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REVOLUÇÃO VERDE, AGROECOLOGIA E CAMPESIONATO.txt

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N Texto: REVOLUÇÃO VERDE, AGROECOLOGIA E CAMPESINATO. Fonte: Valéria de Mi: In: Revista AGRÁRIA, São Paulo, nº 7, pp. 4-32, 2007 (Texto reduzido é. adaptado), As sociedades agrárias enfrentam na atualidade valorosas discussões acerca da relação entre Revolução verde & agroecologia As duas verten...

N Texto: REVOLUÇÃO VERDE, AGROECOLOGIA E CAMPESINATO. Fonte: Valéria de Mi: In: Revista AGRÁRIA, São Paulo, nº 7, pp. 4-32, 2007 (Texto reduzido é. adaptado), As sociedades agrárias enfrentam na atualidade valorosas discussões acerca da relação entre Revolução verde & agroecologia As duas vertentes se constituem em modos distintos de utilização do espaço rural no mundo, ambas ligadas a atores agrários distintos: latifundiários e agricultores familiares. Sabe-se que a agricultura moderna tem sua origem ligada às descobertas realizadas no século XIX: sobretudo à idéia de que o aumento da produção e da produtividade agricola seria diretamente proporcional à quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo, teorias que colocavam em cheque a teoria do húmus, segundo a qual as plantas obtinham o carbono a partir da matéria orgânica do solo, de uma maneira natural. Começava a nascer a dualidade entre Revolução verde (latifúndios) e Agroecologia (minifúndios). Muito embora mais tarde esta última teoria tenha sido reforçada, os efeitos das teorias “agroquímicas” já se faziam sentir nos setores agrícola e industrial, e um promissor mercado para os fertilizantes químicos já estava se desenhando. Com o avanço desse poderoso setor, também a técnica de rotação de culturas — que já havia substituido à antiga rotação de terras - e a integração entre atividade agricola e prôdução animal — velha forma para refertilização natural do solo — vão aos poucos deixando de sepúltilizadas, dando lugar a uma exploração cada vez mais intensiva da terra, através da repetição das mesmas culturas e da aplicação de quantidades cada vez maiores de fertilizantes e corretivos químicos. Emergem as discussões acerca dos impactos ambientais. A revolução verde, como ficou conhecido o pacote tecnológico que passou a ser imposto como garantia do fim da fome (Teoria de Malthus) que assolava o mundo e, em especial, a Europa pós- Segunda Guerra Mundial, significou, na verdade, como ressalta Porto Gonçalves (2004, p. 212), um conjunto de transformações nas relações de poder por meio da tecnologia, transformações estas que procuravam deslocar a atenção do sentido social e político das lutas contra a fome e a miséria. (o) resultado foi a ampla divulgação e uso — com o apoio das universidades que passavam a formar os agrônomos e técnicos agricolas com essa perspectiva — de fertilizantes químicos, agrotóxicos, sementes hibridas e seu mais recente desdobramento, com a biotecnologia dos transgênicos (leia- se “sementes com venenos incorporados, risco certo à saúde humana e ao ambiente, mas ganho certo para as empresas que as produzem”) e das técnicas de plantio direto, por trás da difusão da idéia de que a fome — que é um problema econômico, social e político — seria resolvida por meio de um desenvolvimento técnico e científico. , A receita foi seguida à risca pelos então chamados países subdesenvolvidos, mas a fome continuou existindo. Os efeitos da tecnologia se faziam sentir: aumento da produção, às custas de um aumento do consumo de fertilizantes químicos e da queda da produtividade/hectare e, principalmente, o aumento cada vez maior da desigualdade na produtividade entre os setores mais avançados da agricultura capitalista e aqueles mais débeis Além disso, a melhoria nas condições de armazenamento, transportes e comunicações, permitindo o aumento da produtividade total, propiciou a incorporação de novas áreas para produção, fato que, além de elevar a concentração de terras, aumentou ainda mais a produção e, consequentemente, reduziu o preço do produto no mercado. É A lógica industrial instala-se no campo, seja através da redução do preço dos alimentos, ocasionando uma diminuição no custo da cesta básica para o trabalhador que vive na tidade, permitindo-lhe assim o aumento do consumo de produtos industrializados, seja através da industrialização da agricultura, via introdução de produtos industrializados (insumos e maquinários) e, mais recentemente, via introdução do modo industrial de produzir no campo (OLIVEIRA, 2007). Os resultados dessas conquistas no campo latino-americano, em especial na fração camponesa desse campo, porém, foram bem outros: o desgaste do solo; o desaparecimento de culturas locais devido à homogeneização dos cultivos agricolas e a consequente redução da biodiversidade, o aumento da produção de grãos — nos últimos anos através da expansão dos transgênicos - e a redução da renda devido à redução dos preços desses produtos no mercado internacional cada vez mais mundializado, a perda da soberania alimentar e a dependência cada vez maior dos camponeses que resistem no campo às grandes corporações multinacionais, via uso de sementes transgênicas estéreis das quais empresas como Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont e Novartis são apenas alguns exemplos de uma lista que não para de crescer Por último, mas não menos importante, há o aumento da concentração de terras através da expansão do agronegócio pelo campo latino-americano, vendido pela mídia como sinônimo de “modernidade”, mas reprodutor de uma lógica velha conhecida nossa, a dos monocultivos de commodities como a cana-de-açúcar, soja, trigo, milho, agora de cara nova: uma agricultura extremamente tecnificada, que acaba dando lugar a um campo sem trabalhadores, atualmente divulgada como “ecologicamente correta” com a transformação desses produtos em “combustivel limpo”. Do dia para noite, a busca de uma saída para a crise iminente diante da saturação de consumo e da queda dos preços desses produtos no mercado internacional transforma-se em “preocupação ambiental” e a