MANUAL.pdf - Guia para Auxiliares de Veterinária PDF
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Summary
Este manual fornece informações sobre as tarefas de auxiliares de veterinária, incluindo atendimento ao cliente (presencial, telefônico e online), gestão de clientes (exigentes e sorvinos) e procedimentos gerais em clínicas veterinárias.
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1- Introdução à Profissão TAREFAS DOS AUXILIARES DE VETERINÁRIA As tarefas dos auxiliares de clínica veterinária vão desde trabalhar na sala de cirurgia até atender clientes na receção ou gerir a loja de uma Petshop, passando por ajudar o médico veterinário nas consultas, ta...
1- Introdução à Profissão TAREFAS DOS AUXILIARES DE VETERINÁRIA As tarefas dos auxiliares de clínica veterinária vão desde trabalhar na sala de cirurgia até atender clientes na receção ou gerir a loja de uma Petshop, passando por ajudar o médico veterinário nas consultas, tarefas administrativas, venda de produtos e a limpeza das instalações, dos equipamentos e dos instrumentos. ONDE DESEMPENHAM AS SUAS FUNÇÕES? Os auxiliares de clínica veterinária podem ainda desempenhar as suas funções em canis e gatis, sejam eles municipais, pertencentes a instituições zoófilas ou hotéis caninos ou felinos, bem como em laboratórios de medicina veterinária. NESTE MODULO VAMOS APRENDER Neste módulo, para além do atendimento ao cliente, vamos conhecer melhor o funcionamento da “máquina” animal, ao estudarmos as células, os tecidos, os órgãos e os aparelhos existentes no cão e no gato. Por falar em “atendimento ao cliente”, vamos esclarecer, em primeiro lugar, o que é o cliente e o que é o paciente. Em medicina humana, cliente e paciente, são um só mas, em medicina veterinária, cliente é a pessoa que procura os serviços de um centro de atendimento, para que o seu animal de estimação seja lá atendido, sendo este último o paciente. Vamos também esclarecer qual a designação mais correta para atribuir à pessoa que é responsável pela alimentação, higiene e bem-estar de um animal de estimação. Apesar de ser frequente atribuir a essa pessoa a designação de dono ou detentor do animal e, até, esses termos constarem em legislação mais antiga, com a entrada em vigor da Lei nº 8/2017 de 3 de março, a qual estabelece um regime jurídico aos animais de companhia, reconhecendo a sua natureza de seres vivos, dotados de sensibilidade, o termo mais adequado é tutor. Assim, tutor é aquele que é incumbido de zelar pelo animal em todos os atos necessários, inclusive quanto às despesas da sua subsistência. Pelo contrário, o dono ou o detentor, apesar de juridicamente diferentes entre si, implicam em ambos possuir um bem, uma coisa, tendo o animal de companhia deixado de pertencer essa categoria, com a entrada em vigor da referida Lei. ATENDIMENTO AO CLIENTE A relação com o cliente, ou seja, com o tutor do animal, pode ser feito a vários níveis, pois podemos estar a falar de atendimento presencial, atendimento telefónico, atendimento “online” (e-mail, SMS, redes sociais), etc. Em qualquer destas formas, o atendimento é feito principalmente pelos auxiliares de clínica veterinária, sendo por isso estes os primeiros a contactar com o cliente. Atender bem é fundamental para qualquer prestação de serviço, pois é uma etapa decisiva para o sucesso de um centro de atendimento médico veterinário (CAMV). Toda a equipa de colaboradores deve estar consciente desse facto. O atendimento, seja ele presencial ou não, é o primeiro contacto do cliente com a organização e é muitas vezes a partir dele que o cliente constrói uma imagem dessa mesma organização. Assim podemos concluir que o trabalho dos funcionários do atendimento pode ser tão importante quanto o do médico veterinário, quando o objetivo é oferecer um atendimento de excelência. ATENDIMENTO TELEFÓNICO Regras Fundamentais para um Bom Atendimento Telefónico: 1. O atendimento deve ser efetuado ao segundo ou terceiro toque: Um atendimento demasiado precoce pode dar a sensação, a quem nos contacta, que não se está a fazer nada ou que existe uma demasiada ansiedade no contacto; Quando é necessário aguardar algum tempo, o cliente deve ser informado disso; 2. Falar no tom certo: Não deve falar demasiado alto nem demasiado baixo; O tom certo é aquele que, quem está a ouvir, entende as palavras ditas e não pede para repetir; Deve igualmente adotar uma postura direita, pois de outra forma pode haver distorção da voz; 3. Falar no ritmo certo: Não deve falar muito rápido nem muito devagar, de modo a não causar irritação a quem nos contacta; 4. Profissionalismo: Deve utilizar uma linguagem formal e que transmita seriedade e respeito a quem está do outro lado, devendo evitar o uso de gírias; 5. Empatia: Mais do que ter simpatia, ter empatia é colocar-se no lugar do outro; Demonstra que o CAMV se preocupa com o cliente; 6. Estar bem informado: A pessoa que realiza o atendimento deve estar bem informado dos procedimentos realizados no CAMV, para informar o cliente devidamente e para tentar resolver as situações; No caso de não saber a resposta, deverá anotar o nome, o assunto e contacto telefónico do cliente, para que o contacte, assim que tiver a resposta ou então deverá encaminhar o cliente para a pessoa adequada a prestar esse esclarecimento; 7. Evitar ruídos: Aparelhos elétricos, ruídos de fundo e outros barulhos atrapalham o atendimento, dificultam a escuta por parte do cliente e podem provocar mal-entendidos e situações de stress; 8. Estar comprometido com o CAMV: A pessoa que realiza o atendimento deverá retomar as ligações sempre que estas caiem, encaminhar as chamadas para a pessoa certa e dar sempre feedback das questões levantadas pelo cliente; 9. Linha desocupada: Deverá ser ágil no atendimento, ou seja, sem quebrar as regras estabelecidas, deverá fazer com que as chamadas demorem apenas o tempo necessário; 10. Atender e desligar de forma correta: Deverá efetuar a saudação (bom dia, boa tarde), dizer o nome do CAMV, dizer o seu nome e perguntar em que pode ajudar (ou ser útil); Ao desligar, deverá repetir o que ficou acordado, agradecer o contacto e repetir a saudação; 11. Tratar o cliente pelo nome: Deverá questionar o cliente quanto ao seu nome e tratá-lo sempre dessa forma; ATENDIMENTO PRESENCIAL Regras para um Bom Atendimento Presencial: 1. Todos os funcionários de um CAMV devem estar devidamente identificados com o seu nome e a sua categoria profissional; 2. Devem utilizar o uniforme em uso no CAMV ou, em alternativa, usar roupa adequada; 3. Devem ter um aspeto cuidado e assumir uma postura profissional; 4. Saudar o cliente, sorrir e ser célere no atendimento; 5. Se for um cliente habitual, devem tratá-lo de imediato pelo nome; caso contrário, deve perguntar o nome e tratá-lo dessa forma; 6. Deverão questionar o cliente quanto ao motivo da sua vinda e, no caso de ser uma consulta de seguimento, questioná-lo quanto à evolução da situação clínica do animal e anotar essa informação; 7. Se se tratar de um cliente novo, deverão preencher a ficha clínica com os dados do animal e do tutor; 8. É habitual anotar na ficha clínica o motivo principal da vinda à consulta, como forma de auxiliar o médico veterinário; 9. Quem efetua o atendimento, deve também tentar avaliar o grau de gravidade da situação (triagem), para que eventuais situações urgentes sejam atendidas com a rapidez necessária; 10. Sempre que a balança se encontre na sala de espera, o que é relativamente frequente, deverão proceder à pesagem do animal e anotarem na ficha; 11. Encaminhar depois o cliente e o animal para a sala de espera; 11.1. Em muitos centros de atendimento a sala de espera e de consultas estão separadas por espécies, sobretudo em relação à separação entre cães e gatos, sendo os CAMV designados por “cat friendly". 12. Se a consulta estiver atrasada, deverá o cliente ser informado do período provável de atraso e lamentar o facto; 13. No final da consulta, deverão certificar-se da necessidade de marcar nova consulta e da necessidade de fornecer algum medicamento ou alimento (dieta) para ser administrado em casa pelo tutor; 14. Não esquecer a emissão de fatura, pois os serviços veterinários têm desconto no IRS do tutor e nela deverá constar o NIF, entre outros elementos do cliente; 14.1. Ter atenção à distinção entre produtos e serviços, bem como às taxas de IVA a aplicar; 15. No final, deverá o cliente ser saudado e desejada a melhoria da situação clínica do animal, se tal for adequado. ATENDIMENTO "ONLINE" 1. É importante que a informação constante nesses sítios esteja atualizada e que as questões levantadas pelos clientes, por essas vias, sejam resolvidas / respondidas de forma rápida. 2. É igualmente importante que esteja presente na ficha clínica do animal, nos dados referentes ao tutor, as várias formas de comunicação com este, nomeadamente telefone, e-mail, morada, etc. Os meios informáticos são também uma boa via para informar o tutor, atempadamente, quanto a datas para efetuar atos de profilaxia, tais como vacinas e desparasitações e também campanhas em vigor no CAMV. 3. É um importante meio de fidelização de clientes, pois o mesmo sente-se reconhecido e confiante. TIPOS DE CLIENTE O princípio básico da existência de qualquer atividade económica é a satisfação das necessidades ou das expectativas dos clientes. Para que tal acontece, nada melhor do que conhecer o cliente, ou melhor, conhecer os tipos de clientes com que mais frequentemente nos deparamos, para que estejamos o mais possível preparados para essa tarefa. Assim, na literatura disponível, existem classificações para todos os gostos e todas as áreas de atividade, muitas delas com pouca aplicabilidade na clínica veterinária. A classificação apresentada abaixo, foi retirada de um artigo da revista brasileira “Animal marketing”, intitulado “Os 5 clientes mais difíceis de uma clínica veterinária”. “OS 5 CLIENTES MAIS DIFÍCEIS DE UMA CLÍNICA VETERINÁRIA” 1. Exigente É o cliente que faz milhares de perguntas ao veterinário e, frequentemente usa mais do que o tempo marcado para a sua consulta. Esse cliente trata os membros da equipa pelo nome. Se ele vê um assistente da clínica em algum sítio, bombardeia-o com perguntas. Ele é conhecido por ligar à clínica diversas vezes ao dia, para dar relatórios regulares sobre o estado atual de saúde do seu animal. Embora os clientes exigentes sejam mesmo muito exigentes, eles são uma bênção para a clínica, pois apesar de nesta categoria caberem apenas cerca de 20% dos clientes do CAMV, eles geram cerca de 80% da faturação desse mesmo CAMV. Ele reconhece e aprecia o valor dos serviços prestados, e o seu desejo de dar o melhor ao seu animal é uma atitude admirável. Enquanto as suas necessidades forem atendidas, o Exigente será um dos maiores fãs, e dirá aos outros quão maravilhoso é o local onde ele vai com o seu animal. Como lidar com um Exigente? 