Ser Psicólogo - O Início da Carreira em Psicologia PDF

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Instituto Piaget

2022

Ordem dos Psicólogos Portugueses

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psicologia início de carreira psicólogos desenvolvimento profissional

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"Ser Psicólogo - O início da carreira em Psicologia" é uma obra da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) direcionada a estudantes, psicólogos recém-formados e psicólogos júnior. O livro aborda tópicos como autoconhecimento, postura profissional, mercado de trabalho e networking, com uma perspectiva de desenvolvimento profissional contínuo. O conteúdo visa auxiliar os profissionais a lidar com os desafios do início de carreira na área da psicologia.

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SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA PISTAS PARA QUEM ESTÁ A DAR OS PRIMEIROS PASSOS NUMA CARREIRA EM PSICOLOGIA 1º VOLUME DA COLECÇÃO DE ARTIGOS PSICARREIRAS OPP INCLUI 9 ARTIGOS...

SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA PISTAS PARA QUEM ESTÁ A DAR OS PRIMEIROS PASSOS NUMA CARREIRA EM PSICOLOGIA 1º VOLUME DA COLECÇÃO DE ARTIGOS PSICARREIRAS OPP INCLUI 9 ARTIGOS INÉDITOS ÍNDICE 04 Prefácio 05 Notas Prévias 06 Perspectivas sobre o Início da Carreira em Psicologia - Artigos Inéditos de Convidados 07 Ser-se e Fazer-se Psicólogo 09 A Provedora do Psicólogo Júnior no papel de Psicóloga Júnior 11 (Des)Construir o prelúdio do nosso percurso profissional – Cartografia de uma viagem 14 Da teoria à prática em cinco competências 16 Sonhos e Projectos de Vida no Início da Carreira 18 A (Quase) Receita de Bolso para o Sucesso na Carreira: O primeiro passo no Desenvolvimento Profissional Contínuo 20 Terminei a faculdade… e agora? 22 Com que Lentes quero ver o meu Futuro? 24 Ano Profissional Júnior… um contributo determinante para a qualidade da carreira em Psicologia 26 Por onde Começar? Autoconhecimento 27 Ser Psicólogo / Tornar-se Pessoa 29 A Psicologia é uma Viagem 31 Escutar por Dentro 33 Interesses, Carreira e Vocação 35 Competências Suaves, Competências Cruciais 37 Um Percurso em Retrospectiva (e a tomada de decisão na carreira) 40 O que Dizem as suas Crenças? 42 Postura e Atitude do (futuro) Psicólogo 43 O Caminho faz-se Caminhando 45 O Papel da Sorte na Gestão de Carreira 47 Não Há Soluções, Há Caminhos 49 Assumir Preferências: A (in)Diferença na Gestão de Carreira 51 Em Caso de Dúvida, Mantenha o (este) Charme 53 Alta Fidelidade 55 Mindset fixo ou mindset de crescimento? Eis a (grande) questão! 58 Reflexões para Estudantes (mas não só) 59 Finalista em Tempos de Pandemia 61 De Estudante a Membro Efectivo…em Pandemia 63 Sou estudante de Psicologia (O que gostava que me tivessem dito) 66 O lado selvagem (para estudantes de Psicologia) 68 Empreendedorismo em Psicologia (para estudantes) – da atitude à acção 71 Abordar o Mercado de Trabalho 72 Guia de Sobrevivência - A Adaptação a um Novo Emprego 74 Os Fantasmas do Início da Carreira 77 Psicologia 2021: Necessidades vs. Oportunidades 79 Júnior, com muito Orgulho - 10 Anos de Estágios Profissionais 81 O Psicólogo e os Outros – Redes Profissionais 82 Dar e Receber 84 Nutrir a Relação, Nutrir a Carreira 86 Job Shadowing: Espreitar a Profissão 88 A Supervisão ao Longo da Vida SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 02 FICHA TÉCNICA TÍTULO Ser Psicólogo — O Início da Carreira em Psicologia 1º Volume da Coleccção de Artigos PsiCarreiras OPP AUTORES Ordem dos Psicólogos Portugueses COLABORAÇÃO Ana Catarina Dias Ana Catarina Silva Ana Fraga Silva Ana Leonor Baptista Ana Sofia Nobre Edite Queiroz Joana Almeida Monteiro Leonor Pinheiro Luís Filipe Mafalda Reis Mariana Mendonça Marta Alves Pedro Félix Rita Tavira Santos Rodrigo Diniz Sara Zeferino Sofia Andrade Sofia Cardoso Vanessa Yan LOCAL Lisboa DATA Setembro 2022 SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 03 PREFÁCIO Uma pandemia por COVID-19 de impacto global, porventura apenas comparável com a pandemia pelo vírus influenza de há um século. Uma Guerra na Europa apenas comparável com Guerras de há várias décadas. Uma crise socioeconómica no horizonte, que a muitas e muitos lembra a crise que vivemos há cerca de uma década. A inversão de um caminho de maior liberdade e democracia, pelo crescimento, nos últimos anos, do autoritarismo. TIAGO PEREIRA PSICÓLOGO E COORDENADOR DO Tudo a lembrar-nos que o passado conta, que o passado “não está GABINETE DE CRISE COVID-19 E MEMBRO morto”, que “nem sequer é passado”, como escreveu Faulkner. Tudo DA DIRECÇÃO DA ORDEM DOS PSICÓLOGOS PORTUGUESES a lembrar-nos os enormes e complexos desafios que, no presente e para o futuro, se colocam à sociedade e às pessoas e a necessidade da ciência psicológica e das psicólogas e psicólogos, sistematicamente, se desenvolverem e adaptarem a novos desafios e realidades, para melhor lhes responderem. Este e-book procura, também, reflectir este cenário. Porque parte, e é parte, de uma história, de muitas pessoas e vontades, que desde há anos, empenhada e corajosamente, permitem e suportam o sólido investimento da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) no processo de desenvolvimento profissional e na capacitação de psicólogas e psicólogos para se pensarem nos desafios dos diferentes momentos da sua carreira. Este investimento, em todo o ciclo (desde quando ainda estudantes de psicologia) e com múltiplas e diversificadas iniciativas, tem apresentado resultados significativos (também, mas não apenas, na empregabilidade) e é diferenciador no quadro da acção das associações públicas profissionais. É-o, exactamente porque assenta numa perspectiva de valorização de cada etapa (do passado, presente e futuro), da identidade da profissão e de cada profissional. É-o, porque se liga à necessidade constante de adaptação da ciência e prática a novos desafios, realidades e áreas, apenas possível com o envolvimento permanente, intencional e suportado de cada psicóloga e psicólogo, na gestão do seu percurso profissional. Que este primeiro volume da colecção de artigos Psicarreiras da OPP, deliberadamente dirigido aos “primeiros passos”, possa ser mais um contributo nesse sentido. Que possam, como eu, rever-se e reflectir, dando dessa forma sentido e significado ao testemunho, partilha e contributo de pares que vive(ra)m desafios próximos. Desafios, mas também o desejo que partilho e partilhamos de enquanto psicólogas e psicólogos contribuirmos com a nossa ciência e com a nossa prática para uma sociedade mais justa, coesa e equitativa e para a saúde, bem- estar e possibilidade de autodeterminação de cada uma das pessoas que a constitui. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 04 NOTAS PRÉVIAS MEMBRO EFECTIVO PSICÓLOGO JÚNIOR DIPLOMADO ESTUDANTE EM PSICOLOGIA FORMAÇÃO BASE EM PSICOLOGIA REFLEXÕES PARA ENTRAR NO POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO ESTUDANTES MERCADO ATITUDE DO (FUTURO) PSICÓLOGO (MAS NÃO SÓ) DE TRABALHO O PSICÓLOGO E OS OUTROS — REDES PROFISSIONAIS No âmbito das iniciativas PsiCarreiras OPP, os re- suas próprias reflexões, inquietações, necessidades cursos de apoio ao desenvolvimento e gestão de e interesses. carreira dos Psicólogos, organiza-se este primeiro volume de uma colecção que reúne artigos publica- Abre-se logo com uma colecção de artigos inédi- dos no blog PsiCarreiras. Esta primeira colectânea é tos deste ebook, escritos por convidados. Passa-se dedicada ao Início da Carreira em Psicologia, con- então a uma série de artigos, mais reflexivos, dedi- tendo assim textos e recursos particularmente úteis cados ao Autoconhecimento, aspecto fundamental para estudantes, diplomados, Psicólogos Júnior e de uma gestão pessoal de carreira ao longo de todo Psicólogos em fase inicial de carreira, e focados o percurso de vida profissional. De seguida, e man- nessa fase da vida profissional. tendo o carácter de reflexão importante em todo o momento da vida do Psicólogo, seguem-se os ar- Este e-book pretende não apenas constituir tigos que se relacionam com a Atitude e Postura uma colecção dos artigos do Blog PsiCarreiras Profissional. Olhando para o início da vida profis- relacionados com o tema em questão, mas também sional em Psicologia, seguem-se vários artigos es- integrar novos artigos, escritos especialmente critos especialmente pensando nos estudantes. Se- por convidados identificados como sendo guem-se alguns que se prendem com as primeiras importantes contributos para este tema. A maioria abordagens ao mundo profissional e a entrada no dos artigos de aqui reunidos são escritos por mercado de trabalho. Em qualquer ponto da car- colaboradores da OPP e publicados semanalmente reira há um claro benefício de se criar e alimentar no Blog PsiCarreiras. as redes profissionais, pelo que diversos artigos mostram a sua importância e como cuidar desse Os artigos estão organizados por temas agregadores, aspecto do psicólogo perante os outros. relacionados com aspectos importantes nesta fase da carreira. Alguns artigos têm um carácter mais Desejamos que o que aqui reunimos para partilhar reflexivo, outros elencam sugestões mais práticas de seja muito útil a todos. acção. Acreditamos que cada um dos leitores possa, por isso, navegar nesta publicação ao sabor das Equipa de Excelência & Sustentabilidade SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 05 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS SER-SE E FAZER-SE PSICÓLOGO Nos cursos de Formação Inicial Psicólogo Júnior, cabe-me frequen- temente o prazer e o privilégio de receber os colegas recém-chega- dos à profissão. Costumo abrir a conversa perguntando aos presentes porque é que sentem orgulho em ser psicólogos. Faço-o assumindo que sentem esse orgulho - e correndo o risco de que me digam que não (nunca aconteceu… ainda). As respostas são tão variadas como as identidades, percursos e contextos de quem responde. Contudo, há ARTIGO POR um conjunto de temas que surge de forma recorrente. Um deles é o da ANA CATARINA DIAS psicologia como “vocação”, e do psicólogo como alguém que “antes de FORMADORA DO CURSO DE FORMAÇÃO o ser já o era”, nas suas várias relações e contextos ao longo da vida. INICIAL DO PSICÓLOGO JÚNIOR Nunca sei bem como responder a isto. Por um lado, não consigo não achar positivo que a nossa identidade profissional lance raízes tão pro- fundas na nossa identidade pessoal. Por outro lado, estas respostas remetem-me um pouco para aquela ideia da psicologia enquanto algo que emana natural e intuitivamente de um determinado perfil pessoal. Para o “eu-cá-também-sou-um-bocadinho-psicólogo”, que já todos ouvimos de não-psicólogos que também se identificam com esse per- fil. Contudo, muito do que define a prática profissional da psicologia é tudo menos natural e intuitivo. É resultante de um conjunto de esco- lhas deliberadas e conscientes, que são produto de um investimento contínuo num conjunto de eixos de desenvolvimento profissional (e pessoal). Fazemo-nos psicólogos investindo: No autoconhecimento. Por algum motivo é altamente recomenda- do que o psicólogo realize o seu próprio processo de psicoterapia ou desenvolvimento pessoal. O psicólogo está em relação com o cliente, e essa relação é o seu instrumento de trabalho. O psicólogo que se conhece na sua subjetividade, e que reconhece o contributo dessa subjetividade para a relação, mais facilmente conseguirá tirar o melhor partido do seu instrumento. Também, ao reconhecer a sua subjetivi- dade enquanto tal, encontra-se menos suscetível a confundi-la com uma suposta objetividade, com uma verdade universal a impor ao seu cliente. Por outras palavras, o autoconhecimento permite-nos separar o que é do outro daquilo que é nosso. