Fundamentos do Futsal (PDF)
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2020
Federação Portuguesa de Futebol
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This document details futsal fundamentals including principles of the game, offensive and defensive strategies, and tactical actions. The content is likely an educational resource on the sport of futsal, covering topics such as the techniques used in the game.
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OS FUNDAMENTOS DO JOGO DE FUTSAL Federação Portuguesa de Futebol Equipa Técnica Nacional Agosto 2020 Índice 1. Introdução.................................................................................................................. 3 2. O jogo de futsal........................
OS FUNDAMENTOS DO JOGO DE FUTSAL Federação Portuguesa de Futebol Equipa Técnica Nacional Agosto 2020 Índice 1. Introdução.................................................................................................................. 3 2. O jogo de futsal.......................................................................................................... 4 3. Objetivos e dinâmica do jogo de futsal...................................................................... 6 4. Fases do jogo.............................................................................................................. 8 5. Princípios de jogo..................................................................................................... 11 5.1. Princípios de jogo gerais................................................................................... 11 5.2. Princípios de Jogo Específicos.......................................................................... 11 5.2.1. Princípios específicos do jogo ofensivo..................................................... 11 5.2.2. Princípios específicos do jogo defensivo................................................... 12 6. Os fundamentos do jogo - orientadores dos princípios de jogo............................... 15 6.1. Fundamentos orientadores de cada princípio de jogo – Ofensivos................... 16 6.1.1. Princípio de Jogo – Progressão.................................................................. 16 6.1.1.1. Fundamento – Orientação corporal (apoios)....................................... 16 6.1.1.2. Fundamento – Domínio do campo visual............................................ 16 6.1.1.3. Fundamento – Lateralidade................................................................. 17 6.1.1.4. Fundamento – Domínio espacial com bola em relação ao................. 18 marcador direto.................................................................................................. 18 6.1.1.5. Fundamento – Virar o jogo, alterar a orientação do jogo.................... 19 6.1.1.6. Fundamento – Fixar o defensor........................................................... 19 6.1.2. Princípio de Jogo - Cobertura Ofensiva..................................................... 20 6.1.2.1. Fundamento – Criar linhas de passe.................................................... 20 6.1.2.2. Fundamento – Temporização ofensiva................................................ 21 6.1.3. Princípio de jogo – Mobilidade no Espaço................................................ 21 6.1.3.1. Fundamento – Desmarcação de rutura ou apoio................................. 21 6.1.3.2. Fundamento – Criar espaço para aproveitar e ocupar - Finta.............. 22 6.2. Fundamentos orientadores de cada princípio de jogo – Defensivos................. 24 6.2.1. Princípio de jogo – Contenção................................................................... 24 6.2.1.1. Fundamento – Posição básica defensiva............................................. 24 6.2.1.2. Fundamento – Orientação dos apoios................................................. 24 6.2.1.3. Fundamento - Domínio do espaço (jogador com bola e sem bola e.. 25 espaço defensivo)............................................................................................... 25 6.2.1.4. Fundamento – Pressão na bola (redução do espaço, orientação.......... 26 defensiva)........................................................................................................... 26 6.2.1.5. Fundamento - Temporização............................................................... 26 1 6.2.1.6. Fundamento – Acompanhamento / Deslocamentos defensivos.......... 27 6.2.2. Princípio de Jogo – Cobertura defensiva................................................... 28 6.2.2.1. Fundamento – Cooperação (ajudas e coberturas)................................ 28 6.2.2.2. Fundamento – Salto de marcação (seguir a bola)................................ 28 6.2.2.3. Fundamento – Cortar linhas de passe (passador ou recetor)............... 29 6.2.3. Princípio de Jogo – Equilíbrio no Espaço.................................................. 30 6.2.3.1. Fundamento – Trocas (adversário, zona, linha de passe).................... 30 6.2.3.2. Fundamento – Retorno defensivo........................................................ 31 6.2.3.3. Fundamento – Flutuação..................................................................... 32 7. As ações tático técnicas do jogo de futsal................................................................ 33 7.1. Importância dos Fundamentos do jogo para a correta execução das ações...... 34 tático-técnicas............................................................................................................ 34 7.1.1. Ações individuais ofensivas (tática individual)......................................... 34 7.1.1.1. Receção............................................................................................... 34 7.1.1.2. Passe.................................................................................................... 37 7.1.1.3. Condução da bola................................................................................ 40 7.1.1.4. Controlo da bola / proteção da bola..................................................... 42 7.1.1.5. Drible/ Finta/ Simulação..................................................................... 43 7.1.1.6. Remate................................................................................................. 45 7.1.2. Ações individuais defensivas (tática individual)........................................ 48 7.1.2.1. Marcação............................................................................................. 48 7.1.2.2. Interceção.............................................................................................. 