1. Não permita que ele assuma o controlo. Terá de fazer uma gestão muito criativa, para que atenda às suas necessidades, sem permitir demasiada intromissão; 2. Responda pacientemente a cada uma das suas perguntas, pois as suas intenções são nobres; 3. Encoraje o exigente a escrever perguntas em casa e trazer a lista, quando vier à consulta com o seu animal. Isso pode diminuir a quantidade de telefonemas que faz para a clínica com dúvidas e reforça o comprometimento da clínica com o animal dele; 2. Sovina O Sovina quer que o seu cão seja tratado de graça. Ele espera até o fim da consulta, após o exame e as radiografias e o laboratório, para dizer que no momento não tem dinheiro. Nenhuma opção de pagamento funciona para ele. Ele promete seriamente pagar faseadamente mas não cumpre. Passado algum tempo, ele volta à clínica para mais tratamentos, e quando ele é avisado que os serviços não podem ser efetuados sem pagamento, ele acusa a equipa de querer a morte do seu animal. Como cliente, o Sovina é um suplício. As suas promessas de pagamento não são sinceras, e ele é rude para aqueles que se recusam trabalhar de graça. Para o Sovina, o dinheiro não é um problema, porque ele não tem intenção de pagar. Este tipo de clientes exigem uma gestão firme, para prevenir que a situação se perpetue. Como lidar com um Sovina? 1. Não recue, fazendo condições especiais ou reduzindo os preços. Fazer isso diminui o valor dos serviços prestados pela clínica e poderia, em última análise, ser contraproducente. Os preços estão estabelecidos, tendo em conta a qualidade dos serviços prestados, o nível de especialização dos técnicos e os custos de funcionamento do centro de atendimento. Reduzi- los poderia comprometer o futuro do centro. 2. Não encare esses ataques como ataques pessoais. A verdadeira responsabilidade pela saúde e bem-estar do animal do Sovina é do próprio Sovina. 3. Repita-se. O Sovina pode precisar de reforços adicionais. Pergunte, no final de cada consulta, qual a forma de pagamento que ele vai utilizar. 4. Obtenha primeiro um acordo com o Sovina. Quando ele necessitar dos serviços da clínica, deixe claro de antemão que é necessário o pagamento ser efetuado no momento da prestação dos serviços. Uma vez que o médico veterinário tenha terminado um plano de tratamento recomendado, os auxiliares devem fazer um orçamento, discriminando os vários serviços e o valor a pagar. Deverão obter primeiro a sua aprovação e o acordo de pagamento e só depois executar esses tratamentos. 3. Cínico O Cínico adotou um cachorro e as coisas não estão bem. O cachorro mordisca tudo, ladra e gane demais, salta para as pessoas o tempo todo – e nem pensar em falar de educação para o cachorro! O Cínico já levou o seu cachorro a todos os médicos da clínica e ainda a um treinador e a um consultor de comportamento animal. Ele recebeu inúmeras soluções para os seus problemas, mas está cheio de justificações para o não funcionamento delas. Embora o Cínico seja um suplício, ele pode ser uma dádiva disfarçada. Ao trabalhar de maneira objetiva com ele, podemos melhorar as habilidades educacionais e de comunicação do seu cliente. Lidar com ele, pode exigir paciência e determinação, mas ele possui um problema que você pode resolver. Se você ficar por perto e resolver os seus problemas, ele louvará os seus feitos. Como lidar com um Cínico? 1. Não deixe ele acreditar que não existe solução. Você é o perito e sabe que ele recebeu as soluções que funcionam. 2. Não lhe continue a oferecer alternativas. Isso é interpretado como uma falta de confiança na solução que ele já recebeu, e indiretamente reforça o seu estatuto de “vítima”. 3. Foque-o em tarefas específicas. Fale diretamente com o Cínico, dizendo, “sabemos que essas soluções funcionam, sem exceção”. Seja específico sobre cada situação. Faça uma lista e explique cada ponto, se necessário. 4. Dê-lhe as sugestões por escrito. Confira com ele, alguns dias depois, para ver como estão indo as coisas e que desafios ele está a ter. Mantenha-se objetivo e positivo. O Cínico sentirá o seu encorajamento e terá mais energia para se manter no programa sugerido. 5. Fale francamente sobre o consentimento. Certifique-se que ele saiba que a responsabilidade de cumprir com o tratamento está nos ombros dele. Permita que ele saiba que, se as instruções forem seguidas, os métodos funcionarão. 4. Valentão O Valentão é simplesmente mau. Ninguém na clínica o viu sorrir. Ele é rude com a equipa e com outros clientes. Ele é rápido a encontrar falhas em tudo, desde que ele aguarda o veterinário, até ao custo da ração terapêutica do seu gato. Ele exclama a sua opinião em voz alta, sobre tudo e algumas vezes de forma vulgar, não tem tolerância com outros pontos de vista. Não há como negar: o Valentão é definitivamente um problema. A clínica – e todos dentro dela – ficam melhores sem ele. Como lidar com um Valentão? 1. Não se intimide. O Valentão usa a intimidação como ferramenta para fazer o que quer. Não se deixe manipular, e não se intimide com suas exigências injustas. 2. Não entre em discussões. Você não conseguirá mudar a cabeça de um Valentão na maioria das vezes, então não se incomode tentando. 3. Não entenda a sua comunicação negativa como algo pessoal. O Valentão trata todos de maneira humilhante, e não só você. Não compre os seus insultos! 4. Seja profissional. Mantenha todos os traços de animosidade e antagonismo longe da sua voz. Mantenha o seu tom de voz baixo. Fale devagar, com silenciosa dignidade. 5. Torne a consulta do Valentão objetiva. Não lhe dê hipótese de o intimidar – tome conta das suas necessidades da maneira mais rápida e eficiente possível. 6. Clarifique as suas expectativas. Trate o Valentão com respeito, e exija a mesma cortesia. Diga, “estou a tentar ajudá-lo, mas ao falar comigo dessa maneira rude, não consigo concentrar-me no que é melhor para o seu animal.” 7. Estabeleça um limite. Se o Valentão não se acalmar, diga que a sua clínica não lhe pode mais prestar serviços, para ele e para o seu animal. 5. Sabichão O Sabichão já fez o diagnóstico da situação do seu animal. Ele pesquisou os sintomas na internet e conversou com o vizinho, cujo colega de trabalho do cunhado teve exatamente os mesmos sintomas. Ele insiste que o seu gato só precisa de uma prescrição simples. O Sabichão é impaciente, e irritado por ter que agendar uma consulta, mas ele faz bom uso do seu tempo na clínica – ele voluntariamente distribui diagnósticos para outros animais de clientes que encontra na sala de espera. Ele recusa todo o diagnóstico laboratorial, porque sabe que o seu animal está saudável. Acredite se quiser, com uma gestão correta, o Sabichão pode ser um presente para a clínica. Ele quer o melhor para o seu animal, e tem um círculo de amigos para discutir o cuidado veterinário que a sua clínica oferece. Com regras claras na relação cliente-clínica, e com a voz influente do Sabichão na sua comunidade, ele pode ser um forte defensor e fonte de referências positivas. Como lidar com um Sabichão? 1. Não permita que ele determine os padrões a estabelecer na clínica. Se você der a um Sabichão apenas uma receita e não der grande importância à situação do animal, você está a dizer-lhe que os seus padrões são negociáveis e também está a encorajar um comportamento similar no futuro. 2. Não entre em discussões sobre as suas opiniões ou diagnósticos. 3. Não deixe de fazer as recomendações importantes, ainda que ele não aceite. 4. Eduque-o. O Sabichão aprecia o conhecimento, obviamente, e dar-lhe informações corretas pode permiti-lo tomar melhores decisões para o seu animal. 5. Seja razoável (se puder). Se o Sabichão insiste que o seu animal tem sarna no ouvido, diga algo como, “ele pode ter sim sarna no ouvido. E se ele tiver, você fez muito bem em trazê-lo para ser visto pelo veterinário.” 6. Registe todas as recomendações importantes. Se o Sabichão se negar a seguir tais recomendações, registe isso também. 7. Tenha uma sala de consultas disponível para o Sabichão assim que ele chegar, de modo a minimizar o seu contacto com outros clientes. O Sabichão pode não saber tanto quanto ele pensa que sabe sobre cuidados veterinários, mas pode influenciar negativamente outros clientes. TERMINOLOGIA VETERINÁRIA Nesta parte, pretendemos sistematizar vários conceitos utilizados em medicina veterinária. Assim, para facilitar o estudo, vamos ter em conta os PREFIXOS, os SUFIXOS e as RAÍZES dos diferentes termos técnicos utilizados. Por definição, o PREFIXO é a partícula que se coloca no início de uma palavra, para lhe modificar o sentido. Em contrapartida, o SUFIXO diz-se da sílaba ou letras que se juntam à raiz de um vocábulo, para modificar o seu significado. Quanto à RAÍZ ou RADICAL, é a parte de uma palavra que mantém o seu significado básico e à qual se podem juntar os PREFIXOS ou SUFIXOS para formar flexões ou derivações. Principais prefixos Anemia: falta de glóbulos vermelhos A-, an- Ausência, sem, não, falta Assintomático: sem sintomas Anti- Contra, oposto Antibiótico: contra bactérias Bradicardia: frequência cardíaca Bradi- Anormalmente lento anormalmente baixa Dis- Dificuldade Dispneia: dificuldade a respirar Excessivamente, anormalmente Hipertermia: temperatura corporal Hiper- elevado excessivamente elevada Insuficientemente, anormalmente Hipotermia: temperatura corporal Hipo- baixa anormalmente baixa Mal- Má, fraca Maloclusão: mau alinhamento dentário Poli- Muito, múltiplos Poliuria: muita produção de urina Taquicardia: frequência cardíaca Taqui- Anormalmente rápido anormalmente elevada Principais sufixos -cito Célula Eritrócito: célula vermelha do sangue -ectomia Remoção cirúrgica Nefrectomia: remoção cirúrgica de um rim Taquipneia: frequência respiratória -pneia Respiração anormalmente elevada -ite Inflamação Artrite: inflamação das articulações -logia Estudo de Fisiologia: estudo da função dos órgãos Carcinoma: tumor com características -oma Tumor, neoplasia malignas -penia Deficiência de Leucopenia: deficiência em leucócitos Instrumento de medição, Microscópio: instrumento de observação de -scopio observação estruturas microscópicas -tomia Corte, incisão Cistotomia: incisão na bexiga urinária -centese Punção Cistocentese: punção da bexiga Principais raízes Cardi/o Coração Cefal/o Cérebro, cabeça Dent/i, dent/o Dentes Mam/a, mam/o Glândula mamária Nas/o Nariz Oftalmo/o Olho Ot/o Ouvido Torac/o Toráx Traque/o Traqueia Nefr/o Rim Gastr/o Estômago Colo/n Colón