História do Porto PDF
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This document provides an overview of the history of Porto, a city in Portugal. It details the origins of Porto, tracing its history from ancient times to medieval periods, highlighting key events and figures.
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História do Porto Origens Remotas O Porto é um território diversificado que apresenta vestígios de ocupação humana desde a Pré-história até à Idade do Bronze e Idade do Ferro. Os primeiros vestígios do castro proto-histórico, que deu origem à cidade do Porto, surgem no morro da Sé ou da Penaventos...
História do Porto Origens Remotas O Porto é um território diversificado que apresenta vestígios de ocupação humana desde a Pré-história até à Idade do Bronze e Idade do Ferro. Os primeiros vestígios do castro proto-histórico, que deu origem à cidade do Porto, surgem no morro da Sé ou da Penaventosa. No nº 5 da Rua de D. Hugo, encontraram-se objetos de uso quotidiano e construções dos séculos IV-III a.C. Encontraram-se também outros achados que rementem para uma ocupação nos primeiros séculos do 1 milénio aC. Na Rua de Penaventosa surgiram vestígios do pano de muralha que cercava este núcleo primitivo. O castro de Cale, na foz do rio Douro, tem ligações comerciais com o mundo romano, no século I d.C. Mais tarde, a “civitas” expande-se para o morro da Cividade e pela encosta da Penaventosa e atinge a zona da Ribeira. A crescente dinâmica portuária reforçou o papel de Cale como um catalisador da economia regional. Surgem assim as primeiras referências a Portucale. Diversos estudos mostram que a ocupação romana se estendeu praticamente a todo o território. Foi na crise de 1383-1385 que esta cidade ganhou protagonismo. O Rei João I de Portugal demonstrou um especial apreço pela colaboração deste território na vitória da guerra contra Castela. Nasceu a primeira rua estruturada, a Rua Nova ou Formosa, que é a atual Rua do Infante D. Henrique. A urbe e o seu couto passam a ser reais. São acrescentados mais territórios ao termo do Porto. Foi no Porto que também se celebrou o casamento entre D. João I e D. Filipa de Lencastre. E onde nasceu o 5º filho, o infante D. Henrique. Tempos Medievais A chegada dos povos germânicos à Galécia no século V, e o estabelecimento de um reinado de curta duração, gerou uma época de instabilidade regional que deu protagonismo a Portucale. Esta seria um dos palcos principais da guerra civil, o que levou a um reforço das muralhas existentes. A nova organização territorial das dioceses e paróquias no século VI, dão-lhe maior realce. Principalmente com a criação da diocese de Portucale. Neste período, os monarcas visigodos instalam uma oficina monetária. O reino visigodo agoniza e a passagem do estreito de Gibraltar pelos muçulmanos, permite a ocupação da Península Ibérica. Portucale assumirá um papel de protagonismo com o reordenamento do território que vai sendo conquistado pela nobreza condal, nomeadamente os presores de Afonso III. O Condado acabaria por renascer em 1096, quando Afonso VI o doou à sua filha D. Teresa e ao genro D. Henrique de Borgonha. Entre 1113 e 1114, a diocese do Porto é restaurada. O bispo D. Hugo passa a ser senhor do couto portucalense, em 1120, por doação da condessa D. Teresa. A segurança que o Norte obteve com o alargar de fronteiras para a linha do Tejo permitiu que uma cidade limitada por muralhas primitivas, se expandisse e se tornasse centro comercial e marítimo. A partir do século XIV, surge a necessidade de um novo pano de muralhas para proteção das casas e dos negócios. Por decisão real, iniciou-se este grande empreendimento para o qual contribuíram as terras em volta do Porto. A muralha, da iniciativa de D. Afonso IV, só acabaria terminada no reinado de D. Fernando I, advindo daí a designação de “muralha fernandina”. A cidade tornou-se mais poderosa militarmente e os moradores ganharam mais acessibilidade. Previu-se também a expansão territorial intramuros ao incluírem o monte do Olival, com apenas soutos e campos cultiváveis. O Infante D. Henrique O Infante D. Henrique nasceu no Porto a 4 de Março de 1394. Dedicou-se às ciências astronómicas, à navegação e exploração ultramarina. Para