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Este documento discute a metodologia de pesquisa em psicologia, abordando os riscos e benefícios da pesquisa para os participantes. A análise de custo-benefício é essencial para o projeto de pesquisas, e as implicações éticas dos projetos de pesquisa devem ser cuidadosamente consideradas. O documento destaca a importância das revisões éticas para aprovar pesquisas.

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Metodologia de pesquisa em psicologia 77 Quase todas as faculdades e universida- A razão risco/benefício propõe a seguin- des exigem que todas as pesquisas realiza- te pergunta: “vale a pena?”. Não existem das na institui...

Metodologia de pesquisa em psicologia 77 Quase todas as faculdades e universida- A razão risco/benefício propõe a seguin- des exigem que todas as pesquisas realiza- te pergunta: “vale a pena?”. Não existem das na instituição sejam revisadas por um respostas matemáticas para a razão risco/ comitê independente antes da coleta de da- benefício. Ao contrário, os membros de um dos. A violação de normas federais relacio- IRB baseiam-se em uma avaliação subjetiva nadas com a revisão de pesquisas envolven- dos riscos e benefícios para os participantes do seres humanos ou animais pode levar à individuais e a sociedade e questionam: os interrupção de todas as pesquisas em uma benefícios são maiores do que os riscos?. Quan- instituição, causar a perda de recursos fede- do os riscos superam os benefícios poten- rais e resultar em multas substanciais (Hol- ciais, o IRB não aprova a pesquisa; quando den, 1987). Qualquer indivíduo que queira fazer os benefícios superam os riscos, o IRB apro- pesquisas deve consultar as autoridades encarre- va a pesquisa. gadas, antes de começar a pesquisa, em relação Muitos fatores afetam a decisão sobre o ao procedimento adequado para a revisão insti- equilíbrio adequado entre os riscos e benefí- tucional. Também existem orientações para cios de uma pesquisa. Os mais básicos são a estudantes que pretendam submeter um natureza do risco e a magnitude do benefí- projeto de pesquisa a um IRB (McCallum, cio provável para o participante, bem como 2001) ou a um IACUC (LeBlanc, 2001). o potencial valor científico e social da pes- quisa (Fisher e Fryberg, 1994). Pode-se tole- rar maior risco quando existe a previsão de A razão risco/benefício benefícios claros e imediatos ou quando a Para determinar se a pesquisa deve ser pesquisa tem valor científico e social óbvio. realizada, usa-se uma avaliação subjeti- Por exemplo, um projeto de pesquisa que va dos riscos e benefícios de um projeto investiga um novo tratamento para o com- de pesquisa. portamento psicótico pode acarretar risco para os participantes. Todavia, se o trata- Além de conferir se os princípios éticos mento proposto tem uma boa chance de ter apropriados estão sendo seguidos, o IRB um efeito benéfico, os benefícios possíveis considera a razão risco/benefício do estudo. para os indivíduos e a sociedade podem su- A sociedade e os indivíduos se beneficiam perar o risco envolvido no estudo. com uma pesquisa quando se adquire novo Para determinar a razão risco/benefí- conhecimento e quando se identificam no- cio, os pesquisadores também consideram vos tratamentos que melhoram as vidas das a qualidade da pesquisa, ou seja, se serão pessoas. Também existem custos potenciais produzidos resultados válidos e interpre- quando a pesquisa não é feita. Perdemos a táveis. Mais especificamente, “se, por causa oportunidade de adquirir conhecimento e, da má qualidade da ciência, não se tiram em última análise, perdemos a oportunida- benefícios de um projeto de pesquisa, como de de melhorar a condição humana. A pes- podemos justificar o uso do tempo, atenção quisa também pode ter um custo elevado e esforço dos sujeitos e do dinheiro, espa- para os participantes individualmente se fo- ço, materiais e outros recursos que foram rem prejudicados durante o estudo. O pes- gastos no projeto de pesquisa?” (Rosenthal, quisador principal deve, é claro, ser o pri- 1994b, p. 128). Assim, o pesquisador é obrigado meiro a considerar esses custos e benefícios a tentar fazer pesquisas que satisfaçam os mais potenciais. O IRB é formado por indivíduos elevados padrões de excelência científica. com conhecimento e que não tenham inte- Quando existem riscos potenciais, o resse pessoal na pesquisa. Desse modo, o pesquisador deve garantir que não existam IRB está em melhor posição para determinar procedimentos alternativos de baixo risco a razão risco/benefício e, em última análise, que possam ser usados em substituição. O decidir se deve aprovar a pesquisa proposta. pesquisador também deve garantir que ou- 78 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister tras pesquisas já não tenham conseguido Muitas vezes, pensamos no risco em responder a pergunta de pesquisa em ques- termos da possibilidade de danos físicos. tão. Sem uma revisão cuidadosa da litera- Todavia, com frequência, os participantes tura psicológica, o pesquisador pode fazer de pesquisas em ciências sociais correm uma pesquisa que já tenha sido feita antes, riscos de danos sociais ou psicológicos. Por expondo assim os indivíduos a riscos des- exemplo, se as informações pessoais dos necessários. sujeitos forem reveladas a outras pessoas, haverá potencial para risco social, como si- Determinando o risco tuações embaraçosas. Informações pessoais coletadas durante a pesquisa psicológica Os riscos potenciais na pesquisa psicoló- podem incluir fatos sobre a inteligência, gica incluem o risco de dano físico, dano traços da personalidade, crenças políti- social e estresse mental e emocional. cas, sociais ou religiosas, e determinados Os riscos devem ser avaliados em ter- comportamentos. Um sujeito de pesquisa mos das atividades cotidianas dos par- provavelmente não desejaria que essas in- ticipantes potenciais, sua saúde física e formações fossem reveladas a professores, mental e suas capacidades. patrões ou colegas. Se a confidencialidade Determinar se os sujeitos de pesquisa das respostas dos sujeitos não for protegi- estão “em situação de risco” ilustra as difi- da, isso pode aumentar a possibilidade de culdades envolvidas na tomada de decisões danos sociais. éticas. A vida em si já é arriscada. Deslocar- O maior risco para os participantes de -se para o trabalho ou a escola, atravessar a pesquisas pela internet é a possibilidade de rua e andar de elevador são situações que revelação de informações pessoais identi- têm um elemento de risco. O fato de sim- ficáveis fora do âmbito da pesquisa (Kraut plesmente comparecer a um experimento et al., 2004). Outros pesquisadores sugerem de psicologia tem um certo grau de risco. que, embora a internet propicie uma “per- Dizer que os sujeitos humanos na pesquisa cepção de anonimato” (Nosek et al., 2002, psicológica jamais podem enfrentar riscos p. 165), em certas circunstâncias, essa per- equivaleria a acabar com a pesquisa. As cepção é falsa, e os pesquisadores devem decisões sobre o que constitui risco devem considerar maneiras de proteger a confiden- levar em consideração os riscos que fazem cialidade na transmissão e armazenamento parte da vida cotidiana. dos dados, bem como em interações com os Os pesquisadores também devem con- participantes após o estudo. siderar as características dos sujeitos quan- Certas pesquisas psicológicas podem do determinam o risco. Certas atividades representar risco psicológico se os partici- podem representar um risco sério para cer- pantes do estudo sofrerem estresse mental tos indivíduos, mas não para outros. Subir ou emocional sério. Imagine o estresse que escadas correndo pode aumentar o risco de um sujeito pode sentir quando entra fumaça um ataque cardíaco para uma pessoa ido- na sala onde está esperando. A fumaça pode sa, mas a mesma tarefa provavelmente não estar entrando na sala para que o pesquisa- seria arriscada para a maioria dos adultos. dor possa simular uma emergência. Até que De maneira semelhante, indivíduos que são se revele a verdadeira natureza da fumaça, excepcionalmente deprimidos ou ansiosos os participantes da pesquisa podem sentir devem apresentar reações mais severas a uma tensão considerável. Nem sempre é certos testes psicológicos do que outras pes- fácil prever quando haverá estresse emocio- soas. Assim, ao considerar o risco, os pes- nal ou psicológico. quisadores devem considerar as populações Considere o dilema que ocorre quando específicas de indivíduos que são prováveis os pesquisadores tentam obter informações de participar do estudo. sobre o abuso infantil e a violência inter- Metodologia de pesquisa em psicologia 79 pessoal (ver Becker-Blease e Freyd, 2006). Risco mínimo Pedir a indivíduos para descreverem casos de abuso infantil ou violência familiar de Diz-se que um estudo envolve “risco seu passado pode ser emocionalmente es- mínimo” quando os procedimentos ou tressante. Ainda assim, a maioria dos pes- atividades do estudo são semelhantes quisadores concorda que o conhecimento aos que os participantes encontram em dessas experiências pode fornecer visões suas vidas cotidianas. importantes aos cientistas comportamen- Às vezes, faz-se uma distinção entre tais sobre alguns dos males da sociedade um participante “em risco” e aquele que (p.ex., o divórcio, o baixo rendimento es- está em “risco mínimo”. O risco mínimo colar, a criminalidade), bem como orientar significa que o perigo ou desconforto que estudos com pesquisas clínicas. Mas como os sujeitos podem experimentar na pes- e quando fazer isso? Becker-Blease e Freyd quisa não é maior do que o que podem ex- (2006) discutem a ética de perguntar ou perimentar em suas vidas cotidianas ou não perguntar sobre o abuso. Eles mos- durante testes físicos ou psicológicos de tram que não perguntar também tem os rotina. Como exemplo de risco mínimo, seus custos, na forma de barrar a ciência considere o fato de que muitos estudos la- e impedir que os participantes busquem boratoriais em psicologia envolvem longos ajuda ou aprendam sobre reações normais testes de preencher à mão, visando avaliar ao abuso e os recursos da comunidade que diversas capacidades mentais. Os sujeitos podem ajudar. Estudos sobre o abuso in- também podem preencher os testes rapi- fantil também podem quebrar o tabu que damente e receber feedback específico sobre existe contra falar sobre o abuso e mostram