Summary

This document discusses memory, a fundamental cognitive process involving encoding, storage, and retrieval of information. It explores various types of memory, such as explicit and implicit memory, and their roles in everyday life, learning, and social interactions. The text also covers memory functions and examples of memory disorders and investigates memory through different methods. It explores concepts of memory and provides examples and case studies.

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Memória e linguagem 1. Definição de Memória A memória é um processo cognitivo fundamental que permite a codificação, armazenamento e recuperação de informações. É a capacidade do cérebro de registrar experiências passadas, conhecimentos e habilidades, possibilitando que os indivíduos aprendam com o...

Memória e linguagem 1. Definição de Memória A memória é um processo cognitivo fundamental que permite a codificação, armazenamento e recuperação de informações. É a capacidade do cérebro de registrar experiências passadas, conhecimentos e habilidades, possibilitando que os indivíduos aprendam com o passado e utilizem essas informações no presente e no futuro. A memória não é um sistema unitário, mas sim composta por diferentes tipos e sistemas, incluindo: 2. Funções da Memória na Vida Cotidiana A memória desempenha várias funções essenciais na vida cotidiana, incluindo: Aprendizagem: A memória permite adquirir conhecimentos e habilidades, essenciais para a educação e desenvolvimento pessoal, com a memória semântica fornecendo a base de conhecimento necessária. Identidade Pessoal: A memória autobiográfica ajuda a formar a identidade pessoal ao recordar experiências passadas, enquanto a memória semântica contribui com conhecimentos gerais que também integram essa identidade. Tomada de Decisão: A memória possibilita a utilização de experiências passadas para avaliar opções e prever consequências, com a memória implícita influenciando de forma sutil as preferências. Interação Social: A memória facilita relações sociais, permitindo lembrar nomes, rostos e experiências partilhadas, sendo a memória semântica essencial para interações em conversas. Planeamento e Organização: A memória prospetiva permite organizar ações futuras, enquanto a memória implícita facilita a realização de tarefas rotineiras automaticamente. 3. Conceitos Fundamentais da Memória A memória não é uma função unitária, é composta por vários sistemas independentes e envolve múltiplos processos cognitivos. Memória Explícita (ou Declarativa): Envolve a recordação intencional de factos e acontecimentos. Memória Semântica: Relacionada ao conhecimento geral e factos. Memória Episódica: Associada a experiências pessoais e eventos específicos. Memória Implícita (ou de Procedimento): Aprendizagem que ocorre de forma não intencional e espontânea, incluindo o reconhecimento automático. Procedimentos: Habilidades motoras e procedimentos, como andar de bicicleta. Priming: Facilitação do processamento de estímulos com base em experiências anteriores. Condicionamento: Associação entre estímulos e respostas, muitas vezes inconsciente. 3.1) Exemplo de Amnésia (Caso de Clive Wearing) O caso de Clive Wearing ilustra que a memória é composta por sistemas distintos e independentes. Ele perdeu a capacidade de formar memórias explícitas, como recordar factos e eventos (memória declarativa), mas manteve a memória implícita, como tocar piano. A sua memória episódica e semântica estão gravemente comprometidas, mas as suas habilidades motoras permanecem intactas, evidenciando que os sistemas de memória operam de forma independente e envolvem diferentes áreas cerebrais. 1. MEMÓRIA Estudo da Memória e Substrato Físico O estudo da memória envolve a análise das mudanças eletrofisiológicas e neuroquímicas que ocorrem no cérebro como resultado da aprendizagem. Essas alterações incluem modificações nas sinapses e nos circuitos neurais, fundamentais para a consolidação de memórias. Avanços significativos na compreensão dos processos fisiológicos e bioquímicos têm sido alcançados através do estudo de organismos mais simples, como a Aplysia e o coelho: Aplysia (Kandel & Squire, 2002): Investigada por suas respostas de habituação, sensibilização e condicionamento clássico. Potenciação a Longo Prazo (LTP): Fenômeno observado em modelos como o coelho, que é essencial para a formação de memórias duradouras. Métodos de Investigação em Memória A memória é investigada através de métodos que variaram ao longo do tempo: Relatos (e.g., Bartlett, 1932): Inicialmente, a memória era estudada por relatos e reconstruções de histórias, observando-se como a informação é alterada na sua codificação. Tarefas Experimentais: Com o avanço da psicologia experimental, passaram a ser utilizadas tarefas controladas que permitem uma avaliação precisa do desempenho dos indivíduos, incluindo: Número de acertos e tipos de erro como indicadores de desempenho. Tarefas para Avaliar a Memória A avaliação da memória inclui vários tipos de tarefas, cada uma medindo diferentes processos mnésicos: 1. Tarefas de Evocação: ❖ Evocação Simples: A pessoa deve produzir uma informação específica, como preencher uma frase incompleta. ➔ Exemplo: "O filme ____________ relata a história de um indivíduo com amnésia anterógrada." ❖ Evocação em Série: O indivíduo deve repetir uma lista de itens na ordem exata de apresentação, como em tarefas de memória de dígitos usadas no WISC ou WAIS. ❖ Evocação Espontânea: O sujeito deve repetir itens de uma lista, mas sem a necessidade de respeitar a ordem apresentada. ➔ Exemplo: "banana, janela, bolota, colher, girafa..." 2. Tarefas de Memória Associativa: ○ Consiste em recordar pares de itens previamente memorizados. Dado um item, a pessoa evoca o seu par correspondente. ○ Exemplo: "tempo – cidade", "laranja – maçã". 3. Tarefas de Reconhecimento: ○ O sujeito deve identificar ou selecionar um item que tenha aprendido previamente entre várias opções. ○ Exemplo: "O termo para pessoas com graves problemas de memória é: (a) prosopagnósicos; (b) amnésicos; (c) impressionistas." Conceitos Fundamentais na Memória A memória e a aprendizagem envolvem três processos principais: 1. Codificação: Transformação da informação sensorial em um traço mnésico. 2. Armazenamento: Retenção da informação codificada ao longo do tempo. 3. Evocação: Recuperação da informação armazenada quando necessário. Esses processos são influenciados por vários fatores: Estímulo: Tipo de material a ser memorizado (palavras, imagens, acontecimentos). Participante: Características individuais como idade, escolaridade e experiência. Codificação: Estratégias de retenção, como a memorização do som ou do significado de uma palavra. Evocação: Forma de recuperação, que pode ser por recordação livre, reconhecimento ou com pistas. Arquitetura do Sistema de Memória A memória é organizada em diferentes estruturas: Modelo de Multi-Armazéns: Distingue a Memória a Curto Prazo (MCP) e a Memória a Longo Prazo (MLP). Armazém de Memória Unitário: Alternativa ao modelo de multi-armazéns, que propõe uma estrutura única, embora dividida em diferentes processos mnésicos. Processos Mnésicos Os processos mnésicos referem-se às atividades que ocorrem dentro do sistema de memória, como a organização e manipulação da informação, que são essenciais para uma memória eficaz e para o desempenho em tarefas de evocação e reconhecimento. 2. ESTRUTURA DA MEMÓRIA 2.1) MODELO ESTRUTURAL DE MÚLTIPLOS ARMAZÉNS A memória é frequentemente dividida em sistemas baseados no Modelo Estrutural de Múltiplos Armazéns, que distingue entre três armazéns principais: Memória Sensorial (MS), Memória de Curto Prazo (MCP) e Memória de Longo Prazo (MLP). Cada uma dessas memórias apresenta características específicas quanto à capacidade, duração e tipo de armazenamento. 