos africanos pas- saram a estabelecer um contato comercial mais direto com a Europa. A primeira conquista portuguesa se deu em 1415 e ao longo de todo século XV, foram realizadas diversas viagens e conexões com regiões litoraneas, na medida em que o continente africano era \"contornado\" pelos portugueses.** **Entre os povos e as culturas com os quais os portugueses entraram em contato estava o Império do Congo. Em 1483** **O navegador Diogo Cão conseguiu avançar no interior do continente por meio do rio Zaire, tomando conhecimento desses habitantes de regiões afastadas do litoral. Cão encontrou um governo monår- quico centralizado fundado no século XIV e que era composto, majonitariamente, de africanos da etnia banto. ○ rei contava com o auxilio de diversos membros da nobreza, que atuavam como administradores lo- cais, repercutindo o poder da autoridade e submetendo as populações locais. A cidade de Mbanza consti- tuia o principal centro administrativo e comercial e foi uma região conhecida pelos portugueses. Dos itens** **Turistas visitam os registros do século XIV que evidenciam a presença portuguesa na África: o Cabo da Cruz localiza-se na atual Namibia. As cruzes simbolizam que a expansão foi tambėm cultural, na medida em que fazia a fé cristā circular em plano transnacional.** **P comercializados estavam o sal, metais preciosos, tecidos, sendo o método mais utilizado a troca, sobre- tudo pelo fato de se tratar de uma sociedade desmonetarizada, Posteri, lormente.com at chegada de mis- sionários portugueses, diversos membros da administração congolesa converteram-se ao cristianismo A aproximação entre Portugal e o Imperio do Congo produziu outra dinåmica signifi icativa para a his- tória do Brasil, Tendo em vista uma série de conquistas territoriais desenvolvidas com forte aparato militar, os congoleses mobilizavam uma organização capaz de capturar merbros de comunidades vizinhas, as quais eram submetidas e deslocadas para a venda aos europeus corno mðo de obra cativa ○ trabalho cativo desses africanos era utilizado ja no século XV como ferramenta para producão agricola \'em localis como a ilha de São Tomé e Principe Paulatinamente, teciam-se alianças que, de maneira mais ou menos estável, seriam responsáveis por abastecer as demandas produtivas no continente americapo. Comeca então a história do tráfico atlântico na Idade Moderna, ○ uso da mão de obra cativa em São Tomé e Príncipe estava associado à produção de cana-de-açúcar, Segundo alguns historiadores, por volta do início do seculo XVI, a dinâmica criada pelos portugueses já es- tava razoaw relmente consolidada. O comércio de cativos com reinos africanos litoraneos, comfo o Império do Congo, abastecia as lavouras de açúcar, viabilizando uma estrutura produtiva que facilitava \'a exportação do produto para a Europa, onde esse bemn era muito valorizado. Nessa altura, o açúcar já fazia parte da dieta em vårias regiões, de modo que a demanda diária criava condições para que os navios mercantes depositassem a producão em diversos portos europeus. Algumas estimativas indicam que, nesse contexto, São Tomé e Principe era responsável por 3 000 toneladas métricas da produção atlântica de acýcar. Quando a producão foi deslocada para América (em especial para o Brasil) e-maximizada, a demanda pela mão de obra escravizada aumentou. Importante destacar um ponto essencial de nossa analise. já existiam formas de escravidão na Africa e os portugueses não foram, ao longo do tempo, os grandes responsáveis por se dirigirem até as tribos africanas com o intuito de reduzir a populacão ao cativeiro. Apesar de nos séculos XV e XVI os lusitanos terem feito incursões em cidades e tribos africanas, tê-las pilhado e escravizado suas populações, os portugueses se notabilizaram por estabelecer feitorias no litoral e influenciar na politica interna dos povos africanos, acirrando contendas preexistentes que, em última instância, lhes permitiriam vantagens comerciais e oferta de mão de obra cativa para a produção em expansão, criando, consequentemente, meca- nismos mais sofisticados de capturas. Dessa forma, africanos conquistadores capturavam tribos mais fracas, cujas populacões eram des- locadas até o litoral onde havia comércio com os europeus. Em geral, esses europeus compravam essas pessoas com produtos de troca, como fumo e aguardente. Depois do em- barque, os cativos eram vendidos nos lo- par cais de produção e submetidos pelas forças locais a jornadas de trabalho extenuantes ○ esgotamento fisico e mental levava a mui- tas mortes, fato que, paradoxalmente, retroa- limentava o sistema, visto que novos escravi- zados eram necessarios. Gra ○ tráfico de escravos nasceu tendo em VIs- ta uma lógica comercial, uma vez que os africa- nos capturados eram vistos como mercadoria oU, na linguagem juridica da época, bens \"se- moventes\", como eram considerados também os cavalos, bois demais animais de tração Nesse sentido, é correto dizer que eles não possuíam quaisquer direitos, nem condições de reivindicar melhores tratamentos para uma existência mais digna. uso sistematico da vio- lência fazia das populações africanas captura das vitimas de agressões, humilhações, maus- -tratos e penúrias das mais variadas. Alem da questão fisica, não raro o estresse psicológico levava muitos a cometer suicídio, pelo fato de ○ Nessa ilustração do século XVll, africanos capturados estào se recusarem a se submeter a tais condições. sendo conduzidos para uma embarcação de tráfico.** **665** **Ciências Humanas** **\[23:16, 26/11/2024\] Gledson: que OS indioenas: diferentemente dos segundos, os primeiros estavamn em um amibiente completamente des- Éimportante ter em mente que os africanios tinham menos recurso para resistir ao trabaho compulsorio do conhecido Tamibem é necessario saber que ainda que não fosser OS principais personagens da captura no in- terior da continente africano, foram as articulacões europelas que instituiram as grandes demnandas pelo trafico atlsntico. No seculo XVI, era comum os europeus justificarern a escravidão dizendo que ela existia na Africa e que apenas estava sendo transportada para o mundo cristão., Dessa maneira, eles negavam a sua participacao nesse processo sistemnático de violéncia e desumanizaçáo,** **4. Africanos no Brasil Importante destacar que o Brasil, em especial o Rio de Janeiro, foi o principal porto na América a re- ceber africanos escravizados. Alguns estudos recentes estimam um total de 5 milhões e 800 mil pessoas trazidas pelo tráfico, 0 destino mais comum eram as lavouras de cana-de-açúcar, dinámica económica que estudaremos nos próximos capítulos, Para além do ambiente agrícola, diversas ocupações no meio urbano também recebiam o contingente africano, Dessa forma, a partir do século XVI, paulatinamente, a sociedade brasileira foi se configurando com uma ampla presença de pessoas africanas, Por isso, fica claro quando estudamos a composicão social atual do Brasil o motivo pelo qual mais da metade da populacão se autodeclara negra ou parda. Isso equivale a mais de 100 milhões de pessoas. Trata-se do resultado de uma realidade escravocrata que, sustentada no tráfico atlántico, durou mais de 300 anos. Os historiadores têm se debruçado em compreender quais foram as contribuicões