Enter/o Intestino Derma Pele Esplen/o Baço Cist/o Bexiga 2- Biologia Celular e Organização dos Tecidos ROBERT HOOKE, 1665 As células começaram a ser estudadas a partir dos trabalhos com cortiça, realizados por Robert Hooke em 1665. Este investigador inglês foi o primeiro a visualizar células num microscópio. Como os trabalhos por ele realizados, tiveram por base a observação de células de cortiça, as mesmas estavam mortas, e ele acreditou que essas estruturas eram apenas câmaras vazias, daí a denominação célula, que significa pequena cela. No entanto, tempos depois, descobriu-se que aqueles espaços vazios continham material vivo, e a célula passou a ser considerada uma estrutura viva. ANTONIE VAN LEEUWENHOEK, 1674 Alguns anos depois, em 1674, Antonie van Leeuwenhoek, um investigador holandês, relatou a descoberta dos protozoários e depois dos glóbulos vermelhos em peixes, anfíbios e alguns mamíferos, como o ser humano, em 1675; também desenvolveu uma série de microscópios e lentes especiais, entre outras contribuições. ROBERT BROWN, 1836 O primeiro organito celular descrito foi o núcleo e, embora alguns autores atribuam essa descrição ao pesquisador botânico Robert Brown, que visualizou o núcleo de células de orquídeas no ano de 1836, outros autores atribuem essa descoberta ao investigador Antonie van Leeuwenhoek, que já tinha observado o núcleo em glóbulos vermelhos de salmão (diferentemente dos glóbulos vermelhos dos mamíferos, uma vez que possui núcleo). OS PRIMEIROS MICROSCÓPIOS Os primeiros microscópios eram bastante simples, constituídos apenas por uma lente, o que restringia bastante os resultados dos trabalhos realizados. Apenas no final do século XIX surgiram os primeiros microscópios binoculares e com um conjunto de lentes objetivas que permitiam uma melhor visualização do material estudado. Com o passar dos anos, surgiram novos aparelhos, no entanto, para a visualização de diversas estruturas, era necessária a utilização de corantes na célula, o que acabava por levá-la à morte. A criação do microscópio de contraste de fases, em 1932, pelo físico holandês Frits Zernike, foi um grande marco para a biologia celular, pois a tecnologia desse novo instrumento permitia a visualização de algumas estruturas celulares sem o uso de corante e, assim permitia o estudo da célula viva. MICROSCÓPIO ÓTICO Durante muito tempo, apenas eram utilizados os microscópios ópticos nos mais diversos estudos. Nesse tipo de microscópio, a luz visível passa através do material de estudo e, em seguida, por lentes de vidro que refratam a luz, de modo que a imagem do material é aumentada à medida que é projetada para dentro do olho ou de uma câmera. O microscópio óptico tem a capacidade de aumentar, de forma eficaz, até mil vezes o tamanho do material que está sendo analisado. MICROSCÓPIO ELETRÓNICO A partir dos anos 1950, surgiram os microscópios eletrónicos, que utilizam na sua tecnologia feixes de eletrões, o que contribuiu para a deteção de estruturas até então não reveladas pelo microscópio óptico. Relativamente ao microscópio óptico, que é aquele que continua a ser utilizado, há duas configurações básicas: o microscópio simples e o microscópio composto, embora este último seja aquele que é usado quase sempre na clínica veterinária. SISTEMAS DE LENTES DO MICROSCÓPIO O microscópio composto é constituído por três sistemas de lentes: o o condensador; o a objetiva; o a ocular. O condensador tem como finalidade projetar um cone de luz sobre as células que estão sendo examinadas no microscópio. Após atravessar as células, esse feixe luminoso em formato de cone, penetra na objetiva, que projeta uma imagem aumentada no plano focal da ocular e a amplia novamente. A ampliação total oferecida por um microscópio é correspondente ao aumento da objetiva, multiplicado pelo aumento da ocular. Chama-se poder de resolução de um sistema óptico à sua capacidade de separar detalhes. Na prática, o poder de resolução é expresso pelo limite de resolução, que é a menor distância que deve existir entre dois pontos para que eles apareçam individualizados. O que determina a riqueza de detalhes da imagem fornecida por um sistema óptico é o seu limite de resolução, e não o seu poder de aumentar o tamanho dos objetos. O limite de resolução depende essencialmente da objetiva, pois a ocular não acrescenta detalhes à imagem; a sua função é apenas aumentar o tamanho da imagem que é projetada pela objetiva. MICROSCÓPIO ÓTICO 5 1 6 7 2 8 3 4 9 10 0 1. Oculares Sistema de lentes que permitem ampliar a imagem real fornecida pela objectiva, formando uma imagem virtual que se situa a aproximadamente 25 cm dos olhos do observador. As oculares mais utilizadas são as de ampliação 10x, mas nos microscópios binoculares também existem oculares de 12,5, 8x e 6x. 2. Lentes Objectivas Permitem ampliar a imagem do objecto 10x, 40x, 50x, 90x ou 100x. Existem: As objectivas de 10x, 40x e 50x são designadas objectivas secas pois entre a preparação e a objectiva existe somente ar. As objectivas de imersão, uma vez que, para as utilizar, é necessário colocar uma gota de óleo de imersão entre elas e a preparação, o qual, por ter um índice de refracção semelhante ao do vidro, evita o desvio do feixe luminoso para fora da objectiva. 3. Diafragma É constituído por palhetas que podem ser aproximadas ou afastadas do centro através de uma alavanca ou parafuso, permitindo regular a intensidade da luz que incide no campo de visão do microscópio. 4. Condensador Conjunto de duas ou mais lentes convergentes que orientam e espalham regularmente a luz emitida pela fonte luminosa sobre o campo de visão do microscópio. 5. Tubo ou canhão Cilindro que suporta os sistemas de lentes, localizando-se na extremidade superior a ocular e na extremidade inferior o revólver com objectivas. 6. Revólver ou Óptico Disco adaptado à zona inferior do tubo, que suporta duas a quatro objectivas de diferentes ampliações: por rotação é possível trocar rápida e comodamente de objectiva. 7. Coluna ou Braço Fixo à base, serve de suporte aos outros elementos. 8. Mesa ou Platina Onde se fixa a lâmina a ser observada, possui uma janela por onde passam os raios luminosos e também parafusos dentados que permitem deslocar a preparação. 9. Charriot Peça ligada à platina que possibilita mover a lâmina, permitindo a melhor centralização da mesma. 10. Pé ou Base Peça fixa à base, na qual estão aplicadas todas as outras partes constituintes do microscópio. BIOLOGIA CELULAR “A biologia celular, também denominada de citologia, é o ramo da biologia responsável pelo estudo das células. As células são as unidades básicas estruturais e funcionais dos organismos. Assim, a biologia celular estuda a parte estrutural delas, bem como suas funções. O estudo das células tem avançado à medida que surgem novas tecnologias. A biologia celular ao estudar a estrutura e do funcionamento das células, assim como da interação entre elas, permite maior compreensão do funcionamento dos organismos.” A biologia celular atua de forma integrada a outros ramos do conhecimento, como a bioquímica, biologia molecular, genética e imunologia, o que contribui para um avanço nas mais diversas áreas de atuação, como a medicina. Existem dois tipos fundamentais de células: Células Procariontes ou Procarióticas Células Eucariontes ou Eucarióticas CÉLULAS PROCARIONTES EUCARIONTES CONSTITUIEM OS CONSTITUIEM OS SERES SERES PROCARIONTES EUCARIONTES UNICELULARES UNICELULARES UNICELULARES OU PLURICELULARES PLURICELULARES REINO MONERA REINO PROTISTA REINO FUNGI REINO ANIMAL REINO VEGETAL Ex: BACTERIA Ex: Protozoários Ex: Leveduras Ex: Animais Ex: Vegetais Características Procariótica Eucariótica Membrana nuclear Ausente Presente Diâmetro médio ~1 µm ~10-100 µm Citoesqueleto Ausente Presente Características Procariótica Eucariótica Organelos citoplasmáticos Ausente Presente Material genético 1 molécula DNA circular Várias moléculas DNA 1. Células Procarióticas São as células dos organismos do Reino Monera, de que se destacam as bactérias. Caracterizam-se pela ausência de núcleo e de organitos revestidas por membrana. As células procarióticas são tipicamente menores e mais simples, multiplicando-se por divisão binária. Célula procarionte, neste caso uma bactéria, com cápsula. Nem todas as bactérias têm cápsula e a sua presença aumenta-lhe a resistência ao meio. 2. Células Eucarióticas Podem ser unicelulares ou pluricelulares e incluem células de animais, plantas, fungos e protozoários, todas contendo organitos (ou organelas) com várias formas e tamanhos. São compostas pelas seguintes organelas: Núcleo Funciona como o armazenamento de informações genéticas para a célula, contendo todo o DNA organizado na forma de cromossomas. É circundado pela membrana nuclear, que inclui poros, permitindo o transporte de proteínas entre o interior e o exterior do núcleo. Nucléolo Esta estrutura está dentro do núcleo, geralmente de forma densa e esférica. É o local da síntese do RNA ribossómico (RNAr). Retículo endoplasmático (RE) Sintetiza, armazena e secreta proteínas para o Complexo de Golgi. Ribossomas Responsável pela síntese proteica. Complexo de Golgi Processa, embala e secreta as proteínas até ao seu destino. As proteínas contêm uma sequência de sinal que permite ao Complexo de Golgi reconhecê-las e direcioná-las para o local correto. Membrana citoplasmática Pode ser descrita como uma bicamada fosfolipídica, sendo composta por lípidos e proteínas. Como o interior da bicamada é hidrofóbica, para que as moléculas participem das reações dentro da célula, elas precisam de ser capazes de cruzar esta camada de membrana para entrar na célula utilizando a pressão osmótica, difusão, gradientes de concentração e canais de membrana. Mitocôndria Responsável pela produção de energia (ATP) dentro da célula. Especificamente, este é o local onde ocorre o ciclo de Krebs. Lisossomas As funções dos lisossomas é degradar o material trazido de fora da célula ou organelas antigas. Este contém muitas enzimas. Citoesqueleto Compõe a estrutura celular, dá a estabilidade à célula e fixa as organelas dentro das células. Centríolos Produz fibras fusiformes que são usadas para separar cromossomas durante a divisão celular. Cílios Ajudam a impulsionar substâncias e também podem ser usados para fins sensoriais. Nem todas as células eucariontes os possuem. ORGANIZAÇÃO DOS TECIDOS CELULARES Nos seres pluricelulares mais desenvolvidos, as células sofrem diferenciações e organizam-se em tecidos que, em conjunto formam os diferentes órgãos. Os órgãos são constituídos por vários tecidos, tal como os aparelhos são constituídos por um conjunto de órgãos que trabalham de uma forma integrada. Tipos de Tecido Os tecidos animais podem ser agrupados em quatro tipos básicos: 1. Conjuntivo; Características Gerais O tecido conjuntivo é constituído por células dispersas ao longo de uma substância inorgânica, denominada matriz extracelular. É o tecido conjuntivo que faz a união com os outros tecidos, de modo a formar um órgão e a mantê-lo no lugar. Classificação Dentro da denominação geral de tecido conjuntivo, temos na verdade os seguintes tecidos: o Tecido conjuntivo frouxo; o Tecido adiposo (gordura); o Tecido fibroso; o Tecido sanguíneo; o Cartilagem; o Osso. Composição A matriz extracelular contém proteínas, das quais a principal e mais abundante é o colagénio, que tem por função organizar e manter os tecidos. A matriz pode formar um esqueleto que suporta e protege o organismo (em alguns animais este esqueleto é externo e denomina- se exosqueleto, como no caso dos crustáceos e dos insetos). Nos animais mais desenvolvidos, este esqueleto é interno e denomina- se endosqueleto. 