1. Memória Sensorial (MS) A Memória Sensorial retém brevemente a informação que recebemos através dos sentidos. Possui uma capacidade muito breve e específica ao domínio sensorial (visual, auditivo, etc.). Memória Icónica: Relacionada à informação visual, foi amplamente estudada por Sperling (1960), que demonstrou que esta memória decai rapidamente, entre 0,5 e 1,6 segundos. Landmann et al. (2003) e Coltheart (1983) sugerem que os processos perceptivos operam sobre o "icon" ou representação visual armazenada temporariamente. Memória Ecóica: Armazena informações auditivas, com uma duração um pouco mais longa, geralmente em torno de 2 segundos. Estudos como o de Treiman (1964), usando a tarefa de "shadowing", mostram como essa memória é mantida momentaneamente antes de decair. 2. Memória de Curto Prazo (MCP) A Memória de Curto Prazo é caracterizada por uma capacidade limitada e uma fragilidade no armazenamento. De acordo com Miller (1956), a MCP possui uma capacidade média de 7±2 unidades de informação (conhecido como "memory span"), que pode incluir números, letras ou palavras. Estudos posteriores, como os de Simon (1974) e Cowan (2000), sugerem que a capacidade real pode ser menor, dependendo da complexidade das unidades e da influência de ensaios ou da MLP. Efeito de Recência: Descrito por Glanzer & Cunitz (1966), o efeito de recência refere-se à tendência de recordar mais facilmente os últimos itens de uma lista. Whitten (1974) observou que, mesmo após uma tarefa de interferência de contagem regressiva, o efeito de recência persiste por até 12 segundos. Activação e Fragilidade: Segundo Shiffrin (1999) e Nairne (2002), a informação na MCP é frágil e pode desaparecer rapidamente se a ativação não for mantida através de ensaio. Quando a ativação é interrompida, a informação sai da MCP. Capacidade limitada e esquecimento: A MCP é afetada tanto pela decadência do traço mnésico (esquecimento com o tempo) quanto pela interferência proativa (Keppel & Underwood, 1962). Evidências: Memória para palavras curtas vs. longas: Segundo Baddeley, Thomson e Buchanan (1975), a MCP é mais eficaz para palavras curtas. Em contrapartida, Lovatt, Avons e Masterson (2000) não encontraram diferenças significativas em palavras dissilábicas de diferentes durações de pronúncia. Decadência do traço mnésico: Peterson & Peterson (1959) observaram que, sem ensaio, a informação na MCP decai rapidamente. Por outro lado, Nairne, Whiteman e Kelley (1999) sugerem que este esquecimento pode ser mitigado por pistas de evocação (Tehan & Humphreys, 1996). 3. Memória de Longo Prazo (MLP) A Memória de Longo Prazo tem uma capacidade teórica ilimitada, sendo dividida entre a memória de eventos passados e informações duradouras. Distinção de William James (1890): ○ Memória Primária: Refere-se às informações que permanecem na consciência logo após serem percebidas, constituindo o presente psicológico. ○ Memória Secundária: Inclui informações de acontecimentos que já saíram da consciência, formando o passado psicológico. A MLP armazena informações a longo prazo, permitindo sua recuperação mesmo após períodos prolongados. Este armazém é essencial para a construção de conhecimentos complexos e para a integração de novas aprendizagens. AMemória de Longo Prazo (MLP) é um componente crucial no modelo de memória, caracterizando-se por: Capacidade Ilimitada: A MLP pode armazenar uma quantidade praticamente infinita de informações, desde que estas sejam devidamente codificadas e recuperadas. Retenção por Longos Períodos: A MLP permite a retenção de informações ao longo de períodos extensos, desde dias até a vida inteira. Isso é fundamental para a aprendizagem e formação de memórias autobiográficas. Mecanismos de Esquecimento O esquecimento na MLP pode ser influenciado por diferentes mecanismos: Ausência de Pistas de Evocação: Muitas vezes, a informação permanece armazenada na MLP, mas pode tornar-se inacessível à consciência devido à falta de pistas adequadas. Essa situação ilustra como a informação pode estar presente, mas a recuperação dela falha. 2.2) AVALIAÇÃO DO MODELO ESTRUTURAL DE MÚLTIPLOS ARMAZÉNS Embora o Modelo Estrutural de Múltiplos Armazéns seja um dos modelos mais influentes na psicologia da memória, ele apresenta algumas limitações significativas: Simplificação Excessiva: O modelo pode simplificar a complexidade dos processos de memória, não considerando que a Memória de Curto Prazo (MCP) e a Memória de Longo Prazo (MLP) não operam como sistemas unitários. ○ Exemplo do Caso KF: O paciente KF apresentou um déficit notável na memória auditiva, mas não na visual, desafiando a ideia de que a MCP e a MLP operam de maneira uniforme para todos os tipos de informação (Shallice & Warrington, 1974). Pressupostos Incorretos: Algumas suposições do modelo têm sido contestadas: ○ MCP como Porta de Entrada para a MLP: O modelo sugere que a MCP é a única via para a MLP, mas evidências indicam que outras formas de informação também podem ser transferidas diretamente para a MLP sem passar pela MCP (Logie, 1999). ○ Mecanismo Exclusivo de Manutenção: A ideia de que o único mecanismo de manutenção da informação na MCP é o ensaio é considerada insuficiente. Outros fatores, como a elaboração e a organização da informação, também desempenham papéis cruciais. ○ Conteúdos da Consciência: Se a MCP representa apenas conteúdos da consciência, então só as informações conscientes poderiam ser transferidas para a MLP, o que não se confirma nas práticas de memória. Existem muitos casos de memórias não conscientes que ainda influenciam o comportamento e a tomada de decisão. Ênfase Excessiva nos Aspectos Estruturais: O modelo tende a se concentrar nos componentes estruturais da memória, em detrimento dos processos dinâmicos envolvidos na codificação, armazenamento e recuperação da informação. 2.3) MODELO DE ARMAZÉM UNITÁRIO O Modelo de Armazém Unitário propõe que a Memória de Curto Prazo (MCP) é uma ativação temporária de conteúdos armazenados na Memória de Longo Prazo (MLP) ou representações de itens que foram recentemente percebidos. Este modelo oferece uma perspectiva importante para compreender como pacientes amnésicos, que apresentam MCP preservada mas com defeitos na MLP, se comportam em tarefas de memória. Padrão de Desempenho de Pacientes Amnésicos Pacientes amnésicos frequentemente mostram dificuldades em estabelecer novas relações entre informações. Estudos de Jonides et al. (2008) revelam que esses indivíduos podem ter um desempenho satisfatório em tarefas que não exigem a formação de associações entre itens, evidenciando que sua MCP pode estar funcionalmente preservada. A predição aqui é que amnésicos teriam um desempenho deficiente em tarefas que requerem relações entre a informação apresentada, destacando a importância do hipocampo e das estruturas da região medial dos lobos temporais nessas associações. Evidências do Modelo de Armazém Unitário 1. Estudo de Hannula, Tranel e Cohen (2006): ○ Contexto: Pacientes amnésicos após anóxia foram apresentados a imagens por 20 segundos. Algumas imagens eram exatamente iguais, enquanto outras continham um objeto deslocado. ○ Objetivo: Avaliar se os pacientes lembravam das imagens. ○ Resultados: Os participantes mostraram uma discrepância no reconhecimento dependendo das relações espaciais, sugerindo que a MCP (que se baseia em períodos de tempo curtos) e a MLP (que depende de períodos longos) funcionam de maneira diferenciada. 