Processos Psicológicos Básicos PDF

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Este documento discute os processos psicológicos básicos, seus conceitos fundamentais, fenômenos definidores e a relação com as neurociências. Aborda tópicos como percepção, atenção, memória e linguagem, e como eles se conectam aos comportamentos humanos.

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Processos psicológicos básicos Processos Psicológicos Básicos, seus conceitos fundamentais, fenômenos definidores, e relação com as neurociências. Os elementos do córtex cerebral e sua conexão com as patologias correlacionadas a cada processo. Profª Valéria Guimarães Leal 1. Itens iniciais Propósi...

Processos psicológicos básicos Processos Psicológicos Básicos, seus conceitos fundamentais, fenômenos definidores, e relação com as neurociências. Os elementos do córtex cerebral e sua conexão com as patologias correlacionadas a cada processo. Profª Valéria Guimarães Leal 1. Itens iniciais Propósito O estudo dos processos psicológicos básicos permite ao psicólogo entender como as pessoas percebem, memorizam, esquecem e aprendem a linguagem. Se entendermos como as pessoas pensam, entenderemos como se comportam, uma vez que o comportamento é baseado na interpretação que fazemos da realidade, e não da realidade em si. Objetivos Identificar os processos psicológicos básicos como funções mentais importantes para o desenvolvimento cognitivo. Reconhecer as contribuições das neurociências para o estudo dos processos psicológicos. Introdução Processos psicológicos básicos são fenômenos que definem o funcionamento psicológico, são funções mentais, permitindo a compreensão do comportamento normal e patológico. Estudá-los permite ao psicólogo entender como as pessoas percebem, aprendem, memorizam, esquecem certas informações. Esse fenômeno pode ser aplicado em diversas áreas da Psicologia, incluindo a avaliação psicológica, a psicologia clínica, a psicologia do trânsito, a Neuropsicologia, dentre outras. Portanto, o conteúdo do ensino dos processos psicológicos básicos associa-se com diferentes áreas da Psicologia que tratam de temas como percepção, atenção, memória, linguagem e aprendizagem. Essas áreas de investigação estão intimamente relacionadas com as neurociências e outras disciplinas e suas descobertas avançam de forma paralela entre si. Essa relação remete-se ao aperfeiçoamento de técnicas de avaliação com pacientes com comprometimento cognitivo ou alterações emocionais. Tais técnicas foram se aperfeiçoando por meio de pesquisas, que contribuíram para o conhecimento acerca dos processos psicológicos básicos. Podemos, portanto, concluir que o conteúdo a ser tratada nos módulos a seguir é de fundamental importância para a realização do exame do estado mental, no qual as funções, como memória, emoção, linguagem e percepção do paciente são avaliadas. Consideramos que o entendimento dos processos básicos somente tem a acrescentar na atuação do psicólogo, ajudando a ampliar seu horizonte no campo de ação e prática profissional. 1. Processos psicológicos básicos Identificando os processos psicológicos básicos Os processos psicológicos básicos incluem percepção, sensação, linguagem, memória, atenção, aprendizagem, inteligência, emoção e motivação. Esses processos são um recurso que temos para nos adaptarmos ao mundo, permitindo que modifiquemos nosso ambiente e nossa realidade. Nossa interação com o mundo acontece por meio de nossos comportamentos, os quais são regidos pelos processos psicológicos básicos (funções mentais). Sendo assim, o comportamento humano é mediado por meio dos processos mentais. Vamos identificar os processos psicológicos básicos de maneira independente, porém é preciso ter em mente que eles estão relacionados, alguns sequer podem existir sem o outro. Como exemplo desses processos relacionados podemos citar: a linguagem e o pensamento, a memória e a percepção, o pensamento e a memória. Percepção O ser humano se orienta pelo mundo através de informações que capta do meio: tudo aquilo que pode ver, ouvir, tocar e cheirar. Porém, é importante ressaltar que sensação é diferente de percepção. Veja a seguir a diferença entre elas. Percepção Sensação Processa, organiza e interpreta as É um fenômeno biológico, produzido por sensações. Está baseada na experiência estímulos físicos que fornecem ao indivíduo concreta e real, portanto imaginar ou informações sobre o ambiente, que por fim alucinar com algo não é um processo de levam à produção de diferentes sensações. percepção. A percepção advém de uma experiência consciente do mundo. Um exemplo de como ocorre o processamento da percepção é quando sentimos cheiro de doce e vemos que, na bancada da cozinha, estão espalhados farinha, ovos e açúcar. Os estímulos do olfato e da visão são decodificados em sinais neurais, interpretados pelo cérebro como a possibilidade de alguém estar assando um bolo. Apesar de ser uma experiência consciente, cada pessoa tem uma percepção única dos estímulos recebidos, ou seja, tem uma interpretação diferente de um objeto ou situação, de acordo com a sua relevância para o sujeito. Atenção Podemos afirmar que a sensação e a percepção conectam os mundos físico e psicológico. Organização perceptiva Para os psicólogos da área, a percepção vai além do resultado de dados sensoriais acumulados, ou seja, o todo é mais do que a soma das partes. Exemplo Uma história é mais do que um conjunto de palavras agrupadas. A ideia desses psicólogos é que o cérebro se apropria de princípios inatos para organizar a informação sensorial em um todo. Desse modo, podemos explicar por que percebemos “um avião” como oposto a “metal, asas, vidro, portas, turbinas, janelas” e assim por diante. Um objeto existe como unidade, e não como um conjunto de características. Os princípios de Gestalt possuem regras de agrupamento perceptivo, vamos estudar algumas delas a seguir. Gestalt Gestalt é uma palavra alemã que significa “formato” ou “forma”. Proximidade Quando observamos duas imagens, uma ao lado da outra, maior é a probabilidade de agruparmos ambos e vermos como parte de um mesmo objeto. Similaridade Quando observamos grupos de imagens, tendemos a juntá-los de acordo com a proximidade com que um se apresenta do outro, seja com relação à cor, forma ou orientação. Conforme os princípios de similaridade e proximidade, pendemos a agrupar os elementos da cena visual. Desse modo, ao invés de identificarmos como partes individuais, o agrupamento nos possibilita pensar em uma cena como um todo. Continuidade Conhecido pelos psicólogos da Gestalt como “boa continuação”, é o ato de agrupar bordas ou contornos com a mesma orientação. A boa continuação de contorno (linha limítrofe) parece exercer um papel importante na conclusão de um objeto que esteja atrás de um oclusor. O oclusor é definido como qualquer coisa que se sobreponha e esconda da vista parte de um objeto ou um objeto inteiro. Contudo, esse princípio pode operar sobre características que sejam mais complexas do que apenas contornos. Fechamento Tendemos a completar imagens com lacunas para visualizar um objeto completo. Contornos ilusórios Quando percebemos, mesmo que inexistentes, contornos e indícios de profundidade. Sensação Sensação é processo inicial de detecção e codificação da energia ambiental. É a tradução de sinais ambientais em sinais neurais. Ocorre quando nosso cérebro processa esses sinais neurais recebidos dos diferentes córtex sensoriais e, por fim, dá a eles uma representação mental. Assim, temos a percepção. Atenção É um processo psicológico de extrema importância no cotidiano em que informações internas e externas são recebidas a todo o momento. Está sobre seu encargo concentrar nossos recursos em uma série de estímulos e ignorar o restante. É como um filtro, no qual, diante de vários estímulos, a pessoa foca no que lhe interessa. Isso ocorre porque não somos capazes de atender à grande quantidade de estímulos que recebemos ao mesmo tempo. Tal processo é adaptativo uma vez que, caso não existisse, ficaríamos perdidos sem saber a qual estímulo reagir. A atenção facilita o processo de memória, uma vez que é mais fácil lembrar de objetos nos quais prestamos atenção do que objetos que ignoramos. É correto afirmar que a atenção está diretamente relacionada a todos os processos psicológicos, pois é por meio dela que selecionamos quais informações usaremos, deixando outros estímulos para segundo plano. A atenção apresenta uma forte ligação com a percepção e sensação, devido ao fato de que, no início do processo de percepção, tomamos a decisão sobre o que vamos focar a atenção. Exemplo Quando identificamos o momento seguro de atravessar a rua pela sinalização dos semáforos. Em termos funcionais, podemos distinguir o processo de atenção em dois tipos: atenção seletiva e atenção dividida. A atenção seletiva O psicólogo Donald Broadbent, em 1958, criou a teoria do filtro para explicar a atenção seletiva. Para ele, a informação sensorial nas pessoas teria uma capacidade limitada, então haveria uma seleção das informações que chegam, para que somente a mais importante passasse. Foi constado, porém, que não ignoramos os outros estímulos por completo, pois a informação em segundo plano também é parcialmente processada. Um exemplo disso é o estado de vigilância, quando o sujeito espera detectar um estímulo ou sinal específico, que pode ocorrer em um tempo indeterminado, ficando desse modo por um período prolongado focado em um campo; ou o ato de sondagem, que acontece quando se examina de forma concentrada o ambiente em busca de aspectos específicos. Um bom exemplo de atenção seletiva é a tarefa conhecida como sombreamento criada por Colin Cherry em 1953. Nessa tarefa, uma pessoa é posta para escutar duas mensagens ao mesmo tempo, em ouvidos diferentes. Em seguida, deve repetir apenas uma das mensagens o mais rápido possível. Atenção dividida É quando se consegue exercer mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Por exemplo, estudar e ouvir um rádio, ou ver televisão e bordar, separando de forma habilidosa nossos recursos de atenção em cada tarefa. Pensamento e linguagem A linguagem é a maneira de expressar os pensamentos por meio de palavras que permitam a comunicação e a interação entre as pessoas. A linguagem é a capacidade que o ser humano tem para produzir, desenvolver e compreender a língua. A língua é um instrumento de comunicação composto por regras gramaticais, possibilitando aos falantes produzir enunciados que lhes permitam se comunicar e compreender. É uma ferramenta que possibilita o uso da fala. A fala é um conjunto de atividades musculares. A aquisição da linguagem é um fenômeno cognitivo inconsciente. Os animais possuem um sistema de comunicação, entretanto apenas os humanos possuem o processamento