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Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. prosecuted. Gesora Capítulo 3 Didática: teoria da instrução e do ensino Nos capítulos anteriores procuramos formar uma visão geral da problemática da educação escolar, da Pedagogia e da Didática, introdu- zindo já o necessário entrosamento entre conhecimentos teóricos e as exigências práticas. Retomaremos, agora, algumas questões, com a fina- lidade de aprofundar mais os vínculos da Didática com os fundamentos educacionais proporcionados pela teoria pedagógica, explicitar o seu objeto de estudo e seus elementos constitutivos para, em seguida, delmear alguns traços do desenvolvimento histórico dessa disciplina. No tópico final, incluímos os principais temas da Didática indispensáveis ao exer- cício profissional dos professores. Neste capítulo serão tratados os seguintes temas: * a Didática como atividade pedagógica escolar; * objeto de estudo: os processos da instrução e do ensino; * os componentes do processo didático; * desenvolvimento hustórico da Didática e as tendências pedagó- gicas; e a Didática e as tarefas do professor. A didática como atividade pedagógica escolar Conforme estudamos, a Pedagogia investiga a natureza das finali- dades da educação como processo social, no seio de uma determinada Printed Printed by: by: [email protected]. 2203918(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIA CA sociedade, bem como as metodologias apropriadas para a formação dos indivíduos, tendo em vista o seu desenvolvimento humano para tarefas na vida em sociedade. Quando falamos das finalidades da educação no seio de uma determinada sociedade, queremos dizer que o entendimento dos objetivos, conteúdos e métodos da educação se modifica conforme as concepções de homem e da sociedade que, em cada contexto econômico e social de um momento da história humana, caracterizam o modo de pensar, o modo de agir e os interesses das classes e grupos sociais. A Pe- dagogia, portanto, é sempre uma concepção da direção do processo educativo subordinada a uma concepção político-social. Sendo a educação escolar uma atividade social que, por intermédio de instituições própnias, visa a assimilação dos conhecimentos e experiên- cias humanas acumuladas no decorrer da história, tendo em vista a for- mação dos indivíduos enquanto seres sociais, cabe à Pedagogia intervir nesse processo de assimilação, orientando-o para finalidades sociais e políticas e criando um conjunto de condições metodológicas e organiza- tivas para viabilizá-lo no âmbito da escola. Nesse sentido, a Didática assegura o fazer pedagógico na escola, na sua dimensão político-social e técnica; é, por 1sso, uma disciplina eminentemente pedagógica. A Didática é, pois, uma das disciplinas da Pedagogia que estuda o processo de ensino por meio dos seus componentes — os conteúdos es- colares, o ensino e a aprendizagem — para, com o embasamento na teoria da educação, formular diretrizes orientadoras da atividade profissional dos professores. É, ao mesmo tempo, uma matéria de estudo fundamen- tal na formação profissional dos professores e um meio de trabalho do qual os professores se servem para dirigir a atividade de ensino, cujo resultado é a aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos Definindo-se como mediação escolar dos objetivos e conteúdos do ensino, a Didática investiga as condições e formas que vigoram no ensino e, ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, políticos, culturais, psicos- sociais) condicionantes das relações entre a docência e a aprendizagem. Ou seja, destacando a instrução e o ensino como elementos primordiais do processo pedagógico escolar, traduz objetivos sociais e políticos em objetivos de ensino, seleciona e organiza os conteúdos e métodos e, ao estabelecer as conexões entre ensino e aprendizagem, indica princípios e diretrizes que irão regular a ação didática Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. 54 JOSE E ARLOS IRÂNEO Por outro lado, esse conjunto de tarefas não visa outra coisa senão o desenvolvimento físico e intelectual dos alunos, com vistas à sua prepa- ração para a vida social Em outras palavras, o processo didático de transmissão /assimilação de conhecimentos e habilidades tem como cul- minância o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos, de modo que assimilem ativa e independentemente os conhecimentos sistematizados Que significa teoria da instrução e do ensino? Qual a relação da Di- dática com o currículo, metodologias específicas das matérias, procedi- mentos de ensino, técnicas de ensino? A instrução se refere ao processo e ao resultado da assimilação sólida de conhecimentos sistematizados e ao desenvolvimento de capacidades cogmtivas. O núcleo da instrução são os conteúdos das matérias O ensi- Ho consiste no planejamento, organização, direção e avaliação da ativida- de didática, concretizando as tarefas da instrução, o ensino inclui tanto o trabalho do professor (magistério) como a direção da atividade deestudo dos alunos. Tanto a instrução como o ensino se modificam em decorrên- cia da sua necessária ligação com o desenvolvimento da sociedade e com as condições reais em que ocorre o trabalho docente Nessa ligação é que a Didática se fundamenta para formular diretrizes orientadoras do pro- cesso de ensino. O currículo expressa os conteúdos da instrução, nas matérias de cada grau do processo de ensimo Em torno das matérias se desenvolve o pro- cesso de assifnilação dos conhecimentos e habilidades A metodologia compreende o estudo dos métodos, e o conjunto dos procedimentos de investigação das diferentes ciências quanto aos seus fundamentos e validade, distinguindo-se das técnicas que são a aplica- ção específica dos métodos. No campo da Didática, há uma relação entre os métodos próprios da ciência que dá suporte à matéria de ensi- no e os métodos de ensino A metodologia pode ser geral (por ex., mé- todos tradicionais, métodos ativos, método da descoberta, método de solução de problemas etc.) ou específica, seja a que se refere aos procedi- mentos de ensino e estudo