Informação Positiva e Negativa - Assimetrias de Valência

Summary

Este documento explora a forma como a informação positiva e negativa são processadas e o efeito que isso tem na nossa percepção e comportamento. Analisa diferentes estudos científicos sobre o tema, destacando a maior atenção e impacto atribuídos à informação negativa em comparação com à positiva. Analisa também os conceitos gerais de processamento diferencial de informação, e o conceito da "negatividade" como um motivador comportamental, de forma científica.

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Informação positiva e negativa Assimetrias de valência Distinguir entre “bom” e “mau” é uma tarefa fundamental para todos os organismos. As pessoas classificam estímulos, socialmente: Avaliam, constantemente, e com facilidade, como bons ou maus, eventos, comportamentos, etc...

Informação positiva e negativa Assimetrias de valência Distinguir entre “bom” e “mau” é uma tarefa fundamental para todos os organismos. As pessoas classificam estímulos, socialmente: Avaliam, constantemente, e com facilidade, como bons ou maus, eventos, comportamentos, etc Essas avaliações determinam os seus: julgamentos (se aceitam ou rejeitam algo); e comportamentos (se aproximam ou evitam algo) Estas classes de informação, “Boa” e “Má”, não são equivalentes. Aparentemente são processadas de forma diferente - Sorriso - Cara amigável zangada - Elogio - Crítica - Um abraço - Empurrão Descritas na literatura como instâncias do enviesamento para a negatividade, enviesamento para a positividade, ou como assimetrias de valência (Kanouse & Hanson, 1972; Peeters, 1971; Peeters & Czapinski, 1990) Definição de: Bom e Mau Informação positiva e Informação negativa (Unkelbach et al., 2020) 1. Recorrem à abordagem de Kurt Lewin (Lewin, 1943) com raízes na interação dos organismos com os seus ambientes: a) São o resultado de avaliações b) Avaliações são baseadas no ajuste entre o estímulo no ambiente e os objectivos e necessidades do organismo Bom é a avaliação do organismo sobre um estímulo que serve os seus objectivos e necessidades Mau é a avaliação do organismo sobre um estímulo que prejudica os seus objectivos e necessidades Exemplo: Uma bebida fresca pode ser agradável numa noite abafada, mas indesejável numa noite gelada. 2. Implicações: - Categorizações dependem de pessoas a avaliar o ambiente - O ambiente por si só não tem conotação avaliativa - O mesmo ambiente pode ser bom para uma pessoa e mau para outra - Existe uma realidade ou substância independentemente do organismo A maioria dos estímulos e informação usada na investigação sobre processamento de informação positiva e negativa representa informação que é positiva e negativa para a maioria das pessoas, com base nas necessidades biológicas e de auto-estima Processamento diferencial de informação positiva e negativa Vantagens da informação negativa 1. Maior atenção a informação negativa 1.1 Informação negativa chama e mantém a atenção Tarefa típica de Stroop – identificou o efeito de Stroop (1935) Palavra “vermelho” escrita em azul – Tarefa é nomear a cor em que a palavra está escrita (azul) e ignorar o significado da palavra escrita (vermelho). Como as pessoas não conseguem evitar ler o significado da palavra, o significado do palavra escrita (aspecto secundário da tarefa) interfere com a tarefa principal (nomear a cor em que está escrita). A interferência da informação irrelevante para a tarefa sobre a informação relevante para a tarefa chama-se Efeito de Stroop Pratto & John (1991) Adaptação da tarefa de Stroop – nomear a cor e ignorar as palavras (traços de personalidade negativos e positivos) EXP 1 RESULTADOS: Traços de personalidade negativos interferem mais com a tarefa de nomeação de cor 650 ms (traços positivos) / 679 ms (traços negativos) Diferença de latência é devida à atenção? Se sim, melhor aprendizagem acidental e melhor memória de traços negativos EXP 2 RESULTADOS: 601 ms (traços positivos) / 612 ms (traços negativos) Recordação livre: 1,3 (traços positivos) / 2,6 (traços negativos) EXP 3 Controla para a frequência das palavras na língua e replica os resultados (os traços negativos podem ser menos frequentes e mais inesperados) 1.2 Informação negativa salienta- se Hansen & Hansen (1988) Face in the crowd paradigm – tarefa de procura visual duma cara emocional desviante numa configuração de muitas caras EXPs Cara-alvo (neutra OU alegre OU zangada) numa configuração de caras 108 ensaios Varia a posição da cara-alvo na configuração 1/2 ensaios a configuração tem uma cara desviante emocionalmente RESULTADOS Caras Zangadas: < latência de resposta < erros (Ohman,Lundqvist,& Esteves, 2001; Frischen, Eastwood, & Smilek, 2008 for a review) 1.3 Menor limiar atencional para informação negativa /Estímulos apresentados abaixo do limiar de deteção/ Nasrallah, Carmel & Lavie (2009) Detetar se palavras apresentadas muito rapidamente tinham conteúdo emocional ou não. EXP 1 88 palavras positivas, 88 palavras negativas 176 palavras neutras RESULTADOS > Discriminação palavras negativas comparadas com neutras /Estímulos apresentados com luminância reduzida/ EXP 2 RESULTADOS > Discriminação palavras negativas comparadas com neutras Dijksterhuis & Aarts (2003); Gaillard et al. (2006); Zeelenberg, Wagenmakers, & Rotteveel (2006) 2. Maior peso dado a informação negativa a formar impressões 2.1 Formar impressões a partir de traços e comportamentos Anderson (1965) - Traços negativos levam a julgamentos mais extremos do que traços positivos, mesmo quando são altamente negativos e altamente positivos relativamente a um ponto neutro Skowronski and Carlston (1987) - qualificação desta vantagem para a negatividade Não tem a ver com valência mas com a Diagnosticidade da informação - Moralidade: Honesto – Desonesto: Uma pessoa honesta não deve mentir nunca, mas