dos africanos para a formação da cultura brasileira. Esses estudos são importantes, pois durante muito tempo essa perspectiva foi negligenciada. Um dos pontos de partida é compreendermos que o contingente de pessoas trazidas para cá era parte de diferentes grupos étnicos e tinha variadas referências culturais. Não havia, assim uma única cultura africana, mas culturas africanas. Do ponto de vista religioso, exemplo, bantos, nagôs e jejes contribuiram fortemente para a formacão de crenças que deram origem por a religiões afro-brasileiras, comno o candombié e a umbanda. ○ culto dos orixás revela esse ponto de contato entre os dois continentes. Além da religião, existem diversas contribuições linguísticas que as matrizes africanas trouxeram até o Brasil. Entre os dialetos que mais repercutiram no portugues ganham destaque o quimbundo, o quicongo O umbundo, sobretudo com base na etnia banto. Palavras como abadá, caçamba, caçula, caxumba, den- go, fubá, marimbondo, miçanga, moleque, quitanda, banguela e cambada são alguns exemplos concretos de termos que foram assimilados no uso cotidiano. Portanto, a riqueza da lingua falada no nosso pais também se deve à cultura africana.** **○A presença dos negros no cotidiano da sociedade brasileira foi capturada pelas pinturas de Jean Baptiste Debret. O artista frances legou uma série de obras que retratam o Brasil do século XIX.** **articular** **Cincas Humanas** **5. Invenções africanas: agricultura, metalurgia, artesanato e tecelagem As milhares de pessoas escravizadas na África que foram trazidas nos navios de trafico para Brast carregaram consigo toda a dimensão cultural construida ancestralmente. Suas práticas, seus valores e triz por meio da qual se formaram vários aspectos da cultura brasileira Destacaremos quatro caracteris- suas tradições foram transmitidos e ressignificados em solo americano, constituindo uma importante ma- ticas dos povos africanos que, em diversos momentos, foram encaradas como inovações proprias significativas em seu processo de contato com OS europeus. produçbes P primeira e a prática agrícola AO associar essa atividade produtiva ao continente africano, O poten- cial dos rios deve ser considerado, mais famoso, sem dúvida. foi rio Nilo, cujas margens permitiram ○ O uma fertilização natural que potencializava a produção agrícola. Desde a Antiguidade, Nilo chamou O atenção de civilizações não africanas, como OS romanos; por ISso, a região foi de maneira recorrente O0- jeto de disputas. Nilo não fo único r1o importante viabilizar agriculturə, O rio Congo, tambêm cha- D Entretanto O mado de rio Zaire, deságua no oceano Atlântico e, por ser navegável, permitiu grande contato entre sociedades africanas do interior do continente. A integração regional que potencia hídrico permitiu potencializou as trocas comerciais de produtos agricolas, sobretudo vinculando DOVOS abastecidos pelos seus afluentes. Um significativo indicio do desenvolvimento da agricultura local tem sido encontrado pela Arqueologia em forma de cerâmicas e recipientes de argila** **○ Famfia de pescadores no rio Congo. Até os dias atuais, e garantindo a sobrevivência de diversas comunidades ribeirinhas potencial de pesca e navegação é utilizado, Além da agricultura, nas regiões ocupadas pela etnia banto. achados recentes demonstram que desde ○ século VI a. C. a metalurgia estava presente nos instrumentos utilizados no cotidiano.Com ○ passar do tempo essa tecnologia foi utilizada para a produção de ferramentas e armas, comprovando a sofisticaçao cultural africana que chamou a aterie e fornos de fundicao. laola Esas inovações fo- atenção de muitos europeus no periodo moderno. Os arqueólogos argumentam que existiam muitas olarias e fato que permitiu grande produção metalúrgica e, por consequência, eficiência maior na produção agricola. demográfico a partir desse periodo.** **Ciéncas Humanas** **Em algumas regioes, conhecimento técnico da forja de ferro era algo muito valioso e passado de geração em geração. O controle sobre esse saber tornava a formacão de um novo artesao um ritual de iniciacão. O trabalho com a metalurgia associava-se, desse modo, aos aspectos religiosos que orientavam a sacralidade de algumas sociedades. Os ritos de passagem no processo de formacão e continuidade da tradição faziam com que, aos poucos, os neofitos dominassem a arte de construcão de facas, enxadas, pontas de flechas, lanças, machados e navalhas,** **○ Gravura do século XIX evidenciando ferreiros africanos produzindo em uma forja. A técnica de injetar ar no fogo tinha o objetivo de ampliar a temperatura para que fosse possível derreter e manipular o metal com maior facilidade. O costume de associar saberes técnicos à dimensão religiosa iniciática também era evidente no arte- sanato. Entre os povos que compunham o Sudão Ocidental, as atividades artesanais constituiam elemen- tos de distinção social, na medida em que determinados saberes estavam vinculados a familias especificas não eram compartilhados com outros grupos. Segundo o cientista politico senegalės Pathé Diagne, \"acontecia de as mulheres ou alguns grupos de idade serem especializados em certos tipos de profissóes (como o trabalho com metais, madeira e couro)\"., revelando que, além de uma configuração de hierarqul- zação social, as distinções de gênero também pautavam as produções artesanais. Em algumas regiões, ○ Estado assumia o controle das produções, normatizando preços e controlan- do o comércio daquilo que era produzido. Isso era possivel pois, ao mesmo tempo em que havia uma forca militar significativa, administradores públicos monopolizavam as frotas de canoas e o acesso aos entrepostos mercantis. Parte do comércio que atravessava rotas saarianas estava associado à elaboraçao artesanal do ouro e da prata. A cunhagem de moedas ou a confecção de joias movimentava a pujança econômica de regioes como o atual Marrocos, chamando a atenção dos europeus e de outros povos. Na esteira desse processo, também se destacou, em muitos locais espalhados pelo continente afri- cano, a fabricação de tecidos. A tecelagem pode ser entendida como ○ domínio de técnicas capazes de transformar fibras vegetais em fios que, posteriormente, são manipulados para a criação de tramas que formam tecidos. As diferentes geometrizações, cores e tamanhos compunham um referencial identitario significativo. Os povos, famílias e regiões assumiam técnicas e estilos próprios, a ponto de, em determina- dos mercados, serem facilmente reconhecidos.** **sleção** **Aiguns especialistas argumentamn que as cores. por exemplo, eram produzidas com recursos vege- tais locais; por isso, dadas as especificidades da flora tons especificos surgiam. As caracteristicas do solo, a irrigação e o clima determinavam as propriedades das plantas utilizadas, por isso tais tonalidades eram praticamente impossíveis de serem copiadas. Somente com ○ recurso das impressões eletrónicas, já nos tem- pos atuais, é que estampas étnicas africanas começa- ram a ser reproduzidas em larga escala pela indústria de roupas no Ocidente. Em algumas regiões do centro africano, a tecela- gem de tapetes foi a principal atividade econômica durante muitos séculos. No Congo, os fios utiliza- dos eram feitos da ráfia, uma espécie de palmeira Tal método foi utilizado entre os séculos XV e XIX. A produção do algodão, por sua vez, foi implantada no Zimbábue no século XVI e permaneceu até mea- dos do século XVIIl.