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 07 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS No conhecimento dos pressupostos técnicos e científicos da pro- fissão. Também altamente recomendadas são a formação e supervi- são contínuas do psicólogo. A relação que o psicólogo estabelece com o cliente diferencia-se de outras relações na vida dele por, entre outros aspetos, ser uma relação informada pela ciência psicológica. O psicó- logo que conhece bem a sua ciência encontra-se mais capacitado para intervir com os seus clientes com base na melhor evidência disponível. Também, será menos suscetível a preencher eventuais lacunas dessa ciência, ou do seu conhecimento da mesma, com o senso-comum, as suas crenças individuais, ou outros contributos alheios ao papel profissional. Ou seja, o conhecimento dos pressupostos da psicologia permite-nos separar o que é do âmbito da ciência do que é do âmbito da crença. Num raciocínio continuamente amadurecido sobre os princípios éti- cos da profissão. A relação que o psicólogo estabelece com o cliente é uma relação assente no raciocínio do psicólogo sobre um conjunto de princípios éticos. O recurso a esse raciocínio, e a compreensão desses princípios, é o que permite ao psicólogo (tentar!) que em cada mo- mento a sua intervenção proteja e promova o interesse do seu cliente, independentemente daquelas que poderão ser as pressões externas ou os vieses internos com que se debata nesse momento. É também o que permite que o cliente obtenha aquela que é a melhor intervenção para si, independentemente do contexto em que a intervenção decorre, e das características individuais do psicólogo que calhou ser o seu. Aqui chegados, cabe perguntar: onde fica então a “pessoa” do psicó- logo? Muitas respostas são possíveis. A minha é a seguinte: fica numa posição privilegiada. A posição de quem assiste, promove e partici- pa na mudança do outro. E que, inevitavelmente, é permanentemente mudado por essa mudança. O que, para mim, é um sempre renovado motivo de orgulho. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 08 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS A PROVEDORA DO PSICÓLOGO JÚNIOR NO PAPEL DE PSICÓLOGA JÚNIOR “Não aceites menos do que mereces e nunca ficarás em dívida com a tua felicidade.” — Manuel Clemente Hoje sou Provedora do Psicólogo Júnior, mas para estar neste lu- gar a representar cada um de vocês, também fui Psicóloga Júnior, também experienciei emoções e vivi histórias semelhantes às vossas. ARTIGO POR Hoje dou-vos o meu testemunho de como é imprescindível a travessia ANA FRAGA SILVA desta etapa para o nosso crescimento profissional e pessoal. PROVEDORA DO PSICÓLOGO JÚNIOR O Ano Profissional Júnior caracteriza-se por um período de grandes aprendizagens e reflexões, uma possibilidade de colocar em prática os conhecimentos teóricos que conseguimos adquirir no nosso percurso académico e uma oportunidade de promover o autoconhecimento pro- fissional e pessoal. No entanto, tal como qualquer pessoa que inicia uma nova fase da vida e enfrenta o desconhecido, também eu, que aprendi a gerir a an- siedade, fiquei mais agitada com o desafio de conseguir encontrar o espaço ideal para realizar o APJ. Não é tarefa fácil, eu própria já estive no vosso lugar e compreendo a frustração que se sente quando nos deparamos com essa dificuldade, também me senti dececionada em alguns momentos, mas “o caminho faz-se caminhando” e não desisti. Pode demorar algum tempo até ao momento em que finalmente temos uma entidade que nos acolhe e aceita um profissional sem experiência, que se não lhe for dada essa oportunidade, nunca a terá, mas esses lugares existem! No meu caso, consegui encontrar uma Instituição Particular de Soli- dariedade Social que me acolheu e aceitou abraçar o desafio em con- junto. É toda uma experiência nova e a minha vontade de aplicar o que sabia foi superior às dificuldades vividas no passado. Trabalhei diariamente com um grupo de população idosa que se revelou numa das minhas maiores aprendizagens a nível profissional, como é óbvio e, sobretudo, a nível pessoal. Quando, nos primeiros meses, ainda me estava a adaptar a esta nova rotina e a tentar corresponder aos objeti- vos que tinha estabelecido no meu projeto de APJ, eis que a pandemia SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 09 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS mundial surge e tudo muda. Somos conhecedores de que esta nova realidade influenciou a vida de cada um de nós, mas as Estruturas Residenciais Para Pessoas Idosas sofreram e continuam a sofrer com esta situação. Os idosos institu- cionalizados viram-se obrigados a distanciarem-se dos seus, daqueles que lhes são tudo e nós, equipa técnica multidisciplinar, onde está incluído o psicólogo, fomos o afeto, a companhia e a família possível durante estes dois anos. A situação pandémica tornou este meu percurso ainda mais desafian- te, colocando à prova o papel do psicólogo e a importância deste numa fase de grande stress, ansiedade e angústia quer nesta população de grande risco, quer na restante equipa de trabalho, possibilitando-me de trabalhar e desenvolver competências a este nível. Todos os meus objetivos inicialmente propostos foram readaptados à nova realidade e a Ordem dos Psicólogos Portugueses apoiou e validou as minhas decisões. No final, todo o esforço valeu a pena. Assim, e após uns largos meses de responsabilidade acrescida e atua- ção direta com a população de risco, o sentimento de concretização profissional é inexplicável. É este sentimento que eu gostaria que cada um de vocês fosse capaz de sentir, é para isto que estudamos e tenta- mos compreender o comportamento humano e as relações, é por isto que a Psicologia se distingue. Terminei este capítulo com a sensação de dever cumprido e tenho a consciência de que o papel do psicólogo é agora, mais do que nunca, potenciado face às novas adversidades e que o ser humano é, de facto, um ser incrível capaz de se adaptar às várias circunstâncias da vida. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 10 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS (DES)CONSTRUIR O PRELÚDIO DO NOSSO PERCURSO PROFISSIONAL – CARTOGRAFIA DE UMA VIAGEM Uma viagem. Gosto de pensar nesta analogia enquanto processo de construção de significados do nosso quotidiano enquanto estudan- tes de Psicologia. Uma viagem que se alicerça, creio eu, aqui de uma forma bastante simplista, na escolha do(s) destino(s), no seu planea- mento, num “fazer a mala”. Imaginem que vamos fazer uma viagem de “sonho” (terminologia engraçada esta). Porquê esse(s) local(ais)? Quero ir sozinho/a? Acompanhado/a? Tenho algo planeado ou vou op- ARTIGO POR tar pela espontaneidade dos diferentes locais? Que roupa vou levar? LEONOR PINHEIRO Estou a esquecer-me de algo? Tomamos decisões, muitas delas sobre PRESIDENTE DA ANEP – ASSOCIAÇÃO o destino (que talvez seja mais um ponto transitório, de visita), so- NACIONAL DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA bre as pessoas que estão connosco nessa viagem, sobre o conteúdo interno desta mala. Até agora, provavelmente, torna-se confusa esta analogia enquanto ponto de partida para a construção desta narrativa, mas de muito ela se relaciona, a meu ver, com um processo, com a tomada de decisão, com uma mala repleta de vivências, de distintos contextos pela qual vamos narrando a nossa história de vida. E com ela o atravessar de diversos momentos-chave da nossa vida pessoal e académica/profissional que me arriscaria a dizer, influenciam e são influenciados por outros papéis da nossa vida. Pensemos...O que é que nos levou a ingressar no curso de Psicologia? O que nos levou a es- colher determinada subespecialização no mestrado? De que forma os nossos interesses, objetivos, valores, influenciam as distintas decisões que temos vindo a tomar ao longo deste percurso académico? E que objetivos e valores são esses? Estas questões remetem-me para um dos primeiros pilares deste tex- to – o Autoconhecimento. Arrisco-me a dizer que toda a nossa vida passa por um processo de autoconhecimento e escuta interna, que também adquire destaque na relação com o Outro. Acredito que o nos- so caminho profissional ou os seus primórdios, que datam alguns anos antes do ingresso no nosso primeiro emprego, permite-nos também um espaço para investirmos neste exercício contínuo, no modo como nos sentimos e como estamos na relação connosco e com o Outro. E para além disso, possibilita-nos explorar, não ficarmos, por vezes, “re- féns” na nossa zona de conforto e partirmos em busca desta viagem por diferentes experiências e oportunidades, e com elas a reflexão crí- tica e fundamentada. Nem sempre se demonstra fácil. Pensando num SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 11 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS exemplo prático... Quantos/as de nós, durante uma aula, tivemos uma curiosidade, contudo, o receio de sair da nossa bolha de conforto e arriscar uma questão, por medo de ser demasiado “óbvia”, falou mais alto? Ainda hoje me acontece em diferentes contextos. Se pensarmos, enquanto estudantes, temos