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APOSTILA CEFC 2024 - COMPLETA CONFOME O BOLETIM.pdf

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APOSTILA CEFC 2024 BOLETIM DA SEDEC/CBMERJ Nº 111, DE 19/06/2024 Teoria de Combate a Incêndio Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 339 a 398 GRADE CURRICULAR - CEFC Manu...

APOSTILA CEFC 2024 BOLETIM DA SEDEC/CBMERJ Nº 111, DE 19/06/2024 Teoria de Combate a Incêndio Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 339 a 398 GRADE CURRICULAR - CEFC Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 413 a 427 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 425 a 431 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 456 a 460 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 461 a 484 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 495 a 498; pág. 448 a 453 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 500 a 526 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 530 a 537 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 537 a 540; 542 a 556 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 3 - pág. 540 a 541 Teoria de Busca e Salvamento Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 169 a 174 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 176 a 180 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 180 a 182 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 180 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 182 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 183-186 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 198 a 204 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 204 a 210 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 210 a 216 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 216 a 218; pág. 268 a 285 Manual Básico de Bombeiro Militar - Volume 2 - pág. 288 a 289 Manual de Salvamento Terrestre - pág. 76 a 91 (exceto subitens 4.8.1 a 4.8.4) Manual de Salvamento Terrestre - pág. 91 a 95 Manual de Salvamento Terrestre - pág. 130 a 132 Manual de Salvamento Veicular - pág. 13 a 45 Teoria de Atendimento Pré -Hospitalar Manual do Socorrista Militar - 99 a 108 Manual do Socorrista Militar - pág. 92 a 97 Manual do Socorrista Militar - pág. 204 a 209 e 231 a 234 Manual do Socorrista Militar - pág. 59 a 71 Manual do Socorrista Militar - pág. 155 a 161 Manual do Socorrista Militar - pág. 170 a 195 Manual do Socorrista Militar - pág. 273 a 279 Manual do Socorrista Militar - pág. 299 a 312 Teoria de Ordem Unida Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 26 Hino Nacional Brasileiro Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 27 Hino à Bandeira Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 29 Hino Soldado do Fogo Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 31 Hino da ABMDP II e Hino do CFAP Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 83 a 87 Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 88 a 89 Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 88 a 92 Manual Básico de Bombeiro Militar, vol. 1 - pág. 92 Manual de Campanha EB70-MC-10308 4ª ed. 2019 - pág. 1-8 a 1-10, 1-15 a 1-16 Manual de Campanha EB70-MC-10308 4ª ed. 2019 - pág. 2-1 a 2-7 e 2-10 a 2-15 Manual de Campanha EB70-MC-10308 4ª ed. 2019 - pág. 2-1 a 2-7 Manual de Campanha EB70-MC-10308 4ª ed. 2019 - pág. 4-1 a 4-16 PORTARIA GM-MD Nº 1.143, DE 03 DE MARÇO DE 2022 pág. 1 a 9 - Generalidades, Sinais de respeito, Continência PORTARIA GM-MD Nº 1.143, DE 03 DE MARÇO DE 2022 pág. 9 a 17 - Apresentação, Continência da tropa, Continência da guarda e sentinela PORTARIA GM-MD Nº 1.143, DE 03 DE MARÇO DE 2022 Legislações e Regulamentos DECRETO Nº 4.58l, DE 24 DE SETEMBRO DE 1981 - Regulamento de promoção de Praças Decreto nº 22.169, de 13 de maio de 1996 - Lei de organização básica do CBMERJ Decreto nº 48.699, de 19 de setembro de 2023 Nova Estrutura SEDEC e CBMERJ RDCBMERJ Material organizado por Cb Max de acordo com a grade curricular e conteúdo bibliográfico publicado no BOLETIM DA SEDEC/CBMERJ Nº 111, DE 19/06/2024 TEORIA DE COMBATE A INCÊNDIO TÉCNICA E MANEABILIDADE EM camada que se situa ao redor do átomo, chamada ele- trosfera. O átomo ainda possui um núcleo, onde se locali- COMBATE A INCÊNDIO zam os prótons que são partículas de carga positiva e os nêutrons que não possuem carga. 10. ESTUDO DA COMBUSTÃO Apesar dos nêutrons não possuírem carga, os mesmos possuem um papel de grande relevância na estrutura do 10.1. Constituição e propriedades da átomo como uma espécie de “estabilizador” do núcleo, já matéria que na natureza partículas de mesma carga se repelem Para que possamos ter a perfeita compreensão dos entre sim, logo, sem os nêutrons, o núcleo não seria está- efeitos e do desenvolvimento da combustão é preciso vel, pois os prótons não conseguiriam manter, sozinhos, a entender primeiramente a constituição física e química estabilidade do núcleo do átomo. da matéria que é formada por partículas de tamanho ex- Normalmente para formar a matéria, os átomos bus- tremamente reduzido, chamadas de átomos. cam cominar-se entre si ou com outros átomos, buscan- do uma estabilidade maior, quanto estes elementos se Elétron combinam, são formadas as moléculas. Próton Nêutron Fig. – Molécula da água 10.1.1. Os estados físicos da matéria A matéria pode se apresentar em três estados físicos – sólido, líquido e gasoso. Neste momento faremos uma breve análise de cada um deles levando em conta três as- pectos: a força de ligação entre as moléculas, a forma e a Fig. – Átomo de Rutherford compressibilidade. É de vital importância o entendimen- to destes fatores já que os mesmos influenciam direta- O átomo é constituído por três tipos de partículas mente no desenvolvimento do fenômeno da combustão. basicamente – os elétrons que possuem carga negativa têm uma massa muito pequena se comparado aos outros No estado sólido existe uma força de interação relativa- tipos de partículas do átomo, eles se localizam em uma mente muito forte entre as moléculas, de forma que a com- Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 339 pressibilidade torna-se quase inexistente e, por conseguin- Importante frisar que a luz produzida pela combustão te, quando a matéria encontra-se neste estado, sua forma recebe a denominação de chama e é normalmente concei- é fixa. Temos como exemplo: o carvão, o papel e a madeira. tuada como a parte visível da combustão, embora esta as- sertiva não uma regra já que há materiais que ao entrarem No caso do estado líquido a força de interação, se em combustão não apresentam uma chama visível. comparada com os sólidos, é menor e em função disso a sua forma é variável e apresenta um pequeno grau de O conceito de incêndio está relacionado ao fogo que compressibilidade, estas características fazem com que foge ao controle do homem e, uma vez que haja esta possamos fazer o transbordo de entre recipientes de vo- perda do controle este incêndio provoca danos ao patri- lumes e estrutura diferentes, já que o material irá adap- mônio e aos seres humanos, este tipo de evento recebe tar-se a este novo receptáculo. Temos como exemplo: a também a denominação de sinistro. água, a gasolina e o diesel. A temperatura atingida neste tipo de reação é alta em Já no estado gasoso, a força de interação entre as molé- função da incapacidade dos mecanismos de transferên- culas é relativamente muito pequena, de forma que o gás é cia de energia – condução, convecção e radiação, de dis- um material que ocupa todo o volume de seu receptáculo persar rapidamente a energia liberada. Em função disso e é altamente compressível, temos o exemplo do Gás Na- este processo é considerado rápido e praticamente adia- tural Veicula (GNV) onde se comprime vários metros cúbi- bático (CUOGUI, 2006). cos de gás em um cilindro de dimensões muito reduzidas. Ao observar-se o fogo em madeira, por exemplo, co- Como exemplo, temos: GNV, oxigênio e hidrogênio. mumente tem-se a idéia errônea de que aquele material TABELA 1 – ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA está queimando diretamente por assim dizer. Na verda- de, no caso da madeira, assim como em todos os mate- Estado Energia de inte- Compressibi- Forma riais orgânicos (materiais que contém o elemento carbo- físico ração relativa lidade no em sua composição) o que se inflama na verdade são Quase inexis- Sólido Fixa Grande os gases ou vapores liberados por eles quando aqueci- tente dos, ou seja, normalmente ocorre um pré-aquecimento Pouco com- Líquido Variável Média daquele material até a temperatura que o mesmo come- pressível Muito com- ce a liberar gases para que então a combustão se inicie, Gasoso Variável Pequena dependendo desta temperatura aquela reação iniciada pressível Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br será autossustentável ou não. Com este breve estudo podemos perceber que a matéria se comporta de formas diferentes dependendo de alguns fatores, na tabela acima, por exemplo, temos um resumo superficial, porém elucidativo de como o estado físico pode interferir sensivelmente neste comportamento. 