Sebenta de Economia - Licenciatura em Marketing e Publicidade
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2024
João Rodrigues dos Santos
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Summary
Esta sebenta compila excertos de bibliografia de referência em Economia, com foco nas obras "Principles of Economics" (Robert Frank e Ben Bernanke) e "Economia" (Paul Samuelson & William Nordhaus), para a unidade curricular de Economia na Licenciatura em Marketing e Publicidade de 2024-2025. Aborda tópicos como Fundamentos da Economia, a relação dos mercados e governos, Oferta e Procura e introduz alguns conceitos macroeconómicos.
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Licenciatura: MARKETING E PUBLICIDADE Unidade Curricular: ECONOMIA SEBENTA (esta sebenta é uma compilação de excertos de bibliografia de referência na área da Economia, com especial incidência: nas quarta e quinta edições da obra “Princi...
Licenciatura: MARKETING E PUBLICIDADE Unidade Curricular: ECONOMIA SEBENTA (esta sebenta é uma compilação de excertos de bibliografia de referência na área da Economia, com especial incidência: nas quarta e quinta edições da obra “Principles of Economics”, de Robert Frank e Ben Bernanke; e nas últimas quatro edições da obra “Economia”, de Paul Anthony Samuelson & William Dawbney Nordhaus) 2024/2025 Docente: João Rodrigues dos Santos Conteúdos 1. Fundamentos da Economia............................................................................ 3 1.1. A lógica da Economia (Porquê?; Ramos Macro e Micro; Escassez e Eficiência)........ 3 1.2. Os três problemas económicos fundamentais......................................................... 6 1.3. Economias de Mercado, Centralizadas e Mistas..................................................... 7 1.4. Fatores de Produção................................................................................................ 7 1.5. A Fronteira das Possibilidades de Produção........................................................... 8 1.6. Custo de Oportunidade............................................................................................ 12 1.7. Eficiência produtiva.................................................................................................. 12 2. A Fronteira entre Mercados e Governos........................................................ 13 2.1. Economia de Mercado.................................................................................... 14 2.2. Como os Mercados gerem os Três Problemas Económicos........................... 16 2.3. Quem dirige o Mercado? A “Mão Invisível” e a “Concorrência Perfeita”?........ 16 2.4. Que papel Económico para o Governo?......................................................... 19 2.4.1. Governo e eficiência.................................................................................... 20 2.4.2. Concorrência Imperfeita............................................................................... 20 3. Oferta e Procura............................................................................................... 20 3.1. Oferta e Procura: Introdução........................................................................... 20 3.2. Procura: o mercado na perspetiva dos benefícios.................................. 23 3.2.1. Procura: a importância do conceito de Utilidade.......................................... 26 3.2.2. Procura: Curvas individuais e de mercado................................................... 28 3.2.2.1. Curva da procura linear: Equação da curva da procura............................ 29 3.2.3. Elasticidade preço da procura...................................................................... 31 3.2.3.1. Fatores determinantes da elasticidade preço da procura.......................... 33 3.2.3.2. Cálculo da elasticidade preço da procura.................................................. 34 3.3. Oferta: o mercado na perspetiva dos custos........................................... 37 3.3.1. Pensar na Oferta.......................................................................................... 37 3.3.2. Empresas: maximização do lucro................................................................. 39 3.3.3. A produção no curto prazo........................................................................... 40 3.3.4. Qual o nível de produção que maximiza o lucro?......................................... 41 3.3.5. A regra da oferta do vendedor: igualdade entre o preço de mercado e o custo marginal de produção......................................................................... 43 3.3.6. Elasticidade preço da oferta......................................................................... 45 3.3.6.1. Cálculo da elasticidade da oferta.............................................................. 45 3.3.7. Determinantes da elasticidade da oferta...................................................... 47 4. A visão panorâmica da Macroeconomia........................................................ 48 4.1. As principais questões macroeconómicas....................................................... 49 4.2. Conceito (sintético) de agregação................................................................... 49 4.3. Produto Interno Bruto: a medição da produção total....................................... 50 Referências bibliográficas.................................................................................. 59 2 1. FUNDAMENTOS DA ECONOMIA 1.1. A lógica da Economia (Porquê?; Ramos Macro e Micro; Escassez e Eficiência) Estudar Economia… Porquê? Compreender o Governo; Compreender os desafios do Mercado Global; Porque se espera vir a ser rico; Por que se receia ser “pouco” inteligente e não conseguir compreender os mecanismos da oferta e da procura; Porque se deseja saber a razão do aumento acentuado da desigualdade na repartição do rendimento nos últimos anos. Mas há uma razão fundamental para aprender os princípios da Economia: durante toda a nossa vida cada um de nós será sistematicamente confrontado com decisões sobre questões (défice orçamental, inflação, desemprego, impostos, entre outras) que não poderão ser claramente compreendidas se os princípios da disciplina económica não estiverem interiorizados. Por exemplo, a escolha da profissão é uma das principais decisões económicas que cada qual irá tomar na vida. Mas, o futuro de um indivíduo depende não só das suas capacidades, mas também da forma como as forças económicas que estão fora do seu controlo afetam as suas remunerações. A Economia também poderá contribuir para um melhor investimento das poupanças individuais. Apesar de o estudo da Economia não fazer de alguém um génio, sem o conhecimento dos princípios económicos, os dados da vida estarão viciados contra o próprio. Economia, o que é? Durante os últimos 50 anos, o estudo da economia expandiu-se para incluir uma vasta variedade de tópicos. Quais são as principais definições desta matéria em crescimento? As mais importantes são as de que a economia: Analisa como as instituições de uma sociedade e a tecnologia influenciam os preços e a afetação de recursos às diferentes necessidades; Explora o comportamento dos mercados financeiros e analisa como os mercados aplicam o capital no resto a Economia; Examina a (re)distribuição do rendimento e sugere modos que podem ajudar os mais desfavorecidos, sem prejudicar a economia; Estuda os ciclos económicos (oscilações do desemprego e da inflação) e a política monetária para proceder às necessárias moderações; Estuda o comércio internacional, as finanças e os efeitos da globalização. Analisa o crescimento em países em desenvolvimento e propõe modos de estimular o uso eficiente de recursos. Questiona como as políticas dos governos podem ser usadas para alcançar metas importantes (rápido crescimento económico, uso eficiente de recursos, pleno emprego, estabilidade dos preços e distribuição justa do rendimento). 3 É possível dividir a Economia em dois grandes ramos: A Macroeconomia; e a Microeconomia. A Macroeconomia é o ramo da Economia que se centra na análise de grandes problemas como o desemprego e a inflação e nas ameaças que enormes défices orçamentais podem representar para a “saúde” de uma Economia. A Microeconomia foca-se no estudo dos comportamentos de cada mercado específico, de cada empresa em particular, dos consumidores e dos investidores. Numa perspetiva empresarial e profissional, a Macroeconomia pode ajudar-nos a compreender importantes questões como as seguintes: Devo trocar de emprego ou solicitar um aumento? Devo comprar uma casa nova agora ou aguardar e fazê-lo no próximo ano ou numa outra altura? Devo preferir uma taxa de juros variável ou fixa para o meu crédito à habitação? E quanto aos meus investimentos para a fase da aposentação, o que devo fazer, concretamente? Já a Microeconomia trata de questões relacionadas com a definição de preços, de salários, de rendas e com as razões inerentes à necessidade de intervenção dos Governos no âmbito da regulação de determinadas atividades económicos que apresentam potencial monopolístico, que poluem demasiado ou que ocultam informação de natureza vital. Numa perspetiva empresarial, a Microeconomia pode ajudar-nos a responder às seguintes questões: Como pode a minha empresa minimizar os custos de produção e aumentar o lucro? Que preços devo estabelecer para os bens e/ou serviços que produzo? Como devo responder a uma iniciativa estratégica, e agressiva, por parte de um dos meus concorrentes? Já numa perspetiva pessoal, a Microeconomia é igualmente prática. Pode contribuir para encontrar respostas às seguintes questões: Financeiramente, será melhor eu abdicar do meu emprego agora e frequentar um Mestrado? Para que tipo de atividade profissional devo eu preparar-me? E quanto ao novo frigorífico ou novo automóvel que pretendo comprar, devo comprar o modelo energeticamente mais eficiente e, por isso, mais caro, ou preferir o modelo mais barato? Mas, analisando as definições de Economia, na página 3, e os grandes ramos da Economia, nesta página, é possível encontrar um tema comum: A economia é o estudo da forma como as sociedades usam recursos escassos para produzir bens com valor e de como os distribuem entre os vários indivíduos; é o estudo da forma como as pessoas fazem escolhas em condições de escassez e dos resultados dessas escolhas para a Sociedade. 