prosseguir com este empreendimento, criou uma frota poderosa. O Porto e os seus estaleiros contribuíram muito para este esforço. Acredita-se que os moradores do Porto começaram a ser chamados de “Tripeiros” nesta altura, já que forneciam as carnes para os navios e ficavam com as entranhas. A modernidade O século XVI representa um ponto de viragem na expansão urbana do Porto. É aberto um novo arruamento em terrenos do bispo e do cabido, a Rua das Flores, que estabeleceu a ligação do novo mosteiro de S. Bento da Avé-Maria ao Convento de S. Domingos. Ligaram-se duas praças que se tornaram centros do comércio local, juntamente com a Praça da Ribeira. É neste século que se ergue a igreja renascentista. Melhoraram-se também os apoios à navegação ao longo da margem do rio e da costa marítima. Em 1542, substitui-se um velho pinheiro pela Torre da Marca. Nasce também o Colégio de S. Lourenço, da Companhia de Jesus. O desenvolvimento comercial e da construção naval, obrigou a uma expansão extramuros para apoiar o crescimento demográfico. Durante a ocupação filipina, entre 1580 e 1640, surgiram várias casas para ordens religiosas, como o Mosteiro de S. Bento da Vitória; o mosteiro de S. João Novo e o convento dos Carmelitas Descalços. Cria-se o Tribunal da Relação do Porto e melhoram-se os fortes. Constroem-se uma série de espaços verdes, como a Alameda da Cordoaria e a Calçada das Virtudes. Entre os séculos XVI e XVII a população estrangeira começa chegar ao Porto. A Renovação Artística e Urbanística Com a circulação de navios e mercadores, a presença de estrangeiros e outras figuras de destaque, começa a surgir uma renovação artística e uma nova urbanidade. As edificações religiosas trazem uma versão estilística diferente, o barroco e o rococó. Em 1725, chega ao Porto o pintor italiano Nicolau Nasoni que trata da renovação estética da capela-mor e da sacristia da Sé, apresentando uma perspetiva ilusionista. Mais tarde dedica-se ao projeto da igreja, torre e enfermaria dos Clérigos. Influencia muitos outros artistas. Em 1763 é criada uma Junta das Obras Públicas que realizará várias intervenções urbanísticas. A prosperidade do comércio do vinho trouxe novos melhoramentos e a construção de uma série de edifícios. O cônsul John Whitehead cria uma nova conceção da cidade, bem marcada pela perspetiva iluminista e a influência da comunidade britânica. As Invasões Francesas Em 1789, a Revolução Francesa teve uma reviravolta quando Napoleão se autodenominou imperador da França e empossou os seus irmãos como monarcas. Foi imposto o bloqueio continental aos navios britânicos, em 1806. O príncipe regente, D. João, ainda tentou adiar, mas quando decide aderir ao bloqueio, as tropas franco-espanholas, invadem Portugal. D. João ordenou a receção dos franceses como amigos. Quando as tropas de Taranco e de Quesnel entraram no Porto, foram aquartelados em conventos, mosteiros e casas particulares desocupadas. Os abusos de poder e roubos que a população suportou, tiveram como consequência a perseguição e destruição de bens de alguns considerados jacobinos e protetores dos franceses. A revolta instala-se na cidade, a partir de junho de 1808, onde a Junta Suprema é o verdadeiro governo do país. No Porto, desembarcam os exércitos ingleses e chegam os regimentos das províncias para receber ordens do presidente da junta governativa, o bispo. Em 1809, quando as tropas comandadas por Soult chegam ao Porto, instala-se o pânico. Sem tropas de linha, são as milícias que defendem a cidade nas trincheiras e baterias. As tropas francesas rompem as linhas e saqueiam a cidade durante três dias. A cavalaria persegue a população até à Ribeira. Cortada a ponte das barcas para impedir a passagem das tropas inimigas para sul, a população acumula-se no lado norte da ponte, levando à queda de centenas de pessoas. Entre março e maio, Soult instala-se na cidade e torna-se seu protetor, constituindo até uma guarda, a Legião do Douro. Wellesley chega à margem sul do Douro e a 11 de maio, Soult foge com todo o seu estado-maior, deixando cerca de 4 mil feridos para trás. A cidade é libertada e o general Trant restabelece a ordem. Entre 1812 e 1814, a cidade debate-se com a falta de alimentos, a mendicidade, as deserções e o