10.1.2. O fenômeno da combustão O fogo pode ser definido com o resultado de uma re- ação química entre combustível e comburente. A reação de combustão pode ser entendida como uma reação oxi- dante exotérmica: oxidante por ser uma reação química que consome oxigênio (O2) e, exotérmica porque libera Fig. generalização do incêndio calor durante a reação (DRYSDALE, 1998). fonte: Explosion Fumées - Embrasemente 340 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ A esta regra sobre materiais orgânicos faz-se uma ex- responsável por 99,9% das combustões e está contido ceção ao carvão, em sua forma mineral ou vegetal, pois a no ar que respiramos que tem em sua composição apro- combustão no mesmo se processa através de uma rea- ximadamente: 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% ção superficial com o oxigênio – incandescência. de outros gases. Pode-se fazer uma relação da periculosidade do Em resumo, pode-se afirmar o seguinte (ENB, 2006): material com a temperatura na qual o mesmo come- Combustível: substância que reage no seio de ça a liberar gases combustíveis, ou seja, quanto mais um gás; baixa a temperatura para ocorrer essa liberação, mais Comburente: corpo gasoso ou atmosfera que suscetível à combustão ele é, logo possui maior peri- envolve o combustível e que com ele reage na culosidade e requer, portanto, maiores cuidados em combustão. seu manuseio. Na figura 3, podemos vislumbrar o fenômeno da com- Como dito anteriormente, a maior parte das reações de bustão de uma maneira genérica. No esquema em ques- combustão se dão na fase gasosa. Caso o combustível seja tão existe a ocorrência de uma chama inicial, esta come- líquido ele evapora e, em contato com o oxigênio e com a ça a destilação do combustível sólido (pirólise), desta energia de ativação, ele se inflama. Na maior parte dos só- forma existe uma liberação de gases pelo combustível lidos a combustão está relacionada com a queima de gases e, então, estes gases, em contato com o oxigênio, vão (combustão flamejante) que se originam da destilação dos sendo aquecidos até o ponto de entrarem em ignição, constituintes voláteis do material sólido (pirólise). gerando reações exotérmicas que irão retroalimentar o A combustão (fogo), portanto, não pode existir sem processo. combustível e comburente. O oxigênio é o comburente (comburente) Chama Inicial Calor Chamas Fig. – O fenômeno da combustão (Fonte: MELHADO, 1990) Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 341 10.1.3. Triângulo do fogo por sua vez, combinam-se com uma molécula de oxigê- nio, originando assim outro radical livre (OH0), propagan- Na busca do entendimento dos fatores necessários do-se desta forma a reação de combustão (ENB, 2006). para que houvesse a combustão, durante muito tempo acreditou-se que apenas três elementos seriam neces- sários: combustível, comburente e energia de ativação. Para tanto se buscou uma forma didática para disse- minar este conceito, daí foi criado o triângulo do fogo, aproveitando a forma geométrica para a associação dos três elementos básicos para a combustão. Como apre- sentado na figura 5. Com a constatação da existência da reação em cadeia obtemos, portanto, mais uma face em nossa represen- tação didática do fogo e a esta figura denominamos de tetraedro do fogo. É importante observarmos que independente da re- Fig. – Triângulo do fogo presentação que haja em relação ao fenômeno da com- bustão, o que deve ficar claro é que se for retirado do 10.1.4. Tetraedro do fogo processo qualquer um dos elementos que a compõe – combustível, comburente, energia de ativação e reação Com o decorrer dos avanços científicos observou-se em cadeia – a mesma será interrompida, na verdade os que além dos três fatores anteriormente expostos, para métodos de extinção de incêndio baseiam-se exatamen- a ocorrência da combustão era necessária a presença de te na supressão destes componentes da combustão, a um quarto elemento: a reação em cadeia. seguir faremos uma análise de cada um destes elemen- Com a reação química da combustão ocorre a forma- tos. ção de radicais livres que contém uma elevada quantida- de de energia e, desta forma, estes elementos reagem 10.1.4.1. Energia de ativação com outras moléculas formando mais radicais livres e as- Quando falamos em energia de ativação da combus- sim sucessivamente, de forma a expandir a combustão. tão, nos referimos ao componente energético capaz de Temos, por exemplo, o caso da combustão do hidrogê- fazer com que a temperatura do combustível aumente nio em que suas moléculas, em função do calor, dividem- para que haja então a liberação dos gases que sofrerão a se dando origem a radicais livre de hidrogênio (H0) que, queima, a esta energia denominamos calor. 342 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ Durante muito tempo associou-se o calor diretamen- ativação pode ser qualquer elemento que faça com que te ao conceito de agente ígneo (chama), com o avanço o combustível, independentemente de seu estado físico, nos estudos a este respeito, verificou-se que esta as- desprenda gases combustíveis. sociação nem sempre ocorre na prática. A energia de TABELA 2 – PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA DE ATIVAÇÃO Tipo de fonte Origem Exemplos Resistência Aquecedor elétrico Elétrica Arco voltaico (faísca) Cabo de alta tensão quebrado em contato com solo Eletricidade estática Descarga entre extintor e terra após esvaziamento Fricção Contato não lubrificado entre peças metálicas Mecânica Compressão Compressão de um gás em um cilindro Superfícies quentes Placa de um fogão Térmica Radiação Exposição intensa e continuada ao sol Química Química Limalha de ferro + óleo / algodão + óleo Fonte: ENB, 2006. Não devemos menosprezar, portanto a energia calo- portanto, que uma fonte de calor não se resume a chama. rífica acumulada em maquinários industriais, fogões ou A tabela 3 traz a informação das principais fontes de equipamentos que acumulem calor, pois estas fontes po- calor capazes de dar início a um incêndio. dem ser capazes de iniciar um incêndio. Deve ficar claro, TABELA 3 – ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DE ALGUMAS FONTES DE CALOR Fonte de calor Temperatura (oC) Vela 700 – 1400 A 15 cm da chama da vela 200 Arco elétrico 4000 Chama do álcool 1200 – 1700 Chama de fósforo 1500 Chama de gás 1000 – 1500 Cigarro 300 – 400 Fósforo 800 Lâmpada 170 – 200 Madeira queimando 1000 – 1400 Oxi-acetileno 2000 – 3000 Fonte: Tactical firefighting, Paul Grimwood Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 343 Em resumo, podemos dizer que o Calor em uma rea- ção de combustão é: O elemento que causa a vaporização do com- bustível líquido e a termólise do combustível sólido; O elemento que serve para dar início a uma com- bustão, promovendo o crescimento e aumen- tando a propagação das chamas; Componente energético que eleva a tempera- tura, gerada da transformação de outra energia, através de processo físico ou químico. Importante não confundir Pirólise com Termólise: Pirólise: processo de decomposição em razão do fogo, resultando na liberação de vapores combustíveis nos materiais sólidos; Termólise: processo de decomposição em razão do calor, resultando na liberação de vapores combustíveis nos materiais sólidos; não se faz necessário ter a pre- sença de chamas para ocorrer a decomposição. O mero aquecimento, mesmo em ambiente sem oxigênio capaz de sustentar a chama, pode resultar na decomposição de um sólido com a liberação de vapores combustíveis. 