4 A sustentar esta definição estão duas importantes ideias em Economia: a de que os bens são escassos e a de que a sociedade deve usar os seus recursos de forma eficiente. Efetivamente, a Economia é uma matéria importante devido à escassez de recursos e ao desejo\necessidade de eficiência. Consideremos, em primeiro lugar, a escassez: Se fosse possível produzir quantidades infinitas de cada bem e se pudesse satisfazer totalmente cada um dos desejos do Homem, quais seriam as consequências? As pessoas não se preocupariam em ampliar os seus rendimentos limitados, uma vez que teriam tudo o que desejassem; as empresas não precisariam de preocupar-se com o custo do trabalho ou com os cuidados de saúde; os governos não necessitariam de debater impostos e despesa, pois ninguém se importaria. Em boa verdade, na medida em que todos teriam tudo o desejassem, não fariam sentido preocupações relacionadas com a distribuição de rendimentos entre os diferentes indivíduos ou classes. Neste “paraíso” económico, não existiriam bens económicos, isto é, bens que são escassos ou têm uma oferta limitada. Os preços e os mercados seriam irrelevantes. A Economia perderia utilidade e interesse. Mas, na verdade, os bens são limitados. Os desejos, sim, parecem ilimitados! O princípio da escassez diz que, apesar de nós (Seres Humanos) termos necessidades e desejos ilimitados, os recursos disponíveis são limitados. Assim, ter mais de um bem, implica, habitualmente, ter menos de outro. Subjacente à ideia de trade-off está o facto de as escolhas envolverem compromisso entre interesses concorrentes. Os Economistas resolvem o problema dos trade-offs fazendo recurso da análise do custo-benefício1. Esta análise consiste num Princípio extraordinariamente simples: uma ação deve ser empreendida se, e só se, o benefício decorrente exceder o custo de a fazer. Porque os bens são limitados, o Produto Interno Bruto (PIB) de um país, por exemplo, teria de aumentar muitas vezes para que um cidadão da classe média pudesse ter o nível médio de vida de um médico. Uma vez que os desejos são ilimitados e que não é possível a existência de bens e serviços para satisfazer, sequer, uma pequena parcela do desejo de consumo de todos, é importante que uma economia faça o melhor uso dos seus recursos limitados. Esta evidência conduz-nos à noção fundamental de eficiência. A eficiência corresponde à utilização mais efetiva dos recursos de uma sociedade na satisfação dos desejos e das necessidades da população. Mais especificamente, a economia está a produzir de forma eficiente quando o bem-estar económico de um indivíduo não pode aumentar sem prejudicar o bem-estar de outro indivíduo. Assim, a essência (o objeto) da Economia é compreender a escassez e, em seguida, prescrever como deve a sociedade organizar-se de modo a proporcionar o uso mais eficiente dos recursos. 1 O Princípio do Custo-Benefício é um importante Princípio em Economia. 5 1.2. Os três problemas da Organização Económica O quê; Como; Para quem. Qualquer sociedade tem de ter um modo para determinar que bens são produzidos, como são produzidos esses bens e para quem são produzidos. Estas três questões são tão importantes atualmente como o foram no início da civilização humana. Analisemo-las com maior detalhe: Que bens devem ser produzidos e em que quantidade? A sociedade tem de decidir quanto deve produzir dos inúmeros bens e serviços possíveis e quando é que eles deverão ser produzidos. Hoje deveremos produzir pizas ou camisas? Poucas camisas de grande qualidade ou muitas camisas baratas? Devemos utilizar os recursos escassos para produzir muitos bens de consumo (como pizas)? Ou devermos produzir menos bens de consumo e mais de investimento (como fornos para pizas), que permitirão ampliar a produção e consumo no futuro? Como devem os bens ser produzidos? A sociedade tem de determinar quem fará a produção, com que recursos e de que forma tecnológica. Quem cultiva a terra e quem ensina? Deverá a eletricidade ser obtida a partir do petróleo, do carvão ou da energia solar? Com muita ou pouca poluição atmosférica? Para quem são os bens produzidos? Quem usufruirá dos frutos do esforço económico? Ou, de um modo preciso, como é repartido o produto nacional entre as diferentes famílias? Existem muitos pobres e poucos ricos? Devem os maiores rendimentos pertencer aos gestores, aos atletas, aos trabalhadores ou aos proprietários da terra? Deve a sociedade proporcionar aos mais desfavorecidos um mínimo de consumo ou devem eles trabalhar se intencionarem sobreviver? Para encontrar respostas a estas questões (problemas), a Ciência Económica tem intrínseco um método que consiste em três aspetos fundamentais: 1. Sendo o comportamento humano, e as consequências que dele decorrem, de natureza extremamente complexa, a Economia faz recurso de hipóteses simplificadas para explicar os fenómenos que estuda; 2. Tendencialmente, a ciência económica relaciona duas variáveis para explicar um qualquer acontecimento ou facto económico; 3. A Economia estuda as variáveis relacionando-as segundo uma lógica de variação (crescimento ou decrescimento) subordinada; a alteração de uma variável depende da alteração de outra variável. NOTA IMPORTANTE: Quando se raciocina sobre questões económicas, deve ter-se presente a distinção entre as questões de facto e as questões de juízo de valor. A economia positiva descreve os factos de economia, enquanto que a economia normativa envolve juízos de valor. A economia positiva trata de questões do seguinte tipo: Por que razão os médicos ganham mais do que os porteiros? O comércio livre faz aumentar ou diminuir os salários da maior parte dos portugueses? Qual é o impacto económico decorrente do aumento dos impostos? Embora sejam de difícil resposta, todas estas questões podem ser respondidas com recurso à análise e aos dados empíricos. Isso coloca-as no âmbito da economia positiva. 6 A economia normativa envolve preceitos éticos e juízos de valor. Deve ser exigido aos mais desfavorecidos que trabalhem para que possam receber ajuda do Governo? Deve o desemprego aumentar para assegurar que a inflação não acelere? Não existem respostas certas ou erradas para este tipo de questões, porque, mais do que factos, elas envolvem princípios éticos e valores. Não podem ser resolvidos, exclusivamente, pela análise económica; apenas podem ser solucionados através de debate e de decisões políticas. 1.3. Economias de Mercado, Centralizadas e Mistas Quais são as diferentes formas de uma sociedade responder às questões de o quê, como e para quem? As diferentes sociedades estão organizadas em sistemas económicos alternativos, e a economia estuda os diferentes mecanismos que uma sociedade pode usar para aplicar os seus recursos escassos. Em geral, podem ser utilizadas duas formas fundamentais opostas de organização de uma economia. Num extremo, o Governo toma a maioria das decisões económicas, com os indivíduos do topo da hierarquia a dirigir os que lhes seguem na escala; no outro extremo, as decisões são ditadas pelos mercados, em que os indivíduos ou as empresas acordam voluntariamente em trocar mercadorias e serviços, geralmente através de pagamentos em dinheiro. Assim, uma Economia de Mercado é aquela em que os indivíduos e as empresas tomam as decisões mais importantes acerca da produção e do consumo. Um sistema de preços, de mercados, de lucros e prejuízos, de incentivos e recompensas determina o quê, como e para quem. As empresas produzem as mercadorias que geram os maiores lucros (o quê), com técnicas de produção que são as menos dispendiosas (como). O consumo é determinado pelas decisões individuais de como despender os salários e os rendimentos do património gerados pelo trabalho e pela propriedade desse património (para quem). O caso extremo de uma economia de mercado em que o Governo se exime de tomar decisões económicas é designado por economia de “laissez-faire”. Pelo contrário, uma Economia de Direção Central (ou centralizada) é aquela em que o Governo toma todas as decisões importantes acerca da produção e da repartição. Numa Economia Centralizada o Governo possui a maior parte dos meios de produção (terra e capital); também possui e dirige a atividade das empresas na maior parte dos ramos de atividade; é o empregador da maioria dos trabalhadores e quem dirige a sua atividade, decidindo, também, como a produção da sociedade deve ser dividida pelos diversos bens e serviços. Em resumo, numa Economia de Direção Central o Governo dá resposta à maior parte das questões económicas através da posse dos recursos e dos seu poder de impor as decisões. Atualmente, as sociedades são Economias Mistas, com elementos de mercado e de direção central. Contudo, a ponderação de cada um dos elementos depende substantivamente das ideologias governantes. 1.4. Fatores de Produção Confrontada com o facto indesmentível de os bens serem escassos relativamente aos desejos, uma economia tem de decidir quanto à gestão dos recursos limitados. Tem de escolher entre os diferentes conjuntos de bens potenciais (o quê), selecionar as 7 diferentes técnicas de produção (como) e decidir, no final, quem deve consumir os bens (para quem). Para responder a estas três questões, qualquer sociedade tem de escolher os fatores de produção (inputs) e as produções (outputs). Os fatores de produção são bens ou serviços utilizados para produzir outros bens ou serviços. Uma economia utiliza a tecnologia disponível para conjugar os fatores de produção, a fim de gerar as produções. As produções são os vários bens ou serviços úteis que resultam do processo de produção e que tanto podem ser consumidos como utilizados numa produção posterior. Consideremos a “produção” de uma piza. Dizemos que a farinha, o sal, o calor, o forno e o trabalho qualificado são os fatores de produção. A piza para o consumidor final é a produção. Por exemplo, na educação, os fatores produtivos são a lecionação, os laboratórios e as salas de aula, os livros, etc., enquanto que as produções são os cidadãos educados e informados. Os fatores de produção, também designados por inputs, podem ser classificados em três grandes categorias (terra, trabalho e capital): A terra – ou, mais genericamente, os recursos naturais – representa o que os processos produtivos recebem da natureza. Este fator produtivo é constituído pela terra utilizada na agricultura ou na implantação de habitações, fábricas e estradas; pelos recursos energéticos para os automóveis e para aquecer as habitações, e pelos recursos não energéticos, tais como minérios de cobre e de ferro ou areia. No congestionado mundo atual, o âmbito dos recursos naturais é alargado para incluir os recursos ambientais, tais como o ar puro e a água potável; O trabalho consiste no tempo de trabalho humano despendido na produção: a trabalhar nas fábricas de automóveis; a lavrar a terra; a ensinar nas escolas; ou a cozinhar pizas. Milhares de ocupações e tarefas, nas mais variadas competências, são desempenhadas pelo trabalho. É, ao mesmo tempo, o fator de produção mais comum e o mais crucial para uma economia avançada; O capital é formado pelos bens duráveis de uma economia, produzidos com vista a produzirem outros bens. Os bens de capital incluem máquinas, estradas, computadores, martelos, camiões, altos-fornos, automóveis, máquinas de lavrar e edifícios. A acumulação de bens de capital especializados é essencial para prosseguir o desenvolvimento económico. 