Princípio da Demanda Efetiva em Kalecki PDF

Summary

O documento apresenta os conceitos iniciais sobre o Princípio da Demanda Efetiva de Kalecki, detalhando os estágios iniciais antes de aprofundar os conceitos de economia aberta e com governo. São expostas as equações e as relações entre os vários componentes da economia.

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O Princípio da Demanda Efetiva em Kalecki  Introdução: Kalecki não dá muita importância às decisões de produção e emprego; ele está preocupado com a determinação dos lucros (componente residual da renda) vis-à-vis a dos gastos.  O argumento é apresentado inicialmente em um modelo simples, sen...

O Princípio da Demanda Efetiva em Kalecki  Introdução: Kalecki não dá muita importância às decisões de produção e emprego; ele está preocupado com a determinação dos lucros (componente residual da renda) vis-à-vis a dos gastos.  O argumento é apresentado inicialmente em um modelo simples, sendo depois submetido a complicações sucessivas: a) Primeiro estágio: economia fechada e sem governo; b) Segundo estágio: economia aberta e com governo.  Primeiro estágio: economia fechada e sem governo: PNB  L + WN; PNB  I + Ck + Cw Resulta: L + WN  I + Ck + Cw, onde L = lucros brutos (todas as rendas da propriedade, inclusive depreciação) , W é o salário nominal médio (inclusive ordenados), N é o nível de emprego, I é o investimento bruto (em capital fixo e em estoques), Ck é o consumo dos capitalistas e Cw é o consumo dos trabalhadores. Supondo adicionalmente, a título de simplificação, que os trabalhadores consumam toda a sua renda, de modo que WN = Cw: L  I + Ck  O ponto fundamental é, diante desta definição, perguntar: o que determina o que? Resposta de Kalecki: “(...) é claro que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais em um dado período que no precedente, mas não podem “decidir ganhar” mais” (Kalecki, 1954a, pág. 86, aspas e grifos nossos).  Isto acarreta a introdução de uma determinação causal unilateral na equação acima, que representa o PDE segundo Kalecki:  L  I + Ck.  Esta equação dá origem à famosa frase de Kalecki: enquanto “os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam”. Cuidado! Evidentemente a frase vale para os capitalistas enquanto classe, e não para cada capitalista individualmente! Ademais, este resultado mostra também que, dada a simplificação Cw = WN, um aumento na massa de salários WN não afeta DIRETAMENTE a massa de lucros L. ▪ Pode afetar indiretamente se afetar I ou Ck.  Segundo estágio: economia aberta e com governo: PNB  L + WN + T; PNB  I + Ck + Cw + G + X – M 1 onde T é a arrecadação de impostos governamentais (diretos e indiretos) líquida das transferências do governo para o setor privado, G é o gasto governamental em bens de consumo e investimento, I é o investimento privado e X – M são as exportações líquidas; os lucros agora são definidos como líquidos de impostos, bem como salários e ordenados; Resulta: L + WN + T  I + Ck + Cw + G + X – M, Não suporemos agora WN = Cw. Resulta:  L  I + Ck + (Cw – WN) + (G – T) + (X – M).  Agora não é mais verdade que os capitalistas ganham o que gastam (exceto se Cw = WN, G = T e X = M). Perceba que quanto maior o déficit governamental G – T, quanto maior o superávit comercial X – M, e quanto maior a propensão a consumir dos trabalhadores (Cw/WN), maiores os lucros; Não é mais verdade que um aumento na massa de salários WN não afeta a massa de lucros L.  Forma alternativa de apresentação. Departamento DI: produz bens de capital; Departamento DII: produz bens de consumo para capitalistas; Departamento DIII: produz bens de consumo para trabalhadores; ▪ Cada um dos departamentos é “verticalmente integrado”, isto é, produz todas as matérias-primas necessárias para a produção dos produtos finais lá produzidos; Trata-se evidentemente de uma abstração, uma simplificação. Resulta a seguinte tabela1: Departamento DI Departamento DII Departamento DIII TOTAL L1 L2 L3 L (WN)1 (WN)2 (WN)3 WN I Ck Cw Y Que envolvem as seguintes equações: L1 + (WN)1 = I; L2 + (WN)2 = Ck; L3 + (WN)3 = Cw.  Introduzindo 1 Extraída de Kalecki (1968, pág. 1). 2 Cw = WN = (WN)1 + (WN)2 + (WN)3, na última equação, obtemos: L3 + (WN)3 = (WN)1 + (WN)2 + (WN)3 ou  L3  (WN)1 + (WN)2,  Este resultado que mostra que se um aumento da folha (ou massa) de salários WN de fato não afeta a massa de lucros L total dos capitalistas, por outro lado ele causa uma mudança na composição interdepartamental dos lucros, transferindo-os de DI e DII para o DIII. Isto permite visualizar melhor porque a manutenção de salários flexíveis pode ser inócua para curar o desemprego: se por um lado um corte de salários nominais diminui custos, por outro lado ele também diminui a demanda (por bens de consumo dos trabalhadores) e a renda desse setor; Outro resultado interessante: as decisões de produção e emprego nos departamentos I e II determinam os lucros no departamento III;  Finalmente, suponha que a participação dos salários na renda de cada departamento seja dada respectivamente por: w1 = (WN)1/I; w2 = (WN)2/Ck; e w3 = (WN)3/Cw;  Resulta:  L3  w1I + w2Ck; mas como Cw = (WN3) + L3, temos que Cw = w3Cw + w1I + w2Ck; ou Cw (1 - w3) = w1I + w2Ck; ou ainda w1I + w 2Ck Cw = 1 − w3  Finalmente, como Y = I + Ck + Cw, temos w1I + w 2Ck Y = I + Ck +. 1 − w3  Esta equação significa que a renda nacional Y é determinada diretamente: 3 Pelos montantes de gasto dos capitalistas I e Ck; Pelos “fatores de distribuição” da renda interdepartamental w1, w2 e w3. 4

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