da língua, denominado linguagem. Exemplo Concordância de gênero, concordância de tempo e pessoa. Portanto, ter linguagem é entendido como ter a habilidade para processar e entender os dados da língua. O pensamento é um processo complexo responsável por transformar a informação para organizá-la e lhe dar sentido, nos permitindo agir efetivamente em nosso ambiente, resolvendo problemas, tomando decisões, formando julgamento, estruturando e desenvolvendo a linguagem. O pensamento e a linguagem (verbal e não verbal) estão interligados. É por meio delas que damos significado às experiências, criamos conexões e armazenamos informações. Com isso, é possível reativar as informações armazenadas em forma de pensamentos. Motivação O que o move para a ação? O comportamento pode ser ativado por estados emocionais, os quais podem ativar ações excitantes. Por exemplo, a vontade de passar na prova física em um concurso motiva o candidato a se preparar fisicamente. Os estados motivacionais também direcionam o comportamento a atender às necessidades que tanto podem ser biológicas, como a necessidade por comida e água, quanto sociais, como estar com outras pessoas. A motivação é um processo que sustenta, direciona e dá energia para atingir um objetivo. Tem um importante papel na aprendizagem, pois uma pessoa sem motivação para estudar determinado tema dificilmente terá sua atenção focada nele, isso dificultará sua memorização, pois não conseguirá adquirir novos conhecimentos e não os registrará. Novamente, percebemos aqui a interligação mencionada nos processos psicológicos. Na década de 1940, Abram Maslow, psicólogo norte-americano, propõe a teoria conhecida como pirâmide de Maslow ou hierarquia das necessidades de Maslow, na qual ele definiu cinco categorias de necessidades humanas. Veja a seguir. Maslow acreditava que uma pessoa somente chegaria à realização pessoal se tivesse cada uma das necessidades da pirâmide atendidas na sequência, desde a base até o topo. Porém, a classificação das necessidades não é tão simples assim. Verificou-se que a pirâmide pode ser usada mais como um indicador do que algo que seja verídico para todas as pessoas, pois nem todos colocam a necessidade de segurança antes das necessidades sociais, por exemplo. Existem dois tipos de motivação: Motivação intrínseca Motivação extrínseca É interna ao indivíduo (impulsos, É externa ao indivíduo, sendo dirigida, desejos e necessidades), como prazer geralmente, a uma recompensa ou em um processo criativo ou ao ler um incentivo, como estudar para passar em um livro. A busca de reconhecimento é concurso. interna. A motivação é um processo que está muito relacionado com a emoção e a aprendizagem. Emoção É uma resposta instantânea do nosso corpo a estímulos externos provenientes do ambiente, ou internos, nossos pensamentos. Emoções nos permitem guiar nosso comportamento e agir rapidamente em resposta às demandas do ambiente. São percebidas em expressões corporais, tais como: mudança na entonação/modulação de voz (prosódia), alterações faciais, ao baixar e juntar as sobrancelhas, por exemplo, e mudanças fisiológicas, como batimentos cardíacos acelerados. Veja a seguir algumas das funções das emoções: Informar a condição interna de uma pessoa aos outros e causar uma resposta. Dirigir e regular o comportamento, preparando os sujeitos para encarar desafios que estão ao seu redor por meio de ajustes da ativação dos sistemas cardiovasculares, musculoesqueléticos, neuroendócrino e do sistema nervoso autônomo (SNA), como sudorese, motilidade gastrointestinal e pressão arterial. As emoções foram distinguidas por muitos teóricos como: Primárias Secundárias Por serem inatas, evolutivas e partilhada por Porque são de origem social e advêm de todas as pessoas. São emoções primárias: processos de aprendizagem. São emoções alegria, raiva, tristeza e medo. secundárias: vergonha, culpa, orgulho e nojo. Qualquer decisão tomada é mediada por nossas emoções em maior ou menor grau. A raiva é uma emoção evidenciada pelo comportamento agressivo, sendo acompanhada pelo impulso de ataque. O medo é acompanhado por um comportamento de fuga ou esquiva, sendo uma experiência de angústia frente ao risco de uma ameaça real ou imaginária. A tristeza é uma reação humana universal diante da perda, derrota, ou de uma grande adversidade. As emoções também foram categorizadas, segundo a sua dimensão, em um modelo complexo, no qual são categorizadas quanto à valência (o quão negativas ou positivas elas podem ser consideradas) e ao alerta fisiológico. Emoção e cognição estão relacionadas e possuem um enfoque na adaptação socioambiental do homem. A emoção nos orienta através das experiências positivas e negativas de interação socioambiental, e a cognição por meio de funções como atenção, memória, raciocínio, nos dá habilidade para lidar com adversidades. Alerta fisiológico O quão excitante elas podem se manifestar, sendo baixo ou alto. Para a Psicologia a emoção tem três componentes: Somático São as mudanças fisiológicas. Exemplo: taquicardia e tremor. Comportamentais São os aspectos de comportamento expresso. Exemplo: ao sair correndo após presenciar uma situação de perigo. Sentimento É a experiência da emoção subjetiva pelo indivíduo. Os estados subjetivos são difusos e de origem desconhecida, sendo mais duradouros que as emoções e servindo como plano de fundo aos demais processos psicológicos. A pessoa pode identificar o que ela sente, por exemplo, ao observar que alguém faz muitas benfeitorias, percebe que o ato é bom, correto e belo e nota surgir o sentimento de admiração. Memória É a capacidade do nosso sistema nervoso de armazenar informações e experiências passadas para recuperá- las no presente. O processo de memorização foi dividido pelos psicólogos cognitivos em três fases: Codificação ou aquisição Armazenamento, retenção ou consolidação O cérebro transforma a informação em um código neural, que será transportado ao É a fase em que a informação codificada é Sistema Nervoso Central (SNC). Essa fase no retida, por um período. processo de memorização pode ser prejudicada por fatores como estresse e ansiedade. Recuperação ou ativação Quando procuramos a informação armazenada, e a recuperamos para usar no momento presente. Podemos imaginar essas três fases como informações em um computador. Quando digitamos algo, estamos codificando; quando salvamos a informação, estamos armazenando; e quando buscamos a informação e trazemos para a tela, nós a recuperamos. Podemos também subdividir a memória em tipos: Memória sensorial É da ordem de milésimos de segundo, geralmente nem temos consciência de que está operando. É algo que não estamos prestando atenção. Se você fechar os olhos nesse exato momento, irá se lembrar da última coisa que viu. Memória de curto prazo É da ordem de segundos, minutos ou horas. A pessoa retém informação por um curto período. A memória de trabalho é um termo que aparece em algumas literaturas e está inserida na memória de curto prazo. Retém de diferentes fontes variadas informações. Memória de longo prazo Difere das demais por armazenar um conteúdo maior por um tempo mais longo. Novamente, se compararmos com um computador, a memória de longo prazo seria o HD da máquina. Já a memória de curto prazo seria o chip que armazena as informações que ficam na tela. A memória de longo prazo pode ser distinguida de duas maneiras: a memória explícita ou declarativa e a memória implícita ou não declarativa. Veja a seguir. Memória explícita Memória implícita Requer habilidades da consciência e, por meio É o oposto, não requer consciência e dela, é possível falar sobre a experiência vivida. frequentemente não pode ser descrita. Por Por exemplo, quando se requer uma recordação exemplo, uma resposta emocional ou uma consciente, como se esforçar para lembrar uma habilidade motora para resolver um problema. fórmula matemática. A memória explícita se subdivide em: Memoria semântica Memória episódica Que não tem um contexto temporal. Pode ser Relacionada a informações e fatos que composta de fatos, conhecimento geral do ocorreram em um tempo específico. Por mundo, conceitos, vocabulário. Por exemplo, exemplo, o que você fez nas suas últimas férias você sabe quem é Elvis Presley, mas não ou onde esteve. Para a clínica neurológica, lembra quando ouviu esse nome pela primeira psiquiátrica e neuropsicológica, é a mais vez. relevante forma de memória. A perda da memória episódica segue a Lei de Ribot ou Lei da regressão mnêmica, segundo Dalgalarrondo (2008, p. 140): (...) formulada por Théodule Ribot. A “Lei da regressão mnêmica” a qual informa que um indivíduo que sofre uma lesão ou doença cerebral, sempre que esse processo patológico atinge seus mecanismos mnêmicos de registro e recordação, tende a perder os conteúdos da memória (esquecimento) seguindo algumas regularidades: 1. O sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na ordem e no sentido inverso que os adquiriu.2. Consequência do item anterior, ele perde primeiro elementos recentemente adquiridos e, depois, os elementos mais antigos.3. Perde primeiro elementos mais complexos e, depois, os mais simples.4. Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos habituais e, só posteriormente, os mais familiares.5. Primeiramente, perde os conteúdos mais neutros; depois, perde os elementos afetivos e, apenas no fim, os hábitos e os comportamentos costumeiros mais profundamente enraizados no repertório comportamental e mental. (DALGALARONDO 2008, p. 140) Na memória implícita temos a memória de procedimento, composta de habilidades motoras, condicionamentos clássicos e capacidades. É um tipo de memória automática, geralmente não consciente. Por exemplo, quando você atravessa uma rua, mas estava tão distraído que nem lembra. Aprendizagem É um processo psicológico básico que permite ao ser humano adquirir conhecimentos, habilidades, experiências, comportamentos e adaptar-se ao ambiente. Está intimamente relacionado com a memória e a inteligência. Existem três tipos de aprendizagem: Aprendizagem não associativa Ocorre por habituação. Por exemplo, uma criança pode ser acostumada a ser muito repreendida, reagindo cada vez menos ao estímulo porque habituou-se a receber as repreensões. Aprendizagem associativa Ocorre por associação de duas ideias, ou de estímulos e respostas. Por exemplo, quando associamos uma ida ao shopping com o ato de comprar. Aprendizagem por observação Ocorre quando, após ficarmos exposto a uma pessoa, adequamos os nossos comportamentos aos dela. Por exemplo, uma criança pode aprender com um par um movimento de ficar girando ao observar e imitar tal movimento. A habituação e a sensibilização são dois modelos simples de aprendizagem não associativa. A habituação consiste em uma diminuição progressiva da resposta comportamental