1.5. A Fronteira de Possibilidades de Produção As sociedades não podem ter tudo o que desejam. Estão limitadas pelos recursos e pela tecnologia disponíveis. Considere-se a despesa na defesa, por exemplo. Os países são sempre obrigados a decidir quanto à parte dos limitados recursos que vai para o exército e que parte vai para outras atividades (como novas unidades industriais ou educação). Alguns países despendem aproximadamente 1% (Japão), outros 5% (EUA) e outros 20% (Coreia do Norte) do seu produto nacional nas forças armadas. Radicalizando esta lógica, considere-se uma economia que produz apenas dois bens económicos, espingardas e manteiga. As espingardas representam, claro, a despesa militar e a manteiga corresponde à despesa civil. Supondo que uma economia decide aplicar toda a sua energia a produzir o bem civil, há uma quantidade máxima de manteiga que pode ser produzida por ano. A quantidade máxima manteiga depende da quantidade e da qualidade dos recursos da economia e da eficiência produtiva com que os mesmos são utilizados. Suponha-se que a quantidade máxima 8 de manteiga que pode ser produzida, com a tecnologia e os recursos existentes, é de cinco milhões de quilogramas. No outro extremo, imagine-se que todos os recursos, pelo contrário, são aplicados na produção de espingardas. De novo, devido à limitação de recursos, a economia pode produzir apenas uma quantidade limitada de espingardas. Para este exemplo, admita-se que a economia pode produzir 15 milhares de espingardas, se não for produzida qualquer quantidade de manteiga. Estas são duas possibilidades extremas. Contudo, existem muitas possibilidades intermédias. Se for opção abdicar de alguma quantidade de manteiga, é possível ter mais espingardas. Se houver disposição para prescindir ainda de mais manteiga, é possível produzir ainda mais espingardas. O quadro 1 apresenta uma lista de Possibilidades de produção alternativa possibilidades. A combinação F indica o Manteiga Espingardas extremo em que é produzida apenas Possibilidades (106 hg) (milhares) manteiga e nenhuma espingarda, A 0 15 enquanto que a combinação A B 1 14 representa o extremo oposto, em que C 2 12 D 3 9 todos os recursos são aplicados nas E 4 5 espingardas. Nas possibilidades F 5 0 intermédias – em E, D, C e B - Quadro 1 – A limitação de recursos escassos obriga à prescinde-se de quantidades crescentes alternativa entre manteiga e espingardas de manteiga em favor de mais espingardas. Recursos e tecnologia limitados obrigam 15 A a que a produção de espingardas e B manteiga seja limitada. À medida que se verifica uma deslocação de A para B… 12 C Espingardas (milhares) para F, está-se a transferir trabalho, máquinas e terra da indústria de 9 armamento para a produção de manteiga D e é possível, portanto, aumentar a produção de manteiga. 6 É possível colocar a seguinte questão: E Como é possível um país transformar 3 manteiga em espingardas? A manteiga é transformada em espingardas não F fisicamente, mas pela alquimia 0 1 2 3 4 5 (“transmutação”) do desvio dos recursos Manteiga (milhões de quilogramas) económicos de uma utilização para outra. Figura 1 – As possibilidades de produção em gráfico. No gráfico da figura 1 é possível verificar Nota: Esta figura apresenta as combinações alternativas do as possibilidades de produção da par de produções a partir do quadro 1. economia de forma mais expressiva. Este gráfico representa a manteiga ao longo do eixo horizontal e as espingardas no eixo vertical. O ponto F está marcado de acordo com os dados do quadro 1, contando, para a direita, no eixo horizontal, cinco unidades de manteiga e subindo, no eixo vertical, zero unidades de espingardas; de forma similar, obtém-se E avançando, para a direita, quatro unidades de manteiga e subindo cinco unidades de espingardas; e, finalmente obtém-se A avançando, para a direita, zero unidades de manteiga, e subindo 15 unidades de espingardas. 9 Se completássemos todas as posições A fronteira de possibilidades de produção intermédias com outros pontos cinzentos representativos de todas as diferentes G combinações de espingardas e manteiga, A 15 teríamos a curva cinzenta contínua B indicada como a fronteira de 12 C possibilidades de produção, ou FPP, na Espingardas (milhares) figura 2. 9 D I A fronteira de possibilidades de produção (FPP) representa as quantidades máximas de produção que 6 U E podem ser obtidas por uma economia, dados o seu conhecimento tecnológico 3 e a quantidade de fatores de produção disponíveis. A FPP representa a lista de F escolhas de bens e serviços disponível B 0 1 2 3 4 5 para uma sociedade. A FPP da figura 2 Manteiga (milhões de quilogramas) foi desenhada para espingaradas e Figura 2 – Um curva contínua une os pontos das manteiga, mas a mesma análise aplica-se possibilidades numéricas de produção. a qualquer escolha de bens. Assim, Nota: Esta fronteira mostra a função ao longo da qual a quantos mais recursos o governo usar sociedade pode substituir espingardas por manteiga. para produzir bens públicos, como auto- Pressupõe um dado estado da tecnologia e uma dada estradas, menos restarão para produzir quantidade de fatores de produção. Os pontos exteriores à fronteira (tais como o ponto I) são impraticáveis ou bens privados, como habitações; quanto inatingíveis. Qualquer ponto no interior da curva, como o mais consumirmos em alimentação, ponto U, indica que a economia não atingiu a eficiência menos poderemos consumir em vestuário; produtiva, como ocorre quando o desemprego é elevado, quanto mais a sociedade decidir consumir durante as flutuações cíclicas acentuadas. no presente, menor será a sua produção de bens de capital, de modo a ter mais bens de consumo no futuro. Os gráficos das figuras 3, 4 e 5 ilustram algumas aplicações importantes da FPP. (a) País pobre (b) País com rendimento elevado (automóveis, dispositivos multimédia, …) (automóveis, dispositivos multimédia, …) Bens de luxo Bens de luxo B A A Bens de primeira necessidade (alimentos, …) Bens de primeira necessidade (alimentos, …) Figura 3 – O crescimento económico faz deslocar a FPP para fora. (a) Antes de se desenvolver, um país é pobre, e tem de aplicar a maior parte dos seus recursos na alimentação e usufruir de poucas comodidades; (b) O crescimento dos fatores de produção e o progresso tecnológico fazem deslocar a FPP para fora. Com o crescimento económico o país move-se de A para B, expandindo pouco o consumo alimentar, comparativamente com o crescimento do consumo de bens de luxo. O país pode aumentar o consumo de ambos os bens, se o desejar. 10 A figura 3 (página anterior) mostra o efeito do crescimento económico nas possibilidades de crecimento de um país. Um crescimento dos fatores de produção, ou um crescimento do progresso tecnológico, permitem a um país produzir uma quantidade superior de bens e serviços, deslocando, assim, a FPP para fora. A figura também ilustra como a maioria dos países pobres tem de aplicar a maior parte dos seu recursos na produção de alimentos, enquanto os países ricos podem usufruir de mais bens de luxo, à medida que o petencial produtivo aumenta. Figura 4 – As economias têm de escolher entre bens públicos e bens privados. (a) Uma sociedade pobre vive na subsistência, poupando pouco para bens públicos, como auto estradas ou saúde pública; (b) Uma economia industrial moderna, mais próspera, pode decidir despender uma maior parcela do seu maior rendimento em bens públicos ou serviços de estado (estradas, proteção do ambiente ou educação). A figura 4 ilustra como o eleitorado tem de escolher entre bens privados (comprados com um preço) e bens públicos (pagos através de impostos). Nos países pobres existem poucos bens públicos, tais como saúde pública ou investigação científica. Mas, com o crescimento económico, os bens públicos, tais como a qualidade ambiental, passam a ocupar uma parcela maior do produto. A figura 5 mostra a escolha entre (a) bens de consumo corrente e (b) bens de investimento ou de capital (máquinas, fábricas, etc.). Sacrificando o consumo corrente e produzindo mais bens de capital, a economia de um país pode crescer mais rapidamente, tornando possível um maior consumo de ambos os bens (de consumo e de capital) no futuro. Figura 5 – O investimento para consumo futuro exige sacrifício do consumo presente. Um país pode produzir quer bens de consumo (pizas e concertos), quer bens de investimento (fornos para pizas e salas de concertos). (a) Três países partem empatados. Têm a mesma FPP, indicada no painel da esquerda, mas com diferentes taxas de investimento. O país 1 não investe para o futuro. Apenas substitui as máquinas e permanece em A1. O país 2 reduz moderadamente o consumo e investe em A2. O país 3 sacrifica muito o consumo atual e investe fortemente; (b) Nos anos seguintes, os países que investem mais tomam a dianteira. Assim, o país 3, que poupou, deslocou, de uma forma acentuada, 11 a sua FPP, enquanto a FPP do país 1 permaneceu estática. Os países que investem bastante têm no futuro um maior investimento e um maior consumo. 