2. Epitelial; Composição O tecido epitelial é constituído por células compactas, com pouco espaço intercelular e bem ligadas entre si. As células epiteliais podem ser dos seguintes tipos: escamosas, cúbicas ou colunares, consoante a sua forma das células que o compõem e assentam sobre uma membrana basal. Esta membrana basal une-se ao tecido conjuntivo. Tipos de epitélio Existem vários tipos diferentes de tecido epitelial, o qual se encontra algumas vezes modificado, de modo a corresponder a uma função em particular. No aparelho respiratório encontra-se um tipo de revestimento epitelial, o epitélio ciliado; No revestimento epitelial do intestino delgado existem as microvilosidades, enquanto que no intestino grosso existem as vilosidades intestinais. A pele que reveste o corpo dos vertebrados é constituída por uma camada exterior de epitélio escamoso estratificado e queratinizado, enquanto 95% das células da epiderme são queratinócitos. As células epiteliais na superfície exterior do corpo geralmente secretam uma matriz extracelular, que nos animais superiores, formam as glândulas da pele (sebáceas e sudoríparas). As cavidades corporais são também forradas interiormente por uma camada de tecido epitelial, possuindo igualmente a capacidade de secretar uma substancia viscosa, constituída por glicoproteínas, designada por muco, que mantém o tecido epitelial húmido; a essas estruturas designam-se por membranas mucosas ou simplesmente mucosas. Temos assim a mucosa gástrica, mucosa uretral, mucosa traqueal, mucosa bucal, mucosa anal, etc. 3. Muscular; Composição O tecido contrátil do corpo é formado por células alongadas, denominadas por células musculares, fibras musculares ou miócitos. Função A função do tecido muscular é produzir força e movimento, tanto o movimento da locomoção como o movimento dos órgãos internos. Tipos de tecido muscular O músculo divide-se em 2 tipos principais: o Músculo liso; o Músculo estriado. Por sua vez o músculo estriado, divide-se em esquelético e em cardíaco. O processo de contração O processo de contração muscular é de extrema importância para o organismo, pois, além de permitir a sua locomoção, possibilita a contração de diversos órgãos, influenciando diversos processos fisiológicos, como a digestão, por meio dos movimentos peristálticos no aparelho digestivo e a circulação sanguínea, por meio da contração do coração e dos músculos esqueléticos, que comprimem as veias, auxiliando no deslocamento do sangue de volta ao coração. Músculo Liso: o O músculo liso não apresenta estrias, quando observado ao microscópio, contrai-se lentamente mas é capaz de manter a contração durante uma grande extensão. o Existe ao nível dos órgãos internos e contrai-se de forma involuntária, sendo comandado pelo sistema nervoso autónomo. Músculo Estriado Esquelético: o O músculo estriado esquelético é responsável pela contração voluntária do organismo. o Ligado aos ossos, esse tecido é o responsável pela locomoção. o As suas células têm o citoplasma rico em filamentos proteicos, denominados: actina e miosina. A disposição dos filamentos de actina e miosina na célula faz com que ela apresente uma aparência estriada quando vista ao microscópio, apresentando faixas claras e escuras. o As células do músculo estriado esquelético não se multiplicam no indivíduo adulto, no entanto, podem surgir novas células após lesão ou hipertrofia decorrente de exercício físico. Contudo, essas células são diferentes das demais, apresentando- se fusiformes (alongadas, com as extremidades mais estreitas do que o centro) e com um núcleo único, escuro e menor que os das demais células. Músculo Cardíaco: o O músculo estriado cardíaco ou, simplesmente músculo cardíaco, está presente no coração. Ele atua na contração desse órgão, permitindo, assim, o bombeamento de sangue para todo o organismo. o Este tecido apresenta características semelhantes ao do músculo estriado esquelético, no entanto as suas células são alongadas e cilíndricas, ramificadas, com cerca de 15 mícrones de diâmetro e 80 a 100 mícrones de comprimento, com um ou dois núcleos centrais. o Uma característica desse tecido é também a presença de linhas transversais, denominados discos intercalares. Essas especializações permitem a conexão elétrica entre as células desse tecido, sincronizando a contração cardíaca, além de evitar a separação dessas células durante o processo de contração. As contrações das células no tecido cardíaco são fortes, rápidas, contínuas e involuntárias. 4. Nervoso. O TECIDO NERVOSO É COMPOSTO PRINCIPALMENTE POR DOIS TIPOS CELULARES: 1. OS NEURÓNIOS Os neurónios, também chamados de células nervosas, são os responsáveis pela transmissão do impulso nervoso. Essas células apresentam três partes básicas e distintas: o corpo celular, dendritos e axónio. É no corpo celular que se encontram os organitos e o núcleo e é a partir do corpo celular que partem dois prolongamentos denominados de dendritos e axónios. Os dendritos estão relacionados com a captação do impulso nervoso. O axónio é um prolongamento longo, responsável por levar o impulso nervoso a uma célula muscular, uma glândula ou outro neurónio. É importante destacar que num neurónio, o impulso nervoso segue sempre no sentido dendrito-corpo celular-axónio. 2. CÉLULAS DA GLIA, TAMBÉM CHAMADAS DE GLIÓCITOS. Além dos neurónios, o tecido nervoso é composto pelas células da glia, que compreendem os astrócitos, oligodendrócitos, microgliócitos e células ependimárias. Os astrócitos possuem forma de estrela e estão relacionados principalmente com a nutrição dos neurónios. Os oligodendrócitos estão relacionados com a formação da bainha de mielina em torno do axónio, permitindo assim uma condução mais rápida do impulso nervoso. Os microgliócitos estão relacionados com a proteção do sistema nervoso através da realização de fagocitose. Por fim temos as células ependimárias, que possuem a função de revestir as cavidades do encéfalo, bem como o canal da medula. 3- OSTEOLOGIA GERAL ANATOMIA A anatomia divide-se em cinco grandes áreas, cada qual com as suas especificidades em avaliar o corpo do animal. São elas: 1. A anatomia exterior (ou exognósia); 2. A osteologia; 3. A artrologia (estudo das articulações); 4. A miologia (estudo dos músculos); 5. A anatomia interna, que estuda os órgãos internos. OSSOS Derivado do latim, a palavra “ostéon” significa osso, enquanto “logia”, significa estudo. Dessa forma e, de uma maneira geral, osteologia é o estudo dos ossos. O osso é uma estrutura dura e sólida que forma o arcabouço dos animais vertebrados. É formado por matéria orgânica e inorgânica, na proporção de 1:2. A matéria orgânica é representada principalmente pelo colagénio e confere elasticidade e flexibilidade, enquanto a matéria inorgânica proporciona dureza ao tecido ósseo e é representada por minerais como cálcio e fósforo. Ao conjunto dos ossos, juntamente com as cartilagens e os ligamentos, dá-se o nome de esqueleto. FUNÇÕES DO ESQUELETO O esqueleto tem como principais funções: 1. Sustentação e conformação do corpo; 2. Proteção de partes moles; 3. Sistema de alavancas que, movimentado pelos músculos, permite a movimentação e o deslocamento do corpo; 4. Armazenamento de minerais, como cálcio e fósforo; 5. Hematopoiese. TIPOS DE TECIDO ÓSSEO Os ossos são formados por dois tipos de tecido: o tecido ósseo compacto e o tecido ósseo esponjoso, estando quase sempre ambos presentes num mesmo osso. 1. TECIDO ÓSSEO COMPACTO O tecido ósseo compacto é formado por finas lâminas ósseas, que se arranjam em forma de tubos concêntricos, ao redor do canal central. Esses canais são encontrados em todo comprimento do osso, dispostos de maneira paralela ao canal medular. Comunicam-se entre si por canais transversais, formando um sistema tubular denominado de sistema de Havers. Esses canais possuem vasos e nervos que irrigam e dão sensibilidade ao osso. 2. TECIDO ÓSSEO ESPONJOSO O tecido ósseo esponjoso possui um maior número de canais do que o tecido ósseo compacto, porém não apresentam canais de Havers. Este tecido consiste em delicadas lâminas ósseas e espículas, dispostas aleatoriamente, com espaços entre si. Esses espaços são preenchidos por medula óssea. A medula óssea ocupa os espaços de ossos esponjosos, bem como a cavidade medular dos ossos longos. 3. O OSSO É AINDA CONSTITUÍDO PELAS SEGUINTES MEMBRANAS: PERIÓSTEO Membrana de tecido conjuntivo fibroso e muito resistente que envolve exteriormente o osso, em toda sua extensão, exceto nos pontos de articulação, nos quais é revestido por cartilagem. Possui duas camadas: o A externa, fibrosa e formada por tecido conjuntivo denso, com função protetora e pouca atividade celular. o E a interna, formada por tecido conjuntivo frouxo, que possui células com capacidade de produzir tecido ósseo (osteogénica). ENDÓSTEO Membrana conjuntiva delgada que reveste a superfície interna da cavidade medular dos ossos longos. Possui células com capacidade osteogénica, sendo de fundamental importância para o crescimento e a regeneração óssea. As superfícies dos ossos apresentam áreas irregulares, com saliências e depressões. Essas áreas, na maioria das vezes, servem como superfície de articulação com ossos vizinhos e/ou como pontos de inserção de tendões e ligamentos. CARTILAGENS São tecidos menos rígidos que os ossos e desempenham várias funções, tais como: o Servem de suporte aos tecidos moles; revestem as superfícies articulares, absorvendo choques e facilitando o deslizamento; o São essenciais para a formação e crescimento dos ossos longos. Podem fazer parte do próprio osso (ex: costelas) ou contribuir para o seu crescimento (cartilagens de crescimento) ou ainda fazer parte da formação de determinadas articulações, formando a cápsula articular. ARTICULAÇÕES Constituem a união de dois ou mais ossos ou cartilagens. As peças ósseas conectam-se entre si por pontos chamados articulações, a fim de permitir a estruturação do esqueleto e a realização dos movimentos ósseos, necessários ao desempenho das funções do organismo. CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES As articulações são classificadas, de acordo com a sua mobilidade, em: 1. ARTICULAÇÕES MÓVEIS Também chamadas de articulações verdadeiras, pois permitem amplos movimentos. São as articulações dos membros. Exemplos: o Articulação escápulo-umeral; o Articulação do cotovelo; o Articulação coxo-femoral; o Articulação do joelho. 