banditismo. O liberalismo A passagem do Brasil a reino, em 1815, a ingerência inglesa resultante do Tratado de 1810 e o enforcamento do general Gomes Freire de Andrade, desencadearam a criação de uma associação secreta, o Sinédrio. Foi criada a Junta Provisória do Supremo Governo do Reino que governaria em nome de D. João VI para a convocação de Cortes e a elaboração de uma Constituição. O ano de 1822 pressupunha novos tempos, com a aprovação da nova Constituição e o regresso da família real. Vieram os representantes da velha fação absolutista, como D. Carlota Joaquina e o infante D. Miguel. O terceiro filho de D. João VI liderou dois golpes antiliberais, que resultaram no seu exílio. Com a morte do rei em 1826, surge um problema. O sucessor, D. Pedro, é imperador do Brasil e recebe a coroa de Portugal para depois abdicar em favor da sua filha mais velha, Maria da Glória. Numa tentativa de convergência, acorda com o irmão Miguel, o seu casamento com a sobrinha. Este regressa do exílio, concorda com o irmão, mas mal surge a oportunidade, usurpa o poder, repondo o absolutismo. Em maio de 1828, revoltam-se as guarnições do Porto, constituem uma Junta de Governo de apoio à Carta e ao constitucionalismo. Os exilados liberais na Inglaterra fretam um navio, para comandarem as operações. Devido à falta de entendimento entre os membros da junta, suspendem a revolta, levando à fuga de mais de 9 mil homens para a Galiza e de 2500 para a Inglaterra. Os que não puderam partir ficaram sujeitos a julgamentos ou a prisão sem julgamento. Em 1829, na Praça Nova, foram executados 12 liberais envolvidos nas revoltas. O “terror miguelista” estava instalado. D. Pedro regressa a Portugal para devolver o trono à sua filha, D. Maria II. A guerra civil entre absolutistas e liberais, de 1832 a 1834, desenrolou-se na sua maior parte do tempo no Porto. E devastou a cidade com os bombardeamentos, a que se juntou a fome e cólera. D. Pedro suportou todas as desventuras do cerco, desde a sua chegada até maio de 1833, quando se junta ao exército em Lisboa. A vitória dos liberais no Porto levou a que D. Maria II assumisse o trono. D. Miguel é expatriado. A reconstrução torna-se agora um imperativo nacional. O Coração de D. Pedro IV Em 1866, ergueu-se um monumento na Praça de D. Pedro, em homenagem ao abdicante rei D. Pedro IV. O seu pedestal contém dois momentos que mostram a sua ligação ao Porto. O primeiro simboliza a chegada dos “Bravos do Mindelo”, em homenagem a todos os que acompanharam D. Pedro no resgate do trono da sua filha D. Maria II. e na luta contra as tropas absolutistas. Entre julho de 1832 e maio de 1833, D. Pedro permaneceu no Porto, a comandar as tropas liberais e a reger o país em nome da sua filha, como duque de Bragança. Todos os dias assistia à missa na Igreja da Lapa, espaço que acolhe o seu coração numa urna guardada num mausoléu, fechado a cinco chaves. Ligado a este pormenor está o segundo momento representado no pedestal, a “Entrega do Coração de D. Pedro”, em 1835. D. Pedro realizou diversas obras e melhorias na cidade. Mas como marca da sua ligação à causa liberal e às penas suportadas pela população na luta fratricida, em abril de 1833 acrescentou a insígnia e colar da Grã-cruz da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, bem como o título de duque do Porto ao segundo filho real. D. Maria II viria a alterar completamente as armas da cidade considerando os acrescentos de seu pai, tornando-as símbolos reais, e atribuiria o título de Invicta para juntar a “Antiga, Muito Nobre e Leal Cidade”, mantendo o título de duque do Porto para o segundo filho real. Sobre o escudo do brasão, colocou-se um escudete vermelho com um coração de ouro, o coração de D. Pedro. Do setembrismo ao 31 de Janeiro A agitação política no Porto teve repercussões em Lisboa, o setembrismo, um período de uma quase ditadura. A partir de maio de 1837, Passos Manuel consegue para o Porto a criação da Academia Politécnica, de um jardim botânico e da Academia das Belas-Artes. O governo setembrista teve os seus dias contados, a partir do momento em que figuras como Passos Manuel, Garrett e Costa Cabral regressam ao parlamento, em 1841. Mais uma vez no Porto, em 1842, os cartistas proclamam a Restauração da