52 7.1.2.3. Desarme................................................................................................ 53 7.1.2.4. Antecipação.......................................................................................... 54 9. Conclusão.................................................................................................................. 58 2 1. Introdução O crescimento e desenvolvimento do Futsal nos últimos anos, não só o impacto social mas, também, a investigação específica associada à modalidade, permitiu o desenvolvimento de um corpo de conhecimento próprio de acordo com as suas caraterísticas e especificidades próprias tendo, este último pressuposto, permitido ao Futsal a criação de uma identidade. Todavia, e pese embora o desenvolvimento desportivo verificado e da tendência crescente de investigação científica associada, são, ainda, escassas as obras que potenciem a transferência de conhecimento para a prática e que sustentem a participação dos treinadores nos diferentes níveis de intervenção da formação desportiva dos jogadores. A FPF tem procurado alavancar o crescimento e desenvolvimento do Futsal em Portugal com base na qualificação de recursos humanos, na melhoria da qualidade e quantidade de formação disponibilizada, na criação de documentação que oriente a intervenção em áreas prioritárias e a concretização de programas de intervenção no Futsal. Foram vários os programas colocados em ação nos últimos anos sendo, um dos mais relevantes, a elaboração de um documento orientador das Etapas de formação do jovem praticante de Futsal, baseado na explicação e compreensão dos princípios do jogo. É fundamental compreender o que é cumprir os princípios de jogo, abordados e explicitados na obra anterior. Assim, consideramos fulcral dar um novo passo na unificação de uma linguagem no treino/ensino do jogo de Futsal. Simplificar alguns conteúdos indo ao encontro dos treinadores aproximando, desta forma, o conhecimento teórico ao “terreno”, ou seja, ao pavilhão. Os FUNDAMENTOS DO JOGO, são primordiais para cumprir os princípios de jogo, e dar uma clara intencionalidade às ações que o jogo exige. Explicar esta conceção será o principal objetivo desta obra. A elaboração de material didático é um fator de desenvolvimento importante em qualquer modalidade desportiva sendo que, a difusão do conhecimento, permite a reflexão de boas práticas e favorece a evolução sustentada. Neste sentido, tendo por base investigação recente na área do Futsal e do desenvolvimento desportivo, este livro pretende apresentar os principais fundamentos da modalidade com o objetivo de permitir ao treinador uma melhor compreensão do jogo, dos seus princípios bem como da consequente definição das etapas e prioridades para o ensino do Futsal. 3 2. O jogo de futsal A evolução e complexidade do jogo, aliada à alta velocidade e intensidade com que o mesmo se desenrola, levam a que a compreensão dos fatores que sustentam elevados desempenhos seja fundamental para o seu ensino (Braz, 2006), desde as etapas mais baixas de formação até ao alto rendimento. O jogo de Futsal, o seu conteúdo tático-técnico de jogo desenvolve-se num quadro antagónico, entre dois momentos: Ataque e defesa. Desta relação antagónica resultam relações de cooperação entre os jogadores da própria equipa e de oposição entre jogadores adversários no sentido de progredir e finalizar ou de defender a baliza e recuperar a posse de bola, respetivamente. Assim sendo, cada elemento do jogo (atacante ou defesa), tem como um dos seus objetivos primários, dentro de um quadro normativo de funcionamento da sua equipa (modelo de jogo), romper o equilíbrio com o adversário direto / equipa, no sentido de criar vantagem numérica ou espacial que lhes assegurem o sucesso (Hierro, 2017). Este processo desenrola-se de forma continua a um nível individual, grupal ou coletivo, na busca de vantagens constantes (Travassos, 2020). No entanto, para que os desequilíbrios gerados permitam a criação de superioridade numérica ou posicional, de modo a marcar golo, ou impedir que tal aconteça por parte do adversário, as ações individuais de cada jogador para acelerar/desacelerar o jogo no momento certo em relação ao seu adversário assumem-se como fundamentais. Claro que para tal, os jogadores terão que decidir e agir de forma ajustada às informações e contextos, que de forma dinâmica, se vão gerando ao longo do tempo, de forma continua (Travassos, 2014). Os jogadores procuram e criam informação que se materializa na resolução dos problemas que o jogo coloca. Para tal, a capacidade para ação individual tendo por base as suas capacidades coordenativas e condicionais, bem como o seu nível de perícia ajudarão a aumentar as possibilidades de ação! Um jogador que lê bem o jogo, mas também mais coordenado, mais forte e mais rápido em relação ao contexto de jogo descobre tendencialmente um maior número de possibilidades de ação (Travassos, 2014). É a este propósito que urge a compreensão dos fundamentos que sustentam as ações de jogo dos jogadores de futsal de modo a potenciar o ensino do jogo tendo por base o nível de perícia de cada jogador, e a identificação de prioridades no ensino do jogo (Braz et al., 2015). O que pretendemos ao longo do livro, é realçar o fundamental, o essencial no ensino do jogo, de modo a formar jogadores conhecedores dos princípios do jogo, mas acima de tudo, dotá-los de 4 ferramentas - fundamentos do jogo – que potenciam as suas decisões e ações nos diferentes momentos e contextos do jogo. 5 3. Objetivos e dinâmica do jogo de futsal No jogo de futsal, em termos ofensivos, o principal objetivo do jogo, é marcar golo, enquanto em termos defensivos o principal objetivo é impedir que o adversário faça golo! Em termos ofensivos, os momentos de transição defesa-ataque, ou de instabilidade que resultam muitas das vezes em contra-ataques, são facilitadores da concretização imediata do objetivo do jogo. No entanto, muitas vezes, face a um adversário que se encontra organizado e equilibrado defensivamente no terreno de jogo, a equipa atacante tem que construir e gerar desequilíbrios para a criação de situações de finalização a partir da sua posse de bola, procurando em cada ação individual ou coletiva possibilidades para progressão e para criação dos desequilíbrios pretendidos. Quer numa, quer noutra situação, o aspeto chave para conseguir criar desequilíbrio ou mesmo finalizar, assenta na capacidade individual dos jogadores em buscarem intencionalmente o desequilíbrio e concretizarem esses mesmos desequilíbrios com ações ameaçadoras e que buscam intencionalmente o golo. Já em termos defensivos, quando a equipa não tem a posse