das disciplinas do currículo (alfabetização, Matemática, História etc.), seja a que se refere a setores da educação escolar ou extraescolar (educação de adultos, educação especial, edu- cação sindical etc ) Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIDA CA Técnicas, recursos ou meios de ensino são complementos da meto- dologia, colocados à disposição do professor para o enriquecimento do processo de ensino. Atualmente, a expressão “tecnologia educacional” adquiriu um sentido bem mais amplo, englobando técnicas de ensino diversificadas, desde os recursos da informática, dos meios de comuni- cação e os audiovisuais até os de instrução programada e de estudo ind1- vidual e em grupos. A Didática tem muitos pontos em comum com as metodologias espe- cíficas de ensino. Elas são as fontes da investigação Didática, ao lado da Psicologia da Educação e da Sociologia da Educação. Mas, ao se constituir como teoria da instrução e do ensino, abstrai das particularidades de cada matéria para generalizar princípios e diretrizes para qualquer uma delas. Em síntese, são temas fundamentais da Didática os objetivos socio- políticos e pedagógicos da educação escolar, os conteúdos escolares, os princípios didáticos, os métodos de ensino e de aprendizagem, as formas organizativas do ensino, o uso e aplicação de técnicas e recursospo con- trole e a avaliação da aprendizagem Objeto de estudo: o processo de ensino O objeto de estudo da Didática é o processo de ensino, campo prin- cipal da educação escolar. Na medida em que o ensino viabiliza as tarefas da instrução, ele contém a instrução, Podemos, assim, delimitar como objeto da Didática o processo de ensino que, considerado no seu conjunto, inclui: os conteú- dos dos programas e dos livros didáticos, os métodos e formas organiza- tivas do ensino, as atividades do professor e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam esse processo. Por que estudar o processo de ensino? Vimos, anteriomente, que a educação escolar é uma tarefa eminentemente social, pois a sociedade necessita prover as gerações mais novas daqueles conhecimentos e habi- lidades que vão sendo acumulados pela experiência social da humanida- de Ora, não é suficiente dizer que os alunos precisam dominar os conhe- cimentos, é necessário dizer como fazê-lo, isto é, investigar objetivos e Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. 56 JOSE E ARLOS IRÂNEO métodos seguros e eficazes para a assimilação dos conhecimentos. Esta é a função da Didática, ao estudar o processo do ensino Podemos defirur processo de ensino como uma sequência de atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilação de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, por meio dos quais os alunos aprimo- ram capacidades cognitivas (pensamento independente, observação, análise-síntese e outras). Quando mencionamos que a finalidade do processo-de ensino é proporcionar aos alunos os meios para que assumilem ativamente os conhecimen- tos é porque a natureza do trabalho docente é a mediação da relação cognoscitiva entre o aluno e as matérias de ensino. Isto quer dizer que o ensino não é só transmissão de informações mas também o meio de or- ganizar a atividade de estudo dos alunos O ensino somente é bem-suce- dido quando os objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudo do aluno e é praticado tendo em vista o desenvolvimento das suas forças intelectuais hd Ensinar e aprender, pois, são duas facetas do mesmo processo, e que se realizam em torno das matérias de ensino, sob a direção do professor Os componentes do processo didático Quem circula pelos corredores de uma escola, o quadro que observa é o professor frente a uma turma de alunos, sentados ordenadamente ou realizando uma tarefa em grupo, para aprender uma matéria. De fato, tradicionalmente se consideram como componentes da ação didática a matéria, o professor, os alunos. Pode-se combinar estes componentes, acentuando-se mais um ou outro, mas a ideia corrente é a de que o pro- fessor transmite a matéria ao aluno. Entretanto, o ensino, por mais simples que possa parecer à primeira vista, é uma atividade complexa: envolve tanto condições externas como condições internas das situações didáticas. Conhecer essas condições e lidar acertadamente com elas é uma das ta- refas básicas do professor para a condução do trabalho docente. Internamente, a ação didática se refere à relação entre o aluno e a matéria, com o objetivo de apropriar-se dela com a mediação do professor. Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIDÁ CA Entre a matéria, o professor e o aluno ocorrem relações recíprocas O professor tem propósitos defimidos no sentido de assegurar o encontro direto do aluno com a matéria, mas essa atuação depende das condições internas dos alunos alterando o modo de lidar com a matéria. Cada s1- tuação didática, porém, vincula-se a determinantes econômico-sociais, socioculturais, a objetivos e normas estabelecidos conforme interesses da sociedade e seus grupos, e que afetam as decisões didáticas. Consideremos, pois, que a inter-relação entre professor e alunos não se reduz à sala de aula, implicando relações bem mais abrangentes: * Escola, professor, aluno, pais estão inseridos na dinâmica das relações sociais A sociedade não é um todo homogêneo, onde reina a paz e a harmonia. ÀÃo contrário, há antagonismos e inte- resses distintos entre grupos e classes sociais que se refletem nas finalidades e no papel atrnbuídos à escola, ao trabalho do profes- sor e dos alunos e As teorias da educação e as práticas pedagógicas, os objetivos educativos da escola e dos professores, os conteúdos escolares, a relação professor-alunos, as modalidades de comunicação docen- te, nada disso existe isoladamente do contexto econômico, social e cultural mais amplo e que afetam as condições reais em que se realizam o ensino e a aprendizagem * O professor não é apenas professor, ele participa de outros con- textos de relações sociais onde é, também, aluno, pai, filho, mem- bro de sindicato, de partido político ou de um grupo religioso. Esses contextos se referem uns aos