** **1003 Afriqus OocMa** **○ A imagem do comeco do século XX mostra algumas mulheres de Burkina Fasso. A sofisticação das técnicas de tecelagem pode ser observada em suas vestimentas.** **\[23:21, 26/11/2024\] Gledson: 6. A expansão islâmica na África A história da expansão islâmica pelo continente africano está diretamente vinculada com surgimen- to dessa religião no século VII. Após a morte do profeta Maomé, a noção de guerra santa mobilizou sig- nificativos contingentes militares em busca de terras agricultáveis. A chegada dos exércitos islâmicos ao contatos com comerciantes oriundos de regiões entre as quais estava a do Império do Mali.De maneira norte da África se deu entre oS séculos VIl ○ VIl. Tão logo houve a fixação nessa região, desdobraram-se gera podemos afirmar, seguindo ○ historiador queniano Bethwell Allan Ogot que Os propagação do isla- mismo esteve portanto, associada a dominação política\" Islâmicos que se engajaram nesse intenso comércio foram responsáveis, inicialmente pela circulação e crenças associados ao profeta Maomé. Nesse sentido, OS contatos econômicos também dos valores repercutiam relações culturais. AOS poucos, a atenção dos povos islamizados foi sendo atraida para as regiões subsaarianas. Outro grande fluxo de religiosos se deu para a região do Sudão. graças também aos movimentos dos comerciantes nômades. A presença do islamismo marcou uma fronteira cultural entre OS sudaneses do norte e do sul, fato que levanta problemas e tensões até OS dias de hoje.** **Túnis.rgel eKayrawän MAR) MEDITERRANEO Cairo MAGREB Tripole Z e S LIBIA EGITO Nile AB MAR V Medina Meca O SAARA FEZZAN lengola ydhab MELH de KAWÄR KÄNEM** **ASIA.Damasco SiRIA IRAQUE Bagda** **Conexões e tramas** **Expansão do Islamismo na África Juto Manoel França da Silva EUROPA anger** **Como foi estudado no quarto bimestre do 6 ano, ○ islamismo é uma religião monoteista criada com base na revelação recebida pelo profeta Maomé no século VII. A divindade denominada Alá, é o criador, e sua verdade encontra-se no livro sagrado chamado Alcorão Entre os princípios que regem essa crença está a necessidade de realização de orações diárias** **AHEL TA** **Historia** **Essas trocas comerciais se tornaram uma das principais fontes de riqueza dos islâmicos do norte da África o propno imperio do Mali contou com lideranças islamizadas, entre as quais se destacou Mansa AOS soonod Muça Mansa significa \"rei\" o poder construido por Muça abarcava parte significativa da África ocidental. En- te seus teitos mais notaveis esteve uma peregrinação até Meca em 1324, a qual contou com a presença de mais de 50000 homens e dezenas de milhares de escravos. Vale destacar que Mansa Muça não cami- nhou ate a cidade sagrada, mas foi carregado por arautos que o conduziram atravessando grande parte do deserto do Saara.** **As reg ðes islâmicas se notabilizaram pela exportação de ouro, chamando a atencão dos portugueses va medioa em que os contatos entre esses povos se estreitaram, os europeus foram paulatinamente se engajando no comércio de cativos. Por esse motivo, foi relativamente comum o fato de muitos escravos que eram transportados pelos navios negreiros e vendidos nas lavouras americanas como mão de obra serem praticantes o Islamismo** **@ (A) Pau-brasil plantado em Brasília, proximo aos ministérios, e (B) pau-brasil plantado na praça da Independência em João Pessoa, na Paraiba** **A presença do pau-brasil em regiões espalhadas pelo Brasil é simbólica Ao plantar e valorizar a pre sença dessa espécie em praças e próximo a monumentos, as autoridades reconhecem sua importância histórica, pois tratou-se de um dos primeiros interesses portugueses na América no século XVI. Atualmente sua exploração é proibida por lei, o que cria mecanismos de preservação que tentam evitar sua extinçáo, Reconhecer o pau-brasil como espécie importante para a história do Brasil significa compreender que as dinâmicas comerciais do início da colonização foram momentos significativos para a construção do pais. Ao mesmo tempo em que diz respeito à exploração da mão de obra e ao extermínio de populações nati- vas, esse processo também contribuiu para solidificar a presença portuguesa na América. 0 interesse pelo pau-brasil, portanto, contribuiu para a construção social e econômica do pais tal como conhecemos hoje g Com suas palavras, explique qual é a importância do pau-brasil para a história do Brasil..** **Na sua opinião, por que os portugueses do século XVI se interessaram pelo pau-brasil? Como você acredita que ocorreram as primeiras interações entre portugueses e indigenas no que diz respeito à extração do pau-brasil?** **Habilidades** **Clências Humana\"** **1. Periodo pré-colonial e capitanias hereditárias Apos a tomada de Ceuta em 1415, a presença portuguesa tornou-se constante no litoral africano, na medida em que caminho para o comercio de especiarias orientais ia sendo desvendado. Foi em meio a esse processo, que o rei dom Manuel nomeou Pedro Alvares Cabral como lider de uma viagem oficial para as Indias. Contando com uma esquadra terstock com mais de mil homens, os navios deixaram Lisboa no dia Giranger/Sh 8 de marco de 1500. Como descreve Pero Vaz de Caminha, responsável por produzir uma narrativa da viagem, no dia 21 de abril a esqua- dra encontrou \"alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas\". Caminha relata: \"neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramen- te dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chā, com grandes arvore dos: o monte alto o capitão pôs nome - o Monte Pascoal e à terra - a Terra da Vera Cruz\", Tratava-se da terra que um dia seria chamada de Brasil. A chegada de Cabral significou a chegada oficial ao que hoje é o Brasil, A questão é que essas terras eram um entre- posto, ou seja, um ponto de parada para chegar ao destino final da viagem: as Indias, Do ponto de vista dos europeus, 1500 ficou conhecido como a data do \"descobrimento\". Já Cabral tales formal possesion of Brazil sabemos que. do ponto de vista das tribos nativas, tratou- Alegoria da chegada de Pedro Álvares Cabral a 9 América pintada no seculo XIX. A despeito das -se de uma invasao. Essas diferentes interpretacões são idealizações, fato certo e que já nesse contexto importantes, pois mostram perspectivas distintas sobre um houve um grande contato dos portugueses com mesmo evento histórico. comunidades nativas que ocupavam o litoral. Seja como for, a data da chegada da esquadra de Cabral significou o inicio de um contato oficial entre Portugal e as terras americanas. Entretanto, como a prioridade do governo português estava vinculada aos interesses com relação ao comércio das especiarias orientais, não houve, de imediato, um processo coloniza- dor. Dessa forma, as primeiras décadas após 1500 marcam o que ficou conhecido como período pré-colonial. Esse relativo desinteresse está, provavelmente, relacionado a uma pista que o proprio Pero Vaz de Caminha nos dá ao afirmar: \"não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro\". A ausência de metais preciosos, portanto, pode ser considerada