uma desonesta pode dizer a verdade às vezes / comportamentos negativos são mais diagnósticos - permitem previsões mais fortes - Capacidade: Inteligente – Estúpido: Uma pessoa inteligente pode comportar-se estupidamente, MAS uma pessoa estúpida não se deve nunca comportar de forma inteligente / comportamentos positivos são mais diagnósticos - permitem previsões mais fortes (compreendeu equações vs esquece-se de atar os sapatos) Vantagens da informação positiva 1. Velocidade de processamento 1.1 Classificações mais rápidas “Bom” - “Mau” Fazio, Sanbonmatsu, Powell, & Kardes (1986, Experiment 2) 92 estímulos julgados avaliativamente e com registo de latências de classificação RESULTADOS > Rapidez a classificar os estímulos positivos 1.2 Decisões lexicais e identificação de palavras mais rápidas Unkelbach et al. (2010; Study 2) 180 estímulos para decidir se são palavras ou não-palavras RESULTADOS Correlação negativa entre valência da palavra e tempos de decisão lexical Apresentação de palavras 33 ms seguida de máscara – Palavras positivas são mais correctamente identificadas, mesmo quando se controla para a frequência objectiva na língua das palavras 2. Congruência Informação positiva é percebida como mais compatível com outra informação positiva Fazio, Sanbonmatsu, Powell, & Kardes (1986) Evaluative priming task Apresenta um estímulo e mede a latência de resposta a responder ao alvo, tipicamente positivo ou negativo. Tarefa: qual a conotação do alvo (+ ou -) RESULTADOS > Rapidez quando o prime e o alvo são avaliativamente congruentes, do que quando são incongruentes > Facilitação é maior para os pares positivos do que para os negativos Explicações para as assimetrias de valência Como explicar simultaneamente as vantagens da positividade e da negatividade? Conciliar: o limiar mais baixo da informação negativa com a categorização mais rápida da informação positiva o maior impacto da informação negativa na formação de impressões com a maior influência da informação positiva nas atitudes Pode haver uma explicação comum para o processamento diferencial da informação positiva e negativa? 1. Pressões evolutivas e propensão filogenética As assimetrias resultam de assimetrias nas consequências de eventos positivos e negativos (Foco na questão WHY) Consequências de eventos negativos são em média mais prejudiciais do que os benefícios em média de eventos positivos Humanos e mamíferos podem ter desenvolvido uma maior sensibilidade a informação negativa, em particular à ameaça (Baumeister et al., 2001; Ohman & Mineka, 2001). Sistema cognitivo evoluiu para se adaptar às propriedades do ambiente Organismos que dão mais atenção a informação negativa, codificam-na melhor, e a recuperam mais facilmente têm vantagem reprodutivas Não explicam as vantagens da informação positiva / Não explicam a questão HOW 2. Correlatos da valência A informação negativa é menos frequente, mais extrema, mais intensa, menos esperada, mais surpreendente Se assim é, é preciso controlar para cada um destes efeitos para mostrar assimetrias de valência, sob pena do efeito de negatividade não ser genuíno (Peeters & Czapinski, 1990) Aponta para confounds nesta literatura As evidências sobre o processamento de informação negativa podem ser devido a princípios já estabelecidos sobre o processamento de informação esperada, frequente ou surpreendente Explicam bem a questão HOW / Não explicam a questão WHY 3. Diferenças nas semelhanças dos 2 tipos de informação A informação negativa é mais diversa e portanto menos semelhante entre si do que a informação positiva Unkelbach et al., 2008 20 estímulos positivos e 20 estímulos negativos Participantes comparam pares de estímulos e avaliam a sua semelhança Matriz de semelhanças em que a distância é interpretada como semelhança Hout, Goldinger, and Ferguson (2013) Koch, Speckmann, and Unkelbach (2020) Participantes organizam diretamente os estímulos num espaço visual INST: estímulos semelhantes devem ficar juntos, e diferentes devem ficar afastados Medida espacial de semelhança Em todos os estudos a informação positiva foi mais semelhante, do que a informação negativa Como é que a diferença de semelhança causa um processamento diferente? Unkelbach, Fiedler, Bayer, Stegmuller, & Danner (2008) “Efeito de densidade” da informação positiva A informação positiva é mais semelhante entre si e está mais inter-relacionada entre si – maior densidade informativa em memória sobre essa informação A frequência de exposição subjectiva a informação positiva é maior, ou seja, a frequência experienciada com que a informação positiva é internamente ativada na nossa memória é maior (processamos e pensamos mais sobre) A maior densidade informativa causa por exemplo maior rapidez de resposta – um maior número de itens positivos associados serão afetados quando um estímulo positivo é apresentado, o que facilita a resposta positiva Porque é que o Bom é mais semelhante? Estados positivos são benéficos para a vida humana (objectivos de sobrevivência) Estados negativos são prejudiciais para a vida humana No nível mais básico, a vida humana só é possível num intervalo muito estreito entre o “demais” e o “de menos” Isso é verdade em qq dimensão física: temperatura, radiação UV, concentração de oxigénio Estados que permitem a vida humana são não-extremos, portanto estados bons devem também ser estados não-extremos Este principio traduz-se também para caracteristicas faciais (beauty-in- averageness effect, Langlois & Roggman, 1990) E traduz-se das dimensões físicas para as psicológicas (demasiado faladora, demasiado calada) Exemplo: Avaliação duma refeição com as dimensões temperatura e picante Maior diversidade de estados negativos e maior semelhança de estados positivos Uma única área positiva para 8 áreas diferentes negativas

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