Função Consumo - PDF
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Este documento discute a função consumo na economia keynesiana. Analisa os fatores objetivos que influenciam o consumo, como a renda e a taxa de juros. Destaca a relação entre consumo e renda, mostrando uma perspectiva importante sobre economia.
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FUNÇÃO CONSUMO Bibliografia – Keynes (1936, caps. 8, 9 e 10); Dillard (1948, caps. 5 e 6)*. 1. CONSUMO EM KEYNES 1.1.Fatores objetivos (cap. 8) 1.1.1. Consumo e renda em unidades de salário (item I) Após a digressão dos capítulos 4 a 7, Keynes pretende retomar a discussão dos determ...
FUNÇÃO CONSUMO Bibliografia – Keynes (1936, caps. 8, 9 e 10); Dillard (1948, caps. 5 e 6)*. 1. CONSUMO EM KEYNES 1.1.Fatores objetivos (cap. 8) 1.1.1. Consumo e renda em unidades de salário (item I) Após a digressão dos capítulos 4 a 7, Keynes pretende retomar a discussão dos determi- nantes do emprego. Em particular, pretende tratar dos determinantes da função demanda agregada, pois o tratamento do tema por parte da teoria neoclássica teria sido “descuidado”; A função oferta agregada (“que envolve poucas considerações que ainda não nos são familiares”) é retomada apenas no Cap. 20. Embora anteriormente a função consumo tenha sido definida como uma função direta do nível de emprego, Keynes prefere agora passar a tratá-la como uma relação entre o con- sumo em unidades de salário (Cw) e a renda em unidade de salários (Yw). Observações: Havia na época em que Keynes escreveu seu livro um debate sobre a conveniência de utilizar o conceito de índice geral de preços (e portanto os demais conceitos “reais” obtidos através da sua utilização) na análise teórica (diferentemente da análise esta- tística e histórica); Sendo contra o uso desses conceitos, Keynes propôs no capítulo 4 substituir o índice geral de preços pela unidade de salários no papel de deflator; A unidade de salários é simplesmente o salário nominal médio por hora de trabalho. Assim, na Teoria Geral, muitas vezes Keynes se refere às variáveis reais como va- riáveis medidas em unidades de salário: consumo real consumo em unidade de salários; renda real renda em unidade de salários; etc.. Portanto: Se quisermos obter o consumo em unidade de salários Cw, basta dividir o consumo nominal C pela unidade de salários W: Cw = C/W; Se quisermos obter a renda em unidade de salários Yw, basta dividir a renda nominal Y pela unidade de salários W: Yw = Y/W; E assim por diante. Voltando ao tema: É uma primeira aproximação razoável supor que Yw = f(N), ou seja, que haja uma correlação direta e unívoca entre as duas variáveis; 1 Chamando de a (função) propensão a consumir (relação funcional entre Yw e Cw), a função consumo inicialmente empregada no cap. 3, C = (N), será substituída por: Cw = (Yw) ou C = W(Yw) Portanto, o consumo em unidades de salário (Cw) depende: Diretamente, da renda em unidades de salário Yw; Diretamente, da propensão a consumir , o qual por sua vez depende de: Fatores objetivos; e Fatores subjetivos. Na Teoria Geral, os fatores subjetivos são “dados” (exógenos), de modo que a propensão a consumir dependerá apenas de fatores objetivos. 1.1.2. Principais fatores objetivos que influem na propensão a consumir (item II) 1) Variação na unidade de salários W: Em geral, quanto maior a unidade de salários, maior a renda nominal e maior o consumo nominal; mas, admitindo que salários e preços variem aproximadamente na mesma proporção, uma variação em W não provocará mudança no consumo em unidade de salário; No cap. 19 Keynes abandonará esta aproximação. 2) Variação na diferença entre renda e renda líquida: Renda líquida = renda bruta – depreciação; Embora o consumo deva depender mais da renda líquida do que da bruta, variações no montante de depreciação parecem ter pouco efeito prático; 3) Variações imprevistas nos valores de capital que não são considerados no cálculo da renda líquida: Valores de capital = preço dos ativos (ações, imóveis, etc.); Consumo das “classes proprietárias de riqueza” extremamente sensível a tais flutu- ações; 4) Variações na taxa intertemporal de descontos ( taxa de juros): Influência “sujeita a muitas dúvidas”, pois: Se a renda não mudar, “são raras as pessoas que alteram o seu modo de vida porque a taxa de juros baixou de 5 para 4%”; portanto, apenas alterações muito fortes na taxa de juros tendem a provocar efeitos significativos sobre o consu- mo; e estas, por sua vez, podem gerar efeitos complexos sobre as expectativas que compensem o efeito original; Uma queda da taxa de juros reduz a renda dos que têm aplicações financeiras; Há efeitos indiretos sobre os preços dos ativos (já considerados no item 3); 5) Variações na política fiscal: Afetam o consumo através de variações: 2 No tamanho da alíquota tributária e das transferências do governo para as famí- lias; Na estrutura da tributação, que afeta a distribuição de renda. 