2. Estudo de Hannula e Ranganath (2008): ○ Tarefa: Pacientes eram apresentados a uma imagem e solicitados a realizar uma rotação mental antes de identificar se a imagem apresentada correspondia à imagem original. ○ Resultados: A ativação das regiões anteriores e posteriores do hipocampo foi associada ao desempenho na tarefa de memória relacional, destacando a interdependência entre MCP e MLP. 3. Estudo de Shrager et al. (2008): ○ Investigação: Analisou se o desempenho em intervalos de tempo curtos depende da MCP ou da MLP. ○ Descoberta: A MCP envolve a manutenção ativa da informação. Pacientes amnésicos mostraram desempenho normal em tarefas sensíveis à distração, mas apresentaram déficits em tarefas insensíveis à distração que dependem da MLP, sugerindo que sua memória de curto prazo só falha em tarefas que necessitam da ativação da memória de longo prazo. 2.4) AVALIAÇÃO DO MODELO DE ARMAZÉM UNITÁRIO O Modelo de Armazém Unitário revitalizou o interesse na distinção entre MCP e MLP, reconhecendo que a ativação da MLP desempenha um papel significativo na MCP. Embora os pacientes amnésicos possam exibir defeitos em tarefas de memória relacional a curto prazo, há uma variação considerável em sua capacidade, dependendo da natureza da tarefa. Limitações do Modelo Apesar de suas contribuições, o modelo apresenta algumas limitações: Modelo Simplificado: A visão de que a MCP é meramente uma ativação da MLP é uma simplificação. Desempenho em Tarefas de Memória Relacional: Não há evidências concretas que indiquem que pacientes amnésicos apresentam falhas em tarefas de memória relacional a curto prazo, apenas nas que envolvem a MLP. Falta de Evidências de Apoio: Embora existam muitos estudos a favor do modelo, ainda faltam evidências que o suportem de maneira robusta. Jonides et al. (2008) sugerem que a ativação ocorre quando certas representações são o foco de atenção, enfatizando a importância do contexto e da atenção nos processos de memória. A interação entre MCP e MLP, bem como a forma como os pacientes amnésicos processam e acessam informações, continua a ser um campo fértil para pesquisa futura. 3. MEMÓRIA DE TRABALHO A Memória de Trabalho (MT) é um componente essencial no processamento e armazenamento temporário de informações necessárias para tarefas cognitivas complexas. O modelo de Memória de Trabalho proposto por Baddeley (2001) divide a memória de trabalho em vários subsistemas interconectados, que incluem a Ansa Fonológica, o Buffer Episódico, o Esquema Visuo-Espacial e o Executivo Central. 3.MODELO DE MEMÓRIA DE TRABALHO (BADDELEY, 2001) 3.1)ANSA FONOLÓGICA ○ Permite a aquisição, evocação e manutenção ativa de informações codificadas fonologicamente. É fundamental para a aprendizagem da linguagem, vocabulário, leitura, cálculo mental, contagem e compreensão oral. ○ Estudos de lesão e ativação cerebral revelaram que o lobo inferoparietal esquerdo e o lobo frontal esquerdo são cruciais para a função da Ansa Fonológica. 2. Evidências da Ansa Fonológica: ○ Efeito de Semelhança Fonológica: Estudo de Larsen, Baddeley e Andrade (2000): A evocação em série de itens fonologicamente semelhantes (como "FEE", "HE", "KNEE") foi 25% pior do que a evocação de itens fonologicamente distintos (como "BAY", "HOE"). Isso demonstra que a similaridade fonológica pode interferir na memória, indicando que duas tarefas que utilizam o mesmo componente (neste caso, a Ansa Fonológica) dificultam a execução conjunta. ○ Efeito do Comprimento das Palavras: Estudo de Baddeley, Thomson e Buchanan (1975): Os participantes recordaram um número de palavras equivalente ao que podiam ler em 2 segundos. Listas de palavras monossilábicas foram mais facilmente lembradas do que palavras dissilábicas. A supressão articulatória eliminou o efeito do comprimento das palavras, mostrando que a articulação verbal é um componente crítico da Ansa Fonológica. Quando duas tarefas utilizam o mesmo processo de controle articulatório, a execução simultânea se torna desafiadora. ○ Evocação Imediata: Estudo Adaptado de Baddeley et al. (1975): Avaliou a evocação imediata de palavras em função da modalidade de apresentação (visual vs. auditiva) e da presença/ausência de supressão articulatória. Os resultados sugerem que a apresentação auditiva favorece melhor a lembrança em comparação à apresentação visual, especialmente quando a supressão articulatória está presente. Isso ilustra que tarefas que utilizam componentes distintos podem ser realizadas simultaneamente, aumentando a eficiência da memória de trabalho. 3. Evidências de Lesões Cerebrais: ○ Estudos com indivíduos com lesões cerebrais (como JB e PV) revelaram: JB (Shallice & Butterworth, 1977): Apresentou um defeito na Memória de Curto Prazo (MCP) para material verbal, mas teve a produção verbal mantida, sugerindo que as funções de evocação e controle articulatório estão separadas na MT. PV (Vallar & Baddeley, 1984): Mostrou um desempenho diferente, com um armazém fonológico intacto e processo de controle articulatório comprometido, evidenciando que a memória de trabalho não é unitária e que a presença de lesões afeta diferentes componentes de maneira distinta. 4. Imagiologia Cerebral: ○ Estudos de Henson, Burgess & Frith (2000) sugerem que a ativação de certas áreas do cérebro está associada à execução de tarefas que exigem a Ansa Fonológica, destacando a relevância da neurociência na compreensão da MT. Execução Simultânea de Tarefas A capacidade de realizar duas tarefas simultaneamente depende dos componentes utilizados. Se duas tarefas requerem o mesmo componente da memória de trabalho, a execução conjunta é dificultada. Por outro lado, tarefas que utilizam componentes distintos podem ser realizadas juntas. Exemplo Prático: ○ Um estudo de Robbins et al. (1996) investigou os efeitos da execução simultânea de quatro tarefas secundárias durante jogadas de xadrez, comparando jogadores fracos e proficientes. Os resultados mostraram que jogadores proficientes foram capazes de gerenciar melhor a execução simultânea, indicando uma maior eficiência na utilização da memória de trabalho. Isso reforça a ideia de que a capacidade de realizar tarefas simultaneamente é maximizada quando as tarefas envolvem diferentes componentes da memória de trabalho. 3.2) ESQUIÇO VISUO-ESPACIAL O Esquiço Visuo-Espacial é um sistema que armazena e manipula informações visuais e espaciais, essencial para atividades como planeamento de tarefas espaciais e orientação geográfica. Ele é composto por dois componentes principais: o Armazém Visual (Visual Cache), que armazena informações sobre a forma e a cor, e o Escriba Interno (Inner Scribe), que lida com a informação espacial e o movimento, ensaiando a informação do Armazém Visual e transferindo-a para o Executivo Central. Relação com a Teoria e Evidências Experimentais A teoria que fundamenta o Esquiço Visuo-Espacial sugere que a capacidade de lidar com tarefas visuais e espaciais pode ser limitada pela interferência entre os componentes. Se duas tarefas utilizam o mesmo componente, como o Armazém Visual, a execução conjunta se torna difícil devido à sobrecarga cognitiva. Em contraste, tarefas que utilizam diferentes componentes (um visual e um espacial) podem ser realizadas simultaneamente, desde que não sobreponham os recursos de processamento. 1. Evidências de Baddeley et al. (1975): ○ Os participantes reproduziram uma matriz de dígitos apresentada auditivamente sob duas condições: uma que facilitava a visualização e outra que a tornava difícil ou impossível. Durante a tarefa, foi introduzida uma tarefa concorrente de busca motora, onde os participantes tinham que acompanhar um ponto de luz ao longo de um percurso circular. ○ Resultados: A condição que facilitava a visualização foi fortemente afetada pela tarefa concorrente, sugerindo que a sobrecarga do Esquiço Visuo-Espacial ocorre quando as tarefas competem pelos mesmos recursos, dificultando a execução simultânea. 