2. ARTICULAÇÕES SEMIMÓVEIS São constituídas por lâminas fibro-cartilaginosas e também por ligamentos. Exemplo: o Articulações intervertebrais. 3. ARTICULAÇÕES IMÓVEIS São articulações unidas por tecido fibroso e/ou cartilaginoso, de forma que praticamente impedem o movimento. Exemplos: o Suturas cranianas; o Sínfise mentoniana; o Sínfise púbica. LIGAMENTOS São de origem fibromuscular e, de maneira geral, tem por funções agir como tensores e orientadores das articulações, mantendo duas ou mais peças ósseas unidas e em determinada posição e auxiliar no movimento dos ossos. POSIÇÃO E PLANOS ANATÓMICOS Posição Anatómica Para o mais eficaz estudo do corpo de um animal vertebrado, este deve estar no que se designa por posição anatómica, ou seja, o animal deve estar com os quatro membros estendidos firmemente sobre o solo (em estação), pescoço erguido, formando um ângulo de 145° com o dorso, narinas voltadas para a frente, orelhas em pé e olhar para o horizonte. Em resumo, podemos dizer que o animal deve estar em posição de alerta, como mostra a figura abaixo. Planos Anatómicos Conhecendo a posição anatómica, podemos iniciar o estudo das diferentes partes do corpo, estabelecendo o que se designam por planos, os quais são linhas imaginárias que dividem o corpo do animal, auxiliando na localização e descrição de órgãos e estruturas. 1 3 2 Os planos que abordamos em seguida são: 1. Plano Sagital ou Plano Médio Divide o corpo do animal ao meio, em duas partes iguais e simétricas: direita e esquerda. As estruturas anatómicas que se localizam próximo do plano médio, designam-se por mediais, enquanto que aquelas que se encontram mais afastadas, designam-se laterais. As estruturas que se localizam sobre o plano médio, designam-se por medianas; 2. Plano Transverso ou Plano Axial Divide o corpo em duas metades, perpendicularmente ao Plano Sagital, formando o que se designam por estruturas anteriores ou craniais, aquelas que se localizam entre o Plano Transverso e o crânio do animal e posteriores ou caudais, aquelas que se localizam entre o Plano Transverso e a cauda do animal; Quando consideramos o Plano Transverso ao nível da cabeça do animal, designam-se por rostrais, as estruturas localizadas entre esse plano e a extremidade do focinho e caudais, as estruturas localizadas desde esse plano até à parte posterior da cabeça. 3. Plano Frontal, Horizontal ou Dorsal É perpendicular ao Plano Médio e ao Plano Transverso e paralelo ao solo. As estruturas localizadas acima desse plano, designam- se por dorsais e as que se localizam abaixo desse plano, designam-se por ventrais. Quando aplicado aos membros, utiliza-se a designação proximal, em vez de dorsal e distal, em vez de ventral. Ao nível da extremidade distal dos membros, mantém-se a designação dorsal mas utilizam-se as designações palmar, quando nos referimos aos membros anteriores e plantar, quando nos referimos aos membros posteriores. Devemos ainda ter em conta os seguintes termos: Superficial: Refere-se a uma estrutura localizada próximo da superfície do corpo do animal; Profunda: Refere-se a uma estrutura localizada mais profundamente aquela que foi tomada por referência; Interna: Estrutura localizada dentro do corpo do animal; Externa: Estrutura localizada fora do corpo do animal; Quanto ao posicionamento do animal, para além do termo Estação (A), já anteriormente utilizado e que se refere ao facto do animal estar assente sobre os 4 membros, com os mesmos em extensão, temos de ter em conta as seguintes designações: 1. Decúbito: Significa que o animal está deitado e compreende as seguintes variantes: o Lateral (B): A parte lateral do corpo assenta sobre o solo ou outra superfície horizontal; divide-se em esquerdo (B) ou direito, consoante seja o lado esquerdo ou direito a contactar com o solo ou outra superfície horizontal; o Dorsal (C): A parte dorsal do corpo contacta com o solo ou outra superfície horizontal; o Ventral (D): A parte ventral do corpo contacta com o solo ou outra superfície horizontal; o Esterno-costal (E): O esterno e o costado de um dos lados do corpo assentam sobre o solo ou outra superfície horizontal; 2. Sentado (F): O animal tem os membros anteriores em extensão e os posteriores estão fletidos, ficando o animal assente sobre a cauda, períneo e superfície plantar; 3. Posição de esfinge (G): O animal tem os 4 membros em flexão, contactando com o solo ao nível da superfície ventral do tronco e das faces palmares e plantares dos membros, tal como acontece com a famosa estátua; 4. Sifose (H): Arqueamento da coluna vertebral, com convexidade dorsal; 5. Lordose (I): Arqueamento da coluna vertebral, com convexidade ventral; 6. Escoliose (J): Arqueamento (desvio) lateral da coluna vertebral (formando um S); OSTEOLOGIA 1. ESQUELETO AXIAL: Composto pelos ossos da cabeça, coluna vertebral e do tórax (costelas e esterno); é constituído por CABEÇA, COLUNA VERTEBRAL, TÓRAX; 1.1. A CABEÇA por sua vez está dividida pelo crânio e face: Crânio: conjunto dos ossos que ocupam a parte posterior da cabeça; Os principais ossos são: frontais, parietais, temporais e occipitais; Face: Compõe a metade anterior da cabeça; Os principais ossos são: zigomáticos, nasais, vómer, maxilar e mandibular. 1.2. A COLUNA VERTEBRAL por sua vez está dividida em cinco regiões: 1.2.1. Região Cervical Composta por sete vértebras, sendo que a primeira se articula com a base do crânio, formando uma articulação móvel; já a sétima, possui uma superfície articular para se articular com parte do 1° par de costelas e com a primeira vértebra torácica. O seu número é igual em todos os mamíferos. 1.2.2. Região Torácica ou Dorsal É formada por treze vértebras que se articulam com as costelas e que constituem a parte superior do tórax. Apresenta uma curvatura na sua junção com a região cervical. 1.2.3. Região Lombar Constituída por sete vértebras que servem de inserção para a musculatura dos membros posteriores. Normalmente apresenta uma leve curvatura dorsal na sua linha superior. 1.2.4. Região Sagrada ou Sacro Composta por três vértebras fundidas que se articulam com os ílios e que apresentam uma conformação curva. 1.2.5. Região Coccígea É formada por um número variável de vértebras, que varia entre espécies e mesmo entre raças, sendo de vinte a vinte e três vértebras nos cães de cauda longa. 1.3. O TÓRAX, formado pelas costelas e esterno: A sua parte superior é constituída pela região dorsal da coluna vertebral; a parte inferior é constituída pelo esterno e, lateralmente é formado pelas costelas. 1.3.1. COSTELAS: São ossos curvos, alongados, com a extremidade cartilaginosa e dispostos em pares, que correspondem ao número de vértebras da região torácica, portanto treze. A porção inferior das costelas é cartilaginosa e articula-se com o esterno, com exceção dos três (gato) ou quatro (cão) últimos pares, que ficam com as extremidades “livres”, ou seja, não estão ligadas ao esterno, constituindo as chamadas costelas flutuantes. O arqueamento da caixa torácica é devido ao arqueamento das costelas. 1.3.2. ESTERNO: É um osso composto por oito segmentos, as estérnebras e é relativamente paralelo ao solo. Possui uma extremidade anterior conhecida como apêndice traqueliano ou ponta do esterno, e uma extremidade posterior, designada por apêndice xifoide. 2. ESQUELETO APENDICULAR: Composto pelos ossos dos MEMBROS ANTERIORES OU TORÁCICOS e dos MEMBROS POSTERIORES OU PÉLVICOS; 2.1. MEMBROS ANTERIORES OU TORÁCICOS: São em número de dois, direito e esquerdo. Cada um deles é constituído pelos seguintes segmentos: 1. Região escapular (ou escápulo); 2. Braço; 3. Antebraço; 4. Carpo (ou boleto); 5. Metacarpo (ou quartela); 6. Falanges (ou dígitos ou dedos). Constituem as duas colunas de sustentação anteriores, mantendo o equilíbrio e o direcionamento durante a movimentação. 2.1.1. Região escapular (ou escápulo); Constituído por um único osso, a escápula, que faz a conexão do membro com o resto do corpo, unindo-se a ele através de músculos e ligamentos. A escápula é um osso chato, em forma de raquete, que se situa nas paredes do tórax, inclinando-se a fim de acomodar-se ao arqueamento das costelas. Está situado a partir da 4ª vértebra torácica, descendo aproximadamente em direção à ponta do esterno. O tamanho da escápula varia com a espécie, com a raça e com o indivíduo. A parte superior da escápula é arredondada e corresponde ao garrote (ou cernelha). O garrote determina o ponto onde termina o pescoço e começa o tórax; é a esse nível, medindo em linha reta até ao chão, que se determina a altura do animal. A parte inferior da escápula articula-se com o braço, formando o ombro. 2.1.2. Braço; É constituído por um único osso longo, o úmero, de forma helicoidal. Articula-se na sua extremidade superior com a escápula (formando o ombro) e inferiormente com os ossos do antebraço, formando o codilho (ou cotovelo). 2.1.3. Antebraço; É constituído por dois ossos longos, retos e paralelos, denominados de rádio e úlna. Articulam-se na parte superior com o úmero, formando o codilho. O codilho propriamente dito é uma projeção da ulna e tem por função impedir a abertura da articulação para trás. Articula-se, na sua parte inferior, com os ossos do carpo. 2.1.4. Carpo (ou boleto); É constituído por sete ossos curtos, dispostos em duas camadas; um desses ossos dispõe de uma saliência voltada para a carte posterior, formando o que se denomina de esporão. A função do carpo é conferir maior mobilidade à extremidade do membro, bem como amortecer e absorver parte dos impactos nos membros torácicos. 2.1.5. Metacarpo (ou quartela); No cão e gato é formado por cinco pequenos ossos longos denominados de metacarpianos. Articulam-se na parte superior com os ossos do carpo, e na inferior, cada um com a falange (dedo ou dígito) que lhe corresponde. 