de bola, podem definirse diferentes prioridades para impedir a criação de situações de golo. Tendo por base fatores contextuais do jogo (resultado, tempo de jogo...), mas também o local onde a bola se encontra ou a organização vs desorganização a equipa, esta poderá procurar recuperar a bola de imediato ou o mais cedo possível, reagindo à sua perda ou por outro lado, retardar a progressão dos jogadores e sua aproximação da bola à baliza. Neste caso, a prioridade essencial da equipa defensora passa por proteger o espaço defensivo e a baliza no sentido de dificultar a progressão. O grande objetivo defensivo mantém- se, evitar o golo. Da articulação entre o momento ofensivo e defensivo surge as transições defesaataque e ataque-defesa que se consubstanciam nos instantes em que uma equipa passa do momento defensivo ao ofensivo, ou vice-versa, respetivamente. Quer ofensiva, quer defensivamente, a essência do jogo pode ser descrita pela necessidade de uma equipa coordenar as suas ações dentro de um quadro normativo de jogo que define a identidade da equipa, modelo de jogo, tendo por base as características individuais de cada jogador e o modo como estes as conjugam para a obtenção de objetivos momentâneos. Como tal, os jogadores deverão ser capazes de reconhecer os momentos do jogo em que este se encontra, bem como em função do local do campo, do resultado do jogo, ou da estratégia definida pelo treinador, ajustar as suas ações individuais com e sem bola às relações coletivas definidas pelos jogadores em campo, que lhes permitem potenciar as suas ações de forma coletiva (Corrêa et al., 2012). Mesmo considerando os objetivos associados a cada um destes 6 momentos, nem sempre se pode generalizar que no momento de ataque está sempre associado à existência ou criação de vantagem numérica ou espacial e que o momento da defesa está relacionado com desvantagem. Os jogadores e equipas devem em cada momento do jogo procurar sempre a criação de vantagens numéricas, relacionais ou espaciais que lhes permitam a concretização dos seus objetivos (Garganta, 2005). 7 4. Fases do jogo De acordo com o referido anteriormente, o jogo de Futsal caracteriza-se por uma relação dialética, de cooperação / oposição, que se desenrola num contexto dinâmico e variável em torno do momento ofensivo e defensivo e respetivas transições entre eles. Podemos estar num momento mais ofensivo, quando temos a posse de bola, ou mais defensivo, quando essa posse não está do nosso lado. No entanto, o momento de posse de bola, e o momento em que não temos posse de bola, são, por vezes, difíceis de identificar com clareza, dado que podem existir constantemente situações de instabilidade entre estes dois momentos. Nem sempre, estar de posse de bola significa, de forma clara, estarmos numa situação vantajosa. O contrário também se verifica, ou seja, não ter a posse de bola, em determinada conjuntura espácio-temporal, pode não significar estar em desvantagem. A riqueza do jogo de Futsal assenta nesta característica, onde as fases de jogo, muitas vezes são apenas instantes, curtos e situacionais. A lógica do jogo, a sua compreensão didática, nem sempre terá o ciclo abaixo apresentado, (Figura 1) recorrentemente, o jogo salta do ataque para a defesa num instante. A iniciativa poderá adulterar-se, não estando obrigatoriamente ligada à fase ofensiva, mas muitas vezes, presente na fase defensiva. FASES DO - RECUPERAÇÃO ATAQUE - EQUILÍBRIO E TRANSIÇÃO DEFENSIVA TEMPORIZAÇÃO - ORGANIZAÇÃO JOGO - ABERTURA DEFENSIVA DEFESA DE ATAQUE FUTSAL - CONTRA ATAQUE DEFESA POSICIONAL TRANSIÇÃO OFENSIVA - ATAQUE RÁPIDO FASES DA ATAQUE DEFESA POSICIONAL Figura 1 – Fases do Jogo de Futsal Ao nível da defesa, podemos identificar várias fases que permitem a concretização de uma defesa posicional. A recuperação diz respeito à primeira fase da defesa através de uma reação rápida à perda ou ao espaço e ao retorno defensivo necessário que teremos que realizar caso a equipa não consiga a recuperação da bola no imediato. Entramos então numa segunda fase onde o objetivo é aumentar o 8 equilíbrio espacial e se necessário temporizar de modo a evitar o contra-ataque adversário. Desta forma, a equipa que se encontra a defender, mesmo que não consiga recuperar ainda a bola, tem condições para entrar em organização defensiva e deverá ajustar os seus comportamentos em função do local onde a bola se encontra e do espaço que pretende defender de forma a conseguir o equilíbrio defensivo. Finalmente, numa última fase, procuramos estar em defesa posicional com o objetivo de evitar a progressão da equipa adversária para zonas de finalização, e esperar situações adequadas para provocar o erro e recuperar a posse de bola. Como referimos, todas estas fases, são por vezes instantes, pois, muitas vezes quando perdemos a posse de bola, pressionamos de imediato, procurando conquistála. Aí, não surgem todas as fases mencionadas, adulteramos a lógica didática, procuramos ter iniciativa condicionando a fase ofensiva do adversário. No ataque, quando ganhamos a posse de bola após o processo defensivo, podem surgir várias fases. Na primeira fase, abertura, pretende-se criar espaço, em largura e profundidade de modo a aproveitar o instante de desorganização defensiva adversária após perda de posse de bola. Os jogadores deverão tentar orientar de imediato o jogo em direção à baliza adversária. Como segunda fase do processo ofensivo a equipa poderá conseguir um contra-ataque. Este surge quando o adversário se encontra em inferioridade numérica, onde a vantagem numérica é evidente, pelo que as ações devem ser rápidas e objetivas para progressão em direção à baliza do adversário e procurar finalização. Mesmo que o adversário não esteja em inferioridade numérica, pode estar desorganizado. Ainda assim, podemos ter alguma vantagem posicional, dada a não organização defensiva adversária. Neste contexto, poderiam estar reunidas as condições de entrar na terceira fase, o ataque rápido. Se não houver nem vantagem numérica, nem vantagem posicional, e o adversário consiga evitar a progressão rápida no campo de jogo, então a equipa deverá entrar em ataque posicional, última fase, na qual devemos procurar construir o ataque com um jogo mais elaborado para criar, através de ações individuais ou movimentações coletivas, situações de desequilíbrio e desorganização adversária que permitam progressão e finalização, e o ciclo reinicia-se. Apesar desta lógica sequencial, sabemos que a riqueza do jogo de Futsal assenta na dinâmica entre momentos de jogo onde os seus contextos ou a sua implementação se resume a pequenos instantes, curtos e situacionais. A lógica do jogo, a sua compreensão didática, nem sempre apresentará os ciclos apresentados, pois recorrentemente, o jogo salta do ataque para a defesa num instante adulterando a iniciativa do jogo ou a sequência de ações entre o momento ofensivo e o defensivo. Estamos certos de que é desta instabilidade, frequentemente verificada, dada a 9 alternância entre o equilíbrio/desequilíbrio, desejado ou provocado, que emerge a espetacularidade que todos reconhecemos ao Futsal. 