o seu desempenho. Embora seja provável às vítimas que essas discussões podem ser que haja estresse nessa situação, o risco importantes. Segundo a visão de Becker- de dano psicológico provavelmente não -Blease e Freyd, não perguntar “ajuda os será maior do que o que estudantes costu- agressores e agride as vítimas” (p. 225). mam experimentar. Portanto, esses estu- Assim, o custo de não perguntar pode ter dos envolveriam apenas um risco mínimo um peso importante em qualquer análise para estudantes universitários. Quando a de riscos e benefícios. possibilidade de dano é considerada mais Apenas o fato de participar de um que mínima, diz-se que os indivíduos es- experimento de psicologia já provoca an- tão em risco. Quando um estudo coloca os siedade em alguns indivíduos. Depois de participantes em risco, o pesquisador tem aprender uma lista de sílabas sem sentido obrigações mais sérias de proteger o seu (p.ex., HAP, BEK), um estudante disse que bem-estar. tinha certeza de que o pesquisador agora sabia muita coisa sobre ele! O estudante Lidando com o risco pressupôs que o psicólogo estava interes- sado em conhecer a sua personalidade, Independentemente de estarem “em analisando as associações de palavras que risco” ou “em risco mínimo”, os sujei- tinha usado ao aprender a lista. Na reali- tos de pesquisa devem ser protegidos. dade, essa pessoa estava participando de À medida que os riscos ficam maio- um experimento simples sobre a memória, res, são necessárias mais medidas de projetado para avaliar o esquecimento. O proteção. pesquisador é obrigado a proteger os sujeitos de Para proteger os participantes de riscos estresse emocional ou mental, incluindo, quan- sociais, as informações que eles forne- do possível, o estresse que pode surgir devido às cem devem ser anônimas ou, se isso não concepções equivocadas dos sujeitos em relação for possível, deve-se manter a confiden- ao teste psicológico. cialidade das suas informações. 80 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister EXERCÍCIO I Para cada uma das situações de pesquisa 2. Adultos idosos em um lar de repouso fazem seguintes, você deve decidir se existe “risco uma bateria de testes de desempenho na mínimo” (i.e., um risco não maior do que o da sala de convivência de seu lar. Um psicólogo vida cotidiana) ou se os participantes estão tenta determinar se existe um declínio no fun- “em risco”. Se você decidir que os participan- cionamento mental com a idade avançada. tes estão “em risco”, pense em recomenda- 3. Estudantes de uma disciplina de metodologia ções que você possa fazer ao pesquisador de pesquisa em psicologia veem outro aluno que reduzam o risco para os participantes. Ao entrar em sua sala no meio do período da clas- se, falar em voz alta e de maneira rude com o fazê-lo, você sem dúvida começará a prever professor, e depois sair. Como parte de um es- algumas das questões éticas que serão dis- tudo sobre a memória de testemunhas ocula- cutidas neste capítulo. res, os estudantes devem descrever o intruso. 1. Solicitou-se que estudantes universitários fi- 4. Um pesquisador recruta estudantes de clas- zessem uma lista de adjetivos descrevendo o ses de introdução à psicologia para participa- seu humor atual. O pesquisador quer identifi- rem de um estudo sobre os efeitos do álcool car estudantes que estejam deprimidos, para para o funcionamento cognitivo. O experi- que possam ser incluídos em um estudo que mento exige que alguns alunos bebam duas analisará os déficits cognitivos associados à onças (cerca de 60ml) de álcool (misturado depressão. com suco de laranja) antes de jogarem um jogo de computador. Mesmo que o risco potencial seja pe- jam menos capazes de monitorar o nível queno, os pesquisadores devem tentar mi- de perturbação e reduzir o risco em estu- nimizar o risco e proteger os participantes. dos virtuais (Kraut et al., 2004). Uma abor- Por exemplo, informar no começo de um dagem pode ser obter dados preliminares experimento com a memória que os testes com o objetivo de identificar indivíduos não visam avaliar a inteligência ou a perso- que possam estar em risco e excluí-los do nalidade já reduz o nível de estresse para estudo. Todavia, talvez não seja possível certos participantes. Em situações em que a realizar estudos com risco elevado pela in- possibilidade de dano é considerada signi- ternet (Kraut et al., 2004). ficativamente maior do que a que ocorre na Não devem ser realizadas pesquisas vida cotidiana, a obrigação do pesquisador envolvendo risco acima do mínimo para os de proteger os participantes aumenta pro- participantes, a menos que já tenham sido porcionalmente. Por exemplo, quando os procurados métodos alternativos de coleta participantes são expostos à possibilidade de dados com menos riscos. Em certos ca- de estresse emocional sério em um experi- sos, devem-se usar abordagens descritivas, mento de psicologia, o IRB deve exigir que envolvendo observação ou questionários, haja um psicólogo clínico disponível para em vez de tratamentos experimentais. Os aconselhar os indivíduos sobre o que sen- pesquisadores também aproveitam “tra- tirem no estudo. Como se pode imaginar, a tamentos” de ocorrência natural que não pesquisa pela internet traz difíceis dilemas envolvem induzir estresse por meio de um éticos nesse sentido. Os participantes po- experimento. Por exemplo, Anderson (1976) dem experimentar estresse emocional no entrevistou gerentes-proprietários de pe- contexto de um estudo pela internet, assim quenas empresas que haviam sido prejudi- como fariam em um estudo laboratorial. cadas pelas enchentes causadas por um fu- Todavia, como estão ausentes da situação racão. O autor observou que havia um nível de pesquisa, os pesquisadores talvez se- ideal de tensão que levava os participantes Metodologia de pesquisa em psicologia 81 a resolverem problemas e lidarem com a si- Os pesquisadores têm a obrigação ética tuação de maneira efetiva. Uma relação se- de descrever os procedimentos de pes- melhante foi demonstrada em diversos tes- quisa de forma clara, identificar quais- tes laboratoriais experimentais que usavam quer aspectos do estudo que possam indução de estresse pelo pesquisador. influenciar a disposição dos indivíduos Para proteger os participantes da pes- de participar, e responder questões que quisa de danos sociais, a coleta de dados os participantes possam ter sobre a deve manter as respostas dos participan- pesquisa. tes anônimas, pedindo que não usem seus Os participantes da pesquisa devem ter nomes ou qualquer outra informação que a possibilidade de revogar seu consen- os identifique. Quando isso não é possí- timento a qualquer momento e sem ne- vel, os pesquisadores devem manter as nhuma penalidade. respostas dos participantes confidenciais, Não se deve pressionar indivíduos a removendo qualquer informação de iden- participar da pesquisa. tificação de seus registros durante a pes- Os participantes da pesquisa têm a obri- quisa. Quando o pesquisador precisa tes- gação ética de agir de forma apropriada tar as pessoas em mais de uma ocasião ou durante a pesquisa, sem mentir, enganar acompanhar determinados indivíduos, ou ou cometer outros atos fraudulentos. quando as informações fornecidas pelos O consentimento informado deve ser participantes são particularmente sensí- obtido com guardiões legais para indi- veis, podem-se atribuir códigos numéricos víduos incapacitados para dar consenti- aos participantes no começo da pesquisa. mento (p.ex., crianças pequenas, indiví- Somente esses números precisam aparecer duos com problemas mentais); alguma nas fichas de respostas dos sujeitos, e os forma de concordância em participar nomes são relacionados aos códigos nu- deve ser obtida com indivíduos que não méricos em uma lista de acesso restrito. Os possam dar consentimento informado. pesquisadores virtuais devem ser particu- Os pesquisadores devem buscar a larmente sensíveis à possibilidade de bis- orientação de outros indivíduos com bilhotagem eletrônica ou roubo de dados conhecimento, incluindo um IRB, para armazenados, devendo adotar as precau- decidir se devem abrir mão do consen- ções adequadas para reduzir o risco social timento informado, como quando a (ver Kraut et al., 2004). pesquisa é realizada em ambientes pú- Garantir que as respostas dos partici- blicos. Esses ambientes exigem atenção pantes sejam anônimas ou confidenciais especial para proteger a privacidade também pode beneficiar o pesquisador, se dos indivíduos. isso levar os participantes a serem mais ho- A privacidade refere-se aos direitos de nestos e abertos em suas respostas (Blanck, indivíduos decidirem como informa- Bellack, Rosnow, Rotheram-Borus e Schoo- ções a seu respeito devem ser comuni- ler, 1992). Os participantes serão menos pro- cadas a outras pessoas. váveis de mentir ou omitir informações se não estiverem preocupados com quem terá Uma parte substancial do código de éti- acesso às suas respostas. ca relacionado com a pesquisa é dedicada a questões ligadas ao consentimento informa- do. Isso é correto, pois o consentimento in- Consentimento informado formado é um componente essencial do con- Os pesquisadores e os sujeitos firmam trato social entre o pesquisador e o sujeito. O um contrato social, muitas vezes usan- consentimento informado é a disposição da do um procedimento de consentimento pessoa, expressa explicitamente, para parti- informado. cipar de um projeto de pesquisa, baseada em 82 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Figura 3.3 O Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, entre 1932 e 1972, analisou o curso da sífilis não tratada em homens afro-americanos pobres do conda- do de Macon, no estado do Alabama, que não haviam dado consentimento informado. Eles não sabiam que tinham sífilis, e sua doença foi deixada sem tratamento. Os sobreviventes receberam reconhecimento do governo Clinton. uma compreensão clara na natureza da pes- pesquisadores sempre devem obter consen- quisa, das consequências de não participar timento informado. O consentimento informa- e de todos os fatores que podemos esperar do escrito é absolutamente essencial quando os que influenciem a disposição daquela pes- participantes são expostos a mais do que o risco soa para participar (ver Figura 3.3). mínimo. Os pesquisadores fazem esforços razoá- Os sujeitos de pesquisa que consentem veis para responder a quaisquer perguntas em participar