Farmacologia - Anti-anginosos PDF
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UERJ
Gabriel Souza
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This document provides an overview of the pharmacology of anti-anginal medications. It covers angina classifications, risk factors, and treatment options. It also discusses the role of various factors in regulating blood flow to the heart and the effects of these medications.
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Farmacologia - Antianginosos -> Angina consiste em um sintoma primário da doença isquêmica miocárdica. No Brasil, a prevalência é de 12 a 14% nos homens e 10 a 12% das mulheres com idades entre 65 a 84 anos. A cada 30 casos de angina, ocorre 1 infarto agudo do miocárdio. A angina é caracterizada po...
Farmacologia - Antianginosos -> Angina consiste em um sintoma primário da doença isquêmica miocárdica. No Brasil, a prevalência é de 12 a 14% nos homens e 10 a 12% das mulheres com idades entre 65 a 84 anos. A cada 30 casos de angina, ocorre 1 infarto agudo do miocárdio. A angina é caracterizada por desconforto subesternal compressivo, que frequentemente se irradia para o ombro esquerdo, braço esquerdo, para o maxilar ou para o epigástrio. É causada por episódios transitórios de isquemia miocárdica. É importante que haja um equilíbrio entre a demanda e a oferta de oxigênio. Se a demanda por oxigênio aumenta sem que a oferta também aumente, haverá uma isquemia, ocasionando a angina. Classificação da angina: - Angina típica: As anginas podem aparecer pelo surgimento de placas ateroscleróticas, por exemplo. Existem dois tipos de angina relacionadas à aterosclerose: a angina instável, onde mesmo no repouso, o indivíduo sente a dor e a angina estável, onde o indivíduo apresenta dor pré-cordial após realizar esforço. Um indivíduo com angina estável pode evoluir para a instável. A angina estável é precipitada por estresse físico, emocional ou térmico e ocorre em função de uma estenose aterosclerótica fixa de uma artéria coronária epicárdica. A angina estável dura em média de 2 a 10 minutos. A angina estável é aliviada com repouso ou NTG sublingual. A angina instável acontece em repouso ou esforço mínimo e ocorre em função da ruptura de uma placa aterosclerótica, com adesão e agregação plaquetária. A angina instável pode durar até 20 minutos, em média. Pode ser aliviada com NTG sublingual. - Angina atípica: É caracterizada por ser uma angina vasoespástica, que está relacionada a contração intermitente, que provoca uma redução do fluxo sanguíneo, ocasionando uma oferta de oxigênio reduzida. Ocorre em repouso e pode provocar ataques noturnos de dor pré-cordial. Fatores de risco coronariano: Hipertensão, tabagismo, dislipidemia, diabetes e sedentarismo. Controle da circulação coronariana: As coronárias irrigam o músculo cardíaco e o fluxo sanguíneo aumenta durante a diástole, ou seja, durante o relaxamento, o miocárdio é irrigado pelas coronárias. Existem fatores que regulam esse processo, que possui dois controles: - Controle neurogênico: Ocorre quando há ativação simpática (espasmo coronariano) e ativação parassimpática (liberação de óxido nítrico). - Controle local: Ocorre por meio humoral, como o óxido nítrico (NO), bradicinina, PGs, endotelina e angiotensina II ou por meio químico pela adenosina. Fatores envolvidos no equilíbrio: A demanda de oxigênio depende da contratilidade do músculo cardíaco, frequência cardíaca e tensão parietal, que se será determinada pressão do ventrículo esquerdo (volume e raio ventricular). A pós-carga também aumenta a demanda de oxigênio. A oferta de oxigênio depende do fluxo sanguíneo coronariano. Toda vez que a demanda aumentar, o ideal é que a oferta aumente também. Se há um processo isquêmico do coração, ocasionará em um desequilíbrio entre demanda e oferta. Obs: Pré-carga e pós-carga: A pré-carga cardíaca é o volume de sangue entregue ao coração durante a fase de enchimento ventricular diastólica, ou seja, antes de cada contração. A hipertensão arterial influencia na pré-carga, pois provoca aumento da resistência vascular periférica, tornando os vasos sanguíneos mais rígidos, o que pode dificultar o retorno venoso e, consequentemente, reduzir a pré-carga, o que pode comprometer a função cardíaca. A pós-carga é a resistência que o coração precisa vencer para poder