10 5. Princípios de jogo 5.1. Princípios de jogo gerais Os princípios gerais do jogo realçam a preocupação de que, relativamente ao número de jogadores, no local da disputa da bola, se deve procurar criar superioridade numérica, evitar a igualdade numérica e impedir, que em algum momento, haja inferioridade numérica (Hainaut & Benoit, 1979). Relativamente ao Futsal, estes comportamentos não são fáceis de cumprir. O reduzido número de jogadores, o reduzido espaço de jogo e a dinâmica que, frequentemente, o jogo apresenta criam dificuldades quanto ao cumprimento destas normas de ação, e de tal ordem que só as equipas com melhor qualidade de desempenho os evidenciam de uma forma consistente. 5.2. Princípios de Jogo Específicos Segundo Travassos (2014) os princípios específicos de jogo são uma informação essencial para suportar o ensino do jogo como projeto coletivo, pois é através deles que os jogadores iniciam o desenvolvimento de comportamentos coletivos que permitem uma ocupação espacial equilibrada face ao objetivo momentâneo do jogo (atacar ou defender). Os objetivos específicos dividem-se em ofensivos e defensivos. 5.2.1. Princípios específicos do jogo ofensivo Os Princípios de jogo específicos ofensivos são (Figura 2): - Progressão, exploração da possibilidade progredir em direção ao alvo contrário e de finalizar; - Cobertura ofensiva, equilíbrio ofensivo através de linhas de passe em segurança apelando a um segundo atacante, de modo a dar continuidade ao jogo do portador da bola; - Mobilidade, ações com ou sem bola que procuram romper e desequilibrar a estabilidade da estrutura defensiva adversária através da criação de espaços livres e de linhas de passe; - Espaço, tornar o jogo mais aberto, com maior amplitude do ataque em largura e em profundidade obrigando assim a equipa adversária a uma maior flutuação defensiva. Apesar de poderem ser analisados de forma individual, o princípio específico de mobilidade apenas tem sentido quando articulado com o princípio específico espaço. Os jogadores movimentam-se e criam mobilidade em função do espaço existente/criado! A mobilidade no espaço, potencia a compreensão da articulação 11 dos princípios específicos de forma funcional. A unidade entre todos os princípios dará um verdadeiro sentido ao jogo, mas neste caso, é evidente a relação e interdependência. Figura 2 - Princípios específicos do jogo ofensivo 5.2.2. Princípios específicos do jogo defensivo Os princípios específicos de jogo defensivos são (Figura 3): - Contenção, ação individual defensiva que visa impedir a progressão ou remate através da colocação de um jogador entre o portador da bola e a baliza; - Cobertura defensiva, ajuda defensiva ao defensor da contenção que permita criar vantagem espacial em relação ao portador da bola; o - Equilíbrio, ajuste do posicionamento defensivo em função do posicionamento adversário, da bola e da baliza, pretendendo-se a cobertura dos espaços e jogadores livres e eventuais linhas de passe fazendo com que os atacantes se desloquem para espaços menos perigosos. - Concentração, diminuição do espaço disponível da defesa entre a bola e a baliza de modo a defender espaço e baliza da progressão do adversário. Tal como anteriormente, apesar de poderem ser analisados de forma individual, o princípio específico de equilíbrio apenas tem sentido quando articulado com o princípio específico concentração. A diminuição do espaço disponível da defesa para condicionar as opções de jogo do ataque, pode envolver maior ou menor concentração. Desta forma, cada vez mais se deverá considerar o equilíbrio no espaço, dado que para manter o equilíbrio defensivo em função da mobilidade 12 adversária, os jogadores deverão fazê-lo com referência ao espaço existente, ao modo como esse espaço é protegido, como se procura um equilíbrio defensivo no mesmo! Salientamos a importância da unidade entre os princípios, pelo que a mobilidade apenas tem sentido em função do espaço, acontecendo o mesmo em relação ao equilíbrio. Figura 3 - Princípios específicos do jogo defensivo Os princípios de jogo gerais devem ser vistos de forma articulada com os princípios específicos de jogo. Da mesma forma e tendo em consideração a relação dialética, de cooperação / oposição existente em torno das dinâmicas do jogo, os princípios específicos ofensivos e defensivos deverão ser vistos e articulados exatamente nessa perspetiva (Tabela 1). 13 Criar superioridade Progressão Contenção numérica Evitar a Cobertura Cobertura igualdade Ofensiva Defensiva numérica Recusar a Mobilidade no Equilíbrio no inferioridade espaço espaço numérica Tabela 1 – Articulação princípios de Jogo Gerais/Específicos ofensivos / defensivos 14 6. Os fundamentos do jogo - orientadores dos princípios de jogo Para cumprir adequadamente os princípios de jogo, os jogadores terão que ter comportamentos coletivos que permitam uma ocupação espacial equilibrada face ao objetivo momentâneo do jogo. Os comportamentos de jogo, são as ações táticas, individuais, grupais e coletivas que se articulam em diferentes escalas temporais e espaciais e concretizam as intenções dos jogadores na resolução de um problema especifico do jogo (Travassos, 2020). Uma premissa fundamental para a obtenção de ações táticas individuais que se enquadrem na dinâmica imposta pelos princípios de jogo, é que os jogadores consigam potenciar a sua relação perceção-ação na exploração de possibilidades de ação. Para isso, os jogadores devem reconhecer as informações do contexto que sustentam as suas ações (perceção) e ao mesmo tempo ter capacidade para ajustar as suas ações motoras às exigências dos contextos através do domínio dos fundamentos de jogo! O nível de perícia de um jogador, é claramente definido pela capacidade de compreender o jogo, de ler e decidir, mas igualmente, pela capacidade de enquadrar intencionalmente as ações de jogo, o que depende fortemente do domínio dos fundamentos do jogo (Figura 4). Princípios de Jogo Fundamentos Ações Figura 4 – Articulação entre Princípios / Fundamentos / Ações de Jogo 15 6.1. Fundamentos orientadores de cada princípio de jogo – Ofensivos 6.1.1. Princípio de Jogo – Progressão 6.1.1.1. Fundamento – Orientação corporal (apoios) Colocação do corpo e apoios tendo como referências a bola, adversários e companheiros de equipa, de modo a aumentar as possibilidades de ação para progressão (Figura 5). Orientar o corpo de forma adequada, em função da ação de jogo, melhora a perceção espácio-temporal da nossa posição em relação à bola aos companheiros e adversários, permitindo aumentar as opções táticas desse jogador. Orientação corporal Figura 5 – Orientação corporal (apoios) 6.1.1.2. Fundamento – Domínio do campo visual Extensão de espaço que o jogador consegue ver ou ter perceção (Figura 6). Para melhor percecionar o que se passa à sua volta e melhorar a ação tática, o jogador deve ajustar o seu campo visual de modo a ter referências informacionais tendo por base a posição da bola, a posição dos companheiros e adversários face ao local do campo onde se encontra e para onde pretende progredir. Há que saber o que olhar, onde e como em todas as situações do jogo, ou seja, quanto “mais campo” conseguir ver maiores serão as possibilidades de sucesso na execução da ação. 16 Domínio do campo visual Figura 6 – Domínio do campo visual 6.1.1.3. Fundamento – Lateralidade Espaço/amplitude que conseguimos ocupar/ percorrer com a bola utilizando ambos os pés de modo a solucionar os problemas táticos que surgem no contexto do jogo (Figura 7). Figura 7 – Lateralidade A palavra lateralidade significa ter predominância de um ou de outro de dois dispositivos simétricos, neste caso os membros inferiores. Pretendemos exatamente o contrário, desenvolver uma não predominância, ou no mínimo, a capacidade de intervir com ambos os pés (Figura 8), orientando a bola para todos os planos, interior/exterior e anterior/posterior, utilizando todas as superfícies, parte externa/interna e a planta do pé, dotando o jogador de mais recursos para o desenvolvimento da sua ação tática. 17 LATERALIDADE Planos de intervenção com cada membro inferior Figura 8 – Lateralidade (ver outra imagem???) 6.1.1.4. Fundamento – Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto Distância que existe entre portador da bola e defensor direto, bem como a perceção do espaço-tempo que lhe poderá estar associado de modo a não comprometer a opção tática mais adequada (Figura 9). O domínio do espaço é de carater vital no Futsal e é função das características individuais de cada jogador. Dominar o espaço vital de jogo permite explorar as possibilidades para ação e ter iniciativa nas ações de jogo de forma controlada. Para tal é necessário orientação e posicionamento adequados em relação ao marcador direto. Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto Figura 9 – Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto 18 6.1.1.5. Fundamento – Virar o jogo, alterar a orientação do jogo Variação da orientação corporal e do ângulo de passe que o jogador dispõe com o intuito de melhorar as suas opções de jogo (Figura 10). A variação da orientação corporal através do domínio da bola e controlo orientado face à orientação do jogo, permite ao portador da bola ganhar espaço de segurança ao defensor direto para passar a um companheiro ou progredir em condução. Para concretizar com sucesso virar o jogo, é fundamental o domínio da lateralidade de modo a que o jogador consiga alterar a orientação da condução de bola de um pé para o outro, de forma a ter ângulo/linha de passe contrária à orientação inicial. Virar o jogo (alterar a orientação do jogo) Figura 10 – Virar o jogo, alterar a orientação do jogo 6.1.1.6. Fundamento – Fixar o defensor É a capacidade de o portador da bola invadir o espaço de jogo de um defensor de modo a diminuir as suas possibilidades de ação e aumentar as possibilidades de ação no ataque (Figura 11). Fixar o defensor visa invadir o espaço do mesmo através de uma aproximação com uma orientação corporal que atraia a sua atenção e lhe diminua o domínio das relações espácio-temporais face a um aumento da velocidade relativa entre ambos num curto espaço, permitindo encontrar soluções eficazes de jogo às quais o defensor não consegue responder de forma apropriada. 19 Fixar o defensor Figura 11 – Fixar o defensor 6.1.2. Princípio de Jogo - Cobertura Ofensiva 6.1.2.1. Fundamento – Criar linhas de passe Ações realizadas pelos atacantes sem bola de modo a criar opções de passe ao portador da bola podendo haver deslocamento ou não (Figura 12). Quantas mais opções de passe o portador da bola tiver melhor, pois facilita a sua tomada de decisão e aumenta o número de possibilidades para progressão ou para dar continuidade ao jogo de forma segura. 1 Criar linha de passe 2 Figura 12 – Criar linhas de passe 20 6.1.2.2. Fundamento – Temporização ofensiva Variação (aumento / diminuição) na velocidade de aproximação e fixação do defensor de modo a possibilitar a criação de vantagem numérica ou espacial pelos companheiros de equipa (Figura 13). Através da temporização ofensiva, o portador da bola permite atrasar/acelerar uma ação de jogo tornando-a mais lenta ou mais rápida de modo a obter condições espácio-temporais mais favoráveis para a resolução do problema de jogo. Figura 13 – Temporização ofensiva 6.1.3. Princípio de jogo – Mobilidade no Espaço 6.1.3.1. Fundamento – Desmarcação de rutura ou apoio Deslocamentos de aproximação ou afastamento ao portador da bola que se realizam para sair da vigilância do adversário e criar linhas de passe para progressão ou apoio (Figura 14). As desmarcações são de apoio para ajudar o colega de posse de bola a que tenha opções de passe permanentes e de rutura quando se procura o espaço que permite progredir para a baliza adversária. Estas ações devem se realizadas com variação na direção e ritmo dos deslocamentos de modo a criar surpresa e diminuir as possibilidades de ação dos defensores. 21 Desmarcações 1 Apoio 2 Rutura Figura 14 – Desmarcações de apoio e rutura 6.1.3.2. Fundamento – Criar espaço para aproveitar e ocupar - Finta Deslocamentos ou movimentos com o corpo, com a ideia de iludir o oponente direto, de forma a que este inicie um deslocamento que favoreça o atacante em relação à ação posterior a realizar (Figura 15). Através dos movimentos sem bola um jogador pode criar espaço movendo-se de um local a outro, deixando livre o que antes ocupava, tentando modificar a posição do defensor para receber a bola no espaço criado. 