um motivo que explica o desinte- resse inicial dos portugueses em se fixarem definitivamente nessas terras. Esse fato, entretanto, deve ser relativizado, pois o recurso existia no interior do território, somente não era manipulado pelos nativos, uma vez que eles não dominavam a metalurgia. Apesar do relativo desinteresse, durante o periodo pré-colonial já começaram algumas articulacões para exploração de elementos que pudessem prover lucros a Portugal. Nesse caso, que chamou a atenção lusitana foi, sobretudo, o pau-brasil. Trata-se de uma arvore que permite a extração de uma tintura vermelha (cor de brasa, dai o nome), além de a madeira ser muito utilizada como matéria-prima na fabricacão de mó- veIs, oor exemplo O mecanismo utilizado para sua exploração foi estabelecer escambo com OS nativos, OU O seja, um sistema de trocas no qual os europeus forneciam quinquilharias para receber as årvores cortadas. Essa exploração nOs aponta que, desde o início, o meio ambiente foi explorado de maneira predatoria. Hâ certo consenso entre OS historiadores de que Portugal na América. Percebendo as relativas facilidades com O escambo desse ponto de passagem no pau-brasil foi a primeira riqueza explorada por comércio com as Índias, a Coroa portuguesa determinou que somente poderia explorar esse recurso concessão foi dada a um homem chamado Fernando de Noronha, o qual, atualmente, da nome a um ar- quem ganhasse sua autorização Para adquirir esse beneficio era precIso pagar um imposto. A primeira quipélago vulcánico que fica próximo do Nordeste brasileiro Tão l0go ds noticias da presença ibérica no Novo Mundo circularam na Europa, começaram as hosti- testamento de Adão que dividiu mundo entre Portugal e Espanha e me excluiu da partilha A referência lidades. b principal delas vinha do rel da França, Francisco I. Ele afirmava: Gostaria de ver clausula do do francès era em relação Jo Tratado de Tordesilhas. tratado entre Portugal e Espanha mediado e egrt- uma inha imaginānia que passava a 370 leguas de Cabo Verde de modo que territorio D oeste dessa mad0 pela Igreja catolica que garantia d presença dos paises ibéricos no continente americano traçava Espanha e a leste da linha seria de Portugal. linha seria pertencente O O grande recelo de Portugal em relaçao a esses questionamentos era a mobi lização de forças nvasoras. Nes- Se contexto, algumas informacões que chegavam Corte diziam que ja havia negociações entre outras nações europeias com comunidades nativas. Para começar a estabelecer uma presença mais solida na Arerica que pudesse garantir a defesa do territorio, a Coroa lusitana articulou a primeira forma sisternatica de colonzaçao sistema de capitanias Mapa das Capitanias Hereditárias Desse modo, em 1534, foi criado O hereditárias. P estrutura administrativa era composta da di- VISão do territorio em lotes de terra entregues pelo rel por- conforme referência tugues a membros da Corte que tinham ○ poder de passar essas terras aos seus descendentes. No total eram 14 capi- tanias divididas em 15 lotes, sIstema que OS portugueses já MARANHÃO França da Silva \"MARANHÃO haviam estabelecido em algumas ilhas do oceano Atlântico. Essas pessoas recebiam a carta de doação documento que CEARÁ garantia sua propriedade sobre O território. Os capitäes dona- \'RIO GRANDE tários. termo dado a quem recebia um lote, tinham respon- sabilidade de fundar povoados, cobrar impostos e defender o \'ITAMARACÁ Julio territorio contra invasões inimigas. A ideia da Corte era clara. PERNAMBUCO A estratégia permitiria transferir os gastos de defesa para par- AER** **IDIANO DE TORD SILHAS ticulares, não onerando os cofres do Estado. BAIA DE TODOS-OS-SANTOS Entre os direitos atribuidos aos recebedores das terras estava a possibilidade de realizar a escravização das comunidades nati- ILHEUS OCEANO ATLANTICO vas, aplicar a justica e doar sesmarias, A sesmaria era uma porção de terra que era doada no interior de uma capitania. Entre oS ob- PORTO SEGURO jetivos estava a pretensão de dinamizar a ocupação do território americano, fato que facilitaria sua defesa perante os interesses de ESPÍRITO SANTO outras nações europeias. A primeira sesmaria no Brasil foi doada ao portuguės Pedro de Góes por Martim Afonso de Sousa. ISÃO TOMÉ Limtes das capitanias Capitanias que \'SÃO VICENTE A Coroa portuguesa esforcou-se para estabelecer alguns prosperaram SANTQ AMARO Caoitanias cue não privilégios que contribuiram para a manutencão de lucros ao Es- \'SÃO VICENTE prosperaram tado. Nesse sentido, no início foi estabelecido o monopolio sobre SANTANA 35 000 000 a exploração do pau-brasil e sobre as \"drogas do sertão\" (como Am eram chamadas as especiarias americanas, como castanhas, pi- Proiecbe Clindrica mentas, frutas e raízes). Sobre a produção agricola, a Coroa esta- belecia 10% de impostos com base nos resultados agricolas nas Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1996. corunidades recém-formadas. Como a fiscalização recaia sobre os próprios capitães donatários, não havia uma grande pressão das autoridades portuguesas em relação aos novos moradores da América. Outros fatores que dificultavam a cobrança dos impostos eram a pirataria e o contrabando, que se constituiram em práticas recorrentes para se estabelecerem ganhos locais. Nesse sentido, podemos dizer que a condução administrativ...** **\[23:25, 26/11/2024\] Gledson: AS representacões do sistema das capitanias hereditárias geraram alguns dos primeiros registros cartograficos realizados por Portugal no Brasil. A apropriação do território passava pela identificação e organização oos lotes de terras, os quais, pelo menos em teoria, deveriam obedecer a uma geografia de fronteiras muito precisa, Nesse sentido, a Corte determinou suas dimensões e limites. Observe com stenção os mapas que revelam diferentes representações das capitanias e depois, faça o que se pede Se tentrio Coleção particular E Cireakas feu Linee Xqu inochalis IARE** **Viagem no espaço SESLE-OPHO.s.30** **conhecer e conquistar outros territórios, de modo que muitas cidades fundadas pelo interior foram produtos dessa investida. Em geral, eram grupos de homens armados que, entre outros objetivos, visavam encontrar produtos que poderiam ser comercializados, entre os quais estavam as årvores de pau-brasil, além de capturar indgenas para trabalho compulsório. Reconhecimento e conquista foi um binômio que marcou as relacões entre europeus e nativos ao longo da colonização. Nesse sentido, o percurso do estabelecimento da autoridade portuguesa na América foi marcado pelo uso sistemático da violência,** **Historla** **2. Governo-geral** **Apesar dos esforcos da Coroa, o sistema de capitanias hereditárias não foi bem-sucedido. Entre cs fatores que marcaram fracasso desse sistema podemos citar, inicialmente, a falta de interesse e recursos dos capitäes donatários. Investir em um empreendimento na-América era muito.arriscado à época, pois se tratava de uma região pouco conhecida, cujos desafios faziam os europeus encararem o processo com mui- tas dúvidas. Imagine uma região na qual ainda não existem cidades, estradas, mercados e quase nenhuma infraestrutura que ajudasse a viabilizar a fixação. A vida na Europa parecia mais fácil e menos arriscada ○ que também contribuiu para ○ desinteresse dos nobres que recebiam uma capitania era a distáncia em relação a Portugal. Naquela época, a viagem maritima entre Lisboa e o litoral da Bahia durava, apro- ximadamente. très meses. Isso significa que eram três meses morando em um navio. Vale lembrar que a falta de água, de alimento, as frequentes tempestades durante as viagens afetavam profundamente as travessias transoceânicas. Sem contar as doenças comuns nessas viagens, como o escorbuto, causado pela escassez de vitamina C no corpo. Enfrentar esses desafios não parecia estar nos planos de grande parte da nobreza portuguesa** **AS noticias sobre ataques dos povos nativos que não aceitavam a invasão europeia também circule- vam na Corte. A compreensão que se fazia sobre esses povos era a de que se tratava de bárbaros que desconheciam qualquer princípio de organização e civilidade. As práticas antropofágicas, sobretudo dos Tupinambá, alimentavam a imaginação sobre uma terra sem leis e com grandes perigos. O receio de so- frer com a violência dos nativos aumentava desinteresse dos portugueses, na medida em que não havia como esperar ajuda militar imediata da Corte, pois ela poderia demorar, aproximadamente. seis meses para chegar: três meses de viagem até Portugal, e mais três para voltar ao Brasil com ajuda As próprias invasões estrangeiras também afugentavam os portugueses. Para um nobre do século XVI, não parecia positiva a ideia de migrar para o Novo Mundo a fim de defender ○ território contra outros povos europeus. Esse tipo de confronto não fazia sentido para essas pessoas, pois se tratava de defender um território estranho, com ○ qual não se tinha nenhum tipo de ligação afetiva.** **○ fracasso das capitanias hereditárias, entretanto, não foi generalizado, pois existiram duas excecões, Pernambuco e São Vicente foram as duas regiões no início da colonização portuguesa que conseguiram ser razoavelmente bem-sucedidas. Os motivos que explicam esse fato são variados.De maneira geral, os historiadores argumentam que essas regiões já começaram a desenvolver a producão de cana-de-açucar em engenhos localizados no litoral. A introdução dessa cultura foi realizada por Martim Afonso de Sousa tendo em vista uma relativa experiência produtiva nas ilhas atlânticas. Desenvolveremos mais esse tema no próximo capítulo; mas por ora, ê importante destacar tão somente que essa prática econômica viabi- lizou uma dinâmica comercial favorável ao desenvolvimento local.** **O São Vicente, no litoral paulista, foi uma das primeiras cidades formadas pelos portugueses na América. A história local foi marcada por conflitos e tensões contra a população nativa.** **\[23:26, 26/11/2024\] Gledson: Ciencias Hurnanas** **82** **Ao mesmo tempo em que a produção acucareira ganhava impeto, Pernambuco e Sáo Vicente foram regiões nas quais foi possível estabelecer um contato minimamente pacifico com os indigenas. Isso náo significa dizer que não existiu conflito, mas que eles não foram tão contundentes quanto em outres re- giões do território, O relativo bom relacionamento tornava mais fácil o direcionamento das forças portu- guesas estabelecidas para a dimensão econômica ligada ao açucar. Mesmo com essa força nas duas regiðes mencionadas, ficou claro para a Corte portuguesa que era preciso uma reconfiguração das estruturas administrativas coloniais. A medida politica adotada tentou corrigir os erros das capitanias e foi marcada pela centralização do poder. ○ governo-geral, como ficou conhecido, foi estabelecido em 1548, com base nos esforços do rei dom João Il1. Importante dizer que as capitanias continuaram existindo, mas não com autonomia administrativa criada anteriormente al- gumas eram administradas diretamente pela Corte, por isso eram chamadas de capitanias reais. Nesse momento, Salvador tornava-se a capital por meio da qual o poder seria irradiado. A autoridade colonial, ○ governador-geral, era escolhida diretamente pela Corte e teria a responsabilidade de administrar todos os aspectos da soberania nas terras americanas. Para ajudar ○ governador-geral, alguns cargos administrativos foram criados. Entre eles, destacam-se ○ ouvidor-mor, responsável pela justiça, provedor-mor, responsâvel pelas questões financeiras, e o capi- tão-mor, responsável pela defesa do território. Todas as pessoas que assumiam esses cargos, em parceria com a autoridade máxima do governador-geral, eram responsáveis por organizar politica, económica e militarmente a colônia. Eles eram responsáveis por criar mecanismos que incentivassem a produção de açúcar, proteger as regiões litorâneas e enviar a Portugal os impostos coletados. Os três primeiros go- vernadores-gerais que atuaram na América foram Tomé de Souza (1549 a 1553). Duarte da Costa (1553 a 1558) e Mem de Sá (1558 a 1572). Várias das iniciativas produzidas pela presenca desses três primeiros governadores serão estudadas no próximo caderno. Nesse momento precisamos enfatizar que parte do poder nas localidades era tam- bém estabelecida pelas câmaras municipais. Essas instâncias de autoridade local eram administradas pelos \"homens bons\", termo utilizado na época para designar uma elite política branca. Analogamente,. e como se essas pessoas fossem uma espécie de prefeitos locais.** **9, A praça Tomé de Souza está localizada no centro histórico de Salvador, na Bahia, Nela, existe uma estátua do primeiro governador- -geral do Brasil. Esse fato nos revela como os personagens históricos são utilizados para dar sentido aos espaços urbanos.** **3. Mercantilismo e colonização damos que o processo de colonizacão efetiva do Brasil comecou com o sistema de capitanias co tanas e. depors, passou para a ordem do governo-geral. Politicamente, tratou-se de um movimen- ○ Gue desembocou em uma centralização do poder. Do ponto de vista econômico, de maneira geral, a ‣ remica de exploração começou com a extração de pau-brasil e caminhou em direcão à inser Cão da a.tura produtiva da cana-de-acucar. Em ambos os processos estamos diante de mecanismos criados pel○ Estado portuguės, feitos tambêm para atender a seus proprios interesses. Pode-se aizer que a produção economica no Brasil durante esse periodo foi fundamentada pelo pacto colonial ou exclusivo comercial. Nesse sistema, Q metrópole. Portugal, era centro de todas as decisões R soeito da colônia. Seus designios, em geral, tinham o objetivo de manter a colonia em uma cadeia de cão e dependėncia que favorecesse os seus interesses pol liticos e economicos Dessa forma, era proi- e ○ 00 que os portos coloniais recebessem navios não autorizados de outras nacões. Em sintese, a colonia a so podenia estabelecer relações econòmicas com a metrópole: ela devia vender OS seus produtos agrico- as a precos baros para Portugal o comprar produtos manufaturados e trabalhadores cativos africanos retamente dos comerciantes portugueses a preços elevados. O** **Pacto colonial Exclusivo comercial)** **Produtos manufaturas Escravos** **Metrópole Portugal** **Colônia Brasil** **Gêneros tropicais Matéria-prima** **Tal dinámica de relacionamento constituia -dos fundamentos do mercantilismo. Essa \_ Compreendendo o conceito realidade económica era a marca central da De maneira mais ampla, extrativismo significa a organizacão ordem financeira dos