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Esta apostila fornece uma introdução à análise de obras de arte, abordando conceitos como a percepção estética, o contexto histórico, o processo criativo e a interpretação simbólica das obras de arte. Inclui exemplos.

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# UNIDADE 1 – LEITURA E ANÁLISE SIMBÓLICAS DE OBRAS DE ARTE ## Arte Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa: realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como:...

# UNIDADE 1 – LEITURA E ANÁLISE SIMBÓLICAS DE OBRAS DE ARTE ## Arte Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa: realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema, em suas variadas combinações. O processo criativo se dá a partir da percepção com o intuito de expressar emoções e ideias, objetivando um significado único e diferente para cada obra. ## Como Analisar uma Obra de Arte? Uma obra de arte, qualquer que seja a sua forma, é simultaneamente: - Um testemunho do sentido do belo do seu criador; - Um documento histórico; - Um diálogo, afetivo ou intelectual, entre a obra de arte e o seu espectador, no caso das artes visuais. Deve ter-se sempre em conta certos dados técnicos que diferem de época para época, ou de autor para autor. 1. Observar atentamente as informações dadas na legenda da obra: autor; título; data da execução; suporte; dimensões e lugar de conservação. 2. Obter dados sobre o autor: data e lugar de nascimento e morte; origem social; anos e lugares de formação; idade e quando da realização da obra; outras obras suas. 3. Reconhecer o tipo de assunto representado: cena religiosa; histórica; mitológica; alegoria; retrato; paisagem... (se e quando apareceu ao público; acolhimento...). 4. Analisar o assunto propriamente dito: descrever o que está representado; lugares; enquadramento da cena; personagens; ação das personagens; objetos. Deve-se, também, tentar perceber-se porque é que o autor criou um objeto artístico (quadro, pintura, desenho etc.) com aquelas dimensões e não outras; proceder à análise da cena, do enquadramento desta, dos móveis, dos objetos representados, da paisagem, da posição das personagens, identificando-as, como estão vestidas, em que atitude se encontram, etc. A arte, como objeto de conhecimento, tenta responder o que o ser humano pergunta e quer saber, ou seja: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Veja alguns exemplos: - Pintada em 1897, a obra é uma despedida. Deprimido pela morte de sua filha Aline, aos 20 anos, ele decidiu cometer suicídio, mas, antes, quis "pintar uma tela imensa e nela colocar toda a minha energia". Resultado: uma obra de 1,39 m por 3,75 m. Ao terminar o quadro, envenenou-se com arsênico. Mas não morreu. Escreveu sobre o quadro a um amigo. - Sobre a pergunta "de onde viemos", escreveu Gauguin: "À direita, no canto, vê se um bebê que dorme cercado por três nativas sentadas no chão. Duas figuras, vestidas de vermelho, trocam ideias. Uma mulher de dimensões propositadamente maiores, a despeito da perspectiva, ergue um braço e observa atônita essas duas figuras que se atrevem a conjecturar sobre seus destinos". - A mulher que apanha uma fruta reproduz Eva, mas, em vez da maçã, segura uma manga. “A figura central apanha uma fruta. (...) O ídolo, com braços erguidos misteriosamente, aponta para o além. O apanhar da fruta simboliza os prazeres da vida; a figura em plenitude simbolizaria a eterna felicidade, caso o ídolo não estivesse lá para nos lembrar das verdades eternas - uma constante ameaça à humanidade." Essa é descrição que o pintor fez para a questão "quem somos?". - O canto esquerdo representa "para onde vamos". "Uma figura sentada parece ouvir o ídolo. Uma velha, já bem próxima da morte parece aceitar com resignação a sua sorte. - Afinal, a que “redenção” se refere Brocos? Can, um dos três filhos de Noé, fora castigado pelo pai que impôs uma maldição a seu filho, Canaã, condenando o a ser escravo dos tios e dos irmãos. Transposto para o contexto brasileiro, um país em que, até muito pouco tempo atrás, ser negro significava ser escravo, a “redenção” pintada por Brocos se personifica no nascimento de uma criança branca e, portanto, não mais escrava. Ocupando o centro da composição, ela está sentada ao colo da mãe, uma mulata, e é observada pelo