Infecções Associadas a Agressões por Animais PDF
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This document discusses infections associated with animal bites, focusing on diseases like rabies, sporotrichosis, and tetanus. It includes information about clinical presentation, diagnosis, and treatment.
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Infecções associadas à agressões por animais Caso clínico Ana Paula, 26 anos, hígida, adotou um gato de rua. O animal estava desnutrido e com vários ferimentos. Durante o banho o animal ficou agitado, arranhou e mordeu diversas vezes o antebraço da paciente. Quais as doenças que podem resul...
Infecções associadas à agressões por animais Caso clínico Ana Paula, 26 anos, hígida, adotou um gato de rua. O animal estava desnutrido e com vários ferimentos. Durante o banho o animal ficou agitado, arranhou e mordeu diversas vezes o antebraço da paciente. Quais as doenças que podem resultar dessa agressão ? Quais medidas de prevenção devem ser tomadas? RAIVA HUMANA Raiva Vírus da Raiva (Rabies vírus- RABV), Família Rhabdoviridae- Gênero Lyssavírus.RNA, variantes antigênicas de acordo com hospedeiros naturais. Redução do número de casos de Raiva humana no Brasil. Em 2023 , 2 casos e 2024, 1 caso. A maioria envolveu acidente com morcegos e primatas não humanos.. Em 2015, último caso de transmissão por cão e 2019, 1 caso de transmissão envolvendo gato. Transmissão : Inoculação direta Parenteral Oral Inalatória Outras formas Patogênese da Raiva Replicação no local de inoculação- células musculares e epiteliais ( extraneural). Ligação com receptores nicotínicos da acetilcolina. Ascensão pelas vias nervosas. Atinge corno anterior da ME ou tronco. Dissemina pelo SNC a partir do Hipocampo, tronco e células de Purkinge. Dissemina por vias nervosas eferentes para órgãos e tecidos. Manifestação clínica Período de incubação de 20-90 dias Pródomo: 2-10 dias. Mal-estar geral, febre baixa, anorexia, cefaleia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude, sensação de angústia. Podem ocorrer linfoadenopatia, hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento. Progressão com delirium, hiperexcitabilidade e espasmos musculares, hidrofobia, crises convulsivas, seguido de paralisia, alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal. Disfagia, aerofobia, hiperacusia e fotofobia. Prognóstico de óbito em 7 a 25 dias de doença DIAGNÓSTICO Clínico + epidemiológico Anatomopatológico Imunofluorescência direta em córnea, swab de mucosa oral e biópsia de SNC e folículo piloso de região de nuca RT-PCR em saliva, folículo piloso ou saliva Inoculação de tecido nervoso, saliva ou LCR em ratos Reação imunológica ( sangue e LCR) Isolamento viral TRATAMENTO Internação em UTI Cuidados de terapia intensiva com hidratação, nutrição, sedação, sintomáticos, profilaxia e tratamento de possíveis complicações. Uso precaução de contato. Protocolo de Milwaukee : amantadina, ribavirina, ketamina e midazolan. Protocolo de Recife(2009): midazolan, ketamina, Nimodipina, Vitamina C, amantadina biopterina Vacina Antirrábica Esquema de aplicação intramuscular (IM) Esquema de aplicação intradérmica (ID) Quatro doses (dose única). Fracionar o frasco ampola para 0,1 mL/dose. Dias de aplicação: 0, 3, 7, 14. Utilizar seringas de insulina ou tuberculina. Via de administração intramuscular profunda Aplicação somente no músculo deltoide. utilizando dose completa de 0,5 mL, no músculo deltoide ou vasto lateral da coxa. Doses: Não aplicar no glúteo Dia 0: 2 doses/2 locais distintos (ID). 3º dia: 2 doses/2 locais distintos (ID). 7º dia: 2 doses/2 locais distintos (ID). 