2.1.6. Falanges (ou dígitos ou dedos). Cada um dos dedos ou dígitos é constituído por pequenos ossos chamados falanges e que se denominam 1ª, 2ª e 3ª falanges, ou falanges proximal, média e distal, respetivamente. A 3a falange, na sua extremidade livre, possui uma formação queratinizada que vai constituir a unha ou garra. Entre a 1ª falange e o metacarpiano correspondente, existem pequenos ossos denominados sesamóides e cuja função é a de servir de inserção para ligamentos, ajudar na absorção de impactos e, também, direcionar as falanges. O 1º dígito, a que muitas vezes se designa erradamente por “5º dedo” ou também por “pezunho”, não é completo (não tem as 3 falanges) e, portanto, não apoia no solo. No cão e no gato é apenas os dedos que apoiam no solo, designando-se por digitígrados. Entre os dedos e o solo interpõem-se as almofadinhas plantares, que são compostas principalmente por tecido adiposo (gordura), de modo a proteger o animal do contacto com o calor ou com o frio excessivos, presentes no solo. 2.2. MEMBROS POSTERIORES OU PÉLVICOS São igualmente dois, o direito e o esquerdo. Cada um deles é constituído pelas seguintes partes: 1. Garupa (ou pélvis); 2. Coxa; 3. Perna; 4. Tarso (ou boleto); 5. Metatarso (ou quartela); 6. Falanges (dígitos ou dedos). A sua função é constituir as duas colunas posteriores de sustentação, impulsionando a locomoção. 2.2.1. Garupa (ou pélvis); É formada pela fusão de três ossos pares, chatos, cujo conjunto é denominado coxal ou pélvis: ílio, ísquio e púbis. O Ílio é o maior e mais cranial dos ossos que constituem o coxal. Possui na porção crâniodorsal uma projeção conhecida como tuberosidade do ílio, ponta do ilíaco ou ponta da garupa (crista ilíaca). Articula-se internamente com as três vértebras que formam o sacro, formando uma articulação imóvel e que constitui o local onde os membros pélvicos se unem ao corpo, funcionando como pontos de transmissão da propulsão à coluna. O ísquio forma a porção posterior da pélvis. Possui uma projeção posterior que é a extremidade da pelve e que se denomina tuberosidade do ísquio. O púbis situa-se na linha média da garupa e é responsável, junto com uma parte do ísquio, pela largura da mesma. Na junção desses três ossos (ílio, ísquio e púbis) existe uma formação que serve para receber a cabeça do fémur e que é denomina fossa do acetábulo ou fossa acetabular. O coxal possui uma inclinação de cerca de 25° a 30° em relação à horizontal e forma com o fémur um ângulo de 90°, constituindo a chamada articulação coxo-femoral, que é de grande importância e constitui o ponto de aplicação das forças de propulsão e do equilíbrio posterior. 2.2.2. Coxa; É constituída por um osso longo, o fémur, que é o mais volumoso do esqueleto. Possui comprimento mais ou menos igual ao da tíbia e da fíbula. A sua parte superior, denominada cabeça do fémur, articula-se com o coxal, ao nível do acetábulo. A sua parte inferior articula-se com a tíbia e a fíbula, formando a articulação do joelho ou simplesmente o joelho. Nesta extremidade possui três sesamóides, que servem para a inserção de músculos e ligamentos. 2.2.3. Perna; É constituída pela tíbia e fíbula, que são dois ossos longos, paralelos e parcialmente fundidos próximo do curvilhão (ou jarrete). Articula-se superiormente com o fémur, formando o joelho, e inferiormente com o tarso, formando a articulação do jarrete ou curvilhão. 2.2.4. Tarso (ou boleto); É formado por sete ossos curtos, com função idêntica aos do carpo. 2.2.5. Metatarso (ou quartela); No cão e no gato é composto por quatro pequenos ossos longos: 1°, 2°, 3° e 4° metatarsianos. 2.2.6. Falanges (dígitos ou dedos). Tal como nos membros torácicos, cada um dos dedos (2°, 3°, 4° e 5°) é constituído por pequenos ossos chamados falanges e que se denominam 1ª, 2ª e 3ª falanges ou falanges proximal, média e distal, respetivamente. A 3ª falange, na sua extremidade livre, possui uma formação queratinizada que vai constituir a unha ou garra. Entre a 1ª falange e o metatarsiano correspondente, existem pequenos ossos curtos denominados sesamóides e cuja função é a de servir de inserção para ligamentos, ajudar na absorção de impactos e, também, direcionar as falanges. As falanges do membro pélvico apresentam as mesmas características das torácicas, porém, às vezes pode existir no pélvico, um ou dois dedos supranumerários e, outras vezes, pode não existir i primeiro digito, que tal como já referido anteriormente, se designa erradamente por “5º dedo”. 3. ESQUELETO VISCERAL OU ESPLÂNCNICO: Que se desenvolve no interior de determinadas vísceras como, por exemplo, o osso peniano do cão, o osso clitoriano da cadela e da gata e o osso cardíaco do boi. 4. EM RESUMO ODONTOLOGIA Os dentes são estruturas duras e brancas que se encontram localizadas nos alvéolos dentários dos ossos pré-maxilares, maxilares e mandibulares, funcionando como órgãos de preensão, mastigação, defesa e ataque. O cão e o gato nascem normalmente sem dentes e por volta das 2 a 4 semanas dá-se a erupção dos dentes de leite ou dentes decíduos, no total de 28 no cão. Mais tarde, dá-se a erupção da dentição definitiva, constituída no cão por 42 dentes: o 12 incisivos (I); o 4 caninos (C); o 16 pré-molares (PM); o 10 molares (M). A fórmula dentária correspondente é a seguinte: A dentição é normalmente dividida em quatro quadrantes, segundo o sistema Triadan modificado, que utiliza números para classificação dos dentes: Os dentes incisivos, caninos e pré-molares definitivos surgem em substituição aos dentes de leite, enquanto os molares surgem em novas posições. Cada dente apresenta uma função específica. o Os dentes incisivos localizam-se na parte anterior e atuam cortando o alimento. o Já os caninos, que estão dispostos lateralmente, perfuram e rasgam. o Os pré-molares e molares, por sua vez, são responsáveis por triturar e localizam-se lateralmente na região do fundo da boca. CONSTITUIÇÃO DO DENTE Apesar das diferenças existentes entre os dentes, todos apresentam duas partes principais: raiz e coroa. A raiz é a parte que está inserida nos ossos, enquanto a coroa é a parte exposta. Os dentes incisivos, caninos e alguns pré-molares possuem uma única raiz, enquanto que os molares, que podem apresentar duas ou três raízes. Analisando-se o dente num corte vertical, podemos observar a polpa, a dentina (ou marfim) e o esmalte. A polpa é uma porção rica em vasos sanguíneos e nervos e localiza-se no centro do dente. A dentina apresenta composição semelhante ao osso e envolve a polpa. Por fim, observa-se o esmalte, uma substância extremamente resistente, formada principalmente por fosfato de cálcio, que envolve a dentina. 1. ESMALTE Material inorgânico mineralizado que se estende da coroa ao colo. 2. DENTINA Material inorgânico semelhantes ao do osso. 3. POLPA Tecido que nutre o dente. É encontrado dentro da Cavidade Pulpar. 4. GENGIVA Tecido da mucosa bucal que envolve o colo do dente e cobre as partes alveolares do maxilar. 5. CEMENTO Camada mineralizada que reveste e protege a raíz. É também o lugar de inserção do Ligamento Periodontal. 6. LIGAMENTO PERIODONTAL Liga o Cemento à Gengiva e confere maleabilidade para o dente implantado em alvéolos. 7. CANAL RADICULAR Canal por onde passam veias, artérias e nervos em direção à Cavidade Pulpar. 8. FORAME APICAL Canal por onde os dentes recebem irrigação e inervação. 9. COROA A parte branca visível do dente; 10. RAIZ Parte do dente presa aos ossos da face (maxilas); Algumas bactérias são capazes de produzir substâncias ácidas que podem destruir as camadas dos dentes. Caso não seja tratada, pode ocorrer a formação de grandes cavidades que acabam por destruir o dente. Quando esse problema atinge a polpa, o paciente sente dor, uma vez que nessa região existem nervos. PLACA BACTERIANA TÁRTARO CÁRIE GENGIVITE E PERIODONTITE 4- Fisiologia dos Aparelhos Respiratório, Digestivo e Urinário APARELHO Assim, entende-se por aparelho ao «conjunto de órgãos associados para exercerem uma mesma função: aparelho digestivo, aparelho circulatório, aparelho respiratório, aparelho urogenital, etc.». Devemos dizer aparelho urinário, visto que se trata de um «conjunto de órgãos associados...», sem necessidade de serem «semelhantes, constituídos pelo mesmo tecido ou células» (in Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, Porto Editora). SISTEMA Por sua vez, sistema é o «conjunto de estruturas ou de órgãos semelhantes, constituídos pelo mesmo tecido ou células e com funções do mesmo tipo». Neste caso, temos sistema adiposo (conjunto dos tecidos gordos ou adiposos do organismo), sistema arterial (conjunto de vasos arteriais do organismo), sistema cartilagíneo (conjunto de cartilagens do organismo), etc. APARELHO RESPIRATÓRIO O aparelho (ou sistema) respiratório tem como função básica incorporar no organismo o oxigénio necessário para as combustões celulares e eliminar o dióxido de carbono, produto do metabolismo das células. Mas também elimina água, metano e hidrogénio que se formam no aparelho digestivo e que são transportados pelo sangue. É composto pelo nariz (inclui o nariz externo, a cavidade nasal e os seios paranasais), a faringe, a laringe, a traqueia, os brônquios e os pulmões (incluem os alvéolos pulmonares e os bronquíolos). NARIZ Na parte anterior do nariz encontram-se duas aberturas em forma de fendas, as narinas, que comunicam o meio externo com a cavidade nasal. A cavidade nasal está dividida em duas partes, pelo septo nasal, que é em parte cartilaginosa (cartilagem do septo nasal) e em parte óssea (parte do etmoide e o vómer). O nariz é também responsável pelo olfato. Na parede da cavidade nasal, prendem-se os cornetos nasais, que são finas lâminas ósseas, enroladas e cobertas por mucosa vascularizada, a qual, pela sua extensão, permite o aquecimento, humedecimento e filtração do ar inspirado, de modo a impedir que microrganismos e algumas partículas atinjam partes mais internas do organismo. Alguns ossos do crânio, apresentam cavidades cheias de ar, revestidas de mucosas e que se comunicam com a cavidade nasal, denominados seios paranasais. A sua função é obscura, mas admitem- se as seguintes funções: o Acondicionamento de ar inspirado; o Purificação do ar; o Aumentar a superfície externa do crânio, sem contudo aumentar o peso da cabeça, dando maior superfície de inserção aos músculos; o Aumentar a resistência da cabeça contra pressões externas; o Proteção ao encéfalo, constituindo uma caixa isolante com finalidades termorreguladoras; Os principais seios paranasais são 4: frontal, maxilar, palatino e etmoidal. FARINGE É um órgão tubular que é comum ao aparelho respiratório e ao aparelho digestivo. Há assim um entrecruzamento das vias digestivas e respiratórias ao nível da faringe. O palato mole divide a faringe em 2 compartimentos: a