olhar um tanto maroto do pai, também mestiço, com traços de caboclo. Em pé, a avó negra ergue as mãos aos céus em sinal de agradecimento. Modesto Brocos toma emprestado um tema bíblico para nos apresentar o próprio mito do branqueamento da raça. A cena familiar, cuja composição obedece às normas acadêmicas da pintura religiosa, é ambientada à porta de uma habitação simples, permanecendo visíveis as roupas no varal e a falta de reboco nas paredes. As próprias vestimentas dos personagens reafirmam essa condição. A mensagem é evidente: nas classes baixas, exatamente onde a miscigenação acontece sem controle, o sangue branco prevalecerá no espaço máximo de três gerações. ## O artista Nelson Screnci Nelson Screnci, artista fascinado pelo universo das imagens deixadas pelos grandes pintores, aceitou tentar uma fusão entre duas telas. Ele já havia trabalhado a partir de ambas, juntando-as com tipos populares ou com princesas de Velazquez Aqui, elas se metamorfoseiam uma na outra; os tipos "icônicos" do caipira e da negra misturam-se com elementos populares. Ele associa também a exuberância que colore a tela de Tarsila do Amaral aos tons mais vizinhos que emprega Almeida Júnior. Cada uma de suas pequenas imagens vibra numa luminosidade mais forte. Sua obra oferece pontos de convergência entre as duas telas e mostra como a visão mais fecunda é aquela que escapa aos estereótipos de conceitos como "moderno", "acadêmico" ou outros. Mais convergências são possíveis: esta miniexposição é o convite para descobri-las. ## Análise plástica dos aspectos estéticos e formais - **A composição:** Quais são as linhas que organizam a obra? Isto é, a organização das figuras segundo esquemas geométricos ou não, com eixos bem marcados ou não, segundo leis de perspectiva ou sem elas (como é criado o sentido de profundidade). - **O desenho:** qual é a função da linha, a sua espessura e forma? Os contornos são nítidos? Tem um papel fundamental ou acessório? - **As cores:** Quais são as cores dominantes? Cores quentes ou frias? Análogas ou complementares? ## A luz - De onde vem a luz? Está distribuída uniformemente ou é concentrada em uma cena ou figura? Qual é o seu efeito? - A técnica de pintura: mancha larga, pontilhada, linear? - O material de pintura: óleo, têmpera, guache? - A técnica de escultura (se for o caso): modelagem, instalação; que material foi usado? Deverá analisar se o olhar do espectador é atraído para algum ponto em especial e porquê; o que se pretende traduzir com determinadas cores; se o emprego de determinada técnica marca decididamente o estilo do autor; se o emprego de determinados materiais representa um avanço em relação a outros, se há inserção ou não nas técnicas comuns, etc. ## Comentário pessoal sobre a obra de arte Comentar do ponto de vista pessoal uma obra de arte é exprimir a sua adesão ou não, à obra, quer do ponto de vista intelectual, quer do ponto de vista afetivo, justificando a sua posição. Com as informações fornecidas pela análise da obra de arte, poderá concluir sobre o valor estético-formal do documento que analisou, isto é, a sua qualidade como uma produção artística, a partir do estudo dos seus elementos básicos. ## Leitura visual, interpretação e simbologia das artes ### Arte: concepção e leitura Conceitualmente podemos dizer que a arte é um modo de produção cultural com características prioritariamente estéticas através do qual o ser humano se expressa e se comunica. No entanto a arte não se manifesta de maneira uniforme, pois as produções artísticas classificam-se, normalmente, em teatro, música, dança, cinema, artes literárias e artes visuais. Dessas linguagens, abordaremos apenas as artes visuais, produções estéticas cujas representações semânticas e sintáticas se caracterizam prioritariamente pela visualidade e são divididas em espaciais, plásticas, decorativas, digitais, holográficas e audiovisuais. - **Espaciais** – produções caracterizadas pela tridimensionalidade, esculturas, arquitetura, instalação e similares; - **Pictóricas** – desenho, grafite, pintura, gravura, vitral, fotografia e similares; - **Decorativas ou aplicadas** – trabalhos elaborados em objetos e materiais utilitários como azulejo, vasos, automóveis, tecidos e outros; - **Digitais** – trabalhos de computação gráfica, web, câmeras e similares; - **Holográficas** – do