Estados modernos euro- de mecanismos que viabilizem extrair da natureza os recursos que ela oferece aos homens. Entretanto, devemos diferenciar a peus, os quais se esforçavam em criar formas exploraçao vegetal, animal e mineral. As très formas ocorreram de manutenção do Estado. A colonização, nesse durante a colonização portuguesa e configuram processos sentido, fundamentava-se em formas de contro- distintos., 0 extrativismo vegetal pode estar associado a e que garantissem O. monopolio dos produtos agricultura, já 0 animal à pecuária. Por fim, ○ mineral ocorrerá mais no interior do território, atingindo o auge entre os séculos comercializados nas regiðes dominadas. ○ mer- XVIl e XVI. cantilismo, portanto, alicerçava-se no pacto co- onial e nas operações administrativas que via- oilrzassem lucros para 0 Estado.De maneira geral, a exploração colonial portuguesa girou em torno do extrativismo, da agricultura e da pecuária. Cabe destacar, inicialmente, que, mesmo antes de os portugueses utilizarem a terra com objetivos exploratórios, os povos nativos tambem praticavam as próprias formas de extrativismo. Como estu- damos nos capítulos anteriores, várias tribos queimavam porções da vegetação para estabelecer seus roçados e plantações. A diferença é que a prática desenvolvida pelos portugueses foi mais agressiva por amplificar o processo. ○ extrativismo predatório, portanto, marcou muito mais a lógica de exploração europeia na América. Coma estudamos, ○ primeiro produto utilizado pelos portugueses para fins comerciais foi o pau-brasil. extração das árvores dependia do escambo com os nativos, pelo fato de eles conhecerem a floresta e, portanto,\_saberem onde as árvores estavam. Nesse sentido, não havia uma racionalização da plantação de arvores de pau-brasil para o corte posterior. A ideia inicial era se servir da oferta que havia na própria nētureza. Parte desse desmatamento afetou regiões da Mata Atlântica. Ao longo do desenvolvimento da colonização, os portugueses ampliaram a capacidade extrativista. S0\" bretudo no século XVIll com a mineração. Vale lembrar que os metais preciosos não foram encontrados ogo no século XVI, por ISSO O estudo sobre essa prática será mais bem elaborado no próximo caderno.** **Entretanto, nesse momento, interessa-nos compreender que a exploracão de metais preciosos foi uma prática de- História senvolvida em regiões do interior, e não no litoral. Esse fato Ed rdo Santos/fickr/Creative Commons 2.0 e significativo, pois marca duas diferenças no extrativismo colonial. A prática estabelecida no litoral estava relacionada ao corte de pau-brasil, a desenvolvida no interior esteve vin- culada à exploração de metais preciosos. despeito das diferenças uma semelhança não pode passar despercebida. Em ambos os casos a Coroa portu- guesa estabelecia um forte controle sobre os resultados da extração, com a intenção de fomentar a cobrança de impos- tos. Essa dinâmica de fiscalização era fundamental para a ordem econômica metropolitana. Nesse sentido, podemos dizer que os monopólios mercantilistas orientavam o desen- volvimento das formas extrativistas coloniais. Todas essas práticas contaram com muitas tensões com as populacões nativas para acontecer, e não raros foram OS conflitos. O extrativismo vegetal ocorre no Brasil ate OS dias D agricultura foi outra atividade econômica desenvol- atuais Um dos grandes proble emas que assolam vida durante a colonização portuguesa. pais está vinculado ao corte ilegal de madeira. Grande parte dessa exploração direcionada a seu estabelecimento foi ○ que favoreceu produção de moveis e o construção civil. tendo em Vista a necessidade de Irrigação. Tais condicões naturais foram somadas fertilidade das terras encontradas O potencial hidrico que vários rios garantiam, aproveitou, em vários momentos, as condicões ocais. Diferentemente da exploracão de pau-brasil. nesse um planejamento que caso houve uma forte Sistematização da produção, ( qual contava com uma estrutura latifundiária. A explo- ração em grandes otes de sesmarias foi, inevitavelmente, direcionada ao mercado europeu. Nesse sentido, podemos caracterizar essa dinâmica mercantil colonial como sendo fundamentada na agroexportação. Um dos principais produtos cultivados pelos portugueses na América foi 2 pecificidades cana-de-acucar. AS es- desse tema serão tratadas no próximo capitulo; entretanto nesse momento, precisamos destacar que a região mais utilizada oara essa finalidade foi O litoral. A explicação para essa questão geografica pode ser encontrada na proximidade com ○ mercado. Imagine se a orodução fosse con- centrada no interior. Seria necessário um grande volume de pessoas animais para conseguir deslocar D as mercadorias até OS portos exportadores. E preciso embrar que não havia ainda no seculo XVI O desenvolvimento de ferrovias OU meios de transportes que permitissem uma mobilidade mais rapida e eficiente. Portanto, estar concentrada no litoral fazia parte das estratégias mercantilistas que garantiam fiscalização da produção controle sobre O comercio A agricultura de exportação percorreu a história do Brasil para além do periodo colonial. Durante o século XIX, o café foi um produto que ganhou notoriedade nas produções brasileiras. Ao longo do se- culo XX, outras plantas foram sendo incorporadas, sobretudo tendo em vista a exigência para atender à demanda dos mercados internacionais. Hoje em dia, o agronegócio de soja, por exemplo, movimenta milhões de reais em venda para outros países. Esse comentário é importante para compreendermos que a estrutura básica latifundiária agroexportadora iniciada pelos portugueses no século XVI até hoje constitui umas das principais características da economia brasileira.** **○ A agroexportação brasileira atual avançou sobre regiões de Goiás, Mato Grosso e Pará. E comum encontrarmos tratores orientados por GPS e conectados à internet utilizados nas colheitas. A ideia do emprego dessa tecnologia garantir a maxima eficiência possivel** **Claro que os produtos e as técnicas de plantio não são os mesmos, pois se desenvolverem e se sofisti- caram. Para além do aperfeiçoamento tecnológico, outra diferença fundamental é que, no periodo colonial, a exploração era pautada no trabalho cativo de origem africana, Hoje em dia, a prática de trabalho desse tipo é considerada um grave crime A pecuária também constituiu uma importante atividade introduzida pelos portugueses na América a partir do século XVI, Cabe lembrar que os bois não eram animais naturais do continente e, portanto, foram trazidos nos navios que atravessavam o oceano Atlântico. Inicialmente, a atividade de vaqueiro estava as- sociada tanto ao suporte da lavoura de cana-de-acúcar como ao mercado interno.De um lado, tratava-se da força motriz em diversos engenhos, utilizada também como tração de arados e transporte.De outro, a carne e o couro possuiam grande procura, sobretudo nas cidades que aos poucos foram sendo fundadas pelos portugueses Nesse sentido, a profissão dos vaqueiros foi se desenvolvendo e ganhando importância. De maneira geral, eram homens que se dedicavam a cuidar desses animais, garantindo sua reprodução bem como sua comercializacão. Paulatinamente, foi-se criando uma profissão diferente no Brasil colonial. Esses homens