FNP_AT06_Farmacoterapia de Não Prescrição 2024-2025 - Pirose, Dispepsia, Flatulência, Obstipação PDF

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Universidade de Lisboa

Gabriela Moura Plácido

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pharmacotherapy gastrointestinal non-prescription medicine

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This document is a lecture on pharmacotherapy of non-prescription medications for gastrointestinal conditions such as heartburn, indigestion, flatulence, and constipation. The lecture covers the topic in detail including the anatomy of the gastrointestinal tract, factors contributing to the conditions, clinical presentations, and treatment options.

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Unidade curricular Farmacoterapia de não prescrição AU LA TEÓ R IC A 10 AFE ÇÕ ES D O TRATO GA STR OI NTE STI NA L PI R OS E | DI SPE PSI A | FLATU LÊN CI A | OB STI PA ÇÃO Gabriela Moura Plácido| 2023/2024 ...

Unidade curricular Farmacoterapia de não prescrição AU LA TEÓ R IC A 10 AFE ÇÕ ES D O TRATO GA STR OI NTE STI NA L PI R OS E | DI SPE PSI A | FLATU LÊN CI A | OB STI PA ÇÃO Gabriela Moura Plácido| 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SUMÁRIO Pirose e dispepsia Flatulência Obstipação Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 2 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL TRATO GASTROINTESTINAL O trato gastrointestinal desempenha um papel essencial na homeostasia corporal, sendo responsável pela digestão mecânica e enzimática dos alimentos, e pela absorção de macro e micronutrientes indispensáveis ao funcionamento do organismo. Contudo, são frequentes disfunções gastrointestinais funcionais que se manifestam por sintomas que, alguns dos quais podem ser aliviados adotando estratégias de automedicação responsáveis que envolvem medidas não farmacológicas e/ou farmacológicas. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SUMÁRIO Pirose Flatulência Obstipação Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 4 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL Região retrostrenal PIROSE Também referida como azia, apresenta-se como uma sensação de queimadura, dor ou ardor na região retrosternal (da região epigástrica ao longo do esófago em direção à faringe). Podendo dever-se a alterações funcionais ou incompetência do esfíncter esofágico inferior ou à adoção de uma dieta desequilibrada, surge como consequência da irritação ou inflamação da mucosa esofágica causada por “vapores” ou mesmo refluxo do conteúdo ácido gástrico. Frequentemente benigna, pode ser manifestação da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PIROSE | CLASSIFICAÇÃO PIROSE Esporádica Frequente Prolongada (< 2 dias/semana) (> 2 dias/semana) (> 3 meses) Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PIROSE | FATORES PREDISPONENTES, DESENCADEANTES OU AGRAVANTES Dieta desadequada (ex. refeições ricas em gorduras ou picantes, ingestão de alimentos ácidos com frequência, consumo frequente de álcool, chocolate, café, bebidas com cafeína ou gaseificadas. Estilo de vida desadequado (ex. obesidade/excesso de peso, tabagismo, stress). Alterações posicionais (ex. manter o tronco fletido para a frente ou deitar imediatamente a seguir a refeições). Usar roupas muito apertadas, sobretudo na cintura. Certos tipos de exercício físico (ex. levantamento de pesos, ciclismo) Reações adversas a medicamentos (ex. AINE, digitálicos, corticosteroides, antagonistas dos canais de cálcio, teofilina, suplementos de ferro ou potássio, colchicina, levodopa, benzodiazepinas, antidepressivos – ISRS, contracetivos orais, ampicilina, eritromicina, alendronato, anticolinergicos) Gravidez A pirose pode estar associada a deficiência anatómica do esfíncter. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PIROSE | CLÍNICA Sensação de dor/ardor, descrita como sensação de queimadura. Pode surgir subitamente e de modo severo e irradiar para costas e braços Pode estar associada a outros sintomas, como: Regurgitação ou refluxo do conteúdo do estômago para a boca sem vómito, por vezes associado gosto ácido ou amargo na boca; Pode acompanhar-se de eructação. Agrava com a ingestão abundante de alimentos ou com decúbito. PIROSE | COMPLICAÇÕES Esofagite ( inflamação do esófago), sobretudo em casos de pirose frequente e prolongada Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL DISPEPSIA Também referida como indigestão ou enfartamento, apresenta-se como um desconforto ou dor na zona abdominal superior frequentemente relacionada com o processo digestivo. Tem uma fisiopatologia heterogénea, podendo traduzir distúrbios funcionais como gastrite, úlcera péptica e, ocasionalmente, neoplasia. Embora seja uma condição frequentemente autolimitada e benigna, os seus sintomas podem ser muito desconfortáveis e impactar negativamente o bem-estar do individuo Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL DISPEPSIA | CLASSIFICAÇÂO DISPEPSIA Funcional Orgânica Quando não é possível identificar de forma Associada a doenças gastrointestinais clara uma causa estrutural ou bioquímica. subjacentes (ex.