grego. Holos: todo, inteiro; e graphos: sinal, escrita, a holografia é um processo de registro de imagens, através de um fenômeno de interferência luminosa, que possibilita a reconstrução e visualização dessas imagens em três dimensões; - **Audiovisuais** – produções em vídeo, TV, cinema, MPG, mp4 e similares. ### Processo criativo Tomando como categorias, as estruturadas por Hallawell (1994), o processo criativo das artes visuais ocorre a partir da idealização, da materialização, da interpretação e da reinterpretação. Porém essa estrutura não é rígida e nem segue necessariamente a uma cronologia linear. A idealização representa a gênesis ou princípio do pensar do artista antes da execução de um objeto artístico. A materialização corresponde ao pensar nos materiais e na sua utilização para que o trabalho possa ser concebido, seja ele executado pelo artista ou terceirizado, seja um trabalho tradicional ou mesmo de vanguarda, todos precisam ser materializados, embora, às vezes, de maneira bem sutil e inovadora. A interpretação se refere à maneira como o artista materializará a ideia / tema através dos materiais selecionados, dando à composição um formalismo estético. E finalmente a reinterpretação que é o momento de leitura do objeto artístico, etapa na qual o leitor fará a sua interpretação da ideia / tema representada pelo artista naquele trabalho. ### Leitura de imagens Sendo uma produção material é possível afirmar que todo objeto artístico tenha uma representação imagética. E tratando-se de comunicação, é passível de leitura. - Mas o que significa leitura de imagem? - E qual o conceito que se tem de imagem? A leitura é o ato ou procedimento de decifrar e interpretar códigos de linguagens, ou ato de apreensão sintática e semântica de texto verbal ou não-verbal (pintura, poesia, filme, foto, peça de teatro etc.). A imagem se configura como uma representação perceptivo-formal de determinada realidade concreta ou imaginária. Também definida como uma representação mental e material, a imagem é uma construção mental elaborada a partir de estímulos sensoriais somados a elementos afetivos e cognitivos. ### Pelo seu poder de comunicar, a arte se caracteriza como linguagem, ou seja, um sistema de expressão e interação social constituído de representações verbais e não-verbais. ## Níveis da leitura de imagens Ao ler uma imagem, alguns fatores são muito significativos, chamados por alguns teóricos de níveis de leitura. 1. A percepção sensorial; 2. A cognição; 3. A afetividade. - **A leitura sensorial** é a percepção descritiva das formas representadas na imagem. - **A leitura cognitiva** é a apreensão dos conhecimentos históricos, científicos, sócio culturais e estéticos representados no objeto artístico. - **A leitura afetiva**, refere-se à postura de aceitação ou rejeição que suscita no leitor. ## Dimensões do objeto artístico A arte enquanto produto estético de expressão e comunicação possui quatro pontos básicos de sua constituição e de sua leitura, chamados de dimensões do objeto artístico, abrangendo toda e qualquer produção artística, independente da linguagem a qual pertença. Tais dimensões possuem características específicas, no entanto, é no somatório delas que o objeto artístico atinge maior significação cognitiva. São elas: - **Dimensão Histórica** – refere-se às informações históricas que podem ser extraídas do objeto artístico, não devendo ser confundida com a contextualização histórica que é a visibilidade e análise de um determinado recorte temporal para a melhor compreensão dessa imagem. - **Dimensão Cultural** – contempla as informações culturais e geográficas que podem ser extraídas do objeto artístico. - **Materialidade** – caracteriza a técnica e os materiais expressivos com os quais o objeto artístico foi produzido. - **Estrutura Formal** – representa o resultado imagético do objeto artístico, sendo constituído dos elementos específicos da sua linguagem de produção. ## Tipologia de leitura A maneira e ênfase que as dimensões recebem variam de acordo com a tipologia de leitura adotada, dentre os quais temos como exemplos: - **Semiótica** o termo deriva do grego Semeion (signo) e Sema (sinal), sendo apresentada como a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura. O signo é uma representação de qualquer