Aula 02 - A Era Conciliar PDF
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This document discusses the history of Church councils, focusing on the significance and impact of these historical gatherings. It explores the complexities of the Church's history and examines different perspectives on the councils and their lasting influence.
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HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 02 Aula 02 A era conciliar Definindo Concílio. O concílio (palavra de origem latina), entretanto, é uma reunião de todos os bispos da cristandade, portanto tem um alcance geral. Quanto ao termo ecumênico oi...
HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 02 Aula 02 A era conciliar Definindo Concílio. O concílio (palavra de origem latina), entretanto, é uma reunião de todos os bispos da cristandade, portanto tem um alcance geral. Quanto ao termo ecumênico oikouméne, que Entretanto, o termo também pode ser empregado para denotar também o impacto e abrangência que as decisões doutrinárias advindas destas reuniões tiveram em toda a cristandade. Os Concílios Ecumênicos na História da Igreja Cristã Os grandes concílios ecumênicos dos séculos IV e V da era cristã se espelharam na primeira reunião eclesiástica de Jerusalém, que se reuniu, segundo o livro de Atos capítulo 15, para deliberar sobre as questões pertinentes à inclusão dos gentios à comunidade de fé sem precisar passar pelos ritos judaicos. A história dos concílios é tão complexa, como é complexa a própria história da Igreja Cristã através dos séculos. Foram diferentes em importância, duração e alcance. Nem todos os concílios, apesar de levarem o nome de ecumênicos, tiveram validade para a Igreja Cristã como um todo, Por isso, dependendo da tradição cristã, há a aceitação de uns em detrimento de outros. Tomemos como exemplo a tradição protestante que aceita apenas os quatro primeiros: Niceia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451). A Igreja Ortodoxa do Oriente aceita apenas os sete primeiros, incluindo 2º e o 3º de Constantinopla (553 e 680 681) e o 2º de Niceia (787). Já a Igreja Assíria do Oriente, rejeita tanto Éfeso HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 01 1 HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 02 (431) quanto os posteriores. Depois de 2º Nicéia, houve uma série de concílios eminentemente católico romano, começando na idade média com o 4º de Constantinopla (869 70), até o último e com certeza dos mais importantes Vaticano II em 1962. Breve descrição dos Concílios: de Nicéia a Constantinopla II Uma pergunta que emerge naturalmente, ante a extensão e importância dos vinte e um concílios é porque selecionar apenas cinco e não descrever todos eles? Acredito que os três grandes ramos existentes do cristianismo: catolicismo ortodoxo, catolicismo romano e protestantismo não estão de acordo com a legitimidade de todos eles. No entanto, há uma concordância unanime entre as três tradições quanto às decisões doutrinárias maiores tomadas nos cinco primeiros que vai de Nicéia à Constantinopla II. Estes cinco concílios tiveram sua importância dentro de seu contexto histórico, teológico e administrativo para as três vertentes cristãs. Começamos, portanto, com o primeiro Concílio Ecumênico da História Nicéia. Niceia (325), depois de três séculos é o primeiro a reunir quase toda a cristandade para discutir o espinhoso tema exposto por Ário, bispo de Alexandria, sobre a divindade do Filho. Para ele Jesus foi uma criatura de Deus. Ele acaba sendo condenado como herético e momentaneamente exilado. O Concílio proclama a igualdade de natureza entre o Pai e o Filho e redige o credo niceno. Constantinopla (381), reafirma o credo niceno e expande ainda mais a compreensão sobre a doutrina da Trindade afirmando a natureza divina do Espírito Santo. Também condena a doutrina do bispo Apolinário que ensinava não haver alma ou mente humana em Cristo. Éfeso (431), reafirma os cânones de Constantinopla e condena o nestorianismo, doutrina ensinada pelo bispo Nestor de que havia duas pessoas em Cristo. HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 01 2 HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 02 Calcedônia (451), Condenação do monofisismo, doutrina que afirma haver em Cristo apenas uma natureza. O Concílio afirma a unidade completa das duas naturezas em Jesus Cristo humana e divina. Constantinopla II (553) Condena os ensinamentos de Orígenes e outros. Condena os documentos nestorianos. A importância do Concílio de Nicéia. Foi a primeira vez que bispos do oriente (maioria da cristandade na época) e do ocidente se reuniam para tratar de um assunto comum. Um assunto que estava abalando o império a cristologia. Ário, presbítero de Alexandria, entrou em um debate teológico com Alexandre bispo de Alexandria sobre a divindade do filho. Para a teologia ariana, a cristologia resumia-se em afirmar que Cristo não era igual a Deus, mas uma criatura do Deus verdadeiro, portanto, para ele houve um tempo na eternidade que Cristo não existia. Dos cinco primeiros concílios exposto brevemente acima, acredito que Niceia deve vigorar como o mais importante deles, não só pelo seu pioneirismo, mas pela sua influência duradoura para toda a Igreja cristã. Nicéia lança com bastante sucesso um padrão que será repetido por muitos séculos. Nicéia passa a ser um paradigma para as disputas doutrinárias posteriores, mas com um diferencial: as decisões oriundas dos líderes eclesiásticos ganha força de lei imperial. Por exemplo, antes do Concílio de Nicéia, a doutrina de Ário, já havia sido condenada em um Sínodo local, na cidade de Alexandria (320-1). Todavia, as decisões dos Sínodos até então se restringiam apenas na esfera eclesiástica. A influência política do Imperador Constantino faz com que o Sínodo ecumênico tivesse um caráter fortemente político, o que será repetido pelos seus sucessores. HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 01 3 HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 02 O primeiro Concilio Ecumênico da História do Cristianismo lançaria ainda as bases da doutrina da Trindade que seria mais bem elaborada nos escritos posteriores de Atanásio e Nissa no Concílio de Constantinopla (381). A própria decisão sobre a divindade de Cristo não logrou grande êxito em princípio, haja vista uma parte dos bispos do oriente ainda continuarem partidários do arianismo. Como exemplo dessa resistência pode-se citar a evangelização de tribos bárbaras pelos arianos como foram os Godos. O arianismo foi paulatinamente perdendo força para ser ressuscitado em seitas cristãs menores como as Testemunhas de Jeová. Podemos dizer, que os concílios foram importantes na história da Igreja Cristã, pois foi um modo democrático encontrado para dirimir problemas, propor soluções e tomar decisões de diversas ordens. Todavia, a religião também se configura como espaço político, no sentido mais amplo dessa palavra. As decisões tomadas pela igreja seja ela local ou não, tem caráter político, pois trata da distribuição e impetração do poder exercido hierarquicamente dentro de uma sociedade comunitária de fé. Mas com Nicéia, temos uma expansão da política social para a política imperial, onde as decisões tomaram caráter legal. Esse novo modelo de intromissão imperial foi seguido por algum tempo dentro do cristianismo. O modelo Constantiniano é um bom exemplo para analisar até que ponto Estado e Religião podem andar juntos. Quais seriam os limites e as consequências para a laicidade do Estado? São questões pertinentes que poderiam ser exploradas em futuras pesquisas. * Baseado no artigo de Paulo C. da Silva, A importância do concílio de Niceia, disponível em http://www.cacp.org.br/a- importancia-do-concilio-de-niceia/. HISTÓRIA DA TEOLOGIA : AULA 01 4