1.6. Custo de Oportunidade A vida está repleta de escolhas. Dado que os recursos são escassos, temos de pensar constantemente no que fazer com o tempo e o rendimento limitados que possuímos. Quando decide se vai estudar economia, comprar um carro ou ir à universidade, em qualquer um dos casos uma pessoa deve ponderar qual o custo da decisão em termos de oportunidades perdidas. O custo da alternativa perdida é o custo de oportunidade da decisão. O conceito de Custo de Oportunidade pode ser ilustrado utilizando a FPP. Observe-se a figura 2 (pág. 10), que mostra o conflito entre espingardas e manteigas. Imagine-se que um país decide aumentar as suas compras de espingardas de 9000, em D, para 12000, em C. Qual é o custo de oportunidade desta decisão? É possível calculá-lo em termos monetários. Em economia, é sempre necessário “levantar o véu” do dinheiro para analisar os impactos reais das decisões alternativas. No fundo, o custo de oportunidade de D para C é a manteiga de que se prescinde para produzir as espingardas adicionais. Neste exemplo, o custo de oportunidade de 3000 espingardas adicionais é um milhão de toneladas perdidas de manteiga. Ou considere-se o custo de abertura de uma mina de ouro num Parque Natural (com características ímpares de beleza) explorado comercialmente para efeitos turísticos. O promotor argumenta que a mina terá apenas um custo diminuto, pois as entradas pagas dificilmente serão afetadas. Mas um economista responderia que as receitas monetárias são uma medida estreita do custo. Um economista questionaria se as qualidades preciosas e únicas daquele Parque Natural seriam prejudicadas com o funcionamento da mina, com os inerentes ruídos, poluição da água e do ar e a degradação do aspeto aprazível do lugar para os visitantes. Enquanto o custo monetário seria pequeno, o custo de oportunidade da perda do carácter natural ímpar seria, de facto, muito grande. Num mundo de escassez, a escolha de uma coisa significa prescindir de uma outra coisa qualquer. O custo de oportunidade de uma decisão é o valor do bem, ou do serviço, de que se prescinde. 1.7. Conceito de eficiência Até agora, temos admitido implicitamente que a economia está a produzir eficientemente, isto é, está sobre e não no interior da fronteira de possibilidades de produção. Recorde-se que eficiência significa que os recursos da economia estão a ser usados da forma mais efetiva possível para satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas. A eficiência ou eficiência económica corresponde à situação que ocorre quando todos os bens e serviços são produzidos e consumidos nos seus respetivos níveis socialmente ótimos. Um aspeto de toda a eficiência económica é a eficiência produtiva. Verifica-se eficiência produtiva quando uma economia não pode produzir mais de um bem sem que produza menos de outro bem; isto significa que a economia está sobre a fronteira de possibilidades de produção. Por que razão a eficiência produtiva exige que se esteja sobre a FPP? Analisemos, novamente, a situação indicada pelo ponto D na figura 2 (pág. 10). Suponha-se que o mercado exige mais um milhão de toneladas de manteiga. Se ignorássemos a restrição representada pela FPP, poderíamos pensar que era possível produzir mais manteiga, sem reduzir a produção de espingardas, movendo-nos, por exemplo, para o ponto I, em linha, para a direita do ponto D. Mas o ponto I está para além da fronteira, 12 na região “impraticável”. A partir de D não podemos ter mais manteiga sem prescindir de algumas espingardas. Daí o ponto D corresponder à eficiência produtiva enquanto que o ponto I é impraticável. A eficiência produtiva verifica-se quando a Sociedade não pode aumentar a produção de um bem sem reduzir a de outro. A eficiência produtiva significa que a produção se encontra sobre a fronteira de possibilidades de produção. Um conceito com a mesma lógica é o conceito de eficiência da afetação de recursos (ou Eficiência de Pareto) – Diz-se de uma situação em que nada é possível alterar em benefício de umas pessoas sem prejudicar outras. Recursos desaproveitados e ineficiência. Mesmos os observadores menos atentos da realidade sabem que a sociedade tem recursos não aproveitados, sob a forma de trabalhadores desocupados, indústria parada e terra abandonada. Quando há recursos que não são totalmente aproveitados, a economia não fica na FPP, mas algures no seu interior. Na figura 2 (pág. 10), o ponto U representa um ponto no interior da FPP; em U, a sociedade produz apenas duas unidades de manteiga e seis unidades de espingardas. Alguns recursos estão desaproveitados e, se os aplicarmos, é possível obter uma maior produção de todos os bens. A economia pode deslocar-se de U para D produzindo mais manteiga e mais espingardas melhorando a eficiência da economia. As depressões do ciclo económico não são as únicas razões para que uma economia esteja no interior da sua FPP. Uma economia pode sofrer de ineficiência ou desperdício de recursos devido a greves, alterações políticas ou revolução. 2. A FRONTEIRA ENTRE MERCADOS E GOVERNOS Um dos principais problemas da Economia (e da política) é a decisão acerca da fronteira adequada entre o Estado e os mercados. Nos tempos medievais, a aristocracia dirigia a maior parte da atividade económica. Contudo, há cerca de dois séculos, os governos passaram a ter um poder cada vez menor sobre os preços e os métodos de produção. Gradualmente, as restrições do feudalismo forma substituídas pelo que designamos de “mecanismo de mercado” ou “capitalismo concorrencial”. Assim, o século XIX foi a era do “laissez-faire”. Esta doutrina, que significa “não interfiram”, sustenta que os governos devem interferir o menos possível nos assuntos económicos e deixar as decisões económicas para a interação, nos mercados, entre a oferta e a procura. Contudo, no final do século XIX, os excessos desenfreados do capitalismo levaram os países industrializadas (sobretudo, os EUA e os países da Europa Ocidental) a abandonar o laissez-faire puro. Os governos assumiram um papel económico que se expandiu continuamente: regulamentando os monopólios; cobrando impostos sobre o rendimento; e assumindo funções como a de garantir apoio aos idosos (segurança social). Neste novo sistema, designado por Estado-providência, os mercados dirigem as atividade económicas diárias ao pormenor, enquanto os governos regulam as condições sociais e proporcionam pensões, cuidados de saúde e outros aspetos da segurança social. Nas três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, as então economias de mercado da Europa Ocidental e da América do Norte, sob a mão protetora dos governos, testemunharam um período, sem precedentes, de prosperidade e crescimento económico 13 sustentado. Depois, por volta de 1980, à medida que os governos conservadores, em muitos países, começaram a diminuir os impostos e a desregulamentar o controlo do Estado sobre a Economia, o quadro inverteu-se. A “revolução reaganiana”, em particular, teve uma grande influência nesta “viragem de página”. A viragem mais radical, que atesta o fenómeno do neoliberalismo económico, ocorreu na Rússia e nos países socialistas da Europa de Leste. Após décadas de elogio das vantagens do planeamento central e de uma economia dirigida pelo governo, estes países iniciaram a difícil transição para uma economia de mercado descentralizada. Mas, a problemática do equilíbrio oscilante entre o Estado e o mercado levantará, inevitavelmente, muitas questões. O que é exatamente uma economia de mercado e o que a torna tão poderosa? O que é o “capital” no “capitalismo”? Que controlos, da parte dos governos, são necessários para apoiar os mercados? Para responder a estas questões é, então, necessário compreender os princípios que estão subjacentes à economia de mercado e os argumentos (pró e contra) acerca do papel que o Estado deve ter na vida económica de um país. 2.1. Economia de Mercado Uma economia de mercado é um mecanismo que permite a coordenação de pessoas, atividades e empresas através de um sistema de preços e mercados. É um sistema de comunicação que põe em contacto o conhecimento e as ações de milhares de milhões de indivíduos. Sem qualquer direção central, consegue resolver problemas de produção que envolvem milhares de milhões de variáveis e relações. Ninguém concebeu o mercado, e, no entanto, ele funciona notavelmente. Numa economia de mercado, nenhum indivíduo ou organização é isoladamente responsável pela produção, pelo consumo, pela distribuição e pela fixação de preços. Como fazem os mercados para determinar os preços, os salários e as produções? De uma forma geral, os mercados podem ser entendidos como um mecanismo através do qual os compradores e os vendedores podem determinar preços e trocar bens e serviços. Há mercados para quase tudo, desde a arte até ao ambiente. O mercado pode ser centralizado, como o de títulos. Ou descentralizado, como o de habitações ou de trabalho. Ou pode ainda existir apenas eletronicamente, como no caso de muitos ativos e serviços financeiros, que são transacionados apenas por computador e em rede. Mas, a característica essencial de um mercado é a possibilidade de juntar compradores e vendedores para fixarem preços e quantidades. Um mercado é um mecanismo pelo qual compradores e vendedores se confrontam para determinar o preço e a quantidade de um bem ou de um serviço. Uma economia de mercado será, assim, uma economia em que as decisões acerca da produção e do consumo são feitas por produtores individuais e por consumidores. Num sistema de mercado, tudo tem um preço, que consiste no valor desse bem em termos monetários. Os preços representam as condições em que os indivíduos e as empresas trocam as diferentes mercadorias. Os preços servem como sinais para produtores e consumidores. Se os consumidores querem mais de um bem, o preço aumentará, transmitindo um sinal aos produtores de que é necessária mais oferta. Por exemplo, todos os Verões, as famílias vão de férias, a procura de habitação para alugar aumenta, e o mesmo acontece com o preço do aluguer de habitações. O preço mais elevado do aluguer de habitação, nesta altura do ano, incentiva proprietários de habitações localizadas nas zonas procuradas a alugarem habitações. Estas habitações, de outra forma, com menor procura e preços de aluguer mais reduzidos, não fariam parte da oferta do mercado de aluguer de habitações. 