objeto, forma ou fenômeno. - **Iconográfica** do grego, Eikôn (imagem, retrato) e Graphô (escrita). A iconografia institui-se como características que identificam ou descrevem uma determinada figura conforme suas especificidades de época, local e objetivos de produção. - **Iconológica** do grego, Eikôn (imagem, retrato) e Logos (palavra, discurso). A iconologia é estudada e aplicada hoje como um método de leitura do objeto artístico a partir da sua iconografia somada às suas características estabelecidas pelos materiais, estilos, objetivos, época e local de produção. - **Formal** esse tipo de leitura se baseia na compreensão e percepção da representação da forma que se apresenta a imagem. - **Associativa** a leitura associativa ocorre quando alguém ao apreciar um objeto artístico, estabelece uma referência comparativa com uma experiência anterior, gerando a partir desse ponto uma impressão e a construção de significados sobre o trabalho observado. - **Releitura** É o processo de produção de um trabalho prático, envolvendo as variadas técnicas das artes visuais ou mesmo de outras áreas do conhecimento, como a música, o teatro ou a dança, onde se recria uma obra de arte a partir da ideia de outra já existente. Se reler é ler novamente, é reinterpretar, reelaborar, redefinir, então a releitura é criar novos significados. Não é, pois, uma cópia, mas, sim, criação com base em um texto visual que serve como referência com o intuito de uma aproximação maior com a obra. A leitura de imagem é, na verdade, um recurso a mais para tornar atraente o ensino da arte e desenvolver habilidades para a compreensão da gramática visual. ## A Estética Estética (do grego αισθητική ou aisthésis: percepção, sensação) é um ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. A estética adquiriu autonomia como ciência, destacando-se da Metafísica, Lógica e da Ética, com a publicação da obra Aesthetica do educador e filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten, em dois volumes, 1750-1758. Baumgarten traz uma nova abordagem ao estudo da obra de arte, considerando que os artistas deliberadamente alteram a Natureza, adicionando elementos de sentimento a realidade percebida. Assim, o processo criativo está espelhado na própria atividade artística. Compreende então, de outra forma, o prévio entendimento grego clássico que entendia a arte principalmente como mimesis da realidade. - Na Antiguidade - especialmente com Platão, Aristóteles e Plotino - a estética era estudada fundida com a lógica e a ética. Obelo, o bom e o verdadeiro formavam uma unidade com a obra. A essência do belo seria alcançada identificando-o com o bom, tendo em conta os valores morais. - Na Idade Média surgiu a intenção de estudar a estética independente de outros ramos filosóficos. No âmbito do Belo, dois aspectos fundamentais podem ser particularmente destacados: a estética iniciou-se como teoria que se tornava ciência normativa às custas da lógica e da moral – os valores humanos fundamentais: o verdadeiro, o bom, o belo. Centrava em certo tipo de julgamento de valor que enunciaria as normas gerais do belo (ver cânone estético); a estética assumiu características também de uma metafísica do belo, que se esforçava para desvendar a fonte original de todas as belezas sensíveis: reflexo do inteligível na matéria (Platão), manifestação sensível da ideia (Hegel), o belo natural e o belo arbitrário (humano), etc. Mas este caráter metafísico e consequentemente dogmático da estética transformou-se posteriormente em uma filosofia da arte, onde se procura descobrir as regras da arte na própria ação criadora (Poética) e em sua recepção, sob o risco de impor construções a priori sobre o que é obelo. Neste caso, a filosofia da arte se tornou uma reflexão sobre os procedimentos técnicos elaborados pelo homem, e sobre as condições sociais que fazem um certo tipo de ação ser considerada artística. Para além da obra já referida de Baumgarten - infelizmente não editada em português, são importantes as obras Hípias Maior, O Banquete e Fedro, de Platão, a Poética, de Aristóteles, a Crítica da Faculdade do Juízo, de Kant e Cursos de Estética, de Hegel. ## Indivíduo, cultura e identidade ### Identidade cultural é o sentimento de identidade de um grupo ou cultura, ou de um indivíduo, na medida em que ele é influenciado