parte situada dorsalmente ao palato mole é a nasofaringe e a parte ventral é a orofaringe. Na nasofaringe se encontra o orifício (ou ósteo) faríngico da tuba auditiva (ou trompa de Eustáquio), que é comunicação da nasofaringe com a cavidade timpânica (pertencente ao ouvido). LARINGE É um órgão do sistema respiratório e da fonação, constituída por cartilagens e músculos. Atua como uma válvula que se fecha durante a deglutição e permanece aberta na respiração. Situação na região intermandibular e em parte na região ventral do pescoço. É formada por um esqueleto cartilaginoso, mantendo a comunicação entre a faringe e a traqueia. As suas principiais cartilagens são: tiroide, cricóide, aritenoídes (par) e epiglote. Situa-se no terço superior do pescoço, ventralmente ao esófago e continua-se caudalmente com a traqueia. TRAQUEIA E BRÔNQUIOS Formam um sistema contínuo de tubos que conduzem o ar entre a laringe e os pulmões (bronquíolos). A traqueia possui cerca de 40 anéis incompletos, em forma de C e fibrocartilaginosos, que evita que colapsem, sendo encerrados por um músculo traqueal. A contração do músculo traqueal reduz o diâmetro da traqueia, reduzindo consequentemente o débito de ar ou evitando a sua dilatação excessiva, por exemplo em caso de tosse. A mucosa da traqueia é composta por células produtoras de muco e possuidoras de cílios, que têm a função de capturar as impurezas que são inspiradas durante o processo da respiração, de modo a evitar que elas cheguem aos alvéolos. Dentro da cavidade torácica, a traqueia bifurcar-se, dando origem aos dois brônquios principais. Os brônquios principais vão entrar nos pulmões e vão-se ramificando em brônquios cada vez mais pequenos, até terem dimensões microscópicas e deixarem de ser constituídos por cartilagem, passando a designar-se por bronquíolos. PULMÕES São os órgãos respiratórios onde se realizam as trocas gasosas, num processo que se designa de hematose. São órgãos pares e ocupam grande parte da cavidade torácica. Num animal normal, os pulmões contêm quantidade elevada de ar e crepitam quando comprimidos. Quando colocados na água, flutuam. Os pulmões apresentam fendas profundas denominadas fissuras do pulmão. Cada pulmão está dividido em lobos. Todos os mamíferos domésticos possuem um lobo cranial e um lobo caudal nos dois pulmões. Os pulmões são de cor clara, ligeiramente rosada, podendo em alguns animais, apresentarem uma cor acinzentada na sua superfície, principalmente nos cães que vivem em grandes cidades, devido à poluição do ar inspirado. O tamanho dos pulmões varia de acordo com seu estado funcional, dilatando-se na inspiração e retraindo-se na expiração. O pulmão esquerdo é menor que o direito e o seu peso, no conjunto dos dois pulmões, não ultrapassa 5% do peso corporal. Os pulmões são envolvidos por uma membrana serosa e que reveste também internamente a cavidade do tórax, formando dois compartimentos fechados, as cavidades pleurais direita e esquerda, separadas ao nível do plano mediano por uma área denominada mediastino, no qual estão contidos vários órgãos como o coração, a traqueia, o esófago, etc. O revestimento contínuo da parede e dos órgãos torácicos por parte da pleura, faz com que se denomine de pleura parietal e de pleura visceral ou pulmonar, consoante ela revista internamente a parede do tórax e os pulmões, respetivamente. A RESPIRAÇÃO A respiração é uma função básica dos seres vivos. Consiste na absorção do oxigénio, pelo organismo, e a eliminação do dióxido de carbono, resultante do metabolismo celular. Nos animais unicelulares o oxigénio é retirado diretamente do meio onde ele vive, sendo também direta a eliminação do dióxido de carbono. Nos animais, classificados superiormente na escala zoológica, o sangue é um elemento intermediário entre as células do organismo e o meio habitado pelo animal, servindo como condutor de gases entre eles. A respiração constitui um fenómeno complexo que implica ações dos músculos intercostais e do diafragma, promovendo alterações da pressão no interior da cavidade torácica, com a consequente entrada e saída de ar dos pulmões. A respiração divide-se em: o Inspiração, que corresponde à entrada do ar atmosférico, até chegar aos pulmões, implicando uma ação ativa dos músculos intercostais e do diafragma, bem como um relaxamento dos músculos abdominais; o Expiração, que corresponde à saída do ar dos pulmões para o exterior, sendo um processo mais passivo, na medida em que há um relaxamento muscular progressivo, acompanhado de uma diminuição do volume do tórax. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA NORMAL No cão, o número de movimentos respiratórios por minuto, ou seja, a frequência respiratória, varia entre 10 e 40, enquanto que no gato ela se situa entre 20 e 40. TAQUIPNEIA Ao aumento da frequência respiratória, acima destes limites, designa-se por TAQUIPNEIA. BRADIPNEIA Uma frequência respiratória abaixo do valor mínimo estabelecido designa-se por BRADIPNEIA. TROCAS GASOSAS O oxigénio (O2) e o dióxido de carbono (CO2) deslocam-se das zonas em que a pressão destes gases é mais elevada, para as zonas de menor pressão, sendo essas trocas, denominadas de trocas gasosas, realizadas nos alvéolos pulmonares. Assim, o CO2 passa dos capilares sanguíneos para o ar pulmonar, enquanto que o O2 faz o inverso (passa do ar pulmonar para o sangue). Para permitir uma hematose constante, o ar e o sangue devem ser constantemente renovados, desempenhando o coração uma função essencial, para bombear o sangue até aos pulmões e depois dos pulmões para o resto do corpo. O processo respiratório ocorre sob controlo nervoso, sendo esse comando essencialmente inconsciente, ou seja, está sob a dependência de uma parte do sistema nervoso designada por SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO. APARELHO DIGESTIVO O aparelho (ou sistema) digestivo tem como principal função retirar dos alimentos os nutrientes fundamentais para o desenvolvimento do organismo. O aparelho digestivo, para efei tos de estudo, é dividido em 2 componentes: o o tubo digestivo, composto por boca, esófago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e ânus o e pelas glândulas anexas, que são as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas. Boca (cavidade oral ou bocal) Neste órgão existem os dentes, fundamentais para a preensão e mastigação, a língua, importante na deglutição e com papilas gustativas (fundamentais para a deteção do sabor dos alimentos) e o palato, que estabelece a separação entre a cavidade oral e a cavidade nasal. Os carnívoros utilizam os dentes incisivos e caninos para apanhar o alimento sólido e por vezes também os membros anteriores. Quando se tratam de alimentos líquidos, estes são transportados para o interior da boca por meio de movimentos rápidos da língua. Por ação dos dentes molares, impulsionados pelos respetivos músculos, vai ocorrer a mastigação, que consiste num processo mecânico de redução das dimensões dos alimentos, tendo em vista a sua deglutição e também como forma de aumentar a superfície de exposição à saliva e aos sucos digestivos. Glândulas salivares Produzem a saliva, a qual vai humedecer e lubrificar o alimento, por ação dos seus componentes aquosos e mucosos, por forma a facilitar a sua deglutição, com a consequente passagem para o esófago. Nos nossos carnívoros domésticos, o cão e o gato, a saliva não contém enzimas, nomeadamente a amilase, pelo que se diz que, nestes animais, a digestão (química) se inicia apenas no estômago. Faringe Será mais correto referirmo-nos a orofaringe, ou seja, a parte da faringe que pertence ao aparelho digestivo (por oposição a nasofaringe, que é a porção da faringe que pertence ao aparelho respiratório). Na deglutição, a língua empurra os alimentos (bolo alimentar) em direção à faringe, a epiglote fecha-se, evitando que os alimentos se desloquem para a traqueia, o palato mole eleva-se, até contactar com a parte posterior da faringe, para que os alimentos não refluam para as fossas nasais, sendo então estes conduzidos para o esófago. Esófago O esófago é um tubo musculoso, localizado dorsalmente à traqueia, de contrações involuntárias, controladas pelo sistema nervoso autónomo, que, dando continuidade à faringe, leva o alimento até o estômago. As suas contrações, através dos movimentos peristálticos, fazem com que o bolo ali mentar avance até ao estômago. Estômago O bolo alimentar entra no estômago através de uma abertura chamada cárdia. Uma vez processado, o bolo alimentar sai do estômago através de uma abertura chamada de piloro. Assim, o estômago tem dois esfíncteres (músculo anular contráctil, que serve para abrir ou fechar vários orifícios naturais do corpo): o Esfíncter cárdico – controla a entrada do bolo alimentar o Esfíncter pilórico – controla a saída do conteúdo gástrico. Os dois esfíncteres gástricos impedem que o alimento seja regurgitado para o esófago ou para o intestino, antes que sofra a ação do suco gástrico. O estômago situa-se na parte esquerda da cavidade abdominal e, nos carnívoros, é o maior órgão do aparelho digestivo, correspondendo a cerca de 60% do aparelho digestivo. No estômago os alimentos são submetidos a uma digestão mecânica e química, em que as contrações do músculo liso do estômago permitem que os alimentos se misturem com o suco gástrico, iniciando-se assim a digestão química. O suco gástrico é composto de ácido clorídrico e pepsinogénio, o qual se converte em pepsina (enzima), quando o pH do estômago está suficientemente baixo (2.0 – 3.0). O estômago produz ainda gastrina, uma hormona que tem por função estimular a produção de ácido clorídrico e muco, que protege a parede do estômago da ação corrosiva do ácido clorídrico. Após a ativação da pepsina, inicia-se então o processo de digestão das proteínas presentes no alimento, transformando-as em peptídeos, que são estruturas menores. A pepsina é a responsável pela digestão de aproximadamente, 12% das proteínas presentes nos alimentos e esse processo continua no intestino delgado por ação de outras enzimas. O estômago pode ser dividido em cinco regiões: cárdia, fundo, corpo, antro e piloro. As duas regiões mais importantes no processo de digestão são o corpo (secção proximal) e o antro (secção distal). O processo inicial da etapa química da hidrólise das proteínas ocorre na região do corpo do estômago que, por meio da motilidade da musculatura lisa, segue para a região do antro. Na região do antro é produzida uma solução alcalina que é rica em bicarbonato, que atua no tamponamento do quimo na porção final do estômago, antes da sua chegada ao intestino delgado. No estômago inicia-se apenas o processo de digestão das