a estímulos repetitivos e já preestabelecidos. Quando um estímulo é novo, ele produz uma resposta intensa. Entretanto, quando não apresenta qualquer consequência, seja essa prejudicial seja gratificante, simplesmente o ignoramos. Por sua vez, a sensibilização se trata de um aumento na resposta comportamental após a exposição a um estímulo. Os estímulos ameaçadores ou dolorosos são os que com mais frequência levam à sensibilização. Inteligência Processo psicológico básico, juntamente com a aprendizagem, é responsável pelo desenvolvimento do repertório de condutas, nos auxiliando a responder de maneira mais adaptativa a situações atuais e futuras. Cada experiência bem-sucedida torna a próxima experiência mais fácil. Segundo Sternberg (2008), inteligência é a capacidade de aprender com a experiência, fazendo uso de processos metacognitivos para fomentar a aprendizagem. Também é a capacidade de habituar- se ao meio ambiente que nos cerca, o qual pode exigir adaptações diferentes no âmbito de contextos sociais e culturais diferentes. Em outras palavras, inteligência é a capacidade de aprender com a experiência e adaptar-se a um ambiente. O que é considerado inteligência por um povo pode não o ser para outro. Como exemplo podemos citar os EUA, que consideram os aspectos emocionais da inteligência tão importantes quanto os aspectos cognitivos. Outros povos, por sua vez, incluem, no conceito de inteligência, aptidões morais ou autocompreensão. Por quais motivos avaliamos a inteligência? A avaliamos para utilizar nas áreas: Ocupacional, para a seleção e orientação profissional e orientação de carreira. Educacional, para a avaliação e o acompanhamento de crianças com problemas de aprendizagem, portadoras de deficiência intelectual ou superdotadas. Clínica, para obtenção de diagnósticos. Hospitalar. Judiciária. Teorias sobre a inteligência A ideia de existir um fator geral unitário de inteligência era defendida pelo pesquisador Spearman. Esse “fator G” estaria relacionado à capacidade de abstração. Porém, outro pesquisador, Thurstone, defendia que a inteligência era uma entidade multifatorial, com diversas e independentes capacidades e habilidades. Ele denominou como capacidades primárias aquelas relacionadas à compreensão verbal, fluência para palavras, habilidade com números, rapidez perceptual, memória, orientação espacial e ao raciocínio. Posteriormente, por meio de estudos estáticos de aplicação de testes de inteligência, ambas Charles Edward Spearman (10 de setembro de 1863 - as hipóteses de Spearman e Thurstone 17 de setembro de 1945). provaram estar corretas. O pesquisador Howard Gardner criou a teoria das inteligências múltiplas, na qual apresenta oito inteligências que seriam independentes entre si. Essa teoria diverge da teoria das capacidades primárias, a qual defende que essas capacidades fazem parte de um conjunto e estão relacionadas entre si. As oito inteligências de Gardner são: 1 Musical Processar sons e compor diferentes notas musicais. 2 Linguística Domínio da língua para comunicação verbal e escrita. 3 Espacial Locomover-se no espaço, interagir com o ambiente externo. 4 Intrapessoal Autocompreensão. 5 Interpessoal Relacionamento social. 6 Lógico-matemática Habilidade com operações matemáticas, habilidades indutivas e dedutivas. 7 Cinestésica corporal Equilíbrio e expressão corporal. 8 Naturalista Distinguir, classificar e manipular elementos do meio ambiente. A teoria de Cattell divide a inteligência em dois subfatores: inteligência fluida, que está associada a componentes abstratos e não necessita de uma experiência prévia, sendo operações mentais que as pessoas executam frente a algo novo; inteligência cristalizada, que é adquirida através de um aprendizado, um conhecimento prévio. A inteligência emocional, desenvolvida por Daniel Goleman, é a capacidade de compreender e de regular as emoções, nossos próprios sentimentos e os dos outros. Goleman incluiu nesse conceito o otimismo, a motivação, a empatia e a competência social. Cognição e processos psicológicos básicos A especialista Valéria Guimarães Leal faz agora uma introdução aos processos psicológicos básicos e sua relação com a cognição. Ela ainda descreve cada uma das funções mentais com ênfase para atenção, sensação, percepção, aprendizagem e memória. Vamos lá! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Percepção Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Memória Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Aprendizagem Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 O processo psicológico básico está intensamente relacionado com a percepção e sensação, além disso também facilita a memorização, ajuda a nos concentrarmos em um estímulo e ignorar o que não nos interessa. A descrição se refere a qual processo psicológico básico? A Emoção. B Aprendizagem. C Linguagem. D Motivação. E Atenção. A alternativa E está correta. A atenção é o processo psicológico que nos permite focar nos estímulos que nos interessa e ignorar os que não interessa. Esses estímulos chegam através das sensações e são decodificados pelo nosso processo de percepção. Também é por meio dessa concentração no que nos interessa que conseguimos memorizar mais facilmente. Questão 2 Há diversas teorias para o estudo da Inteligência, a teoria das inteligências múltiplas apresenta quantos tipos de inteligência e quem é o seu autor? A São 5 tipos de inteligência e o criador da teoria foi Cattel. B São 8 tipos de inteligência e o criador da teoria foi Gardner. C São 6 tipos de inteligência e o criador da teoria foi Spearman. D São 4 tipos de inteligência e o criador da teoria foi Thurstone. E São 8 tipos de inteligência e o criador da teoria foi Cattel. A alternativa B está correta. A teoria das inteligências múltiplas foi criada por Howard Gardner e abrange 8 tipos: musical, linguística, espacial, intrapessoal, interpessoal, lógico-matemático, interpessoal, cinestésica corporal e naturalista. 2. Neurociências e os processos psicológicos Introdução às neurociências A abordagem da psicologia cognitiva reconhece que o cérebro é importante para a cognição. No início dos anos 1980, os psicólogos cognitivos se uniram aos neurocientistas, cientistas da computação e filósofos para desenvolver uma visão integrada da mente e do cérebro. A partir de então, surgiu a neurociência cognitiva. Os pesquisadores dessa área estudam os mecanismos neurais que estão por trás do pensamento, da aprendizagem, da percepção, da linguagem e da memória. Mecanismos neurais Mecanismos que envolvem o cérebro, os nervos e as células nervosas. A neurociência se dedica ao estudo do sistema nervoso, mas o que nos interessa de fato é a biologia da mente, como os processos mentais ocorrem em regiões específicas do cérebro, como a experiência pode mudar, o modo de cérebro processar eventos subsequentes e o quanto esse processo é inconsciente. Ou seja, a neurociência estuda como as células neurais estão interligadas aos processos mentais. O que conhecemos como “mente” é um conjunto de atividades que executamos no cérebro. Nosso cérebro não é responsável somente por funções motoras, como andar e comer, mas também por processos cognitivos, como a linguagem. Desse modo, um distúrbio da função encefálica compromete as funções cognitivas. Desde o final da década de 1980, os pesquisadores têm conseguido estudar o cérebro em atividade durante a execução de suas funções psicológicas vitais, devido à imagem de ressonância magnética funcional (IRMF). Exames de imagem cerebral têm permitido cada vez mais avanços dos conhecimentos sobre a base neural da vida mental. Saber onde alguma coisa acontece no cérebro é uma informação a princípio pouco reveladora. Entretanto, através da imagem, pode se observar padrões consistentes em que uma ativação cerebral em uma área estaria associada a um processo mental específico. Por um longo período, foi debatido pelos cientistas se os processos psicológicos estavam localizados em partes específicas do cérebro ou distribuídos por todo o órgão. Estudos posteriores mostraram que, dentro de um limite, a localização está associada à função. Ou seja, algumas áreas do nosso cérebro são muito relevantes para ações específicas, como as áreas motoras, da linguagem e da emoção. Porém, o cérebro tem muitas partes que precisam trabalhar juntas para gerar o comportamento e a atividade mental. Saiba mais Esquematizar como as diversas áreas do cérebro estão interligadas e como agem em conjunto na geração da atividade mental tem sido um trabalho árduo e instigante para os cientistas atuais. Em 2010, foi lançado o Human Connectome Project envolvendo colaboradores de algumas universidades internacionais. Esse esforço científico visava obter essa esquematização mental e aumentar o conhecimento a respeito da conectividade cerebral, a fim de contribuir para o entendimento das mudanças no cérebro durante os transtornos psicológicos. O cérebro humano Em média, o cérebro humano saudável possui mais de 100 bilhões de células nervosas individuais. Os circuitos neurais são responsáveis por controlar toda a mecânica das ações humanas. Os neurônios se encontrão ordenados em vias sinalizadoras, e a informação gerada ou processada é transmitida entre eles por meio da transmissão sináptica. Neuroanotomia funcional básica As diferentes regiões do sistema nervoso central contribuem para a coordenação do comportamento e da cognição, objetos de interesse da neuropsicologia. É no cérebro que se encontram os principais grupamentos neuronais e circuitos envolvidos nessa mediação, dentre eles o córtex cerebral desempenha um papel muito importante e merece um destaque especial. Córtex cerebral. O córtex cerebral é a camada mais externa dos hemisférios cerebrais e confere ao órgão sua aparência enrugada distintiva. Em latim, córtex significa “casca” – como a casca das árvores; entretanto, o córtex cerebral não é parecido com uma casca e tem a consistência semelhante à do “ovo cozido”. Cada hemisfério do cérebro tem seu próprio córtex. Nos seres humanos, o córtex é relativamente grande – do tamanho de uma ampla folha de jornal – e dobrado em si mesmo várias vezes de modo a se ajustar junto ao crânio. É o local de onde procedem todos os pensamentos, as percepções detalhadas e os comportamentos complexos. Permite compreendermos a nós mesmos, as outras pessoas e o meio que habitamos, estendendo o nosso próprio interior ao mundo, e permitindo a compreensão e apreensão de fontes de cultura e comunicação. Cada hemisfério cerebral tem quatro “lobos”: occipital, parietal, temporal e frontal. O corpo caloso, uma ponte maciça de milhões de axônios, conecta os hemisférios e permite o fluxo de informações entre eles. Lobos. O córtex cerebral é classificado de 3 diferentes formas: Anatômica É a divisão em sulcos, giros, e