14 Por outro lado, em zonas com excesso de oferta sazonal de habitação para aluguer, os proprietários tenderão a baixar o preço do aluguer. Isto, por um lado, desincentivará alguns proprietários de habitação para aluguer e, por outro, estimulará a procura deste “produto”, aumentando a probabilidade de obtenção de algum rendimento por parte dos proprietários que se mantêm ativos. Esta lógica, por sua vez, contribuirá para “escoar” o “produto” (habitação para aluguer) disponível no mercado. Assim, com um preço mais baixo, mais consumidores quererão um produto, e os produtores quererão reduzir a sua produção. Em resultado, é estabelecido um balanço ou equilíbrio, entre compradores (procura) e vendedores (oferta). O que é verdade para o mercado de bens de consumo, também é verdade para os mercados de bens de produção, tais como a terra e o trabalho. Se são necessários mais programadores informáticos do que operários têxteis, as oportunidades de emprego serão mais favoráveis no setor informático. O preço dos programadores informáticos (o seu salário/hora) tenderá a aumentar e o dos operários têxteis tenderá a descer. A variação dos salários relativos, também contribuirá para atrair os trabalhadores para a profissão em crescimento. Depois, quando a oferta deste fator de trabalho for maior, o salário tenderá a diminuir e isso diminuirá a procura por esta especialização profissional. E a lógica do equilíbrio do mercado é sempre esta. Os preços coordenam as decisões dos produtores e dos consumidores num mercado. Preços mais elevados tendem a reduzir as compras dos consumidores e estimular a produção. Preços mais baixos estimulam o consumo e retraem a produção. Os preços são o pêndulo do mecanismo de mercado. Em cada momento há pessoas a comprar e outras a vender; as empresas estão a criar novos produtos; empresas estrangeiras abrem fábricas em vários países; os países vendem os seus produtos para o estrangeiro. Contudo, no meio de toda esta confusão, os mercados estão constantemente a resolver o quê, como e para quem. Ao compensar todas as forças que operam na economia, os mercados estabelecem um equilíbrio de mercado entre a oferta e a procura. Figura 6 – The making of a modern automobile Um equilíbrio de mercado representa um equilíbrio entre os diferentes compradores e vendedores. Dependendo do preço, todos, famílias e empresas, pretendem comprar ou vender diferentes quantidades. O mercado estabelece o preço de equilíbrio que junta os desejos dos vendedores e dos compradores. Um preço demasiado elevado significaria uma abundância de bens com uma produção manifestamente excessiva; um preço demasiado baixo significaria grandes filas de espera nas lojas e a falta de bens. 15 Os preços a que os compradores desejam adquirir exatamente a quantidade que os vendedores desejam vender proporcionam um equilíbrio entre a oferta e a procura. Quando todos os compradores e vendedores estão satisfeitos com as quantidades ao preço de mercado, verifica-se um equilíbrio de mercado. 2.2. Como os Mercados gerem os Três Problemas Económicos Analisemos como os preços ajudam a equilibrar o consumo e a produção (ou a oferta e a procura), num mercado isolado. O que acontece quando analisamos todos os mercados em conjunto – da gasolina, dos automóveis, do trabalho, da terra, do capital e de tudo mais? Estes mercados funcionam, simultaneamente, para determinar um equilíbrio geral dos preços e da produção. Ao colocar em contacto vendedores e compradores (oferta e procura), em cada mercado, uma economia de mercado resolve simultaneamente os três problemas de o quê, como e para quem. É este o resultado efetivo do equilíbrio de mercado: 1. O que será produzido é determinado pelas opções monetárias dos consumidores, diariamente, nas suas opções de compra. O dinheiro que deixam nas caixas registradoras das empresas é o que, no fim, proporciona os salários, as rendas e os dividendos que os consumidores, como empregados, recebem como rendimento. As empresas, por seu lado, são motivadas pelo desejo de maximizar os lucros. Os lucros são as receitas líquidas ou a diferença entre as vendas e os custos totais. As empresas abandonam as áreas em que estão a perder dinheiro e, pelo mesmo motivo, são atraídas pelos lucros elevados da produção de bens com uma grande procura. 2. Como as coisas são produzidas é determinado pela concorrência entre os diferentes produtores. A melhor forma de os produtores alcançarem um preço de concorrência e maximizarem os lucros é manterem os custos no mínimo, com a adoção de métodos de produção mais eficientes. 3. Para quem são as coisas produzidas - quem vai consumir e em que quantidade – depende, em grande parte, do nível e distribuição dos Rendimentos. O nível e distribuição dos Rendimentos depende da oferta e da procura nos mercados de fatores de produção. Os mercados dos fatores de produção determinam os salários (fator trabalho), as rendas da terra, as taxas de juro (fator capital) e os lucros. Esses preços são designados por preços dos fatores de produção. A mesma pessoa pode receber um salário de um emprego, dividendos de ações, juros de um depósito a prazo, e renda de um pedaço de terreno. Somando todos os rendimentos dos fatores, podemos calcular o rendimento de mercado das pessoas. A repartição do rendimento pela população é, portanto, determinada pelas quantidades de fatores (homens/hora, hectares de terreno, etc.) possuídos e pelos preços dos fatores (níveis salariais, rendas da terra, etc.). No entanto, devemos estar atentos ao facto de a repartição do rendimento refletir muito mais do que a remuneração do trabalho empenhado ou do que a poupança persistente. Os rendimentos elevados também provêm de heranças, da sorte, da localização favorável ou de qualificações muito valorizadas no mercado. Aqueles que têm rendimentos baixos são, muitas vezes, apresentados como preguiçosos, mas a verdade é que os rendimentos baixos são, geralmente, o resultado de uma educação de qualidade reduzida, de descriminação ou de se viver onde os empregos são poucos e os salários são baixos. Também qualquer um de nós pode ir para a fila do desemprego pela “graça da oferta e da procura”. 2.3. Quem dirige o Mercado? A “Mão Invisível” e a “Concorrência Perfeita”? Quem está encarregado de dirigir uma economia de mercado? O “maestro” desta “orquestra” serão as empresas gigantes como: a Walmart (1ª); a Sinopec Group (2ª); a 16 Royal Dutch Shell (3ª).2 Ou, talvez, os Governos e os Primeiros-ministros. Se examinarmos cuidadosamente a estrutura de uma economia de mercado, observamos uma dupla soberania partilhada pelos consumidores e pela tecnologia. Os consumidores, através dos seus gostos inatos ou adquiridos - expressos pelos votos monetários – decidem os objetivos últimos, para onde, assim, os fatores de produção são canalizados. Eles marcam o ponto na FPP. Mas os consumidores, por si só, não podem ditar que bens serão produzidos. Os recursos e a tecnologia disponíveis colocam uma restrição básica às suas escolhas. A economia não pode ir para além da sua FPP. É possível voar para a Nova Zelândia, mas não há voos para Marte (ainda!). Os recursos de uma economia, juntamente com a ciência e tecnologia disponíveis, limitam as possibilidade de uso dos votos monetários dos consumidores. A procura dos consumidores também tem de se ajustar à oferta de bens feita pelas empresas. Isto é, os custos de produção (empresariais) e as decisões de oferta, juntamente com a procura dos consumidores, ajudam a determinar o que deve ser produzido. É possível observar o fluxo circular da atividade económica, figura 7. Figura 7 – O sistema de mercado baseia-se na oferta e na procura para resolver o trio dos problemas económicos. Nesta figura é possível verificar o fluxo circular de uma economia de mercado. Os votos monetários das famílias atuam com a oferta das empresas fornecedoras nos mercados de produtos, na parte superior da figura, ajudando a determinar o que é produzido. Alem disso, a procura de fatores de produção, pelas empresas, encontra a oferta de trabalho pelos particulares e de outros fatores de produção nos mercados dos fatores, em baixo, o que permite determinar os salários, as rendas e os juros; os rendimentos influenciam, portanto, a quem serão atribuídos os bens. A concorrência nas empresas, para comprar os fatores de produção e vender os produtos ao mais baixo preço, determina como os bens são produzidos. 2 Ranking Fortune Global 500, 2014. 17 A figura dá-nos uma visão geral da forma como os consumidores e os produtores atuam, em conjunto, para determinar os preços e as quantidades. Note-se dois tipos diferentes de mercado no fluxo circular. Em cima estão os mercados de produtos, ou o fluxo de produtos como a piza e sapatos; em baixo estão os mercados de fatores de produção, como a terra e o trabalho. Além disso, é possível verificar como as decisões são tomadas por duas entidades diferentes, as famílias e as empresas. As famílias compram bens e vendem fatores de produção; as empresas vendem bens e adquirem fatores de produção. As famílias usam o seu rendimento, da venda do trabalho e de outros fatores, para adquirirem bens das empresas; as empresas baseiam os custos dos seus bens nos custos do trabalho e do património. Os preços no mercado de bens são estabelecidos de modo a equiparar a procura dos consumidores à oferta das empresas. O equilíbrio surge, assim, de uma intrincada teia de ofertas e procuras interdependentes que se conjugam através do mecanismo do mercado para resolver os problemas económicos: o quê; como; e para quem. Num sistema de empresas livres, os preços de mercado servem duas importantes funções, distintas entre si: Função de racionamento (dos preços), que consiste na distribuição dos bens escassos pelos consumidores que lhes dão mais valor. Se três pessoas, num leilão, quiserem um relógio antigo, ele será levado por aquela que oferecer o valor mais elevado; Função da afetação dos recursos, que consiste em canalizar os recursos dos mercados superlotados para mercados que ainda não estejam bem servidos. Os recursos abandonam os mercados nos quais o preço não é suficiente para cobrir os custos de produção e passam para aqueles em que o preço o excede. Ambas as funções do preço, de racionamento e da afetação de recursos, estão subjacentes à teoria da mão invisível de Adam Smith. Segundo a teoria de Adam Smith, a “cenoura” do lucro económico e o “bastão” do prejuízo económico são as duas únicas forças necessárias para assegurar não só que todos os produtos existentes no mercado sejam distribuídos de forma eficiente, mas também que os recursos sejam distribuídos através do mercado por forma a produzir a mistura de bens e serviços mais eficiente possível. Segundo Adam Smith, o princípio da “mão invisível” sustenta que, na prossecução egoísta exclusiva do seu benefício pessoal, todos os indivíduos são levados, como que por uma “mão invisível”, a atingir o melhor benefício comum. Smith sustentou que esta “concorrência perfeita” era o melhor de todos os mundos possíveis e que a interferência governamental, na livre concorrência, seria certamente prejudicial. Numa das mais famosas passagens de toda a ciência económica, Smith expôs a harmonia entre o interesse privado e o interesse público: “Cada indivíduo esforça-se para aplicar o seu capital de modo a que a sua produção tenha o valor máximo. Geralmente, não tem a intenção de promover o interesse público nem saber sequer em que medida o está a fomentar. Pretende unicamente a sua segurança, o seu próprio ganho. E assim prossegue, como que levado por uma mão invisível, na consecução de um objetivo que não fazia parte das suas intenções. Na prossecução do seu próprio interesse, promove frequentemente o interesse da Sociedade de uma forma mais efetiva do que quando realmente o pretende fazer.” 