1 Criar espaço 2 Finta Figura 15 – Criar espaço para aproveitar e ocupar - Finta 22 Em suma, os princípios específicos ofensivos articulam-se com os fundamentos ofensivos, devendo o seu ensino ser realizado de forma articulada e através da criação de contextos de treino que os realcem de forma conjunta (Tabela 2). FUNDAMENTOS OFENSIVOS Orientação corporal (apoios) Domínio do campo visual Lateralidade Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto Virar o jogo (alterar a orientação do jogo) Fixar o defensor Criar linhas de passe Temporização ofensiva Desmarcação de rutura ou apoio Criar espaço para aproveitar e ocupar - Finta Tabela 2 – Princípios de Jogo Específicos / Relação com os Fundamentos ofensivos 23 6.2. Fundamentos orientadores de cada princípio de jogo – Defensivos 6.2.1. Princípio de jogo – Contenção 6.2.1.1. Fundamento – Posição básica defensiva Posição de prontidão para a ação definida pela relação entre o posicionamento dos apoios e o centro de gravidade do defensor (Figuras 16 e 17). O defensor deverá adotar uma postura defensiva que lhe permita realizar deslocamentos nos diferentes planos e direções de forma rápida e ajustada às exigências do contexto. Figuras 16 e 17 – Posição básica defensiva 6.2.1.2. Fundamento – Orientação dos apoios Posição do corpo e apoios tendo como referências a bola, a baliza, os adversários e companheiros de equipa. Se a orientação corporal se restringir à ação de marcação ao adversário direto em posse de bola, deverão ser incluídas como referência as linhas do campo (Figura 18). A orientação corporal dos apoios deverá condicionar a ação ofensiva do adversário limitando o seu espaço para progressão através da variação do seu ângulo de aproximação. 24 X 1 Orientação dos apoios 2 Figura 18 – Orientação dos apoios 6.2.1.3. Fundamento - Domínio do espaço (jogador com bola e sem bola e espaço defensivo) Distância equilibrada que existe entre o defensor e o adversário portador da bola, bem como a perceção do espaço-tempo que lhe poderá estar associado de modo a não permitir que seja ultrapassado, no caso de ser o jogador da 1ª linha (Figura 19). Tal como para o fundamento ofensivo domínio espacial com bola em relação ao marcador direto, o domínio do espaço para o defensor é de caráter vital no Futsal. Dominar o espaço vital de jogo permite ter iniciativa nas ações de jogo de forma controlada. Para tal é necessário orientação e posicionamento adequados em relação ao portador da bola. Neste fundamento assumem particular importância os jogadores das 2ª e 3ª linhas defensivas, responsáveis por manter o equilíbrio defensivo (triângulo defensivo). Domínio do espaço (jogador com bola e sem bola e espaço defensivo) Figura 19 – Domínio do espaço 25 6.2.1.4. Fundamento – Pressão na bola (redução do espaço, orientação defensiva) Diminuição brusca da distância do defensor ao portador da bola de modo a limitar o espaço e condicionar a sua iniciativa (Figura 20). A variação brusca no espaço de jogo do portador da bola, sobretudo em situações em que este não está orientado para o jogo, recebeu mal a bola ou não tem linhas de passe é fundamental para limitar a sua iniciativa no jogo e para concretizar roubos de bola. Para isso o defensor deve ter em consideração: - Redução do espaço defensivo na trajetória do passe; - Posição básica defensiva a adotar no momento da pressão (diminuir o espaço de ação do adversário); - Orientação defensiva com o intuito de condicionar o adversário diminuindolhe o espaço e as linhas de passe. Pressão na bola Domínio do espaço ( jogador com bola e sem bola ) Figura 20 – Pressão na bola (redução do espaço, orientação defensiva) 6.2.1.5. Fundamento - Temporização Ação de manutenção do equilíbrio defensivo com o portador da bola ou com os atacantes mais próximos, não permitindo a fixação do defensor para potenciar a recuperação defensiva dos restantes colegas (Figura 21). A ação de temporização deverá ser realizada com o intuito de retardar a ação do atacante, impedindo que este consiga ter vantagem espácio-temporal, com o objetivo de ganhar tempo para favorecer a defesa, ou seja, procurar equilíbrio numérico e espacial através da recuperação das posições defensivas. 26 Figura 21 – Temporização 6.2.1.6. Fundamento – Acompanhamento / Deslocamentos defensivos Orientação nos deslocamentos defensivos em função da trajetória do adversário direto tendo por base a posição da bola e a baliza, de modo a não permitir que este ganhe vantagem no espaço (linha de passe) para receber a bola em progressão para a baliza (Figura 22). Preferencialmente o deslocamento do defensor deverá ser realizado de modo a visualizar a bola, o adversário direto sem bola que se movimenta e os restantes adversários e colegas. Figura 22 – Acompanhamento/Deslocamentos defensivos 27 6.2.2. Princípio de Jogo – Cobertura defensiva 6.2.2.1. Fundamento – Cooperação (ajudas e coberturas) Ajuste no posicionamento em relação ao defensor direto do portador da bola no sentido de diminuição do espaço disponível para progressão ou de modo a evitar progressão do atacante caso o defensor direto seja ultrapassado (Figura 23). As ajudas e coberturas permitem que cada jogador assuma antecipadamente um sentido de colaboração com o colega defensor do jogador portador da bola, dandolhe mais iniciativa para pressionar e procurar um roubo de bola. Figura 23 – Cooperação 6.2.2.2. Fundamento – Salto de marcação (seguir a bola) Troca de marcação entre dois jogadores defensores, definida pela particularidade de um dos jogadores deixar de marcar o adversário direto e seguir a trajetória da bola (Figura 24). Um salto de marcação tem como principal objetivo uma pressão mais eficaz e rápida sobre o portador da bola. É uma troca entre dois jogadores em que o defensor em vez de seguir o seu adversário segue a trajetória da bola quando esta é passada num espaço curto com o objetivo de a roubar ou pressionar. O defensor do jogador que recebeu a bola apanha o jogador libertado pelo colega que fez o salto. 28 Salto de marcação (seguir a bola) Figura 24 – Salto de marcação (seguir a bola) 6.2.2.3. Fundamento – Cortar linhas de passe (passador ou recetor) Ações realizadas pelos defensores de modo a retirar opções de passe ao portador da bola ou condicionar a receção da mesma de modo a restringir a ação do atacante pela diminuição do seu espaço e tempo para ação. As ações para cortar linhas de passe podem realizar-se: - Em relação ao portador da bola (orientação do jogo, pressão e domínio do espaço) (Figura 25); - Na receção da bola (pressionar a trajetória da bola) (Figura 26). Em ambos os casos, o defensor deverá ter um domínio da relação espácio-temporal, em relação ao portador da bola e ao adversário direto, possível recetor do passe! Estas ações, exigem uma grande capacidade percetiva dos defensores, no sentido de anteciparem e adequarem as suas ações às ações a realizar pelos atacantes. O domínio desta capacidade de antecipação aumenta a iniciativa de pressão defensiva. Passes realizados com tensão inadequada e precisão deficientes, podem ajudar na colocação para um eventual corte de linhas de passe. 