10.1.4.1.1. Efeitos físico-químicos do calor O calor é uma forma de energia que altera a temperatura e é gerada pela transformação de outras formas de energia. A energia de ativação está intimamente ligada à temperatu- ra, proporcionando o seu aumento. O calor gerado irá produ- zir efeitos físicos e químicos nos corpos e efeitos fisiológi- cos nos seres vivos. Como os que vemos a seguir: Aumento/Diminuição da Temperatura - O aumento ou diminuição da temperatura acontece em função do calor, que é uma forma de energia transferida de um cor- po de maior temperatura para um de menor temperatu- ra. Este fenômeno desenvolve-se com maior rapidez nos conforme o aumento ou diminuição de temperatura. corpos considerados bons condutores de calor e mais A dilatação/contração pode ser linear, quando apenas lentamente nos corpos considerados maus condutores. uma dimensão tem aumentos consideráveis; superficial, quando duas dimensões têm aumentos consideráveis; e Dilatação/Contração Térmica - É o fenômeno pelo volumétrica, quando as três dimensões têm aumentos qual os corpos aumentam ou diminuem suas dimensões consideráveis. 344 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ Cada material tem seu coeficiente de dilatação térmica, O calor é a causa direta da queima e de outras formas ou seja, dilatam mais ou menos dependendo da matéria. Este de danos pessoais. Danos causados pelo calor incluem fator pode acarretar alguns problemas, como por exemplo, desidratação, câimbra, intermação, fadiga e problemas uma viga de 10 m exposta a um aumento de temperatura na para o aparelho respiratório, além de queimaduras (1º, 2º ordem 700º C. Com esse aumento de temperatura, o ferro, e 3º graus), que nos casos mais graves podem levar até a dentro da viga, aumentará seu comprimento em 84 mm, morte (CBMES, 2014). aproximadamente, e o concreto, apenas em 42 mm. A fadiga em decorrência da exposição ao calor é um Sendo assim, o ferro tende a deslocar-se no concreto, fator importante a ser levado em consideração para as perdendo a sua capacidade de sustentabilidade, para a atividades de bombeiro já que este processo de des- qual foi projetado. gaste é aumentado por estes fatores adversos. Em am- A compreensão destas características do compor- bientes com elevadas temperaturas o desgaste é po- tamento dos materiais é fundamental quando executa- tencializado, provocando principalmente o aumento da mos as atividades de combate a incêndios, já que se as frequência cardiorrespiratória, grande perda de líquido estruturas sofrem dilatação quando aquecidas, sofrem pela transpiração, gerando a desidratação e compilando contração quando resfriadas, de forma que a utilização ainda mais na causa de exaustão. da água deve ser feita racionalmente para que não gere A combustão gera também a fumaça e esta carreia um colapso na estrutura do local sinistrado. muitas partículas em sua composição, algumas partícu- 10.1.4.1.2. Efeitos fisiológicos da las são irritantes, mas existem aquelas que podem ser combustão fatais ao bombeiro que venha a inalá-las, a penetração destas no organismo dependem de seu tamanho. Um fator fundamental a ser compreendido pelo bom- beiro é o relacionado à presença de gases nocivos que são produzidos pela combustão. Em um incêndio existe principalmente a produção gases tóxicos – que reagem com células e tecidos prejudicando o carreamento de oxigênio no organismo, e de gases asfixiantes – que des- locam o oxigênio do ambiente, diminuindo a concentra- ção deste gás e trazendo risco a vida. Baseados nestes conhecimentos percebemos que Fig.– efeitos fisiológicos do calor de forma alguma o equipamento de proteção respira- tória (EPR) deve ser ignorado em caso de incêndio, pois Faz-se necessário, ainda que neste momento de for- além dos gases presentes no sinistro serem nocivos ou ma superficial, uma breve explanação no sentido de aler- até mesmo letais, muitos deles são inodoros e incolores tar aos bombeiros militares quanto aos principais efei- o que não permite que o bombeiro, utilizando seus pró- tos que a combustão pode causar aos seres humanos. prios sentidos, possa identificá-los ou quantificá-los. O calor, por si só, pode promover mudanças nos am- Os principais gases produzidos em um incêndio são bientes em que esteja atuando, como é decorrente da o monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), combustão e esta consome comburente, uma das pri- dióxido de nitrogênio (NO2), acroleína, dióxido de enxo- meiras implicações é a deficiência de oxigênio no local, fre (SO2), ácido cianídrico (HCN), ácido clorídrico (HCl) e especialmente se este for fechado. amônia (NH3). (CBMDF, 2006). Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 345 Discorreremos a seguir, de forma sucinta, a respeito morte em poucos segundos, pois sua toxidade é vinte das características destes produtos: vezes maior que a do monóxido de carbono. Após entrar i) Monóxido de Carbono (CO) – é o principal agente no organismo o ácido associa-se com a hemoglobina do causador de mortes nos incêndios, inodoro e incolor. sangue, impedindo que estas façam o transporte de oxi- Possui uma densidade próxima a do ar atmosférico. Uma gênio, através das hemácias, para os tecidos do corpo, fumaça mais escura normalmente é um indício de com- matando a pessoa por asfixia química. bustão incompleta de materiais e este processo produz iv) Ácido Clorídrico – Forma-se nos incêndios em am- altas concentrações de CO. Este gás possui uma afini- bientes que contenham materiais que possua cloro em dade maior que a do oxigênio em relação à hemoglobi- sua composição, como o PVC. A inalação deste compos- na (responsável pelo transporte do O2 para as células e to é corrosiva para o trato respiratório superior e pode tecidos), na ordem de 200 a 300 vezes, de forma que o causar necrose do epitélio bronquial, além de ser irritan- monóxido de carbono, uma vez combinado com ela, impe- te para os olhos, membranas de mucosas e pele. de que a mesma possa se ligar ao oxigênio, fazendo uma asfixia química no indivíduo e, muitas vezes, o levando v) Acroleína – A acroleína produz irritação do trato à morte. Concentrações de um milésimo (1/1000) de 1% respiratório, aumenta a resistência das vias aéreas e de monóxido de carbono no ar já produzem sintomas de diminui a freqüência respiratória. Exposições ao vapor envenenamento e concentrações em torno de 4% são de acroleína, em concentrações baixas como 10 PPM, letais em 50% da população exposta por menos de 30 podem levar a edema pulmonar e morte. A inalação pode minutos (MARZZOCO, 1985). também causar uma reação asmática em indivíduos sen- síveis. ii) Dióxido de Carbono (CO2) – Gás predominante- mente asfixiante que tem como principal característica vi) Amônia – A amônia é um agente irritante e o efeito a capacidade de deslocar o oxigênio do ambiente, dimi- principal e mais imediato da sua exposição é queimadu- nuindo a concentração deste no local. Esse é mais um ras na pele, olhos e trato respiratório. A inalação pode fator importante da utilização de EPR autônomo, já que levar à morte. desta forma consumiremos um ar respirável indepen- Como pudemos perceber existe uma grande gama de dente da atmosfera ambiente. Importante ressaltar nes- te momento que Segundo WICKHAM ( 2003, apud CIPO- perigos ocultos na fumaça gerada em um