3 Os teóricos da economia comprovaram que, sob certas condicionantes restritivas, uma economia perfeitamente concorrencial é eficiente (recorde-se que uma economia 3 Adam Smith, A Riqueza das Nações, 1776. 18 está a produzir eficientemente quando não pode aumentar o bem-estar económico de alguém sem piorar o de outrem). Contudo, após mais de dois séculos de investigação e discussão, são reconhecidas algumas limitações efetivas a esta doutrina, que conduzem a “falhas de mercado” e que os mercados nem sempre conduzem ao resultado mais eficiente. Um conjunto de falhas de mercado relaciona-se com os monopólios e outras formas de concorrência imperfeita. Uma segunda falha da “mão invisível” ocorre quando há spillovers ou externalidades de mercado – externalidades positivas, como as descobertas científicas, e externalidades negativas, como a poluição. Uma última reserva que deve merecer reflexão surge quando a repartição do rendimento é política ou eticamente incorreta. Quando ocorrer qualquer um destes elementos, a doutrina da “mão invisível” de Adam Smith deixa de aplicar-se, e o governo será tentado a corrigir as falhas. Em resumo, Adam Smith descobriu uma propriedade notável de uma economia de mercado concorrencial. Em concorrência perfeita, e não existindo falhas de mercado, os mercados irão extrair, dos recursos disponíveis, tantos bens e serviços úteis quantos os que forem possíveis. Mas quando as falhas de mercado se tornam preponderantes, podem ser destruídas as notáveis propriedades da “mão invisível”. 2.4. Que papel Económico para o Governo? Para a maioria dos economistas, uma economia ideal é aquela em que todos os bens e serviços são voluntariamente transacionados por dinheiro aos preços de mercado. Este sistema extrai o benefício máximo dos recursos disponíveis da sociedade, sem a intervenção do Estado. Mas, na realidade, nenhuma economia poderá estar efetivamente de acordo com o funcionamento contínuo da mão invisível no mundo ideal. Em vez disso, todas as economias de mercado sofrem imperfeições que levam a doenças tais como a poluição excessiva, o desemprego e a extremos de riqueza e pobreza. Por isso, nenhum governo, em nenhuma parte do mundo, independentemente do grau de conservadorismo, se afasta completamente da economia. Nas economias modernas, o Estado assume muitas tarefas em resposta às falhas do mecanismo de mercado. As forças armadas, a polícia, o serviço meteorológico e a construção de autoestradas são áreas típicas da atividade do Estado. Atividades socialmente úteis, com a exploração do espaço e a investigação científica, beneficiam do financiamento do Estado. Os governos podem supervisionar algumas atividades (como a banca e a recolha de lixo) e subsidiar outras como a educação e a saúde. Além disso, os governos tributam os cidadãos e redistribuem uma parcela das receitas pelos pobres e pelos mais necessitados. Mas, do leque alargado de atividades possíveis, o governo, numa economia de mercado, têm três funções económicas principais. Essas funções são: o aumento da eficiência; a promoção da equidade; e o estímulo do crescimento e da estabilidade macroeconómica. 1. O governo aumenta a eficiência ao promover a concorrência, ao combater externalidades, como a poluição, e ao fornecer bens públicos. 2. O governo promove a equidade ao usar os impostos e ao empreender programas de despesa para redistribuir o rendimento a grupos específicos. 3. O governo estimula o crescimento e a estabilidade macroeconómica - reduzindo o desemprego e a inflação, enquanto estimula o crescimento económico – através da política orçamental e da regulação económica. 19 2.4.1. Governo e Eficiência Adam Smith reconheceu que as virtudes do mecanismo de mercado só funcionam quando se verificam os confrontos e os equilíbrios da concorrência perfeita. Concorrência perfeita significa que todos os bens e serviços têm um preço e são transacionados nos mercados e também significa que nenhuma empresa ou consumidor é suficientemente forte para afetar o preço de mercado. Por exemplo, um produto genérico, produzido por várias empresas, é perfeitamente concorrencial quando a maior empresa produtora desse produto não pode ter influência significativa sobre o preço do produto no mercado. A doutrina da mão invisível aplica-se a economias onde todos os mercados são perfeitamente concorrenciais. Nestas circunstâncias, os mercados levarão a uma afetação eficiente dos recursos de modo que uma economia se encontre sobre a fronteira de possibilidades de produção. Quando todos os ramos de atividade se encontrem sujeitos ao confronto e ao equilíbrio da concorrência perfeita, os mercados produzirão o conjunto eficiente de produtos, com as técnicas mais eficientes e utilizando a quantidade mínima de fatores. Mas existem muitas formas de os mercados se afastarem da concorrência perfeita. As três mais importantes envolvem concorrência imperfeita, como os monopólios e externalidades, como a poluição, e alguns bens públicos, como a defesa nacional e as autoestradas. Em cada um dos casos, a falha do mercado origina uma produção e um consumo não eficientes, e o governo pode, nestas circunstâncias, desempenhar um papel útil na resolução dos problemas. 2.4.2. Concorrência Imperfeita A concorrência perfeita é um caso ideal que só no limite se aproxima do modo de funcionamento dos setores reais de atividade. Os economistas estudam três outras estruturas de mercado que divergem, em graus variados, da concorrência perfeita: Monopólio, um mercado com uma só empresa a vender um produto único; Oligopólio, um mercado com apenas alguns vendedores; e Concorrência monopolística, um mercado em que muitas empresas vendem produtos semelhantes, mas que são sucedâneos imperfeitos uns dos outros. É possível enunciar quatro origens do designado “poder de mercado”. O poder de uma empresa para subir o preço sem perder todo o seu mercado tem origem no controlo exclusivo que ela possui sobre fatores de produção importantes, patentes, licenças governamentais ou em economias de escala. Para uma empresa que beneficia de economias de escala, o custo unitário da produção diminui com o aumento desta. Esta vantagem no custo explica por que razão muitas indústrias são dominadas quer por uma única empresa quer por um pequeno número delas. 3. Oferta e Procura 3.1. Oferta e Procura: Introdução Como tivemos oportunidade de verificar nos pontos anteriores da Sebenta, o mercado de um bem consiste nos compradores e nos vendedores, efetivos e potenciais, desse bem. Qualquer que seja o preço, a curva da oferta mostra a quantidade total que os produtores desse bem estão dispostos a vender, e a curva da procura mostra a quantidade total que os consumidores estão dispostos a comprar. Os fornecedores estão dispostos a vender mais a preços mais altos (as curvas da oferta têm inclinação positiva), e os consumidores estão dispostos a comprar menos a preços mais altos (as curvas da procura têm inclinação negativa). 20 O equilíbrio de mercado, a situação na qual todos os compradores e produtores são satisfeitos nas respetivas quantidades aos preços em vigor no mercado, ocorre quando as curvas da oferta e da procura se cruzam. O preço e a quantidade correspondentes são apelidados de preço de equilíbrio e de quantidade de equilíbrio. A menos que sejam impedidos pela regulamentação, os preços e as quantidades são conduzidos em direção aos seus valores de equilíbrio pelas ações dos consumidores e dos produtores. Se inicialmente o preço é demasiado alto, resultando num excesso de oferta, os produtores, insatisfeitos, baixarão os preços de forma a vender mais. Se inicialmente o preço for demasiado baixo, resultando num excesso de procura, a concorrência entre produtores levará o preço a subir. Este processo continua até se atingir o equilíbrio. Para análise e reflexão: Pr – Preço P – Preço de mercado elevado Pr Pe – Preço de equilíbrio O p – Preço de mercado reduzido Qt – Quantidade P Qp – Quantidade efetivamente procurada se o preço de mercado for elevado Pe Qo – Quantidade para oferta se o preço de mercado for elevado qo – Quantidade efetivamente oferecida se o preço de mercado p P for reduzido qp – Quantidade procurada se o qo Qp Qe Qo qp Qt preço de mercado for reduzido Figura 8 – Preço e Quantidade de Equilíbrio: diversas variações e consequências. É possível identificar quatro regras associadas às curvas da oferta e da procura convencionais (inclinação positiva para as curvas da oferta; inclinação negativa para as curvas da procura). Os exemplos seguintes ilustram as quatro regras que regem a forma como os deslocamentos na oferta e na procura afetam os preços e as quantidades de equilíbrio. Um _________________ na procura Um __________________ na procura levará a um __________________ no levará a um _________________ no preço e na quantidade de equilíbrio. preço e na quantidade de equilíbrio. 21 Um aumento na oferta levará a um Um decréscimo na oferta levará a um _______________ no preço de equilíbrio _______________ no preço de equilíbrio e a um _______________ na quantidade e a um ______________ na quantidade de equilíbrio. de equilíbrio. Figuras 9a, 9b, 9c e 9d – Quatro regras qualitativas para as curvas da oferta e da procura com inclinações convencionais. Mas, atenção! Quando as curvas da oferta e da procura se deslocam ao mesmo tempo, a direção na qual o preço ou a quantidade de equilíbrio mudam dependerá da magnitude relativa dos deslocamentos (figuras seguintes). S S S1 P P S1 P1 P1 D D D1 D1 Q1 Q Q Q1 Figuras 10a e 10b – Deslocações simultâneas das curvas da oferta e da procura: consequências variadas no preço e na quantidade de equilíbrio. Os fatores que, com maior frequência, determinam deslocamentos das curvas da procura e da oferta são os enunciados nas tabelas da página seguinte. 22 Fatores que causam um aumento da oferta (a curva da oferta desloca-se para a direita) 1. Um decréscimo no custo dos materiais, de mão-de-obra ou de outros fatores de produção do bem ou do serviço. 2. Uma melhoria tecnológica que reduza o custo de produção do bem ou do serviço. Nota: quando estes fatores se deslocam no sentido oposto, a oferta deslocar-se-á para a esquerda. Fatores que causam um aumento da procura (a curva da procura desloca-se para a direita) 1. Um decréscimo no preço dos complementares do bem ou do serviço. 