29 Cortar linhas de passe Figura 25 – Cortar linhas de passe (portador da bola) Cortar linhas de passe Figura 26 – Cortar linhas de passe (recetor da bola) 6.2.3. Princípio de Jogo – Equilíbrio no Espaço 6.2.3.1. Fundamento – Trocas (adversário, zona, linha de passe) Troca de marcação entre dois jogadores de linhas defensivas diferentes, mantendo a altura das mesmas e condicionando o espaço defensivo (Figura 27). Uma troca tem como principal objetivo limitar a ação da equipa atacante através da manutenção das linhas defensivas e pressão sobre as linhas de passe com o intuito de intercetar a bola e limitar a progressão do adversário. 30 Trocas (adversário, linha de passe ) Figura 27 – Trocas 6.2.3.2. Fundamento – Retorno defensivo Ação de voltar à defesa após perda de bola, normalmente em zonas próximas da baliza adversária, ou quando o adversário consegue jogar entre linhas no sentido de manter o equilíbrio defensivo tendo como referência a posição da bola e da baliza (Figura 28). Pressupõe um retorno intenso de um ou mais jogadores de uma equipa à posição de defesa. O retorno deve ser feito em direção à baliza em função do tempo ou espaço e o mais rapidamente possível. Em tom de brincadeira dizemos muitas vezes que o “cemitério” está sempre localizado atrás da baliza defendida pela nossa equipa, ou seja, os defensores devem “morrer” no retorno defensivo salvaguardando a baliza que defendem. Normalmente, é uma característica associada a jogadores que possuem uma elevada resiliência. Retorno defensivo Figura 28 – Retorno defensivo 31 6.2.3.3. Fundamento – Flutuação Ação de coordenação coletiva definida pela capacidade de os jogadores manterem uma relação espacial equilibrada na proteção do espaço entre a bola e a baliza e com o objetivo de limitar a progressão da equipa adversária (Figura 29). É uma ação conjunta por parte de todos os defensores que se deslocam em função do local onde se encontra a bola, aumentando a distância aos atacantes que se encontram no corredor contrário à bola. Individualmente os jogadores flutuam tendo por base a ocupação espacial dos adversários em relação aos seus companheiros e tendo por base a posição relativa da bola no campo. Cumprindo todos os fundamentos anteriormente referidos, mais facilmente adotamos comportamentos de flutuação adequados. Flutuação Figura 29 – Flutuação Em suma, os princípios específicos defensivos articulam-se com os fundamentos defensivos, devendo o seu ensino ser realizado de forma articulada e através da criação de contextos de treino que os realcem de forma conjunta. Salientamos que 32 apesar do processo não ser linear e cumulativo, muitos dos fundamentos relacionamse entre si. Isto significa que o pouco domínio de alguns fundamentos poderá condicionar de forma clara a evolução nos restantes (Tabela 3). FUNDAMENTOS DEFENSIVOS Posição básica defensiva Orientação corporal (apoios) Domínio do espaço Pressão na bola Temporização Acompanhamento/Deslocamentos defensivos Cooperação (ajudas, coberturas) Saltos de marcação Cortar linhas de passe Trocas Retorno defensivo Flutuação Tabela 3 – Princípios de Jogo Específicos / Relação com os Fundamentos defensivos 7. As ações tático-técnicas do jogo de futsal 33 7.1. Importância dos Fundamentos do jogo para a correta execução das ações tático-técnicas Anteriormente referimos que a execução intencional das ações de jogo pressupõe a sua realização ajustada aos contextos de jogo. Para isso é necessário que os jogadores sejam capazes de percecionar as suas possibilidades de ação individuais de acordo com referências coletivas definidas, por exemplo, pelos princípios específicos de jogo (Travassos, 2020). No entanto, a identificação e criação de possibilidades para ação não se resume a um processo percetivo ou cognitivo, mas tem por base também as capacidades condicionais, coordenativas, e sobretudo o domínio dos fundamentos do jogo ofensivos e defensivos. 7.1.1. Ações individuais ofensivas (tática individual) 7.1.1.1. Receção A receção pode ser definida como a ação que permite o domínio e controle da bola de modo a que esta esteja imediatamente jogável (Figura 30). Figura 30 – Receção A título de exemplo, se pensarmos numa receção dirigida para a própria baliza onde a direção do campo visual vá de encontro ao espaço para onde a bola foi orientada, facilmente compreenderemos que o domínio do campo visual poderá estar 34 direcionado para espaços do jogo onde referências como os colegas e adversários serão mais reduzidas. Nesse sentido, poderemos dizer, de uma forma genérica, que apesar da ação de receção ter sido corretamente realizada, do ponto de vista técnico (individual), ao nível da sua eficiência tática de ajuste ao contexto do jogo e nos seus fundamentos arriscaremos a dizer que na receção ficou comprometido o domínio do campo visual e consequentemente poder-se-ão ter perdido um conjunto de possibilidades de ação fundamentais no jogo, bem como negligenciado o cumprimento dos princípios específicos do jogo. Figura 31 – Receção (proteção) A orientação corporal dos apoios aparece intimamente associada com o domínio do campo visual. Dificilmente um jogador consegue dominar o campo visual se nos instantes prévios à receção a orientação corporal dos apoios estiver incorreta. Assim, torna-se fundamental que o jogador que vai receber a bola, “prepare” os seus apoios em função não só do seu oponente direto, como também dos seus companheiros de equipa e da bola, de modo a colocar-se numa posição privilegiada e não limitar as suas possibilidades de ação e consequentemente as suas opções de jogo. A título de exemplo, se compararmos a receção feita por dois jogadores que estejam colocados frente a frente, com a receção realizada entre quatro jogadores que se encontrem a realizar passe e receção, dispostos em quadrado, poderemos constatar que no primeiro caso, estando orientados frontalmente e dirigidos um para o outro, 35 o domínio do campo visual e orientação dos apoios estarão, à partida corretos. No entanto, no segundo caso, a orientação adequada dos apoios/corpo implicará uma ligeira rotação dos apoios/corpo nos instantes prévios a realizar a receção da bola, ficando deste modo a dominar o campo visual (Figura 32), para ver os diversos colegas simultaneamente, e com a orientação adequada dos apoios. Figura 32 – Receção orientada Tal como referido anteriormente, o domínio do espaço é de caráter vital no Futsal, pelo que assume enorme importância o domínio do espaço sem bola em relação ao marcador direto. Assim, e dando continuidade aos fundamentos de jogo e englobando os anteriormente citados, podemos dizer que numa receção o jogador que recebe a bola deve colocar-se a uma distância adequada relativamente ao marcador direto, com a orientação corporal e dos apoios ajustada ao contexto e local do campo, de modo a que exista um domínio do campo visual que permita potenciar a exploração das ações de jogo individuais e coletivas. Como último ponto, na ação de receção a capacidade de “fazer andar a bola”, isto é, conseguir que a bola seja rececionada de forma dinâmica no sentido de criar dificuldades ao adversário evitando um desarme. Neste caso a lateralidade torna-se decisiva. 