certeza de lucro é mais uma vez garantida. É justamente dessa crise que emerge a busca por uma agricultura alternativa, uma saída ao padrão produtivo convencional É nesse quadro que se inserem a permacultura, a agroecologia e a nova forma de pensar a produção agrícola e a relação com a terra que elas comportam. O objetivo é aquele de conseguir uma agricultura que permita a produção estável e eficiente de alimentos, a segurança e soberania alimentar, a preservação da cultura local e da pequena unidade de produção e o uso de práticas agroecológicas ou tradicionais de manejo (ALTIERI, NICHOLLS, 2000, p. 21). Dessa forma, chegar-se-ia a uma agricultura sustentável, capaz de garantir a conservação dos recursos renováveis, a adaptação dos cultivos e a manutenção de níveis moderados, mas sustentáveis, de produtividade O grau de eficiência dessa agricultura seria, segundo Altieri e Nicholls (2000, p. 24-7) verificado através dos seguintes critérios: 1. Sustentabilidade: habilidade de um agroecossistema de manter a produção através do tempo, diante de repetidas restrições ecológicas e pressões socioeconômicas, 2 Equidade grau de uniformidade com que são distribuídos os produtos do agroecossistema entre os produtores e consumidores locais, Se 3 Estabilidade: constância de produção sob um grupo de condições ambientais, econômicas e de manejo, - 4. Produtividade: quantidade de produção por unidade de superfície, trabalho e insumos utilizados. As formas de colocar esses objetivos em prática variam, todas elas buscando um novo equilibro agroecossistêmico. Um exemplo disso é o que ocorre com a permacultura, termo criado por Mollison e Holmgren para indicar “um sistema integrado e em evolução, constituído de plantas perenes ou que se autoperpetuam, e por espécies animais úteis ao homem. Trata-se, substancialmente, de um ecossistema agricola completo” (MOLLISON; HOLMGREN, 1992, p. 9, tradução nossa), de uma síntese entre práticas agricolas tradicionais e idéias inovadoras, entre conhecimento secular e descobertas da ciência moderna, proporcionando o desenvolvimento integrado da propriedade rural de forma viável e segura. Outro exemplo de prática agricola que segue os mesmos princípios da permacultura é o da agroecologia, entendida enquanto uma nova abordagem da agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agricolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo. Trata-se do resultado de um sistema de produção agricola que busca manejar, de forma equilibrada, o solo e demais recursos naturais (água, plantas, animais, insetos etc.), conservando-os em longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com Os seres humanos. Desse modo, para se obter um alimento verdadeiramente orgânico, é necessário administrar conhecimentos de diversas ciências para que, através de um trabalho harmonizado com a natureza, se possa ofertar ao consumidor alimentos que promovam não apenas a saúde deste último, mas também do planeta como um todo. Surge a agroecologia que é entendida como uma nova abordagem da agricultura, uma base cientifica que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos para a produção de alimentos, capaz de realizar a critica da agricultura convencional e orientar o correto redesenho e manejo dos agroecossistemas em busca da autossustentabilidade.. No caso da agroecologia, um dos pontos que merecem maior atenção é o uso das sementes Para que se possam cultivar produtos verdadeiramente agroecológicos, o ideal seria dar preferência o uso das sementes crioulas, obtidas através do método de seleção massal, que Consiste em coletar as sementes que demonstraram ao longo do tempo uma ou mais caracteristicas desejáveis, como potencial de alto rendimento ou resistência doenças, para planta-las na safra seguinte. As sementes crioulas são adaptadas às condições locais e possuem, internamente, maior variabilidade genética quando comparadas às variedades obtidas por outros métodos. Além disso, elas atendem a um dos princípios básicos da agroecologia, o de desenvolver plantas adaptadas às condições locais da propriedade, capazes de tolerar variações ambientais e ataques de organismos prejudiciais. Outro aspecto importante consiste na maior autonomia do agricultor, que pode coletar as sementes dessas variedades e replantá-las no ano seguinte, adquirindo maior independência do mercado de insumos e gerando um material que, com toda sua variabilidade genética. se torna cada vez mais vigoroso e adaptado ao seu tipo de solo e clima. Um dos pontos de maior discussão na atualidade acerca desta dualidade entre revolução verde e agroecologia, sob o ponto de vista da agricultura, tem sido a retomada da dimensão local do desenvolvimento. Mais ainda, de um desenvolvimento que, além de local, seja capaz de autossustentar-se. Tal processo concretiza-se através da aplicação dos quatro pilares do desenvolvimento local autossustentável elencados por Magnaghi (2000): 1. a satisfação das necessidades básicas da comunidade; 2. a autodeterminação das comunidades envolvidas através da construção de um projeto de desenvolvimento endógeno e em sintonia com a capacidade de realização das comunidades envolvidas, 3. a realização de práticas que não apenas respeitem o ambiente como ainda promovam a sua valorização; 4 a necessidade de recuperação e valorização dos saberes locais praticados pelas comunidades para melhor poder valorizar as suas potencialidades. Muitas são as dificuldades enfrentadas, da repetição de modelos tradicionais de práticas agricolas à falta de orientação e assistência técnicas adequadas: da falta de créditos para a produção às dificuldades de comercialização, apenas para citarmos algumas delas. Tais problemas têm colocado aos camponeses a necessidade de unir-se para buscar alternativas ao modelo tradicional de prática agrícola e de comercialização da produção e é nesse sentido que a agroecologia tem se configurado cada vez mais como uma alternativa para a produção - e comercialização - camponesa nas áreas rurais dos minifúndios.

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