lobos, com pouca correlação funcional, porém muito útil para localizar áreas de lesão. Fisiogenética É a divisão em arquicórtex (hipocampo), paleocórtex (úncus e giro para-hipocampal) e neocórtex (o restante). O arquicórtex e o paleocórtex estão associados ao olfato e ao comportamento emocional. Estrutural É a classificação das áreas com base na histologia (Neocortex e arquicórtex). A superfície cerebral apresenta várias saliências arredondadas conhecidas como circunvoluções ou giros. Separando os giros, existem depressões. As depressões profundas são denominadas fissuras e as mais rasas, sulcos. Anatomicamente, o córtex cerebral costuma ser fracionado em regiões, denominadas lobos: frontal, parietal, temporal, occipital e lobo da insula. Em cada um desses lobos, estão localizados sulcos, giros e regiões que são importantes na coordenação de diferentes funções. Veja a seguir um pouco mais sobre lobos. Lobo temporal Responsável pera recepção e decodificação de estímulos auditivos (memória auditiva, descriminação e sequenciamento auditivo, integração rítmica) que se encontram coordenados com impulsos visuais. Possui relação com a parte da gustação e olfação. Memória de curto e longo prazo. Aprendizado auditivo. Recuperação de palavras. Compreensão linguística. Processamento visual e auditivo. Estabilidade emocional. Reconhecimento de expressões faciais. Decodificar entonação vocal. Informações do equilíbrio corporal. Lobo parietal Responsável pelo registro tátil, reconhecimento tátil de formas e objetos, da imagem do corpo (somatognosia), direcionalidade, gnosias digital, leitura e elaboração grafomotora, imagem espacial, elaboração das práxis (atos motores), processamento espacial, integração somatossensorial. Uma lesão nesse lóbulo leva à perda do conhecimento geral, falta da interpretação das relações espaciais (visual e auditiva) e/ou dificuldade da percepção corporal. Lobo frontal Responsável pela função motora e psicomotora, escrita, memória imediata, ordenação, planificação, seriação, mudança de atividade mental, julgamento social, controle emocional, estruturação espaço-temporal, todos os movimentos do corpo (voluntários), funções executivas. Controle voluntário da atenção (Foco). Planejamento, julgamento e tomada de decisões. Autocontrole. Sensibilidade a consequências de longo prazo. Controle motor fino. Lobo occipital Realiza a integração visual. Percepção do movimento. Percepção visual, sequenciação visual. Rotação e perseguição visual. Identificação figura fundo. Posicionamento e relação espacial. Percepção da velocidade. Por meio de suas estruturas profundas, o hipocampo e os núcleos da amígdala estão envolvidos com o aprendizado, a memória e a emoção. A primeira evidência contundente da localização das capacidades cognitivas teve sua origem nos estudos de distúrbios da linguagem. As bases neurais da cognição Neurociência e linguagem A partir do estudo das afasias, que são um distúrbio de linguagem frequentemente decorrentes da destruição de certas áreas do tecido por um acidente vascular encefálico (AVE), Pierre Paul Broca, um neurologista francês, identificou áreas especificas do encéfalo relacionadas com a linguagem. A partir de tais descobertas, Broca fundou a Neuropsicologia, uma ciência dos processos mentais. Broca, em 1861, relata sobre um de seus pacientes que sofreu um acidente vascular encefálico (AVE). Embora esse paciente compreendesse bem a linguagem e tivesse todas as funções da língua, da boca ou das pregas vocais em perfeitas condições, não conseguia falar frases completas. De fato, ele conseguia pronunciar sem nenhum problema palavras isoladas, assobiar e cantar uma melodia. Após a morte do paciente, Broca o examinou e constatou uma lesão na região posterior do lobo frontal. Também observou que outros oito pacientes semelhantes tinham lesões nessa região localizada no hemisfério cerebral esquerdo, que ficou conhecida como de área de Broca. Pierre Paul Broca (Sainte-Foy-la-Grande, 28 de junho Subsequentemente, foi comprovado que o hemisfério de 1824 — Paris, 9 de julho de 1880). esquerdo controla não apenas a fala, mas também os movimentos da mão direita, a qual muitos usam para escrever. Karl Wernicke, em 1876, publicou seu estudo sobre outro tipo de afasia. Ele descobriu que uma lesão na parte posterior do córtex, onde o lobo temporal encontra os lobos parietal e occipital, deixava os pacientes em uma condição na qual eles podiam formar palavras, mas não compreendiam a linguagem. Nesse caso, ocorreu um fenômeno oposto àquele que afetou os pacientes de Broca, que compreendiam a linguagem, mas não falavam. Wernicke elaborou o primeiro modelo neural para a linguagem, usado até hoje. A área de Wernicke nos possibilita entender o que nos é falado, enquanto na área de Broca nós formamos as frases e orações. Quando ocorre no encéfalo uma desconexão dessas duas áreas, acontece um terceiro tipo de afasia, chamado de parafasia, caracterizado pelo uso incorreto das palavras. Os pacientes entendem as palavras, escutam, leem, podem falar, mas não conseguem fazer isso com coerência, suprimem parte das palavras ou substituem por sons incorretos e, mesmo consciente do erro, não conseguem evitá-lo (KANDEL et al., 2014). Os estados afetivos também são mediados por sistemas locais especializados no encéfalo. Tanto em humanos quanto em animais, diferentes emoções podem ser provocadas pela estimulação de áreas específicas do encéfalo. Veja a imagem a seguir. Foi verificado que, lesões na área temporal direita, correspondente à na região temporal esquerda causam problemas no entendimento de vertentes emocionais da fala, como a habilidade de perceber se uma pessoa está falando sobre um fato triste ou alegre, por meio apenas do seu tom de voz. Já lesões na área frontal direita correspondente à área de Broca, ocasionam problemas na expressão de vertentes emocionais da fala. No hemisfério direito, também há neurônios indispensáveis para a fala. Esse hemisfério possui funções como perceber as diferenças tênues nos significados das palavras, como ironia, conteúdo emocional da fala e metáforas. Saiba mais A prosódia é outro déficit de linguagem. O indivíduo é incapaz de expressar emoções em sua voz, seja pela regulação do tom de voz seja pelo controle dos ritmos da fala e dos tempos. O modelo de Wernicke nos permite constatar que as capacidades cognitivas são produtos da interação de muitas partes de um processamento, distribuído em várias áreas do cérebro. Todos os processos psicológicos básicos só são possíveis pela interligação de áreas do cérebro que possuem funções específicas e realizam o processamento cognitivo. Desse modo, uma lesão em uma área do cérebro não necessariamente acarretará a perda total de uma função cognitiva. Patologias da linguagem Afasia é um distúrbio que afeta a capacidade de comunicação. A capacidade do indivíduo de expressar e compreender a linguagem falada ou escrita, podendo sofrer de uma perda total ou parcial. Veja a seguir os tipos de afasia. Afasia motora ou de expressão (Afasia de broca) Ocorre frequentemente como resultado de uma lesão nas proximidades da área de Broca. Em seu estado mais grave, a capacidade de falar do indivíduo é completamente perdida ou limitada a falar sim e não. Entretanto, a pessoa permanece demonstrando uma completa compreensão das palavras e não tem nenhuma dúvida quanto a obedecer a diretrizes e ordens que lhe são dadas. Nos casos em que a afasia expressiva não é tão severa, o paciente tende a pronunciar as palavras de forma titubeante e em alguns momentos repetitivamente. Ele também conserva um repertório de vocabulário com um número limitado de palavras, bem menos do que possuía normalmente. Durante a fala, é frequente que esse indivíduo despreze algumas palavras e as intercale com pausas longas. Apesar de tudo, as palavras que utiliza são apropriadas para o que deseja expressar. A capacidade de escrever é outra forma de linguagem a motora, e costuma exibir alteração similar (agrafia ou disgrafia). Contudo, é preciso recordar que a área de Broca se localiza muito próxima do córtex motor. Desse modo, muitos pacientes que sofrem de lesão nessa área terão hemiparesia (paralisia branda que atinge um lado do corpo) associada com o déficit de linguagem. Portanto, é recomendável testar a capacidade de escrita com a mão não afetada, que é geralmente a esquerda. Uma afasia pertencente a esse grupo é o transtorno caracterizado pela repetição cada vez mais rápida de palavras ou frases estereotipadas. Conhecida pelo termo “palilalia”, é um tipo de afasia expressiva. Afasia nominal ou amnésia Outra forma de afasia e uma das menos severas. Pacientes com essa patologia são incapazes de reconhecer pessoas ou objetos em seu entorno, porém são totalmente conscientes de sua natureza e significado. Se, por exemplo, mostrarmos um casaco, ele não conseguirá reproduzir essa palavra em questão, porém demonstrará que sabe perfeitamente a sua utilidade e como fazer uso dele. Além disso, se alguém falar o nome do objeto ou pessoa, conseguirá identificar imediatamente. Essa patologia não possui uma localização especifica definida, pois poderá aparecer em decorrência de lesões situadas nas circunvizinhanças, tanto da área de Broca como na área de Wernicke. Afasia sensorial ou receptiva (Afasia de Wernicke) A característica principal dessa forma de disfasia é a incapacidade de apreciar o significado simbólico das palavras, sejam faladas sejam escritas. Esse transtorno pode ser associado a uma área específica do encéfalo, pois quase que invariavelmente é devido a uma lesão na área de Wernicke do hemisfério cerebral dominante. Pacientes afetados de modo grave por esse tipo de afasia demonstram incapacidade total de compreender o significado das palavras que ouvem ou veem. Em muitos casos, perdem também a capacidade de apreciar sons musicais, transtorno que se denomina por amusia. O indivíduo afetado dispõe de palavras, entretanto faz uso delas de maneira desordenada e caótica. Geralmente, costuma não seguir regras gramaticais elementares, falando em um jargão sui generis (isso é, único em seu gênero, sem semelhança com a gramática correta), sem que haja qualquer lógica racional (jargonofasia). Comumente, esses pacientes são pródigos em criar de neologismo (atribuir um novo significado a palavras que já existem na língua), porém desprovidos de qualquer nexo. Afasia sensorial Essa condição é denominada de surdez verbal. É uma forma rara de afasia, na qual o indivíduo com essa patologia fica totalmente incapaz de compreender o significado das palavras que lhe são ditas. Apesar disso, sua linguagem, tanto a falada quanto a escrita, é normal. Afasia de condução ou de sintaxe (Afasia de Goldstein) É uma forma peculiar de afasia que resulta de interrupções causadas por lesões na principal