oportunidade de “usufruir” do acesso, muitas vezes, privilegiado de questionar, de refletir e ter alguém que nos ajuda nessa reflexão – os/as docentes. Continuando.... Explorar. Investir. Nasce uma segunda dimensão que vos quero falar hoje, a de sermos as Doras Exploradoras da nossa vida académica e pessoal. “Partirmos” em busca do conhecimento baseado na evidência (e.g., através da leitura e reflexão crítica), do desenvolvimento de competências transversais e valorizadas, atual- mente, no mundo laboral, das conhecidas soft-skills (e.g., criatividade, resolução de problemas, pensamento crítico, resiliência, comunicação eficaz), de apostarmos na formação curricular e extracurricular (e.g., congressos, Web Talks, palestras, workshops) e no nosso desenvolvi- mento pessoal (e.g., através de um processo terapêutico). Como se costuma dizer “temos que puxar a brasa à nossa sardinha” e, neste sentido, não poderia deixar de refletir sobre o Associativis- mo e sobre o Voluntariado. Não o digo enquanto uma forma de “ficar engraçado” nas páginas do CV, que um dia fiz parte da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia. Acredito, apesar de pouco co- nhecer sobre a realidade laboral e processos de Seleção e Recruta- mento, que estas competências sejam valorizadas na candidatura a um determinado emprego, contudo, a sua valorização e importância nestas linhas, passa, principalmente, pela aprendizagem, pelo facto de irrigarem as nossas potencialidades formativas, criativas, relacionais... O Associativismo e o voluntariado podem desempenhar um papel cru- cial no nosso desenvolvimento e envolvimento enquanto estudantes e pessoas em distintas atividades, promovendo a interação, a formação, a troca de ideias, a comunicação, a resiliência – o típico “saber desen- rascar perante uma adversidade” – o trabalho em equipa, a gestão de tempo. Possibilitam abrir horizontes e, muitas vezes, dar pequenos (grandes) contributos pró-sociais, através da participação cívica e de uma cidadania ativa. Acredito, principalmente, que passe por abraçar a experiência e traçarmos o nosso próprio caminho com os recursos internos e externos que temos. Por último, mas não menos importante, o autocuidado. O desenvol- vimento contínuo de hábitos de autocuidado que se demonstrem efi- cazes para nós, individualmente e enquanto estudantes, que, de certa forma, nos encontramos perante um caminho desafiante de prepara- ção para o mundo laboral e para nos tornarmos psicólogos/as éticos/ as, empáticos/as e competentes. Digo desafiante, na medida em que, o Curso de Psicologia, aqui de forma mais especifica, para além de nos proporcionar oportunidades estimulantes, engloba também exigências e pressões, muitas vezes, associadas ao próprio desempenho acadé- mico e profissional e ao stress desencadeado por múltiplas fontes. Assim, mais do que a sua referência, nestas linhas, destaca-se a im- portância no seu investimento e desenvolvimento contínuo ao longo SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 12 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS do nosso percurso académico/profissional e pessoal. Relembrando também a multiplicidade de estratégias de autocuidado existentes* e “aquilo que me ajuda a mim, pode não te ajudar a ti” e “as estratégias que utilizo hoje, podem não ser eficazes no futuro”. Muito mais havia a dizer, mas as linhas já são escassas e o meu pen- samento já se encontra a deambular. Lanço o desafio, se assim o en- tenderem, de pensarem na vossa própria experiência. Eu vou pensar na minha. Às vezes, a seletividade da mente humana traz algumas vantagens em textos conceptualmente difusos e dispersos como este. Há que aproveitar! Fiquemos com uma possível “moral da história”: “O que importa no caminho não é o destino, mas sim o que nos tornamos no processo.” Lembrem-se: Este texto foi escrito por uma estudante de Psicologia, que pouca experiência e conhecimento tem e que apenas tenta, humildemente, olhar para a sua visão das coisas, encontrando-se, esta, possivelmente, em transformação. *Aconselho, por exemplo, a visualização do programa Eusinto.me, desenvolvido pela OPP, sobre Autocuidado e Bem-estar. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 13 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS DA TEORIA À PRÁTICA EM CINCO COMPETÊNCIAS A psicologia é uma ciência excitante, com muito ainda para conhecer e sempre em constante desenvolvimento, uma profissão que ainda muito tem para dar à sociedade e à comunidade. Trabalhar em psicologia é um privilégio, uma atividade que exige de nós um conjunto extenso de competências, das quais destaco a humildade, a resiliência e tolerância à frustração, a organização pessoal, a comunicação e a empatia. ARTIGO POR Ao longo de cinco anos as faculdades ensinam a teoria da psicologia, LUÍS FILIPE mas a prática adquire-se essencialmente com a entrada no mercado PRESIDENTE DA COMISSÃO de trabalho. A integração profissional de recém-licenciados deve ser DE ESTÁGIOS OPP uma preocupação dos profissionais em atividade, procurando garantir a qualidade e a competência daqueles que irão continuar a exercer algo tão belo como a psicologia. Todos nos devemos orgulhar de ter o privilégio de trabalhar nesta área, de conhecer e reconhecer a impor- tância do comportamento humano e de assumir a responsabilidade de contribuir para o bem-estar e saúde de outras pessoas. Ninguém nasce psicólogo/a, nem ninguém detém todas as competên- cias ou conhecimentos. Melhoramos com a experiência, com as vivên- cias, com o contacto e trabalho. Precisamos da base teórica e do co- nhecimento, mas crescemos vivenciando e experimentando a relação com outra pessoa. Devemos reconhecer a exiguidade do conhecimento e da real capa- cidade para enfrentar as diversas situações com que nos deparamos no início da carreira. Isto não significa incompetência, incapacidade ou impreparação, apenas falta de contacto com todo o espectro de possi- bilidades e situações. A humildade é essencial, sem essa capacidade de autocrítica e análise do erro ninguém poderá crescer enquanto pro- fissional, contribuindo para a falta de resultados efetivos. Temos de construir uma capacidade de resiliência e de lidar com a frustração. Efetivamente há dimensões da profissão que só se adqui- rem com tempo, passando pelas situações, num processo de aprendi- zagem contínuo e extenso. Em psicologia não existem urgências, todo o trabalho é desenvolvido ao longo de um período de tempo, num es- forço constante de promoção de uma mudança efetiva e consistente. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 14 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS Deste modo, ser psicólogo exige paciência e capacidade de lidar com o tempo. A organização e o método pessoal são essenciais para um trabalho capaz e ajustado. As pessoas esperam consistência e regularidade da nossa parte, precisam de sentir a nossa segurança e confiança, e estas características não estão apenas presentes no nosso discurso, mas muito nas nossas ações, nos nossos comportamentos e na rela- ção. A gestão pessoal assume assim um papel relacional, mais do que pessoal. Qualquer relação estabelecida no âmbito da psicologia assenta na ca- pacidade de comunicação, na forma como se interage com outra pes- soa. Seja pelas palavras ou pelos gestos, toda a panóplia de recursos que detemos estará em ação. Naturalmente, não temos todos a mesma forma de comunicar, mas devemos isso sim, conseguir ajustar as nos- sas características à melhor maneira de aplicar os nossos conheci- mentos e capacidades. Não posso concordar mais com Michel Focault que afirmou que “a psicologia nunca será capaz de dizer a verdade sobre a loucura, uma vez que é a loucura que contém a verdade da psicologia”. O primeiro erro que cometemos enquanto novos profissionais é presumir que co- nhecemos a mente humana, lendo um livro ou recolhendo opiniões de outros. Ainda que indispensável, devemos ir mais além da teoria e dei- xar que seja a mente do outro, a sua loucura, que nos guie e nos faça entender o ser humano. É no outro que reside a verdade, não em nós. Na verdade, uma vida alegre é uma criação individual que não pode ser copiada de uma receita (Mihaly Csikszentmihalyi). Devemos assu- mir uma posição de escuta ativa, empática e emocional, suportando a outra pessoa no que nos solicita, sem juízo de valor, sem preconceitos e sem história pessoal. Aceitemos as nossas vulnerabilidades. Aceitemos as nossas capa- cidades. Aceitemos que iniciamos um processo de desenvolvimento profissional contínuo. Aceitemos que estar na psicologia é estar com outra pessoa. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 15 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS SONHOS E PROJETOS DE VIDA NO INÍCIO DA CARREIRA Decidir ser psicólogo/a é, por norma, uma escolha de vocação no mais puro sentido da palavra – ao falar com outros colegas, rapidamente nos apercebemos de narrativas vocacionais comuns baseadas na von- tade de compreender o ser humano, de ser útil, de contribuir para a mudança positiva dos outros e do mundo. A Psicologia assume assim um papel identitário relevante na vida daqueles que a escolhem como profissão, o que faz com que, desde muito cedo, vamos construindo ARTIGO POR cenários mais ou menos realistas dos profissionais que almejamos ser. MARIANA MENDONÇA CONSULTORA DE EMPREGABILIDADE OPP Nestas representações, o eu-psicólogo/a idealizado/a está frequente- mente associado a um contexto específico – aquele onde mais gosta- ríamos de exercer, seja num consultório, numa escola, organização, contexto de justiça ou desportivo. Ao longo da formação académica, vamos tomando decisões impor- tantes, designadamente, a área do mestrado, o tema da dissertação e o local de estágio curricular, que nos levam a refletir e a consolidar objetivos profissionais. As respostas nem sempre são fáceis de en- contrar, mas, quando as construímos, por vezes é difícil desapegarmo- -nos delas. Se sonhamos ser psicólogos no contexto A, pode ser difícil perspetivarmo-nos a trabalhar no contexto B. Esta questão é particularmente desafiante se pensarmos que o nosso primeiro emprego provavelmente não vai coincidir com a imagem que criámos. Em brincadeira com as pessoas que acompanho em orienta- ção de carreira, costumo colocar-lhes a seguinte provocação: se en- contrasse já o seu emprego de sonho, o que faria até à reforma? A verdade é que hoje são raros os “empregos para a vida”, e a noção de