6) Modificações nas expectativas acerca da relação renda futura (esperada) / renda pre- sente: Pode afetar significativamente a propensão a consumir de um indivíduo; mas para a coletividade as variações individuais tendem a se compensar; Gera normalmente muita incerteza para ter um efeito importante. Conclusão: a propensão a consumir tende a ser uma função relativamente estável, que muda exogenamente quando um dos fatores acima se modifica; mas tais modificações, com exceção dos descritos no item 3, são de importância secundária; Por consequência, a renda em unidades de salário (Yw) é o principal determinante do consumo em unidades de salário (Cw). 1.1.3. Formato normal da função consumo (item III) Lei psicológica fundamental: os homens estão dispostos, de modo geral e em média, a aumentar o seu consumo conforme sua renda cresce; mas não em quantia igual ao au- mento da sua renda; Por exemplo, se a renda de certo cidadão médio é de 300 unidades de salário, e seu consumo é de 250 unidades de salário, o aumento da renda em 30 unidades gera um aumento do consumo, porém menor do que 30 unidades. Isto significa que a propensão marginal a consumir (PMgC), definida como a varia- ção do consumo resultante de uma variação de uma unidade da renda, é superior a ze- ro mas menor do que um. Matematicamente, ; É o caso especialmente em períodos curtos, nos quais os hábitos não têm tempo de se adaptarem ao novo nível de renda; Keynes porém também atribui a mesma lei a períodos mais longos, sob a justificativa de que “a satisfação das necessidades primárias imediatas de um indivíduo e de sua fa- mília é, normalmente, mais forte que os seus motivos para poupar, que só adquirem predomínio efetivo quando se alcança determinado nível de conforto. Estas razões fa- zem com que uma proporção maior da renda seja poupada à medida em que a renda real aumenta”. Tal situação também é atribuída ao governo; A lógica é a seguinte: quando a renda real cai, a arrecadação tende a cair, e os go- vernos dificilmente conseguem cortar gastos na mesma velocidade da queda da ar- recadação; Além disso, certas despesas, como seguro-desemprego, tendem a aumentar nestas épocas; Como resultado, déficits costumam surgir. E para Keynes isso é bom, porque limita a queda da produção e do emprego que ocorreria se os governos conseguissem evitar os déficits cortando gastos na 3 mesma velocidade em que a arrecadação cai, ou se os agentes privados cortassem o consumo no mesmo montante em que sua renda cai. Esse princípio leva à conclusão de que o emprego só pode aumentar conforme au- mente o investimento, a menos que ocorra alguma mudança na propensão a consu- mir. 1.1.4. Uma digressão sobre o impacto da prudência financeira excessiva (item IV) Numa economia não-estática, uma prudência financeira excessiva por parte de empresas e governos (especialmente na constituição de fundos para depreciação do capital e/ou para amortização de dívidas) pode cortar a renda líquida e reduzir a propensão a consumir, com efeitos negativos sobre o emprego; “Apresenta-se comumente como objeção aos planos tendentes a aumentar o emprego por meio de investimentos patrocinados pelo governo, o fato de que assim serão criadas difi- culdades para o futuro. “Que faremos”, pergunta-se, “quando tivermos construído todas as casas, estradas, prefeituras, redes de energia elétrica, sistemas de distribuição de água e outras instalações de que possa necessitar a população estacionária do futuro? Há contudo mais dificuldades em compreender que o mesmo inconveniente se apresenta no caso de investimentos privados e da expansão industrial, particularmente com a última, desde que é muito mais fácil prever a próxima saturação das necessidades de novas fábricas e equi- pamentos, que isoladamente absorvem pouco dinheiro, do que a procura de construções para moradia”. “(...) cada enfraquecimento na propensão a consumir, considerada como hábito perma- nente, leva a demanda por capital a enfraquecer-se juntamente com a demanda por consu- mo” (Keynes, 1936, cap. 8, item IV, últimos parágrafos). 1.2.Fatores subjetivos (cap. 9) 1.2.1 Enumeração dos motivos subjetivos que levam à abstenção do gasto Pouco importante. 1.2.2 Taxa de juros, investimento e poupança O efeito da taxa de juros sobre a poupança é o contrário do previsto pela teoria neo- clássica. A ideia é que um aumento da taxa de juros reduz o investimento; De acordo com o PDE, I→S; Portanto, a queda do investimento produz queda da renda e (dado ) da poupança. Assim, uma subida da taxa de juros, ao invés de aumentar, reduz a poupança. Os montantes reais de poupança e do consumo agregados dependem do comporta- mento do investimento e seus determinantes. “A virtude e o vício não têm papel a desempenhar”. Se a taxa de juros fosse governada de modo que mantivesse continuamente o pleno emprego, a virtude tomaria a posição dominante, pois o investimento dependeria de uma baixa propensão a consumir. 