constituiam uma engrenagem fundamental eram livres. estavam inseridos em uma ordem escravocrata para o desenvolvimento da dinâmica econômica estabelecida pela Corte Duas foram as principais regiões nas quais a pecuária ganhou proporções significativas durante a colo- nizacão portuguesa. A primeira foi o Nordeste. A história de vários dos atuais estados passa pela criação de gado que, inclusive, contribuiu para o processo de ocupação de regiões interioranas. Servindo-se do potencial hidrico de rios como o São Francisco, permanecer em suas margens era condição fundamental para dar água aos animais. Dessa forma, foi-se estabelecendo uma relação comercial significativa entre a criação de animais no interior e a produção do açúcar no litoral. A segunda região importante fol Sul do território. Os Pampas O Gaúchos também se dedicaram à pecuária, bem como a alimentar com seus derivados outras regiões ocu- padas pelos portugueses. Algumas tradições que sobreviveram ao tempo nos revelam esse passado, como o churrasco gaucho que até hoje encontramos em restaurantes e em noticias sobre o Sul do Brasil. Até os dias de hoje a pecuária extensiva é uma Viajando na cultura das principais atividades econômicas da balança comercial brasileira. Grande parte da produção Caramuru: a invencão do Brasil, de Guel Arraes (Brasil: Sony de carne é deslocada à exportação, atenden- Pictures, 2001), é um filme que retrata de forma cômica o início do processo de colonização. 0 enredo narra as desventuras do aos mercados norte-americanos, europeus e de Diogo Alvares, um artista e cartógrafo portuguės, que se asiaticos. Para mensurarmos a importância desse envolve em situações nusitadas ate conhecer Paraguaçu, setor, segundo dados da Confederacão da Agri- uma nativa pela qual se apaixona, Apesar de se tratar de uma cultura e Pecuária do Brasil, a exportação de car- ficção, O filme nos ajuda a perceber algumas nuances do inicio da historia do Brasil, como as dificuld Idades na navegação e OS ne bovina in natura em 2020 chegou à marca de problemas derivados dos primeiros contatos. 6,8 bilhỏes de dólares. ○ A pecuária brasileira atual ultrapassou a das regioes.0 nordestinas e sulistas, concentrando-se, tambėm, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Para e Rondonia.** **GEOGRAFIA**. ao desenvolvimento socioeconômico de municípios, estados e regiões do Brasil e do mundo. mercadorias pelo espaço. A estrutura e a organização desses transportes estão diretamente relacionadas Na sua opinião, qual é a importância que os transportes desempenham na atualidade? Você conhece outros meios de transporte existentes no Brasil? Quais são eles? Quem são as pessoas que costumam utilizá-\|o? Qual é o meio de transporte representado na foto? Você já o utilizou alguma vez? Observe a imagem e converse com o professor e os colegas para responder ao que se pede. Os transportes são o conjunto de instrumentos técnicos responsáveis pelos movimentos de pessoas e ○ Linha que interliga a capital de São Paulo e ○ Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo 1\. Dinâmicas dos transportes no Brasil Como mencionado no início deste capítulo, as redes de transportes são responsáveis pelos movimen- tos de pessoas e mercadorias no espaco e desempenham papel fundamental para o desenvolvimento social e econômico de um pais No caso do Brasil um\_oais que apresenta dimensões continentais, os modais de transportes. distri- buem-se pelo território de maneira bastante heterogênea e de acordo.com as necessidades e demandas especificas de cada região E importante ressaltar que, na atual fase do capitalismo, a consolidacão de uma infraestrutura de transporte eficiente também assume função estratégica, pois reflete o crescimento e a expansão da capa- cidade produtiva das atividades industriais, agrárias e comerciais pelo território. Compreendendo o conceito Podemos considerar que os modais de transportes estao rela cionados aos tipos de transportes e às formas de locomoção eostentes. Dentre eles cabe destacar os modais aeroviario, hidroviario. rodoviārio e ferroviário No Brasil é possivel observar a presença de todos esses-modais, porém sua infraestrutura e distribui- cão revelam o quanto os fluxos materiais (que compreendem pessoas e mercadorias) são - desiguais no território, com maior concentracão na região Centro-Sul devido ao dinamismo económico. Redes de transportes no Brasil E S\.... Aerovias ○ modal aéreo é responsável pelo transporte de pessoas e/ou mercadorias por meio de aeronaves para dentro e fora do pais. Costuma ser utilizado para transportar mercadorias pereciveis e de alto valor que necessitam percorrer longas distâncias em pouco tempo. Atualmente, também é o modelo de transporte mais rápido e seguro que existe. As desvantagens desse tipo de transporte são os grandes investimentos necessarios em aeroportos para comportá-lo. Em geral, os aviões têm baixa capacidade de carga e custo de manutenção elevado. IS oueg eupeuy ○ Avião pousado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Ferrovias ○ modal ferroviário é realizado por meio das estradas de ferro, que são percorridas por locomotivas e vagões. Atualmente, apresenta a segunda maior participação no transporte de cargas pelo pais, sendo bastante utilizado para deslocar cargas pesadas e/ou volumosas por longas distâncias. As vantagens desse tipo de transporte é que consome pouco combustivel e tem baixo custo de manutencao. As ferrovias no Brasil foram indispensáveis para a integração nacional e para o desenvolvimento econômico do pais até ○ século XIX. A implantacão da via férrea\_esteve relacianada principalmente com a expansão cafeeira na região do Vale\_do Paraiba, que compreende os estados de Minas Gerais e São Paulo, Embora tenham cedido espaço para ○ transporte rodoviário após 1930, quando a producão de café perdeu valor comercial e as atividades industriais aumentaram, os trens ainda são muito utilizados para ○ escoamento de cargas, entre elas temos como exemplo os grãos, minério de ferro, produtos siderúrgicos, derivados de petróleo, carvão mineral, entre outros. \[23:32, 26/11/2024\] Gledson: ves alto delo ortos AS desvantagens do modal ferroviário estão relacionadas ao fato de que as linhas férreas sao fixas e O destino final, as ferrovias estão sucateadas e recebem poucos investimentos publicos portanto, inflexíveis. Além de dependerem de outros modais de transportes para deslocarem a carga até Geografia Luis War/Shutterstoc 1177 ○ Estrada de ferro no municipio de João Monlevade, Minas Gerais Viagem no tempo A primeira estrada de ferro do Brasil, também conhecida como Estrada de Ferro de Mauá\", foi inau gurada por Dom Pedro II no dia 30 de abril de 1854 e tinha 14,5 quilômetros de extensão, com um trecho que interligava a cidade do Rio de Janeiro e a cidade de Petrópolis Essa foi a terceira tentativa de construção de ferrovia no pais, já que, em 1837 e 1839, devido à falta de fi- nanciamento, as obras não puderam ser concluídas. Somente em 1852 graças aos estorços do comerciante e industrial Irineu Evangelista de Sousa, a concessão foi obtida, e, dois anos mais tarde, a terrovia toi construida. Irineu, mais tarde nomeado por Dom Pedro II como \"Barão de Mauá\" , também foi responsavel pela primeira empresa de