outros e afetam a atividade prática do professor O aluno, por sua vez, não existe apenas como aluno Faz parte de um grupo social, pertence a uma família que vive em determinadas condições de vida e de trabalho, é branco, negro, tem uma determinada idade, possui uma linguagem para expressar-se conforme o meio em que vive, tem valores e aspira- ções condicionados pela sua prática de vida etc * A eficácia do trabalho docente depende da filosofia de vida do professor, de suas convicções políticas, do seu preparo profissio- nal, do salário que recebe, da sua personalidade, das característi- cas da sua vida famihar, da sua satisfação profissional em trabalhar com crianças etc Tudo isto, entretanto, não é uma questão de Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. prosecuted. DIDA CA Entre a matéria, o professor e o aluno ocorrem relações recíprocas O professor tem propósitos definidos no sentido de assegurar o encontro direto do aluno com a matéria, mas essa atuação depende das condições internas dos alunos alterando o modo de lhdar com a matéria. Cada s1- tuação didática, porém, vincula-se a determinantes econômico-sociais, socioculturais, a objetivos e normas estabelecidos conforme interesses da sociedade e seus grupos, e que afetam as decisões didáticas. Consideremos, pois, que a inter-relação entre professor e alunos não se reduz à sala de aula, implicando relações bem mais abrangentes: * Escola, professor, aluno, pais estão inseridos na dinâmica das relações sociais A sociedade não é um todo homogêneo, onde reina a paz e a harmonia. Ao contrário, há antagonismos e inte- resses distintos entre grupos e classes sociais que se refletem nas finalidades e no papel atribuídos à escola, ao trabalho do profes- sor e dos alunos e As teorias da educação e as práticas pedagógicas, os objetivos educativos da escola e dos professores, os conteúdos escolares, a relação professor-alunos, as modalidades de comunicação docen- te, nada disso existe isoladamente do contexto econômico, social e cultural mais amplo e que afetam as condições reais em que se realizam o ensino e a aprendizagem * O professor não é apenas professor, ele participa de outros con- textos de relações sociais onde é, também, aluno, pai, filho, mem- bro de sindicato, de partido político ou de um grupo religioso. Esses contextos se referem uns aos outros e afetam a atividade prática do professor O aluno, por sua vez, não existe apenas como aluno Faz parte de um grupo social, pertence a uma família que vive em determinadas condições de vida e de trabalho, é branco, negro, tem uma determinada idade, possui uma linguagem para expressar-se conforme o meio em que vive, tem valores e aspira- ções condicionados pela sua prática de vida etc * A eficácia do trabalho docente depende da filosofia de vida do professor, de suas convicções políticas, do seu preparo profissio- nal, do salário que recebe, da sua personalidade, das característi- cas da sua vida famihar, da sua satisfação profissional em trabalhar com crianças etc Tudo isto, entretanto, não é uma questão de Printed Printed by: by: [email protected]. 2203918(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. 58 JOSE é ARLCS LIRÁNEO traços individuais do professor, pois o que acontece com ele tem a ver com as relações sociais que acontecem na sociedade. Consideremos, assim, que o processo didático está centrado na re- lação fundamental entre o ensino e a aprendizagem, orientado para a confrontação ativa do aluno com matéria sob a mediação do professor. Com isso, podemos identificar entre os seus elementos constitutivos: os conteúdos das matérias que devem ser assimilados pelos alunos de um determinado grau; a ação de ensinar em que o professor atua como me- diador entre o aluno e as matérias, a ação de aprender em que o aluno assimila consciente e ativamente as matérias e desenvolve suas capaci- dade e habilidades. Contudo, estes componentesnão são suficientes para ver o ensino em sua globalidade. Como vimos, não é uma atividade que se desenvolve automaticamente, restrita ao que se passa no interior da escola, uma vez que expressa finalidades e exigências da prática social, ao mesmo tempo que se subordina a condições concretas postas pela mesma prática social que favorecem ou dificultam atingir objetivos Entender, pois, o processo didático como totalidade abrangente implica vincular conteúdos, ensino e aprendizagem a objetivos sociopolíticos e pedagógicos e analisar criterrosamente o conjunto de condições concretas que rodeiam cada situação didática. Em outras palavras, o ensino é um processo social, integrante de múltiplos processos sociais, nos quais estão implicadas dimensões políticas, ideológicas, éticas, pedagógicas, frente às quais se formulam objetivos, conteúdos e métodos conforme opções assumidas pelo educador, cuja realização está na dependência de condi- ções, seja aquelas que o educador já encontra sejam as que ele precisa transformar ou criar. Desse modo, os objetivos gerais e específicos são não só um dos componentes do processo didático como também determinantes das re- lações entre os demais componentes Além disso, a articulação entre estes depende da avaliação das condições concretas implicadas no ensino, tais como objetivos e exigências postos pela sociedade e seus grupos e classes, o sistema escolar, os programas oficiais, a formação dos professores, as forças sociais presentes na escola (docentes, pais etc.), os meios de ensino disponíveis, bem como as características socioculturais e individuais dos alunos, as condições prévias dos alunos para enfrentar o estudo de Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIDÁ CA 59 determinada matéria, as relações professor-alunos, a disciplina, o prepa- ro específico do professor para compreender cada situação didática e transformar positivamente o conjunto de condições para a organização do ensino O processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação recíproca dos componentes fundamentais do ensino. os objetivos da educação e da instrução, os conteúdos, o ensino, a aprendizagem, os métodos, as formas e meios de