via de comunicação entre as áreas de Broca e Wernicke. Os indivíduos afetados costumam exibir uma fala fluente, porém repleta de parafasias (uso incorreto de palavras). Regularmente, apresentam um jargão confuso, similar ao visto nos casos de afasia de Wernicke. A única distinção entre essa modalidade e a afasia de Wernicke é que a compreensão da linguagem falada na afasia de Goldstein costuma ser excelente. Afasia global É resultado de lesões extensas no hemisfério dominante, que comprometam os lobos frontal e temporal. Em geral, acarreta um grave distúrbio de linguagem, comprometendo seriamente tanto a produção da fala quanto a compreensão das palavras escritas ou faladas. Os indivíduos com esse tipo de disfasia são os únicos que poderiam ser definidos como realmente afásicos, uma vez que sua linguagem é extremamente limitada, sendo resumida apenas à emissão de grunhidos ininteligíveis. Neurociência e percepção A percepção se inicia nas células receptoras. As vias sensoriais incluem neurônios que ligam os receptores na periferia com a medula espinal, o tronco encefálico, o tálamo e o córtex cerebral. Todas as informações sensoriais vindas dos membros ou do tronco de um indivíduo passam pela medula espinhal. Veja a seguir as patologias da percepção. Agnosia Significa incapacidade de reconhecer. Agnosia visual para objetos Consiste em um distúrbio de percepção no qual o paciente consegue ver um objeto, mas o que enxerga não significa coisa alguma para ele. Por exemplo, o paciente vê uma colher, mas não sabe o que é. Simultagnosia É uma condição na qual o indivíduo não vê uma cena inteira, ou seja, é incapaz de ver mais de um objeto ou partes de um objeto ao mesmo tempo. Por exemplo, se o paciente simultagnósico estivesse olhando para um quadro com uma mesa cheia de livros, um computador, cadernos e um lápis, relataria ter visto no quadro somente um item, talvez o lápis. A simultagnosia pode ser causada por transtornos na região temporal do córtex. Agnosia espacial Pessoas que apresentam essa condição têm dificuldades graves para se orientar em ambientes cotidianos. Por exemplo, um agnóstico espacial pode se perder em casa, por ser incapaz de reconhecer os cômodos da casa onde vive. Esses indivíduos também aparentam ter grande dificuldade de desenhar característica simétricas em objetos simétricos. Essa desordem parece ser resultado de lesões no lobo parietal do cérebro. Prosopagnosia É uma condição que resulta em uma perda grave na capacidade de reconhecer rostos humanos. O paciente prosopagnósico, por exemplo, pode até mesmo ser incapaz de reconhecer seu próprio rosto no espelho. De acordo com Sternberg (2008), há relatos de casos extremos de prosopagnósicos que são incapazes de reconhecer rostos humanos, mas reconhecem a face dos animais de suas fazendas, de modo que o problema parece ser extremamente específico a rostos humanos. O funcionamento do giro fusiforme do hemisfério direito está diretamente relacionado à prosopagnosia. De modo específico, o transtorno está associado a danos ao lobo temporal direito do cérebro. Neurociência e atenção O consenso dos pesquisadores é de que a atenção não é uma função específica de uma única área do cérebro, e sim da interação de diversas áreas específicas. O pesquisador Posner, em 1995, identificou dois sistemas de atenção (rede de atenção): um anterior no lobo frontal e outro posterior no lobo parietal. Veja a seguir. O sistema de atenção anterior É cada vez mais ativado durante tarefas que requerem consciência. Por exemplo, atividades em que os participantes devem prestar atenção ao significado das palavras. Esse sistema também está relacionado à “atenção para a ação”. Nesse caso, o participante está planejando ou escolhendo um entre outros possíveis cursos de ação. O sistema de atenção posterior É ativado quando envolve atividade neural nas áreas visuais, auditivas, motoras nas e áreas de associação relevantes do córtex relacionado a determinadas tarefas visuais, motoras ou de ordem superior. Abrange o lobo parietal do córtex, também uma porção do tálamo e algumas áreas do mesencéfalo relacionadas à movimentação dos olhos. Neuropsicólogos cognitivos adquiriram muita informação sobre os processos de atenção no cérebro, estudando pessoas que não apresentam processos normais, como as que têm déficits de atenção específicos e nas quais se observaram lesões ou fluxo sanguíneo inadequado em áreas fundamentais do cérebro. As lesões no lobo frontal e nos gânglios basais foram relacionadas aos déficits gerais de atenção, e as lesões relacionadas ao córtex parietal posterior e ao tálamo, aos déficits de atenção visuais. Neurociência e memória A localização da memória não está em uma única região do cérebro, e sim espalhada por diversas áreas. A sequência de memorização segue a seguinte ordem em determinadas áreas do córtex cerebral: Córtex posterior A informação é percebida no córtex posterior. Córtex pré-frontal. A informação é captada e armazena no córtex pré-frontal. Lobo frontal A informação é retida por um tempo no lobo frontal. Hipocampo A informação é integrada, consolidada e armazenada no hipocampo. Acesso à informação A informação pode ser acessada pelo lobo frontal, depois de alguns anos, sem ajuda do hipocampo.​ Os lobos temporais mediais ou seção mediana dos lobos temporais são responsáveis pela formação de novas memórias. O hipocampo parece ter como sua principal função integrar e consolidar informações sensoriais separadas. Está envolvido na transferência de informações recém-sintetizadas para estruturas de longo prazo que sustentam o conhecimento declarativo. Alguns neurotransmissores são responsáveis por interromper a armazenagem de memória, e outros a melhoram. A falta de noradrenalina, por exemplo, pode piorar essa armazenagem. Saiba mais Altas concentrações de acetilcolina foram encontradas no hipocampo de pessoas normais. Já em vítimas da doença de Alzheimer são encontradas em baixas concentrações. De fato, os pacientes com Alzheimer apresentam graves perdas do tecido cerebral que segrega acetilcolina. Quando um indivíduo perde gradualmente a capacidade de armazenar e lembrar informações, assim como experiências de maneira correta, uma avalição em outras áreas cognitivas se torna necessária. Outros sinais neurológicos focais e possíveis alterações de doenças que afetam todo o corpo, e não somente uns órgãos, também devem ser verificados. Veja. Memória semântica Memória episódica Nas regiões inferiores e laterais dos lobos Nas regiões da face medial dos lobos temporais, sobretudo no hemisfério esquerdo, temporais, em especial no hipocampo e nos fica a memória semântica (memória de fatos e córtices entorrinal e perirrinal, se localiza a conhecimentos). memória episódica (experiências de vida da pessoa). Memória de procedimento Na área motora suplementar (lobos frontais), nos gânglios da base e no cerebelo, se encontra a memória de procedimento (memória de habilidades e hábitos motores). Déficits de memória Veja a seguir alguns tipos de déficits de memória. Amnésia É a perda grave da memória explícita. Amnésia anterógrada É a incapacidade de se lembrar de eventos que ocorreram após um evento traumático. Amnésia infantil É a incapacidade de recordar eventos que aconteceram quando éramos muito pequenos. Amnésia retrógrada Nela, os indivíduos se recordam de coisas que aconteceram somente depois de um trauma sofrido, o que aconteceu no passado antes do trauma não se recorda. Principalmente nas demências degenerativas, os déficits na memória episódica ocorrem de maneira progressiva e devagar, como Alzheimer e demência frontotemporal, podendo ocorrer nas demências vasculares e em algumas formas de esclerose múltipla. Já os déficits na memória semântica são notados quando o indivíduo tem dificuldade para nomear itens que conhecia previamente. Nesses casos, os pacientes também apresentam um declínio de conhecimentos gerais. Por fim, nos déficits na memória de procedimentos, ocorre perda de habilidades. Neurociência e emoções O sistema límbico, responsável em parte pelo processo das emoções, é um conjunto de estruturas cerebrais que fazem divisa com o córtex cerebral. O hipotálamo, o septo, a área paraolfatória, o epitálamo, o núcleo anterior do tálamo, porções dos núcleos da base, o hipocampo, a amígdala, o córtex orbitofrontal, o giro subcaloso, o giro cingulado, o giro para-hipocâmpico e o úncus compõem a estrutura do sistema límbico. Entretanto, apesar de esse conjunto ser uma importante estrutura no processo das emoções, não é a única, uma vez que, com os avanços nos estudos, têm sido identificados diferentes áreas e circuitos do sistema nervoso central que apresentam correlação com os variados estados emocionais. Dentre as áreas mencionadas, a amígdala é uma estrutura que se destaca no processo das emoções. Ela e o hipotálamo se mostram intimamente ligados às sensações de medo e raiva. A amígdala é o órgão responsável por detectar, gerar e manter as emoções relacionadas ao medo. Atua no reconhecimento de expressões faciais de medo, além de coordenar respostas apropriadas a ameaças e situações de perigo. Saiba mais Uma lesão na amígdala em humanos produz redução da emocionalidade e da capacidade de sentir medo frente a situações de perigo. Em contrapartida, em casos em que há estimulação da amígdala, levam a um estado de atenção aumentada, ansiedade, vigilância e medo (ESPERIDIÃO-ANTONIO et al., 2008). A amígdala não é ativada apenas em situações que envolvam a sensação de medo, mas também durante eventos mais positivos, por exemplo, no reconhecimento de expressões faciais de alegria. Desse modo, é possível concluir que, independentemente de seu contexto agradável ou desagradável, a amígdala está envolvida na resposta a estímulos de importância emocional. Bases neurais e processos psicológicos básicos A especialista Valéria Guimarães Leal identifica a seguir as principais estruturas anatômicas envolvidas nos processos psicológicos básicos e sua relação com o comportamento humano. Vamos lá! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Neurociência e percepção Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Neurociência e atenção Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Neurociência e memória Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Em nosso cérebro, a função perceptiva de identificação de figura e fundo está relacionada a que Lobo? A Parietal. B Frontal. C Occipital. D Temporal. E Frontotemporal. A alternativa C está correta. O lobo occipital está relacionado à visão, à percepção visual, como a identificação de figura e fundo. Questão 2 Afasia e Agnosia são duas patologias relacionadas a dois processos psicológicos básicos. Assinale a alternativa que apresenta esses processos respectivamente. A Atenção e memória. B Inteligência e aprendizado. C Linguagem e percepção. D Motivação e moção. E Sensação e percepção. A alternativa C está correta. A afasia é um distúrbio que afeta a comunicação das pessoas, portanto está relacionada ao processo psicológico básico da linguagem. A agnosia é um distúrbio que afeta a capacidade de identificação de objetos e pessoas, portanto está relacionada com a percepção. 