ejetar o sangue para o sistema circulatório durante a sístole ventricular. Em outras palavras, é a pressão que o coração precisa vencer para enviar o sangue para as artérias durante a contração cardíaca. Tratamento da angina: Pode ocorrer por diferentes mecanismos, sendo eles: angioplastia transluminal, cirurgia de revascularização miocárdica ou por meios farmacológicos. Obs: A angioplastia é realizada preferencialmente quando há um ou dois ramos coronários obstruídos. A cirurgia de revascularização ocorre principalmente quando há 3 ou mais ramos coronários obstruídos. Objetivo do tratamento farmacológico: Reduzir a demanda ou aumentar a oferta de oxigênio. A demanda pode ser reduzida pela redução da frequência cardíaca, redução da contratilidade, redução da pré-carga e da pós-carga. A oferta é aumentada por meio de uma vasodilatação coronariana. - Na angina estável, o objetivo é melhorar o equilíbrio entre suprimento e demanda de oxigênio no miocárdio. - Na angina instável, atuam prevenindo ou reduzindo a formação de trombos coronarianos. Aumentam o fluxo sanguíneo do miocárdio e evitam a progressão para infarto agudo do miocárdio. - Na angina variável, atuam evitando o vasoespasmo. Tratamento farmacológico da angina: Pode ser realizado com nitratos, bloqueadores dos canais de cálcio, bloqueadores beta adrenérgicos e nicorandil. -> Nitratos: São pró-fármacos que servem como fonte de óxido nítrico (NO). Os pró-fármacos precisam ser metabolizados para liberarem a substância ativa. Os nitratos mais utilizados são nitroglicerina, dinitrato de isossorbida e mononitrato de isossorbida. Todos irão atuar liberando o óxido nítrico de sua estrutura, promovendo vasodilatação. Na célula endotelial, há uma enzima denominada óxido nítrico sintase, que é ativada por substâncias como a acetilcolina e a bradicinina e passa a produzir o óxido nítrico, que se difunde para o músculo liso vascular, onde irá ativar a enzima guanilato ciclase e transforma GTP em GMP cíclico, reduzindo a concentração de cálcio intracelular e promovendo o relaxamento. - Os nitratos são indicados para o tratamento da angina estável, instável e variante. Na angina estável e instável, os nitratos promovem vasodilatação venosa e arterial, reduzindo a pré-carga e a pós-carga. Na angina variante, os nitratos promovem vasodilatação coronariana Os efeitos colaterais dos nitratos são: cefaléia, hipotensão postural, tontura, acentuação ou precipitação de edema periférico, tolerância e dermatite alérgica. - Mecanismo de ação dos nitratos: O dinitrato de isossorbida é administrado e metabolizado pelo fígado, que irá formar o mononitrato que penetra no músculo liso, onde irá sofrer ação da guanilato ciclase e formará GMP cíclico, reduzindo cálcio intracelular e promovendo o relaxamento. A nitroglicerina, por sua vez, não sofre ação da enzima guanilato ciclase, mas sim de enzimas citosólicas, mas que também irá formar GMP cíclico, reduzindo cálcio intracelular e promovendo o relaxamento. - Efeitos farmacológicos dos nitratos na circulação periférica e coronariana: Os nitratos, em baixas doses administradas promovem uma vasodilatação principalmente venosa. Em doses maiores, promove vasodilatação em artérias e arteríolas. A partir da vasodilatação venosa, a pré-carga é reduzida, pois a demanda de oxigênio pelo coração foi reduzida. A vasodilatação arterial promove uma redução da pós-carga, pois a demanda também foi reduzida. Os nitratos também promovem a vasodilatação coronariana, que irá aumentar a oferta de oxigênio. - Tolerância: O organismo do indivíduo pode criar mecanismos contra os mecanismos de ação dos nitratos. As principais hipóteses são: redução da biotransformação dos nitratos, aumento da liberação de catecolaminas e angiotensina, aumento da produção de radicais livres e redução da biodisponibilidade do óxido nítrico. A tolerância pode ser evitada administração intermitente (intervalo noturno de 8 a 12h para a angina estável e intervalo diurno de 8 a 12h para a angina instável). - Interação medicamentosa: Os nitratos não podem ser utilizados em conjunto com sildenafil, tadalafil e vardenafil, pois estes fármacos inibem a enzima fosfodiesterase 5, promovendo aumento do GMP cíclico, que irá promover a vasodilatação. Porém, quando um indivíduo já faz uso de nitrato, já possui quantidade elevada de GMP cíclico. -> Bloqueadores