também têm responsabilida- que os sujeitos tenham sobre a pesquisa e des éticas de agir de modo adequado. Por respeitar a dignidade e os direitos do indiví- exemplo, os sujeitos devem prestar atenção duo durante a experiência da pesquisa. Des- em instruções e fazer os testes da maneira se modo, os indivíduos podem tomar uma descrita pelo pesquisador. Taylor e She- decisão informada sobre sua participação. pperd (1996) descrevem um estudo que O consentimento dos participantes deve ser ilustra as consequências possíveis quando dado livremente, sem indução ou pressão os participantes não agem de forma respon- indevida. Os participantes também devem sável. No estudo, os sujeitos foram deixados saber que são livres para revogar o seu con- brevemente a sós pelo pesquisador, que os sentimento a qualquer momento, sem sofre- advertiu a não discutir a experiência entre rem nenhuma penalidade ou prejuízo. Os eles. Contudo, quando ficaram a sós, os Metodologia de pesquisa em psicologia 83 participantes falaram sobre o experimento A pesquisa pela internet representa e obtiveram informações com os outros que problemas éticos específicos para a obten- negavam o valor da pesquisa. Além dis- ção de consentimento informado. Consi- so, posteriormente, quando o pesquisador dere que, na maioria dos casos, os partici- perguntou aos participantes o que sabiam pantes virtuais geralmente clicam o mouse sobre os procedimentos e objetivos do es- do computador para indicar que leram e tudo, nenhum revelou ter obtido informa- entenderam a declaração de consentimen- ções importantes sobre o estudo durante to. Mas será que isso constitui uma “assi- sua conversa ilícita. Esse exemplo ilustra o natura” do participante com valor legal? princípio mais amplo de que mentir, enganar Como o pesquisador sabe se os participan- ou outro comportamento fraudulento por sujei- tes têm a idade exigida ou que eles enten- tos de pesquisa viola a integridade científica da dem totalmente a declaração de consen- situação de pesquisa. timento informado? Uma sugestão para Não é possível obter um consentimento determinar se os participantes entenderam informado verdadeiro de certos indivíduos, a declaração de consentimento informa- como pessoas com problemas mentais ou do é administrar pequenos testes sobre o emocionais, crianças pequenas e aqueles conteúdo; procedimentos para distinguir que têm pouca capacidade para entender a crianças de adultos podem envolver solici- natureza da pesquisa e os riscos possíveis tar informações que normalmente só estão (ver Figura 3.4). Nesses casos, deve-se obter disponíveis a adultos (Kraut et al., 2004). o consentimento informado formal com os Sempre que surgirem dilemas éticos des- pais ou guardiões legais dos participantes. se tipo, é sensato procurar a orientação de Sempre que possível, contudo, deve se obter profissionais experientes, mas a responsabi- a “aceitação” dos próprios participantes, ou lidade final por fazer pesquisas éticas sempre é seja, sua disposição expressa em participar. do pesquisador. Figura 3.4 A questão do consentimento informado é especialmente importante quando crianças participam de uma pesquisa. 84 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Nem sempre é fácil decidir o que cons- mo modelo serve para qualquer ocasião”. Os titui um incentivo ou pressão indevida para procedimentos de consentimento informado participar. Pagar 9 dólares por hora a estu- e documentação escrita variam um pouco dantes universitários para participarem de dependendo das situações e populações. Os um experimento de psicologia geralmente membros de um IRB são uma boa fonte de não seria considerado coerção imprópria, orientações sobre como obter e documentar mas recrutar pessoas muito pobres ou desti- o consentimento informado de um modo tuídas das ruas com uma oferta de 9 dólares que cumpra as diretrizes éticas e proteja os talvez seja mais coercitivo e menos aceitável direitos dos participantes. (Kelman, 1972). Prisioneiros podem crer que Em certas situações, não existe exigência as autoridades considerarão uma recusa da de que os pesquisadores obtenham o consen- sua parte em participar de um experimento timento informado. O exemplo mais claro é de psicologia como evidência de falta de co- quando os pesquisadores estão observando operação e, portanto, será mais difícil rece- o comportamento de indivíduos em locais berem liberdade condicional. públicos sem fazerem nenhuma intervenção. Quando estudantes universitários de- Por exemplo, um pesquisador pode obter vem cumprir uma exigência de uma classe, evidências sobre as relações raciais em um servindo como sujeitos em experimentos de campus universitário observando a frequên- psicologia (uma experiência que supostamen- cia de grupos com e sem mistura de raças te tem valor educacional), deve-se oferecer que andam pelo campus. O pesquisador não um método alternativo de cumprir o requi- precisaria obter a permissão dos estudantes sito àqueles que não queiram participar de antes de fazer as observações. Todavia, seria pesquisas psicológicas. O tempo e o esforço exigido consentimento informado se a iden- necessários para essas opções alternativas de- tidade de certos indivíduos fosse registrada. vem ser equivalentes aos necessários para a Nem sempre é fácil decidir quando um participação na pesquisa. Tarefas alternativas comportamento é público ou privado. A pri- que costumam ser usadas são ler e resumir vacidade se refere aos direitos de indivíduos artigos descrevendo pesquisas, fazer obser- decidirem como informações sobre eles de- vações de campo informais sobre o comporta- vem ser comunicadas a outras pessoas. Die- mento, assistir a apresentações de resultados ner e Crandall (1978) identificam três dimen- de pesquisa por estudantes ou professores da sões principais que os pesquisadores podem pós-graduação e prestar serviços comunitá- considerar para ajudá-los a decidir quais in- rios voluntários (ver Kimmel, 1996). formações são privadas: a sensibilidade das Os IRBs exigem que os pesquisadores informações, o cenário e o método de disse- documentem que o procedimento adequado minação das informações. De forma clara, al- de obtenção do consentimento informado foi guns tipos de informações são mais sensíveis seguido para qualquer pesquisa que envolva do que outros. Os indivíduos que são entre- sujeitos humanos. Todavia, é importante re- vistados sobre suas práticas sexuais, crenças conhecer que, como afirmam as diretrizes do religiosas ou atividades criminais são prová- Office for Human Research Protections, “o veis de se preocupar muito com a maneira consentimento informado é um processo, e como suas informações serão usadas. não apenas um formulário”. A coordenadora O cenário também desempenha um de um IRB nos disse que fala para os pesqui- papel em decidir se o comportamento é pú- sadores imaginarem que estão sentados com blico ou privado. Certos comportamentos, a pessoa explicando o projeto. No Quadro como assistir a um show, podem razoavel- 3.1, apresentamos algumas dicas sobre o mente ser considerados públicos. Em situa- processo adequado de obtenção do consenti- ções públicas, as pessoas abrem mão de um mento informado, em vez de apresentar um certo grau de privacidade. Certos comporta- formulário que possa implicar que “o mes- mentos que ocorrem em situações públicas, Metodologia de pesquisa em psicologia 85 Quadro 3.1 DICAS PARA OBTER O CONSENTIMENTO INFORMADO O consentimento informado adequado deve Descreva os benefícios para os sujeitos por indicar claramente o propósito da pergunta de sua participação. Se os benefícios são ape- pesquisa, a identidade e vínculo institucional nas favorecer a sociedade ou a ciência de do pesquisador e os procedimentos que se- um modo geral, isso deve ser informado. rão seguidos durante a experiência da pesqui- Descreva possíveis alternativas à parti- sa. Depois que os participantes leram o for- cipação. Se um “grupo de participantes” mulário de consentimento e suas perguntas formado por estudantes universitários está foram respondidas, o formulário deve ser as- sendo estudado, devem-se explicar modos alternativos de aprender sobre a pesquisa sinado e datado pelo pesquisador e pelo par- psicológica. ticipante. O Office for Human Research Pro- Deve-se dizer aos participantes como as tections (OHRP) publicou dicas para ajudar os informações pessoais identificáveis serão pesquisadores no processo de obtenção do mantidas confidenciais. Em situações em consentimento informado. Um IRB pode exi- que são coletadas informações muito sensí- gir informações adicionais. O texto completo veis, o IRB pode exigir proteções adicionais, das dicas do OHRP, bem como links para do- como um Certificado de Confidencialidade. cumentos federais afins e importantes, pode Se houver a possibilidade de danos rela- ser obtido no endereço www.hhs.gov/ohrp/ cionados à pesquisa além do risco mínimo, humansubjects/guidance/ictips.htm. deve-se dar uma explicação sobre compen- sações e tratamentos voluntários. Evite usar jargão científico ou termos técni- Os direitos legais dos participantes não de- cos; o documento do consentimento infor- vem ser desrespeitados. mado deve ser escrito em uma linguagem Deve-se identificar uma “pessoa de con- que seja claramente compreensível para o tato” que tenha conhecimento sobre a participante. pesquisa, para que os participantes que Evite o uso da primeira pessoa (p.ex., “eu tenham dúvidas após a pesquisa possam entendo que...” ou “eu concordo...”), pois esclarecê-las. Podem surgir questões em isso pode ser interpretado como sugestivo qualquer uma das três áreas seguintes, e e usado incorretamente como um substi- essas áreas devem ser explicitamente iden- tuto para informações factuais suficientes. tificadas e abordadas no processo e docu- Formulações como “se você concorda em mentos de consentimento: a experiência de participar, deverá fazer o seguinte” são pre- pesquisa, os direitos dos participantes e da- feríveis. Pense no documento principalmen- nos relacionados à pesquisa. Às vezes, isso te como uma ferramenta de ensino, e não pode envolver mais de uma pessoa de con- como um instrumento legal. tato, por exemplo, ao encaminhar o sujeito Descreva a experiência geral que o sujeito ao IRB ou a um representante institucional. encontrará, de um modo que identifique a Deve-se incluir uma declaração de partici- natureza da experiência (p.ex., como ela é pação voluntária, que enfatize o direito do experimental), bem como os danos, des- participante de retirar-se da pesquisa a qual- confortos, inconveniências e riscos razoa- quer momento sem nenhuma penalidade. velmente previsíveis. contudo, não são classificados facilmente é pública ou privada? As decisões sobre a como públicos ou privados (ver Figura 3.5). prática ética nessas situações dependem da Quando você anda em seu carro, usa um ba- sensibilidade dos dados coletados e das ma- nheiro público, ou faz um piquenique com neiras como essas informações serão usadas. a família no parque, esses comportamentos Quando as informações são dissemina- são públicos ou privados? A comunicação das na forma de médias de grupo ou propor- em uma “sala de bate-papo” na internet ções, é improvável que revelem muito sobre 86 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Figura 3.5 Nem sempre é fácil decidir o que é comportamento público e o que é compor- tamento privado. indivíduos específicos. Em outras situações, didas adotadas para garantir a sua proteção podem-se usar sistemas codificados para são razoáveis. Implementar o princípio do proteger a confidencialidade dos participan- consentimento informado exige que o pes- tes. Disseminar informações sensíveis sobre in- quisador busque equilibrar a necessidade divíduos ou grupos sem a sua permissão é uma de investigar o comportamento humano, quebra séria da ética. Quando informações po- por um lado, com os direitos dos participan- tencialmente sensíveis sobre indivíduos são tes humanos, por outro. coletadas sem o seu conhecimento (p.ex., por um observador oculto), o pesquisador pode O engano na pesquisa contatar os indivíduos após as observações terem sido feitas e perguntar se pode usar psicológica as informações. O pesquisador não pode- O engano ocorre na pesquisa psicoló- ria usar as informações de sujeitos que ne- gica quando os pesquisadores omitem gassem a sua permissão. As decisões mais informações ou informam os partici- difíceis relacionadas com a privacidade en- pantes incorretamente de maneira in- volvem situações em que existe um proble- tencional sobre a pesquisa. Por sua na- ma ético óbvio em uma dimensão, mas não tureza, o engano viola o princípio ético nas outras duas, ou situações em que existe do consentimento informado. um leve problema em todas as três dimen- O engano é considerado uma estratégia sões. Por exemplo, o comportamento de in- de pesquisa necessária em certas pes- divíduos no ambiente escuro de um cinema quisas psicológicas. parece ter o potencial de gerar informações Enganar indivíduos para fazê-los parti- sensíveis para o indivíduo, mas pode ser ra- cipar da pesquisa sempre é eticamente zoavelmente classificado como público. incorreto. Sempre que possível, deve-se explicar Os pesquisadores devem ponderar cui- aos participantes de que maneira suas infor- dadosamente os custos do engano com mações serão mantidas confidenciais, para os benefícios potenciais da pesquisa ao que possam avaliar por si mesmos se as me- considerarem o uso de engano. Metodologia de pesquisa em psicologia 87 EXERCÍCIO II O código de ética da APA afirma que os psi- dantes e registra a quantidade que os outros cólogos podem dispensar o consentimento estudantes bebem na festa. informado quando a pesquisa envolve uma 2. Como parte de um estudo sobre a comuni- observação naturalística (ver o Padrão 8.05). dade gay, um pesquisador gay entra para um Todavia, como já vimos, nem sempre é fácil time de basquete formado por gays, com o decidir quando se está fazendo observação objetivo de registrar comportamentos dos jogadores no contexto da competição es- naturalística em um cenário “público”. Con- portiva durante a temporada. Todos os jogos sidere os seguintes cenários de pesquisa e ocorrem em uma liga recreativa municipal, decida se você acha que deve ser pedido o com o público em geral como espectador. consentimento informado dos participantes 3. O comportamento em banheiros públicos antes do pesquisador começar a pesqui- (p.ex., puxar a descarga, lavar as mãos, jogar sa. Talvez você queira mais informações do lixo, grafitar) de homens e mulheres é obser- pesquisador. Nesse caso, quais informa- vado por pesquisadores de ambos os sexos ções adicionais você gostaria de ter antes escondidos nas cabines dos respectivos ba- de decidir se o consentimento informado nheiros. é necessário na situação? Você verá que o 4. Um aluno de pós-graduação quer investigar consentimento informado pode ter um efei- comportamentos ilícitos de estudantes uni- to dramático em uma situação de pesquisa. versitários. Ele se esconde em uma cabine de Por exemplo, exigir o consentimento infor- projeção em um auditório onde são adminis- mado pode tornar difícil para o pesquisador trados exames em turmas bastante grandes. registrar o comportamento em condições A partir de seu ponto de vista, ele consegue “naturais”. Esses são os dilemas da tomada ver os movimentos da maioria dos alunos com o auxílio de um binóculo. Ele registra de decisões ética. movimentos da cabeça, trocas de papéis, 1. Em um estudo sobre o consumo de álcool notas passadas de mão em mão, o uso do por estudantes universitários, um aluno de telefone celular, mensagens de texto e outros graduação que trabalha para um professor comportamentos considerados suspeitos na participa de uma festa em uma casa de estu- realização de exames. Uma das mais controversas questões e continua sendo uma estratégia comum de éticas relacionadas com a pesquisa é o uso pesquisa (Sharpe, Adair e Roese, 1992). Por de engano. O engano pode ocorrer por exemplo, Skitka e Sargis (2005) analisaram omissão, a ocultação de informações, ou co- psicólogos sociais que usaram a internet missão, informar os participantes incorreta- como ferramenta para coleta de dados e mente e de forma intencional a respeito de observaram que 27% dos estudos publica- um aspecto da pesquisa. Certas pessoas ar- dos envolviam alguma forma de engano gumentam que os sujeitos de pesquisa nun- aos participantes da pesquisa. ca devem ser enganados, pois a prática éti- Por que o engano ainda é tão usado, ca exige que a relação entre o pesquisador apesar das controvérsias éticas? Uma ra- e o participante seja aberta e honesta (p.ex., zão é que é impossível realizar certos tipos Baumrind, 1995). Para alguns, o engano é de pesquisa sem omitir informações dos moralmente repugnante, não sendo dife- participantes sobre alguns aspectos da pes- rente de mentir. O engano contradiz o prin- quisa (ver Figura 3.6). Em outras situações, cípio do consentimento informado. Apesar é necessário informá-los incorretamente da maior atenção dedicada ao engano na para que adotem certas atitudes ou com- pesquisa nas últimas décadas, o uso de en- portamentos. Por exemplo, Kassin e Kiechel gano na pesquisa psicológica não diminuiu (1996) investigaram fatores que afetam o 88 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Figura 3.6 Na década de 1960, os sujeitos dos experimentos de Stanley Milgram não eram informados de que o propósito da pesquisa era observar a obediência das pessoas à autoridade, e muitos seguiam as instruções do pesquisador para dar choques elétricos severos em outro ser humano. Ver Burger (2009). fato de se as pessoas confessam ter feito algo sobre pesquisas que se espera, em um nível razoá- que não fizeram. Seu objetivo era entender vel, que causem dor física ou estresse emocional os fatores que levam suspeitos de crimes a severo” (Padrão 8.07b). confessar falsamente. Em seu experimento, Um dos objetivos da pesquisa é observar a tarefa dos sujeitos era digitar cartas lidas o comportamento normal dos indivíduos. em voz alta. Elas recebiam a ordem de não Um pressuposto básico para o uso de engano tocar na tecla Alt enquanto digitassem pois é que, às vezes, é necessário ocultar a verda- isso travaria o computador. O computador deira natureza de um experimento, para que era programado para travar depois de um os participantes ajam como agiriam normal- breve período, e o pesquisador acusava o mente, ou ajam de acordo com as instruções sujeito de ter pressionado a tecla Alt. Embo- fornecidas pelo pesquisador. Todavia, podem ra nenhum dos participantes tivesse teclado surgir problemas com o uso frequente e ca- Alt, quase 70% deles assinaram uma confis- sual de engano (Kelman, 1967). Se as pessoas são escrita dizendo que o tinham feito. Se os acreditarem que os pesquisadores enganam participantes tivessem sabido antes que os os participantes com frequência, elas po- procedimentos eram programados para evo- dem esperar que sejam enganadas quando car suas confissões falsas, eles provavelmen- participarem de um experimento psicológi- te não teriam confessado. A abertura neces- co. As suspeitas dos participantes quanto à sária para o consentimento informado teria pesquisa podem impedir que ajam normal- impossibilitado estudar a probabilidade de mente (ver Quadro 3.2). Isso é exatamente o que as pessoas fizessem uma confissão falsa. contrário do que os pesquisadores esperam Embora o engano às vezes seja justi- alcançar. De maneira interessante, Epley e ficado para possibilitar a investigação de Huff (1998) compararam diretamente as rea- perguntas de pesquisa importantes, sempre ções de participantes que foram ou não infor- é eticamente incorreto enganar os sujeitos mados, em uma sessão de debriefing, de que com o propósito de fazê-los participar de haviam sido enganados. Aqueles que foram uma pesquisa que envolva mais que o ris- informados do engodo se mostraram mais co mínimo. Conforme explicitado no código desconfiados em relação a pesquisas psico- de ética, “os psicólogos não enganam os sujeitos lógicas subsequentes do que os participantes Metodologia de pesquisa em psicologia 89 Quadro 3.2 ENGANAR OU NÃO ENGANAR: EIS UMA DIFÍCIL QUESTÃO Os pesquisadores continuam a usar práticas para a sociedade são grandes demais para jus- enganosas na pesquisa psicológica (p.ex., Sie- tificar o seu uso continuado. Embora esses ar- ber, Ianuzzo e Rodriguez, 1995). O debate na gumentos sejam extensos e complexos, vamos comunidade científica com relação ao uso de tentar fazer um breve resumo. Primeiro, segun- engano também não arrefeçou (ver, por exem- do Baumrind, o engano tem um custo para os plo, Bröder, 1998; Fisher e Fryberg, 1994; Ort- participantes, pois sabota a sua confiança em mann e Hertwig, 1997). Essa