Métodos de Avaliação I 2024/2025 - ISPApdf

Summary

This document provides a lecture on assessment methods, focusing on clinical interviewing techniques and report writing. It covers different types, strategies, advantages, and disadvantages of the interview process. The presentation further describes the essential format for psychological evaluations, emphasizing clarity, specific vocabularies, appropriate details, and grammar to enhance patient interpretation.

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Métodos de Avaliação I Ano letivo: 2024/2025 Coordenadora: Prof.ª Doutora Telma Sousa Almeida [email protected] Telma Sousa Almeida © Entrevista Telma Sousa Almeida © Entrevista ⇥ Historicamente...

Métodos de Avaliação I Ano letivo: 2024/2025 Coordenadora: Prof.ª Doutora Telma Sousa Almeida [email protected] Telma Sousa Almeida © Entrevista Telma Sousa Almeida © Entrevista ⇥ Historicamente, a entrevista clínica tem sido um elemento central de avaliação em psicologia e psiquiatria. ⇥ Um dos métodos de avaliação mais utilizados - permite uma recolha eficiente e relevante de informação para efeitos de diagnóstico e tratamento. ⇥ As entrevistas clínicas são um método mais económico e eficiente do que outros métodos de avaliação que requerem conhecimentos ou equipamentos especializados (por exemplo, testes psicológicos e neuropsicológicos) e podem ser utilizadas em diversos contextos, com uma grande variedade de pacientes. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista ⇥ Processo através do qual um psicólogo recolhe uma combinação de informações demográficas, sociais, médicas, educacionais, familiares, psicológicas, e desenvolvimentais acerca do paciente através do próprio ou de outras fontes (e.g., familiares). ⇥ Podem ser recolhidas informações provenientes de outras fontes, como registros médicos e escolares, para complementar as informações obtidas junto do cliente para estabelecer um diagnóstico, julgar a gravidade dos sintomas e sugerir um tratamento. ⇥ A entrevista configura-se, também, como uma oportunidade para o psicólogo construir uma relação com o cliente. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Definição The clinical interview is a distinct form of interviewing that involves a face-to- face verbal and nonverbal exchange between a clinician and client designed to gather data that is needed for diagnosis and treatment of the client. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura ⇥ Tipos de entrevista: 1. Entrevista aberta 2. Entrevista de estrutura flexível 3. Entrevista Semiestruturada 4. Entrevista Estruturada (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 11. Entrevista aberta Permite uma condução livre da entrevista. Amplamente utilizada em contexto clínico. Adoção de um tom de conversação entre o psicólogo e o cliente. O psicólogo determina as áreas de conteúdo a serem abrangidas, o nível de detalhe em que cada área é abordada, a ordem na qual as informações são recolhidas, as perguntas que são colocadas, a duração da entrevista, a forma como as informações são avaliadas, registadas e interpretadas, e quaisquer outros aspetos considerados relevantes. (Akin & Turner, 2006; Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 11. Entrevista aberta: vantagens Pode ser adaptada às preocupações específicas do cliente Permite flexibilidade na profundidade em que um problema ou sintoma é explorado A sua natureza conversacional pode ajudar na construção da relação Pode ser menos demorada do que outros tipos de entrevistas E pode ser administrada em qualquer lugar Psicólogo escolhe a ordem através da qual coloca as questões que considera relevantes Eficaz na exposição dos sentimentos, mecanismos de defesa e processos de pensamento dos clientes, o que fornece importantes insights para a psicoterapia (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 11. Entrevista aberta: críticas/desvantagens Ampla variabilidade no tipo de informação recolhida por diferentes profissionais, em função da sua orientação teórica e da apresentação do problema por parte do cliente. A entrevista pode focar-se em informações triviais, em detrimento de informações relevantes, cruciais para um diagnóstico preciso. A falta de estrutura formal torna-a suscetível a erros. Requer um conhecimento aprofundado do sistema de diagnóstico, mais experiência, competência e formação do que outros formatos mais estruturados de entrevista. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível Tipo mais popular de entrevista clínica utilizada por psicólogos experientes. Normalmente começa com um formato livre onde as informações discutidas são determinadas pelos problemas trazidos pelo próprio cliente (problema que originou o pedido). (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns a) Questões sobre o problema que originou o pedido (principais queixas) b) Dados sociodemográficos e de identificação (e.g., idade, escolaridade, estado civil, raça/etnia, ocupação laboral, residência). c) Questões sobre a história da preocupação apresentada: a duração e a gravidade dos sintomas atuais; fatores psicossociais e outros que precipitaram o problema atual; forma como este problema tem impactado o funcionamento interpessoal do individuo, a vários níveis (familiar, laboral social). d) Questões sobre a presença e gravidade de sintomas psiquiátricos (se aplicável) (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns e) Historial médico (doenças físicas e mentais, medicação, consumo de substâncias, etc.), desenvolvimental (parto, nascimento, infância, marcos desenvolvimentais, percurso escolar), familiar (incluindo relacionamentos amorosos), social f) Percurso laboral g) Historial de problemas físicos e mentais dos elementos familiares h) Envolvimento com a justiça i) Serviço militar j) Entre outros. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns k) Avaliação do Estado Mental: Descrição objetiva da aparência, comportamento, linguagem, humor e estado emocional do cliente, conteúdo e processo de pensamento, insight e cognição no momento da avaliação. Há alguma variabilidade entre os profissionais no que concerne aos procedimentos utilizados para avaliar estas áreas, mas a observação informal durante a entrevista e a avaliação cuidadosa dos processos de pensamento com base no discurso do cliente são essenciais. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível - tópicos comuns k) Avaliação do Estado Mental: A observação informal do comportamento e do discurso durante a entrevista fornece informações sobre a aparência do cliente, o afeto, a atividade motora, o sequenciamento de pensamentos, capacidade de atenção e concentração. Tipicamente incluem-se procedimentos breves para determinar a orientação (por exemplo, dia, data, mês, ano, local) e capacidades cognitivas como á atenção, a memória e a abstração. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 21. Entrevista de estrutura flexível – vantagens É facilmente adaptável e modificada para abordar inúmeras metas de diagnóstico e tratamento perante restrições externas, como o tempo alocado para a entrevista. Entrevista de estrutura flexível – críticas/desvantagens A falta de estrutura formal torna este tipo de entrevista mais suscetível a erros. Requer um conhecimento aprofundado do sistema de diagnóstico, mais experiência, competência e formação do que outros formatos mais estruturados de entrevista. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 33. Entrevista Semiestruturada Permite uma maior flexibilidade durante a entrevista e garante que um determinado conjunto de questões são abordadas na entrevista. Embora seja necessário abordar determinados tópicos, existe flexibilidade na ordem e na forma como as questões são colocadas. Vistas como mais naturais do que entrevistas estruturadas porque podem ser personalizadas ao cliente e permitem uma maior espontaneidade, embora seja necessário um maior julgamento clínico em comparação com as entrevistas estruturadas. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 33. Entrevista Semiestruturada - vantagens Mais estandardizadas, reduzindo a margem de erro no diagnóstico. Permitem que os avaliadores coloquem questões de uma forma consistente com o seu estilo clínico e com base nas características e preocupações únicas do cliente (isto inclui formular as suas próprias perguntas para clarificar a presença ou ausência de critérios de diagnóstico e reformular questões quando o cliente não as compreende). Mais natural e espontânea do que uma entrevista totalmente estruturada. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 33. Entrevista Semiestruturada - desvantagens Tal como as entrevistas estruturadas, as entrevistas semiestruturadas são morosas, requerem formação extensiva e domínio dos materiais de administração. São necessários manuais, livros e/ou folhas de pontuação para uma boa administração. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada Fornecem especificação detalhada sobre o tipo de informação que deve ser incluída na entrevista e como esta deve ser recolhida e registada. São especificadas as áreas de informação abrangidas, a ordem pela qual a informação é abordada e o conteúdo das perguntas. Neste sentido, é fundamentalmente uma lista de sintomas e comportamentos, com orientações detalhadas sobre a forma como a entrevista deve ser realizada e como os dados devem ser registados. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada Estas entrevistas, requerem pouca inferência clínica durante a recolha dos dados e não há necessidade de interpretação clínica no processo de diagnóstico, o que garante que diferentes avaliadores obtenham os mesmos dados sobre o mesmo paciente. (Allen & Becker, 2019) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada: vantagens A avaliação sistematizada dos sintomas e do comportamento reduzem erros de diagnóstico Asseguram um elevado nível de estandardização Aumentam a confiança para comparações sistemáticas no tempo, entre contextos e diagnósticos para o mesmo cliente (como ocorre frequentemente em contextos clínicos) e entre diferentes clientes (como ocorre frequentemente em contextos de investigação). (Allen & Becker, 2019; Rogers, 2001) Telma Sousa Almeida © Entrevista clínica Estrutura 44. Entrevista Estruturada: desvantagens Requerem formação avançada especializada para garantir uma administração e cotação fiável Muitas tendem a ser bastante extensas e demoradas para completar, tornando- as impraticáveis em alguns contextos clínicos Permitem flexibilidade limitada na recolha de informação com base nas características e preocupações únicas dos clientes Não estão bem equipadas para enfrentarem ameaças à validade dos dados devido à resistência, dissimulação, etc. Não abarcam todos os diagnósticos possíveis (Allen & Becker, 2019; Rogers, 2001) Telma Sousa Almeida © Relatórios Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica ◉ O relatório psicológico é um dos produtos finais mais importantes da avaliação. ◉ Representa os esforços do psicólogo para integrar os dados de avaliação num todo funcional para que a informação possa ajudar o cliente a melhorar a sua vida, ajudando a resolver problemas e a tomar decisões. ◉ Os relatórios de avaliação psicológica servem duas funções importantes e distintas: comunicação e documentação. ◉ O formato do relatório depende da sua finalidade, bem como do estilo e orientação do psicólogo. ◉ A qualidade e a utilidade de um relatório depende da qualidade e rigor da avaliação, que deve ser minuciosa, válida (precisa) e clara. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica ◉ Exige domínio sobre as áreas ou tipo de problemas evidenciados pelos pacientes. ◉ Para muitos psicólogos, o processo de elaboração de um relatório permite-lhes compreender melhor o cliente e as suas necessidades. ◉ A escrita ajuda a clarificar o pensamento. Permite identificar lacunas na informação disponível e áreas onde são necessárias mais explicações ou mais informações. Obriga a pensar logica e cuidadosamente porque o que escrevemos deve fazer sentido. ◉ Garante que o psicólogo domina conceitos complexos, porque para os explicar claramente é preciso compreendê-los. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Principais características Dimensão do relatório ◉ Varia substancialmente em função da finalidade e do contexto do pedido. ◉ Relatório comum (e.g., contexto clínico, educacional, vocacional): 5 a 7 páginas. ◉ Relatórios em contextos específicos (e.g., contexto forense): 7 a 10 páginas. ◉ Deve incluir toda a informação necessária e relevante. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Estilo de escrita 1. Clareza Escolher palavras familiares ao leitor. Definir termos que o leitor possa não conhecer. Antecipar as perguntas dos leitores. Porém, não devem ser incluídas informações desnecessárias cuja única finalidade poderá ser apenas satisfazer a curiosidade do leitor. Fornecer um contexto que dê sentido aos factos (este é o propósito da secção do enquadramento) Privilegiar frases curtas, mas variar no comprimento das frase. Evitar erros gramaticais. Não usar palavras supérfluas, evitar palavras longas. Dividir frases excessivamente complexas em duas ou mais frases mais curtas. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Estilo de escrita 2. Gramática Reportar resultados de testes no tempo presente: “os resultados da WISC-IV indicam que...” “Os dados do MMPI-2 sugerem que o João é...”. Reportar dados da observação comportamental no tempo passado – referem-se a eventos que ocorreram no passado, isto é, no momento da avaliação: “O Joel foi colaborante...”. Reportar dados do enquadramento de forma mista: “A professora Joana reportou que o Daniel é um bom leitor...”; “Os registos escolares da Clara indicam que esta foi expulsa da escola secundária dos Olivais...”. Reportar informação proveniente das entrevistas no tempo passado: “Ao longo da entrevista, a Joana reportou que não gosta de...”. Atenção à pontuação (localização das virgulas, ponto-e-vírgula, ponto final, etc.). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Estilo de escrita 3. Vocabulário Usar a linguagem com precisão – palavras mal escolhidas ou frases desleixadas podem resultar em interpretações erradas dos resultados da avaliação. É essencial ser claro acerca do grau de certeza dos resultados da avaliação e da nossa interpretação (e.g., “as competências verbais da Joana encontram-se abaixo da media, o que poderá resultar em dificuldades na escola [e não irá resultar em..]). Evitar o uso de jargão – dominar conceitos complexos para os conseguir explicar utilizando uma linguagem simples. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Formato ◉ Cada profissional deve escolher o formato e o estilo de relatório que melhor se adequa às necessidades do cliente e ao pedido efetuado. ◉ Diferentes contextos de avaliação requerem diferentes estilos e áreas de foco. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato I. Elementos de identificação: Nome, idade, escolaridade, profissão, data de nascimento da pessoa examinada, nome do psicólogo e local onde foi realizado o exame. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato I. Elementos de Identificação Identificação do/a examinado/a (avaliado/a; paciente; cliente; etc.) Nome: Data de nascimento: / Idade: Escolaridade: Profissão: Nacionalidade: etc... Identificação do autor do relatório Nome: Nº de Cédula Profissional: Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato II. Pedido inicial / Motivo da consulta de avaliação: Identificação da prevalência do pedido (quem solicita a avaliação, relação específica entre quem solicita a avaliação e pessoa avaliada). Preocupações atuais, queixas e problemas identificados (de quem solicita a avaliação e/ou da pessoa examinada) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato II. Pedido inicial/Motivo da Consulta de Avaliação Deve começar com uma breve frase orientadora que inclua informações essenciais sobre o cliente (e.g., "O Sr. José é um homem de 35 anos, casado, com o ensino secundário, que apresenta queixas de depressão e ansiedade"). O propósito da avaliação deve ser indicado de forma clara e orientada para o problema. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato II. Pedido inicial/Motivo da Consulta de Avaliação Alguns exemplos: Diagnóstico diferencial - presença dificuldades psicológicas (por exemplo, problemas de memória causados pela depressão) versus défice orgânico (por exemplo, problemas de memória devido às fases iniciais da doença de Alzheimer). Avaliação da natureza e extensão dos danos cerebrais. Avaliação para fornecer recomendações para orientação vocacional. Conhecimento pessoal sobre dificuldades ao nível das relações interpessoais. Avaliação das características de personalidade, existência ou não de psicopatologia e em caso afirmativo se a mesma condiciona o desempenho parental. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato III. Metodologia 3. Esta secção deve enumerar todos os procedimentos utilizados, incluindo: Datas das sessões e tempo despendido em cada sessão Entrevistas com a pessoa avaliada Entrevistas adicionais (cônjuges, filhos, pais, amigos, empregadores, médicos, advogados, assistentes sociais ou professores). Testes que foram administrados (nome formal do teste, seguido de iniciais) Consulta de registos (listar os registos que foram revistos e, dependendo da finalidade do relatório, detalhes adicionais de identificação) Observações (como observação em sala de aula; observação da interação pais-criança) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Esta secção deve incluir informações sobre: A história da pessoa que sejam relevantes para o problema que está a ser avaliado e para a interpretação dos resultados da avaliação. Dependendo do contexto, esta secção pode ser mais extensa (e.g., contexto legal) ou mais sucinta (e.g., contexto hospitalar). A seleção da informação a incluir e a excluir nesta secção depende do objetivo do relatório – não há regras específicas. É importante especificar a fonte da informação (“De acordo com o examinado..."). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual O produto final deve incluir uma boa história do problema, informação sobre eventos de vida significativos, dinâmica familiar, historial académico e profissional, interesses pessoais, historial médico, atividades diárias, relações interpessoais. A história pessoal do cliente pode incluir informações desde o nascimento, primeira infância, adolescência e idade adulta. Cada etapa tem áreas típicas para explorar e problemas a ter em conta. Por vezes, é importante incluir informação sobre os antecedentes emocionais e médicos dos pais e parentes próximos, porque certas perturbações ocorrem com maior frequência em algumas famílias do que na população geral. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Muitas vezes é útil uma descrição da atmosfera geral da família, incluindo os sentimentos do avaliado em relação aos membros da família e perceções das suas relações uns com os outros. A maior parte desta informação é recolhida durante as entrevistas que ocorrem nas sessões de avaliação psicológica. Porém, nem toda a informação que surge nas sessões deve constar do relatório (respeitar a confidencialidade e a privacidade das pessoas avaliadas). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Esta secção deve incluir também informações sobre: A história do problema, em particular, o inicio e a natureza dos sintomas. Desde que o avaliado notou estes sintomas, houve alguma mudança na sua frequência, intensidade ou expressão? Tentativas anteriores de tratamento e, em caso afirmativo, o resultado. Em alguns relatórios, a história do problema é a parte mais longa e mais importante desta secção. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Esta secção deve incluir também informações sobre: Fatores que atualmente reforçam o problema, ou seja, informação relativa à situação atual de vida do avaliado (e.g., mudanças, perdas; suporte familiar; relacionamentos interpessoais; emprego). Possível presença e natureza de défice orgânico (e.g., traumatismo craniano, acidentes vasculares cerebrais, etc.). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato IV. Enquadramento / Historial Relevante e Informação contextual Estrutura cronológica: história desde nascimento até à idade adulta. Estrutura por tópicos: história psiquiátrica, história médica, história social, história educacional e história ocupacional ou outros tópicos relevantes para o pedido. Estrutura combinada: história cronológica é complementada por informações adicionais, tais como histórico familiar de perturbações psiquiátricas ou histórico de tratamentos. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental As observações comportamentais devem ser concisas, específicas e relevantes. Devem apenas explicar-se detalhadamente os comportamentos invulgares. A importância desta secção no relatório pode ser bastante variada. Por vezes, as observações comportamentais podem ser quase tão importantes como os resultados dos testes; noutras situações, esta descrição pode consistir apenas em pequenas observações. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental Esta secção deve incluir informações sobre: Aparência física - quaisquer características incomuns relacionadas com expressões faciais, roupas, corpo, maneirismos e movimentos. É especialmente importante observar contradições (e.g., um rapaz de 14 anos que age como um jovem de 18; ou uma pessoa que aparece suja, mas tem um excelente vocabulário e alto nível de fluência verbal). Comportamento perante as tarefas solicitadas e perante o examinador - comportamentos que refletem o nível de ansiedade, presença de depressão, ou grau de hostilidade (e.g., Avaliado esteve ativo, passivo ou submisso; muito preocupado com o seu desempenho ou relativamente indiferente); método de resolução de problemas (e.g., cuidadoso, metódico, impulsivo, desorganizado); verbalizações incomuns que o avaliado faz sobre o material de teste. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental Esta secção deve incluir informações sobre: Grau de cooperação do avaliado durante as sessões, incluindo durante a administração de testes. Este deve ser um fator a ter em conta para aferir a validade dos resultados da avaliação. Exemplo... “A avaliação instrumental ficou marcada pela existência de uma elevada desejabilidade social, no sentido de transmitir uma imagem demasiado valorizada de si mesma. As pontuações obtidas refletem uma marcada defensividade e negação, assim como uma recusa meticulosa em admitir quaisquer falhas que possam ser utilizadas contra si. Os resultados da avaliação sugerem que a examinada demonstra uma tendência para encobrir as suas fraquezas e considerar que as outras pessoas se deveriam conformar com a sua forma de pensar e de agir, com os seus estereótipos e com as suas expectativas sociais.” Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato V. Observação comportamental e estado mental Esta secção deve incluir informações sobre: Discurso e linguagem; humor e emoções; perceção; conteúdo e o processo de pensamento; funcionamento intelectual; orientação; memória, atenção e concentração; insight e julgamento. Exemplos... Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica V. Observação comportamental e estado mental “A X apresentou-se à hora agendada, com aspeto cuidado e com idade aparente coincidente com a idade real. Os seus comportamentos e atitudes foram consentâneos com a sua idade, nível de desenvolvimento e inserção sociocultural. Ao longo do processo de avaliação, a X demonstrou uma atitude colaborante, interessada e de disponibilidade na realização das tarefas propostas. Paralelamente, evidenciou ser conhecedora dos objetivos subjacentes à avaliação psicológica. Do exame direto realizado verificou-se que a X se mostrou reservada e tímida no contacto inicial com a examinadora, porém, ao longo do processo de avaliação, desenvolveu progressivamente uma relação de cooperação e confiança com a mesma. Aderiu às questões lhe foram colocadas, pedindo esclarecimentos sempre que não entendia determinada questão. A X evidenciou um discurso fluido, espontâneo coerente e uma linguagem cuidada e bastante expressiva, evidenciando facilidade de comunicação. Pronunciou-se loquazmente e num tom de voz regular, com variações prosódicas normais. Narrou de forma coerente e integradas