Carta e organizam uma Junta Provisória, com Costa Cabral a presidente. As revoltas militares de 1844 e depois a revolta popular da Maria da Fonte, tiveram grande apoio da comissão de setembristas que se tinha formado no Porto. Procede-se a negociações para acabar com esta potencial guerra civil, mas Saldanha comanda um golpe em Lisboa, a “Emboscada”. Quando chega ao Porto, acompanhado pelo representante da rainha, o duque da Terceira, a revolta instala-se, liderada por Passos José. O duque da Terceira é preso no forte de S. João da Foz, constitui-se a Junta do Porto que faz renascer todas as outras do país, inicia-se a Patuleia. Os confrontos não são vitórias claras para nenhum dos lados, a Convenção do Gramido não será posta em prática, sendo substituída por uma amnistia da rainha. A estabilidade não singrava e antevia-se nova revolta, com início no Porto, uma vez mais. Saldanha, apoiante de Costa Cabral, sentindo-se ofendido, junta-se aos adversários, encabeçando um levantamento dos sargentos e soldados do regimento dos Caçadores 9 do Porto. Todas as guarnições aderem ao golpe, que termina com a demissão do governo. O movimento da Regeneração, de Alexandre Herculano, leva o duque de Saldanha a presidente do Conselho, mas afasta-se de todas as pretensões do criador, transformando-se no Fontismo. Em 1851, surge a primeira experiência da iluminação pública a gás. A cidade dos janotas pretende ser herdeira do romantismo, entusiasta das temporadas líricas do Teatro de S. João, do café e do dominó. A industrialização chega com as máquinas a vapor. A área urbana estende-se e surgem novas zonas comerciais com lojas e feiras periódicas. A modernização leva à criação do Palácio de Cristal. A cidade tem uma nova oportunidade de intervenção crítica contra o governo, usando a imprensa e a opinião pública, aproveitando o imposto sobre o consumo. A revolta passiva, “a Janeirinha”, em 1868, é responsável pela queda do governo de regeneradores e históricos e suspende a lei. A ponte de D. Maria Pia é inaugurada em 1877, enquanto a linha do Douro é concluída em 1887, um ano depois da inauguração da ponte Luiz I. Em 1872, já circulava o “americano”, carruagem puxada por tração animal sobre carris de ferro e em 1874, este carro passou a ser também de tração a vapor. A ligação com as freguesias envolventes desenvolve a indústria e transforma a Foz do Douro num espaço muito concorrido. Os bairros oriental e ocidental são conquistados. A industrialização acarreta um novo conceito de habitação, as ilhas. O reboco é substituído pelos azulejos e o ferro entra nos hábitos construtivos, tal como as varandas, guardas, entre outros. As comunicações telefónicas surgem em 1890, ganha-se o gosto pelo futebol inglês e crescem os clubes republicanos. A notícia do “ultimatum”, de 11 de janeiro de 1890, que terminava com as pretensões portuguesas no interior da Africa Oriental, espalha-se. A humilhação de obrigatoriamente ter de aceitar-se a resolução de retirada dos territórios africanos, leva à demissão em bloco do governo. A exasperação e histeria atingem o país, uma série de destacados nomes das letras e da política desistem da vida. Nesse mesmo ano João Chagas funda o jornal “A República”, onde se canaliza toda a crítica republicana contra a monarquia. Um plano idealizado por civis, acelerado pelos militares da guarnição do Porto conduziu a uma precipitação, a Revolta do 31 de Janeiro de 1891. A República A revolta do 31 de Janeiro permitiu a preparação tática e madura para uma mudança radical do regime monárquico para o republicano. A cidade estende-se, o território passa a ser delimitado por uma nova cerca, a Circunvalação. O crescimento espacial, a diversificação das atividades económicas e a dispersão do povoamento, implicam uma nova preocupação para o planeamento urbano iniciado ainda no século XIX e impulsionado no século XX, O surto de peste em 1899, também despertou o interesse pelos problemas da habitação popular, as ilhas. Surgem os bairros operários e a criação de cooperativas de habitação. Em simultâneo, provocou uma efervescência política que levou à eleição de três republicanos nas legislativas desse ano e no seguinte. Proíbem-se as reuniões políticas, criam-se novas leis eleitorais e