2. Evidências de Baddeley e Lieberman (1990): ○ Este estudo examinou duas tarefas concorrentes: uma estritamente visual (avaliação de brilho) e outra estritamente espacial (apontar um pêndulo em movimento com os olhos vendados). ○ Resultados: A condição de difícil visualização apresentou maior interferência na tarefa visual, enquanto a condição de fácil visualização teve maior interferência na tarefa espacial. Isso mostra que as duas tarefas, apesar de diferentes, competem por recursos semelhantes quando executadas em conjunto. 3. Codificação Espacial e Armazém Visual: ○ Logie (1995) introduziu os conceitos do Armazém Visual e do Escriba Interno, destacando que o Escriba Interno planeja e executa movimentos corporais e de membros. Isso implica que o Esquiço Visuo-Espacial não apenas armazena informações, mas também participa ativamente na sua manipulação. 4. Evidências de Quinn e McConnell (1996): ○ Neste estudo, os participantes aprenderam listas de palavras associadas a locais familiares ou a rimas de fácil visualização. As tarefas concorrentes incluíam uma tarefa espacial (acompanhar um ponto em movimento) e uma tarefa visual (um estímulo visual dinâmico). ○ Resultados: A condição associada a uma localização familiar foi perturbada pela tarefa visual, evidenciando a utilização do Armazém Visual. Já a condição que envolvia rimas mostrou interferência de ambas as tarefas, sugerindo o envolvimento tanto do Armazém Visual quanto do Escriba Interno. 5. Lesões Cerebrais e Evidências Clínicas: ○ Pacientes com heminegligência representacional unilateral, como NL (Beschin et al., 1997), apresentaram fraco desempenho no uso do Esquiço Visuo-Espacial, apesar de manterem a percepção do lado esquerdo. Isso demonstra que as funções visuo-espaciais são independentes e podem ser afetadas por lesões específicas. ○ LH (Farah, 1988) exibiu um déficit em tarefas visuais de imagens mentais, mas manteve um processamento espacial relativamente intacto, reforçando a ideia de que o Armazém Visual e o Escriba Interno operam de maneira independente, mas interconectada. 6. Imagiologia Cerebral: ○ Smith e Jonides (1997) utilizaram PET para observar a atividade cerebral durante tarefas visuais e espaciais. A tarefa espacial ativou áreas do córtex pré-frontal, pré-motor, occipital e parietal, enquanto a tarefa visual ativou áreas do córtex parietal e inferotemporal. ○ Resultados: Isso sugere que as tarefas visuais e espaciais têm padrões de ativação cerebral distintos, corroborando a independência funcional dos componentes visuais e espaciais do Esquiço Visuo-Espacial. 3.3) EXECUTIVO CENTRAL O executivo central é uma componente crucial da memória de trabalho, funcionando como um sistema atencional com capacidade limitada. Sua principal função é coordenar os sistemas escravos (como o esquiço visuo-espacial e a memória fonológica), permitindo o gerenciamento eficiente de tarefas cognitivas complexas, como raciocínio, resolução de problemas, cálculo e aprendizagem. Funções do Executivo Central 1. Coordenação de Tarefas: O executivo central é responsável pela gestão do tempo entre múltiplas tarefas. Por exemplo, em estudos que envolvem duas tarefas concorrentes, o executivo central deve alternar a atenção e priorizar estímulos relevantes. Isso é vital em situações que exigem planejamento e execução de subtarefas para alcançar um objetivo. 2. Atualização e Verificação: Este componente também desempenha um papel na atualização e verificação dos conteúdos da memória de trabalho, assegurando que informações relevantes estão acessíveis enquanto tarefas diferentes são realizadas. 3. Atenção Seletiva e Inibição: O executivo central facilita a atenção seletiva, permitindo ao indivíduo concentrar-se em informações pertinentes enquanto inibe distrações. Essa função é especialmente importante em ambientes com muitos estímulos concorrentes. Evidências Experimentais 1. Dysexecutive Syndrome: Lesões no lobo frontal podem levar à síndrome do dysexecutive, caracterizada por uma perturbação da atenção, maior distração e dificuldades em extrair o todo a partir das partes. Essas dificuldades são frequentemente observadas em pacientes com lesões cerebrais, mostrando como a integridade do executivo central é vital para funções cognitivas superiores. 2. Tarefas de Geração Aleatória: Um exemplo de teste é a geração aleatória de números ou letras, que requer atenção intensa para evitar sequências estereotipadas. Neste contexto, Baddeley (1996) demonstra que a execução da tarefa principal de geração aleatória é dificultada quando os participantes têm que manter dígitos na memória a curto prazo. Esta situação ilustra como o executivo central opera sob carga cognitiva, realçando sua função de supervisão e controle. 3. Doença de Alzheimer: Estudos com pacientes com Alzheimer revelam uma perda progressiva das funções executivas. Em experimentos conduzidos por Baddeley (1996), foi estabelecido que a capacidade de memória de dígitos diminui com o progresso da doença, enquanto o desempenho do executivo central em tarefas de atenção concorrente permanece relativamente inalterado. Isso sugere que, mesmo que a memória a longo prazo seja afetada, a habilidade do executivo central para gerenciar a atenção pode estar preservada, revelando a complexidade das interações entre diferentes componentes da memória. 4. Imagiologia Cerebral: Revisões de estudos de imagem cerebral, como os realizados por Collette e Van der Linden (2002), mostram que áreas pré-frontais do cérebro são ativadas durante a execução de diversas tarefas executivas. A ativação dessas regiões sugere que elas desempenham um papel fundamental nos processos executivos gerais, enquanto outras áreas podem estar envolvidas em funções específicas. Essa observação corrobora a ideia de que o executivo central é um sistema complexo que integra informações de diferentes fontes. 5. Memória de Trabalho Verbal vs. Espacial: A pesquisa de Shah e Miyake (1996) investiga a relação entre a memória de trabalho verbal e espacial, revelando que a correlação entre o span de leitura e o span espacial é baixa. Em contrapartida, o span espacial apresenta uma correlação significativa com o QI espacial. Esses dados indicam que as diferentes modalidades de memória de trabalho podem operar de forma independente, implicando que o executivo central pode ter que gerir múltiplos sistemas com diferentes capacidades. 3.4) BUFFER EPISÓDICO O Buffer Episódico, conforme descrito por Baddeley e Wilson (2002), atua como um sistema de capacidade limitada que integra informações de diversas fontes. Ele funciona como um intermediário entre a ansa fonológica, o esquício visuo-espacial e a informação proveniente da memória de longo prazo (MLP). Aqui estão alguns pontos sobre o seu funcionamento e a relação com as evidências disponíveis: 1. Integração de Informações: O Buffer Episódico é responsável pela ligação ativa e pela combinação de diferentes tipos de informação (verbal e visual). Por exemplo, na pesquisa de Chincotta et al. (1999), a recordação de números árabes ou escritos em palavras demonstra que tanto a codificação verbal quanto a visual são integradas, evidenciando a capacidade do Buffer Episódico de processar e armazenar informações de múltiplas fontes. 