úlceras pépticas, DRGE, É a forma de dispepsia mais comum na gastrite, ou infeções como a provocada pela prática. bactéria Helicobacter pylor Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL DISPEPSIA | FATORES PREDISPONENTES OU AGRAVANTES Dieta desadequada (ex. refeições pesadas, ricas em gorduras, picantes, ingestão ingestão de alimentos condimentados, consumo frequente de álcool,, café, bebidas com cafeína ou gaseificadas. DISPEPSIA FUNCIONAL Fatores psicológicos: ansiedade e depressão Alterações da motilidade gástrica: atraso no esvaziamento gástrico ou hipersensibilidade visceral Alterações no tónus gástrico: incapacidade de relaxar adequadamente o fundo gástrico após a refeição DISPEPSIA ORGÂNICA Doenças gástricas: gastrite, úlcera péptica, infeção por Helicobacter pylori. Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): o refluxo ácido pode causar sintomas semelhantes à dispepsia. Reações adversas a medicamentos: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), antibióticos e outros medicamentos irritantes para a mucosa gástrica. Outras condições sistémicas: pancreatite, doenças biliares, ou até neoplasias Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL DISPEPSIA | CLÍNICA Desconforto, dor e/ou sensação de mal estar na região epigástrica, associada frequentemente a: Saciedade precoce - incapacidade de terminar refeição de quantidade normal, por sensação súbita de estômago cheio logo após o seu início da refeição Sensação de plenitude ou permanência prolongada de alimentos no estômago - desconforto pós prandial, mesmo com pequenas quantidades de alimentos Pode acompanhar-se de: distensão abdominal, eructação, borborigmo, náuseas ou vómitos. Os sintomas podem ser episódicos ou persistentes, mais ligeiros ou mais intensos. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE REFERENCIAÇÃO AO MÉDICO Grávidas ou mulheres a amamentar; PIROSE Situação grave (quando os sintomas perturbam o sono, Pirose noturna interferem com atividades diárias ou são descritos como intensos); Dor localizada que irradia para os maxilares, braços, costas Duração prolongada (Pirose – sintomas por ≥ 3 meses; (pode indiciar angina de peito ou EAM) ou agrava com Dispepsia – sintomas diários ≥ 2 semanas); exercício; sensação de falta de ar Inefetividade de tratamento adequado já instituído; Disfagia (dificuldade em engolir) Suspeita iatrogenia medicamentosa (ex. anti-inflamatórios não esteroides); Odinofagia (dor ao engolir); Situação recorrente (Pirose – sintomas por ≥ 3 meses, ainda que não diários; Indigestão – sintomas não diários > 4 semanas) Crianças. DISPEPSIA Historia familiar de neoplasia gastrointestinal Queixas pela primeira vez em pessoas > 55 anos; Presença de doença GI (ex. DRGE, hérnia do hiato, DII) Queixas associada a sintomas como: regurgitação, febre, Hematemese (vómito tipo borra de café) ou melenas (fezes diarreia, dor abdominal epigástrica intensa, náuseas ou vómitos escuras); contínuos (> 1 ou 2 dias), rouquidão crónica, tosse seca irritativa prolongada; dificuldade respiratória, anemia, perda de peso e/ou Vómito frequente fadiga inexplicável Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PIROSE E DISPEPSIA | AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DA SITUAÇÃO A recolha de informação clinica concreta sobre a situação e a pessoa é crucial para a tomada de decisão quanto à recomendação a adotar e a subsequente informação a prestar, podendo para isso usar o acrónimo INDICO. Caracterização da pirose ou dispepsia No contexto das dor ME é importante : Caracterização da dor ou desconforto I - Saber a idade da pessoa com queixas de pirose ou dispepsia, e se aplicável estado fisiológico (ex. gravidez, amamentação), situação especial (ex. acamado) (localização e intensidade, irradiação, início N - Caracterizar a queixa e identificar sintomas associados: dos sintomas e duração). D- Duração da queixa Outros sintomas (ex. tosse, rouquidão, I - Identificar medidas adotadas: se e o que fez para alivar aas queixas (terapêutica farmacológica? Qual?, que resultados obteve sensação de refluxo, dor abdominal, perda C- Estado geral de saúde: É portador de alguma doença e que terapêutica utiliza no presente de peso inexplicável, anemia, eructação, O - Outras questões relevantes: vómitos, diarreia ou obstipação, Hábitos alimentares (ex. picantes, condimentos, gorduras, alterações recentes nos hábitos) e hemorragia do trato GI). alterações recentes Fatores que possam estar na origem da queixa Fatores de agravamento ou alivio do sintomas (ex. se a queixa agrava após refeição, procurar relação entre com as refeições e hora de deitar). Alergias conhecidas Hábitos tabágicos Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL AVALIAÇÃO DIFERENCIAL Na prática nem sempre é fácil diferenciar pirose de dispepsia, pois a etiologia pode ser comum (ex: AINE) e alguns dos sintomas são pouco específicos (i.e. muitos doentes apresentam simultaneamente dispepsia e pirose). Pirose Dispepsia Sensação de queimadura Dor ou desconforto epigástrico retroesternal que pode irradiar Possíveis sintomas associados: eructação, para o pescoço ou garganta. distensão abdominal, náuseas, sensação de Sintomas típicos Pode ser acompanhada de saciedade precoce. regurgitação ácida e hipersalivação Frequentemente acompanhada de pirose e regurgitação ácida. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PIROSE E DISPEPSIA | DECISÃO DE INTERVENÇÃO Na posse da informação sobre a pessoa e o quadro que apresenta e com base nos conhecimentos técnico-científicos detidos (ex. critérios de referenciação a outro nível de cuidados), e experiencia clinica, a etapa seguinte consiste na tomada de decisão clinica e proposta de recomendações. Tomada de decisão Cuidados urgentes Medidas não Medicina geral e familiar farmacológicas Referenciação ao Intervenção na Complementado ou não médico com medidas não Medidas farmacológicas farmácia (por escrito) farmacológicas e/ou medidas farmacológicas Seleção do tratamento Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL PIROSE E DISPEPSIA | SELEÇÃO DO TRATAMENTO CONSIDERAÇÕES O tratamento da dispepsia depende da sua causa. Para a dispepsia funcional, o foco está na gestão dos sintomas, enquanto para a dispepsia orgânica é essencial tratar a condição subjacente. OBJETIVO DO TRATAMENTO Alívio dos sintomas gástricos de dor/ardor ou sensação de queimadura ou desconforto pós prandial. Normalizar a função gástrica e minimizar a recorrência de sintomatologia associada ao estilo de vida O tratamento deve incluir sempre medidas não farmacológicas e quando necessário medidas farmacológicas. A terapêutica farmacológica deve ser selecionada de acordo com a queixa apresentada (considerando a sua eventual causa) e a condição individual do utente. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SELEÇÃO DO TRATAMENTO O tratamento deve ser escolhido de acordo com a frequência dos sintomas: Pontuais – medicamentos de ação rápida (antiácidos e alginatos) Frequentes – medicamentos de ação rápida para alivio de sintomas e ação lenta para prevenir episódios futuros (restantes) + - Antiácidos Potência antiácida Duração da ação Rapidez da ação Alginatos Antagonistas dos Recetores H2 (ARH2) - Inibidores da Bomba de Protões (IBP) + Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA ESCOLHA DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: ANTIÁCIDOS Atuam por mecanismo químico, neutralizam o ácido gástrico, elevando o pH do estomago e duodeno a 4-5. Proporcionam alívio rápido dos sintomas Atuam localmente e não penetram na mucosa. Mais apropriados para o alívio de sintomas iniciais, ligeiros e não frequentes. Não podem ser usados para prevenção dos sintomas, pois apenas neutralizam o ácido gástrico existente. A terapêutica combinada com alginatos pode ser mais efetiva. O uso prolongado de alguns antiácidos, pode desencadear hipersecreção gástrica rebound. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL ASPETOS A CONSIDERAR: ANTIÁCIDOS RAM frequente nos antiácidos contendo magnésio: diarreia. RAM frequente nos antiácidos contendo cálcio ou alumínio: obstipação, flatulência. Exemplos de precauções de utilização: Vários antiácidos apresentam um teor significativo de sódio, pelo que devem ser evitados em doentes com restrições de sal na dieta (ex. hipertensão, diabetes, doença cardíaca ou com insuficiência renal ou hepática). Os AA podem alterar a absorção de outros medicamentos (ex. tetraciclinas, fluoroquinolonas, azitromicina, digoxina, cetoconazol e suplementos de ferro) pelo que deve existir um intervalo de 2h entre a sua administração e a dos outros fármacos. Insuficientes renais deverão consultar o médico antes de iniciar tratamento com antiácidos. Gravidas podem usar com segurança antiácidos com cálcio ou magnésio nas doses corretas. Os AA podem ser tomados em simultâneo com os IBPs ou ARH2 para alívio rápido dos sintomas. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL DIFERENCIAÇÃO DOS VÁRIOS ANTIÁCIDOS Velocidade de inicio Bicarbonato de sódio > Hidróxido de magnésio > Carbonato de Cálcio > Hidróxido de alumínio (10 a 30 min) Duração de ação (depende do tempo de esvaziamento gástrico) Estomago vazio: eliminação rápida → duração ação: 20 a 40 minutos Estomago cheio: 1 h após refeição atua durante cerca de 3 horas (tempo de permanência do fármaco no estomago) Efetividade neutralizante Bicarbonato de sódio > Carbonato de Cálcio > Hidróxido de magnésio > Hidróxido de alumínio Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA ESCOLHA DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: ARH2 cimetidina, famotidina ou ranitidina Inibe a produção de ácido de forma competitiva e reversível com a histamina. Ligam-se aos recetores H2 das membranas das células parietais bloqueando a libertação de histamina e consequentemente reduzindo a secreção ácida. Indicados em doentes com sintomas ligeiros a moderados ou que requerem um alívio mais prolongado (ep recorrentes). ARH2 têm maior duração de ação que os antiácidos neutralizantes (4/10h), mas início de ação mais lento (30/45m), sendo o pico de efeito 2h após a toma. A associação com antiácidos pode ser eficaz, pois permite rápido efeito neutralizante e duração de ação mais prolongada. Podem ser tomados para prevenção dos sintomas (ex. 30 minutos a 1h antes de refeição, alimentos ou bebidas que originem os sintomas). Não tomar em simultâneo com IBP. CI: grávida e amamentação e crianças < 12 anos. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA ESCOLHA DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: IBP Inibem a atividade da ATPase H+/K+ das células parietais –> redução da secreção ácida (que regulariza 3-5 dias após a suspensão da terapêutica). Mais efetivos no alívio dos sintomas ligeiros a moderados e frequentes (mais de 2 vezes/semana), ou que requerem um alívio mais prolongado (como no caso de episódios recorrentes) não sendo usados nos sintomas ocasionais e ligeiros. Dado o seu início de ação lento, não é apropriado o uso para alívio imediato. Nessas situações, pode ser útil iniciar tratamento com antiácido em associação com o IBP). São necessárias 24h para que a sua efetividade se manifeste, efeito máximo surge 3-4 dias após inicio da terapêutica. IM: anticonvulsivantes, anticoagulantes, Vit B12, clopidogrel, cetoconazol, itraconazol, diazepam CI: indivíduos < 18 anos, gravidez e amamentação Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL FORMAS FARMACÊUTICAS DISPONÍVEIS Antiácidos: Comprimidos para chupar Comprimidos efervescentes Suspensão ARH2 e IBP Comprimidos / Cápsulas As formulações líquidas são mais rápidas, efetivas e com maior capacidade neutralizadora de ácido que os comprimidos. Comprimidos ou pastilhas podem ser mais práticas, para algumas pessoas. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL Grupo terapêutico Substância Ativa Ex. Marca Observações Sais de alumínio Pepsamar® (fosfato ou hidróxido) Phosphalugel® Bicarbonato de sódio Alka-Seltzer® Neutralizam quimicamente o ácido gástrico. Carbonato de cálcio + carbonato de Rennie® Úteis em situações de dispepsia ou pirose. magnésio Antiácidos Carbonato de alumínio e sódio + Kompensan® dimeticone Trieffect O alginato de sódio atua como protetor gástrico. Forma um Bicarbonato de sódio + carbonato de Gaviscon® gel de ácido alginico com pH quase neutro, que flutua no cálcio + alginato de sódio conteúdo gástrico e impede o RGE ARH2 Famotidina Lasa® Reduz a produção de ácido clorídrico e pepsina Omeprazol Proton® Reduzem a secreção de ácido do estômago. IBP Esomeprazol Nexium® Control Pantoprazol Digespan® Úteis em situações de dispepsia ou pirose Antiespasmodico Trimebutina Debridat® Atividade moduladora da motricidade digestiva Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL MNSRM-EF: SUCRALFATO 3-4 x/dia, durante 5 dias Protetor da mucosa gástrica Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA Prestar informação sobre: Para que serve o medicamento (será desejável além da informação oral escrever na embalagem) Posologia: que para além da informação oral deve ser aposta na embalagem (manuscrita ou com etiqueta) Quanto – dose/ quantidade. Ex: 1 ou 2 comprimidos/ pastilhas / x ml Quando – intervalo de tomas. Ex: 1 comprimido /colher medida de 8 em 8 h, 3 a 6 vezes ao dia, à noite, com ou sem alimentos Como – modo de administração. Ex. deixar dissolver na boca, deglutir com água, Durante quanto tempo. Ex. Pontualmente, quando necessário, 3- 4 dias. Dar enfase para o facto de se a situação se agravar antes disso, deve procurar ajuda O que fazer se não melhorar ou se os sintomas agravarem Voltar à farmácia para reavaliar a situação ou ir ao médico Precauções de utilização e conservação (quando aplicável) Reações indesejáveis mais frequentes e medidas de mitigação (quando aplicável) Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL INFORMAÇÕES SOBRE A POSOLOGIA E DURAÇÃO DO TRATAMENTO Antiácidos Tomado na manifestação dos sintomas, não mais de 4x/ dia, 1-3 h após as refeições e/ou ao deitar. Alivio após 5 minutos. Não devem ser usados regularmente mais de 2 semanas ARH2 1 a 2 comprimidos até 2 vezes/dia aquando da manifestação dos sintomas ou cerca de 1h antes da refeição no caso de se antecip ar agravamento de sintomas. Usar doses baixas em sintomas ligeiros e doses mais elevadas em sintomas moderados. Não devem ser usados mais de 2 semanas. IBP 1 comp/dia de manhã, 30 min antes do pequeno-almoço com um copo de água ou 30 a 60 minutos antes da refeição. Alivio dos sintomas pode ocorrer após 2-3h e durar de 12-24h. Tratamento completo durante 14 dias. A ausência total de sintomas pode surgir a partir do 4º dia de tratamento. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL ACONSELHAMENTO ARH2 e IBP: se o alivio não ocorrer nas doses recomendadas, referenciar ao medico. O tratamento com omeprazol pode causar falsos-negativos no teste respiratório Helicobacter pylori Após administrado, o alginato reage acido gástrico formando um gel viscoso, com pH neutro, que flutua no conteúdo gástrico e reflui cobrindo a mucosa esofágica, protegendo-a. Funciona como agente anti-refluxo em associação com antiácidos. Antiácidos: crianças < 2 anos Não administrar Antagonistas H2 < 12 anos IBP < 18 anos Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL MEDIDAS COMPLEMENTARES E PREVENTIVAS Alimentação Fracionamento e redução de volume ingerido: Comer a cada 3 horas, reduzindo a quantidade de alimentos em cada refeição. Fazer a ultima refeição 2 horas antes de se deitar. Evitar refeições com elevado teor de gordura. Evitar alimentos potencialmente desencadeantes (ex. picantes, citrinos, chocolate, menta, bebidas alcoólicas e gaseificadas). Evitar alimentos com ação irritante sobre o esófago e estomago, como bebidas com cafeína e alimentos ácidos. Evitar deitar-se logo após as refeições - iniciar a refeição da noite pelo menos 3 horas antes da hora de deitar, para permitir o esvaziamento gástrico. Comer devagar e mastigar bem os alimentos. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL MEDIDAS COMPLEMENTARES E PREVENTIVAS Postura Evitar posições inclinadas (flexão do tronco para a frente). Elevar a cabeceira da cama 10 a 15 cm(mais eficaz do que utilizar almofadas extra). Outras Evitar atividades abdominais, levantamento de pesos e ciclismo. Evitar vestuário apertado na cintura (ex. elásticos de collants e cintos). Reduzir o excesso de peso; Abandonar tabagismo. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SEGUIMENTO O utente deve ser monitorizado ou reavaliado com o objetivo de se avaliar os resultados da intervenção Acompanhar a evolução da situação (e a efetividade e segurança da utilização do tratamento recomendado. Avaliar eventual necessidade de alteração na abordagem inicialmente proposta ou de referenciar ao médico (caso não exista qualquer resposta ao tratamento adequado, não exista alivio ou se verifique agravamento de sintomas ) Assim, deve-se Mostrar interesse em acompanhar a evolução da situação. Encorajar o cliente a reportar os resultados obtidos com o tratamento. Presencialmente na farmácia ou por outros meios de comunicação (ex. videochamada, telefone, e-mail) Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SUMÁRIO Pirose Flatulência Obstipação Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 33 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL DOR ABDOMINAL | NOTA PRÉVIA A dor abdominal é uma manifestação clinica inespecífica, na medida em que pode ter diferentes etiologias. A dor abdominal tipo cólica geralmente associada a espasmos ou contrações dolorosas, é descrita como uma dor intermitente e intensa, que aumenta gradualmente em intensidade até atingir um pico, cessando posteriormente de forma repentina. A frequência da cólica é variável. Como exemplos deste tipo de dor podem ser referidos: Cólica biliar (geralmente por obstrução biliar devido a cálculos) Cólica menstrual (contração do musculo uterino) Cólica intestinal (contração ou espasmos dos músculos intestinais) É referida como cólica, moinha ou “facada”, pode ser localizada ou difusa, constante ou intermitente, de intensidade variável (ligeira a muito intensa). Pode acompanhar-se de vómitos. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL FLATULÊNCIA | ENQUADRAMENTO A produção de gases ocorre naturalmente no organismo quando bactérias intestinais, por fermentação, degradam hidratos de carbono e/ou proteínas produzindo hidrogénio, dióxido de carbono ou metano. Os gases produzidos são posteriormente eliminados pelo organismo de diferentes formas Eructação arrotos Absorção para o sangue, com posterior eliminação através da via pulmonar Flatos gases Num contexto “normal” um individuo adulto elimina gases de 8 a 20 vezes por dia, sem que, na maioria das vezes, perceba o movimento. O problema surge quando, se verifica uma produção excessiva de gases e a sua acumulação na zona abdominal ou a elevada eliminação incomodativa pessoal ou socialmente. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL FATORES PREDISPONENTES OU AGRAVANTES Deglutição excessiva de ar (mais frequente nos bebés ou pessoas com congestão nasal persistente). Ingerir grande quantidade de comida de cada vez e mastigação muito rápida e ineficiente. Elevado consumo de proteínas, incluindo suplementos. Dieta rica em gorduras. Elevado consumo de certo tipo de alimentos que produzem grandes quantidades de gás (ex. produtos lácteos, cereais com elevado teor de hidratos de carbono; feijão, lentilhas, grão, batata, cebolas, brócolos, castanhas, couves, ervilhas, espargos, repolho, doces, ovos, edulcorantes artificiais, ). Consumo frequente de bebidas gaseificadas. Intolerância alimentares (ex. lactose). Intervenção cirúrgica por laparoscopia Doenças preexistentes, como: diarreia ou obstipação, dispepsia, síndroma do intestino irritável, síndrome de má absorção, alteração da micróbiota intestinal Medicamentos (ex. laxantes com fibras fermentáveis, metformina, antibióticos, AINEs, laxantes). Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL FLATULÊNCIA | MANIFESTAÇÕES CLINICAS Defina como sensação de desconforto e mal estar gastrointestinal, difuso, deve-se à acumulação excessiva de gases no estomago e/ou intestino, sob a forma de bolhas gasosas produzidas pela baixa tensão superficial e alta viscosidade do conteúdo gastrointestinal. Pode manifestar-se através de distensão abdominal (inchaço) com e/ou dor (tipo cólicas/espasmos) abdominal*, eructação ou libertação de flatos com frequência excessiva. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL CÓLICA NO BEBÉ | NOTA De causa não totalmente conhecida, é uma condição benigna, embora dolorosa para o bebé e stressante e angustiante para os pais e cuidadores. Geralmente associa 3 condições: O choro intenso associado às cólicas surge nos primeiros 3 meses de vida Dura mais de 3 horas por dia Prolonga-se por mais de 3 semanas. É comum manifestar-se com choro intenso de difícil consolo, mais ao final da tarde, inicio da noite Com o rosto geralmente muito vermelho do choro, o bebé mostra-se muito agitado: pode contrair os braços e apertar as mãos, arquear as costas e/ou fletir os joelhos em direção ao abdómen em sinal de desconforto abdominal Este quadro mais intenso, tendencialmente desaparece aos 3- 4 meses de vida do bebé. São critérios de referenciação ao médico, situações em que se verifique: Perda de apetite, prostração, vómitos, febre ou perda de peso. Aparecimento do quadro apenas após os 4 meses Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DA SITUAÇÃO A recolha de informação clinica concreta sobre a situação e a