pelo seu pertencimento a um grupo ou a uma cultura. Identidade é a igualdade completa. Cultural é um adjetivo de saber. Logo, a junção das duas palavras produz o sentido de saber se reconhecer. Hoje vivenciamos as identidades culturais, denominadas subjetivas, totalmente flexíveis, pois podem ser facilmente influenciadas. Na identidade cultural a influência do meio modifica totalmente um ser já que nosso mundo é repleto de inovações e características temporárias, os chamados "modismos". Uma pessoa que nasce em um lugar absorve todas as características deste, porém se ela for submetida a uma cultura diferente por muito tempo ela adquirirá características do local onde está agregada. No passado as identidades eram mais conservadas devido à falta de contato entre culturas diferentes; porém, com a globalização, isso mudou fazendo com que as pessoas interagissem mais, entre si e com o mundo ao seu redor. O importante é que devemos respeitar todos os tipos de identidade (subjetivas), para que não haja conflitos e desavenças entre os povos, pois essas são consideradas transitórias que podem se modificar com o decorrer do tempo. ## Questões identitárias: a arte na formação da cultura brasileira Na formação da arte brasileira temos a influência da arte indígena, da arte negra e da arte portuguesa. ### Arte africana - **Máscaras Africanas** – muitos museus em várias partes do mundo abrigam em seus acervos máscaras de povos da África Subsaariana. As máscaras são olhadas com curiosidade pelas pessoas, muitas vezes por um olhar que procura o exotismo, geralmente associado ao desconhecido, ao diferente. Alguns artistas até se inspiraram nelas para fazer suas obras. É o caso de Pablo Picasso. Mas existe uma grande diferença entre essas máscaras expostas em museus e as máscaras que são utilizadas no cotidiano africano. Que diferença é essa? O fato é que, isoladas em vitrines, podem despertar nas pessoas um interesse estético, mas perdem a carga simbólica com que foram feitas e com que são usadas em seu contexto original. E mesmo que uma cultura possua característica gerais, cada grupo ou subgrupo apresenta características muito específicas. A arte tradicional dos povos africanos é muito vasta e complexa, com diferenças características de cada grupo étnico. As máscaras estão presentes na maioria deles. Mas, afinal, qual a função dessas máscaras? As máscaras são feitas para serem usadas, geralmente, em cerimônias e rituais religiosos. Elas são vestidas, junto a outros adereços, em situações que envolvem música e dança. Quem veste a máscara muitas vezes o faz com o intuito de encarnar ou representar determinada divindade. - Normalmente são feitas de madeira e com ornamentos em ouro e bronze. Mas isso depende de cada grupo. Em comum, os temas retratados remetem ao cotidiano, a religião e aos aspectos naturais da região. - Nas cerimônias Gèlédé, por exemplo, praticadas por alguns povos do povo iorubá, da Nigéria, por exemplo, as máscaras são usadas para celebrar e atrair os poderes das divindades e ancestrais femininas. - Nessas ocasiões as máscaras, com figuras humanas e animais são colocadas sobre as cabeças, e não sobre o rosto. São usadas pelos homens que dançam e entretêm o público, muitas vezes com dizeres educativos e vestidos de mulher. ### Música e dança tradicional africana Assim como nas máscaras, na música tradicional africana há uma grande variedade de práticas entre os grupos étnicos. E qual a função dessa música? A música tem função principalmente social, acompanhando casamentos, nascimentos, diversos tipos de trabalhos e rituais religiosos. Muitas dessas músicas são executadas só para esses fins, geralmente, junto com a dança. - A música é feita para dançar! Essa é, possivelmente, uma das razões pelas quais apresente um desenvolvimento e exploração rítmicos tão ricos chamando atenção para os tambores e outros instrumentos de percussão. ## Arte afro-brasileira A arte africana chegou ao Brasil por meio dos escravos que foram trazidos pelos portugueses durante o período colonial e imperial. Dessa forma influenciou muitas festas, danças, ritmos e até a culinária brasileira formando uma arte genuinamente brasileira que recebe o nome de afro brasileira. Vamos conhecer algumas dessas influências: E por falar em arte afro-brasileira não poderia deixar