incêndio e es- LATTI, 2014), “o dióxido de carbono é tóxico, causa danos tes não podem ser percebidos utilizando apenas nossos e morte, interferindo nas funções do sistema nervoso sentidos, portanto temos na utilização dos equipamen- central. Afirma que este gás é letal em concentrações tos de proteção individual (EPI) a única forma segura de muito abaixo das utilizadas nos sistemas de extinção atuarmos. O EPI em si, especialmente nos primeiros con- de incêndios por inundação total, e apresenta, ainda, os tatos, pode dar a impressão de ser um agente dificulta- efeitos da exposição humana a diferentes concentra- dor na execução do socorro, por eventualmente restrin- ções e durações, destacando-se: 6% de CO2, durante 1 gir a movimentação, ou diminuir tato ou visibilidade, mas a 2 minutos, causam distúrbios visuais e auditivos; 10 a com o treinamento e a adaptação correta percebe-se 15% de CO2, durante um minuto, causam tonturas, sono- que é perfeitamente possível o desenvolvimento de to- lência, espasmos musculares e inconsciência, e; 17 a 30% das as atividades de bombeiro utilizando os equipamen- de CO2, em menos de um minuto, causa perda de coorde- tos de proteção individual e que na verdade, não se pode nação motora, inconsciência, convulsões, podendo levar executar, de forma segura, qualquer atividade de socorro ao coma e à morte”. desprovido deles. iii) Ácido Cianídrico (HCN) – É o gás mais tóxico con- Abaixo será apresentada uma tabela contendo os tido na fumaça, quando inalado pode levar o indivíduo a efeitos dos principais gases presentes na fumaça: 346 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ Gás Origem Efeitos toxicológicos Não é tóxico, diminui o oxi- Dióxido de carbono (CO2) Produto comum em combustão gênio respirável Monóxido de carbono (CO) Produto comum em combustão Veneno asfixiante Combustão de materiais à base de nitrato, celu- Óxidos de nitrogênio (NO2eNO) Irritante respiratório lose e têxtil Nylon (poliamida), poliuretano, poliacrilonitrila, Ácido cianídrico (HCN) Veneno asfixiante borracha, seda Tóxico, com cheiro repug- Ácido sulfúrico (H2S) Compostos contendo enxofre, óleo cru, lã nante Cloreto de polivinil, alguns materiais retardan- Ácido clorídrico (HCl) Irritante respiratório tes ao fogo Ácido bromídrico (HBr) Alguns materiais retardantes ao fogo Irritante respiratório Ácido fluorídrico (HF) Polímeros que contenham flúor Tóxico e irritante Dióxido de Enxofre (SO2) Materiais que contenham enxofre Irritante muito forte Isocianatos Polímeros de poliuretanos Irritante respiratório Acroleína e outros aldeídos Produto comum em combustão Irritante respiratório Borracha, seda, nylon, normalmente em baixa Amônia (NH4) Irritante concentração em incêndios em edifícios Hidrocarbonetos aromáticos (ben- Produtos comuns na combustão cancerígeno zeno e derivados) Fonte: Tactical firefighting, 2003 Cabe aqui uma importante observação quanto ao con- de intoxicação, receber a prescrição correta do medica- sumo de leite em casos de intoxicação, já que o senso mento adequado e assim fazer um tratamento eficaz. comum normalmente recomenda o consumo deste ali- mento em casos que o indivíduo venha a se intoxicar de 10.1.4.2. Comburente alguma forma. O comburente, também conhecido como agente oxi- dante, é a substância que reage com os gases emitidos Na verdade, como alimento, o leite possui muitas qua- durante a pirólise dos combustíveis. Na maior parte das lidades, porém não há qualquer tipo de estudo que com- combustões ocorridas o oxigênio será o comburente, até prove sua eficácia como desintoxicante, de forma que mesmo pelo fato do mesmo estar disponível em abun- não deve ser utilizado com este fim. dância na atmosfera terrestre. Para os casos de intoxicação profissional o indivíduo A concentração de oxigênio encontrada no ar é pró- deve ser conduzido ao hospital com o objetivo de ser de- xima a 21%, nestas condições teremos uma combustão vidamente examinado e, uma vez detectado algum tipo Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 347 plena dos materiais, porém, como já visto anteriormente, – pode até mesmo entrar em combustão na presença de o processo de queima consome oxigênio, desta forma, altas concentrações de oxigênio, o que exige dos bom- especialmente em locais fechados, o fogo faz com que a beiros um cuidado especial nos combates em locais onde concentração do comburente vá diminuindo e esta redu- essa conjuntura pode se apresentar tais como hospitais ção afeta diretamente a combustão. Pois quanto maior e indústrias. for a concentração de oxigênio mais rápida será a com- Na tabela abaixo, temos alguns sintomas e sinais bustão, o contrário também é verdadeiro pois na medida que ocorrem com a redução da concentração de oxi- que a concentração de O2 diminui, a combustão fica mais gênio em um ambiente com vítimas. lenta. Concentração Normalmente para uma atmosfera que possua me- Efeito de O2 nos de 15% de oxigênio, não mais haverá chamas no local já que estas não perduram abaixo desta concen- 21,00% Condição normal tração. Importante frisar que esta ausência de chamas Alguma Perda de coordenação mo- se dá em função da diminuição do oxigênio e que o am- tora. Aumento na frequência respi- biente, mesmo sem chamas, permanece extremamen- 17,00% ratória para compensar a redução na te aquecido, o que exige dos bombeiros muita cautela concentração de O2 no acesso a esses locais para prevenir a entrada de ar 12,00% Vertigem, dor de cabeça e fadiga e, por conseguinte de O2, o que poderia permitir que os materiais se inflamem novamente ou até mesmo 9,00% Inconsciência ocasionar alguns fenômenos que estudaremos mais adiante. Morte em poucos minutos por para- 6,00% da respiratória e consequente para- Os combustíveis sólidos podem continuar em com- da cardíaca bustão, sem a emissão de chamas, com concentrações Os dados não são absolutos por não considerarem as de até 6% de oxigênio. Ressaltamos ainda que existem diferentes capacidades respiratórias dos Indivíduos combustíveis que liberam oxigênio durante sua queima, e a extensão do tempo de exposição à concentração reduzida de O2. tais como: a celulose, a pólvora, os nitratos, os cromatos, os materiais pirotécnicos, dentre outros. De forma que Os sintomas acima ocorrem apenas com a redução de O2. Quando a atmosfera está contaminada com gases percebemos que a concentração mínima necessária para tóxicos, poderão ocorrer outros sintomas. a combustão depende do combustível que está inserido Fonte: Manual de Fundamentos do Corpo de Bombeiros da PMSP no processo. Observamos, portanto, que o estudo dos comburentes Além do oxigênio, outros gases podem comportar-se nos fornece informações que demonstram a complexi- como comburentes para determinados combustíveis. O dade da atividade de combate a incêndio, tendo em vista hidrogênio queima na presença de cloro, os metais leves termos observado que mesmo materiais considerados (lítio, sódio, potássio, magnésio, etc.) queimam na pre- inertes ou até mesmo agentes extintores de incêndio, sença de vapor d´água e o cobre na presença do vapor de podem, em situações especiais, comportarem-se como enxofre. O magnésio e o titânio, em particular e se fina- iniciadores ou até mesmo catalisadores do processo de mente divididos, podem queimar em uma atmosfera de combustão. gases normalmente inertes, como o dióxido de carbono e o hidrogênio (ENB, 2006). 