é uma questão seu próprio juízo e em um “fiduciário” (alguém complexa, e aqueles que tomam parte no de- que guarda algo para outra pessoa com base bate às vezes discordam em relação à defini- na confiança). Quando os sujeitos da pesquisa ção de engano (ver Ortmann e Hertwig, 1998). descobrem que foram enganados, Baumrind Fisher e Fryberg (1994) sintetizaram o debate acredita que isso possa levá-los a questionar da seguinte maneira: “os argumentos éticos o que aprenderam sobre si mesmos e levá-los têm enfocado em se práticas de pesquisa en- a desconfiar de pessoas (p.ex., cientistas so- ganosas se justificam com base em seu bene- ciais) que antes acreditavam que lhes dariam fício potencial para a sociedade ou se violam informações e orientações válidas. Existe um princípios morais de beneficência e respeito custo para a sociedade porque os participan- pelos indivíduos e as obrigações fiduciárias de tes (e a sociedade mais ampla) logo entendem psicólogos com sujeitos de pesquisa” (p. 417). que os psicólogos são “cheios de truques” e Isso é complicado; vamos tentar decompô-lo. não se deve confiar em suas instruções sobre Um dos princípios morais da “beneficên- a participação em pesquisas. Se os participan- cia” se refere à ideia de que as atividades de tes tendem a suspeitar que os psicólogos estão pesquisa devem ser beneficentes (trazer bene- mentindo, pode-se questionar se o engano fun- fícios) para os indivíduos e a sociedade. Se o cionará conforme pretendia o pesquisador, uma engano prejudica indivíduos ou a sociedade, questão levantada anteriormente por Kelman pode-se questionar a beneficência da pesqui- (1972). Baumrind também argumenta que o uso sa. O princípio moral do “respeito pelos indi- de engano revela que os psicólogos estão dis- víduos” é que: as pessoas devem ser tratadas postos a mentir, o que aparentemente contradiz como pessoas, e não como “objetos” de estu- a sua suposta dedicação à busca da verdade. do, por exemplo. Esse princípio sugere que as Finalmente, existe um prejuízo à sociedade, pessoas têm o direito de fazer seus próprios pois o engano sabota a confiança das pessoas juízos sobre os procedimentos e propósitos da em especialistas e as torna desconfiadas, de pesquisa de que estão participando (Fisher e um modo geral, de qualquer situação inventada. Fryberg, 1994). As “obrigações fiduciárias dos É claro, essas não representam as visões psicólogos” referem-se às responsabilidades de todos os psicólogos (ver Christensen, 1988; de indivíduos aos quais se confiaram outras Kimmel, 1998). Milgram (1977), por exemplo, pessoas, mesmo que apenas temporariamente. sugere que práticas enganosas por parte de No caso da pesquisa psicológica, considera-se psicólogos na verdade são um tipo de “ilusão que o pesquisador tem responsabilidade pelo técnica” e devem ser permitidas nos interesses bem-estar dos participantes durante o estudo e da investigação científica. Afinal, às vezes, pelas consequências da sua participação. criamos ilusões na vida real para fazer as pes- Essas ideias e princípios talvez possam soas acreditarem em algo. Ao ouvir um progra- ser ilustradas com os argumentos de Baumrind ma de rádio, as pessoas geralmente não se (1985), que argumenta persuasivamente que importam com o fato de que o trovão que ou- “o uso de engano intencional na situação de vem ou o som de um cavalo galopando é ape- pesquisa é eticamente incorreto, imprudente e nas uma ilusão técnica criada por um especia- injustificável cientificamente” (p. 165). Especifi- lista em efeitos sonoros. Milgram argumenta camente, ela afirma que os custos do uso de que as ilusões técnicas devem ser permitidas engano para os participantes, para a profissão e no caso da pesquisa científica. Fazemos as 90 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Quadro 3.2 (continuação) crianças acreditarem no Papai Noel. Por que mente não parecem reagir negativamente os cientistas não podem criar ilusões para aju- quando são enganados (p.ex., Christensen, dá-los a entender o comportamento humano? 1988; Epley e Huff, 1998; Kimmel, 1996). Em- Assim como ilusões costumam ser cria- bora a “desconfiança” das pessoas em rela- das em situações da vida real, segundo Mil- ção à pesquisa psicológica possa aumentar, gram, pode haver uma suspensão de um prin- os efeitos gerais parecem ser pequenos (ver cípio moral geral. Se ficamos sabendo de um Kimmel, 1998). Entretanto, a questão, segun- crime, somos eticamente obrigados a relatá-lo do aqueles que defendem o uso continuado às autoridades. Por outro lado, um advogado do engano, é resumida adequadamente por que recebe informações de um cliente deve Kimmel (1998): “uma regra absoluta que pro- considerar essas informações privilegiadas, íba o uso de engano em qualquer pesquisa mesmo que revelem que o cliente é culpado. psicológica teria a egrégia consequência de Os médicos fazem exames bastante pessoais impedir que os pesquisadores fizessem uma de nossos corpos. Embora isso seja moral- ampla variedade de estudos importantes” (p. mente permissível no consultório médico, o 805). Ninguém na comunidade científica su- mesmo tipo de comportamento não seria acei- gere que as práticas enganosas devam ser to fora do consultório. Milgram afirma que, no tratadas superficialmente; todavia, para mui- interesse da ciência, os psicólogos devem ter tos cientistas, o uso do engano é menos noci- a permissão de, ocasionalmente, suspender o vo (para usar o termo de Kelman) do que não princípio moral da veracidade e honestidade. ter o conhecimento obtido com tais estudos. Aqueles que defendem o engano citam Você acha que se deve usar engano na estudos que mostram que os sujeitos geral- pesquisa psicológica? que não ficaram sabendo do engano. À me- Debriefing dida que aumenta a frequência das pesquisas virtuais, é importante que os pesquisadores Os pesquisadores têm a obrigação ética prestem particular atenção no uso do engano, de procurar maneiras de beneficiar os não apenas por causa do potencial para au- participantes, mesmo depois da con- mentar a desconfiança da sociedade em rela- clusão da pesquisa. Uma das melhores ção aos pesquisadores, como também porque maneiras de cumprir esse objetivo é o engano tem o potencial de “envenenar” um proporcionando uma sessão detalhada sistema (i.e., a internet) que as pessoas usam de debriefing aos participantes. para apoio social e para se conectarem com O debriefing beneficia os participantes e outras pessoas (Stikta e Sargis, 2005). os pesquisadores. Kelman (1972) sugere que, antes de usar Os pesquisadores têm a obrigação ética engano, o pesquisador considere seriamente (1) a de explicar o uso de engano aos partici- importância do estudo para o nosso conhecimen- pantes assim que possível. to científico, (2) a disponibilidade de métodos al- O debriefing informa os participantes so- ternativos sem engano, e (3) a “nocividade” do bre a natureza da pesquisa e seu papel engano. Esta última consideração refere-se ao no estudo e o os instrui sobre o processo grau de engano envolvido e à possibilidade de pesquisa. O objetivo geral do debrie- de dano aos participantes. Na visão de Kel- fing é fazer os indivíduos se sentirem man: “somente se um estudo for muito im- bem por sua participação. portante e não houver métodos alternativos O debriefing permite que os pesquisa- disponíveis é que se pode justificar algo além dores aprendam como os participantes da forma mais leve de engano” (p. 997). enxergam os procedimentos, permite Metodologia de pesquisa em psicologia 91 insights sobre a natureza dos resultados mentos positivos sobre a sua participação. Os da pesquisa, e proporciona ideias para pesquisadores devem proporcionar oportu- pesquisas futuras. nidades para os participantes aprenderem mais sobre a sua contribuição específica Ao longo dos anos, muitos pesquisa- para o projeto de pesquisa e se sentirem dores caíram na armadilha de enxergar os envolvidos em um nível mais pessoal no sujeitos humanos em suas pesquisas como processo científico (ver Figura 3.7). Após o “objetos”, dos quais podem obter dados debriefing, os participantes do experimento para cumprir suas metas de pesquisa. Os de Kassin e Kiechel (1996) sobre confissões pesquisadores, às vezes, consideram que sua falsas relataram que consideraram o estudo responsabilidade para com os participantes significativo e acreditavam que a sua contri- termina quando os últimos dados são coleta- buição para a pesquisa havia sido valiosa. dos. Com frequência, um aperto de mão ou O debriefing proporciona uma oportu- um “muito obrigado” era tudo que marcava nidade para os participantes aprenderem o final de uma sessão de pesquisa. Os parti- mais sobre seu desempenho específico no cipantes provavelmente saíam com dúvidas estudo e sobre a pesquisa em geral. Por por resolver sobre a situação de pesquisa e exemplo, os participantes podem aprender apenas com uma noção muito vaga sobre que o seu desempenho individual em um o seu papel no estudo. Ao planejar e fazer estudo pode refletir as suas habilidades, pesquisa, é importante considerar como mas também fatores situacionais, como o a experiência pode afetar os participantes que o pesquisador pediu que fizessem e as da pesquisa depois que a pesquisa está con- condições do teste. Como o valor educacio- cluída e procurar maneiras em que eles pos- nal da participação em pesquisas psicoló- sam se beneficiar com a participação. Essas gicas é usado para justificar o uso de gran- preocupações partem diretamente de dois des números de voluntários de classes de dos princípios morais identificados no códi- introdução à psicologia, os pesquisadores go de ética da APA, o da beneficência (agir que testam estudantes universitários têm a pelo bem da pessoa) e respeitar os direitos e importante obrigação de garantir que a par- a dignidade das pessoas. ticipação em pesquisas seja uma experiência Anteriormente, discutimos que prote- educativa. Os professores às vezes baseiam- ger a confidencialidade das respostas dos -se na fundamentação educacional do de- participantes beneficia tanto os participan- briefing e pedem para seus alunos refletirem tes (protegendo-os de danos sociais) quanto sobre o propósito do estudo, as técnicas o pesquisador (p.ex., aumentando a proba- usadas e a significância da pesquisa para a bilidade de que os participantes respondam compreensão do comportamento. Uma ava- de forma honesta). De maneira