pessoa é crucial para a tomada de decisão quanto à recomendação a adotar e a subsequente informação a prestar, podendo para isso usar o acrónimo INDICO. Caracterização da queixa No contexto das dor ME é importante : I - Saber a idade da pessoa com queixas de pirose ou dispepsia, e se aplicável estado fisiológico (ex. gravidez, amamentação), Caracterização da dor ou situação especial (ex. acamado) desconforto (localização e N - Caracterizar a queixa e identificar sintomas associados: intensidade, perceber se irradia, D- Duração da queixa início dos sintomas e duração). I - Identificar medidas adotadas: se e o que fez para alivar aas queixas (terapêutica farmacológica? Qual?, que resultados obteve Outros sintomas (ex. perda de C- Estado geral de saúde: É portador de alguma doença e que terapêutica utiliza no presente peso inexplicável, eructação, O - Outras questões relevantes: Hábitos alimentares (ex. explorar o consumo de alimentos ou bebidas que podem aumentar a produção de gases, alterações vómitos, diarreia ou recentes nos hábitos) obstipação). Alterações recentes que ocasionem stress ou ansiedade Fatores que possam estar na origem da queixa Fatores de agravamento ou alivio do sintomas (ex. se a queixa agrava após refeição, procurar relação entre com as refeições e hora de deitar). Alergias conhecidas Hábitos tabágicos Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL CRITÉRIOS DE REFERENCIAÇÃO AO MÉDICO CRITÉRIOS GERAIS CRITÉRIOS ESPECÍFICOS 1. Grávidas ou mulheres a amamentar. 1. Alterações repentinas da função intestinal 2. Situação grave (sintomas considerados problemáticos, que (diarreia/obstipação). interferem com as atividades diária ou com o sono) ou com 2. Presença de sintomas de alarme (dor abdominal intensa agravamento. e/ou persistente, perda de peso inexplicável, suspeita de 3. Duração prolongada (no caso da flatulência: mais que dois hemorragia gastrointestinal – vómito com sangue ou fezes meses). escuras, vómito por mais de 1 ou 2 dias, febre). 4. Falta de efeito de tratamento adequado já instituído. 3. Sinais ou sintomas de agravamento de Doença GI preexistente (ex. doença inflamatória intestinal com presença 5. Situação recorrente (no caso da flatulência ou sintomas de diarreia com sangue, muco ou febre) associados: várias vezes por mês). Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SELEÇÃO DO TRATAMENTO Grupo terapêutico Substância Ativa Ex. Marca Observações pode ser dado a crianças Aero-OM® Alteram a tensão superficial das bolhas Antiflatulento Simeticone Imogás ® gasosas intestinais, promovendo a sua rotura 4x/dia, até 10 dias Infacalm® e a eliminação Pancreatina + Dimeticone Pankreoflat® As enzimas facilitam a digestão dos Antiflatulento nutrientes → mitigando os processos de + enzimas Bromoprida + Simeticone + Pepsina Modulanzime® fermentação o que reduz a formação de gás. A + Amilase Butilescopolamina Buscopan® Alivia os sintomas da dispepsia funcional associada a flatulência. Antiespasmódico Trimebutina Debridat® Atividade moduladora da motricidade para cólicas >6 anos; 3-5x/dia; não diariamente digestiva para espasmos transitórios e moderados do trato GI Antiespasmódico + Normatal® Floroglucinol + Simeticone Alivia a dor e reduz a flatulência. antiflatulento MNSRM-EF Sucralfato MNSRM-EF No momento não comercializado *Simeticone atua como agente anti-espuma, modificando a tensão superficial das bolhas de gás e induzindo a sua rotura Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL MNSRM-EF: FLOROGLUCINOL + SIMETICONE 3x/dia ou quando houver dor Até desaparecimento dos sintomas, não ultrapassando os 10 dias *Simeticone atua como agente anti-espuma, modificando a tensão superficial das bolhas de gás e induzindo a sua rotura Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL MEDIDAS COMPLEMENTARES Alimentação Evitar alimentos que resultem na produção excessiva de gás, tais como: Vegetais, como couve, repolho, cebolas e beringela e aipo. Alimentos contendo farinha (ex. trigo, pão e cereais); Leguminosas (feijão, lentilhas, grão, ervilhas, castanhas); Fritos e alimentos ricos em gordura; Alimentos com elevado conteúdo de açúcar (ex. doces, refrigerantes). Evitar bebidas gaseificadas (ex. refrigerantes, cerveja) Manter um diário alimentar por alguns dias, para ajudar a identificar alimentos desencadeantes de flatulência. Consumir alimentos ricos em fibra e ingerir bastante água para ajudar o transito intestinal Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL MEDIDAS COMPLEMENTARES Estilo de vida Evitar práticas que aumentam a ingestão de ar, tais como: Comer à pressa ou ter refeições abundantes; Mascar pastilha elástica e chupar rebuçados; Tabagismo. Evitar deitar-se ou recostar-se imediatamente após as refeições. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SUMÁRIO Pirose Flatulência Obstipação Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 45 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL OBSTIPAÇÂO Distúrbio do trânsito intestinal, percecionado pela: diminuição da frequência de eliminação fecal, geralmente acompanhada de aumento de consistência e calibre das fezes (secas e duras) dificuldade ou dor na expulsão (podendo estar ausente), que gera medo de defecar sensação de defecação incompleta (retenção fecal) Vulgarmente referido como “prisão de ventre”. O trânsito intestinal apresenta variabilidade interpessoal, sendo considerada “normal” uma frequência de evacuação que varia de três vezes ao dia a três vezes por semana Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL FATORES PREDISPONENTES OU DESENCADEANTES Hábitos de vida inadequados (ex. sedentarismo; inibição frequente do estimulo fisiológico para defecar; falta de hábito de defecação regular). Hábitos alimentares incorretos (ex. ingestão reduzida de líquidos e alimentos, alimentação pobre em fibras (frutas e legumes) ou excessiva em alimentos que endurecem as fezes, (ex. banana, pão, queijo, arroz, cenoura, açúcar). Alterações pontuais e repentinas dos hábitos de vida (ex. viagens, dietas). Fatores psicológicos. Gravidez e envelhecimento. Iatrogenia medicamentosa (administração pontual ou crónica de certos medicamentos). Doença preexistente (ex. doenças do tubo digestivo ou doença intestinal, hemorroidas ou fissuras, hipotiroidismo, insuficiência renal crónica, hipocaliemia, neuropatia diabética, demência, depressão, doença de Parkinson, AVC, atonia ou carcinoma do colón, miopatia ou cirurgia. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL EXEMPLOS DE MEDICAMENTOS QUE PODEM CAUSAR OBSTIPAÇÃO MSRM Exemplos MNSRM Exemplos Opiáceos Morfina, Codeína Antiácidos Contendo hidróxido de alumínio e/ou carbonato de cálcio Anticolinérgicos Belladona, Librax® Suplementos cálcio Antidepressivos tricíclicos e benzodiazepinas Amitriptilina ; Diazepan Suplementos ferro Bloqueadores canais de Ca2+ Verapamil Agentes antidiarreicos Loperamida Antiparkinsónicos Amantadina, Levodopa AINEs Ibuprofeno e AAS Simpaticomiméticos Efedrina,Terbutalina Antihistamínicos Difenidramina, Prometazina Antipsicóticos Cloropromazina Laxantes Uso crónico e/ou abusivo de IMAO Moclobemida estimulantes Diuréticos Furosemida Anticonvulsuvantes Gabapentina, fenitoína Hipolipimiantes Colestiramina, sinvastatina Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL INDIVÍDUOS COM MAIOR PROBABILIDADE DE OBSTIPAÇÃO Crianças Trauma ou fobia pelo uso do bacio ou sanita. Hábitos alimentares incorretos. Idosos Menor atividade do músculo intestinal. Sedentarismo. Má nutrição e baixo aporte de líquidos. Grávidas Compressão intestinal. Alterações hormonais. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL OBSTIPAÇÃO A escala de Bristol, permite identificar e classificar a forma e texturas das fezes , que depende frequentemente do seu tempo de permanência no cólon. O tipos 1 e 2 correspondem a um quadro de obstipação. Tipo 3 corresponde ao padrão desejável e a partir do 5 a um quadro de diarreia. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL OBSTIPAÇÃO | CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A DURAÇÃO Obstipação aguda: Transitória, associada a alterações pontuais de hábitos de vida. Ocorre subitamente e auto resolve-se após desaparecimento da causa. Duração: < 2 semanas Obstipação intermitente: Obstipação crónica: associada à presença de doença preexistente e/ou medicação crónica ou a hábitos de vida e alimentares incorretos ou condição fisiológica especifica (ex. gravidez, envelhecimento) Duração > 6 meses. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL OBSTIPAÇÂO CRÒNICA | CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM AS CAUSAS Obstipação primária ou funcional: sem causa fisiopatológica Obstipação secundária: associada à presença de doenças preexistente e/ou medicação crónica Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL CLÍNICA Existem critérios de diagnóstico para a obstipação crónica funcional Pode estar presentes outros sintomas, tais como: Flatulência, desconforto e distensão abdominal; Dor na região lombar e/ou abdominal; Falta de apetite (anorexia), enjoo ou enfartamento; Crise hemorroidária; Cefaleias e irritabilidade. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DA SITUAÇÃO Caracterização da situação (volume e consistência das fezes, aparência – cor, presença de sangue ou muco, início dos sintomas, frequência de defecação, presença de esforço para defecar, sensação de defecação incompleta, ). Presença de outros sintomas (ex. perda de peso inexplicável, febre, náuseas, vómitos, diarreia, distensão ou dor abdominal). Doenças preexistentes, cirurgias ou traumas conhecidos Medicação habitual. Hábitos alimentares (ex. mudanças recentes) Fatores desencadeantes, de agravamento ou melhoria, que associe ao quadro de obstipação. Condição fisiológica especifica Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL CRITÉRIOS DE REFERENCIAÇÃO AO MÉDICO CRITÉRIOS GERAIS CRITÉRIOS ESPECÍFICOS 1. Situação grave (quando os sintomas interferem com as 1. Alteração súbita de hábitos intestinais, com variação de atividades diárias ou são considerados problemáticos) ou com volume e consistência das fezes agravamento; 2. Alternância de períodos de obstipação com diarreia. 2. Duração prolongada (obstipação sem causa identificável com 3. Historia de cirurgia abdominal recente. mais de 14 dias ); 4. Suspeita de obstipação secundária a doença (ex. doença de 3. Falta de efeito de tratamento adequado já instituído Parkinson, esclerose múltipla, hemorroidas ou fissuras, (persistência da obstipação após 7 dias de uso de laxante); doença intestinal, colostomia) ou medicamentos. 4. Situação recorrente sem causa determinada. 