carreira tradicional revela-se cada vez mais desajustada. Pode ser assustador pensar que não temos um percurso garantido, mas o que perdemos em previsibilidade, ganhamos em liberdade. Por exemplo, a liberdade de experimentarmos uma função durante uns tempos e mudarmos se não nos identificarmos com ela, porque isso é perfeita- mente aceite pelo mercado de trabalho. Em oposição à ideia cristalizada do trabalho que sonhamos ter, a fle- SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 16 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS xibilidade é a chave que nos permite abrir portas e possibilidades, experimentar coisas novas com públicos e contextos diferentes, e até descobrir novos interesses. Ser flexível pode também significar começar por um trabalho que já sabemos que não é ideal, mas continuar à procura – muitas vezes é mais fácil conseguir oportunidades quando se está a trabalhar, já que aumentamos a nossa rede de contactos, desenvolvemos mais compe- tências, enriquecemos a nossa experiência, e ganhamos uma maior segurança para os processos de seleção. Na ausência da vaga perfeita, podemos ainda tentar “esculpir” a nossa função, apresentando sugestões e propondo iniciativas mais alinhadas com as nossas expectativas profissionais às equipas em que estamos inseridos. A construção de carreira é um processo complexo que combina di- mensões racionais e emocionais. É essencial trabalhar o autoconhe- cimento, perceber aquilo que nos motiva e idealizamos fazer, mas também aceitar que o caminho se faz com calma (os chamados baby steps), com muita experimentação, avanços e recuos. A si, colega a iniciar o percurso profissional, deixo uma palavra de incentivo. Por mais longe que lhe pareça estar do seu objetivo, o es- sencial é dar um primeiro passo. Pelo caminho, é bem provável que se surpreenda e integre novos planos no seu projeto de vida, quem sabe melhores ainda que a ideia inicial. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 17 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS A (QUASE) RECEITA DE BOLSO PARA O SUCESSO NA CARREIRA: O PRIMEIRO PASSO NO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL CONTÍNUO És estudante? Diplomado? Psicólogo Júnior? Psicólogo? Especialista? Independentemente da fase em que te encontras na tua carreira, a importância do investimento no Desenvolvimento Profissional Con- tínuo é a mesma, desde o momento em que fazemos as primeiras escolhas escolares e académicas até à preparação para aposentação. ARTIGO POR A carreira é um longo percurso que se quer intencional, em que cada PEDRO FÉLIX um, vai construindo com base nas decisões que toma, selecionando GESTOR DA ÁREA DE DESENVOLVIMENTO as aprendizagens e experiências que lhe fazem mais sentido e com PROFISSIONAL CONTÍNUO OPP propósito. Assim, é por demais importante que não seja um caminho que aconteça ao acaso, pois “não existe vento favorável a quem não sabe onde deseja ir.” O estabelecimento de objectivos e metas é essencial para o planea- mento de carreira. Ter objectivos permite que tenhamos um mapa para seguir, uma ferramenta que nos permite tomar decisões e medir até que ponto essas decisões e esforços estão a contribuir para o nosso sucesso para atingir tais metas. Podemos optar por adoptar uma postura reactiva, de resolução de problemas, ou uma postura proactiva, de projecção do (e no) futuro. Quem define claramente os seus objectivos está a ter uma postura proactiva, ganhando assim maior clarividência no que concerne às possibilidades futuras, vendo o “quadro geral”, permitindo-se assim estar mais confortável com o risco, adoptar comportamentos mais ino- vadores e ser motivado para a mudança. Mas vamos mais longe! Mais do que estipular objectivos, há que os escrever. A investigação descobriu muitos aspectos-chave da teoria do estabelecimento de metas e objectivos e a sua ligação com o su- cesso (Kleingeld, et al, 2011). O estabelecimento de metas está ligado à autoconfiança, motivação e autonomia (Locke & Lathan, 2006). Um estudo de 2015 da psicóloga Gail Matthews mostrou que, quando as pessoas escreviam seus objetivos, eram 33% mais bem-sucedidas em alcançá-los do que aquelas que os formulavam apenas mentalmente. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 18 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS Sugiro um simples exercício para redigir objectivos de carreira que podem apoiar e guiar muitas das decisões no que concerne ao teu Desenvolvimento Profissional contínuo. 1º passo – Numa folha A5 escreve o teu objectivo “maior” seguindo, por exemplo, a metodologia SMART (Específico, Mensurável, Atingível, Relevante e Temporizado) 2ª passo – em quantas folhas A6 forem necessárias, continuando a seguir a metodologia SMART, escreve os objectivos “intermédios” que deves alcançar e que são requisitos obrigatórios no caminho para o objectivo “maior” (e.g. formação, contactos, voluntariado, aprendiza- gens, job shadowing, …). Numera esses objectivos “intermédios” cro- nologicamente. 3º passo – Para cada um dos objectivos “intermédios”, em quantas folhas A7 forem necessárias, escreve os comportamentos a ter para alcançar o esse objectivo “intermédio”. Numera todos esses compor- tamentos cronologicamente obedecendo à definição temporal dos ob- jectivos “intermédios” que servem. 4º passo – Verifica se tens as competências e os recursos neces- sários para agir tendo em conta os comportamentos que definiste. Se sim, muito bem, avança! Se não, procura adquirir essa competência ou recurso para poderes avançar. Agora, dispõe em pirâmide tudo o que escreveste e visualiza o que acabaste de criar. Tens um plano definido para atingir o teu objectivo “maior” e tens, nas folhas A7, um conjunto de comportamentos que te cabem no bolso e que são o teu “mapa” para atingir um conjunto de objectivos que te levam ao objectivo “maior”. Basta colocar em prática, um a um. Neste caminho é importante avaliar, monitorizar e acompanhar os resultados, alterando o plano sempre que necessário. Mas não te esqueças, ter um bom plano serve para nada se não agires. Portanto, vamos à acção! Kleingeld, A., van Mierlo, H., & Arends, L. (2011). The effect of goal setting on group performance: A meta-analysis. Journal of Applied Psychology, 96(6), 1289-1304. Locke, E. A., & Latham, G. P. (2006). New Directions in Goal-Setting Theory. Current Directions in Psychological Science, 15(5), 265- 268. Matthews, G. (2015). Goal Research Summary. Paper presented at the 9th Annual International Conference of the Psychology Research Unit of Athens Institute for Education and Research (ATINER), Athens, Greece. Chowdhury, M. R. (2021). “The Science & Psychology of Goal-Setting 101” SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 19 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS TERMINEI A FACULDADE… E AGORA? Esta foi a pergunta que me deparei depois de terminar o mestrado e ter finalmente defendido a tese. Penso que é das perguntas mais frequentes das pessoas recém-formadas, na nossa área e em muitas outras. Terminei a faculdade, no final de 2019, em dezembro, e depois de cinco anos árduos de estudo, trabalho e aprendizagens terminei mais um ARTIGO POR ciclo. Um par de meses depois, rebenta a pandemia e tivemos de ficar, SARA ZEFERINO a sua maioria, confinados nas quatro paredes da nossa casa. PSICÓLOGA QUE CRIOU A PRÓPRIA OPORTUNIDADE DE ANO PROFISSIONAL JÚNIOR Enviei, como é hábito, vários currículos para consultórios privados, instituições, associações tanto para a minha população de interesse, população LGBTQI+, assim como para a população em geral. Os espa- ços estavam na sua maioria fechados e o online tornou-se cada vez mais uma realidade para os acompanhamentos psicológicos. Como as respostas aos envios dos currículos foram escassas e algumas sem sucesso ou com possibilidade de entrevista, parecia que a ideia de fa- zer um estágio profissional, para me tornar Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, estava cada vez mais distante. Naquele momento, pensava que seria mais uma que tinha terminado o curso e que não arranjou trabalho na área, que tinha perdido cinco anos da minha vida para nada. Ao longo dos seguintes meses, a lidar com estes pensamentos ca- tastróficos e pessimistas (que não ajudaram em nada), vi finalmente uma oportunidade a “acender” na minha mente. Porque não criar o meu próprio espaço e assim realizar o estágio profissional? Sabia que era possível porque recordava-me dos workshops do PsiCarreiras que a Psicóloga Ana Nobre tinha realizado na minha universidade, logo não era um requisito obrigatório trabalhar por conta de outrem. No entanto, não sabia como abrir um negócio ou simplesmente como elaborar um projeto do zero. Parecia que ficava com mais perguntas do que com respostas. Fui esclarecendo as minhas dúvidas, li os vários documentos que es- tão disponíveis no site da Ordem, e comecei passados largos meses de procura de estágio, a estar sentada na minha secretária a redigir o SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 20 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS meu projeto de sonho. Como não tinha um espaço físico, nem condi- ções financeiras para tal, decidi começar pelas consultas online. Esse foi o primeiro passo, saber onde realizar os acompanhamentos psico- lógicos, definir a população que tinha um maior interesse de trabalhar e encontrar um orientador externo. Fiz um estudo de mercado e de- parei-me com algumas questões: poucas associações tinham acompa- nhamento especializado para pessoas LGBTQI+, no entanto estavam a “arrebentar pelas costuras” por não existir recursos humanos sufi- cientes e não existia nenhum gabinete/consultório privado especializa- do nestas temáticas. Não só poderia contribuir nos acompanhamentos, como também criaria mais uma resposta. Posto isto, comecei por tratar de outras questões mais burocráticas e técnicas como abrir atividade no portal das finanças, tratar do seguro de acidentes de trabalho, pedir a alguém para construir um website, criar as páginas das redes sociais, estabelecer parcerias, inscrever-me na Entidade Reguladora da Saúde (que só fiz mais tarde por desconhe- cimento), entre outras. Depois de tudo isto, finalmente em fevereiro de 2021, estava abrir as portas “virtuais” da Re(Nascer) e a iniciar a minha carreira. Foi pre- ciso, ao longo dos meses, lidar com a frustração, estar otimista, gerir emoções, ter apoio de pessoas significativas, auto-compaixão, auto- -estima, resiliência e iniciativa para começar esta etapa. E não há nada mais gratificante que, após terminar o Ano Profissional Júnior, observar que todos os meses novas pessoas procuram a Re(- Nascer), ter estabelecido parcerias, ter recebido convites extraordiná- rios, ver a evolução terapêutica das pessoas que acompanho, melhorar a qualidade de vida e bem-estar das mesmas, tendo em conta que a população LGBTQI+ apresenta as suas próprias especificidades e ne- cessidades. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 21 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS COM QUE LENTES QUERO VER O MEU FUTURO? “Não nasci empreendedora, mas conheci competências que desco- nhecia em mim!” “Fazer contas é o pior, mas depois percebemos o quão importante é sabermos fazê-las.” “Na faculdade não nos preparam para o empreendedorismo, mas ARTIGO POR este módulo faz todo o sentido!” SOFIA ANDRADE CONSULTORA DE EMPREGABILIDADE OPP “Ser psicólog@ e garantir a minha própria empregabilidade, afinal E FORMADORA DO CURSO DE FORMAÇÃO INICIAL DO PSICÓLOGO JÚNIOR é possível!” Estas são algumas reflexões e partilhas que me são colocadas no mó- dulo de projetos profissionais em psicologia do qual sou formadora há já 8 anos na Ordem dos Psicólogos Portugueses, em que, conceitos como empreendedorismo, gestão de projetos, marketing mix, gestão financeira, entre outros são desenvolvidos. No final, o mesmo, culmina com uma apresentação com impacto re- levante para a comunidade e com a possibilidade d@s formand@s po- derem, porventura, seguir em frente e, porque não, se candidatarem a linhas de financiamento, orçamentos participativos dos municípios, investirem com capital próprio, tornarem-se numa sociedade por quo- tas… Tantos conceitos que eram totalmente desconhecidos e que, nesta via- gem pela zona de desafio, se tornam reais. Onde o trabalho em equipa é fulcral, o pedir ajuda torna-se essencial e a gestão de emoções e tempo são fundamentais para o sucesso final. É importante que os psicólogos ousem usar lentes diferentes, por isso: Se és estudante de Psicologia, se já és Psicólog@ Júnior ou um Psicó- log@ à procura de te reinventares no mercado de trabalho, proponho- -te que reflitas sobre estas questões: “O que te faz brilhar os olhos? “Qual é o teu lado b?” SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 22 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS Ainda outra informação importante… Sabias que há muitos colegas que conseguem alinhar a sua carreira com o seu lado b (hobbies, paixões por algo), e ganham dinheiro com isso? Dou-te alguns exemplos: Uma colega que adorava cozinhar desenvolveu um projeto de barras energéticas e apresentou um projeto para ser a psicóloga naquela rede de ginásios específica e ao mesmo tempo fornecer as barras para os atletas. Uma colega que adora dançar tango e faz terapia de casal através da dança. Psicólogos que um dia sonharam em ter um espaço que lhes permi- tisse dar consultas e formação e hoje são uma empresa reconhecida no mercado. Uma colega que adorava o xadrez e desenvolveu um programa de estimulação cognitiva para trabalhar com jovens em colégios privados. São alguns exemplos de sucesso de pessoas que ousaram pensar so- bre as suas paixões, definiram um plano estratégico de ação e negócio e superaram a crença de muitos psicólog@s em relação ao dinheiro. Centrando-se na máxima: “Cobra o que vales, ou valerás o que cobras!” Se estás numa fase da tua vida profissional em que precisas de ter ideias, ou até a tens e não sabes como começar, convido-te a ler este artigo. Uma nota final ao longo do teu percurso, pára, para refletir sobre o teu percurso e reflete se estás mais tempo parado do que em movimento. Bom caminho! SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 23 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS ANO PROFISSIONAL JÚNIOR… UM CONTRIBUTO DETERMINANTE PARA A QUALIDADE DA CARREIRA EM PSICOLOGIA Quando o/as recém-diplomado/as terminam a sua formação acadé- mica e saem da Universidade, há uma ambição imediata comum a todo/as: entrar no mercado de trabalho. Mas a entrada no mercado de trabalho não deve ser vista como um momento que se ambiciona, mas, antes, como um processo que se constrói e que deve começar ainda antes da conclusão da formação académica, implicando o delinear de um percurso de carreira que começa, desde logo, quando se escolhe ARTIGO POR “ser Psicólogo/a” e que deve ser trabalhado ao longo da vida. O está- SOFIA CARDOSO gio profissional ou ano profissional júnior é apenas uma das várias DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL etapas desse percurso. CONTÍNUO OPP — RESPONSÁVEL PELO ANO PROFISSIONAL JÚNIOR Ao contrário do que muitos possam pensar, o ano profissional júnior não é um adiamento da entrada no mercado de trabalho, mas, precisa- mente, a porta de entrada no mercado de trabalho, de um/a recém- -diplomado/a em Psicologia com as competências técnicas, científicas, deontológicas e de relacionamento interpessoal necessárias, as quais serão ainda melhor trabalhadas ao longo dos 12 meses de prática pro- fissional supervisionada inerentes ao ano profissional júnior. Se há algo que a maioria do/as recém-diplomado/as procura, é alcan- çar sucesso profissional, construir uma carreira sólida, enriquecedora e que satisfaça as próprias exigências e ambições. Nesse sentido, a realização do ano profissional júnior, para além de se constituir como o requisito legal obrigatório para o acesso à profissão, constitui-se, também, uma fase muito importante dessa construção. Acarreta uma relevância crucial para a formação de cada Psicólogo/a e para o al- cance dos objectivos que este/a estabelece ao sair da Universidade, indo, até, mais além do aspecto profissional. Sendo a carreira um percurso intencional, que cada um/a vai cons- truindo, tomando decisões e seleccionando as oportunidades, aprendi- zagens e experiências que o/a satisfazem, lhe fazem sentido e lhe dão um propósito, é, por isso, importante que se procure desenvolver um percurso, que permita, de forma motivada, absorver tudo aquilo que ajude na construção dessa carreira bem-sucedida, pois a construção do projecto de carreira é, no fundo, a construção de um projecto de vida. Deste modo, a escolha do local onde se realiza o ano profis- SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 24 PERSPECTIVAS SOBRE O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA — ARTIGOS INÉDITOS DE CONVIDADOS sional júnior é fundamental nesse processo. Para isso, é necessário reflectir-se sobre os interesses pessoais, as competências e aptidões individuais, os valores e preferências, e as áreas em que cada um/a se imagina a trabalhar, investindo-se, assim, no autoconhecimento. Sobre o contributo determinante do Ano Profissional Júnior nas vidas e carreiras de alguns Psicólogos… alguns testemunhos: A partir dessa reflexão, é importante perceber que tipo de entidades Ser Finalmente Psicóloga :) Acabei o curso em 2014 se alinham com aquilo que cada um/a procura e, aí, investir numa re- - sou de Psicologia das Organizações - e sempre colha de informação mais detalhada sobre o tipo de profissionais que senti falta de poder ser chamada de Psicóloga. Em 2019 comecei a minha pós-graduação em Coaching trabalham nesses locais (que formação e experiência têm), permitindo, Psicológico e foi o meu último empurrãozinho para assim, perceber se o perfil individual de cada um/a se ajusta bem começar a minha caminhada oficialmente como Psicóloga. A Vanessa - a minha orientadora - foi ao local e à identidade profissional que se pretende ter. Identifi- fantástica. cado esse contexto/entidade, avaliando e conhecendo bem as suas Fazer estágio na empresa onde já trabalhava foi necessidades, melhor se conseguirá definir e pôr em prática um plano revisitar toda a minha prática à luz da Psicologia e de estágio ajustado e coerente, necessariamente assegurado com a reflectir sobre aquilo que fazia e onde o conhecimento que obtive estava a fazer a diferença. A quantidade supervisão de um/a Psicólogo/a mais sénior e experiente na área. de workshops e formações que atendi foi também muito estimulante para mim. Regressar à Psicologia Tal, permitirá, por um lado, aplicar em contexto real de trabalho os tantos anos depois foi como regressar a mim própria principais conhecimentos teóricos e, por outro, assegurar a resposta e, finalmente, ter chegado a minha casa para construir a minha vida. adequada às necessidades identificadas e, quem sabe, criar aí uma possibilidade real de continuação do trabalho desenvolvido, que não se Este é “O Ano”. Procuramos com tanto afinco por um estágio e eis que surge a nossa oportunidade de brilhar! limite apenas aos 12 meses do estágio. O meu ano profissional júnior foi deveras importante para o meu percurso em Psicologia, pois foi o momento certo para experimentar a intervenção na Assente nestes pressupostos, o ano profissional júnior permite, assim, área que me cativava mais, mas que tinha explorado trazer para o mercado de trabalho o/as novo/as Psicólogo/as, a pouco até então – a Psicologia da Educação. Hoje em dia, a experiência foi tão boa e tão enriquecedora nova geração de profissionais qualificados, aptos a iniciar a sua activi- que continuei a trabalhar na área e procuro dar continuidade à minha carreira nesta área. dade profissional em Psicologia e a desenvolver a sua carreira, subindo mais esse degrau. Uma carreira que se espera sempre em constante Passaram 4 anos desde o meu estágio curricular até ao meu Ano Profissional Júnior. Foi uma escolha mutação, susceptível a desvios e alterações, feita por cada um/a, in- exigente e exaustiva. Mas necessária. Descrevo-o tegrando não apenas uma sequência significativa de experiências de como um ano importante, que me marcou a nível profissional e pessoal. O medo era evidente, mas fui trabalho (que poderão decorrer em diferentes áreas e contextos de com medo mesmo. E hoje agradeço a todos os que intervenção), como também outros papéis de vida, tais como o familiar, me acompanharam nesse percurso, onde aprendi tanta, mas tanta coisa, mas também conheci pessoas o social, o de lazer e de cidadania, mas que possibilite a satisfação pes- maravilhosas que me ajudaram a ser a Psicóloga que soal e o sucesso psicológico ao longo de todo o ciclo de vida. sou hoje. Aprendizagem e crescimento - O meu Ano Profissional Num acompanhamento estreito de todo este processo e contando com Júnior demorou