3. Conclusão Considerações finais Como vimos, os processos psicológicos básicos estão intimamente relacionados com a neurociência, tendo uma ou mais áreas específicas no córtex cerebral. Há uma arquitetura cerebral composta por elementos anatômicos, funcionais e estruturais que possibilitam o entendimento (ou não) dos estímulos de acordo com a gradual maturação do organismo. A mente é um sistema complexo de estruturas e funções interligadas. Algumas áreas do cérebro trabalham juntas para exercer determinadas funções, como o hipotálamo e a amígdala, que estão ligados à geração do estímulo do medo, assim como alguns processos estão interligados entre si, sendo indissociáveis como a inteligência e aprendizagem. Tudo forma uma rede complexa de estímulos e informações que permite aos seres humanos interagir com o ambiente e expandir o seu mundo interior ao exterior. Podcast Agora, a especialista Valéria Guimarães Leal encerra o conteúdo falando sobre as contribuições das neurociências para o estudo dos processos psicológicos básicos. Vamos ouvir! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Leia o artigo Atenção, memória e percepção: uma análise conceitual da Neuropsicologia aplicada à propaganda e sua influência no comportamento do consumidor, de Ana Claudia Braun Endo e Marcio Antonio Brás Roque, e compreenda como são aplicados os conceitos de atenção, memória e percepção, oriundos da Neuropsicologia, na propaganda, e como estes elementos influenciam o comportamento do consumidor. Leia o artigo Percepção sobre aspectos relacionados à memória e aprendizagem da pessoa idosa: Um evento na universidade da terceira idade, de Guilherme Parreira Vaz e Anderson Barbosa Baptista, e aprenda sobre os processos psicológicos básicos na terceira idade. Referências DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. ESPERIDIÃO-ANTONIO, V. et al. Neurobiologia das emoções. Archives of Clinical Psychiatry São Paulo, v. 35, n. 2, 2008. GAZZANIGA, M., HEATHERTON, T, HALPERN, D. Ciência psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2018. KANDEL, E. R. et al. Princípios da Neurociência. Porto Alegre: AMGH, 2014. STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008. Processos Atencionais Estrutura e função dos processos atencionais. Prof. Roberto Sena Fraga Filho 1. Itens iniciais Propósito O cérebro gerencia uma complexa rede de comunicação proveniente do corpo e do meio externo. Estudar a função da atenção é importante para compreendermos como o cérebro seleciona quais estímulos serão, em dado momento, descartados, para que outros possam ser processados em níveis cognitivos superiores, e, assim, direcionarmos nossos comportamentos a objetivos. Objetivos Reconhecer os processos atencionais: biologia, estrutura e função. Analisar o processo atencional. Analisar a Neuropsicologia da atenção. Identificar as alterações da atenção. Introdução O cérebro mantém você pronto para interagir com aquilo que acontece à sua volta. É o cérebro que gera os sons, as visões, a emoção, o pensamento e a sua experiência consciente, após interpretar, em módulos especializados, excessivas fontes de informações oriundas do meio externo e do seu corpo. Os processos atencionais estão implicados na forma como o cérebro gerencia essas informações. Como uma função psicológica, a atenção ajuda a organizar os processos cognitivos e a garantir uma interação eficaz do indivíduo com seu ambiente, selecionando as informações relevantes em detrimento das irrelevantes em dado momento de sua experiência consciente, mas também envolvida com processos automáticos da cognição humana. Vamos investigar como a atenção controla e dirige a consciência, revelando o que está por trás dessa complexa rede de comunicação que permite termos comportamentos adaptados para alcançarmos nossos objetivos. 1. Bases anatômicas atencionais O que é atenção? Um construto psicológico é um conceito ideativo, hipotético, com uma finalidade científica predeterminada. São exemplos de construtos psicológicos: Consciência Personalidade Mente Cognição Resiliência Memória Como se trata de um conceito ideativo, vamos encontrar definições similares, ou que se complementam, e até eventualmente diferentes para o mesmo construto na literatura científica ao longo da história. O construto psicológico da atenção é empregado e conceituado de muitas maneiras distintas. Mas o que é atenção? Todo mundo sabe o que é. Afinal, desde os tempos da escola, escutamos: – Ei! Preste atenção aqui [...]. Mas quase ninguém sabe definir conceitualmente esta função. Uma definição clássica de atenção, amplamente citada até os dias atuais, foi dada pelo filósofo e psicólogo norte-americano James: A atenção é a ocupação da mente de uma forma clara e vívida, por um dentre vários possíveis objetos ou sequências de pensamento. A atenção implica o afastar-se de algumas coisas para lidar efetivamente com outras e inclui a habilidade de selecionar objetos de interesse no ambiente que nos rodeia. A focalização da atenção em determinado objeto ou local de interesse produz uma melhor capacidade de processamento. Por outro lado, implica detrimento dessa capacidade para outros objetos e locais do campo visual. (JAMES, 1950, p. 403-404) Segundo Broadbent (1958), a atenção agiria selecionando, filtrando as informações que chegam ao indivíduo, retendo alguns elementos e deixando passar outros para posterior processamento. Considerando o sistema visual, quando orientamos nossa atenção por meio do movimento dos olhos em direção ao objeto de interesse, dizemos que ocorre uma orientação aberta (explícita) da atenção. Nessa situação, acontece um movimento ocular para que a posição da fóvea coincida com o foco atencional. Desse modo, um observador pode inferir para onde nossa atenção foi orientada. Fóvea Parte central da retina, região em que nossa visão alcança maior acuidade e definição. A teoria pré-motora da atenção (RIZZOLATTI et al., 1987) propõe que, tanto no caso da orientação aberta (explícita) quanto no caso da orientação encoberta (implícita), existe a programação de um movimento ocular em direção a determinada posição do campo visual. Tal programação facilita a detecção do estímulo nessa posição às custas das outras localizações. Saiba mais Rizzolatti e colaboradores (1987) propõem que a orientação da atenção consiste na programação de um movimento ocular para determinada posição do campo perceptivo. No caso de uma pessoa cega, podemos inferir mecanismos similares, considerando a audição e o movimento da cabeça. A atenção influencia tanto o processamento da informação sensorial quanto a programação de atos motores. De acordo com De Jong, Liang e Lauber (1994), ao direcionarmos nossa atenção para um estímulo, é preparada uma resposta motora com o efetor localizado no mesmo lado do estímulo, mesmo que o indivíduo deva responder ao estímulo com o efetor contralateral. Além disso, o conteúdo presente em nossa memória pode influenciar a seleção e a execução dos atos motores. Efetor Órgão que executa as respostas aos estímulos. Os efetores motores são aqueles que realizam a ação de movimento, como nossos membros (braços, pernas, mãos e pés). Também precisamos destacar que existe uma integração entre a memória e a atenção. Chun, Golomb e Turk-Browne (2011) propuseram uma taxonomia da atenção. Eles consideraram que a atenção é uma propriedade essencial de todas as operações perceptivas e cognitivas. Devido à sua capacidade limitada para processar a diversidade de opções de fontes de estimulação, os mecanismos da atenção devem selecionar, modular e manter o foco nas informações mais relevantes para o comportamento. Assim, Chun, Golomb e Turk-Browne (2011) propuseram uma taxonomia baseada nos tipos de informações que operam na atenção: os alvos da atenção. Em um nível mais amplo, a taxonomia distingue atenção externa da atenção interna: Atenção externa (atenção perceptiva) Refere-se à seleção e à modulação da informação sensorial. Atenção interna (atenção central ou reflexiva) Refere-se à seleção, à modulação e à manutenção das informações geradas internamente, tais como as instruções de determinada tarefa, a seleção de certas respostas, a evocação a partir da memória de curto e longo prazo. A memória de trabalho envolveria a interseção entre as funções da atenção externa e interna. A partir dessas propriedades gerais e da variedade dos alvos da atenção, fica evidente a distinção entre a seleção da informação que chega a partir dos mecanismos sensoriais e a seleção das informações que já estão representadas no cérebro (como a memória de procedimentos), as quais são evocadas e gerenciadas pela memoria de trabalho para a execução de um comportamento integrado. Muitos outros pesquisadores, psicólogos e filósofos apresentam variadas definições que podem ser similares ou diferentes e, às vezes, descrevem alguns aspectos da atenção. Por exemplo, podemos encontrar palavras como concentração, despertar, vigilância e estado de alerta como sinônimos de atenção, embora não necessariamente sejam, visto que apenas revelam partes daquilo que chamamos de atenção. Quais são os efeitos da atenção no nosso comportamento e na cognição? Essa é uma pergunta-chave. Alguns desses efeitos incluem: Redução da latência sensorial e motora. Aumento da capacidade de detectar estímulos e responder a eles. Aumento da capacidade de resolução de problemas. Aumento da eficiência dos sistemas de memória. Focalização da consciência, colocando estímulos irrelevantes em segundo plano. Atenção e consciência Em todas as definições e teorizações sobre atenção, vamos encontrar outro construto associado: a consciência. Atenção e consciência são palavras quase que inseparáveis como construtos psicológicos. Cabem aos processos atencionais direcionar para a consciência as informações relevantes em dado momento. Segundo Sternberg (2016), a atenção é uma relação entre o processamento limitado de informações controladas cognitivamente e o montante disponível no ambiente externo que é apreendido pelos sistemas sensoriais, pelas memórias armazenadas e pelo pensamento. Atenção Ter o conhecimento consciente dessas informações possibilita monitorarmos as interações com o ambiente, relacionando nossas experiências passadas e presentes, e planejando as futuras. Mas o que é consciência? A resposta mais simples é a seguinte: consciência é aquilo que você perde quando está dormindo. Embora tal definição não seja 