5. Presença de sangue nas fezes ou fezes escuras, dor e/ou distensão abdominal persistente, dor retal, náuseas e/ou vómitos, ganho de peso + letargia + queda de cabelo (hipotiroidismo). 6. Acentuada ou inexplicável flatulência. 7. Presença de febre. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 8. Perda de peso ou apetite inexplicável. FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SELEÇÃO DO TRATAMENTO Reduzir o desconforto e sintomas associados FUNDAMENTO Facilitar a defecação em indivíduos com retenção fecal. Normalizar a função intestinal e prevenir episodios Minimizar o uso abusivo de laxantes estimulantes Laxantes de ação lenta / gradual Laxantes de ação rápida Laxantes expansores de volume Laxantes emolientes Laxantes osmóticos Laxantes estimulantes ou de contacto. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SELEÇÃO DO TRATAMENTO Grupo terapêutico Substância Ativa Ex. Marca Cassia angustifolia (fruto) + Ispagula (mucilagem) + Até 1 semana; 2-3x na semana Laxantes expansores Agiolax ® Plantago ovata (sementes) de volume Ação metilcelulose, farelo Bassorina + Amieiro Negro Normacol Plus® lenta Laevolac® Lactulose pode dar-se a crianças Duphalac® Laxantes osmóticos Casenlax® Macrogol Forlax® Dulcosoft® Laxantes emolientes Parafina Parafinina® Sene Pursenide® Ação rápida Laxantes estimulantes ou Bisacodilo Dulcolax® de contacto Picossulfato de sódio Dulcogotas® Bisacodilo + sene Bekunis ® Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL SELEÇÃO DO TRATAMENTO Aconselhar o laxante consoante as necessidades específicas de cada tipo de obstipação: os que aumentam a consistência das fezes para os doentes que ingerem pouca fibra, os que diminuem a consistência das fezes quando estas são muito duras, ou os estimulantes para os doentes com diminuição da motilidade intestinal. Os laxantes expansores de volume e osmóticos não são ade quados em situações que requerem o alívio rápido da obstipação; os laxantes estimulantes e as preparações administradas por via rectal devem ser preferidos para este fim. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL LAXANTES EXPANSORES DE VOLUME Considerados a primeira linha na recomendação farmacológica para obstipação funcional. são muito rico em fibras Por absorção de água, formam geles emolientes que aumentam o volume da massa fecal, com consequente estímulo do peristaltismo intestinal e, assim, facilitam a expulsão das fezes. laxante ideal Tem o mecanismo de ação mais fisiológico, podendo ser recomendados na maioria dos doentes (inclusivamente na gravidez a amamentação) ou por longos períodos de tempo. Benéfico nas situações em que a obstipação se deve a hábitos de vida e de alimentação inadequados. se não se beber água » faz o oposto Devem ser ingeridos com grandes quantidades de líquidos (250 ml/dose), para obter o efeito desejado e minimizar o risco de obstrução intestinal. Ação lenta: efeito em 12 a 24 h após a toma, mas pode demorar 2-3 dias. Administrar com 1 a 2 horas de diferença (antes ou depois) de outros fármacos. Podem provocar alguma flatulência e distensão abdominal. Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 Os laxantes osmóticos estão indicados em caso de ineficácia ou efeitos indesejáveis de um laxante expansor de volu FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO me. TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL quando mantém uma dieta mais ou menos adequada mas as fezes são muito secas LAXANTES OSMÓTICOS Fármacos metabolizados pelas bactérias do cólon que produzem ácidos dotados de ação osmótica. Por consequência, criam um ambiente hiperosmótico com “chamada” de água ao intestino, amolecimento das fezes, aumento da pressão intra intestinal com consequente aumento do peristaltismo. Benéfico para situações em que as fezes são secas e duras. Recomendados na prevenção ou tratamento de obstipação provocada por analgésicos opioides e na gravidez. Devem ser ingeridos com grandes quantidades de líquidos. Podem originar fezes liquidas. Uso excessivo e prolongado pode causar diarreia, desequilíbrio hidroeletrolítico e desidratação (cuidado grávidas e crianças). Efeito pode demorar de 2-6 horas a 2 dias. A lactulose é mais lenta a produzir efeito podendo demorar até 3 dias. Devem ser evitados em caso de intolerância a açucares (ex. lactose) e na IR. Podem provocar distensão ou dor abdominal ou flatulência Muito utilizado nas situações em que há iatrogenia medicamentosa e não é possível mudar a terapêutica (ex: anticonvulsionantes, opioides) » faz-se referenciação e aconselha-se o laxante Gabriela Moura Plácido | 2023/2024 os emolientes podem ser benéficos em casos que requeiram a manutenção de fezes pouco consistentes, que permitam uma evacuação sem esforço: doentes que padeceram de hérnia, FARMACOTERAPIA DE NÃO PRESCRIÇÃO aneurisma, patologias cardiovasculares, ou após certas cirurgias; os segundos são os mais adequados TEMA: AFEÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL usado quando é necessário fazer limpeza intestinal para preparação de exames complementares de diagnóstico LAXANTES EMOLIENTES Por redução da tensão superficial, há aumento da retenção de água e por revestimento da superfície com uma película oleosa → amolecem as fezes, facilitando a sua passagem através do intestino. Utilização limitada a tratamentos de curta duração (

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