2. Lesões Cerebrais: A pesquisa de Baddeley e Wilson (2002) destaca que pacientes amnésicos com deficiências nas funções executivas apresentam pior desempenho na recordação de frases em comparação com aqueles que mantêm funções executivas intactas. Isso sugere que a integridade do Buffer Episódico é crucial para a retenção de informações complexas, especialmente em cenários onde múltiplos tipos de dados precisam ser integrados. 3. Imagiologia Cerebral: Estudos como o de Prabhakaran et al. (2000) utilizando fMRI mostram ativação em redes neuronais nos lobos frontais que podem indicar um sub-sistema relacionado à retenção temporária e à integração de informações. Essa ativação reforça a ideia de que o Buffer Episódico desempenha um papel essencial na memória de trabalho. 3.5) AVALIAÇÃO DO MODELO DE MEMÓRIA DE TRABALHO O modelo de memória de trabalho proposto por Baddeley (2001) apresenta vantagens sobre o modelo tradicional de memória de curto prazo (MCP) de Atkinson e Shiffrin (1968): Desempenho em Tarefas Cognitivas Complexas: O modelo explica como o processamento ativo e o armazenamento temporário da informação são essenciais para a realização de tarefas cognitivas complexas. Casos de Lesões Cerebrais: A avaliação do modelo é enriquecida pelo desempenho de pacientes com lesões cerebrais, que muitas vezes revela falhas em componentes específicos da memória de trabalho, o que ajuda a validar a teoria. Evidências Experimentais: As investigações experimentais demonstram a validade do modelo, pois oferecem dados que sustentam a existência de componentes distintos (ansa fonológica, esquício visuo-espacial, executivo central e buffer episódico) que operam em conjunto. Ensaios Verbais: O modelo permite a opção de ensaios verbais, o que o torna mais realista ao considerar o funcionamento cotidiano da memória. Natureza e Papel do Executivo Central: Embora o executivo central seja um componente crítico, sua natureza e papel ainda não são completamente especificados, o que aponta para a necessidade de mais pesquisa. Papel do Buffer Episódico: O papel dos processos do Buffer Episódico ainda está por investigar, o que significa que há espaço para novas descobertas que possam enriquecer o nosso entendimento da memória de trabalho. 4) TEORIA DOS NÍVEIS DE PROCESSAMENTO A TNP sugere que a profundidade do processamento durante a aprendizagem influencia diretamente a retenção de informações na Memória de Longo Prazo (MLP). Processamentos mais profundos (análise semântica) levam a traços mnésicos mais duradouros do que processamentos superficiais (como a repetição). 1. Estudo de Hyde e Jenkins (1973) Evidência: Este estudo demonstrou que o número médio de palavras recordadas varia de acordo com a relação semântica da lista e o tipo de tarefa. Listas com relações semânticas levam a uma melhor recordação. Relação com a TNP: Os resultados de Hyde e Jenkins estão em linha com a TNP, que afirma que uma análise semântica mais profunda (como a que é realizada em listas com relações semânticas) resulta em melhores traços mnésicos. A natureza da tarefa e o envolvimento cognitivo determinam a eficácia do armazenamento, corroborando a ideia de que um processamento mais elaborado aumenta a retenção. 2. Craik e Tulving (1975) Evidência: Os autores observaram que frases complexas resultaram em melhor recordação do que frases simples. As frases complexas exigiram um processamento mais profundo, envolvendo uma análise semântica. Relação com a TNP: Este estudo fornece evidências adicionais para a TNP, uma vez que sugere que a complexidade da informação processada está diretamente relacionada ao nível de retenção. O processamento semântico rico e elaborado facilita a integração das informações na MLP, destacando a importância de elaborar o material para promover a memória. 3. Bransford et al. (1979) Evidência: As analogias complexas melhoraram a recordação em comparação com analogias simples, mas apenas quando a complexidade da tarefa foi considerada. Relação com a TNP: Essa pesquisa reforça a noção de que o nível de elaboração semântica e a natureza da tarefa são cruciais para a retenção. Quando os sujeitos são desafiados a processar informações de maneira mais profunda, a recordação é acentuada, apoiando a ideia de que os traços mnésicos resultantes de análises mais profundas são mais eficazes. 4. Eysenck (1979) Evidência: O estudo mostrou que palavras processadas semânticamente (como os elementos únicos) eram mais facilmente recordadas do que palavras tratadas de forma não semântica. Relação com a TNP: A pesquisa de Eysenck indica que o tipo de processamento (semântico vs. não semântico) impacta a memória. A TNP propõe que traços mnésicos são registros das análises feitas durante a percepção. Assim, processar palavras em termos de significado (semântica) resulta em uma codificação mais robusta, fortalecendo a retenção na MLP. 5. Nyber et al. (2003) Evidência: A pesquisa utilizando imagiologia cerebral revelou que as áreas do cérebro associadas à percepção e ao armazenamento da informação eram ativadas de maneira mais significativa durante o processamento de palavras visuais emparelhadas com sons. Relação com a TNP: Este estudo sugere que a ativação das áreas cerebrais durante o processamento de diferentes tipos de informação está correlacionada com a profundidade do processamento. Isso se alinha com a TNP, que postula que traços mnésicos refletem a análise realizada durante a percepção. A evidência da imagiologia cerebral fornece um suporte neurológico à teoria, indicando que diferentes tipos de processamento ativam diferentes regiões cerebrais, implicando em uma relação entre o nível de processamento e a eficácia da memória. 4.1) AVALIAÇÃO DA TEORIA Contributos: A TNP trouxe à luz a importância dos processos de aprendizagem na MLP e estabeleceu a elaboração e a distinção como fatores críticos para a retenção da memória, algo que antes não era suficientemente investigado. Limitações: A teoria enfrenta desafios em termos de medir o nível de processamento efetivo e em explicar por que o processamento semântico é mais eficaz. A falta de uma medida independente do tipo de processamento pode levar a raciocínios circulares, e a teoria não aborda adequadamente memórias implícitas. 5) TEORIA DA TRANSFERÊNCIA DO PROCESSAMENTO A TTP argumenta que diferentes tipos de processamento resultam na aquisição de diferentes tipos de informação, e que a eficácia dessa informação em tarefas futuras depende da sua relevância para a tarefa em questão. Ou seja, a forma como a informação é processada afeta não apenas o que é lembrado, mas também como é lembrado e utilizado. 1. Estudo de Morris, Bransford e Franks (1977) Evidência: No estudo, foi observado que a média da proporção de palavras reconhecidas variava em função da tarefa (semântica ou de avaliação de rima) e do tipo de reconhecimento (semântico ou rima). Palavras que foram processadas em tarefas semânticas apresentaram melhor desempenho em reconhecimento semântico. Relação com a TTP e TNP: Os resultados demonstram que a informação processada de maneira semântica foi mais eficaz em tarefas de reconhecimento que exigiam a mesma profundidade de processamento. Isso reforça a ideia de que a forma como a informação é processada (superficial vs. profunda) é fundamental para determinar o sucesso em tarefas de memória. A TTP complementa a TNP ao sugerir que a relevância do processamento em relação à tarefa final é crucial para a recordação. Integração da TTP com a TNP Transferência e Relevância: A TTP sugere que a eficácia da memória não depende apenas da profundidade do processamento, mas também de quão relevante é a informação para a tarefa que se segue. Por exemplo, se uma pessoa processa uma palavra em um contexto rítmico, essa informação pode não ser tão útil quando se pede que ela