10.1.4.3. Combustíveis Estudos demonstram que o próprio Nomex – com- Podemos entender combustível como sendo toda posto presente nas roupas de proteção contra incêndio substância capaz de queimar, servindo de campo de 348 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ propagação do fogo. Para efeito prático, as substâncias térmica são desejáveis, desde que não se ignizem ou se foram divididas em combustíveis e incombustíveis, ten- aqueçam rapidamente (GEWAIN et al.,2003). do como parâmetro a temperatura de 1000 0C para essa No caso de um incêndio em um edifício, por exemplo, a divisão. De forma que classificamos as substâncias com- proteção térmica retarda a troca de calor entre o ambiente bustíveis quando queimam a uma temperatura de até em chamas e o aço. Quando o incêndio entra na fase de de- 1000 0C, e as substâncias incombustíveis, acima de 1000 caimento e o sentido da troca de calor é alterado, ou seja, 0 C. Ressaltamos o fato de que, teoricamente, todas as a temperatura do incêndio é menor que a do aço, a inércia substâncias podem entrar em combustão (queimar). térmica da proteção retarda a diminuição da temperatura Os combustíveis podem estar nos estados sólido, do aço. Desta forma, os perfis continuam aquecidos mes- líquido e gasoso e cada um destes estados apresenta mo depois do término do incêndio (MOUÇO, 2006). propriedades físico-químicas bastante diferentes o que dificulta o estabelecimento de regras de forma absoluta, 10.1.4.3.2. Estado de divisão porém algumas características podem ser sistematiza- O estado de divisão pode ser definido como sendo das e estudadas, como veremos a seguir (ENB, 2006): a área disponível para a queima, quanto mais finamente Condutividade térmica; dividido esteja um combustível mais facilmente entrará em combustão, ou seja, quanto maior for sua relação su- Estado de divisão; perfície versus massa, mais facilidade terá este matéria Densidade; para entrar em ignição. Miscibilidade (líquidos); Podemos tomar como exemplo o caso do diesel que, Pontos notáveis da combustão; e caso esteja dentro de um recipiente como um balde e Tendência para liberar vapores (líquidos). dele aproximarmos a chama de um fósforo, o mesmo terá grande dificuldade de alcançar a ignição – na maior 10.1.4.3.1. Condutividade térmica parte das vezes não irá alcançá-la. Porém se for atirado A condutividade térmica está relacionada diretamente em forma de spray (particulado) para esta chama, o mes- com a capacidade de uma substância conduzir calor. Em mo entrará em ignição com facilidade. geral os materiais combustíveis maus condutores de calor Para demonstrar ainda mais a importância deste fator – madeira, por exemplo – queimam com mais facilidade que nas atividades de bombeiro, dependendo do estado de os materiais bons condutores de calor – como os metais. divisão de um material, até mesmo aqueles considerados Esse fato se deve à acumulação de calor em uma pequena como inofensivos quanto à possibilidade de entrar em zona, no caso dos materiais maus condutores, fazendo com ignição podem representar grande perigo, é o caso, por que a temperatura local se eleve mais facilmente e estes exemplo, de um armazém de farinha de trigo que natural- então liberem gases combustíveis que, em contato com a mente terá uma certa quantidade deste produto em sus- energia de ativação, podem inflamar-se. Já nos bons condu- pensão no ambiente, por ser um pó e estar disperso no ar, tores, o calor é distribuído por todo material, fazendo com a farinha de trigo poderá tornar o ambiente explosivo, em que a temperatura se eleve mais lentamente. função da grande relação superfície-massa do material e Outro fator importante com relação a esta caracte- da quantidade de mesmo disperso naquela atmosfera. rística das substâncias é a inércia térmica que se tra- duz na capacidade de absorção térmica da superfície do 10.1.4.3.3. Densidade elemento, ou seja, quanto maior for a inércia térmica de A densidade de um material pode ser definida pelo um material, mais tempo ele leva para absorver o calor e quociente entre a massa de uma determinada substân- também para liberá-lo. Os materiais com elevada inércia cia e o volume que ele ocupa. Por exemplo, a água no es- Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 349 tado líquido a 250C tem uma densidade aproximada de 1 que o ar, tenderá a se depositar nas partes superiores g/mL, de forma que 1 kg de água ocupa o volume de 1 litro. do ambiente ou, se dissipará para a atmosfera, caso haja aberturas para isso além de casos que o vazamento ocor- O entendimento desta propriedade é fundamental ten- ra em locais abertos como postos de abastecimento. do em vista que dependendo da densidade de um material o mesmo vai apresentar determinados comportamentos. 10.1.4.3.4. Miscibilidade Vejamos o exemplo da gasolina, que em seu estado líqui- do é menos denso que a água e, além disso, não é solúvel A miscibilidade está relacionada à mistura de duas em água flutuando assim em sua superfície, de forma que substâncias, caso elas sejam insolúveis entre si teremos a extinção de incêndios envolvendo gasolina e utilizando a formação de diferentes fases. Esta é uma propriedade a água como agente extintor, poderá propagar o incêndio. de grande importância, tendo em vista o fato de que a mistura de duas substâncias que individualmente pos- Durante muitos anos observamos que em incêndios em sam não apresentar um risco significativo, uma vez mis- veículos, depois de extintas as chamas, utilizava-se a téc- turadas, pode resultar em um novo composto extrema- nica de alagamento do tanque do auto sinistrado com água mente perigoso. com o intuito de suprimir o risco de retorno do incêndio já que dentro do tanque haveria uma quantidade de gasolina É o caso da mistura do nitrato de amônia com o óleo e esta poderia entrar novamente em ignição. Esta é uma diesel que, uma vez misturados, potencializam seus ris- ação incorreta, pois em primeiro lugar a gasolina, como cos formando uma substância explosiva chamada ANFO vimos, não irá se dissolver na água e, além disso, o trans- – acrônimo do inglês Ammonium Nitrate / Fuel Oil. bordamento deste tanque de combustível irá promover o 10.1.4.3.5. Pontos notáveis da com- carreamento da gasolina pela água de forma a aumentar a bustão superfície de contato da gasolina em relação ao ambien- te – já que a mesma flutuará na água – e ainda levará este Você já parou para pensar no porquê de ao colocar- combustível para outros locais além daquele delimitado mos, por exemplo, um fósforo em chamas em contato pelo socorro, como bueiros e galerias. com gasolina a mesma entra imediatamente em combus- tão e o mesmo não ocorre se pusermos esse fósforo em Ainda no caso do alagamento do tanque de combus- contato com uma tábua de madeira? Ou ainda no porquê tível, poder-se-ia buscar uma justificativa para a ação do carvão em uma churrasqueira, algumas vezes, em con- dizendo que a mesma teria o objetivo de fazer a retirada tato com uma fonte ígnea se inflamar e ao ser retirada dos gases do combustível que estaria dentro do tanque essa fonte o mesmo não conseguir manter a combustão para evitar uma explosão. Entendemos, porém, que a e se apagar? própria abertura do tanque iria expor os gases combustí- veis ao oxigênio e até mesmo a possibilidade do contato Na verdade, como já visto anteriormente, na combus- com alguma fagulha proveniente do incêndio, sem contar tão o que se inflama são os gases combustíveis despren- com o risco do transbordamento exposto anteriormen- didos pelo material quando este é aquecido (pirólise). De te, de forma que entendemos que o resfriamento do auto forma que cada material possui temperaturas específi- sinistrado com o tanque de combustível ainda fechado cas ligadas à liberação destes gases, a estas temperatu- seja a melhor forma de evitar explosão ou incêndio. ras denominamos pontos notáveis da combustão. Esta propriedade é igualmente importante para os ga- O conhecimento destas propriedades é importante na ses, temos como exemplos o gás liquefeito de petróleo medida em que podemos fazer uma relação entre a peri- (GLP) e o gás natural veicular (GNV), o primeiro é mais culosidade ligada ao risco de inflamabilidade de determi- denso que o ar, de forma que no caso de vazamento, o nado material e os valores relativos referentes aos seus mesmo irá se depositar nas partes inferiores do ambien- pontos notáveis da combustão. Discorreremos a seguir a te que estiver ocupando. Já o GNV, que é menos denso respeito de cada um deles: 350 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ i) Ponto de fulgor – É a temperatura mínima na qual desprender vapores, que se incendeiam em contato com o corpo combustível começa a desprender vapores, que uma fonte de calor, e mantêm-se queimando, mesmo se incendeiam em contato com uma fonte de calor, entre- com a retirada desta fonte. tanto, ao retirarmos esta fonte, a chama não se mantém iii) Ponto de ignição – É a temperatura na qual os ga- devido à insuficiência da quantidade de vapores. ses desprendidos do combustível entram em combustão ii) Ponto de combustão ou inflamação – É a tem- apenas pelo contato com o oxigênio do ar, independente- peratura mínima na qual o corpo combustível começa a mente de qualquer contato com uma fonte de calor. Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 351 Substância Ponto de Fulgor (0C) Ponto de combustão (0C) Ponto de ignição (0C) Pinho 225 265 280 Madeira dura ~245 ~270 ~290 Papel 230 - 230 Polietileno 340 - 350 Gasolina -40 -20 227 Gasóleo 90 104 330 Petróleo 30 43 250 a 450 Óleo lubrificante 157 177 230 Etanol 13 - 370 Butano -60 - 430 Etileno - - 490 a 540 Fonte: ENB, 2006 10.1.4.3.6. Tendência para liberar TABELA 6 vapores (combustíveis PONTOS DE FULGOR DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS líquidos) Categoria Combustível Ponto de fulgor A norma portuguesa NP-1936 (1983) traz uma cate- (0C) gorização quanto à tendência de um combustível líqui- Éter de petróleo -45 do para liberar vapores, ou seja, são elencadas três ca- Gasolina -45 a -20 tegorias levando em conta o ponto de fulgor, vejamos 1ª categoria Acetona -12 a seguir: Benzeno -11 1ª categoria – possuem ponto de fulgor inferior Álcool a 80 0 10 a 210C. Implica dizer que estas substâncias libe- Aguarrás 34 ram vapores a temperatura ambiente. 2ª categoria Aguardente 36 a 54 2ª categoria – substâncias com ponto de fulgor Petróleo 45 a 48 maior ou igual a 210C e inferior a 550C. Podem li- Gasóleo 65 a 72 berar calor independentemente da presença de uma fonte de calor. Óleo de travões 82 a 118 3ª categoria Óleos lubrifican- 175 a 220 3ª categoria – ponto de fulgor maior ou igual tes a 550C. Essas substâncias só liberam vapores quando submetidas à fonte de calor. Fonte: ENB, 2006 352 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ Ainda dentro deste contexto temos como assunto De forma simplifica, estes conceitos de limites de in- importante a classificação quanto ao líquido inflamável flamabilidade estabelecem que uma mistura ar-combus- e líquido combustível, neste manual adotaremos a defini- tível somente será inflamável quando sua composição, ção dada pela Norma Regulamentadora nº 20, do Minis- em termos de quantidade de combustível, estiver dentro tério do Trabalho em Emprego: do intervalo de inflamabilidade (IIN), cujos extremos são definidos pelo limite inferior e superior de inflamabilida- i) Líquido inflamável – todo produto que possua ponto de do combustível investigado (SHELDON, 1984; CROWL de fulgor inferior a 700C e pressão de vapor absolu- e LOUVAR, 2002). ta que não exceda 2,8 kgf/cm, a 37,70C. A pressão de vapor depende do líquido e das temperaturas (do lí- O intervalo de inflamabilidade varia de substância para quido e do ambiente), quanto maior for a pressão de substância, como podemos observar na tabela abaixo. vapor, mais volátil é o líquido. TABELA 7 ii) Líquido combustível – todo produto que possua LIMITES DE INFLAMABILIDADE ponto de fulgor igual ou superior a 700C e inferior a DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS 93,30C. Limites de inflamabilidade 10.1.4.4. Limites de inflamabilidade Combustível (ou explosividade) LII (%) LSI (%) Para haver combustão não basta apenas que uma Hidrogênio 4,0 75,0 quantidade qualquer de combustível misturada ao com- burente entre em contato com uma fonte de calor, na Monóxido de car- 12,5 74,0 bono verdade essa mistura deve conter uma porcentagem mínima ou máxima de combustível e essas quantidades Metano 5,0 15,0 são definidas pelo limite inferior (LII) e superior de infla- Etano 3,0 12,4 mabilidade (LSI). O LII e o LSI correspondem respectivamente às fra- Propano 2,1 9,5 ções volumétricas (ou percentual em volume) mínimas Etanol 3,3 19,0 e máximas de combustível em uma mistura comburente que quando submetida a uma fonte de ignição provoca Acetileno 2,5 100 uma combustão auto-sustentada (GLASSMAN, 2001). Benzeno 1,3 7,9 Fonte: An introducion to fire dynamics , Douglas Drysdale 10.1.5. Velocidade da Combustão A velocidade de uma combustão depende de vários fatores, sendo mais rápido tanto quanto: Maior o grau de divisão do combustível; Mais inflamável for o combustível; Maior a quantidade de combustível exposta ao comburente; Maior a renovação de comburente. Exemplo de Limites de inflamabilidade Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 353 Quanto à velocidade, a combustão pode ser classifica- da em quatro tipos: lenta, viva, deflagração ou explosão. i) Lenta – Ocorre quando se produz uma temperatura inferior a 5000C, este tipo de combustão não provoca liberação de energia luminosa. Ex.: oxidação de metal, ferrugem, respiração, etc. ii) Viva – Ocorre quando a reação química de oxidação libera energia luminosa (fogo) e calor. A mistura dos gases inflamados com o ar dá origem à chama. A ve- locidade da queima é sensivelmente menor que a da deflagração. Ex.: Queima de materiais comuns diver- sos. iii) Deflagração – É uma combustão muito rápida, porém inferior à velocidade do som (340 m/s). Ex.: a queima de pólvora. iv) Explosão – Nesse caso a combustão tem veloci- dade superior à velocidade do som (340 m/s), para Fig. Chamas de um fogão tanto a mistura deve se encontrar numa proporção específica (mistura explosiva ou detonante) em de- Este tipo de chama também tem a característica terminado ambiente. Este tipo de combustão pro- de praticamente não deixar resíduos, ou seja, serem voca um aumento de temperatura ou pressão ou completas. Uma vez que a mistura dos componentes ambas no ambiente que ocorre. Há também forma- é homogênea e não é limitada pela concentração de ção de ondas de choque em função do deslocamen- oxigênio ao seu redor, gerando mais proporção de to do ar. Ex.: Explosões de gás de cozinha, dinamite, CO2 e redundando em chama mais estável, limpa e etc. mais quente, porém menos luminosa que as chamas difusas. 10.1.6. Tipos de Chamas Podemos ter dois tipos de chamas, que se diferem en- São também exemplos de chamas de pré-mistura: tre si em função de o combustível e o comburente serem equipamentos de oxi-acetileno, bicos de Bunsen, chamas ou não previamente misturados. classificando-se em: de fogão e etc. Chamas de pré-mistura Já nas chamas difusas as moléculas de combustível não reagem perfeitamente com o ar (oxigênio), produzin- Chamas difusas ou de difusão do resíduos de combustão que podem vir a se ignir. Nes- A chama de pré-mistura é um processo de combus- ses casos há produção de luz, calor e fumaça e é nessa tão pelo qual o gás combustível e o oxigênio são mis- situação que se irão acumular os átomos e moléculas ins- turados antes que a ignição e a propagação ocorram. táveis resultantes deste tipo de queima, sendo por esse A Chama pré-misturada não é afetada pelo ambiente, motivo chamada de combustão incompleta. exemplo disso são as chamas de um maçarico que quei- O processo de difusão que ocorre neste tipo de chama mam mesmo embaixo d’água, pelo fato de não precisar é governado pela Lei de Fick, onde diz que determinado que a zona de queima esteja envolta de ar, pois temos o elemento em uma mistura deverá mover-se de um local fornecimento de oxigênio pelo equipamento e não pelo de alta para um de baixa concentração. ar da atmosfera. 