as suas rotinas diárias, os seus interesses e preferências, exemplificando acontecimentos do quotidiano. Paralelamente, apresentou-se orientada no tempo, no espaço, auto e alopsiquicamente, não demonstrando alterações da senso-perceção, do curso e do conteúdo do pensamento.” (Adolescente, 15 anos, sem psicopatologia) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica V. Observação comportamental e estado mental “A Y apresentou-se as consultas revelando uma idade aparente coincidente com a real, ligeiramente desarranjada, roupas amarrotadas, sem maquilhagem. Apresentou lentificação psicomotora moderada, sentando-se afundada na cadeira. O contacto com o olhar foi limitado, manteve os olhos baixos. Chorou frequentemente e com facilidade. Revelou-se, de um modo geral, colaborante na entrevista. O humor revelou-se gravemente depressivo e desesperado. Embora afetivo, com restrição emocional. Afeto não reativo. O discurso foi fluente e gramatical. Verificou-se diminuição da espontaneidade do discurso, com aumento do tempo de latência e pausas. Ocasionalmente, manifestou dificuldade em encontrar palavras. Empregou uma fala monocórdica com pouca variação prosódica. Apresentou Ideação suicida ativa, dizendo “a vida deixou de valer a pena”, mas negou ideação homicida. Conteúdo focado na baixa autoestima e raiva contra o marido. Apresentou ainda ruminações de culpa. Negou desconfianças, ideias delirantes, ilusões ou alucinações e não evidenciou perturbação do pensamento. Orientada auto e alopsiquicamente no tempo e no espaço. Revelou défice de atenção, diminuição da concentração, ligeiro défice da memoria a curto prazo, insight diminuído pelos sintomas depressivos e juizo critico alterado, como evidencia a ideação suicida.” (Mulher, 43 anos, Depressão major) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica V. Observação comportamental e estado mental “A J e uma mulher jovem, ligeiramente obesa. Apresentou-se ás consulta vestida de forma prática mas com maquilhagem. Deambulou frequentemente pela sala e gesticulou vigorosamente enquanto falava. Revelou-se parcialmente colaborante, mas referiu que só veio porque o marido insistiu e que se “sente ótima e não precisa de psicólogos”. Estava eufórica e descreveu o seu humor como ótimo. Exprimiu facilmente o seu humor alegre, mas as emoções eram lábeis, com alguns comentários mais secos e irritados quando interrompida pela examinadora. As suas emoções revelaram-se congruentes com o conteúdo de pensamento, mas não com a situação. Verificou-se pressão do discurso, falava muito alto, apesar de fluente e gramatical e com prosódia normal. Ao longo da avaliação manifestou-se preocupada com a sua raiva em relação aos vizinhos, achando que eles podem interferir com a sua audição de dança. Evidenciou ideias delirantes de grandeza, revelando achar que os outros sentem inveja da sua beleza e do seu jeito de dançar. Negou alucinações, ideação suicida ou pensamentos de agredir terceiros. Esteve alerta e orientada. Porém distraia-se facilmente, teve uma execução fraca nas series de setes e recusou-se a responder a perguntas de memoria a longo prazo. Reconheceu que tinha que retomar a medicação, mas minimizou a perturbação do humor e as alterações de pensamento, revelando não compreender facilmente a interrupção da medicação e o seu estado atual. Demonstrou apreciar a sua euforia e não ver que seja um problema.” (Mulher, 32 anos, Perturbação Bipolar, maníaca) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Secção principal do relatório. Nesta secção, é apresentada a nossa interpretação clínica dos dados da avaliação. Passos para a integração dos dados da avaliação: Encontrar o foco da avaliação → Identificar os domínios do funcionamento a avaliar → Organizar e integrar dados → Lidar com disparidades → Lidar com conclusões incidentais → Responder às questões do pedido → Sugerir recomendações. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Encontrar o foco Diagnóstico de psicopatologia? Recomendações de tratamento? Dificuldades de aprendizagem? Etc. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Domínios do funcionamento que devem ser abordados: (1) funcionamento comportamental (2) funcionamento emocional (3) funcionamento cognitivo (4) funcionamento interpessoal (5) autoconceito. Podem ser adicionados outros domínios adicionais conforme necessário. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica No processo de organizar e integrar os dados, o psicólogo deve: (1) Extrair informações sobre cada domínio a partir das entrevistas, dos resultados dos testes, consulta de registos e observações comportamentais, tendo em conta o foco da avaliação. (2) Possuir excelentes capacidades de raciocínio e forte pensamento crítico. (3) Possuir/desenvolver excelente domínio das temáticas a avaliar (através de revisão da literatura, cursos de formação, supervisão). Poderá ser útil utilizar uma grelha para organizar a informação. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Lidar com disparidades: (1) Excluir "maus” dados: Como decidir se os dados são "maus", isto é, pouco fiáveis ou inválidos? Se determinados dados são inconsistente com todos os outros elementos e/ou inconsistentes com os comportamentos do avaliado. Nem sempre e fácil decidir sobre a fiabilidade dos dados (especialmente nos testes psicológicos), por isso, o melhor é agir com cautela e reportar os dados anómalos (inconsistentes) no relatório escrito, indicando que as razões da anomalia não são claras, ou, se for o caso, que a pontuação é considerada inválida. (2) Conhecer bem os procedimentos utilizados – o que os testes medem e como medem (características psicométricas). Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Lidar com disparidades: (3) Desenvolver inferências a partir de padrões de dados: dados que vão no mesmo sentido (e.g., resultados elevados numa escala de depressão e descrição, em entrevista, de sintomatologia depressiva pelo próprio e por outros significativos) (4) Utilizar a literatura para dar sentido às disparidades (e.g., em que circunstâncias as diferenças de scores nas subescalas da WISC-III são significativas?) (5) Prestar atenção ao comportamento e circunstâncias do avaliado (e.g., alguém que está a ser avaliado para receber uma indemnização pode simular sintomas; enquanto alguém envolvido num processo de promoção e proteção pode dissimular sintomas, para dar boa impressão) Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Lidar com conclusões incidentais: Por vezes, no decorrer de uma avaliação surgem dados/informações inesperadas que sugerem um problema que não se considerava existir (e.g., um rapaz inteligente e talentoso está a ser avaliado no âmbito de um processo de seleção para integrar uma escola de elite. No decorrer da avaliação ele realiza uma bateria de testes e, para surpresa de todos, os resultados sugerem que ele tem uma fraqueza na matemática e pode cumprir critérios para uma perturbação de aprendizagem relacionada com a matemática). Estas descobertas devem ser, pelo menos, documentadas e, se possível, exploradas. Se a constatação for importante, deve considerar-se recomendar uma avaliação adicional. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Todos os casos são únicos. Para responder ao pedido, podemos seguir estas etapas: Recolher informação, encontrar o foco da avaliação e selecionar a informação relevante para cada domínio de funcionamento. Em seguida, usar boas habilidades lógicas e de raciocínio para retirar conclusões precisas e relevantes. Mesmo em casos complexos, se as perguntas forem bem colocadas e os dados recolhidos adequadamente, as respostas estão quase sempre presentes. Por vezes menos é mais – devemos excluir informações que não são importantes e focar- nos nas questões ou preocupações principais. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VI. Resultados / Avaliação Psicológica Todos os casos são únicos. Para responder ao pedido, podemos seguir estas etapas: Prestar atenção às circunstancias - os resultados da avaliação são sobre um indivíduo, mas o indivíduo faz parte de uma família e vive e trabalha com outras pessoas. As questões individuais são muitas vezes apenas uma pequena parte de um quadro maior e mais complexo. Uma avaliação não é uma bola de cristal; nem os psicólogos não podem prever o futuro. Mas é um método imperfeito, mas muitas vezes poderoso para aprender sobre uma pessoa, sobre os seus problemas, vulnerabilidades e pontos fortes. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VII. Conclusões e recomendações Nesta secção devemos selecionar os aspetos mais importantes e sumariá-los. Devemos ter cuidado para não sobrecarregar o leitor com detalhes desnecessários. Uma estratégia útil é fornecer respostas breves/numeradas a cada uma das questões do pedido. Esta secção deve ser escrita como se fosse a única secção que o leitor irá ler. O principal objetivo desta secção do relatório é tecer recomendações, porque estas sugerem que medidas podem ser tomadas para resolver os problemas apresentados. Telma Sousa Almeida © Relatórios de Avaliação Psicológica Proposta de formato VII. Conclusões e recomendações Tecer recomendações no final da avaliação é importante. Estas devem: Ser realistas, práticas e alcançáveis. Ser específicas, mas não tão específicas que acabem por ser restritivas. Ser focadas - não devemos tecer recomendações fora da nossa área de especialização. Devemos ser cuidadosos e respeitar os limites profissionais. Ser adequadas ao pedido e ao público alvo do relatório. Abranger todas as bases, o problema trazido inicialmente e outros que surgem na avaliação. Antecipar os problemas e abordá-lo. Focadas no avaliado e nas suas necessidades. Telma Sousa Almeida ©

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