de citar as Estruturas Tridimensionais, de Mestre Didi: - Falecido em 2013, Deoscóredes Maximiliano dos Santos, mais conhecido como Mestre Didi, foi um importante escultor e escritor brasileiro. Já na infância aprendeu a executar objetos rituais e a manipular materiais, formas e objetos com os mais antigos do culto orixá Obaluaiyê. Pesquisou e desenvolveu vários projetos que valorizaram e divulgaram as tradições da cultura africana no Brasil. - Na vertente histórica é possível pesquisar a origem de parte da população africana que vive no Brasil, sua localização no continente africano e sua expressão cultural, bem como a manutenção de suas expressões culturais em solo brasileiro, principalmente nos aspectos religiosos, artísticos e mesmo na manutenção da tradição de organização social, no caso a ancestralidade de Mestre Didi. - Nas artes, as esculturas desenvolvidas como forma de expressão da religiosidade podem ser trabalhadas na análise das técnicas de produção, como os tipos de materiais usados e as formas dadas aos objetos, além de mostrar como isso reflete as concepções religiosas de Mestre Didi. Em resumo, o objetivo é analisar a união entre a estética e a religião na produção artística. - No âmbito religioso, as esculturas produzidas por Mestre Didi podem ser utilizadas para apresentar a hierarquia das divindades Iorubas, o significado de cada uma dessas divindades e como a manutenção dessas formas de expressão e religiosidade é um patrimônio que tem sido mantido pelos descendentes de africanos que vieram escravizados para o Brasil. ### Festas - A primeira forma de arte africana no Brasil foi a religiosa. Muitas festas religiosas realizadas até hoje foram de certa forma adaptadas pelos escravos, que eram proibidos de expressar livremente suas crenças. - É o caso, por exemplo, dos festejos de Congada. - No passado esses festejos eram animados por danças, cantos e música, a procissão acabava numa igreja onde acontecia a cerimônia de coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola. - Hoje em dia essas festas são realizadas de maneiras diversas e mescladas a outras festas, elas basicamente são compostas de desfiles teatrais, ao som de vários ritmos: embaixadas, desafios, repentes e maracatus. Tem como padroeiras Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia. ### Música A música também foi muito favorecida pela cultura africana que contribuiu com os ritmos que são à base de boa parte da música popular brasileira. Um exemplo disso é o gênero musical lundu, que juntamente com outros gêneros deu origem à base rítmica do maxixe, samba, choro e bossa nova. Além da contribuição rítmica, também foram trazidos alguns instrumentos musicais como o berimbau, o afoxé e o agogô, todos de origem africana. - O mais conhecido deles no Brasil é o berimbau, instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanha os passos da capoeira, uma dança (e não uma luta!) Afro-brasileira pois nasceu no Brasil! No folclore são de origem africana as danças de cateretê, jongo e o samba, e os instrumentos musicais são o atabaque, a cuíca e a kalimba. ## Culinária Em muitos artefatos afro brasileiros os elementos artísticos africanos fundiram-se com os indígenas e portugueses. A culinária brasileira também recebeu algumas interferências dos colonizadores. Muitos dos pratos típicos do País, por exemplo, são o resultado da adaptação de pratos portugueses às condições da colônia. Um deles é a feijoada brasileira, que foi um resultado da adaptação dos cozidos portugueses. A cachaça, que foi criada nos engenhos como substituto para a bagaceira portuguesa, e alguns pratos portugueses como as bacalhoadas também se incorporaram aos hábitos brasileiros. ## Dia da consciência negra O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e a sua resistência à escravidão de forma geral. - Por que 20 de novembro? A data foi escolhida para coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi foi o grande líder do quilombo dos Palmares, respeitado herói da resistência antiescravagista. ## Arte indígena brasileira O Brasil é um país novo, com pouco mais que 500 anos. No entanto, antes de ser explorado pelos europeus, já havia habitantes nessas terras. Essas pessoas são os índios, de várias nações e culturas diferentes, com uma arte diversificada e rica em sua beleza. - Os portugueses e os índios eram muito diferentes. Os portugueses deixaram para trás um país rico e muito adiantado para a época. Eles eram mestres na construção de caravelas e tinham também uma arquitetura muito avançada. - Os índios, por sua vez, viviam em completa interação com a natureza, andavam nus pela floresta e coletavam apenas o necessário para sua sobrevivência. Nas palavras de Pero Vaz de Caminha: “Povos aparentemente dóceis, que andavam nus sem cobrir as "vergonhas", não carregavam ouro nem metais preciosos, eram amigáveis e não tinham armas de fogo[...]”