reconheça o significado da palavra em um contexto semântico. Assim, a transferibilidade da informação é importante. Processamento Superficial vs. Profundo: Lockhart e Craik (1990) discutem que o processamento superficial não leva automaticamente ao esquecimento rápido, e que as interações entre processos ascendentes (da percepção) e descendentes (das expectativas e conhecimentos prévios) influenciam a retenção. A TTP, portanto, sugere que um processamento mais profundo é frequentemente necessário, mas não garante por si só um bom desempenho em tarefas futuras. Avaliação da TTP Contributos: A TTP oferece um entendimento mais nuançado de como o processamento de informação pode impactar a memória, levando em conta a interação entre o tipo de tarefa e a natureza da informação armazenada. Isso é um avanço sobre as visões mais simplistas que apenas enfatizam a profundidade do processamento. Limitações: Uma limitação da TTP é que ela pode não explicar completamente por que algumas informações processadas de forma superficial ainda são retidas a longo prazo. Além disso, a teoria pode enfrentar desafios ao definir claramente o que constitui "relevância" em diferentes contextos. 6) APRENDIZAGEM IMPLÍCITA Definição A aprendizagem implícita refere-se à aquisição de informação complexa sem que o indivíduo tenha um conhecimento verbalizável completo do que aprendeu. Segundo Seger (1994), fala-se de aprendizagem implícita quando a consciência do que foi aprendido é limitada. Diferenças entre Sistemas de Aprendizagem Os sistemas de aprendizagem e memória implícitos diferem dos explícitos em vários aspectos, conforme descrito por Reber (1993): 1. Robustez: Os sistemas implícitos são menos afetados por perturbações ou desordens, como a amnésia. 2. Independência da Idade: A aprendizagem implícita é menos influenciada pela idade ou pelo nível de desenvolvimento. 3. Independência do QI: O desempenho em tarefas que requerem conhecimento implícito não depende significativamente do QI. 4. Semelhanças entre Espécies: Os sistemas implícitos são comuns a várias espécies, indicando uma base biológica ampla para essa forma de aprendizagem. Investigação sobre Aprendizagem Implícita Pesquisas têm explorado como a aprendizagem implícita ocorre em indivíduos saudáveis e em pacientes com lesões cerebrais que sofrem de amnésia. Questões centrais incluem a preservação da aprendizagem implícita em comparação com a explícita e as diferenças nas áreas cerebrais ativadas durante cada tipo de aprendizagem. Critérios para Avaliação da Aprendizagem Implícita Shanks e St. John (1994) propuseram dois critérios para identificar a aprendizagem implícita: Critério Relacionado com a Informação: A informação solicitada numa tarefa consciente deve ser a responsável pelo progresso no desempenho. Critério de Sensibilidade: O teste deve ser sensível a toda a informação relevante. Evidências Experimentais 1. Howard e Howard (1992) Os participantes mostraram aprendizagem implícita de um padrão sem consciência explícita do que aprenderam. Esta evidência se relaciona com a teoria ao exemplificar que a aprendizagem pode ocorrer de forma não consciente, sustentando a ideia de que a informação é adquirida mesmo sem a verbalização, o que caracteriza a essência da aprendizagem implícita. 2. Shea et al. (2001) Neste estudo, os participantes imitaram movimentos e seu desempenho piorou quando informados sobre a repetição de segmentos, indicando que o conhecimento explícito pode interferir na aprendizagem implícita. Isso é relevante para a teoria, pois sugere que a consciência do que se aprende pode inibir processos automáticos de aprendizagem, sublinhando a complexidade dos sistemas implícitos e explícitos. 3. Wilkinskinson e Shanks (2004) A comparação entre o uso de conhecimento da sequência e a exclusão de segmentos conhecidos revelou que os participantes que utilizaram conhecimento explícito tiveram um desempenho melhor. Isso evidencia a interdependência entre os sistemas de aprendizagem, reforçando a ideia de que a aprendizagem implícita e explícita não são mutuamente exclusivas, mas sim interagem de maneiras complexas. Aprendizagem Implícita em Pacientes Amnésicos 1. Knowlton et al. (1992) Os amnésicos foram capazes de discriminar sequências gramaticais, indicando que a aprendizagem implícita permanece intacta mesmo quando a memória explícita está comprometida. Isso sugere que os sistemas implícitos podem operar independentemente de outros fatores que afetam a aprendizagem explícita, corroborando a robustez da teoria da aprendizagem implícita. 2. Channon et al. (2002) Os amnésicos demonstraram uma tendência a aprender fragmentos de sequências sem a capacidade de extrair regras. Isso relaciona-se à teoria ao destacar a especificidade da aprendizagem implícita, que se concentra em padrões e fragmentos em vez de regras gerais, evidenciando que a natureza da aprendizagem implícita pode ser distinta em indivíduos com comprometimentos de memória. 3. Gooding et al. (2002) Os amnésicos apresentaram desvantagens na aprendizagem em tarefas complexas, enfatizando que a aprendizagem implícita pode ser preservada, mas enfrenta limitações em contextos que exigem mais complexidade. Isso reforça a ideia de que, embora a aprendizagem implícita seja robusta, sua eficácia pode variar dependendo das condições da tarefa. Imagiologia Cerebral 1. Grafton et al. (1995) O uso de PET scans revelou que a aprendizagem implícita e explícita ativa diferentes áreas cerebrais, com a primeira envolvendo o córtex motor, enquanto a segunda ativa áreas relacionadas à memória explícita. Isso oferece suporte neurobiológico à teoria, demonstrando que os processos implícitos e explícitos são mediadores diferentes no cérebro, o que ajuda a explicar as diferentes formas de aquisição de conhecimento. 2. Schendan et al. (2003) Este estudo com fMRI mostrou que as mesmas regiões do cérebro foram ativadas em tarefas de aprendizagem implícita e explícita, indicando uma interconexão entre os sistemas. Essa relação reforça a noção de que, apesar das diferenças, existe uma interdependência que pode facilitar a aprendizagem em ambas as modalidades, sugerindo que a compreensão da aprendizagem implícita não pode ser totalmente dissociada da aprendizagem explícita. 6.1) APRENDIZAGEM EXPLÍCITA E IMPLÍCITA Aprendizagem Explícita: Refere-se ao processo consciente de adquirir conhecimento, onde o indivíduo pode verbalizar e refletir sobre o que aprendeu. Exemplos incluem a memorização de informações para um exame ou o aprendizado de uma nova língua. Aprendizagem Implícita: É a aquisição de conhecimento sem a consciência do aprendizado. O indivíduo pode não ser capaz de articular o que aprendeu, mas demonstra essa aprendizagem através de comportamentos ou habilidades. Um exemplo é aprender a andar de bicicleta: a pessoa não precisa pensar conscientemente em cada movimento. 1. Interligação Entre Aprendizagem Implícita e Explícita A. Aprendizagem em Paralelo (Willingham e Goedert-Eschmann, 1999) A teoria sugere que tanto a aprendizagem implícita quanto a explícita podem ocorrer simultaneamente. Isso implica que enquanto um indivíduo aprende de forma consciente (explícita), ele também pode estar assimilando informações de forma não consciente (implícita). Por exemplo, ao estudar gramática (explícito), um aluno pode desenvolver um senso intuitivo da linguagem (implícito). B. Teoria da Interferência A teoria da interferência aborda como aprendizagens anteriores ou posteriores afetam a recordação de informações, tanto em aprendizagens explícitas quanto implícitas. A interferência pode ser proativa (onde uma aprendizagem anterior impede a nova) ou retroativa (onde a nova aprendizagem interfere na recordação da anterior). 