100% completa, é um ponto de partida. Uma definição mais elaborada da consciência deve considerar que é ilusório fragmentar a atividade psíquica em partes ou em funções isoladas, como, por exemplo, estudar a consciência simplesmente pelo nível de vigilância como uma reatividade adaptada à situação do ciclo de sono e vigília. Ao estudar a mente ou o cérebro, em grande parte, estamos estudando as mesmas partes sob perspectivas diferentes. Nossas funções cerebrais, mentais, intelectuais, afetivas e volitivas são interdependentes. Além disso, a decomposição analítica é um mero exercício didático com finalidades de pesquisa, ensino e aprendizado. Não separamos tais processos em nossa existência, em nossa vida consciente. Volitivas Aquilo que é relativo à volição, ou seja, ao conceito de motivação e da intenção de agir, como, por exemplo, nossa autoconsciência ao desempenhar comportamentos intencionais. Os processos mentais se apresentam de imediato quando somos observadores de nossas próprias mentes e de nossa consciência. Assim, consciência é um todo psíquico momentâneo, mas precisamos considerar que existem outros modos de abordar esse construto. Uma definição operacional explica um conceito unicamente em termos dos procedimentos observáveis usados para produzi-lo e mensurá-lo (SHAUGHNNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012). Dependendo da definição operacional adotada, podemos entender o conceito de consciência de diversas maneiras: 1 Consciência do Eu No plano fenomenológico, consciência é uma intencionalidade e um processo de coordenação e de síntese da atividade psíquica. Nesse ponto, distinguimos a consciência do Eu da consciência dos objetos, pois existimos como indivíduos e somos singulares em nossa existência. 2 Consciência dos objetos Há, também, a consciência dos objetos (do não Eu), ou seja, de tudo aquilo que se apresenta à consciência, como, por exemplo, percepções, representações, conceitos, juízos, pensamentos, memórias etc. Um objeto, como um construto em Psicologia, pode ser descrito como tudo aquilo que é apreendido, em dado momento, na consciência. Ainda vamos encontrar na literatura os níveis da consciência do Eu (JASPERS, 1979 apud DALGALARRONDO, 2008). São eles: Consciência de atividade do Eu Consciência de unidade do Eu Consciência da identidade do Eu no Consciência da oposição do Eu em tempo relação ao mundo Na perspectiva histórica dos estudos fisiológicos, a consciência é uma atividade nervosa de determinadas áreas dos grandes hemisférios, em dado momento, sob certas condições, possuindo determinado nível de excitabilidade ótimo. Nesse momento, toda a parte restante dos grandes hemisférios encontra-se em estado de maior ou menor redução da excitabilidade (PAVLOV, 1954 apud KAPCZINSKI et al., 2011). A consciência também pode ser descrita em estados de vigília, que vão do plenamente consciente (estar acordado) até o não consciente (estar dormindo), ou seja, diferentes graus de consciência. Ao estudarmos o sono, encontramos dois estados cíclicos descritos na bibliografia, conhecidos como sono REM e sono não REM: REM Sigla que vem do inglês Rapid Eyes Movements, ou seja, Movimentos Oculares Rápidos. Sono não REM Sono REM É um sono com atividade elétrica É um estado de sono dessincronizado, com cerebral síncrona e sem movimentos movimentos oculares rápidos. oculares rápidos. Vejamos, a seguir, a explicação de Dalgalarrondo (2008, p. 93) a respeito dos quatro estágios que correspondem ao sono não REM: Estágio 1 Mais leve e superficial, com atividade regular do EEG (Eletroencefalograma) de baixa voltagem, de 4 a 6 ciclos por segundo (2% a 5% do tempo total de sono). Estágio 2 Um pouco menos superficial, com traçado do EEG revelando aspecto fusiforme de 13 a 15 ciclos por segundo (fusos do sono) e algumas espículas de alta voltagem, denominadas complexos K (45% a 55% do tempo total de sono). Estágio 3 Sono mais profundo, com traçado do EEG mais lentificado, com ondas delta, atividade de 0,5 a 2,5 ciclos por segundo, ondas de alta voltagem (3% a 8% do tempo total de sono). Estágio 4 De sono mais profundo, com predomínio de ondas delta e traçado bem lentificado. Sobre os estágios do sono não REM, o autor observa que: É mais difícil de despertar alguém nos estágios 3 e 4, podendo o indivíduo apresentar-se confuso ao ser despertado (10% a 15% do tempo total de sono). (DALGALARRONDO, 2008, p. 93) Em psicopatologia, estudamos a consciência desde o nível de lucidez até a obnubilação da consciência, passando por estados crepusculares. Não podemos nos esquecer do uso da palavra consciência no sentido moral, ou seja, o juízo de valores, do certo e do errado. Saiba mais Obnubilação é o estado de alteração da consciência, caracterizado pela diminuição dos processos sensoperceptivos, que afeta a compreensão das informações recebidas. Bases neurobiológicas da atenção e da consciência Uma vez que os construtos da atenção e da consciência foram definidos, e a relação entre tais conceitos foi contextualizada, podemos estabelecer as bases biológicas dessas funções. Não se trata de responder onde fica a consciência no cérebro, ou qual estrutura cerebral é responsável pela atenção, e sim de apontar uma lógica: Quanto menos consciente for o processo, mais automático será. Quanto mais consciente, maior será o controle voluntário. No cérebro, quanto mais externo (córtex), e mais alta for a estrutura, maior será o controle voluntário. Quanto mais interno (tronco encefálico), e mais baixo, mais automático será o processo. Nos diferentes trabalhos da Neuropsicologia, observamos uma evolução histórica na compreensão do estudo da atividade cerebral e das suas estruturas. Na atualidade, compreendemos que o sistema nervoso modula nossas funções cognitivas e nosso comportamento. Essa complexidade de funções e processos fica cada vez mais difícil de situar em uma região com endereço específico em nosso organismo. Neuropsicologia Ciência que estuda a relação entre a cognição, o comportamento e a atividade do sistema nervoso. Desse modo, cada vez menos, usamos uma tese localizacionista. A proposta é não pensarmos em localização, mas, sim, na função que está associada a uma rede complexa de neurônios organizados em circuitarias. A consciência humana, por exemplo, começa no tronco encefálico e “termina” (biologicamente) no córtex cerebral. A ativação da consciência vem de centros vegetativos, mas o conteúdo vem do córtex. Saiba mais Circuitarias, também chamadas de circuitos neurais, são estruturas constituídas de maneira diferenciada, formadas por neurônios, por meio das quais acontece a transmissão sináptica que permite a produção de comportamentos. O córtex cerebral está, basicamente, envolvido com percepções conscientes, pensamento abstrato, raciocínio, planejamento, funções executivas, tomada de decisão. Partes mais internas no cérebro, intermediárias, associadas, por exemplo, ao sistema límbico, processam comportamentos e reações emocionais. O tálamo, que se posiciona entre o córtex e o mesencéfalo, é um centro de pré-processamento e distribuição de informações. No tronco encefálico, localizam-se os centros vegetativos. Como, então, a consciência é formada no cérebro? Essa formação ocorre da seguinte maneira: Tálamo O tálamo direciona a atenção e controla o input sensorial. Hipocampo No hipocampo, temos suporte à codificação das memórias declarativas, pois, sem memória, a consciência ficaria restrita a um único momento do tempo. Formação reticular A formação reticular (parte do tronco encefálico) estimula a atividade cortical. Sem essa ativação, não existe consciência. O quadro a seguir apresenta exemplos de áreas do cérebro associadas à atenção visual e à consciência. Diversas outras áreas integradas e interconectadas estão implicadas. Observe: Alto – Externo – Voluntário No cérebro Função Estruturas do lobo Mantêm a atenção no alvo e direcionam a visão para objetos, frontal realizam o controle motor e possuem funções executivas. Constroem mapas espaciais e direcionam a atenção para a área Estruturas do lobo relevante do espaço. Estão envolvidas no desengajamento da parietal atenção. Colículo superior Realiza o movimento dos olhos. Giro do cíngulo e Fornece informações do sistema límbico. amígdala Núcleos da base e Fornecem informações motoras. colículo superior Ativa regiões específicas do córtex e realiza o engajamento da Tálamo atenção. Formação reticular do Regula os estados de alerta, dando subsídios ao processo tronco encefálico atencional e à consciência. Baixo – Interno – Automático Quadro: Áreas do cérebro – funções de atenção e consciência. Elaborado por: Roberto Sena. Como podemos perceber, existem áreas específicas do cérebro associadas a determinadas funções específicas. Na parte superior do quadro, as palavras Alto – Externo – Voluntário referem-se a estruturas mais próximas do córtex cerebral, que processam informações do meio ambiente, permitindo a execução de respostas voluntárias ou conscientes. No extremo inferior do quadro, as palavras Baixo – Interno – Automático referem-se a estruturas mais distantes do córtex cerebral e mais próximas da medula. Essas estruturas se encarregam de respostas automáticas para estímulos internos, características do sistema nervoso autônomo. A atenção e as funções cognitivas Neste vídeo, o mestre Roberto Sena destaca as propriedades da atenção como uma função cognitiva, e discute a tese localizacionista, as estruturas cerebrais e suas funções. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. A teoria pré-motora da atenção Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Atenção e consciência Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Bases neurobiológicas da consciência Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Experimentos levantam evidências de que a atenção não é um construto unitário. Por isso, não a estudamos isoladamente de outras funções cognitivas. A capacidade de monitorar nossa interação com o ambiente, de relacionar nossas experiências passadas e presentes, e de planejar experiências futuras exige a integração de quais funções cognitivas? A Pensamento e linguagem. B Atenção e memória. C Motivação e atenção. D Atenção, memória, consciência e pensamento. E Memória e consciência. A alternativa D está correta. A atenção apreende as informações ambientais. Para que possamos ter acesso às experiências passadas, precisamos da memória. Isso é direcionado à consciência. No pensamento, conseguimos projetar o futuro e planejar nossas ações. Questão 2 Vários modelos teóricos postulam as propriedades da atenção. Por exemplo, há a perspectiva de que o processamento sensorial tem uma capacidade limitada. Por isso, necessita de mecanismos que filtrem as informações relevantes em detrimento das irrelevantes. O processo que se refere à seleção e à modulação da informação sensorial é chamado de A atenção externa. B atenção interna. C atenção concentrada. D atenção dividida. E atenção central. A alternativa A está correta. Atenção externa é uma atenção perceptiva, projetada para fora do mundo do sujeito – ou seja, para seu mundo exterior –, que usa a informação proveniente dos órgãos sensoriais. 