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miopatias mitocondriais oftalmoplegia externa progressiva cronica síndrome de kearns-sayre medicina

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Este documento descreve as miopatias mitocondriais, incluindo a oftalmoplegia externa progressiva crônica e a síndrome de Kearns-Sayre. Aborda aspectos como epidemiologia, clínica, diagnóstico e tratamento.

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I. MIOPATIAS MITOCONDRIAIS Caracterizam-se por alterações nas mitocôndrias das fibras musculares (aumento do número, tamanho ou presença de inclusões cristalinas). Histopatologia: O exame com Tricrômio de Gomori modificado revela as fibras coradas em azul e as mitocôndrias periféricas...

I. MIOPATIAS MITOCONDRIAIS Caracterizam-se por alterações nas mitocôndrias das fibras musculares (aumento do número, tamanho ou presença de inclusões cristalinas). Histopatologia: O exame com Tricrômio de Gomori modificado revela as fibras coradas em azul e as mitocôndrias periféricas em vermelho (aspecto de "Ragged Red Fibers"). ○ Nota: Essas alterações histológicas são encontradas em pacientes com duas doenças principais: Oftalmoplegia Externa Progressiva Crônica e Síndrome de Kearns-Sayre. A. OFTALMOPLEGIA EXTERNA PROGRESSIVA CRÔNICA (OEPC) Epidemiologia: Miopatia mitocondrial rara, que acomete principalmente mulheres (entre 18-40 anos, segundo a AAO BCSC), na terceira e quarta décadas de vida. Predominantemente esporádica, mas a mutação pode ser transmitida à prole (segundo a AAO BCSC). Clínica: ○ Blefaroptose e oftalmoplegia bilaterais, simétricas e lentamente progressivas. ○ Ausência de diplopia, mesmo em casos avançados (devido à simetria). ○ Pode haver acometimento sistêmico, com fraqueza muscular generalizada. ○ Indicação de eletrocardiograma para afastar alterações da função cardíaca. ○ Nota: Diagnóstico diferencial importante em mulheres de meia idade com blefaroptose e oftalmoplegia bilaterais, após afastar Miastenia Gravis. Histopatologia Muscular: Presença de "Ragged Red Fibers", com proliferação das mitocôndrias e inclusões cristalinas. B. SÍNDROME DE KEARNS-SAYRE Epidemiologia: Segunda miopatia ocular mitocondrial mais frequente. Acomete pacientes na faixa dos 20 anos. Tríade Característica: ○ Oftalmoplegia Externa Progressiva Crônica. ○ Retinopatia Pigmentar. ○ Defeitos na condução cardíaca. Outras Alterações: Ataxia cerebelar, surdez, aumento de proteínas no líquor, baixa estatura, nistagmo pendular, alterações do trato corticoespinhal, fraqueza dos músculos da face, palato e pescoço, neuropatia periférica e miopatia muscular esquelética tipo "Ragged Red Fibers". Tratamento: Coenzima Q10 (possível benefício para função cardíaca, ataxia e resposta muscular ao exercício, mas sem benefícios para oftalmoplegia, ptose ou retinopatia pigmentar). Prognóstico: Reservado, principalmente pela disfunção cardíaca precoce. Nota: Um diagnóstico diferencial importante da OEPC e da Síndrome de Kearns-Sayre é a paralisia supranuclear progressiva. Entretanto, esta afeta primeiro o olhar para baixo, está associada à rigidez do pescoço e do tronco, e os movimentos oculares podem ser desencadeados pela manobra da cabeça de boneca e pela estimulação calórica vestibular, indicando a natureza supranuclear da síndrome. II. DISTROFIA MIOTÔNICA DE STEINERT Epidemiologia: Doença neuromuscular mais comum entre adultos. Genética: Autossômica dominante. Aparece na infância tardia ou em adultos jovens. ○ Tipo 1: mutação no cromossomo 19. ○ Tipo 2: mutação no cromossomo 3. Clínica: ○ Miotonia (excessiva contratilidade/dificuldade de relaxamento dos músculos esqueléticos), exacerbada pela utilização dos músculos, fadiga e frio. ○ Acometimento da musculatura distal dos membros inicialmente (incomum nas miopatias). ○ Acometimento do masseter e temporal com afinamento da face (alteração típica). ○ Fácies miopática (fácies triste), ptose e calvície frontal. Alterações Oculares: ○ Blefaroptose. ○ Oftalmoplegia (pode simular OEPC). ○ Retinopatia pigmentar (pode envolver a mácula). ○ Catarata pré-senil (depósitos policromáticos em "árvore de natal"). ○ Pupilas mióticas e com contração lenta à luz. Pode haver dissociação luz-perto. Outras Alterações: Hipogonadismo, cardiomiopatias e alterações na condução cardíaca, baixa inteligência, alterações auditivas, resistência à insulina. Diagnóstico: ○ Teste genético. ○ Eletromiografia evidenciando alterações miotônicas. III. DISTROFIA OCULOFARÍNGEA Epidemiologia: Acomete pacientes mais velhos (quinta ou sexta década de vida). Genética: Herança autossômica dominante na maioria dos casos (minoria recessiva ou esporádica). Clínica: Ptose progressiva bilateral, disfagia e fraqueza da musculatura proximal. Oftalmoplegia presente na maioria dos pacientes. IV. SÍNDROME DE MILLER FISHER Definição: Variante da síndrome de Guillain-Barré (polineuropatia periférica aguda). Epidemiologia: ○ Mais comum em homens. ○ Extremamente rara (incidência anual de cerca de 1:1.000.000). Etiologia: Produção de anticorpos anti-gangliosídeo após infecção sistêmica (desmielinização e disfunção aguda de nervos periféricos). Infecção por Campylobacter jejuni é uma das mais associadas. Nota: Existem relatos de síndrome de Miller-Fisher após infecção por COVID-19. Tríade Clássica: ○ Oftalmoplegia + ptose palpebral bilaterais (oftalmoplegia externa aguda é característica cardinal). ○ Ataxia de marcha. ○ Arreflexia. Outros Achados: Diplegia facial, dificuldade de deglutição e respiração. Pode ser causa de pupila tônica e cursar com dissociação luz-perto. Laboratório: ○ Líquor com aumento de proteínas, mas celularidade normal. ○ Anticorpo IgG anti-GQ1B (antigangliosídeo) positivo. Tratamento/Prognóstico: Geralmente autolimitada (recuperação em meses). Casos com progressão para insuficiência respiratória estão descritos (tratamento de suporte indicado). Imunoglobulina intravenosa e plasmaférese não mostraram resultados promissores em estudos retrospectivos. V. NOTAS FINAIS Coleção CBO 2023 e BCSC da AAO: A Síndrome de Miller Fisher não teve um tópico específico na coleção CBO 2023, nem no BCSC da AAO. Chance baixa de cair em provas, mas o assunto foi mantido para alunos que desejem se aprofundar. Existem divergências consideráveis entre o que diz a coleção CBO 2023 e a AAO (BCSC) a respeito da OEPC. Atenção para essas divergências.

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