Memória e Linguagem PDF
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Este documento apresenta um resumo sobre memória e linguagem, discutindo a definição, funções e conceitos fundamentais da memória, incluindo a memória explícita (declarativa) e implícita (de procedimento). Também aborda o estudo da memória e o seu substrato físico, com exemplos como a Aplysia e a potenciação a longo prazo.
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Memória e linguagem 1. Definição de Memória A memória é um processo cognitivo fundamental que permite a codificação, armazenamento e recuperação de informações. É a capacidade do cérebro de registrar experiências passadas, conhecimentos e habilidades, possibilitando que os indivíduos aprendam com o...
Memória e linguagem 1. Definição de Memória A memória é um processo cognitivo fundamental que permite a codificação, armazenamento e recuperação de informações. É a capacidade do cérebro de registrar experiências passadas, conhecimentos e habilidades, possibilitando que os indivíduos aprendam com o passado e utilizem essas informações no presente e no futuro. A memória não é um sistema unitário, mas sim composta por diferentes tipos e sistemas, incluindo: 2. Funções da Memória na Vida Cotidiana A memória desempenha várias funções essenciais na vida cotidiana, incluindo: Aprendizagem: A memória permite adquirir conhecimentos e habilidades, essenciais para a educação e desenvolvimento pessoal, com a memória semântica fornecendo a base de conhecimento necessária. Identidade Pessoal: A memória autobiográfica ajuda a formar a identidade pessoal ao recordar experiências passadas, enquanto a memória semântica contribui com conhecimentos gerais que também integram essa identidade. Tomada de Decisão: A memória possibilita a utilização de experiências passadas para avaliar opções e prever consequências, com a memória implícita influenciando de forma sutil as preferências. Interação Social: A memória facilita relações sociais, permitindo lembrar nomes, rostos e experiências partilhadas, sendo a memória semântica essencial para interações em conversas. Planeamento e Organização: A memória prospetiva permite organizar ações futuras, enquanto a memória implícita facilita a realização de tarefas rotineiras automaticamente. 3. Conceitos Fundamentais da Memória A memória não é uma função unitária, é composta por vários sistemas independentes e envolve múltiplos processos cognitivos. Memória Explícita (ou Declarativa): Envolve a recordação intencional de factos e acontecimentos. Memória Semântica: Relacionada ao conhecimento geral e factos. Memória Episódica: Associada a experiências pessoais e eventos específicos. Memória Implícita (ou de Procedimento): Aprendizagem que ocorre de forma não intencional e espontânea, incluindo o reconhecimento automático. Procedimentos: Habilidades motoras e procedimentos, como andar de bicicleta. Priming: Facilitação do processamento de estímulos com base em experiências anteriores. Condicionamento: Associação entre estímulos e respostas, muitas vezes inconsciente. 3.1) Exemplo de Amnésia (Caso de Clive Wearing) O caso de Clive Wearing ilustra que a memória é composta por sistemas distintos e independentes. Ele perdeu a capacidade de formar memórias explícitas, como recordar factos e eventos (memória declarativa), mas manteve a memória implícita, como tocar piano. A sua memória episódica e semântica estão gravemente comprometidas, mas as suas habilidades motoras permanecem intactas, evidenciando que os sistemas de memória operam de forma independente e envolvem diferentes áreas cerebrais. 1. MEMÓRIA Estudo da Memória e Substrato Físico O estudo da memória envolve a análise das mudanças eletrofisiológicas e neuroquímicas que ocorrem no cérebro como resultado da aprendizagem. Essas alterações incluem modificações nas sinapses e nos circuitos neurais, fundamentais para a consolidação de memórias. Avanços significativos na compreensão dos processos fisiológicos e bioquímicos têm sido alcançados através do estudo de organismos mais simples, como a Aplysia e o coelho: Aplysia (Kandel & Squire, 2002): Investigada por suas respostas de habituação, sensibilização e condicionamento clássico. Potenciação a Longo Prazo (LTP): Fenômeno observado em modelos como o coelho, que é essencial para a formação de memórias duradouras. Métodos de Investigação em Memória A memória é investigada através de métodos que variaram ao longo do tempo: Relatos (e.g., Bartlett, 1932): Inicialmente, a memória era estudada por relatos e reconstruções de histórias, observando-se como a informação é alterada na sua codificação. Tarefas Experimentais: Com o avanço da psicologia experimental, passaram a ser utilizadas tarefas controladas que permitem uma avaliação precisa do desempenho dos indivíduos, incluindo: Número de acertos e tipos de erro como indicadores de desempenho. Tarefas para Avaliar a Memória A avaliação da memória inclui vários tipos de tarefas, cada uma medindo diferentes processos mnésicos: 1. Tarefas de Evocação: ❖ Evocação Simples: A pessoa deve produzir uma informação específica, como preencher uma frase incompleta. ➔ Exemplo: "O filme ____________ relata a história de um indivíduo com amnésia anterógrada." ❖ Evocação em Série: O indivíduo deve repetir uma lista de itens na ordem exata de apresentação, como em tarefas de memória de dígitos usadas no WISC ou WAIS. ❖ Evocação Espontânea: O sujeito deve repetir itens de uma lista, mas sem a necessidade de respeitar a ordem apresentada. ➔ Exemplo: "banana, janela, bolota, colher, girafa..." 