organização das condições da situação didática, a avaliação. Tais são, também, os conceitos fundamentais que formam a base de estu- dos da Didática. Desenvolvimento histórico da Didática e tendências pedagógicas « 4 2 2: 4 A história da Didática está ligada ao aparecimento do ensmo — no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produção e das ciências — como atividade planejada e intencional dedicada à instrução. Desde os primeiros tempos existem indícios de formas elementares de instrução e aprendizagem. Sabemos, por exemplo, que nas comunida- des primutivas os jovens passam por um ritual de iniciação para ingres- sarem nas atividades do mundo adulto Pode-se considerar esta uma forma de ação pedagógica, embora aí não esteja presente o “didático” como forma estruturada de ensino Na chamada Antiguidade Clássica (gregos e romanos) e no período medieval também se desenvolvem formas de ação pedagógica, em esco- las, mosteiros, igrejas, universidades. Entretanto, até meados do século XVII não podemos falar de Didática como teoria do ensino, que sistema- tize o pensamento didático e o estudo científico das formas de ensinar. O termo “Didática” aparece quando os adultos começam a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e jovens através da direção deliberada e planejada do ensino, ao contrário das formas de interven- ção mais ou menos espontâneas de antes. Estabelecendo-se uma intenção propriamente pedagógica na atividade de ensino, a escola se torna uma instituição, O processo de ensino passa a ser sistema tizado conforme níveis, Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. bt) JOSE E ARLOS IRÂNEO tendo em vista a adequação às possibilidades das crianças, às idades e ritmo de assimilação dos estudos. A formação da teoria didática para mvestigar as ligações entre ensi- no e aprendizagem e suas leis ocorre no século XVII quando João Amós Comênio (1592-1670), um pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sobre Didática, a Didacta Magna. Ele foi o primeiro educador a formular a ideia da difusão dos conhe- cimentos a todos e criar princípios e regras do ensino. Comênio desenvolveu ideias avançadas para a prática educativa nas escolas, em uma época em que surgiam novidades no campo da Filosofia e das Ciências e grandes transformações nas técnicas de produção, em contraposição às ideias conservadoras da nobreza e do clero. O sistema de produção capitalista, anda incipiente, já influenciava a organização da vida social, política e cultural. A Didática de Comênio se assentava nos seguintes princípios: 1) A fmalidade da educação é conduzir à felicidade etema com Deus, pois é uma força poderosa de regeneração da vida humana. Todos os homens merecema sabedoria, a moralidade e a religião, porque todos, ao realizarem sua própria natureza, realizam os desígnios de Deus. Portanto, a educação é um direito natural de todos 2) Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com o seu desenvolvimento natural, isto é, de acordo com as ca- racterísticas de idade e capacidade para o conhecimento. Conse- quentemente, a tarefa principalda Didática é estudar essas carac- terísticas e os métodos de ensino correspondentes, de acordo com a ordem natural das coisas 3) A assimilação dos conhecimentos não se dá instantaneamente, como se o aluno registrasse de forma mecânica na sua mente a informação do professor, como o reflexo num espelho, No ensino, em vez disso, tem um papel decisivo a percepção sensorial das coisas. Os conhecimentos devem ser adquiridos a partir da obser- vação das coisas e dos fenômenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos 4) O método intuitivo consiste, assim, da observação direta, pelos órgãos dos sentidos, das coisas, para o registro das impressões na Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIA CA til mente do aluno. Primeiramente as coisas, depois as palavras O planejamento de ensino deve obedecer o curso da natureza infan- til; por isso as coisas devem ser ensinadas uma de cada vez Não se deve ensinar nada que a criança não possa compreender. Por- tanto, deve-se partir do conhecido para o desconhecido. Apesar da grande novidade destas ideias, principalmente dando um impulso ao surgimento de uma teoria do ensino, Comênio não escapou de algumas crenças usuais na época sobre ensino Embora partindo da observação e da experiência sensorial, mantinha-se o caráter transmissor do ensino; embora procurando adaptar o ensino às fases do desenvolvi- mento infantil, mantinha-se o método único e o ensino simultâneo a todos. Além disso, sua ideia de que a única via de acesso dos conhecimentos é a experiência sensorial com as coisas não é suficiente, primeiro porque nossas percepções frequentemente nos enganam, segundo, porque já há uma experiência social acumulada de conhecimentos sistematizados que não necessitam ser descobertos novamente. Entretanto, Comênio desempenhou uma influência considerável, não somente porque empenhou-se em desenvolver métodos de instrução mais rápidos e eficientes, mas também porque desejava que todas as pessoas pudessem usufruir dos benefícios do conhecimento. Sabemos que, na história, as ideias, principalmente quando são mui- to inovadoras para a época, costumam demorar para terem efeito prático. No século XVII, em que viveu Comêmo, e nos séculos seguintes, anda predomunavam práticas escolares da Idade Média. ensino intelectualista, verbalista e dogmático, memorização e repetição mecânica dos ensina- mentos do professor. Nessas escolas não havia espaço para ideias próprias dos alunos, o ensino era separado da vida, mesmo porque ainda era grande o poder da religião na vida social. Enquanto isso, porém, foram ocorrendo intensas mudanças nas for- mas de produção, havendo um grande desenvolvimento da ciência e da cultura Foi diminuindo o poder da nobreza e do clero e aumentando o da burguesia Na medida em que esta se fortalecia como classe social, disputando o poder econômico e político com a nobreza, 1a crescendo também a necessidade de um ensino ligado às exigências do mundo da Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. 