1. Interferência Proativa: ○ Aqui, uma aprendizagem anterior dificulta a aprendizagem ou recordação de informações novas. Por exemplo, se um estudante aprende um novo idioma, o que aprendeu anteriormente pode interferir na sua capacidade de lembrar palavras ou regras da nova língua. 2. Interferência Retroativa: ○ Neste caso, a aprendizagem nova dificulta a recordação de aprendizagens anteriores. Por exemplo, após aprender uma nova habilidade motora, um indivíduo pode esquecer como executar uma habilidade antiga que envolvia movimentos semelhantes. 2. Evidências Experimentais As evidências experimentais ilustram essas interações de diversas maneiras: Tarefa de Completar Fragmentos (Underwood & Postman, 1960): Nesta tarefa, participantes que tinham visto previamente uma palavra (por exemplo, "ALLERGY") tinham melhor desempenho ao completar fragmentos relacionados a essa palavra. No entanto, aqueles que viram palavras semelhantes (mas não idênticas) apresentaram um desempenho inferior. Isso demonstra como aprendizagens implícitas (associações não conscientes) e explícitas (palavras visíveis) interagem e podem interferir umas nas outras. Anderson e Green (2001): Nesta investigação, foram observadas condições de evocação e supressão, revelando que a recordação pode ser afetada pelo número de vezes que as pistas foram apresentadas. Isso aponta para a ideia de que as aprendizagens explícitas e implícitas estão sob a influência de processos ativos de recuperação e supressão. 3. Limitações da Teoria da Interferência Anderson (2003) ressalta que a teoria da interferência possui limitações, como: A necessidade de investigar mais a fundo os processos ativos que reduzem a interferência. O foco desproporcional nos mecanismos de interferência nas memórias explícitas em comparação com as implícitas. A consideração de que a interferência é frequentemente observada em condições raras e não representa completamente a complexidade da aprendizagem na vida real. 7. PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE DA CODIFICAÇÃO Definição: O Princípio da Especificidade da Codificação estabelece que um item a ser lembrado (TBR) é codificado em relação ao contexto em que é estudado, criando um traço único que incorpora informações tanto do alvo quanto do contexto. Para que o item TBR seja recuperado, as pistas de informação devem corresponder apropriadamente ao traço do item em seu contexto. Citação Importante: Tulving (1979) afirma que "a probabilidade de recuperação bem-sucedida do item alvo é uma função monótona crescente da sobreposição informacional entre as informações presentes na recuperação e as informações armazenadas na memória". Tipos de Esquecimento A. Esquecimento Dependente do Traço: Neste tipo, a informação já não está armazenada na memória. Isso pode ocorrer devido à falta de codificação eficaz ou ao tempo decorrido, resultando na perda da informação. B. Esquecimento Dependente das Pistas: Aqui, a informação permanece na memória, mas não está acessível. Isso pode acontecer se as pistas disponíveis no momento da recuperação não correspondem suficientemente ao contexto em que a informação foi inicialmente aprendida. 7.1) PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE DA CODIFICAÇÃO EVIDÊNCIAS E RELAÇÃO COM A TEORIA: Experimentos de Aprendizagem: A evidência de que os participantes se saem melhor em tarefas de recuperação quando as pistas correspondem ao contexto de codificação reflete diretamente o princípio. Isso demonstra que a recuperação é otimizada quando há congruência entre as pistas disponíveis no momento da recuperação e o contexto original. Portanto, a eficácia da recuperação está diretamente ligada à especificidade da codificação, confirmando a teoria de Tulving sobre a necessidade de correspondência entre traços mnésicos e pistas contextuais. Thomson e Tulving (1970): Neste estudo, a média de palavras recordadas foi maior quando as pistas de entrada estavam alinhadas com o contexto original. Isso evidencia que a correspondência contextual não só facilita a recuperação, mas também sugere que a informação é codificada em associação com o contexto, como defendido pelo princípio da especificidade da codificação. 8. TEORIA DA MODIFICAÇÃO DO CONTEXTO Mensink e Raaijmakers (1988): Esta teoria sugere que o esquecimento pode ocorrer ao longo do tempo, caso as pistas no momento da recuperação estejam menos associadas ao traço mnésico do que as pistas durante a codificação. A flutuação contextual pode enfraquecer a acessibilidade do traço mnésico. 9. TEORIA DA CONSOLIDAÇÃO Definição: A Teoria da Consolidação sugere que a memória se torna mais estável e menos vulnerável ao esquecimento ao longo do tempo, e esse processo de consolidação pode demorar horas ou até dias. Memórias recentes: A vulnerabilidade das memórias recentes à interferência e ao esquecimento reforça a teoria da consolidação, que sugere que as memórias precisam de tempo e processos adequados para se fixarem na memória de longo prazo. Essa relação implica que, sem a consolidação eficaz, as memórias permanecem mais suscetíveis a fatores externos, como novas aprendizagens ou mesmo esquecimentos naturais. Sono e retenção: O fato de que o sono após a aprendizagem melhora a retenção é um suporte direto à teoria da consolidação. Durante o sono, o cérebro está ativo em processar e consolidar informações, aumentando a probabilidade de que as memórias sejam preservadas e acessíveis mais tarde. Álcool e retenção: A evidência de que o consumo de álcool pode melhorar a retenção ao reduzir a interferência de novas informações também se alinha com a teoria da consolidação, pois sugere que a preservação da memória inicial é favorecida quando não há novos traços mnésicos que possam interferir no que foi recentemente aprendido. 10) SISTEMA DE MEMÓRIA A LONGO PRAZO SISTEMAS DE MEMÓRIA SEGUNDO SCHACTER E TULVING (1994) A memória humana pode ser entendida através de um modelo composto por diferentes sistemas, cada um com características e funções específicas (Schacter & Tulving, 1994). Este modelo permite organizar os processos de retenção e evocação de informações, compreendendo a memória como uma estrutura com múltiplos sistemas especializados. 1. Memória de Trabalho e Memória a Longo Prazo ➔ A memória humana divide-se em Memória de Trabalho e Memória a Longo Prazo. Enquanto a primeira lida com informações temporárias e manipuláveis, a segunda armazena dados de forma mais duradoura. 2. Memória a Longo Prazo Dentro da Memória a Longo Prazo, encontramos três subcategorias principais: ➔ Memória Procedimental: Envolve habilidades motoras e procedimentos automáticos, como andar de bicicleta. ➔ Memória Declarativa: Contém informações factuais e eventos, dividindo-se em: ➔ Memória Semântica: Conhecimento geral e conceptual do mundo (ex., significado das palavras). ❖ Memória Episódica: Armazenamento de eventos específicos, ocorridos num tempo e lugar determinados. ❖ Memória de Representação Perceptiva: Refere-se a memórias ligadas ao reconhecimento de padrões e objetos familiares. 