28º dia: 2 doses/2 locais distintos (ID) PROFILAXIA PRÉ- Vacina de cultivo celular 3 doses, IM, músculo deltóide, dias 0, 7, 28. EXPOSIÇÃO Ou Intradérmica usando 0,1ml na inserção do músculo deltoide, utilizando-se seringas Indicada para profissionais de de 1ml e agulhas hipodérmicas curtas. risco ( veterinários, funcionários de canil, auxiliares de laboratório de virologia, Controle sorológico 14 dias após a última pessoas que trabalham com captação de animais, dose, e anualmente se for de alto risco. ecoturismo, etc) Celulite Celulite – Infecção de pele e partes moles(IPPM) Início de 8-48 horas após a mordida do animal como dor no local da lesão, edema, eritema, pode haver secreção purulenta, às vezes fétida. Pode haver febre, adenopatia satélite. Celulite – Infecção de pele e partes moles(IPPM) Gatos Cães Cerca de 80% das mordeduras Infecção em cerca de 5% das de gatos evoluem com IPPM. mordeduras. Agentes mais comuns: Agentes mais comuns: ▪ Pasterella multocida ▪ Pasterella multocida/canis ▪ S. aureus ▪ S. aureus ▪ Capnocytophaga spp. ▪ Bacteroides sp. ▪ Bartonela henselae ▪ Fusobacterium sp. ▪ Anaeróbios orais ▪ Capnocytophaga spp. Celulite – Infecção de pele e partes moles(IPPM) tratamento Gatos Cães Limpeza local Limpeza local Amoxicilina/ clavulanato Amoxicilina/ clavulanato Cefuroxima Clindamicina + Doxiciclina Sulfametoxazol/trimetoprim (pediatria) Clindamicina + fluorquinolona (adultos) Quando fazer profilaxia Ferimentos de alto risco: ▪ profundos, especialmente por mordedura por gatos; ▪ moderados a graves associados a esmagamento; ▪ em áreas com comprometimento venoso ou linfático; ▪ em mãos ou próximos a ossos e articulações, particularmente se presença de próteses; ▪ ferimentos em face e genitália; ▪ que necessitem de sutura; ▪ em imunocomprometidos. Duração 3-5 dias. O antibiótico de 1ª escolha: amoxicilina-clavulanato. Doença da arranhadura do gato Causada pela Bartonella henselae Transmissão: através de arranhões, mordidas ou lambidas de animal infectado. Principalmente filhotes < 1 ano. Doença da arranhadura do gato Clínica: início até 14 dias após contato. Nódulos de inoculação, seguido de fadiga, inapetência e desconforto, pode haver febre. Linfadenomegalia satélite, pode ser dolorosa e com sinais flogísticos, raro supurar. Raro complicações sistêmicas: hepatoesplenomegalia, lesão neurologia, lesão ocular. Auto limitado, duração de semanas. Tratamento : azitromicina, claritromicina, Sulfametoxazol/trimetoprim, ciprofloxacina. Doença da arranhadura do gato Nódulo de inoculação: duram 1-3 semanas Linfadenopatia: duram 1-4 meses Esporotricose Etiologia: Complexo Sporothrix schenckii (S. brasiliensis, S. globosa, S. luriei, S. schenckii (sensu stricto), S. mexicana, S. pallida). Fungos dimórficos (filamentosa - natureza e leveduriforme - em humanos e animais). Transmissão: implantação do fungo na pele ou mucosa por trauma (espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição; ou arranhadura ou mordedura de animais doentes), raramente por inalação. O gato é o animal transmissor mais comum. AnaisBrasileirosdeDermatologia2022;97(6) :757---777 Esporotricose- cutânea Linfocutânea: A mais comum. Lesão inicial é o cancro esporotricótico ou de inoculação (pápula eritematosa)-> lesão nodular (gomosa, que pode fistulizar e ulcerar)-> surgimento de novas lesões em trajeto linfático. Cutânea fixa: cancro de inoculação, não progride para região linfática, pode evoluir com nodulação e ulceração e lesões satélites. Inoculação múltipla : mais rara, apresenta-se com múltiplas lesões cutâneas, polimórficas, em sítios não contíguos, sem envolvimento sistêmico. Relacionada a múltiplos implantes. Esporotricose