. - Boa parte das produções indígenas no Brasil são consideradas pré-históricas por serem bem antigas. Mas é melhor classifica-las simplesmente como Arte Primitiva. É comum também encontrarmos referências à essa arte como Arte Pré-Cabralina, ou seja, arte produzida no Brasil antes da chegada de Pedro Álvares Cabral. - Muito antes de Colombo descobrir as Américas, ou de Pedro Álvares Cabral avistar as terras brasileiras já existiam aqui povos que faziam arte. Portanto é sempre bom frisar que nossa formação cultural, boa parte dela, vem dos índios! - Atualmente existem poucos índios brasileiros. Aqui em Brasília infelizmente não temos muito acesso às suas tribos e devemos sempre estudar a respeito. - Antes da chegada dos portugueses havia cerca de 25 milhões de nativos em solo brasileiro. Dividiam-se em grupos tribais e possuíam uma relação baseada em regras próprias de caráter social, político e religioso. Viviam da caça e da pesca que eram abundantes na época. - Cultivavam seu próprio alimento e domesticavam animais de pequeno porte. Com a colonização europeia essa quantidade reduziu-se grandemente. - Atualmente o Brasil tem quase 900 mil índios de 305 etnias e 274 idiomas (IBGE-2015). As comunidades atuais lutam para preservar a herança de seus antepassados. Hábeis artesãos, os índios produzem diversos tipos de artefatos para atender suas necessidades cotidianas e ritualísticas, e também servem como geradores de recursos financeiros complementares. - “Somos parte da Terra e ela é parte de nós” Os olhos e as mentes intelectuais da humanidade começaram no século 20 a reconhecer os povos nativos como culturas diferentes das civilizações oficiais e vislumbraram contribuições sociais e ambientais deixadas pelos guerreiros que tiveram o sonho como professores. Mas, a maior contribuição que os povos da floresta pode deixar ao homem branco é a prática de ser uno com a natureza interna de si. A Tradição do Sol, da Lua e da Grande Mãe ensinam que tudo se desdobra de uma fonte única, formando uma trama sagrada de relações e inter relações, de modo que tudo se conecta a tudo. O pulsar de uma estrela na noite é o mesmo que do coração. Homens, árvores, serras, rios e mares são um corpo, com ações interdependentes. Esse conceito só pode ser compreendido através do coração, ou seja, da natureza interna de cada um. - Quando o humano das cidades petrificadas largarem as armas do intelecto, essa contribuição será compreendida. Nesse momento entraremos no Ciclo da Unicidade, e a Terra sem Males se manifestará no reino humano. - Um índio não chama nem a si mesmo de índio esse nome veio trazido pelos colonizadores no século 16. - O índio mais antigo desta terra hoje chamada Brasil se autodenomina Tupy, que significa “Tu” (som) e “py” (pé), ou seja, o som-de-pé, de modo que o índio é uma qualidade de espírito posta em uma harmonia da forma. - Conforme o mito Tupy Guarani, o Criador, cujo coração é o Sol, o tataravô desse Sol que vemos, soprou seu cachimbo sagrado e da fumaça desse cachimbo se fez a Mãe Terra. Chamou sete anciães e disse: ‘Gostaria que criassem ali uma humanidade’. - Os anciães navegaram em uma canoa que era como cobra de fogo pelo céu; e a cobra-canoa levou-os até a Terra. Logo eles criaram o primeiro ser humano e disseram: ‘Você é o guardião da roça’. Estava criado o homem. O primeiro homem desceu do céu através do arco-íris em que os anciães se transformaram. Seu nome era Nanderuvuçu, o nosso Pai Antepassado, o que viria a ser o Sol. E logo os anciães fizeram surgir das Águas do Grande Rio Nanderykei-cy, a nossa Mãe Antepassada. Depois eles geraram a humanidade, um se transformou no Sol, e a outra, na Lua. São nossos tataravôs. ” - também mostra como funciona o pensamento nativo. Os