62 JOSE E ARLOS IRÂNEO produção e dos negócios e, ao mesmo tempo, um ensino que contemplas- se o livre desenvolvimento das capacidades e interesses individuais. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) for um pensador que procurou interpretar essas aspirações, propondo uma concepção nova de ensino, baseada nas necessidades e interesses imediatos da criança As ideias mais importantes de Rousseau são as seguintes: 1) A preparação da criança para a vida futura deve basear-se no estudo das coisas que correspondem às suas necessidades e inte- resses atuais. Antes de ensinar as ciências, elas precisam ser leva- das a despertar o gosto pelo seu estudo. Os verdadeiros profes- sores são a natureza, a experiência e o sentimento O contato da criança com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais. Em resumo são os interesses e ne- cessidades imediatas do aluno que determinam a organização do estudo e seu desenvolvimento. 2) A educação é um processo natural, ela se fundamenta nosdesen- volvimento interno do aluno As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência natural para se desenvolverem. Rousseau não colocou em prática suas ideias e nem elaborou uma teoria de ensino Essa tarefa coube a um outro pedagogo suíço, Henrique Pestalozzi (1746-1827), que viveu e trabalhou até o fim da vida na educa- ção de crianças pobres, em instituições dingidas por ele próprio Deu uma grande importância ao ensino como meio de educação e desenvolvimen- to das capacidades humanas, como cutivo do sentimento, da mente e do caráter. Pestalozzi atribuía grande importância ao método intutrvo, levando os alunos a desenvolverem o senso de observação, análise dos objetos e fenômenos da natureza e a capacidade da linguagem, por meio da qual se expressa em palavras o resultado das observações Nisto consisha a educação intelectual Também atribuía importância fundamental à psi- cologia da criança como fonte do desenvolvimento do ensino As ideias de Comênio, Rousseau e Pestalozzi influenciaram muitos outros pedagogos O mais importante deles, porém, foi Johann Friedrich Herbart (1766-1841), pedagogo alemão que teve muitos discípulos e que exerceu influência relevante na Didática e na prática docente. Foi e con- Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. prosecuted. b? JOSE CARLOS IRÁÂNEO produção e dos negócios e, ao mesmo tempo, um ensino que contemplas- se o livre desenvolvimento das capacidades e interesses individuais. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) for um pensador que procurou interpretar essas aspirações, propondo uma concepção nova de ensino, baseada nas necessidades e interesses imediatos da criança As ideias mais importantes de Rousseau são as seguintes: 1) A preparação da criança para a vida futura deve basear-se no estudo das coisas que correspondem às suas necessidades e inte- resses atuais. Antes de ensinar as ciências, elas precisam ser leva- das a despertar o gosto pelo seu estudo. Os verdadeiros protfes- sores são a natureza, a experiência e o sentimento O contato da criança com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais. Em resumo são os interesses e ne- cessidades imediatas do aluno que determinam a organização do estudo e seu desenvolvimento. 2) A educação é um processo natural, ela se fundamenta nosdesen- volvimento interno do aluno As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência natural para se desenvolverem. Rousseau não colocou em prática suas ideias e nem elaborou uma teoria de ensino Essa tarefa coube a um outro pedagogo suíço, Henrique Pestalozzi (1746-1827), que viveu e trabalhou até o fim da vida na educa- ção de crianças pobres, em instituições dirigidas por ele próprio Deu uma grande importância ao ensino como meio de educação e desenvolvimen- to das capacidades humanas, como cuthvo do sentimento, da mente e do caráter. Pestalozzi atribuía grande importância ao método intuitivo, levando os alunos a desenvolverem o senso de observação, análise dos objetos e fenômenos da natureza e a capacidade da linguagem, por meio da qual se expressa em palavras o resultado das observações Nisto consistia a educação intelectual Também atribuía importância fundamental à psi- cologia da criança como fonte do desenvolvimento do ensino As ideias de Comênio, Rousseau e Pestalozzi influenciaram muitos outros pedagogos O mais importante deles, porém, foi Johann Friedrich Herbart (1766-1841), pedagogo alemão que teve muitos discípulos e que exerceu influência relevante na Didática e na prática docente. Foi e con- Printed Printed by: by: [email protected]. 2203918(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIDA CA (13 tinua sendo inspirador da pedagogia conservadora — conforme vere- mos —, mas suas ideias precisam ser estudadas por causa da sua presen- ça constante nas salas de aula brasileiras Junto com uma formulação teórica dos fins da educação e da Pedagogia como ciência, desenvolveu uma análise do processo psicológico-didático de aquisição de conheci- mentos, sob a direção do professor Segundo Herbart, o fim da educação é a moralidade, atingida através da instrução educativa. Educar o homem significa instruí-lo para querer o bem, de modo que aprenda a comandar a si proprio. A principal tarefa da instrução é ntroduzir ideias corretas na mente dos alunos O professor é um arquiteto da mente. Ele deve trazer à atenção dos alunos aquelas ideias que deseja que dominem suas mentes. Controlando os interesses dos alunos, o professor vai construindo uma massa de ideias na mente, que, por sua vez, vão favorecer a assimilação de ideias novas O método de ensino consiste em provocar a acumulação de ideias na mente da criança Herbart estava atrás também da formulação de um método único de ensino, em conformidade com as leis psicológicas do conhecimento. Es- tabeleceu, assim, quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamen- te seguidos o primeiro seria a preparação e apresentação da matéria nova de forma clara e completa, que denominou clareza; o segundo seria a as- sociação entre as ideias antigas e as novas, o terceiro, a sistematização