354 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ Fig. Ilustração de umaZona de reação Tem-se assim o gás combustível e o ar e no meio uma zona de reação, que é a área em que o combustível na for- ma gasosa e o oxigênio do ar irão se misturar. O oxigênio do ar irá mover-se para chama, onde a concentração é zero na medida que ele é consumido na reação, e simul- taneamente o combustível é transportado para o lado oposto da chama pelo mesmo processo, tendo o produto da combustão difundido para longe da chama em ambas as direções. A chama difusa é turbulenta e sem estrutura definida, entretanto ela é a mais adequada para iluminação. É o tipo de chama encontrado nos incêndios de forma geral, diferentemente da primeira, esta é afetada pelo ambien- te pois depende do oxigênio do ambiente em que se en- contra. São exemplos, as chamas de um palito de fósforo, de uma fogueira, vela e etc. Fig. Chamas de um palito de fósforo Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 355 A produção de fumaça preta derivada de uma chama que os bombeiros devem ter com elevadores, sistemas difusa é consequência da perturbação da parte superior de ventilação e escadas. Essa característica da fumaça dessa chama, o qual se dará devido a liberação de carbo- também explica porque ocorrem incêndios que atingem no que não conseguiu queimar. pavimentos não consecutivos em um incêndio estrutural. Inflamável – Por possuir em seu interior combustíveis 10.1.7. Produtos da Combustão (provenientes da degradação do combustível sólido do As combustões produzem uma série de produtos foco e pela decomposição de materiais pelo calor) capa- provenientes da reação do combustível com o combu- zes de reagir com o oxigênio, a fumaça é combustível e, rente. Esses produtos podem ser visíveis ou não. Entre como tal, pode queimar e até “explodir”. Não dar a devida eles temos: a fumaça, a chama, o calor e gases. atenção à fumaça ou procurar combater apenas a fase sólida do foco ignorando essa característica é um erro i) A Fumaça – Por muito tempo a fumaça foi conside- ainda muito comum. A fumaça é combustível e queima! rada apenas como um produto da combustão, que tornava bastante dificultoso os trabalhos dos bom- Tóxica – Os seus produtos são asfixiantes e irritantes, beiros, pois somente levava-se em consideração que prejudicando a respiração dos bombeiros e das vítimas. ela era opaca, prejudicando a visibilidade, e tóxica, o Os bombeiros do Distrito Federal criaram um método que a tornava perigosa quando inalada. mnemônico, chamado QOMIT, a fim de facilitar a fixação Atualmente sabe-se que existem riscos que vão muito das características da fumaça. além dos que foram citados, que são capazes de influen- ciar diretamente na dinâmica do incêndio, aumentando seu potencial de dano. Com estudos mais recentes, foram verificadas ou- tras três características da fumaça. Verifica-se que ela é quente, móvel e inflamável, além das duas já conhecidas: opaca e tóxica. Caracterísitcas da fumaça: O conceito atual de fumaça não desabona o antigo, so- Quente – A combustão libera calor, transmitindo-o a mente o complementa de maneira vital para a segurança outras áreas que ainda não foram atingidas. A fumaça e trabalho dos bombeiros no combate a incêndio. será a grande responsável por propagar o calor ao atin- Em ambiente fechado, como um compartimento, a fuma- gir pavimentos superiores quando se desloca (por meio ça tende a subir, atingir o teto e espalhar-se horizontalmente de dutos, fossos e escadas), levando calor a outros lo- até ser limitada pelas paredes, acumulando-se nessa área. cais distantes do foco, como será visto na convecção. A fumaça acumulada também propaga calor por radiação. Opaca – Os seus produtos, principalmente a fuligem, permanecem suspensos na massa gasosa, dificultando a visibilidade tanto para bombeiros, quanto para as víti- mas, o que exige técnicas de entrada segura (como orien- tação e cabo guia) em ambientes que estejam inundados por fumaça. Móvel – É um fluido que está sofrendo uma convecção constante, movimentando-se em qualquer espaço possível e podendo, como já dito, atingir diferentes Fonte: Le guide national de référence Explosion de Fumées – Embrase- ambientes por meio de fossos, dutos, aberturas ou ment Généralisé Éclair qualquer outro espaço que possa ocupar. Daí o cuidado Fig. Movimento da fumaça em um ambiente compartimentado 356 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ Se não houver uma rota de escape eficiente, o incên- Conforme estudado no capítulo que trata dos efei- dio fará com que a fumaça desça para o piso, tomando tos fisiológicos da combustão, existem uma grande todo o espaço e comprimindo o ar no interior do ambien- gama de produtos perigosos presentes na fumaça, te. e estes nem sempre apresentam odor ou cor, porém quando observado na fumaça coloração do tipo ama- Quanto maior for a temperatura da fumaça, mais tur- rela, roxa ou violeta é um indicativo da presença de bulenta e rápida será sua movimentação. Quanto mais gases altamente tóxicos, devendo os bombeiros te- fria estiver a fumaça, mais laminar e lenta será. Fumaça rem sua atenção redobrada na ocorrência de incên- “rugosa” é quente. Fumaça “lisa” é “fria”. dio. Já se é de saber também que a coloração preta de uma Sabendo como as características da fumaça podem fumaça não está ligada a uma falta de oxigênio, mas sim influenciar na dinâmica do incêndio, e dos riscos que ela de uma característica da chama difusa, que em sua parte representa, os bombeiros podem adotar medida simples superior ao ser perturbada há presença de mais resídu- e de suma importância durante as ações de combate, os, além do dióxido de carbono, a fuligem que não pôde que garantam a segurança tanto para si próprios, quanto sofrer a queima devido a perturbação da mesma, assim para as vítimas, tais como (CBMDF, 2006): como a produção de fumaça branca em uma combustão ÂÂ resfriar a camada gasosa com o jato d’água apropria- não é sinônimo de uma combustão completa, com bas- do e a técnica adequada; tante oferta de oxigênio. Essas características são jus- tificadas quando realizamos o “Estudo da Vela”, que será ÂÂ estabelecer meios que permitam o escoamento da feito mais adiante. fumaça (ventilação tática); ÂÂ monitorar os pavimentos da edificação, principalmen- ii) A chama – São os gases incandescentes, visíveis ao te acima do foco do incêndio; redor da superfície do material em combustão. ÂÂ ter cuidados com espaços vazios, como fossos, dutos, iii) Calor – É a energia liberada pela combustão, que pro- escadas, etc.; e picia o aumento de temperatura e dá continuidade à combustão, ou seja, é a energia térmica em trânsito. ÂÂ utilizar o equipamento completo de proteção indivi- dual e respiratória. iv) Gases – Resultam da modificação química do com- bustível, associada com o comburente. A combustão Durante muito tempo, os bombeiros tinham como primeira preocupação achar o foco do incêndio e em produz, entre outros, monóxido de carbono (CO), dió- seguida atacá-lo, porém tratando-se de incêndio xido de carbono (CO2) e o ácido cianídrico (HCN). compartimentado (limitado por paredes e princi- Normalmente a unidade usada para identificar a con- palmente por teto, ajudando o acúmulo de fumaça), centração dos gases em determinado local é a parte a primeira preocupação dos combatentes devem ser por milhão (ppm). Uma parte por milhão corresponde, aplicar a técnica adequada de resfriamento da fuma- por exemplo a um mililitro cúbico em cada metro cúbi- ça, visto que na maioria dos casos, nesses tipos de co, pois cada metro cúbico corresponde a um milhão de incêndio, o acesso físico e visual ao foco em um pri- mililitros. meiro momento não é fácil, vistos as características da fumaça estudadas anteriormente, e que em incên- Em percentagem, uma ppm é equivalente a 0,0001 % dios com estas peculiaridades a radiação do foco do volume total, ou seja, 1% é equivalente a 10 000 ppm. não será o principal propagador do incêndio, mas sim Vejamos na tabela 8 a toxicidade de alguns gases prove- a fumaça. nientes da combustão. Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 357 TABELA 8 TOXICIDADE, EM PPM, DE VÁRIOS GASES DE COMBUSTÃO E SEUS PROVÁVEIS MATERIAIS DE ORIGEM Admissível por Perigosos em meia Substância Mortal Origem várias horas hora Dióxido de carbono, CO2 1000 a 1500 3500 a 4000 60000 a 70000 Todos os materiais orgânicos Monóxido de carbono, CO 100 1500 a 2000 10000 Todos os materiais orgânicos Vapores nitrosos, NO/NO2 10 a 40 100 a 150 200 a 700 Celulóide e brinquedos Ácido cianídrico, HCN 15 100 180 a 270 Lã, seda e alguns plásticos Materiais sintéticos como o Ácido clorídrico, HCL 10 1000 a 2000 1300 a 2000 PVC Materiais orgânicos com en- Ácido sulfídrico, H2S 20 300 1000 xofre Amoníaco, NH3 100 500 2500 a 5000 Em sistemas de refrigeração Cloro, Cl2 0,35 a 1,0 40 a 60 1000 Materiais à base de cloro Fosgênio, COCl2 1,0 25 50 Materiais à base de cloro Fonte: ENB, 2006 10.2. ESTUDO DO INCÊNDIO 10.2.1.1. Classe A 10.2.1. Classes de incêndio Visando obter maior eficiência nas ações de com- bate a incêndio, tornando-as mais objetivas e seguras com o emprego do agente extintor correto, os incên- dios foram classificados de acordo com o material combustível neles envolvidos. Essa classificação foi elaborada pela NFPA (National Fire Protection Asso- ciation), uma associação norte-americana que serve de referência para muitas instituições no mundo, e foi recepcionada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Es- tado do Rio de Janeiro. A seguir veremos as principais características de cada uma delas, especialmente quanto à composição e à for- ma como os mesmos desenvolvem sua combustão. Es- sas informações são de fundamental importância para a atividade de combate a incêndio. 358 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ São incêndios que envolvem combustíveis sólidos co- São incêndios envolvendo líquidos inflamáveis, graxas muns (geralmente de natureza orgânica), como madeira, e gases combustíveis. Caracterizam-se por não deixa- papel, borracha, plástico, dentre outros. Têm como ca- rem resíduos e queimarem apenas na superfície exposta racterísticas queimar em razão do seu volume (queimam (queimam só em superfície ). em superfície e profundidade) e deixar resíduos fibrosos Os métodos de extinção mais eficientes para este (cinzas). tipo de combustível são o abafamento com espuma e a O método de extinção mais eficiente para este tipo de quebra da reação em cadeia com uso de pó para extinção combustível é o resfriamento com água, apesar de existirem de incêndios. pós para a extinção deste tipo de incêndio. Espuma também TABELA - ADEQUAÇÃO DOS AGENTES EXTINTORES pode ser utilizada, apesar de não obterem a mesma eficácia. PARA CLASSE B TABELA - ADEQUAÇÃO DOS AGENTES EXTINTORES Adequação conforme o PARA CLASSE A Agente extintor INMETRO Adequação conforme o IN- Não recomendável, espa- Agente extintor Água METRO lha o fogo Água Sim Espuma mecânica Sim Espuma mecânica Sim Pó para extinção de in- Sim cêndio Pó para extinção de Sim, desde que do tipo ABC Sim, cuidado para não incêndio Gás carbônico espalhar o combustível Gás carbônico Sim, desde que seja no início Fonte: NR-23 Proteção contra incêndios Fonte: NR-23 Proteção contra incêndios 10.2.1.2. Classe B 10.2.1.3. Classe C Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 359 Qualquer incêndio envolvendo combustíveis energi- Incêndios resultantes da combustão de metais zados. Alguns combustíveis energizados (aqueles que pirofóricos. Esses combustíveis são caracterizados não possuem algum tipo de armazenador de energia) pela queima em altas temperaturas e por reagirem podem se tornar classe A ou B, se forem desligados da com alguns agentes extintores (principalmente a rede elétrica. água). Caso não seja possível cortar a energia, deve ser O combate deste tipo de combustível requer uma aná- usado preferencialmente um agente extintor que não lise das características específicas do material que está seja condutor elétrico. Caso isso não seja possível, em combustão. Em alguns casos a utilização de água nes- devem-se adotar os cuidados necessários para com- tes metais irá agravar o quadro do incêndio em função de bater com algum agente com baixa condutividade causar reações violentas. elétrica. TABELA – ADEQUAÇÃO DOS AGENTES EXTINTORES TABELA – ADEQUAÇÃO DOS AGENTES EXTINTORES PARA CLASSE D PARA CLASSE C Agente extintor Adequação conforme o Agente extintor Adequação conforme INMETRO o INMETRO Água Não Água Não Espuma mecânica Não Espuma mecânica Não Pó para extinção de incên- Sim Pó para extinção de incêndio Sim dio Gás carbônico Sim Gás carbônico Sim Areia Sim Fonte: NR-23 Proteção contra incêndios Limalha de ferro fundido Sim 10.2.1.4. Classe D Fonte: NR-23 Proteção contra incêndios Esses materiais não são encontrados em abundância no que se diz respeito a edificações. Normalmente ob- serva-se uma maior concentração dos mesmos no ramo industrial. A seguir apresentaremos uma lista de metais deste tipo com suas principais aplicações. 360 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ TABELA – EXEMPLOS DE ALGUNS METAIS E SUAS PRINCIPAIS UTILIZAÇÕES Agente extintor Adequação conforme o INMETRO - ligas de estanho; Antimônio - revestimentos de cabos, moldes, soldaduras e tubos; e - fogos de artifício, fulminantes e balas tracejantes. - lubrificantes (graxas) de alto desempenho; e Lítio - baterias. - flashes fotográficos; Magnésio - artefatos pirotécnicos e bombas incendiárias; e - construção de aviões, mísseis e foguetes. - fertilizantes (sais de potássio); - medicamentos e sabões (carbonato de potássio – K2CO3); Potássio - fotografia (brometo de potássio – KBr); e - explosivos (nitrato de potássio – KNO3). - fabricação de células fotoelétricas; - câmeras de TV e máquinas xerográficas; - baterias solares e retificadores; Selênio - banhos fotográficos; - vulcanização da borracha; - fabricação de retificadores de selênio; e - fabricação de hidrocarbonetos provenientes do petróleo. sódio - iluminação pública - componente de liga para alumínio, molibdênio e manganês; - componente de liga para ferro e outros metais; Titânio - fabricação de aviões, mísseis e naves espaciais; - próteses ósseas e implantes dentários; e - tintas. - ligas de latão para soldas; - tipografia; - baterias e soldas; Zinco - produção de peças fundidas sob pressão; - indústria automobilística, de equipamentos elétricos e outras; e - revestimento (galvanização) de peças de aço. - reatores nucleares; - indústrias químicas; Zircônio - confecção de ímãs supercondutores; - indústria de cerâmica e vidro; e - laboratórios. Fonte: CBMDF, 2006 Manual Básico de Bombeiro Militar | Vol. 3 | CBMERJ 361 10.2.1.5. Classe E O objetivo desta classificação é enfatizar os riscos e a necessidade da prevenção de incêndios deste tipo. O combate se faz da mesma forma que os de incêndios de E Classe B. * Imagem meramente ilustrativa Esta é uma classificação usada na Europa e Oceania para definir a classe que contém o incêndio em materiais 10.2.2. Proporções do incêndio radioativos. Para que uma atividade desenvolvida possa ser cor- Para o combate a esta classe nós adotamos as orien- retamente analisada e melhorada, é necessário que esta tações contidas nas normas emitidas pela Comissão Na- seja, dentro da medida do possível, medida através de cional de Energia Nuclear (CNEN). As orientações para indicadores. Pois não basta que saibamos o número de o combate prevêem a utilização de água, porém devem incêndios para os quais os socorros tenham sido acio- existir os mecanismos e estruturas capazes de confinar nados, precisa-se identificar também a proporção dos este resíduo. mesmos. Com esse intuito foi criada a classificação dos O incêndio em materiais radioativos está relacionado incêndios quanto à proporção, de forma a nos orientar à classe 7 de produtos perigosos, portanto devemos com- principalmente quanto ao acionamento de recursos para preender as características e peculiaridades para que o a resposta aos sinistros. A seguir descreveremos cada bombeiro faça o combate em segurança. Mais informa- uma delas: ções a respeito destes materiais serão fornecidas neste

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