cutânea Esporotricose –outras apresentações Mucosa: a ocular é a mais frequente, conjuntivite granulomatosa, linfadenite satélite. Pode ocorrer em mucosa nasal ou laríngea. Osteoarticular: relacionada a mordedura, mais comum em idosos e uso de corticoides. Sistêmica: mais frequente em imunodeprimidos, disseminação hematogênica. Lesões difusas, vários sítios, incluído áreas protegidas de trauma, morfologia variada (ulceradas, supurativas, pápulas, nódulos, placas verrucosas, lesões necróticas, vegetantes, tumorais e molusco símile. Pode ocorrer comprometimento de órgãos( sistema nervoso, pulmão, osteoarticular e sepse) Imunorreativas: eritema nodoso, eritema multiforme, artrite reativa, Síndrome de Sweet. Esporotricose- diagnóstico Clínico Micologico :Pesquisa direta e cultura Anatomopatologico Sorologia Esporotricose - tratamento Iodeto de Potássio Itraconazol, posaconazol Terbinafrina Anfotericina- casos graves, sistêmicos Tempo de tratamento médio de 3-4 meses. Depende da resposta. TÉTANO Etiologia Clostridium tetani. Bacilo gram positivo e anaeróbio. Forma esporulada e vegetativa. Produz exotoxina com duas frações : tetanolisina e tetanospasmina. Epidemiologia O clostriduim está presente no solo, em fezes de animais e humanas, espinhos, gravetos, latas, pregos, etc. Forma acidental e neonatal. Doença grave, prevenível por vacinação. Mais comum em países pobres, com baixa cobertura vacinal. OMS: 25.000 mortes por tétano neonatal em 2018. Tétanono Brasil Tétano acidental em 2023: 217 casos no Brasil , 27,65% letalidade. Paraná, 18 casos. Em 2024: 171 casos no Brasil, 7 no Paraná. A maioria no sexo masculino (85%) e na área urbana (78%). 70% dos casos entre 30 a 69 anos de idade. Maior incidência em aposentado-pensionistas, trabalhador agropecuário, trabalhador da construção civil (pedreiro), estudantes e donas de casa. Tétano neonatal: em 2020 houve registro de 1 caso no Amapá. Eliminado como problema de saúde pública no Brasil. Patogenia Penetração de esporos. Condições teciduais favoráveis para germinação e produção de exotoxina. Propagação da toxina até células motoras do SNC, corno anterior da medula. Inibe a liberação de glicina nos neurônios inibidores. Ação no SNC: pré-sinaptica, libera acetilcolina, inibe a colinesterase. Rigidez muscular, contração muscular e hiperatividade simpática. Patogenia Quadro Clínico Período de incubação: 5 a 15 dias, < 7dias é fator de gravidade. Período de progressão : 12 a 24 horas (tétano neonatal) e 24 a 72 horas (tétano acidental) Porta de entrada Pródromo Espasmos, trismo, riso sardônico, opstótono, rigidez de muscular, disfagia, contraturas Tétano Tétano Opistótono Tétano Neonatal Complicações Cardiovasculares Fratura de Embolia ( hiperatividade vértebras. pulmonar. simpática). Superinfecção Hemorragia Insuficiência bacteriana. digestiva. renal. Clínico : história epidemiológica e vacinal, porta de entrada e quadro clínico. Diagnóstico Diferencial com abscesso amigdaliano, meningite, meningoencefalite, histeria, hipocalcemia, intoxicação por estricnina Tratamento Imunoglobulina Sedação, Assistência antitetânica Debridamento do miorrelaxantes, ventilatória. (IGHAT) 500 a foco. curarizantes. 5.000UI IM. Antibióticos ( Hidratação e Controle da Penicilina suporte hiperatividade Cristalina ou nutricional. simpática. Metronidazol). Profilaxia Esquema básico de vacinação : DPT aos 2,4 e 6 meses com reforço aos 15 meses e entre os 4 e 6 anos(DT), nova dose a cada 10 anos(DT). Vacinação de gestantes 1 dose de DTPa a partir da 20ª semana a cada gestação. Adultos e idosos a cada 10 anos. Profilaxia em acidentes ( tipo de ferida, história vacinal) Profilaxia em acidentes