2. Um aumento no preço dos substitutos do bem ou do serviço. 3. Um aumento no rendimento (no caso de um bem normal). 4. Uma preferência crescente, por parte dos clientes, pelo bem ou serviço. 5. Um aumento na população de potenciais compradores. Nota: quando estes fatores se deslocam no sentido oposto, a procura deslocar-se-á para a esquerda. O modelo da oferta e da procura de Alfred Marshal4 dá conta das razões pelas quais nem o custo de produção nem o valor para o comprador (medido pela disposição de pagar), são, por si só, suficientes para explicar por que motivo alguns bens são baratos e outros são caros. Para explicar a variação de preço, dever examinar-se a interação do custo e da disposição de pagar. Assim, os bens diferem de preço devido a diferenças nos custos, nos preços, nas disposições para pagar mais ou menos e isso tem reflexo nas respetivas curvas da oferta e da procura. Em síntese… A curva da oferta é uma linha com inclinação positiva que nos indica qual a quantidade que os vendedores oferecerão aos diferentes preços. A curva da procura é uma linha com inclinação negativa que nos indica qual a quantidade que os compradores comprarão aos diferentes preços. Ocorre equilíbrio de mercado quando a quantidade que os compradores procuram ao preço de mercado é exatamente a mesma que os vendedores oferecem. Em equilíbrio, o preço de mercado mede o valor da última unidade vendida aos compradores e o custo dos recursos necessários para a produzir. 3.2. Procura: o mercado na perspetiva dos benefícios Muitos consumidores de substâncias ilegais cometem crimes para sustentar o seu vício. Os esforços policiais para combater o tráfico de substâncias ilegais é permanente. Considerando a lógica do equilíbrio entre a procura e a oferta, o que tenderá a acontecer, no domínio da taxa de criminalidade, se os esforços policiais 4 Importante Economista inglês (séc. XIX-XX) que sistematizou numa obra (princípios da Economia) as teorias da oferta e da procura, da utilidade marginal e dos custos de produção. 23 virem um incremento do investimento em meios e isso proporcionar uma diminuição efetiva da quantidade de substâncias ilegais traficadas? Imaginem, por exemplo, que o incremento de meios e recursos das forças policiais faz deslocar a curva da oferta de drogas ilegais para a esquerda (figura 11). Como resultado, a quantidade de equilíbrio de drogas cairia de 50 000 kg/dia para 40 000 kg/dia e o preço das drogas subiria de 50€ para 80€/Kg. A quantia total despendida em drogas, que era de €2 500 000/dia (50 000 kg/dia vezes €50/Kg), subiria para €3 200 000/dia (40 000Kg vezes €80/Kg). Neste caso, então, os esforços para deter a oferta de drogas iriam, na verdade, aumentar a probabilidade de ocorrência de criminalidade. Poderiam ser equacionados outros benefícios decorrentes da tentativa de deter o tráfico de droga, mas o conhecimento desta lógica e das suas potenciais consequências, iria claramente ser muito útil para o planeamento integrado das autoridades competentes. 80 P (€/Kg) 50 40 50 Q (milhares de Kg/dia) Figuras 11 – O efeito de uma maior eficácia no combate ao tráfico de droga. Uma maior eficácia desloca a oferta para esquerda e reduz a quantidade procurada, mas também pode aumentar a quantidade total despendida em droga. Neste caso, um aumento do preço conduziu a um aumento da despesa total. Em muitos outros casos, um aumento do preço conduzirá a uma redução na despesa total. Porquê esta diferença? O fenómeno que explica este padrão é a elasticidade da procura (veremos mais à frente), uma medida que avalia até que ponto a quantidade procurada reage às oscilações de preço no mercado. Até aqui limitámo-nos a aceitar como uma pretensão intuitivamente plausível que a quantidade procurada de um bem ou serviço decresce à medida que o seu preço sobe. Esta relação é conhecida como a Lei da Procura e veremos a forma como emerge como uma simples consequência da suposição de que as pessoas gastam os seus rendimentos limitados de forma racional. Durante esse processo, veremos mais claramente os papéis duplos do rendimento e da substituição como fatores que condicionam a Lei da Procura. Imaginemos o seguinte exemplo: numa importante Universidade de uma região é reinaugurado um lago emblemático que tinha, ao longo dos anos, sedimentado até não ser possível o seu atravessamento com um barco a remos. Um generoso Estudante patrocinou as obras de remoção das areias. Em dois meses o lago voltou a ser o que outrora havia sido. A universidade organizou uma pomposa festa para assinalar o momento. Vislumbrando uma boa oportunidade para promover os seus produtos, os proprietários de uma casa de venda de gelados situada na região 24 montaram uma banca temporária junto ao lago, com uma grande placa a anunciar “Gelados Grátis”. A palavra passou de boca em boca e, rapidamente, centenas de pessoas já faziam fila para provar cada uma das especialidades de gelados. Havia gelado em grandes quantidades e, uma vez que era de graça, todos tinham, obviamente, possibilidade de o adquirir; ou, pelo menos, era isso que parecia. De facto, muitas das pessoas que queriam comer gelado naquele dia não chegaram a prová-lo. O motivo, claro, foi que consideraram o tempo de espera na fila um preço demasiado elevado. Assim, quando um bem ou serviço escasseia, deve ser racionado de alguma forma por entre os consumidores que por ele competem, na maior parte dos mercados, os preços monetários encarregam-se disso, mas, no caso de uma banca a oferecer gelados gratuitos, o tempo de espera torna-se um mecanismo de racionamento eficaz. Ter de ficar na fila é um custo, tal como termos de nos separar de algum dinheiro. Este exemplo demostra que, embora a curva da procura seja normalmente descrita como uma relação entre a quantidade procurada de um bem e o seu preço monetário, a relação é, na verdade, muito mais abrangente. No fundo, a curva da procura é uma relação entre a quantidade procurada e todos os custos (monetários e não monetários) associados à aquisição de um bem. Deste modo, é possível enunciar a lei da procura da seguinte forma: Lei da procura: as pessoas fazem menos aquilo que querem fazer à medida que o custo de o fazer aumenta. Ao enunciarmos a lei da procura desta forma, podemos vê-la como uma consequência direta do princípio do custo-benefício, que diz que uma atividade deve ser levada a cabo se, e só se, os seus benefícios forem, pelo menos, tão elevados quanto os custos. Podemos medir o benefício de uma atividade pelo preço mais elevado que estaríamos dispostos a pagar para levá-la a cabo. Este seria o nosso preço de reserva para a atividade. O preço de reserva é o preço mais alto que uma pessoa está disposta a pagar para obter um bem ou um serviço, ou o menor dos pagamentos que alguém aceitaria para desistir de um bem ou deixar de fazer um serviço. A lei da procura aplica-se a todo o tipo de objetos (carros, porta chaves baratos, gelados “gratuitos”, CD de música, cuidados médicos ou de beleza). A lei da procura sublinha que o “custo” é a soma de todos os sacrifícios (monetários e não monetários, implícitos e explícitos) que temos de fazer para levar a cabo uma atividade. Que quantia estaríamos dispostos pagar pelo novo CD dos U2? A resposta dependerá, necessariamente, daquilo que sentimos pela música deles. Para os seus fãs, adquirir o último disco poderia parecer absolutamente essencial; com efeito, estariam dispostos a pagar um preço bastante elevado. No entanto, aqueles que não gostam particularmente da música dos U2 poderiam não estar na disposição de comprar o disco fosse qual fosse o preço. Em linguagem corrente, distinguimos entre os bens e os serviços de que as pessoas necessitam e aqueles que elas simplesmente querem. Os economistas gostam de enfatizar que uma vez que tenhamos atingido os níveis de consumo que garantam a subsistência (a quantidade de comida, abrigo e roupa necessários para mantermos a nossa saúde), podemos abandonar todas as referências a necessidades e falar apenas em termos de desejos (necessitamos de proteínas e não de um “bife do lombo”; necessitamos de descanso e não de umas “férias na neve”, etc.). 25 Por exemplo, repare-se na diferença entre: “Os Alentejanos não têm toda a água de que necessitam.” “Os Alentejanos não têm toda a água de que necessitam quanto o preço da água está baixo.” Perante a primeira frase, a pessoa encarregada de encontrar uma solução para o problema terá tendência a concentra-se em regulamentações que impeçam os Alentejanos de regar a relva ou em projetos que visem um maior aproveitamento das águas pluviais. Já lendo a segunda frase, a pessoa terá tendência a concentrar-se no eventual preço reduzido da água. Enquanto soluções resultantes da interpretação da primeira frase são extremamente difíceis de implementar e muito dispendiosas, aumentar o preço da água para promover o racionamento será bem mais simples e eficaz. 3.2.1. Procura: a importância do conceito de Utilidade Portanto, um dos desafios para a economia é tradução dos desejos em procura, uma vez que o nível de subsistência é facilmente alcançado e, a partir daí, serão os desejos a influenciar determinantemente as decisões de procura. Mas a quantificação dos desejos é impossível. Os economistas usam o conceito de utilidade para representar a satisfação que as pessoas obtêm das suas atividades de consumo. Supõe-se que as pessoas tentam afetar os seus rendimentos de forma a maximizar a satisfação, um objetivo que se designa por maximização da utilidade. Imaginemos que a utilidade pode ser medida com um “utilitómetro” (ideia de um economista britânico do século XIX, Jeremy Bentham) e que o utilitómetro mede a satisfação em “utis”. O “uti” é um valor numérico de utilidade de cada atividade: ver um filme; comer um hambúrguer, e assim por diante. Por fim, é possível fazermos uma suposição plausível: o objetivo do consumo é maximizar o número total de utis obtidos a partir dos bens consumidos. O truque será encontrar esse tal máximo: a combinação de bens que melhor permita “gastar até ao último uti”. Comecemos com um problema invulgar, mas simples. O problema com que se depara um consumidor quando chega à frente da fila de uma banca de gelados gratuitos. Quantos cones de gelado deverá esta pessoa (“A”) pedir? O quadro 2 mostra a relação entre o número total de cones que “A” come/hora e a utilidade total, medida em utis/hora, que “A” retira deles. Notem que as medidas no Q de cones (cones/hora) Utilidade total (utis/hora) quadro 2 estão definidas em 0 0 termos de cones/hora e de 1 100 utis/hora. Porquê hora? Porque 2 150 sem uma dimensão temporal 3 175 explícita não teríamos qualquer ideia sobre se uma dada 4 187 quantidade era muito ou pouca. 