semelhante, liação desse procedimento mostrou que es- fazer um rápido debriefing com os partici- tudantes que escreviam artigos e relatórios pantes ao final de uma sessão de pesquisa de pesquisa ficavam mais satisfeitos com a beneficia os participantes e o pesquisador sua experiência de pesquisa e tinham mais (Blanck et al., 1992). Quando se usa engano benefícios educacionais em geral do que na pesquisa, o debriefing é necessário para estudantes que não escreviam (Richardson, explicar aos participantes a necessidade de enga- Pegalis e Britton, 1992). no, para abordar possíveis concepções errôneas O debriefing ajuda os pesquisadores a que os participantes possam ter sobre sua parti- saber como os participantes enxergam os cipação, e para anular quaisquer efeitos nocivos procedimentos do estudo. O pesquisador resultantes do engano. O debriefing também talvez queira descobrir se os participantes tem os importantes objetivos de instruir os par- percebiam um determinado procedimen- ticipantes sobre a pesquisa (sua fundamentação, to experimental da maneira que o pesqui- método, resultados) e de deixá-los com senti- sador pretendia (Blanck et al., 1992). Por 92 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Figura 3.7 Uma sessão de debriefing informativa é crítica para garantir que os sujeitos da pesquisa tenham uma boa experiência. exemplo, um estudo sobre como as pessoas aberto (p.ex., “sobre o que você acha que é respondem ao fracasso pode incluir tarefas este estudo?” ou “o que você achou da sua que sejam impossíveis de cumprir. Porém, experiência nesta pesquisa?”). O pesquisa- se os participantes não considerarem o seu dor pode continuar com perguntas específi- desempenho um fracasso, não há como tes- cas sobre os procedimentos da pesquisa. No tar a hipótese do pesquisador. O debriefing maior grau possível, essas perguntas espe- permite que o pesquisador descubra se os cíficas não devem dar dicas ao participante participantes consideravam seu desempe- sobre as respostas esperadas (Orne, 1962). nho um fracasso ou se eles reconheciam que O debriefing também beneficia os pes- o sucesso era impossível. quisadores, pois proporciona “dicas para Ao tentar descobrir as percepções dos pesquisas futuras e ajuda a identificar pro- participantes do estudo, os pesquisadores blemas em seus protocolos atuais” (Blanck não devem pressioná-los demais. Os partici- et al., 1992, p. 962). O debriefing, em outras pantes da pesquisa geralmente querem aju- palavras, pode fornecer pistas das razões dar no processo científico. Os participantes para o desempenho dos participantes, que podem saber que é possível que se omitam podem ajudar os pesquisadores a interpre- informações deles na pesquisa psicológica. tar os resultados do estudo. Os pesquisa- Talvez até temam “arruinar” a pesquisa se dores também podem descobrir ideias para revelarem que na verdade sabiam detalhes pesquisas futuras durante as sessões de de- importantes sobre o estudo (p.ex., que as briefing. Finalmente, os participantes às ve- tarefas eram impossíveis). Para evitar esse zes detectam erros em materiais experimen- problema possível, o debriefing deve ser tais – por exemplo, informações ausentes ou informal e indireto. Isso costuma ser fei- instruções ambíguas – e podem relatar tais to usando questões gerais em um formato erros para o pesquisador durante a sessão. Metodologia de pesquisa em psicologia 93 Como já dissemos, o debriefing é bom para o das no ambiente são antes dadas a animais participante e para o pesquisador. para testar os seus efeitos. Os animais são Como o pesquisador está ausente em expostos a doenças, para que os pesquisa- um ambiente de pesquisa virtual, pode ser dores possam observar sintomas e testar as difícil fazer um processo de debriefing ade- diversas curas possíveis. Novos procedi- quado. Esse aspecto da pesquisa pela inter- mentos cirúrgicos – especialmente aqueles net aumenta a lista de dilemas éticos repre- que envolvam o cérebro – costumam ser sentados por esse tipo de pesquisa (Kraut testados antes em animais. Muitos animais et al., 2004). O fato de que os sujeitos vir- também são estudados na pesquisa com- tuais podem se retirar facilmente do estu- portamental, por exemplo, por etologistas e do a qualquer momento é particularmente psicólogos experimentais. Por exemplo, os problemático nesse sentido. Uma sugestão modelos animais da relação entre o estres- é programar o experimento de maneira tal se e o diabetes ajudam os pesquisadores a que uma página de debriefing seja apresen- entender os fatores psicossomáticos envol- tada automaticamente se um participante vidos no diabetes (Surwit e Williams, 1996). fechar a janela prematuramente (Nosek et Essas pesquisas geram muitas informações al., 2002). Quando um estudo chega ao final, que contribuem para o bem-estar humano os pesquisadores podem enviar um relató- (Miller, 1985). No processo, porém, muitos rio por e-mail aos participantes resumindo animais são submetidos à dor, ao desconfor- os resultados do estudo, para que possam to, ao estresse, à doença e à morte. Embora entender melhor como os objetivos estavam os roedores, particularmente ratos e camun- relacionados com o resultado experimental. dongos, sejam o maior grupo de cobaias de Depois de um estudo pela internet, o pes- laboratório, os pesquisadores usam uma quisador pode disponibilizar material de ampla variedade de espécies em suas inves- debriefing em um website e inclusive atuali- tigações, incluindo macacos, peixes, cães e zar esses materiais à medida que chegam gatos. Com frequência, animais específicos novos resultados (ver Kraut et al., 2004). são escolhidos porque servem como mode- los para as respostas humanas. Por exem- plo, os psicólogos interessados na audição Pesquisas com animais às vezes usam chinchilas como sujeitos, pois Os animais são usados na pesquisa para seus processos auditivos são muito seme- se obter conhecimento que beneficie os lhantes aos dos humanos. humanos, por exemplo, para ajudar a O uso de animais como sujeitos de la- curar doenças. boratório muitas vezes é considerado algo Os pesquisadores têm a obrigação éti- óbvio. De fato, a referência bíblica ao “domí- ca de adquirir, cuidar, usar e dispor de nio” dos humanos sobre todas as criaturas animais em obediência a leis e normas inferiores costuma ser invocada para justifi- federais, estaduais e municipais, e com car o uso de animais como sujeitos no labo- ratório (Johnson, 1990). Todavia, a pesquisa padrões profissionais. com sujeitos animais é justificada com ainda O uso de animais na pesquisa envolve mais frequência pela necessidade de se ad- questões complexas e é tema de muito quirir conhecimento sem colocar os humanos debate. em perigo. A maioria das curas, drogas, va- A cada ano, milhões de animais são cinas ou terapias é desenvolvida por expe- testados em pesquisas laboratoriais visan- rimentação com animais (Rosenfeld, 1981). do responder uma ampla variedade de Maestripieri e Carroll (1998) também apon- questões importantes. Novas drogas são tam que a investigação do maltrato natural testadas em animais antes de serem usadas de bebês em macacos pode informar os cien- com seres humanos. Substâncias introduzi- tistas sobre o abuso e negligência infantis. 94 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Não obstante, muitas questões foram le- quisa com Animais e Ética (CARE) da APA vantadas sobre o uso de sujeitos animais na no endereço www.apa.org/science/leader- pesquisa laboratorial (Novak, 1991; Shapiro, ship/care/index.aspx. 1998; Ulrich, 1991). Essas questões incluem a A pesquisa com animais é uma atividade mais básica, se devemos sequer usar animais altamente regulamentada, que tem o objetivo em pesquisas científicas, bem como pesqui- maior de proteger o bem-estar dos animais sas importantes sobre o cuidado e a proteção usados na pesquisa. Somente indivíduos de sujeitos animais (ver Figura 3.8). De for- qualificados para fazer pesquisa e manuse- ma clara, segundo o código de ética da APA, ar as espécies específicas usadas devem ter o pesquisador que usa sujeitos animais em uma permissão para trabalhar com os animais. pesquisa tem a obrigação ética de adquirir, cui- Animais somente podem ser submetidos a dar, usar e dispor de animais em obediência a leis dor ou desconforto quando não houver pro- e normas federais, estaduais e municipais, e com cedimentos alternativos e quando os obje- padrões profissionais. Respondendo em parte a tivos científicos, educacionais ou aplicados preocupações expressadas por membros de justificarem os procedimentos. Como discuti- grupos de defesa dos direitos dos animais mos antes, atualmente, existem Comitês Ins- durante a década de 1980, os pesquisadores titucionais para o Uso e Cuidado de Animais devem satisfazer muitas exigências federais, (IACUCs) nas instituições de pesquisa, que estaduais e municipais do Departamento de recebem verbas do Serviço de Saúde Pública Agricultura dos Estados Unidos (ver Natio- dos Estados Unidos. Esses comitês determi- nal Research Council, 1996). Essas normas nam a adequação dos procedimentos para costumam ser bem recebidas por membros controlar a dor, executar eutanásia, abrigar da comunidade científica, e muitos pesqui- os animais e treinar pessoal qualificado. Os sadores que trabalham com animais par- IACUCs também determinam se os desenhos ticipam de grupos que buscam proteger os experimentais são suficientes para obter in- animais usados em laboratório. A APA de- formações novas e relevantes e se o uso de senvolveu uma lista de diretrizes específicas um modelo animal é apropriado ou se po- a serem seguidas quando se usam animais dem ser usados modelos sem animais (p.ex., como sujeitos na pesquisa psicológica. Essas simulações no computador) (Holden, 1987). diretrizes podem ser encontradas na página Entretanto, como com qualquer ques- da internet mantida pelo Comitê sobre Pes- tão eticamente sensível, devemos fazer con- Figura 3.8 As diretrizes éticas para o uso de animais na pesquisa dispõem sobre a ma- neira como os animais podem ser tratados antes, durante e depois de serem testados. Metodologia de pesquisa em psicologia 95 cessões com relação ao uso de animais na pares, e o código de ética da APA traz pesquisa. Por exemplo, até que se encon- diretrizes para esse processo. trem alternativas à pesquisa com animais, a As decisões sobre quem deve receber