2. Características do processo atencional Jornada do processo atencional Ao estudarmos o processo atencional, iniciamos nossa jornada pelo processo perceptivo e por todo o aparelho sensorial humano, que permite que as informações que nos circundam sejam detectadas, filtradas e, em seguida, processadas. Assim, depois que as informações são detectadas por nossos sentidos, nossa atenção passa a trabalhar com certos dados em detrimento de outros. Vejamos como isso acontece. Aparato sensorial humano As sensações são as informações procedentes do ambiente (interno e externo) que entram no cérebro por meio dos órgãos dos sentidos. Elas se referem a experiências imediatas e diretas. São transmitidas para áreas do córtex cerebral que chamamos de áreas sensoriais. Veja, a seguir, os tipos de transmissão de informações e as suas vias neurais respectivas: Vias neurais ascendentes Vias neurais descendentes Transmitem informações sensoriais para o Transmitem instruções motoras a partir do cérebro. cérebro. O quadro a seguir apresenta exemplos desse processo: Estímulos/Energia Receptores sensoriais Órgãos dos sentidos Eletromagnética Fotorreceptores Visão Mecânica Mecanorreceptores Tato Química Quimiorreceptores Olfato e paladar Térmica Termorreceptores Tato Estímulos dolorosos Nociceptores Tato Quadro: Transmissão de informações sensoriais e instruções motoras pelo cérebro. Elaborado por: Roberto Sena. Uma percepção é um processo pelo qual reconhecemos, organizamos, interpretamos as sensações e damos sentido a elas. Trata-se de uma prontidão condicional para uma ação unificada e estável. A percepção é voltada para a adaptabilidade e a sobrevivência. Sempre processa a resposta necessária e da melhor maneira possível, de acordo com seu aprendizado prévio (experiência), suas motivações, expectativas, seu contexto, humor, estado mental e sua atenção. Captamos os estímulos ambientais pela sensopercepção e os manipulamos a nível cognitivo para criar representações mentais dos objetos, propriedades e relações espaciais do ambiente. O quadro a seguir apresenta algumas dessas propriedades: Percepção Representação Corpórea e objetiva Não corpórea e subjetiva Externa Interna Desenho determinado – possui detalhes Desenho indeterminado – possui poucos detalhes Frescor sensorial Pouco ou nenhum frescor sensorial Independente da vontade Dependente da vontade Constância perceptiva Sem constância Quadro: Propriedades da percepção e da representação. Elaborado por: Roberto Sena. Em estado vígil, o aparato sensorial nunca desliga, ou seja, independe de nossa vontade receber estímulos que serão processados pelo cérebro. Além do conteúdo proveniente da sensopercepção, soma-se um fluxo interminável de pensamentos, e não conseguimos ter atenção consciente em tudo ao mesmo tempo. Isso não significa, porém, que o cérebro não esteja recebendo e processando esses estímulos. Vamos investigar essa afirmação? Modelos explicativos e abordagens da atenção Podemos dizer que, nesse momento, você está em contato com este conteúdo, lendo-o ou ouvindo-o (em caso de uso de leitor de tela). Considerando essa premissa, responda: Onde você está agora? (Descreva mentalmente o ambiente.) O que está vestindo? Está sentado ou deitado? Qual é seu nível de concentração? Ou seja, agora, apenas o conteúdo textual está entrando em sua consciência, ou alguns pensamentos não relacionados ao texto entram e saem de sua consciência? Perceba quantos elementos (visuais e auditivos) estão disponíveis para serem captados pelo cérebro. Temos a estimulação mecânica da roupa na pele, da pressão do acento nas nádegas e nas costas, e diversos outros estímulos do ambiente e do corpo, além de nossos próprios pensamentos. Durante este estudo sobre cognição, consciência e atenção, você se sente animado, preocupado, ansioso, feliz ou empolgado? Alguns podem experimentar um pensamento intrusivo (invasivo) sobre o conteúdo nesse momento, e isso pode ser ansiogênico, cuja consequência é não conseguir se concentrar nos estudos. Outros podem ficar empolgados por estarem aprendendo algo novo, e isso potencializa a concentração. Um simples pensamento é capaz de modular seu afeto e seu nível de concentração. Ansiogênico Qualidade de uma situação ou um estímulo que gera ansiedade. Esse simples exemplo demonstra quantas coisas estão acontecendo. Existe uma infinidade de estímulos que são irrelevantes para determinado propósito. Precisamos negligenciar muitos estímulos para que consigamos, a nível consciente, processar apenas as informações relevantes e reter, estudar, compreender e refletir sobre as ideias que estão sendo apresentadas nesse exato momento, por exemplo. Como podemos explicar o que o cérebro faz para gerenciar essa quantidade exorbitante de informações? Vejamos alguns modelos explicativos desse processo. Processos automáticos e controlados Analogias são excelentes para explicarmos conceitos complexos. Pense em uma rodovia, com pedágio, cujo tráfego de veículos seja intenso. A resposta para duas perguntas simples explica um conceito complexo. Observe: O que acontece quando vários veículos se aproximam, simultaneamente e de modo constante, no pedágio? Os veículos diminuem a velocidade e param nas cabines. Qual é a consequência disso? Engarrafamento. Na aproximação do pedágio, eventualmente, dependendo da rodovia e da época do ano, como um feriado, por exemplo, o trânsito para ao longo de quilômetros em função da retenção do pedágio. Podemos perder horas nesses engarrafamentos. No sistema cognitivo humano, temos muitos engarrafamentos, mas não podemos parar de caminhar na rua, por exemplo, quando estamos conscientemente focados em nos lembrar do trajeto. Realizamos tomadas de decisão, como virar à esquerda ou à direita, quando, deliberadamente, estamos evocando da memória o caminho que devemos seguir para chegarmos ao destino. Em nossa analogia, a rodovia citada simula vias neurais. Já os veículos representam: 1 Informações cognitivas As informações cognitivas que trafegam nessa via – como, por exemplo, um pensamento sobre o trajeto que estamos percorrendo. 2 Controle motor O controle motor – que é automático. 3 Outras estimulações temporariamente obscurecidas Outras estimulações sensoriais que a atenção vai obscurecer da consciência, enquanto não forem relevantes para uma tomada de decisão consciente. A cabine do pedágio simula aquilo que chamamos de gargalo ou filtros cognitivos. Toda vez que uma informação transmitida por uma via cognitiva encontrar um gargalo (filtro), e a função for importante para o momento, processos automáticos assumirão o controle para gerir as informações irrelevantes. Assim, teremos o controle consciente dos estímulos relevantes, mas sem parar o processamento dos estímulos irrelevantes. Comentário Não é mágica quando desviamos de um obstáculo na rua enquanto estamos totalmente focados em outros estímulos. É o cérebro funcionando. Isso acontece a todo momento. A seguir, apresentamos as propriedades dos processos automáticos e controlados da atenção: Modo de atenção ativa Modo de atenção passiva (Descendente – Top (Ascendente – Bottom up ) down ) Processos automáticos Processos controlados Sem esforço intencional Com esforço intencional Rápidos Mais lentos Não conscientes Conscientes Tarefas automatizadas: dirigir, tocar instrumentos, nadar, andar Tarefas novas, variadas de bicicleta, interagir com certos estímulos de forma ou complexas automatizada (por exemplo, leitura) Processamento Processamento cognitivo pouco requisitado cognitivo muito elevado Quadro: Processamento da atenção. Elaborado por: Roberto Sena. Processos automáticos e controlados da atenção Neste vídeo, o mestre Roberto Sena explicará as características do processamento automático e do processamento controlado da atenção. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Sistema Atencional Supervisor O Sistema Atencional Supervisor (SAS) foi proposto por Norman e Shallice (1986). Esse modelo é derivado da constatação de que existem processos automáticos e controlados no sistema atentivo. Assim, os autores propuseram um modelo teórico composto de: Um organizador pré-programado Um Sistema Atencional Supervisor (SAS) O organizador pré-programado seleciona, em função de determinados estímulos já conhecidos, modos automáticos de respostas, considerando o repertório comportamental existente. O SAS atua quando o repertório de respostas do indivíduo não atende às necessidades, sendo necessário o controle consciente e voluntário. O modelo parte da premissa de que existem representações de respostas armazenadas na memória. O SAS associa-se ao conceito de funções executivas, que será detalhado mais adiante. Funções executivas Termo usado na literatura para englobar diversos processos cognitivos que permitem gerir pensamentos, emoções e ações do indivíduo em diversos contextos. Teorias de fluxo (atenuação) e filtro de informações (atenção auditiva) Diante de tantos estímulos, o que acontece quando temos de processá-los? Segundo Broadbent (1958), um filtro (gargalo) no início do processamento permite a entrada do estímulo relevante com base em suas características físicas. Outros estímulos permanecem, por pouquíssimo tempo, em um buffer sensorial para, posteriormente, serem descartados se não forem requisitados. Esse autor defende, então, que existe uma seleção inicial da informação relevante. Aqui, podemos encontrar diversas explicações. Por exemplo, alguns autores defendem uma seleção tardia da informação relevante após todos os estímulos serem analisados, enquanto uma explicação alternativa sugere que deveria haver pouco ou nenhum processamento das informações irrelevantes. Esses achados são resultado de paradigmas experimentais no processamento auditivo. Por exemplo, uma mensagem auditiva diferente é apresentada em cada ouvido. A instrução da tarefa, que é o estímulo relevante, orienta que a atenção seja dirigida para apenas uma das informações em um ouvido. Essa tarefa se chama escuta dicótica. Treisman (1964 apud EYSENCK; KEANE, 2017), por sua vez, propôs que a localização do filtro é flexível. Os ouvintes, gradualmente, processam os estímulos a partir de suas características, começando pelas pistas físicas, pelo padrão silábico e pelas palavras específicas, prosseguindo pela estrutura gramatical e pelo significado da informação. O fluxo de informações é atenuado de acordo com esse processament

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