aos contestatários portuenses juntam-se os lisboetas. Em maio de 1903, os assalariados do Porto fazem a primeira grande greve da era moderna, paralisando quase a cidade. A instauração da República, em 5 de outubro de 1910, teve grande apoio popular. Apesar das grandes reformas sociais implantadas, a nova elite governativa encontrou barreiras num país profundamente rural e tradicionalista. Perdem o apoio popular e ganham o do patronato. As crises sucedem-se e agravam-se com a primeira grande guerra, entre 1914 e 1918. A ética e moral dominantes, de reduzida ostentação, acentuavam a tendência que vinha desde o século XIX, em privilegiar o utilitário ao visual. Mesmo as obras de reputados arquitetos, prolongam a tradição de austeridade, com interiores cheios de Arte Nova. Só os lugares de lazer não seguiam as regras, como os cafés “A Brasileira” ou o “Majestic” e o cinema “Olympia”. A instabilidade e a crise social e económica permitiram a instalação, a 28 de maio de 1926, de um regime ditatorial, o Estado Novo. Apesar de liberal, o Porto acomoda-se a esta nova ordem, mas a sua atividade contestatária nunca desvaneceu. A primeira revolta acontece em Fevereiro de 1927, com a repressão de um grupo de militares e civis republicanos. Segue-se uma greve da Universidade. Em 1931, a intervenção policial numa assembleia académica termina com prisões e a morte do estudante. Em 1945 e 1946, houve manifestações públicas a favor da democracia, por ocasião do funeral do professor Abel Salazar e a rebelião republicana, em outubro de 1946. Como resultado exoneram-se militares e universitários e interdita-se o Movimento de Unidade Democrática. Em 1949, o general Norton de Matos tenta ser candidato às presidenciais, consegue reunir uma multidão de adeptos no Porto. O regime impede sempre a legalização de qualquer candidatura externa. Em maio de 1954, a greve na indústria têxtil termina com muitas detenções. Em 1957, multiplicam-se os julgamentos e a prisão dos que eram constantemente vigiados. O descontentamento teve o seu momento de descompressão com a candidatura do general Humberto Delgado às presidenciais de 1958, apesar dos resultados. As manifestações eram quase anuais e, a partir de 1962, começaram a incluir reivindicações salariais e políticas, e também protestos contra as guerras coloniais. Intensificaram-se a partir do afastamento de Salazar, em 1968. Chega a Revolução dos Cravos, 25 de abril de 1974, e a cidade acolhe-a com regozijo. Formam-se as primeiras equipas para trabalharem no planeamento urbano e regional. Abraça- se os novos talentos da arquitetura e das artes. Cria-se um projeto exemplar de renovação da Ribeira/Barredo. Património Cultural da Humanidade O século XX, principalmente nas décadas de 40 e 50, trouxe diversos planos urbanísticos que alterariam irreversivelmente o Centro Histórico do Porto, caso tivessem sido executados. No entanto, apesar da degradação a que estava votado, houve quem contrariasse a política vigente e defendesse a reabilitação, como o arquiteto Fernando Távora. A partir de 1974, o Centro Histórico passa a ser visto como um valor patrimonial local e nacional, pelo que foi criado o CRUARB para resolver o problema do realojamento, recuperando os quarteirões mais degradados. Em consequência da Lei das Finanças Locais de 1982, a Câmara Municipal do Porto assume a responsabilidade pelos trabalhos desse comissariado, estendendo o seu âmbito de ação à Zona Histórica do Porto. Em 1993, é publicada a primeira edição do “Porto a Património Mundial”, considerado o início do processo de candidatura da cidade à Lista de Património Cultural da Humanidade da UNESCO A 5 de dezembro de 1996, na cidade de Mérida (México), foi inscrito na Lista do Património Mundial o Centro Histórico do Porto, em conjunto com a ponte Luiz I e o mosteiro da Serra do Pilar, com base no IV Critério Cultural. A proposta de inscrição refere que seja como cidade, seja como realização humana, o Centro Histórico do Porto constitui uma obra-prima do génio criativo do Homem. Interesses militares, comerciais, agrícolas e demográficos convergiram neste local para dar abrigo a uma população capaz de edificar a cidade. O resultado é uma obra de arte única no seu género e de alto valor estético.