dos conhecimentos, tendo em vista a generalização; finalmente, o quarto seria a aplicação, o uso dos conhecimentos adquiridos através de exercícios, que denominou método Posteriormente, os discípulos de Herbart desen- volveram mais a proposta dos passos formais, ordenando-os em cinco: preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação, fórmu- la esta que ainda é utilizada pela maioria dos nossos professores. O sistema pedagógico de Herbart e seus seguidores — chamados de herbartianos — trouxe esclarecimentos válidos para a organização da prática docente, como por exemplo: a necessidade de estruturação e or- denação do processo de ensino, a exigência de compreensão dos assuntos estudados e não simplesmente memorização, o sigmficado educativo da disciplina na formação do caráter Entretanto, o ensino é entendido como repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem compreender o que o professor transmite, mas apenas com a finalidade de reproduzir a matéria transmitida Com isso, a aprendizagem se torna Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. 64 JOSE E ARLOS IRÂNEO mecânica, automática, associativa, não mobilizando a atividade mental, a reflexão e o pensamento independente e criativo dos alunos. As ideias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Pestalozzi e Herbart — além de muitos outros que não pudemos mencionar — formaram as bases do pensamento pedagógico europeu, difundindo-se depois por todo o mundo, demarcando as concepções pedagógicas que hoje são conheci- das como Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada. A Pedagogia Tradicional, em suas várias correntes, caracteriza as con- cepções de educação onde prepondera a ação de agentes externos na formação do aluno, o primado do objeto de conhecimento, a transmissão do saber constituído na tradição e nas grandes verdades acumuladas pela humanidade e uma concepção de ensino como impressão de imagens propiciadas ora pela palavra do professor, ora pela observação sensorial. A Pedagogia Renovada agrupa correntes queadvogam a renovação escolar, opondo-se à Pedagogia Tradicional Entre as características desse movi- mento destacam-se. a valorização da criança, dotada de liberdade, ini- ciativa e de interesses próprios e, por isso mesmo, sujeito da sua apren- dizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvol- vimento biológico e psicológico, respeito às capacidades e aptidões indi- viduais, individualização do ensino conforme os ritmos próprios de aprendizagem; rejeição de modelos adultos em favor da atividade e da liberdade de expressão da criança O movifnento de renovação da educação, inspirado nas ideias de Rousseau, recebeu diversas denominações, como educação nova, escola nova, pedagogia ativa, escola do trabalho Desenvolveu-se como tendên- cia pedagógica no início do século XX, embora nos séculos anteriores tenham existido diversos filósofos e pedagogos que propugnavam a re- novação da educação vigente, tais como Erasmo, Rabelais, Montaigne à época do Renascimento e os já citados Comêmio (século XVII), Rousseau e Pestalozzi (no século XVIII. A denominação Pedagogia Renovada se aplica tanto ao movimento da educação nova propriamente dito, que inclui a criação de “escolas novas”, a disseminação da pedagogia ativa e dos métodos ativos, como também a outras correntes que adotam certos princípios de renovação educacional, mas sem vínculo direto com a Es- cola Nova; citamos, por exemplo, a pedagogia científico-espiritual desen- Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIA CA tis volvida por W. Dilthey e seus seguidores, e a pedagogia ativista-espiri- tualista católica. Dentro do movimento escolanovista, desenvolveu-se nos Estados Unidos uma de suas mais destacadas correntes, a Pedagogia Pragmática ou Progressivista, cujo principal representante é John Dewey (1859-1952) As ideias desse brilhante educador exerceram uma significativa influén- cia no movimento da Escola Nova na América Latina e, particularmente, no Brasil. Com a liderança de Anísio Teixeira e outros educadores, for- mou-se no início da década de 1930 o Movimento dos Pioneiros da Esco- la Nova, cuja atuação foi decisiva na formulação da política educacional, na legislação, na investigação acadêmica e na prática escolar Dewey e seus seguidores reagem à concepção herbartiana da edu- cação pela instrução, advogando a educação pela ação A escola não é uma preparação para a vida, é a própria vida, a educação é o resultado da interação entre o organismo e o meio através da experiência e da re- construção da experiência. À função mais genuína da educação, é a de prover condições para promover e estimular a atividade própria do or- ganismo para que alcance seu objetivo de crescimento e desenvolvimen- to. Por isso, a atividade escolar deve centrar-se em situações de experiên- cia onde são ativadas as potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais da criança O currículo não se baseia nas matérias de estudo convencionáis que expressam a lógica do adulto, mas nas ativida- des e ocupações da vida presente, de modo que a escola se transforme em um lugar de vivência daquelas tarefas requeridas para a vida em sociedade O aluno e o grupo passama ser o centro de convergência do trabalho escolar. O movimento escolanovista no Brasil se desdobrou em várias cor- rentes, embora a mais predominante tenha sido a progressivista Cumpre destacar a corrente vitalista, representada por Montessori, as teorias cog- nitivistas, as teorias fenomenológicas e especialmente a teoria interacio- nista baseada na psicologia genética de Jean Piaget Em certo sentido, pode-se dizer também que o tecnicismo educacional representa a conti- nulidade da corrente progressivista, embora retemperado com as contrl- buições da teoria behaviorista e da abordagem sistêmica do ensino. Uma das correntes da Pedagogia Renovada que não tem vínculo direto com o movimento da Escola Nova, mas que teve repercussões na Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. bt JOSE CARLOS IRÂNEO Pedagogia brasileira, é a chamada Pedagogia Cultural Trata-se de uma tendência