algum tempo a tornar-se uma realidade. No meio de vários contactos, e pesquisa de uma equipa sempre disponível para apoiar e ajudar a ultrapassar todos mercado, acabou por surgir a oportunidade de estagiar no contexto pretendido e no local onde me encontro os desafios que vêm com a reflexão sobre o projecto de carreira, a neste momento a trabalhar. Foi um ano de muitas procura do primeiro emprego em Psicologia e o acesso à profissão, a aprendizagens (pessoais e profissionais), de contacto com a profissão de uma forma mais autónoma, mas OPP promove um conjunto de iniciativas que potenciam, desde a fase necessariamente supervisionada e acompanhada por académica, o desenvolvimento de competências (empregabilidade, um excelente Orientador, onde desenvolvi um conjunto de competências, contactei com profissionais e empreendedorismo e planeamento de carreira) facilitadoras da transi- famílias que me fizeram crescer enquanto ser humano ção para o mercado de trabalho. Exemplo disso são as e.Academia e e Psicóloga. O meu muito obrigada a todos eles! os Workshops online EmCarreira que aguardam pela participação de Uma oportunidade para crescer - Confesso que quando todo/as o/as que requeiram esse apoio. iniciei o meu Ano Profissional Júnior, achei que não sabia nada de Psicologia, nada sobre o contexto em que ia trabalhar e tive muitas dúvidas sobre como ia correr aquele ano de estágio profissional tão importante para mim (e muito receio de poder pôr em risco a entrada na Ordem). Olhando para trás, acho que foi dos anos mais importantes da minha vida. Sou psicólogo há 3 anos e o meu Ano Profissional Júnior foi essencial para ser o psicólogo que sou hoje e para poder traçar as próximas etapas da minha carreira: descobri muito sobre mim, sobre as minhas capacidades, mas também sobre os meus limites. Percebi a vertente da psicologia que tinha mais a ver comigo... percebi a importância de pensar em conjunto e ouvir diferentes perspectivas sobre as situações... Foi um ano muito desafiante, principalmente no início, mas muito marcante. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 25 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO SER PSICÓLOGO / TORNAR-SE PESSOA O que é a Psicologia? Para que serve, a que se aplica? Pode apren- der-se a ser Psicólogo? Seria de supor que estas são questões dema- siado óbvias para os Psicólogos. Mas na verdade, a atitude de questio- namento sobre a natureza e finalidades da Psicologia é algo que nunca deve abandonar-nos. De resto, deve começar antes até da entrada no ensino superior e manter-se ao longo de toda a vida profissional, pois apenas ela pode permitir a descoberta contínua dos vários e novos ARTIGO POR caminhos, áreas, aplicações, contextos de intervenção e carreiras da EDITE QUEIROZ nossa ciência. Na Academia OPP – projecto criado pela Ordem dos Psicólogos Por- tugueses em 2015, que acompanha os estudantes de ensino superior em Psicologia – questionamos os alunos do 1º ano sobre os motivos da sua opção académica. Pode parecer um exercício de quebra-gelo sem conteúdo particularmente relevante, mas é muito revelador das representações da Ciência Psicológica para os estudantes, que na- turalmente espelham as da sociedade, em geral. As respostas são muito diversas, mas podemos identificar como mais frequentes verba- lizações do tipo: Sempre quis ajudar os outros; Sou bom/ boa ouvinte; A minha mãe/ pai é Psicólogo/a; Tive um professor/professora que me explicou o que era a Psicologia; Consultei um Psicólogo quando era criança; Tenho muita curiosidade em perceber o comportamento humano, etc. De seguida, perguntamos quais as áreas da Psicologia que os apaixonam, o que gostariam mesmo de fazer enquanto futuros profissionais. Neste ponto, as respostas são normalmente as clássicas: Clínica, muitos dizem. Trabalhar com crianças. Escolas. Recursos Hu- manos. Também em voga parece estar a área Forense, a Psicologia do Desporto, a Neuropsicologia. E o que pretendem fazer para conseguir trabalhar na vossa área de eleição, perguntamos por fim. Também aqui encontramos respostas clássicas: Vou fazer um doutoramento na área; Quero estudar lá fora; Pretendo dedicar-me à investigação. “Um Psicólogo é a sua única ferramenta de trabalho – e por isso, para ser Psicólogo é preciso tornar-se Pessoa.” Certamente que a preparação teórica e académica, como a experiên- cia profissional acumulada, serão incontornáveis, reforçamos. Mas SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 27 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO não será também preciso conhecer os outros? Viajar, ler romances e poesia, ir ao cinema, jantar com os amigos? Desenvolver os nossos interesses, ter hobbies particulares, passar tempo sozinhos? Observar com curiosidade, falar com desconhecidos na rua? Voltamos à pri- meira pergunta e chamamos à atenção para o denominador comum das respostas que ouvimos: A tónica colocada nas características do próprio, mais do que nas da futura profissão. Não está errado – e não é por acaso: Um Psicólogo é a sua única ferramenta de trabalho – e por isso, para ser Psicólogo é preciso tornar-se Pessoa. Nesse sen- tido, as características pessoais de quem ambiciona tornar-se Psicólo- go são de extrema importância; elas irão definir o tipo de profissional em que nos converteremos e determinar, em larga medida, as áreas da Psicologia em que nos iremos mover, dando forma às experiências enquanto estudantes de Psicologia e mais tarde Psicólogos, as esco- lhas que faremos ao longo da vida profissional e as Pessoas únicas que seremos ao longo da vida. O desenvolvimento pessoal do Psi- cólogo é, por isso, tão importante como a sua formação académica e profissional – e, da mesma forma, deve começar antes do ensino superior e manter-se ao longo de toda a carreira. Falando nisso… e o que é a carreira? Certamente que não é algo está- tico, definitivo, que possa ser definido nos primeiros anos de formação. A sua construção implica ir descobrindo a vida… e a Psicologia – por dentro e por fora. E para conhecer a Psicologia, é preciso abdicar de preconceitos e ideias feitas, explorar e experimentar, pôr-nos à prova, estar disponíveis para a surpresa, para fazer e pensar coisas novas. A carreira não é uma escolha; é um caminho que se descobre nas veredas de dois mapas fundamentais: O desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento profissional. Perceberemos, em artigos futuros, a forma como o primeiro potência o segundo e vice-versa, o papel de ambos na preparação de um percurso de carreira e a experiência basilar do Ano Profissional Júnior – o estágio profissional – enquanto momento primeiro de teste de realidade. Consulte o artigo no Blog Psicarreiras. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 28 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO A PSICOLOGIA É UMA VIAGEM A identidade pessoal faz-se de atributos que nos diferenciam dos de- mais e são continuamente transformadas nas e através das relações com os outros. Nesse sentido, qualquer profissão cria modos de ser, pensar e agir, funcionando como elemento de identificação de cada um face ao Outro – no nosso caso, Ser Psicólogo. Se as vivências e características individuais são centrais na construção da identidade pessoal, a auto-imagem profissional será também basilar na definição ARTIGO POR dos valores, motivações e experiências. As bases da Identidade do Psi- EDITE QUEIROZ cólogo assentam, portanto, na especificidade dos seus conhecimentos e práticas, mas também no seu percurso académico, história pessoal e significado atribuído às suas experiências – pessoais e profissionais. “A capacidade de reflexão e análise, a abertura à diversi- dade e à diferença e a relação empática com o Outro são características que diferenciam os Psicólogos dos profis- sionais de outras áreas. Ora estas competências não se aprendem no ensino superior: São fruto do auto-conhe- cimento que decorre de um processo contínuo de desen- volvimento pessoal. Este denominador comum a todos os Psicólogos, independentemente da área de intervenção ou do público-alvo, confunde-se com o propósito do seu trabalho.“ É um processo idiossincrático, já que todos os Psicólogos são di- ferentes. Mas todos praticam uma ciência de natureza complexa, que funciona em relação e tem por matéria o ser humano, as suas crenças, valores, emoções e demais elementos da subjectividade humana. É este, por excelência, o objecto da Psicologia. A necessi- dade de aceitação do que é diverso implica desenvolver competências para lidar com diferentes indivíduos e grupos, bem como de reflexão e pensamento crítico, por forma a actuar com integridade e justiça, sal- vaguardar crenças pessoais e prevenir a sua interferência na prática profissional. Implica ainda manter o olhar no horizonte: Ser permeável ao momento histórico, estar atento a novas necessidades da própria profissão, responder-lhes com disponibilidade curiosa – por exemplo, sem dúvida que a actual pandemia de COVID-19 é determinante SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 29 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO para a Psicologia: Representa um enorme desafio para a interven- ção dos Psicólogos e exige de cada um a disponibilidade para sair da sua zona de conforto, transformando, ampliando ou adaptando a sua forma de intervenção. É por isso indiscutível que a identidade do Psicólogo emerge não ape- nas da sua formação e prática, mas dos seus traços e atributos. A capacidade de reflexão e análise, a abertura à diversidade e à di- ferença e a relação empática com o Outro são características que diferenciam os Psicólogos dos profissionais de outras áreas. Ora estas competências não se aprendem no ensino superior: São fru- to do auto-conhecimento que decorre de um processo contínuo de desenvolvimento pessoal. Este denominador comum a todos os Psicólogos, independentemente da área de intervenção ou do pú- blico-alvo, confunde-se com o propósito do seu trabalho, no sentido em que o objectivo último da Psicologia não é outro senão o de pro- mover o auto-conhecimento, a capacidade de adaptação e a mudança cognitiva e comportamental. O momento da escolha do curso é muitas vezes marcado por dema- siadas certezas e por uma certa idealização da Psicologia. Ao longo do curso, surge o conflito entre o querer ser e o saber fazer; inicia- -se um processo de construção de significado para a profissão e de elaboração de uma identidade que aproxima o Eu da profissão esco- lhida. Por fim, na transição para o contexto real de trabalho – o Ano Profissional Júnior – emergem dúvidas e inseguranças na direcção a tomar. A necessidade de adquirir ferramentas e suplementar a for- mação constituem um novo patamar na construção da identidade do futuro Psicólogo. É natural que seja um momento árduo, mas também de novas aprendizagens, descobertas e reatribuição de significados ao saber adquirido, que confluem nessa aproximação permanente entre o Eu pessoal e profissional e a prática da profissão: a elaboração de possibilidades de actuação, o acesso aos referenciais da profissão por via do livre-arbítrio, a apropriação de conceitos e práticas, a escolha de um caminho necessariamente dialéctico e transformador. A Psicologia é uma viagem para a qual levamos uma bagagem in- completa, que vai sendo incrementada e transformada com a formação académica e profissional, com a experiência de trabalho e com a expe- riência de vida. A identidade profissional e os produtos do processo de auto-conhecimento são armas poderosas e complementares, que nos colocam, a todo o momento, numa melhor posição para a conquista do saber fazer, enquanto domínio das condições para o exercício e para a definição de um percurso de carreira. Consulte o artigo no Blog Psicarreiras. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 30 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO ESCUTAR POR DENTRO “I took a deep breath and listened to the old brag of my heart: I am, I am, I am.” – Sylvia Plath Todos os anos saem das instituições de ensino superior cerca de 1200 novos diplomados em Psicologia, o que representa uma enorme con- quista, mas também uma dificuldade acrescida para uma área profis- ARTIGO POR sional que sempre se debateu com desafios à empregabilidade – fruto EDITE QUEIROZ da representação social dos serviços dos psicólogos como algo aces- sório, secundário, assistencialista. Ainda que este paradigma comece finalmente a alterar-se, num contexto de competitividade elevada e problemas cíclicos de desemprego, a ideia de que para ser bem-suce- dido no mercado de trabalho é essencial possuir competências e ati- tudes que extravasam o conhecimento académico tem vindo a ganhar popularidade. Também por isso, o desenvolvimento pessoal emerge como facilitador do desenvolvimento profissional, na medida exacta em que este último contribui para a formação e crescimento indivi- duais. Para os psicólogos e futuros psicólogos, a dimensão pessoal é central na esfera profissional. Não é possível abdicar de experiências de vida, valores e crenças individuais no decurso de um labor que envolve compreender o Outro. Em suma, pensar a carreira não deve começar por olhar em volta – mas por olhar para dentro. Para de- senvolver a escuta activa, é necessário aprender a escuta interna. Não é tão simples quanto possa parecer. “…[…] pensar a carreira não deve começar por olhar em volta – mas por olhar para dentro. Para desenvolver a es- cuta activa, é necessário aprender a escuta interna. Não é tão simples quanto possa parecer.“ Os estudos sobre o desenvolvimento pessoal em estudantes apontam diversos aspectos que devem estar presentes ao longo deste proces- so. São eles o confronto com perspectivas diferentes das do próprio, o apoio e encorajamento, o contacto com amigos e familiares, as ex- periências pessoais (culturais, sociais, históricas), as relações inter- pessoais e alterações na forma como são estabelecidas (implicando SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 31 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO progressivamente uma maior expressão do próprio), as competências sociais, relacionais e comunicacionais, o desenvolvimento da auto- -estima, da auto-imagem, da capacidade de auto-monitorização, au- to-controlo e auto-cuidado, a aceitação crescente das características pessoais, o aumento da capacidade empática, a auto-regulação emo- cional e afectiva, a gestão das dificuldades e desafios encontrados e estratégias de coping utilizadas, o aumento da abertura à experiência, a capacidade de gestão do tempo e de organização, a capacidade de auto-reflexão e o desenvolvimento de uma identidade pessoal e profis- sional – e a interligação das mesmas. Os factores pessoais na base de um percurso de carreira incluem in- teresses, aptidões, competências, valores e preferências pessoais. O processo de desenvolvimento pessoal permite auto-acompanhar as experiências, progressos e realizações, reflectir sobre eles e fazer aprendizagens criteriosas acerca do que queremos fazer em função das nossas características, percursos de vida e aspirações, a fim de repetir o que funcionou bem e aprender com os erros. Em suma, saber quem somos, para onde queremos ir, e o que fazer para lá chegar. É um processo intencional e de complexidade crescente, que envolve emoções, cognições e comportamentos, que permite perceber capaci- dades e aptidões, identificar forças e fraquezas e adquirir a capacida- de de as descrever de forma clara. É ainda, como o desenvolvimento profissional, um processo contínuo e progressivo, composto por uma sucessão de mudanças que reflectem a interacção do indivíduo com os outros e com o seu contexto social e cultural. Se o desenvolvimento pessoal é a coluna vertebral da aprendizagem e da realização académica e profissional, o seu produto maior é o auto- -conhecimento. Pode parecer paradoxal, mas o auto-conhecimento é um exercício contínuo que exige dedicação e foco. Mas as suas vanta- gens são inúmeras. Falaremos delas num próximo texto. Consulte o artigo no Blog Psicarreiras. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 32 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO INTERESSES, CARREIRA E VOCAÇÃO No artigo anterior (“Escutar por Dentro“), concluímos com uma refe- rência ao auto-conhecimento enquanto produto maior do desenvolvi- mento pessoal, um processo que se estende ao longo do ciclo de vida e que é necessariamente intencional. As vantagens do auto-conheci- mento são incontáveis e têm efeitos directos em todas as dimensões da vida – por exemplo, influi na percepção e capitalização de caracte- rísticas e interesses pessoais, no domínio do pensamento e do com- ARTIGO POR portamento (processos de auto-controlo), na auto-regulação emocio- EDITE QUEIROZ nal, na utilização estratégica das nossas virtudes e talentos, na gestão eficaz dos nossos pontos fortes e percepção dos pontos fracos, na auto-confiança e auto-estima, no desenvolvimento da empatia, sentido de solidariedade e consciência em relação ao Outro, na percepção de oportunidades relevantes e consonantes com a nossa personalidade ou na facilitação do desenvolvimento de um foco ou rumo de acção (pessoal ou profissional). “…[…] uma vez que cada tipo de personalidade apresen- ta uma forma de interacção interpessoal e estratégias preferidas de resolução de problemas, a escolha de um contexto de intervenção na Psicologia é necessariamente uma manifestação da personalidade.“ Comecemos pela questão dos Interesses. Muitos dos estudantes de Psicologia estarão familiarizados com a Teoria dos Interesses e das Escolhas Vocacionais de Holland (também conhecida como Modelo Hexagonal de Holland), amplamente utilizado na Psicologia Vocacio- nal. O modelo tenta explicar porque é que escolhemos determinadas profissões e quais os factores pessoais e ambientais que facilitam ou dificultam o sucesso profissional, sugerindo que procuramos contex- tos laborais que correspondam à nossa personalidade e vocações – permitindo assim a aplicação das nossas melhores competências e a expressão dos nossos valores. De acordo com o modelo, os interesses vocacionais distribuem-se num hexágono em que cada ângulo corresponde a um determinado tipo de personalidade: Realista (R), Investigativo (I), Artístico (A), Social (S), SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 33 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO Empreendedor (E) e Convencional (C). O modelo pretende explicar a relação entre os diferentes tipos de personalidades e o ambiente profissional escolhido por cada indivíduo. As semelhanças psicológi- cas entre os tipos de personalidade são proporcionais às distâncias entre os mesmos no hexágono: quanto menor for a distância maior é a semelhança psicológica entre eles. Por exemplo, o tipo Social e Empreendedor, que são contíguos no esquema, são semelhantes no que concerne ao contacto com pessoais, enquanto o tipo Artístico e Convencional, opostos no esquema, são radicalmente diferentes (o Artístico envolvendo uma dimensão mais criativa e o Convencional envolvendo a formalidade e a ordem). A maioria de nós combina dois ou três dos tipos de personalidade des- critos. No decurso do desenvolvimento pessoal e profissional, as pre- ferências vocacionais vão-se transformando em interesses profissio- nais reais através da interacção entre estímulos ambientais e aspectos motivacionais internos. Assim, uma vez que cada tipo de personali- dade apresenta uma forma de interacção interpessoal e estratégias preferidas de resolução de problemas, a escolha de um contexto de intervenção na Psicologia é necessariamente uma manifestação da personalidade. A identificação da nossa tipologia é um exercício que pode ser relevante na identificação de áreas ou contextos de interven- ção que melhor correspondam aos nossos traços de personalidade, aptidões e interesses, contribuindo, em última análise, para trajectórias profissionais mais satisfatórias e bem-sucedidas. Consulte o artigo no Blog Psicarreiras. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 34 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO COMPETÊNCIAS SUAVES, COMPETÊNCIAS CRUCIAIS Enquanto opção académica, a Psicologia foi e continua a ser uma dis- ciplina extremamente popular. A natureza fascinante do conhecimento psicológico atrai um grande número de estudantes, resultando numa média de 1200 novos diplomados em Psicologia por ano e preparando- -os para uma ampla variedade de carreiras relacionadas com as pes- soas e sua interacção. Na Academia OPP, não é raro conversarmos com estudantes que escolheram a Psicologia não porque pretendam ARTIGO POR tornar-se psicólogos, mas porque entendem – e bem – que ciência psi- EDITE QUEIROZ cológica é uma formação fundamental para o desempenho de outras funções (por exemplo, uma carreira nas forças policiais ou nas forças armadas) ou poderá constituir uma mais-valia no mercado de trabalho. “[…] actualmente não é suficiente ser tecnicamente com- petente; é também fundamental desenvolver competên- cias sociais e comportamentais, naturalmente resultan- tes da individualidade do percurso de cada um – também deste ponto de vista, o desenvolvimento pessoal e profis- sional caminham lado a lado.” Tradicionalmente, o mercado de trabalho valorizou sobretudo as com- petências técnicas dos candidatos – as chamadas hard skills (compe- tências específicas e ensináveis, adquiridas via formação e experiência profissional, que podem ser definidas e medidas, e se destinam ao desenvolvimento de determinada função). Mas o mercado tem sofri- do transformações profundas que exigem, para além da competência técnica, um conjunto de aptidões que permitam fazer face a desafios constantes e possibilitar a rápida adaptação a novos contextos. Por tal, actualmente não é suficiente ser tecnicamente competente; é também fundamental desenvolver competências sociais e compor- tamentais, naturalmente resultantes da individualidade do percur- so de cada um – também deste ponto de vista, o desenvolvimento pessoal e profissional caminham lado a lado. E por isso, a maioria dos empregadores tem em conta essas competências – as chamadas soft skills – no processo de recrutamento de novos profissionais. Mui- tos afirmam mesmo que as competências sociais e comportamentais são mais importantes do que as técnicas. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 35 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO As soft skills podem ser definidas como competências de relação e interacção baseadas na inteligência emocional que se desenvolvem ao longo da vida nos mais variadíssimos contextos, nascendo dos diferen- tes papéis que desempenhamos e das nossas experiências pessoais (ex., sociais, culturais, académicas). Assim, não sendo específicas de uma determinada ocupação ou profissão, o cariz transversal destas competências torna-as úteis em qualquer tipo de função e pode por isso ser decisivo num processo de recrutamento. Na maioria das ve- zes, para além da formação técnica exigida (por exemplo, um mestrado em determinada área que permite dotar o candidato de um determina- do conjunto de hard skills), a diferenciação mais fina entre os candida- tos é feita através da análise das suas soft skills. Ora a formação em Psicologia não apenas equipa os futuros profissio- nais de competências técnicas. Conforme já vimos no nosso artigo “A Psicologia é uma Viagem”, a própria essência da Psicologia implica o desenvolvimento de um conjunto de competências sociais e com- portamentais cujo valor é inestimável e transversal a uma gran- de multiplicidade de contextos. Estas competências – criatividade, proatividade, persuasão, resiliência, colaboração, pensamento crítico, iniciativa, adaptabilidade, gestão de tempo – são também úteis na ob- tenção de resultados positivos no trabalho, bem como no evitamento de resultados negativos. Uma vez que não podem ser alvo de uma avaliação ou quantificação formal, a importância das soft skills no mercado de trabalho tende a ser desvalorizada pelos candidatos. Claramente, trata-se de um erro: O mercado de trabalho centrado nas soft skills traz aos Psicólogos um desafio acrescido que passa pelo desenvolvimento e valorização deste tipo de competências, mas também pela necessidade de alinhamento estratégico destas competências a um mercado cada vez mais exigen- te e em constante mudança. Decorrente dessa mudança, o conjunto de competências transversais que é hoje valorizado no mercado de trabalho irá alterar-se ao longo dos próximos anos. Cabe a cada um de nós, enquanto Psicólogos, ajustar o desenvolvimento das nossas soft skills às necessidades do mercado, bem como identificar novas áreas emergentes de actuação, assim como a ligação estratégica a áreas fronteiriças. Num artigo futuro, abordaremos formas de identificar e desenvolver estas competências tão especiais – e de crucial relevância para a pro- fissão de Psicólogo. Consulte o artigo no Blog Psicarreiras. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 36 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO UM PERCURSO EM RETROSPECTIVA (E A TOMADA DE DECISÃO NA CARREIRA) Vou propor-lhe já um desafio. Procure uma fotografia sua, quando tinha cerca de 3, 4, 5 anos de idade (tanto faz). Olhe para si – re- corda-se daquele momento? A maioria de nós olha para a infância quase como um filme extraor- dinário, ingénuo, brincalhão, cândido e colorido, do qual temos al- gumas fotografias empoeiradas ou até alguns vídeos armazenados ARTIGO POR na garagem de familiares… mas que dificilmente vemos na primeira ANA LEONOR BAPTISTA pessoa. Será difícil, perto do impossível, não olhar e ver com distan- ciamento fotografias nossas de quando tínhamos 3 anos de idade ou de quando éramos recém-nascidos (aliás, a primeira infância é para todos nós pura amnésia). Lembramo-nos de como pensávamos sobre as coisas quando tínhamos 4 anos? Lembramo-nos do que sentíamos em relação aos nossos pais/cuidadores, familiares ou amigos? Como interagíamos com eles? Como expressávamos afecto ou manifestáva- mos as nossas vontades? Eu tenho algumas ideias, mas sei muito pouco. À medida que cres- cemos, aprendemos a linguagem e os conceitos, organizamos a nossa realidade e começamos a aprender a gerir a informação de que já dispomos sobre o mundo e a significá-lo. O social e o bio- lógico ligam-se, o nosso cérebro desenvolve-se, amadurecemos, tornamo-nos pessoas. E neste caminho de nos tornarmos pessoas, começa a ser cada vez mais clara a noção de que existe intencionali- dade por detrás das nossas acções, comportamentos ou escolhas, de que cada indivíduo é um ser único, um mundo de interligações entre si, os outros e o contexto, um poço fundo de interesses, que- reres, experiências, aspirações e inspirações. A dicotomia razão-e- moção vai-nos acompanhando e, a cada decisão tomada, pesamos e consideramos argumentos dos “dois lados”, activando o nosso córtex pré-frontal (que nos é tão especial, como bem sabemos). Pirateamos a nossa mente quando queremos inibir um em função do outro, e brin- camos com as nossas faculdades mentais à medida que traçamos os nossos percursos. SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 37 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO Olhe para a sua carreira… “São as nossas escolhas, muito mais do que as nossas capacidades, que mostram o que realmente somos.” E se lhe pedir para realizar um exercício semelhante ao primeiro, mas desta vez olhando a sua carreira (ou o seu percurso académico, caso seja estudante ou psicólogo júnior)? Quando olha para o psicólogo (ou estudante) que era, reconhece-se? Desta vez, tenho a certeza (e espero) que sim. Nós somos o que decidimos. Já Dumbledore dizia a Harry Potter “são as nossas escolhas, muito mais do que as nossas capacidades, que mostram o que realmente somos”. E se isto é verdade para a constru- ção da nossa identidade, também se verifica na construção dos nossos percursos de carreira. Atravessamos diversos momentos-chave na nossa carreira, com graus de importância que vão variando de acordo com a distância com que os olhamos: a tomada de decisão sobre a es- colha de faculdade, sobre a área de sub-especialização no mestrado, a entrada no mercado de trabalho e a procura de entidades que acolham o ano profissional júnior, a procura de emprego, as mudanças de área, a criação de projectos, o envolvimento em investigações, o responder “sim” a um convite de colaboração… todos estes momentos podem ser marcos que vão determinando o nosso percurso profissional. À partida, não agiremos por impulso em nenhum dos momentos supra- mencionados – cada um deles requer uma tomada de decisão, uma análise da informação disponível, uma “filtragem” da mesma de acordo com os nossos interesses, objectivos, competências, va- lores. Pesamos um leque de opções, pensamos nas vantagens e desvantagens de cada possível escolha, usamos o nosso racional mas também o emocional – e por vezes fazemos tudo isto de forma “automática”, sem sequer nos consciencializarmos da complexida- de de cada tomada de decisão. Será relativamente fácil olhar para trás, para o começo da idade adul- ta, e reconhecermo-nos, recordarmo-nos mais ou menos do nosso pensar e sentir quando tínhamos 18 anos, nos nossos objectivos e das expectativas que tínhamos em relação ao futuro. Mas nem sempre as decisões que tomamos a partir daí reflectem exactamente a pes- soa em que nos tornámos (ou a pessoa que, na altura, queríamos ser). Muitas são as partilhas de colegas que, nas mais variadas fases do seu percurso de carreira, referem que gostariam de voltar atrás e ter escolhido outra área, ter investido noutro tipo de formação, largar o seu emprego ou experimentar iniciar o seu projecto pessoal, mas deci- diram “automaticamente” não o fazer e ir pelo caminho que, na altura ou agora, lhes pareceu mais óbvio ou menos arriscado. Parece-me a mim que a eventual chave para melhorarmos os nos- sos processos de tomada de decisão e construirmos um percurso de carreira mais consonante connosco (com mais sentido e mais alinhamento) é, precisamente, a tomada de consciência sobre a complexidade deste processo cognitivo que fazemos. Perceber que SER PSICÓLOGO O INÍCIO DA CARREIRA EM PSICOLOGIA 38 POR ONDE COMEÇAR? AUTOCONHECIMENTO temos de tomar decisões, percebermo-nos a nós próprios, perceber- mos que nenhuma tomada de decisão, singular, será determinante de uma vida/carreira inteira (mas tal não quer dizer que não devamos investir algum tempo a pensá-la), perceber quais as opções que te- mos, perceber que podemos pedir uma perspectiva externa a alguém da nossa confiança, perceber qual o nosso plano e o que virá daquela tomada de decisão, percebermos se aquela opção reflecte quem so- mos e quem queremos ser… tudo isto ajudar-nos-á a construir uma carreira mais significativa, que nos faça olhar para trás com felicidade e tranquilidade pelas decisões que tomámos. O meu objectivo com este texto é fazê-lo reflectir sobre as suas toma- das de decisão – por quem é que está a tomar as suas decisões? Por que motivo? Como é que determinada escolha o irá impactar? Esta escolha reflecte os seus valores? Vai ajudá-lo a sair do sítio onde está e a aproximar-me do sítio para onde quer ir? A carreira não se constrói ao acaso, será um percurso intencional e pessoal para cada indivíduo… e

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