proteínas, pois é no intestino delgado é que estão presentes as enzimas responsáveis pela digestão dos lípidos e dos hidratos de carbono (glúcidos). O esvaziamento gástrico processa-se lentamente, sendo controlado pelo piloro e pela zona inicial do duodeno. Intestino Delgado É o principal órgão do sistema digestivo canino, isto porque é no intestino delgado que atuam grande parte das enzimas que intervêm na digestão química do alimento. Encontra-se divido em 3 partes: duodeno, jejuno e íleo. Essas partes são anatomicamente diferentes e também apresentam funções distintas. É no intestino delgado que ocorre a finalização do processo de digestão e o início do processo de absorção dos nutrientes, formados em resultado da conversão das macromoléculas (proteínas, lípidos e glúcidos) nas suas unidades básicas (aminoácidos, ácidos gordos, glicose, frutose, etc), sendo que a finalização do processo de digestão acontece sobretudo no duodeno, enquanto que a absorção acontece sobretudo no jejuno e no íleo. Os alimentos parcialmente digeridos provenientes do estômago (quimo) passam através do piloro em direção ao duodeno, a primeira parte do intestino delgado. É também o duodeno que recebe os sucos digestivos provenientes do fígado e do pâncreas, dando-se aí a maior parte do processo de digestão. As duas porções finais de intestino delgado encontram-se frouxamente presas ao mesentério (é uma prega do peritoneu, em forma de leque e que suporta o jejuno e o íleo, sendo formado por tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e linfonodos) formando as ansas intestinais. O facto de estarem frouxamente ligados é fundamental, para que ocorram os movimentos peristálticos do intestino, ou seja, os movimentos responsáveis pela progressão do quimo. É difícil distinguir o ponto que termina o jejuno e se inicia o íleo mas é fácil distinguir o ponto de transição do duodeno para o jejuno, assim como a transição do íleo para o intestino grosso. Ao longo da mucosa do jejuno e íleo existem numerosas vilosidades e é tanto no jejuno como no íleo que ocorrem os maiores processos de absorção do intestino delgado. O intestino delgado apresenta a sua parede formada por 4 camadas, que são as camadas serosa, muscular, submucosa e mucosa, mas é na camada mucosa que ocorrem os processos de digestão e a maior parte da absorção, pois é nela que existem as pregas circulares e as vilosidades, onde se encontram grandes quantidades de vasos sanguíneos, fibras musculares e dois tipos principais de células epiteliais que são: as células de absorção, que possuem enzimas digestivas, liberando essas enzimas para fazer o suco entérico e as células caliciformes, que produzem o muco que protege a mucosa intestinal e que servem como barreira imunológica. Os carnívoros possuem o intestino delgado mais curto e a parede intestinal mais grossa, cheia de pregas e vilosidades, relativamente aos omnívoros e aos herbívoros. Apesar de o intestino delgado ser mais curto, o fato de possuir alto número de pregas e vilosidades permite um aumento significativo da superfície de contacto com as moléculas a serem hidrolisadas/quebradas e da eficiência de absorção dessas moléculas após quebradas. A população microbiana (flora intestinal) dos carnívoros é também menos populosa em número que a dos omnívoros e dos herbívoros. Essa flora intestinal nos carnívoros é constituída principalmente por bactérias e é muito sensível a variações resultantes de alterações da qualidade do alimento, o que implica que não se deve efetuar alterações constantes no alimento desses animais, ao contrário do que acontece com o homem, sob pena de provocar a destruição de parte da flora intestinal e consequentemente diarreia. É no intestino delgado, sobretudo no duodeno que ocorre a digestão dos glúcidos e dos lípidos, para além das proteínas, cuja digestão já se iniciou no estômago. Os seres vivos realizam no interior de seu corpo reações químicas, as quais são necessárias para as mais variadas atividades, como a obtenção de energia. Ao conjunto dessas reações químicas dá-se o nome de metabolismo. Existem reações que estão relacionadas com a síntese ou construção de moléculas, sendo esses processos chamados de anabolismo. Existe ainda o catabolismo que consiste na destruição de moléculas grandes, para a libertação de substâncias mais simples. Os glúcidos presentes na alimentação dos nossos animais é proveniente, na sua larga maioria, de alimentos de origem vegetal, encontrando-se sob a forma de amido (polissacárido), sendo convertendo no duodeno em dissacáridos (maltose, lactose, sacarose, etc) e depois em monossacáridos (frutose, glicose, galactose, etc), sendo nessa última forma que são absorvidos. Embora os animais possam na sua constituição um polissacárido, o glucogénio, este existe em quantidades diminutas, sem grande significado na sua alimentação. Quanto aos lípidos, estas macromoléculas são digeridas (hidrolisadas) por ação da lipase pancreática e dos sais biliares do fígado, convertendo-se em triglicéridos (compostos por ácidos gordos e glicerol) e sendo absorvidos pelas células intestinais sob a forma de micelas. Os diferentes componentes das micelas reposicionam-se seguidamente no interior das células intestinais, para voltar a produzir os triglicéridos. Este fixam-se a proteínas e outras moléculas e passam aos vasos linfáticos existentes no intestino delgado. As proteínas são constituídas por grandes cadeias de aminoácidos. A digestão das proteínas inicia-se no estômago e continua depois no intestino delgado, por ação das proteases pancreáticas. Os aminoácidos são absorvidos pelas células intestinais, entram na circulação sanguínea e são levados até aos órgãos, nomeadamente o fígado, de forma a formar novas proteínas. À medida que o intestino delgado absorve os nutrientes, começa a formar-se no seu lúmen uma coleção de resíduos que seguem para a última etapa do sistema digestivo. Intestino Grosso Depois de digerido no intestino delgado, a parte do alimento que chega ao intestino grosso passa a ser designado por material fecal ou simplesmente fezes. A principal função do intestino grosso é remover a água e eletrólitos da matéria fecal, para evitar que o corpo do animal se desidrate. Além disso, ele também é responsável por armazená-la até que seja expelida do ânus. Igualmente no intestino grosso vai ter lugar a fermentação microbiana do alimento não digerido nem absorvido pelo intestino delgado, embora esse processo seja limitado no caso dos carnívoros. Os nutrientes resultantes desse processo são absorvidos, de forma idêntica à que ocorre no intestino delgado. O intestino grosso divide-se em 3 partes: ceco, cólon e reto, as quais, no seu conjunto não ultrapassam os 70 cm de comprimento. O ceco nos carnívoros é muito pequeno, desempenhando as mesmas funções do cólon. Este conduz as fezes até ao reto, contribuindo para a formação, armazenamento e evacuação das fezes, as quais são expulsas aquando da abertura do esfíncter anal, envolvendo 3 fases: o a primeira fase é essencialmente comportamental e corresponde essencialmente na procura do local indicado para a defecação; o na segunda fase, uma preparação mecânica, com a contração dos diferentes músculos envolvidos no processo e o assumir da posição específica; o na terceira fase dá-se a evacuação propriamente dita, com forte intervenção dos músculos do intestino grosso. De cada lado do esfíncter anal (4h e 8h) está localizada uma pequena bolsa, a glândula perianal, as quais, no seu conjunto, produzem uma secreção sebácea, que possui um cheiro característico e que ajuda a lubrificar as fezes e contém feromonas. Pâncreas É um órgão alongado e em forma de V (nos carnívoros) e que, na sua função exócrina, produz o suco pancreático, composto por enzimas (proteases, lipases e amilases) sob a forma inativa, e por bicarbonato, para neutralizar o conteúdo ácido proveniente do estômago. O suco pancreático é conduzido até ao duodeno pelo ducto pancreático. É apenas no intestino que as enzimas pancreáticas se tornam ativas. O pâncreas desenvolve paralelamente uma função endócrina, que consiste na produção da hormona insulina, a qual promove o transporte da glucose até às células, com a consequente redução dos seus níveis a nível sanguíneo (baixa da glicémia). A insulina intervêm ainda na síntese de proteínas e no armazenamento de lípidos, sendo por isso particularmente ativa no fígado, músculos, tecido adiposo e células do sistema nervoso. Fígado É um órgão situado na parte cranial direita do abdómen, junto ao diafragma, estômago, pâncreas, intestino e rim direito. Está dividido em lobos por uma série de fissuras que se estendem interiormente a partir do bordo ventral. É a maior glândula no corpo e realiza muitas funções essenciais à vida. As principais funções do fígado são: o Produção de bílis, que se armazena na vesícula biliar; o Armazenamento de glicose sob a forma de glucogénio; o Armazenamento de ferro e vitaminas; o Metabolismo de hidratos de carbono, proteínas e lípidos; o Ação desintoxicante; o Destruição de hemácias velhas ou anormais, com conversão dos seus metabolitos em pigmentos biliares; o No feto, desempenha funções hemocitopoiéticas; o Síntese de diversas proteínas presentes no sangue, de fatores imunológicos e de coagulação e de substâncias transportadoras de oxigénio e gorduras; o Conversão dos metabolitos residuais das proteínas em ureia, para posterior eliminação pelo rim; A bílis é expelida através de canais biliares e conduzida até à vesícula biliar, a qual armazena e concentra a bílis e a transporta até ao duodeno, por meio do canal colédoco, o qual se localiza próximo do ducto pancreático. A bílis intervém na absorção intestinal dos lípidos e das vitaminas lipossolúveis. A vesícula biliar possui uma mucosa rugosa com dobras. Todos os animais possuem vesícula biliar, exceto o cavalo. COMPARAÇÃO ENTRE O APARELHO DIGESTIVO DOS CARNÍVOROS E DOS OMNÍVOROS CÃO GATO HOMEM Relação peso tubo digestivo/ peso corporal 2,7-7 2,8-3,5 10-11 (%) Peso do estomago/ peso do aparelho 66 60 10 digestivo (%) 1706 9000 Número de recetores gustativos 500 papilas papilas papilas Superfície da mucosa olfativa (cm2) 25-250 20 2-3 Células olfativas (milhões) 67-200 60-65 5-20 Dentição 42 dentes 30 dentes 32 dentes pH do estômago 1-2 1-2 2-4 Comprimento intestino / comprimento do X 6-7 X5 X 10 corpo Comprimento do intestino delgado 1,6-6 m 1-2,1 m 6-6,5 m Comprimento intestino grosso 0,6 m 0,4 m 1,5 m Duração do transito digestivo total (horas) 12-30 12.24 30-18 PRINCIPAIS AFEÇÕES DO APARELHO DIGESTIVO ORGÃOS DO TUBO DIGESTIVO Orgão do tubo digestivo Nome dos processos inflamatórios Boca Estomatite Faringe