amda pouco estudada entre nós. Sua característica principal é focalizar a educação como fato da cultura, atribuindo ao trabalho docen- te a tarefa de dirigir e encaminhar a formação do educando pela apro- priação de valores culturais. A Pedagogia Cultural a que nos referimos tem sua afiliação na Pedagogia científico-espiritual desenvolvida por Guilherme Dilthey (1833-1911) e seguidores como Theodor Litt, Eduard Spranger e Hermann Nohl. Tendo-se firmado na Alemanha como uma sólida corrente pedagógica, difundiu-se em outros países da Europa, especialmente na Espanha, e daí para a América Latina, influenciando autores como Lorenzo Luzuriaga, Francisco Larroyo, J. Roura-Parella, Ricardo Nassif e, no Brasil, Luís Alves de Mattos e Onofre de Arruda Penteado Júmior Em uma linha distinta das concepções escolanovistas, esses autores se preocupam em superar as oposições entre a cultura sub- jetiva e a cultura objetiva, entre o individual e o social, entre o psicológi- co e o cultural De um lado, concebem a educação como atividade do próprio sujeito, a partir de uma tendência interna de desenvolvimento espintual; de outro, consideram que os indivíduos vivem em um mundo sociocultural, produto do próprio desenvolvimento histórico da socieda- de A educação seria, assim, um processo de subjetivação da cultura, tendo em vista a formação da vida interior, a edificação da personalidade A Pedagogia da cultura quer unir as condições externas da vida real, isto é, o mundo objetivo da cultura, à hberdade individual, cuja fonte é a es- piritualidade, a vida mterior O estudo teórico da Pedagogia no Brasil passa por um reavivamen- to, principalmente a partir das investigações sobre questões educativas baseadas nas contribuições do materialismo histórico e dialético. Tais estudos convergem para a formulação de uma teoria crítico-social da educação, a partir da crítica política e pedagógica das tendências e cor- rentes da educação brasileira. Tendências pedagógicas no Brasil e a Didática Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências pedagógicas e à in- Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIDÁ CA td vestigação do seu campo de conhecimentos Os autores, em geral, con- cordam em classificar as tendências pedagógicas em dois grupos as de cunho hberal — Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e tecnicismo educacional —; as de cunho progressista — Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos Certamente existem outras correntes vinculadas a uma ou outra dessas tendências, mas essas são as mais conhecidas. Na Pedagogia Tradicional, a Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino À atividade de ensinar é centrada no professor, que expõe e interpreta a matéria. Às vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gravem” a ma- téria para depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja por meio das provas. Para isso, é importante que o aluno “preste atenção”, porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite, na memória. O aluno é, assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é deco- rá-la. Os objetivos, explícitos ou implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculado dá sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os alunos em um modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura A matéria de ensino é tratada isolada- mente, isto é, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida O método é dado pela lógica e sequência da matéria, é o meio utilizado pelo professor para comunicar a matéria e não dos alunos para aprendê-la. É ainda forte a presença dos métodos intui- tivos, que foram incorporados ao ensino tradicional Baseiam-se na apre- sentação de dados sensíveis, de modo que os alunos possam observá-los e formar imagens deles em sua mente. Muitos professores ainda acham que “partir do concreto” é a chave do ensino atualizado Mas esta ideia já fazia parte da Pedagogia Tradicional porque o “concreto” (mostrar objetos, ilustrações, gravuras etc.) serve apenas para gravar na mente o que é captado, pelos sentidos. O material concreto é mostrado, demons- trado, manipulado, mas o aluno não lda mentalmente com ele, não o repensa, não o reelabora com o seu próprio pensamento A aprendizagem, assim, continua receptiva, automática, não mobilizando a atividade men- tal do aluno e o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais. Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. prosecuted. 08 JOSE CARLOS IRÂNEO A Didática tradicional tem resistido ao tempo, continua prevalecen- do na prática escolar É comum nas nossas escolas atribur-se ao ensino a tarefa de mera transmissão de conhecimentos, sobrecarregar o aluno de conhecimentos que são decorados sem questionamento, dar somente exercícios repetitivos, impor externamente a disciplina e usar castigos. Trata-se de uma prática escolar que empobrece até as boas intenções da Pedagogia Tradicional que pretendia, com seus métodos, a transmissão da cultura geral, isto é, das grandes descobertas da humanidade, e a for- mação do raciocímio, o treino da mente e da vontade Os conhecimentos ficaram estereotipados, insossos, sem valor educativo vital, desprovidos de sigmificados sociais, inúteis para a formação das capacidades intelec- tuais e para a compreensão crítica da realidade. O intento de formação mental, de desenvolvimento do raciocímo, ficou reduzido a práticas de memorização. A Pedagogia Renovada inclu várias correntes a progressivista (que se baseia na teoria educacional de John Dewey), a não diretiva (principal- mente inspirada em Carl Rogers), a ativista-espiritualista (de orientação católica), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas, de alguma forma, estão ligadas ao movimento da pedagogaa ativa que surge no final do século XIX como contraposição à Pedagogia Tradicional. En- tretanto, segundo estudo feito por Castro (1984), os conhecimentos e a experiência da Didática brasileira pautam-se, em boa parte, no movimen- to da Escola Nova, inspirado principalmente na corrente progressivista. Destacaremos, aqui, apenas a Didática ativa inspirada nessa corrente e a Didática Moderna de Luís Alves de Mattos, que incluímos na corrente culturalista. A Didática da Escola Nova ou Didática ativa é entendida como “di- reção da aprendizagem”, considerando o aluno como sujeito da aprendi- zagem. O que o professor tem a fazer é colocar o aluno em condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo conhecimentos e experiências. A ideia é a de que o aluno aprende melhor o que faz por si próprio. Não se trata apenas de aprender fazendo, no sentido de trabalho manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se mamfesta em atrvi- dade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, plás- Printed Printed by: by: [email protected]. 