5 184 Cinco cones de gelado numa Quadro 2 – Utilidade total do indivíduo “A” em relação ao consumo de vida inteira não é muito, mas gelados. cinco numa hora seria mais do que a maioria das pessoas conseguiria comer. 26 Tal como os registos do quadro 2 sugerem, a utilidade total do indivíduo “A” aumenta com cada cone que ele come, até ao quarto cone. Comer quatro cones/hora torna-o mais feliz do que comer três, o que o torna mais feliz do que comer dois e assim por diante. Porém, para lá de 4 cones/hora, na realidade, comer mais gelados torna “A” menos feliz. O quinto cone reduz a sua utilidade total de 187/hora para 184/hora. A informação do quadro 2 pode ser apresentada graficamente (figura 12). 187 184 175 150 100 Figura 12 – Utilidade total do indivíduo “A” a partir do consumo de gelados. Para a maioria dos bens, a utilidade sobe a uma taxa decrescente com o consumo adicional. No gráfico (figura 12), quantos mais cones/hora “A” come, tantos mais utis ele recebe, mas, mais uma vez, isto verifica-se só até ao quarto cone. Assim que ultrapassa os quatro cones/hora a sua utilidade total começa a decrescer. A felicidade do indivíduo “A” atinge um máximo de 187 utis quando ele como 4 cones/hora. Nessa altura já não tem qualquer incentivo para comer o quinto cone, muito embora seja completamente gratuito. Comer o quinto cone, na verdade, deixa-o menos satisfeito. O quadro 2 e a figura 12 mostram um outro aspeto importante da relação entre a utilidade e o consumo, nomeadamente: que a utilidade adicional resultante do consumo de unidades adicionais decresce à medida que o consumo total aumenta. Assim, enquanto um cone/hora é muito melhor, em 100 utis, do que zero, quatro cones/hora é só um pouco melhor do que três (apenas 12 utis melhor). O termo utilidade marginal designa a variação na utilidade total quando o consumo varia uma unidade. Utilidade marginal é a utilidade adicional ganha a partir do consumo de uma unidade adicional de um bem. No quadro 3, a terceira coluna mostra os valores de utilidade marginal que correspondem às mudanças no nível de consumo de gelados do indivíduo “A”. Por exemplo, o segundo registo da coluna 3 representa o aumento na utilidade total (medida em utis/cone) quando o consumo do indivíduo “A” sobe de um cone/hora para dois. Notem que as entradas de utilidade marginal na coluna 3 estão colocadas a meio das linhas das colunas anteriores, para indicar que a utilidade marginal corresponde ao movimento de uma quantidade de consumo para a seguinte. Assim, é possível afirmar que a utilidade marginal de mudar de um para dois cones/hora é de 20 utis/cone. 27 Q de cones (cones/hora) Utilidade total (utis/hora) Utilidade marginal (utis/cone) 0 0 Utilidade marginal= 100 1 100 variação da utilidade/ 20 2 120 variação no consumo= 10 (120utis – 100utis)/ 3 130 (2cones-1cone)= 6 4 136 20utis/cone -2 5 134 Quadro 3 – Utilidade total e utilidade marginal do indivíduo “A” em relação ao consumo de gelados. Lei da utilidade marginal decrescente: à medida que o consumo de um bem aumenta para além de um determinado ponto, a utilidade adicional ganha a partir de uma unidade adicional do bem tende a decrescer. Este padrão de utilidade marginal decrescente aplica-se à maioria dos consumidores da maior parte dos bens. Se tivermos um bolo ou um Ferrari, estaremos mais felizes do que se não tivermos nenhum; se tivermos dois ficaremos ainda mais felizes, mas não duas vezes mais felizes e assim por diante. Embora se chame lei a este padrão, existem exceções. Algumas atividades de consumo parecem manifestar uma utilidade marginal crescente. Por exemplo, uma canção pouco conhecida pode parecer entediante na primeira vez que a escutamos e depois tornar-se gradualmente mais tolerável sempre que a ouvimos. Mas, apesar de tudo, é uma exceção. O que fará o indivíduo “A” quando chegar à frente da fila da banca dos cones gratuitos? Nessa altura, o custo que de oportunidade do tempo que passou à espera é um custo afundado (custo que não tem recuperação no momento em que uma decisão deve ser tomada), e é, por conseguinte, irrelevante para a sua decisão acerca de quantos cones vai pedir. Para além disso, como não se cobra qualquer preço monetário sobre os cones, o custo de pedir um cone adicional é zero. De acordo com o critério do custo-benefício – que diz que deve desenvolver-se uma ação apenas se o respetivo benefício marginal for, pelo menos, tão grande quanto o seu custo marginal – o indivíduo “A” deve, portanto, continuar a pedir cones enquanto o benefício marginal (aqui, a utilidade marginal que ele obtém de um cone adicional) for maior ou igual a zero. Assim, ele deverá pedir quatro cones. A regra da despesa racional é muito importante quando se analisam os fatores que condicionam a distribuição da despesa que estamos disposto a realizar nos diferentes bens e serviços (conjunto preço nominal + cultura + tempo + entre outros). A aplicação da regra da despesa racional sublinha os papéis importantes do rendimento e da substituição na explicação das diferenças nos padrões de consumo, nomeadamente, entre indivíduos, entre comunidades e ao longo do tempo. A regra também sublinha o facto de que os preços e os rendimentos reais (por oposição aos nominais) são aquilo que interessa. A procura de um produto cai quando o preço real de um sucedâneo diminui ou quando o preço real de um complemento sobe. Os padrões de procura podem diferir entre comunidades com o mesmo nível de rendimentos reais se a distribuição do rendimento pelos diferentes bens e serviços dentro dessas comunidades for ligeiramente diferente. 3.2.2. Procura: Curvas individuais e de mercado Se soubermos como é a curva da procura de um bem relativamente a cada indivíduo, como podemos utilizar essa informação para construir a curva da procura do produto 28 relativamente a todo o mercado? Temos de somar as curvas de procura individual, um processo que é fácil de compreender, mas que requer concentração. 3.2.2.1. Curva da procura linear: Equação da curva da procura As curvas de procura do mercado podem ser ilustradas não apenas em formato gráfico, mas também de outras duas formas. Uma é resumir a relação da procura do mercado em formato de quadro. Por exemplo, a curva linear de mercado ilustrada pela figura 13 também pode ser representada pelo quadro 4. 6 5 4 Preço (€/lata) 3 2 1 0 2 4 6 8 10 12 Quantidade (milhares de latas/mês) Figura 13 – A procura de mercado para o atum em lata (formato gráfico). Preço (€/lata) Quantidade (milhares de latas/mês) 0 12 1 10 2 8 3 6 4 4 5 2 6 0 Quadro 4 – A procura de mercado para o atum em lata (formato de quadro) Uma terceira alternativa muito útil é exprimir a curva de mercado sob a forma algébrica. Uma vez que os economistas adotaram a convenção de representar o preço no eixo vertical e a quantidade no eixo horizontal, escrevemos a fórmula geral de uma curva de procura linear da seguinte forma: P = b – mQ sendo que P designa o preço de um bem, normalmente medido em euros por unidade; Q designa a quantidade procurada, em unidades físicas por unidades de tempo; b representa a interceção vertical da curva da procura, e m representa o seu declive. 29 Para ilustrar o que acabámos de ver, imaginem que queremos escrever a equação da curva de mercado ilustrada na figura 14 (que é a mesma da figura 13). Para começar, podemos ver pelo gráfico que b, a interceção vertical da curva da procura, é 6. O declive é o rácio da distância vertical entre quaisquer dois pontos da reta (a “subida”) pela correspondente distância horizontal (o “avanço”). Por exemplo, se olharmos para o segmento da curva da procura entre os pontos A e B, a subida é ΔP = -1, uma vez que a linha desce o equivalente a uma distância vertical de 1 unidade entre A e B, e o avanço correspondente é ΔQ = 2000. Assim, o declive da curva de procura aqui verificado é m = ΔP / ΔQ = -1/2000. Conhecendo tanto o declive quanto a interceção vertical da curva de procura, também sabemos que a sua equação tem de ser 1 P=6- Q 2000 Para nos certificarmos de que esta equação está, de facto, correta, vejamos se funciona para os dois pontos com os quais começámos. A equação é válida, por exemplo, se considerarmos que P = 5 e Q = 2000? Claro que sim: 5 = 6 – (1/2000) (2000). De modo semelhante, podemos verificar que 4 = 6 – (1/2000) (4000). 6 A 5 ΔP 4 Preço (€/lata) ΔQ 3 2 1 0 2 4 6 8 10 12 Quantidade (milhares de latas/mês) Figura 14 – A procura de mercado para o atum em lata (formato gráfico) Dois importantes conceitos na abordagem aos preços e às quantidades das curvas da procura são a despesa total e a receita total. O montante total que os consumidores gastam num produto por dia deve ser igual ao montante total que os vendedores recebem. Assim, os termos da despesa total e da receita total são simplesmente duas faces da mesma moeda. Pode parecer que um aumento no preço de mercado de um produto deve sempre resultar num aumento da receita total recebida pelos vendedores, mas nem sempre isso acontece. A lei da procura diz-nos que quando o preço de um bem sobe, as pessoas o comprarão menos quantidade desse bem. Os dois fatores que comandam a receita total (preço e quantidade) mover-se-ão, sempre, desta forma, em direções opostas: quando os preços sobem e a quantidade desce, o produto dos dois pode subir ou descer. 30 Por exemplo, uma subida de €8 para €10 por refeição num determinado restaurante fará a despesa total em refeições, naquele restaurante, descer. Assim, as pessoas gastarão €1600 por dia em refeições, naquele restaurante, a um preço de €8, mas apenas €1000 a um preço de €10. A lei geral ilustrada por estes exemplos é que um aumento do preço produzirá um aumento na receita total sempre que for maior, em termos percentuais, do que a redução percentual correspondente na quantidade procurada. Repare-se no exemplo seguinte. Embora dois aumentos de preços possam ter o mesmo valor absoluto (€2 em qualquer dos casos, isto é de €2 para €4 e de €8 para €10), são muito diferentes quando expressos como percentagem do preço original. Um aumento de €2 para €4 representa um aumento de 100% no preço original, enquanto um aumento de €8 para €10 representa um aumento de apenas 25% no preço original. Assim, apesar de um decréscimo igual na quantidade procurada nas duas situações (por exemplo, 100 refeições), na primeira situação (de €2 para €4; de 500 para 400 refeições) o decréscimo corresponderá uma redução de 20% na quantidade e na segunda (de €8 para €10; de 200