antropólogos chamam de mito, e algumas dessas histórias são denominadas de lendas. ## Arquitetura - **Taba ou Aldeia** é a reunião de 4 a 10 ocas, em cada oca vivem várias famílias (ascendentes e descendentes), geralmente entre 300 a 400 pessoas. Esse tipo de construção foi usado em grande escala pelos índios tupis e guaranis do sul do Brasil. - O lugar ideal para erguer a taba deve ser bem ventilado, dominando visualmente a vizinhança, próxima de rios e da mata. A terra, própria para o cultivo da mandioca e do milho. - No centro da aldeia fica a ocara, a praça. Ali se reúnem os conselheiros, as mulheres preparam as bebidas rituais, é o lugar das grandes festas. Dessa praça, partem trilhas que levam à roça, ao campo e ao bosque. - Destinada a durar no máximo 5 anos a oca é erguida com varas, fechada e coberta com palhas ou folhas. Não recebe reparos e quando inabitável os ocupantes a abandonam. Não possuem janelas, têm uma abertura em cada extremidade e em seu interior não tem nenhuma parede ou divisão aparente. - As formas das casas variam segundo os costumes de cada grupo, podem ser circulares, retangulares, pentagonais, ovais, etc. O contato com os não índios influenciou em muitas mudanças ocorridas tanto no formato de aldeias e casas, quanto no material utilizado para a construção em algumas sociedades indígenas. - **Maloca** é um tipo de cabana comunitária usada pelos indígenas da região amazônica (principalmente do Brasil e Colômbia). Cada tribo desta região possui este tipo de habitação com características específicas. - **Taba** é menor que a oca. Também de origem tupi- guarani, é um termo mais usado pelas tribos da Amazônia. Nesta região também serve para designar aldeamento indígena. - **Opy** é uma espécie de casa de rezas dos índios. Servem também para a realização de festas religiosas e rituais sagrados. ## Pintura corporal e arte plumária - Eles pintam o corpo para enfeitá-lo e também para defende-lo contra o Sol, os insetos e os espíritos maus. Também para revelar de quem se trata, como está se sentindo e o que pretende. - As cores e os desenhos ‘falam’, dão recados. Caprichar na tinta, nas cores e nos desenhos garantem boa sorte na caça, na guerra, na pesca, na viagem. - Cada tribo e cada família desenvolvem padrões de pintura fiéis ao seu modo de ser. Nos dias comuns a pintura pode ser bastante simples, porém nas festas, nos combates, mostra-se requintada, cobrindo também a testa, as faces e o nariz. - A pintura corporal é geralmente uma função feminina; a mulher pinta os corpos dos filhos e do marido. - Assim como a pintura corporal, a arte plumária serve para se enfeitar, como mantos, máscaras, cocares, e passam aos seus portadores elegância e majestade. Esta é uma arte muito especial porque não está associada a nenhum fim utilitário, mas apenas a pura busca da beleza. - **A aldeia cabe no cocar A disposição e as cores das penas do cocar não são aleatórias. Além de bonito, ele indica a posição de chefe dentro do grupo e simboliza a própria ordenação da vida em uma aldeia Kayapó.** - Em forma de arco, uma grande roda a girar entre o presente e o passado. “É uma lógica de manutenção e não de progresso”. A aldeia também é disposta assim. Lá, cada um tem seu lugar e sua função determinados. - **A cor mais forte (vermelho) representa a casa dos homens, que fica bem no coração da aldeia. É a “prefeitura” Kayapó, presidida apenas por homens. Aí eles se reúnem diariamente para discutir caçadas, guerras, rituais e confeccionar adornos, como colares e pulseiras.** - **O amarelo refere-se às casas e às roças, áreas dominadas pelas mulheres. Nesses espaços, elas pintam os corpos dos maridos e dos filhos, plantam, colhem e preparam os alimentos. Esses lugares têm a mesma distância em relação à casa dos homens.** - **O verde representa as matas, que protegem as aldeias e ao mesmo tempo são a morada dos mortos e dos seres sobrenaturais. São consideradas um lugar perigoso, já que fogem ao controle dos Kayapós** ## Trançados e cerâmica - A variedade de plantas que são apropriadas ao trançado no Brasil dá ao índio uma inesgotável fonte de matéria prima. É trançando que o índio constrói a sua casa e uma grande variedade de utensílios, como cestos para uso doméstico, para transporte de

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