necessidade de fazer pesquisa usando ani- crédito nas publicações baseiam-se na mais como sujeitos para combater doenças importância da contribuição para o co- e o sofrimento de seres humanos deve ser nhecimento. ponderada com a necessidade de proteger o A publicação ética de pesquisas exige bem-estar dos animais na pesquisa laborato- reconhecer o trabalho de outras pes- rial (Goodall, 1987). Conforme o ex-CEO da soas, usando citações e referências APA, Raymond Fowler, também é impor- adequadas; a falta desse procedimento tante que o uso de sujeitos animais não seja pode resultar em plágio. restrito quando a aplicação da pesquisa não A citação adequada inclui usar aspas for imediatamente visível (Fowler, 1992). “A quando se tira material diretamente de alegação de que a pesquisa com animais não uma fonte e citar fontes secundárias quan- tem valor porque nem sempre pode ser rela- do a fonte original não for consultada. cionada com aplicações potenciais é uma ale- Um projeto de pesquisa concluído co- gação que pode ser feita contra toda a pesqui- meça sua jornada para se tornar parte da sa básica”. Essa acusação “ameaça o alicerce literatura científica quando o pesquisador intelectual e científico” de toda a psicologia, principal escreve um manuscrito para sub- incluindo “cientistas e profissionais” (p. 2). meter a uma das dezenas de revistas cien- Embora poucos cientistas discordem da tíficas relacionadas com a psicologia (ver visão de que é necessário haver restrições o Capítulo 13 para informações sobre esse para prevenir o sofrimento desnecessário processo de publicação). O principal objeti- de animais, a maioria quer evitar o atoleiro vo de publicar pesquisas em um periódico de restrições burocráticas e custos elevados de psicologia é comunicar os resultados do que prejudicariam a pesquisa. Feeney (1987) estudo aos membros da comunidade cien- sugere que restrições severas e custos ele- tífica e à sociedade em geral. Publicar pes- vados, bem como a publicidade negativa quisas em periódicos também é um modo (e demonstrações emocionais ocasionais) de aumentar a reputação do pesquisador e dirigida a indivíduos e instituições por ex- mesmo a reputação da instituição que pa- tremistas de grupos ativistas que defendem trocinou a pesquisa. Porém, publicar os re- os animais, podem impedir que jovens cien- sultados de uma investigação científica nem tistas entrem para o campo da pesquisa ani- sempre é um processo fácil, especialmente mal. Se isso ocorrer, doentes (atualmente) se o pesquisador quiser publicar em uma incuráveis ou paralíticos serão privados da das revistas científicas prestigiosas. Devido esperança que advém da pesquisa científica. à importância de publicar para a ciência da De forma clara, as muitas questões envolvi- psicologia, o código de ética da APA tem di- das no debate sobre a relevância da pesquisa retrizes para esse processo. animal para a condição humana são comple- Os padrões éticos que cobrem a publi- xas (ver Quadro 3.3). Ulrich (1992) disse bem cação dos resultados de uma investigação – a discussão dessas questões deve ser abor- científica parecem mais claros do que nas dada com “sabedoria e equilíbrio” (p. 386). outras áreas do código de ética que discuti- mos. Mesmo nesse caso, contudo, as decisões Publicação de pesquisas éticas quanto a questões como atribuir crédi- psicológicas to na publicação e o plágio nem sempre são claras. A execução de um projeto de pesquisa Os pesquisadores tentam comunicar os envolve muitas pessoas. Colegas dão suges- resultados das suas pesquisas em pe- tões sobre o delineamento do estudo, alunos riódicos científicos revisados por seus de graduação ou pós-graduação ajudam o 96 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Quadro 3.3 O STATUS MORAL DE HUMANOS E NÃO HUMANOS A tomada de decisões éticas muitas coloca colocar o sofrimento humano à frente do de posições filosóficas opostas em conflito. Isso animais não humanos” (p. 9). A menos que é visto claramente no debate sobre o uso de apelemos para pontos de vista religiosos (que animais na pesquisa. No centro desse debate, Singer rejeita como base para tomar decisões está a questão do “status moral” de seres hu- em uma sociedade pluralista), não existe, se- manos e animais não humanos. Conforme o gundo Singer, nenhum status moral especial filósofo australiano Peter Singer (1990, p. 9), em “ser humano”. Essa posição tem raízes dois princípios morais geralmente aceitos são na tradição filosófica conhecida como utilita- rismo, que começa com os escritos de David 1. Todos os seres humanos têm igual status Hume (1711-1776) e Jeremy Bentham (1748- moral. 1832), bem como John Stuart Mill (1806-1873) 2. Todos os seres humanos têm status moral (Rachels, 1986). Basicamente, esse ponto superior aos animais não humanos. de vista sustenta que sempre que tivermos Assim, prossegue Singer, “com base nes- opções entre ações alternativas, devemos ses princípios, costuma-se aceitar que de- escolher aquela que tiver as melhores conse- vemos colocar o bem-estar humano à frente quências gerais (gera mais “felicidade”) para do sofrimento de animais não humanos; essa todos os envolvidos. O que importa nessa premissa é refletida em nosso tratamento de visão é se o indivíduo em questão é capaz animais em muitas áreas, incluindo a agrope- de sentir felicidade/infelicidade, prazer/dor; cuária, a caça, a experimentação e o entrete- o fato de esse indivíduo ser humano ou não nimento” (p. 9). humano é irrelevante (Rachels, 1986). Todavia, Singer não concorda com es- O que você acha do status moral de hu- sas visões comuns. Ele argumenta que “não manos e animais e sua relação com a pesqui- existe justificativa ética racional para sempre sa psicológica? pesquisador testando sujeitos e organizan- modo menos visível (como em uma nota do dados, técnicos constroem equipamento de rodapé). Além disso, quando a autoria é especializado, e consultores especializados decidida, também se deve decidir a ordem dão orientações sobre análises estatísticas. dos nomes dos autores. O “primeiro autor” Ao preparar um manuscrito para publica- de um artigo com vários autores geralmen- ção, será que todos esses indivíduos devem te indica uma contribuição maior do que o ser considerados “autores” do estudo? O “segundo autor” (que é maior do que a do crédito na publicação refere-se ao processo de terceiro, etc.). As decisões ligadas à autoria identificar como autores os indivíduos que devem se basear principalmente em termos fizeram contribuições significativas para o da importância acadêmica da contribuição projeto de pesquisa. Como a autoria de um (p.ex., ajudar nos aspectos conceituais do estudo científico publicado frequentemente é estudo), e não no tempo e energia investi- usada para medir a competência e motivação dos no estudo (ver Fine e Kurdek, 1993). de um indivíduo em um campo científico, é As preocupações éticas associadas à importante reconhecer de forma justa aqueles que atribuição da autoria podem tomar muitas contribuíram para um projeto. formas. Por exemplo, não apenas é etica- Nem sempre é fácil decidir se a contri- mente incorreto que um membro do corpo buição que um indivíduo fez para um pro- docente assuma o crédito pelo trabalho de jeto de pesquisa justifica ser “autor” de um um estudante, como também é não ético artigo científico ou se a contribuição des- que estudantes recebam crédito imerecido se indivíduo deve ser reconhecida de um como autores. Esta última situação pode Metodologia de pesquisa em psicologia 97 ocorrer, por exemplo, em uma tentativa um texto pode ser usado sem colocá-lo entre equivocada de um orientador de proporcio- aspas ou identificar a sua fonte. Um elemen- nar vantagem a um aluno que compete por to substancial pode ser uma única palavra uma vaga em um programa de pós-gradua- ou expressão curta, se servir para identificar ção competitivo. Segundo Fine e Kuderk uma ideia ou conceito básico que resulte do (1993), conferir crédito imerecido a estudan- pensamento de outro autor. Como não exis- tes como autores pode representar incorre- tem diretrizes claras para quanto material tamente o conhecimento do aluno, dar a ele constitui um elemento substancial de uma uma vantagem injusta sobre os colegas e, obra, os estudantes devem ser particular- talvez, levar outras pessoas a criarem expec- mente cautelosos ao se referirem ao trabalho tativas impossíveis para o estudante. Esses de outros autores. Às vezes, especialmente autores recomendam que docentes e discen- entre estudantes, o plágio pode resultar da tes colaborem no processo de determinar os falta de aspas em trechos tirados diretamen- créditos por autoria e discutam no começo te de uma fonte. Sempre que se tirar material do projeto o nível de participação que jus- diretamente de uma fonte, ele deve ser colocado tificará crédito como autor. Devido a dife- entre aspas, identificando-se a fonte adequada- renças de poder e posição entre docentes e mente. Também é importante citar a fonte discentes, o professor deve fazer discussões do material que incluir em seu artigo quan- sobre o crédito por autoria para alunos cola- do parafrasear (i.e., reescrever) o material. boradores (ver Behnke, 2003). O princípio ético é que você deve citar as fontes Uma área bastante problemática de de suas ideias quando usar as palavras exatas preocupação na publicação de pesquisas, e quando parafrasear. Ver a Tabela 3.1 para não apenas para os profissionais, mas muitas exemplos de citações corretas e incorretas. vezes para estudantes, é o plágio. Mais uma Também ocorre plágio quando os indi- vez, o padrão ético parece suficientemente víduos não reconhecem fontes secundárias. claro: não apresente porções ou elementos Uma fonte secundária é aquela que discute o substanciais do trabalho de outrem como se trabalho (original) de outro autor. As fontes fossem seus. Mas o que constitui “porções secundárias incluem livros e revisões pu- ou elementos substanciais”, e como se evita blicadas de pesquisas, como aquelas que de passar a impressão de que o trabalho de aparecem em periódicos científicos como outrem é nosso? Tomar essas decisões pode o Psychological Bulletin. Quando sua única ser como andar na corda bamba. De um lado, fonte para uma ideia ou resultados for uma está o objetivo pessoal de ser reconhecido fonte secundária, sempre é eticamente in- por fazer uma contribuição para o conheci- correto publicar a informação de um modo mento; do outro, existe a obrigação ética de que sugira que você consultou a obra original. reconhecer as contribuições prévias que ou- É muito melhor tentar localizar e ler a fonte tros fizeram. O fato de que profissionais e original do que citar uma fonte secundária. estudantes cometem atos de plágio sugere Se isso não for possível, você deve infor- que muitas pessoas fogem da corda bamba mar o leitor de que não leu a fonte original, buscando reconhecimento, em vez de dar o usando uma frase como “citado em...” ao se devido crédito ao trabalho de outros. referir ao trabalho original. Citando a fonte Às vezes, os atos de plágio resultam de secundária, você está dizendo ao leitor que relaxamento (deixar de conferir uma fonte está apresentando a interpretação de outra para verificar que uma ideia não se origina pessoa para o material original. Mais uma de outra pessoa, por exemplo). Erros desse vez, a ignorância quanto à forma apropria- tipo ainda são plágio; a ignorância não é uma da da citação não é uma desculpa aceitável desculpa legítima. É muito fácil cometer erros. e, em ocasiões desastrosas, pesquisadores – Por exemplo, os pesquisadores (e estudan- professores e estudantes – tiveram suas car- tes) ocasionalmente perguntam “quanto” de reiras arruinadas por acusações de plágio. 