fundição Q construção naval, além da \"Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro Petrópolis\' tornando-se um dos principais engajadores no processo de industrializaçāo n e modernização do pais Texto criado pelo autor especialmente para esta edição. \[23:33, 26/11/2024\] Gledson: Ciencias Humanas 28 Hidrovias transporte realizado em hidrovias, também conhecido como hidroviário, compreende.as\_formas.de transporte que utilizam a navegação para se deslocarem. Pode ocorrer no curso natural das águas dos rios a partir do transporte fluvial ou em mares e oceanos por meio do transporte marítimo, Atualmente e considerado um dos modelos de transporte mais vantajosos, pois, além de ter menor custo em infraestrutura, é pouco poluente e ainda permite o deslocamento de grandes volumes de carga,. Observe no mapa das redes de transportes do Brasil que a concentração do transporte fluvial está na região\_Norte, principalmente nos estados do Amazonas e do Pará, devido à quantidade de rios navegá: veIs, por onde transita diariamente um grande volume de pessoas e mercadorias. Uma das desvantagens\_desse tipo de transporte é que, apesar da disponibilidade de rios\_navegáveis no Brasil, boa parte deles não é utilizada. Além disso, o transporte hidroviario e considerado lento e tam- bém pode sofrer interferência das condicões climáticas,. Rodovias ○ transporte por rodovias, também chamado de rodoviário, é atualmente o maior responsável pelo fluxo de passageiros e mercadorias no Brasil, Começou a se estabelecer pelo pais a partir da década de 1920 com fortes investimentos na abertura de rodovias. No periodo entre 1950 e 1970, com intuito governamental de promover a modernização e o crescimen- to econômico, a malha rodoviária foi\_ampliada para todas. as regiões brasi leiras, interligando capitais que 10 antes estavam desconexas. Esse\_fato-também passou a atrair indústrias automobilisticas do exterior, que, por sua vez, encontraram no pais ótimas condições e estrutura para o desenvolvimento do setor. Mas, apesar de tudo, o modal rodoviário apresenta muitos problemas.De inicio é importante ressaltar que, atualmente, muitas rodovias brasileiras ainda são de baixa qualidade e demandam constante manu- 11 tenção. Em relação ao transporte, ele tem capacidade de carga limitada, o que implica na intensificação de veiculos, como caminhões, nas estradas. Além disso, o afto consumo \`de combustivel e o tempo de deslocamento para longas\_distâncias também é maior. 1 Ciências Humanas A tabela a seguir apresenta as principais matrizes de transporte de carga pelo mundo, com base na comparação entre os paises que apresentam o mesmo porte territorial. ○ Brasil aparece com a menor participação no modal ferroviário, que corresponde a apenas 15% do total das matrizes de transporte, enquanto países como Canadá, Austrália, Russia e Estados Unidos têm as ferrovias como principal meio de escoamento de cargas. - AS rodovias, diferentemente do modal ferroviário, representam para Brasil maior concentração ○ 2 dentre OS modelos de transporte em território nacional, com uma participação de 65% V China ocupa O egundo lugar, com metade do deslocamento de cargas sendo destinado ao modal rodoviário. 2\. Comparação entre as matrizes de transporte do Brasil e do mundo 3. \[23:35, 26/11/2024\] Gledson: Geogralia Os modais aquaviarios têm pouca representação entre os transportes dos palses analisados, de modo que as maiores participacoes são dos Estados Unidos e da Australia, ambos com 25%. 0 Brasil aparece em terceiro lugar, com 20%, número bastante baixo considerando a quantidade de rios e mares disponiveis no pals. COMPARAÇÃO DE MATRIZES DE TRANSPORTES DE CARGA Paises de mesmo porte territorial Russia 11% Canad C 469 Australia 4370 327o EUA 43 % 32% China 37% 50% Brasil 15% 65 20% Podemos compreender que os meios.de.comunicaçãg de facilitar. a. troca de informacões. entre. as, DeSsoBs. AO longo do tempo, com a O logico e globalização, a necessidade de acesso rapido a informação fez com qUe fossem desenivoldas aperteiçoamerto tecno- redes de comunicação cada vez rais eficientes. que tambem Dassaram deserriperihar papel fundamen- tal para Q organização do trabalho e a conexão dos territorios ○ Funcionários de uma empresa trabalhando com suporte de notebook, tab/ets e telefones celulares, Segundo o geógrafo brasileiro Milton Santos, a\_intensificação do uso das tecnologias da informaçäd transformou as relações de trabalho no mundo globalizado, resultando em uma nova fase do capitalisma conhecida como \"meio técnico-científico-informacional\" É importante ressaltar que, embora esse processo tenha possibilitado a conexão entre diferentes re giões do mundo, a partir de um \"encurtamento\" do espaço-tempo, ele também foi responsável por c racterizar novas formas de domínio e exploração por parte dos agentes hegemônicos sobre os pais periféricos (subdesenvolvidos), que, por sua vez, não têm o mesmo desenvolvimento tecnológico. Nos paises desenvolvidos, a evolução dos meios técnicos para os meios técnicos-cientificos-informacion começou a.ocorrer após a Terceira Revolução Industrial e se intensificou a partir do-ano 1970, periodo no a a ciência passou a ser incorporada à técnica, fazendo com que os objetos fossem carregados de informac Já no Brasil, que teve o processo de industrialização atrasado quando comparado aos paises des volvidos, a informatizacão dos meios de comunicação ocorreu somente depois da década. de 1990. c a chegada dos telefones celulares, dos computadores e da internet. 16 Vale ressaltar que, mesmo após inúmeros avanços, a distribuição dos meios de comunicacão pais não ocorreu de forma igualitária, de modo que muitas regiðes ainda não têm acesso complet redes de telefonia e internet. enquanto outras concentram grande parte desses servicos. O bserve ocorre essa distribuicão nos mapas a seguir. \' 6 1\. Os meios de comunicação IBGE. Aflas geagrafico escolar. Disponivel er: \. Acesso emn. 29 mar. 2021 Podemos considerar que, com base no grau de desenvolvimento técnico e cientifico, os espaços come- ram a conceber atributos e funpões distintas. No caso dos que tém maior densidade técnica, os investimentos im infraestrutura também são maiores, assim como o fluxo de capitais e mercadorias. Enquanto isso, nas reas menos desenvolvidas, o investimnento é menor, e a fluidez dos serviços, lenta ou inexistente, E S27380 intal 750 km total de domicitios (%) 47,06 a 56,00 56,01 a 64,00 64,01 a 71,00 71,01 a 80,00 88,17 Clencias Humanas 435 Nesse aspecto, uma das localidades que exercem maior influência nas atividades financeiras e co- merciais do Brasil é a avenida Brigadeiro Faria Lima, na cidade de São Paulo. Localizada entre os bairros Pinheiros e Itaim Bibi, a avenida tem 4,6 quilômetros de extensão e concentra as principais filiais de em- presas e sedes de bancos no pais, além dos importantes consulados da Alemanha e da Holanda. Outros pontos da cidade também apresentam grande centralidade na dinâmica administrativa em- presarial, como é o caso das avenidas Paulista (próxima ao centro) e Engenheiro Luís Carlos Berrini (Zona Sul), onde estão localizadas a\|gumas das maiores multinacionais do ramo tecnológico no mundo.

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