dos canais de cálcio: Ao bloquear os canais de cálcio, a entrada de cálcio na célula é reduzida e consequentemente a contração também é reduzida. Com isso, a vasodilatação é promovida. Os bloqueadores dos canais de cálcio podem ser subdivididos em duas classes: - Não-diidropiridínicos (Não-DHP): Possuem ação preferencial pelos canais de cálcio no coração. São representados pelo verapamil e diltiazem, que causam redução da contratilidade cardíaca e da frequência cardíaca e, consequentemente, reduzindo o débito cardíaco e reduzindo a demanda de oxigênio. Esses fármacos atuam principalmente sobre os canais de cálcio presentes nos nodos sinoatrial e atrioventricular. Possuem pouca ação vasodilatadora periférica. - Diidropiridínicos (DHP): Atuam nos vasos, exceto os do coração. Reduzem a entrada de cálcio no músculo liso vascular, aumentando a vasodilatação arterial e reduzindo a resistência vascular periférica, reduzindo a pós-carga e reduzindo a demanda de oxigênio e aumentam a oferta de oxigênio, pois também promovem vasodilatação coronariana. Possuem pouca ação sobre a contratilidade cardíaca. São representados pelo nifedipina e pela amlodipina. Se a dose administrada desses fármacos for alta, podem provocar uma vasodilatação muito rápida e aumentar a demanda de oxigênio por uma descarga adrenérgica, pois a ativação dos receptores adrenérgicos aumentam o consumo de oxigênio pelas células. - Efeitos anti-isquêmicos: Reduzem a demanda de oxigênio em função da redução da frequência cardíaca, da contratilidade e da pós-carga. Também ocorre o aumento da oferta de oxigênio em função da vasodilatação coronariana e do fluxo colateral. - Verapamil e diltiazem possuem maior efeito na redução da pressão arterial, redução da contratilidade cardíaca e redução da frequência cardíaca. Nifedipina e amlodipina possuem maior efeito na vasodilatação periférica e coronariana e na redução da pressão arterial. - Os efeitos colaterais dos bloqueadores dos canais de cálcio são rubor, cefaléia, tontura e hipotensão, que estão relacionados principalmente à vasodilatação excessiva. Outros efeitos colaterais são edema de membros inferiores e insuficiência cardíaca. Os bloqueadores dos canais de cálcio são indicados para angina variável e estável, principalmente, além da indicação para tratamento crônico do infarto agudo do miocárdio. -> Beta-bloqueadores: Os fármacos beta bloqueadores são classificados em: antagonistas beta 1 e beta 2, antagonistas beta 1 e antagonistas beta 1 e beta 2 + antagonistas alfa 1. Possuem ações farmacológicas seletivas para cada tipo de receptor. - Efeitos anti-isquêmicos: Ao inibir os receptores beta 1 adrenérgicos, haverá redução da frequência cardíaca, redução da tensão parietal, redução da contratilidade e redução da chance de arritmias. Consequentemente, haverá redução da demanda de oxigênio e aumento da demanda de oxigênio. Neste caso, não ocorre vasodilatação, apenas um aumento do tempo de perfusão diastólica, o que ocasiona no aumento da oferta por oxigênio. - Efeito protetor sobre o infarto agudo do miocárdio: Após um infarto, ocorre alta liberação de catecolaminas, que atuam aumentando a atividade cardíaca, que ocasiona no aumento da demanda de oxigênio. Porém, isso não é o ideal, pois uma parte do coração já teve um infarto e a partir de um aumento da atividade cardíaca, aumenta a chance de um infarto reincidente. Nesse sentido, os beta-bloqueadores inibem a ação das das catecolaminas, reduzindo a incidência de morte súbita por arritmias pós infarto agudo do miocárdio. - Os efeitos adversos dos beta-bloqueadores são broncoespasmo, bradicardia, hipotensão, fadiga, distúrbios de sono e depressão no SNC e disfunção erétil. Os beta-bloqueadores são indicados para a angina estável, instável e para reduzir a mortalidade do infarto agudo do miocárdio. -> Nicorandil: Combina os efeitos de doador de óxido nítrico com os de ativador de potássio ATPase do músculo liso vascular. A partir da ativação dos canais de potássio sensíveis ao ATP, ocorre aumento do efluxo de potássio e redução do influxo de cálcio. Possuem efeito vasodilatador. São rapidamente absorvidos por via oral, possuem biodisponibilidade superior a 75% e início rápido de ação, sendo eliminados pela via renal. Os efeitos colaterais do nicorandil são cefaléia, hipotensão postural, tontura e náuseas.