3. Critérios para Identificar um Sistema de Memória (Schacter & Tulving, 1994; Schacter, Wagner & Buckner, 2000) ❖ Para categorizar um sistema de memória, Schacter e Tulving definiram três critérios: ➔ Operações/Processos: Cada sistema é caracterizado por operações ou processos específicos de um domínio. Exemplo: a memória semântica processa conhecimento conceptual, enquanto a memória episódica lida com a evocação de eventos. ➔ Propriedades e Relações: Cada sistema tem um tipo de informação específica, um conjunto de regras de funcionamento, e um substrato neuronal associado. Por exemplo, a memória episódica envolve a ativação do lobo temporal medial. ➔ Dissociações Convergentes: A distinção entre sistemas é sustentada pela forma como diferentes patologias afetam os sistemas de maneira específica. Por exemplo, na Síndrome Amnésica, há dissociações claras: ❖ Amnésia Anterógrada: Incapacidade de reter novas informações. ❖ Amnésia Retrógrada: Dificuldade em recordar eventos anteriores ao episódio de amnésia. Apesar da amnésia, a memória de trabalho permanece apenas ligeiramente perturbada, e certas habilidades de aprendizagem podem ser preservadas. 4. Memória Explícita e Implícita ❖ Memória Explícita: Exige um esforço consciente para a evocação. Um exemplo comum seria recordar factos ou experiências pessoais deliberadamente. ❖ Memória Implícita: O desempenho em certas tarefas é facilitado sem necessidade de evocação consciente. Por exemplo, após a exposição a um estímulo, uma pessoa pode exibir uma resposta facilitada mesmo sem lembrar o estímulo explicitamente. ➔ Evidência: ★ Seger et al. (2000) demonstraram a ativação de diferentes áreas cerebrais associadas a memórias explícitas e implícitas. Numa tarefa de aprendizagem de gramática artificial, os participantes foram divididos em duas condições: ★ Condição 1 (Memória Explícita): Envolvia uma tarefa de reconhecimento e mostrou ativação do córtex frontal direito, precuneus e córtex occipital médio. ★ Condição 2 (Memória Implícita): Exigia apenas a avaliação da gramaticalidade e resultou em menor ativação do precuneus e do córtex occipital lateral, sugerindo um processamento menos consciente. ★ Conclusão: Esta evidência demonstra como a memória explícita ativa áreas do cérebro associadas ao processamento consciente e atento, enquanto a memória implícita depende menos dessas áreas, funcionando de forma mais automática. Esta dissociação entre processos e áreas cerebrais comprova a separação entre sistemas de memória explícita e implícita, sustentando o modelo teórico de Schacter e Tulving. 5. Memória Declarativa ○ Memória Episódica: Refere-se ao armazenamento e evocação de eventos específicos, permitindo ao indivíduo reviver experiências passadas (Tulving, 1972). A consciência deste tipo de memória é evidenciada quando revivemos conscientemente eventos específicos (Wheeler et al., 1997). ○ Memória Semântica: Envolve o conhecimento estruturado que possuímos sobre o mundo, incluindo significados de palavras, símbolos, regras e conceitos (Tulving, 1972). A consciência da memória semântica é o conhecimento que temos sem necessariamente reviver a experiência original (Wheeler et al., 1997). 6. Diferenças entre Memória Episódica e Memória Autobiográfica ○ Memória Autobiográfica: Armazena eventos e experiências importantes para o indivíduo, permanecendo por longos períodos. Exemplo: recordações de infância ou momentos marcantes. ○ Memória Episódica: Abrange eventos mais triviais que tendem a ser retidos por períodos curtos. Esta distinção é crucial para entender a longevidade e relevância das memórias armazenadas. 10.1) MEMÓRIA SEMÂNTICA: ARMAZENAMENTO DE INFORMAÇÃO 1. Evidência de Pacientes com Lesão Cerebral Estudos de pacientes com lesões cerebrais forneceram insights importantes sobre a organização da memória semântica. ○ Warrington & Shallice (1984): O caso de JBR mostrou uma dificuldade em reconhecer objetos animados, com uma taxa de reconhecimento de 6%, em contraste com os objetos inanimados, com 90% de precisão. Isto sugere que diferentes categorias de objetos (animados vs. inanimados) podem ter representações distintas na memória semântica. ○ Martin & Caramazza (2003): Encontraram um padrão inverso em alguns pacientes, indicando a possibilidade de variações individuais no armazenamento semântico. ○ Caramazza & Shelton (1998): No caso de EW, observou-se que os defeitos de reconhecimento não se explicam pela familiaridade ou frequência dos objetos, reforçando a ideia de que o armazenamento semântico pode estar associado a características específicas, possivelmente categorizadas no cérebro. Áreas Cerebrais Associadas: ○ Estudos de Damásio et al. (1996) mostram que diferentes regiões do hemisfério esquerdo se associam ao reconhecimento de objetos, incluindo rostos famosos, animais e ferramentas, indicando uma organização categorial da memória semântica. 2. Evidência de Imagiologia Cerebral Revisões e estudos de imagiologia cerebral (PET) analisaram as ativações cerebrais associadas a objetos naturais e artefatos. ○ Friston e Price (2003): Identificaram uma ativação mais consistente do gyrus temporal médio posterior esquerdo durante o processamento de artefactos, ainda que haja grande variabilidade entre estudos. ○ Devlin et al. (2003): Encontraram uma ativação do polo temporal médio anterior para animais e do gyrus temporal médio posterior para ferramentas. No entanto, os resultados sugerem que, apesar das diferenças, o sistema semântico pode não ser totalmente diferenciado por categorias a nível neural. 10.2)EXPLICAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O ARMAZENAMENTO NA MEMÓRIA SEMÂNTICA 1. Teoria Sensorial-Funcional (Farah e McClelland, 1991) Propõe que: ○ Objetos animados são diferenciados principalmente por propriedades visuais ou perceptivas. ○ Objetos inanimados distinguem-se pela sua função. ○ Existe um maior número de unidades visuais do que funcionais no sistema semântico. A teoria é apoiada por modelos computacionais que simulam o desempenho de pacientes com lesões cerebrais. No entanto, apresenta algumas limitações, como a incapacidade de explicar defeitos mais específicos (ex.: dificuldades com plantas mas não com animais) e a falta de uma definição clara de "propriedade funcional". 2. Organização Hierárquica do Conhecimento Conceptual (Martin e Caramazza, 1991) Segundo esta teoria, o conhecimento conceptual é organizado em grandes domínios que refletem distinções semânticas importantes, como aquelas que emergem ao longo da evolução. Propõe que existem mecanismos neurais especializados para o reconhecimento e entendimento de certas categorias de conhecimento, como seres vivos e objetos inanimados. 10.3)COMPARAÇÃO ENTRE MEMÓRIA SEMÂNTICA E MEMÓRIA EPISÓDICA Semelhanças Ambas registam informação e integram o sistema de memória declarativa. Diferenças Tulving (2002): Observou que a amnésia anterógrada é mais acentuada para a memória episódica do que para a memória semântica, sugerindo uma dissociação funcional entre os dois tipos de memória. Vargha-Khadem et al. (1997): Estudaram pacientes com lesões no hipocampo desde a infância, observando que, embora tivessem uma memória episódica muito fraca, apresentavam desenvolvimento normal em outros aspetos, como linguagem e conhecimento factual. Verfaelli, Koseff e Alexander (2000): Identificaram um paciente (PS) capaz de adquirir novas memórias semânticas apesar das lesões no hipocampo, reforçando a ideia de que a memória semântica pode ser menos dependente do hipocampo. Yasuda, Watanabe e Ono (1997): Relataram um paciente com boa memória episódica, mas fraca memória semântica, o que demonstra uma dupla dissociação entre os dois sistemas. Conclusão Estudos sobre lesões cerebrais e imagiologia cerebral, juntamente com explicações teóricas, sugerem que a memória semântica está organizada em categorias que podem refletir distinções perceptuais e funcionais. As evidências de dupla dissociação com a memória episódica reforçam a independência funcional entre esses sistemas, com cada um deles possuindo processos, estruturas e finalidades específicos no armazenamento de informação.

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