98 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Tabela 3.1 Exemplo de plágio e citação correta Texto original (Exemplo de uma citação direta correta) “Informada pela jurisprudência, a polícia usa diversos métodos de investigação – incluindo a apresentação de evidências falsas (p.ex., resultados falsos do polígrafo, impressões digitais, ou outros testes forênsicos; testemunhas forjadas), apelos a Deus e à religião, amizades simuladas e o uso de informantes na prisão” (Kassin e Kiechel, 1996, p. 125) Exemplo de plágio (sem citação acompanhando o material parafraseado) Pesquisas sobre métodos enganosos de interrogatório para obter confissões são importantes porque a polícia usa evidências falsas (p.ex., resultados de testes falsos) e testemunhas falsas ao interrogar suspeitos. Os policiais também pressionam os suspeitos fingindo ser seus amigos. Material parafraseado com citação correta Pesquisas sobre métodos enganosos de interrogatório para obter confissões são importantes porque a polícia usa evidências falsas (p.ex., resultados de testes falsos) e testemunhas falsas ao interrogar suspeitos (Kassin e Kiechel, 1996). Além disso, Kassin e Kiechel afirmam que os poli- ciais pressionam os suspeitos fingindo ser seus amigos. Baseada na Tabela 3.4, Zechmeister, Zechmeister e Shaughnessy, 2001, p. 71. Passos para adesão à ética – Considere os diversos pontos de vista (p.ex., dos sujeitos, pesquisadores, insti- Tomar decisões com ética envolve revi- tuições, sociedade, valores morais). sar os fatos sobre a situação de pesquisa – Considere métodos ou procedimentos proposta, identificar questões e diretri- alternativos e suas consequências, in- zes relevantes, e considerar pontos de cluindo as consequências de não fazer a vista múltiplos e métodos ou procedi- pesquisa proposta. mentos alternativos. Os autores que submetem manuscritos Com uma consideração cuidadosa de pesquisa a uma revista da APA tam- desses fatores, uma decisão “correta” de bém devem submeter formulários que proceder com a pesquisa proposta baseia- descrevam a sua conformidade com os -se em uma revisão diligente da pesquisa e padrões éticos. questões éticas, e não apenas no que pode deixar o pesquisador ou outros indivíduos Será que os sujeitos de pesquisa devem “felizes”. ser colocados em risco de sofrer danos sé- Os autores de manuscritos submetidos rios para se adquirirem informações sobre a um periódico da APA devem submeter o comportamento humano? Será que os psi- formulários declarando sua adesão aos cólogos precisam usar engano? É aceitável padrões éticos (ver Manual de Publicação da permitir que animais sofram no decorrer da APA). Esses formulários podem ser encon- pesquisa? Essas perguntas, que fazem parte trados no Manual, bem como na página de da tomada de decisões éticas, são difíceis de periódicos da APA (http://www.apa.org/ responder e exigem um processo criterioso pubs/journals). É claro que deve haver uma de tomada de decisões, que, no final, pode consideração de questões éticas antes de levar a respostas que não deixem todos “fe- se iniciar um projeto de pesquisa, duran- lizes”. Um processo decisório eticamente te o processo de pesquisa em si, à medida informado deve conter os seguintes passos: que surgirem problemas (p.ex., as reações – Revise os fatos da situação de pesqui- imprevistas dos participantes) e na prepa- sa proposta (p.ex., participantes, pro- ração para discutir com editores e reviso- cedimento). res da revista selecionada para submeter o – Identifique as questões éticas, diretrizes manuscrito. Para ajudar a garantir a adesão e leis relevantes. à ética em todo o processo de pesquisa, a Metodologia de pesquisa em psicologia 99 APA publicou a Lista de Verificação de Con- participantes perceberam o tratamento ou formidade Ética (ver Manual de Publicação tarefa. A pesquisa pela internet traz novos da APA). A lista cobre muitas das questões dilemas éticos para o pesquisador, sendo éticas discutidas neste capítulo, incluindo necessário buscar orientação com membros revisão institucional, consentimento infor- do IRB, bem como pesquisadores experien- mado, tratamento de sujeitos animais (se tes com coleta de dados pela internet, antes aplicável), citações adequadas de outros de planejar o estudo. trabalhos publicados e a ordem dos autores. Os psicólogos que testam sujeitos ani- Lembre: a revisão cuidadosa dessas ques- mais devem obedecer uma variedade de tões e outras descritas nos formulários da diretrizes federais e estaduais e, de um APA deve ser feita antes de começar a sua modo geral, devem proteger o bem-estar pesquisa. dos animais. Os animais somente podem ser submetidos a dor ou desconforto quan- do não houver procedimentos alternativos Resumo disponíveis e quando se considera que os A pesquisa psicológica suscita muitas ques- objetivos da pesquisa justificam os procedi- tões éticas. Assim, antes de começar um mentos em termos do seu valor científico, projeto de pesquisa, você deve considerar educacional ou aplicado. Até que se pos- as questões éticas específicas do código de sam encontrar alternativas à pesquisa com ética da APA e as leis e normas que são re- animais, muitas pessoas aceitam a conces- levantes para o seu projeto. Na maioria dos são de fazer pesquisas usando sujeitos ani- casos, deve-se obter aprovação institucional mais para combater doenças e sofrimento, formal – por exemplo, de um IRB ou IACUC protegendo-se o bem-estar dos animais na – antes de começar a pesquisa. Uma das pesquisa laboratorial. funções de um IRB é chegar a um consenso A publicação dos resultados de estu- quanto à razão risco/benefício da pesquisa dos psicológicos deve ocorrer de um modo proposta. O risco pode envolver danos físi- que dê o crédito adequado aos indivíduos cos, psicológicos ou sociais. Deve-se obter o que contribuíram para o projeto. Quando consentimento informado de sujeitos huma- um trabalho já publicado contribui para o nos na maioria das pesquisas psicológicas. pensamento de um pesquisador sobre seu Os pesquisadores devem adotar medidas projeto de pesquisa, o pesquisador deve especiais para proteger os sujeitos humanos reconhecer essa contribuição, citando ade- quando houver mais do que o risco míni- quadamente os indivíduos que publicaram mo e fazer o debriefing adequado após a sua o trabalho anterior. Não fazer isso represen- participação. Questões éticas sérias ocorrem ta um problema ético sério: plágio. Tomar quando os pesquisadores omitem infor- decisões com ética envolve revisar os fatos mações dos participantes ou os informam sobre a situação de pesquisa proposta, iden- incorretamente sobre a natureza da pesqui- tificar questões e diretrizes relevantes e con- sa. Quando se usa engano, a sessão de de- siderar pontos de vista múltiplos e métodos briefing deve informar aos participantes as ou procedimentos alternativos. Os autores razões para tal. O debriefing também pode que submetem manuscritos de pesquisa a ajudar os participantes a se sentirem mais um periódico da APA também devem sub- envolvidos na situação de pesquisa, além meter formulários que descrevam a sua de ajudar o pesquisador a saber como os conformidade com os padrões éticos. 100 Shaughnessy, Zechmeister & Zechmeister Conceitos básicos razão risco/benefício 77 engano 87 risco mínimo 79 debriefing 91 consentimento informado 81 plágio 97 privacidade 84 Questões de revisão 1. Explique por que os pesquisadores sub- pesquisadores considerem ao tentarem metem propostas de pesquisa a Comitês decidir se uma informação é pública ou de Revisão Institucional (IRBs) e Comitês privada? Institucionais para o Uso e Cuidado de 8. Explique por que o engano pode às vezes Animais (IACUCs) antes de começarem ser necessário na pesquisa psicológica. um projeto de pesquisa, e descreva sucin- Descreva sucintamente as perguntas que tamente as funções desses comitês no pro- os pesquisadores devem fazer antes de cesso de pesquisa. usarem engano, e descreva as condições 2. Explique como a razão risco/benefício é em que sempre é eticamente incorreto en- usada para tomar decisões éticas. Que fa- ganar os participantes. tores contribuem para julgar os benefícios 9. De que maneiras o debriefing pode bene- potenciais de um projeto de pesquisa? ficiar o participante? De que maneiras o 3. Explique por que a pesquisa não pode ser debriefing pode beneficiar o pesquisador? isenta de riscos e descreva o padrão que 10. Que obrigações éticas são especificadas no os pesquisadores usam para determinar código de ética da APA para pesquisado- se os sujeitos de pesquisa estão “em ris- res que usam animais em suas pesquisas? co”. Descreva sucintamente como as ca- 11. Que condições são exigidas pelo código racterísticas dos participantes da pesquisa de ética da APA antes que se possa sub- podem afetar a avaliação do risco. meter animais a estresse ou dor? 4. Diferencie três tipos possíveis de risco que 12. Explique como os pesquisadores decidem podem estar presentes na pesquisa psico- quando um indivíduo pode receber crédi- lógica: fí

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