2203918(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. DIA CA Ag tica ou outro tipo. O centro da atividade escolar não é o professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Por isso, a Didática ativa dá gran- de importância aos métodos e técnicas como o trabalho de grupo, ativi- dades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimenta- ções etc., bem como aos métodos de reflexão e método científico de descobrir conhecimentos. Tanto na organização das experiências de apren- dizagem como na seleção de métodos, importa o processo de aprendiza- gem e não diretamente o ensino. O melhor método é aquele que atende as exigências psicológicas do aprender. Em síntese, a Didática ativa dá menos atenção aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo da aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimen- to das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos. Por 1sso, os adeptos da Escola Nova costumam dizer que o professor não ensina; antes, ajuda o aluno a aprender. Ou seja, a Didática não é a direção do ensino, é a orientação da aprendizagem, uma vez que esta é uma expe- riência própria do aluno por meio da pesquisa, da investigação. Esse entendimento da Didática tem muitos aspectos positivos, prin- cipalmente quando baseia a atividade escolar na atividade mental dos alunos, no estudo e na pesquisa, visando a formação de um pensamento autônomo. Entretanto, é raro encontrar professores que apliquem intei- ramente o que propõe a Didática ativa. Por falta de conhecimento apro- fundado das-bases teóricas da pedagogia ativa, falta de condições mate- nais, pelas exigências de cumprimento do programa oficial e outras razões, o que fica são alguns métodos e técnicas. Assim, é muito comum os pro- fessores utilizarem procedimentos e técnicas como trabalho de grupo, estudo dirigido, discussões, estudo do meio etc., sem levar em conta seu objetivo principal que é levar o aluno a pensar, a raciocinar cientificamen- te, a desenvolver sua capacidade de reflexão e a independência de pen- samento Com isso, na hora de comprovar os resultados do ensino e da aprendizagem, pedem matéria decorada, da mesma forma que se faz no ensino tradicional. Em paralelo à Didática da Escola Nova, surge a partir dos anos 1950 a Didática Moderna proposta por Luís Alves de Mattos Seu livro Sumário de Didática Geral foi largamente utilizado durante muitos anos nos cursos Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will will be be prosecuted. 0 JOSE E ARLOS IRÂNEO de formação de professores e exerceu considerável influência em muitos manuais de Didática publicados posterormente. Conforme sugerimos anteriormente, a Didática Moderna é inspirada na Pedagogia da cultura, corrente pedagógica de origem alemã. Mattos identifica sua Didática com as seguintes características: o aluno é o fator pessoal decisivo na situação escolar, em função dele giram as atividades escolares, para orientá-lo e incentivá-lo na sua educação e na sua aprendizagem, tendo em vista desenvolver-lhe a inteligência e formar-lhe o caráter e a personalidade. O professor é o incentivador, orientador e controlador da aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos alunos e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão. A matéria é o conteúdo cultural da aprendizagem, o objeto ag qual se aplica o ato de aprender, onde se encontram os valores lógicose sociais a serem assimi- lados pelos alunos, está a serviço do aluno para formar as suas estruturas mentais e, por 1sso, sua seleção, dosagem e apresentação vinculam-se às necessidades e capacidades reais dos alunos. O método representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, isto é, exis- te em função da aprendizagem, razão pela qual, a par de estar condicio- nado pela natureza da matéria, relaciona-se com a psicologia do aluno Esse autor destaca como conceitos básicos da Didática o ensino e a aprendizagem, em estreita relação entre si O ensino é a atividade dire- cional sobre o processo de aprendizagem e a aprendizagem é a atividade mental intensiva e propositada do aluno em relação aos dados fornecidos pelos conteúdos culturais. Ele escreve: “A autêntica aprendizagem con- siste exatamente nas experiências concretas do trabalho reflexivo sobre os fatos e valores da cultura e da vida, ampliando as possibilidades de compreensão e de interação do educando com seu ambiente e com a so- ciedade. (.) O autêntico ensino consistirá no planejamento, na orientação e no controle dessas experiências concretas de trabalho reflexivo dos alunos, sobre os dados da matéria ou da vida cultural da humanidade” (1967, p. 72-73). Definindo a Didática como disciplina normativa, técnica de dirigir e orientar eficazmente a aprendizagem das matérias tendo em vista os seus objetivos educativos, Mattos propõe a teoria do Ciclo docente, que é o método didático em ação O ciclo docente, abrangendo as fases de pla- nejamento, orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é Printed Printed by: by: [email protected]. 220391 8(Daluno.univesp.br. Printing Printing is is for for personal, personal, private private use use only. No part only. No part of of this this book book may may be be reproduced reproduced or or transmitted transmitted without without publisher's publisher's prior prior permission. permission. Violators Violators will

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