4 O elogio que os economistas neoclássicos prestam à virtude é uma consequência de sua disfarçada hipótese de que a taxa de juros é sempre governada desse modo. 1.3.A propensão marginal a consumir e o multiplicador (cap. 10) 1.3.1 O multiplicador do investimento (item I) É possível estabelecer uma relação definida entre renda e investimento denominada mul- tiplicador. Formalmente: Se Y = C + I Yw = Cw + Iw Yw = Cw + Iw →Cw = PMgC.Yw Yw = PMgC.Yw + Iw Yw – PMgCYw = Iw Yw (1– PMgC) = Iw , onde k é o chamado multiplicador do investimento, que indica que quando há uma altera- ção no investimento Iw, a renda Yw varia em um montante k vezes a variação do investi - mento. 1.3.2 Efeitos da PMgC sobre o multiplicador Um aumento do emprego destinado ao investimento estimula necessariamente o setor produtor de bens de consumo, e gera um aumento do emprego total que é um múltiplo do emprego primário exigido pelo próprio investimento. Perceba que, como 0 < PMgC < 1, k > 1; e que k será tão maior quanto maior PMgC. Ex.: se PMgC = 0,9, k = 10, de modo que o acréscimo de renda (e emprego) será dez vezes maior ao gerado, por exemplo, por um investimento governamental. Casos extremos: PMgC = 0 → k = 1; PMgC = 1→ k→ (não haveria equilíbrio estável e os preços explodiriam); Em geral: Se a PMgC for relativamente alta (próxima de 1), pequenas variações do inves- timento produzirão grandes flutuações no emprego, mas um aumento relativa- 5 mente pequeno do investimento bastará para levar a economia ao pleno empre- go; Se a PMgC for relativamente baixa (próxima de zero), a renda será pouco sensí- vel a pequenas flutuações do investimento, mas o investimento terá de aumentar muito para se atingir o pleno emprego; Na realidade a PMgC parece situar-se entre os dois extremos, mais perto de 1 do que de zero, o que gera o pior dos mundos: Alta volatilidade do emprego; Necessidade de um aumento relativamente grande do emprego para gerar pleno emprego (em relação à capacidade de intervenção necessária do Estado). Quando o pleno emprego é alcançado, qualquer tentativa de aumentar ainda mais o investimento faz com que os preços tendam a subir sem limite (verdadeira infla- ção). 1.3.3 Fatores complicadores Um aumento de um tipo de investimento (o governamental, por exemplo) de um lado, po- rém, pode provocar queda de outros tipos de investimento, pois: Através de mecanismos que serão discutidos posteriormente, e dependendo da forma como o aumento do investimento for financiado (emissão de moeda ou de títulos), o aumento do investimento público pode provocar um aumento da taxa de juros; esta, por sua vez, poderia reduzir o investimento privado; Dada a “psicologia confusa”, o programa do governo pode reduzir a confiança no fu- turo, o que diminuiria outros investimentos; Em uma economia aberta, parte do efeito multiplicador vazará para fora; Ademais, se a PMgC tender a diminuir conforme Yw aumente, o multiplicador tende- rá a encolher; Richard Kahn calculou o multiplicador na Inglaterra entre 2 e 3, e nos EUA um pouco maior; 1.3.4 Variações inesperadas no investimento Variações inesperadas do investimento acarretam um aumento gradual em seu montante, criando uma divergência temporária da PMgC em relação ao seu valor normal; Só exerce seu impacto pleno sobre o emprego após certo lapso de tempo, mas isto não altera a validade do processo multiplicador. 1.3.5 O multiplicador em comunidades pobres e ricas A PMgC de uma comunidade pobre é maior que a de uma comunidade rica, e portanto o multiplicador também o é. Introduz o conceito de propensão média a consumir (PMdC = Cw/Yw); Se a PMdC for também mais alta na comunidade pobre, então: Uma variação no investimento implica (devido a PMgC alta) um efeito proporcional- mente maior de uma variação no investimento no nível de emprego; 6 O efeito absoluto do investimento será todavia menor na comunidade pobre do que na rica, devido à PMdC alta, pois esta implica um peso baixo do investimento no PIB. Daí se conclui que o efeito das obras públicas na redução do desemprego é mais forte quando o desemprego é severo do que quando ele é menos elevado, pois a PMgC diminui (e com ela o multiplicador) quando o nível de renda aumenta. 1.3.6 Gastos inúteis Quando há desemprego involuntário, mesmo gastos inúteis financiados por empréstimos podem aumentar a renda de uma comunidade. “A construção de pirâmides, os terremotos e até as guerras podem contribuir para au- mentar a riqueza se a educação dos nossos estadistas nos princípios da economia (neo)clássica for um empecilho a uma solução melhor”. História das garrafas (pág. 111, 3º parágrafo); analogia com mineração de ouro. Gastos inúteis na história (pág. 112, último parágrafo). 7