2. Tarefas de Memória Associativa: ○ Consiste em recordar pares de itens previamente memorizados. Dado um item, a pessoa evoca o seu par correspondente. ○ Exemplo: "tempo – cidade", "laranja – maçã". 3. Tarefas de Reconhecimento: ○ O sujeito deve identificar ou selecionar um item que tenha aprendido previamente entre várias opções. ○ Exemplo: "O termo para pessoas com graves problemas de memória é: (a) prosopagnósicos; (b) amnésicos; (c) impressionistas." Conceitos Fundamentais na Memória A memória e a aprendizagem envolvem três processos principais: 1. Codificação: Transformação da informação sensorial em um traço mnésico. 2. Armazenamento: Retenção da informação codificada ao longo do tempo. 3. Evocação: Recuperação da informação armazenada quando necessário. Esses processos são influenciados por vários fatores: Estímulo: Tipo de material a ser memorizado (palavras, imagens, acontecimentos). Participante: Características individuais como idade, escolaridade e experiência. Codificação: Estratégias de retenção, como a memorização do som ou do significado de uma palavra. Evocação: Forma de recuperação, que pode ser por recordação livre, reconhecimento ou com pistas. Arquitetura do Sistema de Memória A memória é organizada em diferentes estruturas: Modelo de Multi-Armazéns: Distingue a Memória a Curto Prazo (MCP) e a Memória a Longo Prazo (MLP). Armazém de Memória Unitário: Alternativa ao modelo de multi-armazéns, que propõe uma estrutura única, embora dividida em diferentes processos mnésicos. Processos Mnésicos Os processos mnésicos referem-se às atividades que ocorrem dentro do sistema de memória, como a organização e manipulação da informação, que são essenciais para uma memória eficaz e para o desempenho em tarefas de evocação e reconhecimento. 2. ESTRUTURA DA MEMÓRIA 2.1) MODELO ESTRUTURAL DE MÚLTIPLOS ARMAZÉNS A memória é frequentemente dividida em sistemas baseados no Modelo Estrutural de Múltiplos Armazéns, que distingue entre três armazéns principais: Memória Sensorial (MS), Memória de Curto Prazo (MCP) e Memória de Longo Prazo (MLP). Cada uma dessas memórias apresenta características específicas quanto à capacidade, duração e tipo de armazenamento. 1. Memória Sensorial (MS) A Memória Sensorial retém brevemente a informação que recebemos através dos sentidos. Possui uma capacidade muito breve e específica ao domínio sensorial (visual, auditivo, etc.). Memória Icónica: Relacionada à informação visual, foi amplamente estudada por Sperling (1960), que demonstrou que esta memória decai rapidamente, entre 0,5 e 1,6 segundos. Landmann et al. (2003) e Coltheart (1983) sugerem que os processos perceptivos operam sobre o "icon" ou representação visual armazenada temporariamente. Memória Ecóica: Armazena informações auditivas, com uma duração um pouco mais longa, geralmente em torno de 2 segundos. Estudos como o de Treiman (1964), usando a tarefa de "shadowing", mostram como essa memória é mantida momentaneamente antes de decair. 2. Memória de Curto Prazo (MCP) A Memória de Curto Prazo é caracterizada por uma capacidade limitada e uma fragilidade no armazenamento. De acordo com Miller (1956), a MCP possui uma capacidade média de 7±2 unidades de informação (conhecido como "memory span"), que pode incluir números, letras ou palavras. Estudos posteriores, como os de Simon (1974) e Cowan (2000), sugerem que a capacidade real pode ser menor, dependendo da complexidade das unidades e da influência de ensaios ou da MLP. Efeito de Recência: Descrito por Glanzer & Cunitz (1966), o efeito de recência refere-se à tendência de recordar mais facilmente os últimos itens de uma lista. Whitten (1974) observou que, mesmo após uma tarefa de interferência de contagem regressiva, o efeito de recência persiste por até 12 segundos. Activação e Fragilidade: Segundo Shiffrin (1999) e Nairne (2002), a informação na MCP é frágil e pode desaparecer rapidamente se a ativação não for mantida através de ensaio. Quando a ativação é interrompida, a informação sai da MCP. Capacidade limitada e esquecimento: A MCP é afetada tanto pela decadência do traço mnésico (esquecimento com o tempo) quanto pela interferência proativa (Keppel & Underwood, 1962). Evidências: Memória para palavras curtas vs. longas: Segundo Baddeley, Thomson e Buchanan (1975), a MCP é mais eficaz para palavras curtas. Em contrapartida, Lovatt, Avons e Masterson (2000) não encontraram diferenças significativas em palavras dissilábicas de diferentes durações de pronúncia. Decadência do traço mnésico: Peterson & Peterson (1959) observaram que, sem ensaio, a informação na MCP decai rapidamente. Por outro lado, Nairne, Whiteman e Kelley (1999) sugerem que este esquecimento pode ser mitigado por pistas de evocação (Tehan & Humphreys, 1996).