36 7.1.1.2. Passe O Passe pode ser definido como a ação tático-técnica que permite deslocar a bola entre jogadores. Constitui-se como um meio de comunicação entre os companheiros da mesma equipa (Figura 33). Figura 33 – Passe Na ação do passe, o domínio do campo visual permite ao jogador com bola ter a perceção da localização dos seus colegas. Assim, o jogador que vai efetuar o passe terá maior possibilidade de “comunicar” com um dos seus colegas que se encontre num contexto mais vantajoso. Na sequência do fundamento de jogo anterior (domínio do campo visual) surge a orientação corporal. Os dois fundamentos dificilmente poderão estar dissociados, ou seja, se através do campo visual o jogador consegue percecionar as possibilidades de ação favoráveis face ao contexto de jogo, através da orientação corporal o jogador conseguirá concretizar essas mesmas possibilidades de ação do passe. Para isso, a colocação dos apoios deve estar alinhada ou ser ajustada de acordo com o campo visual de modo a potenciar a ação de passe para o colega que se encontra em situação vantajosa. Desta forma, é importante que o jogador que passa a bola (Figura 34), tenha uma orientação que considere a receção da bola e o passe no mesmo plano de ação. 37 Figura 34 – Passe Na presente ação, para além dos fundamentos referidos anteriormente, o domínio espacial com bola em relação ao opositor direto pode contribuir para o sucesso ou insucesso do passe (Figura 35). A tentativa de passar a bola com o opositor direto muito próximo, pode condicionar a linha de passe e consequentemente limitar o êxito da mesma. Assim, a distância ideal no binómio atacante/defensor pode variar em função da qualidade individual dos mesmos, onde a lateralidade pode ter um papel muito importante. 38 Figura 35 – Passe (domínio espacial com bola em relação ao nosso opositor direto) Considerando o fundamento de lateralidade como o espaço/amplitude que o jogador consegue ocupar/percorrer com a bola utilizando ambos os pés, facilmente conseguimos depreender que o domínio da mesma proporciona ao jogador um recurso importante para criar linhas de passe e passar a bola para o colega que se encontra em situação vantajosa. Da mesma forma, que quando contrariado pelo opositor direto terá maior capacidade para procurar alternativas de passe que visem solucionar o problema tático. Em modo de resumo podemos referir que, para que a ação passe possa ter sucesso o jogador deverá ter no seu campo visual os seus colegas e os adversários, estar orientado de modo a conseguir passar a bola para o espaço pretendido, dominando a distância relativa ao seu opositor direto, que associado a uma boa lateralidade lhe permitirá criar um número superior de linhas de passe e consequentemente ter mais possibilidades de sucesso na ação. A aplicação de uma força adequada à bola que lhe permita uma velocidade ajustada ao contexto espácio-temporal do jogo, bem como a precisão do passe para o pé mais vantajoso do nosso colega constitui também um importante critério de êxito da ação. 39 7.1.1.3. Condução da bola A condução de bola permite a um jogador progredir com a bola de forma controlada (Figura 36). Figuras 36 – Condução da bola O domínio do campo visual, à semelhança das ações já referidas, permite ao jogador que progride com a bola dentro do seu espaço motor, ver o posicionamento dos seus colegas e adversários, bem como perceber quais os espaços vantajosos para onde, eventualmente, deve conduzir a bola, progredindo no espaço (Figura 37). Figuras 37 – Condução da bola (domínio do campo visual) 40 De uma forma natural a orientação corporal dos apoios define o local para onde a progressão com bola tende a ser realizada. Se o jogador se pretende deslocar para espaços privilegiados do espaço de jogo, onde exista por exemplo uma vantagem numérica, ou se pretende alterar subitamente o sentido do jogo, apenas o conseguirá com a orientação dos apoios ajustada. O pé a utilizar na condução de bola, associada à orientação dos apoios potencia ainda a sua proteção face à proximidade de um opositor. Durante a progressão com bola no espaço de jogo torna-se vital dominar a distância em relação ao marcador direto, de modo a garantir o sucesso da ação, ou mesmo das ações de jogo subsequentes (Figura 38). Dominar este espaço, do ponto de vista ofensivo, poderá significar a possibilidade de ter a iniciativa de jogo, conduzindo a bola para locais desejados e que possibilitem criar vantagem, ou mesmo superar o adversário direto. Figuras 38 – Condução da bola (distância de segurança em relação ao marcador direto) A colocação dos apoios e a sua consequente orientação espacial podem ter um papel fundamental, designadamente para um jogador que ocasionalmente conduza a bola para a própria baliza, provocando um comportamento distinto no defensor, no que ao domínio espacial diz respeito. Ao invés a condução de bola devidamente enquadrada para o espaço atacante, poderá implicar, dependendo sempre das 41 características do opositor direto, um aumento desta distância entre atacante e defensor direto. Algumas vezes, durante o jogo, a condução de bola enquadrada para o espaço ofensivo, é realizada em superioridade numérica, ou seja, o número de atacantes é superior ao número de defensores. É importante neste tipo de situações o portador da bola conseguir fixar o defensor, conduzindo a bola para o espaço onde este se encontra, para libertar o seu colega de equipa de forma a que a superioridade se torne mais evidente (Figura 39). Figura 39 – Condução da bola (fixar o defensor) Na condução de bola, mais concretamente nas mudanças de direção súbitas na orientação do jogo, torna-se fulcral a capacidade de o jogador conseguir “percorrer espaço com a bola” com ambos os membros inferiores (lateralidade), de modo a manter uma distância adequada em relação ao seu marcador direto, bem como a utilizar o corpo e a perna de apoio a cada momento de forma protetiva relativamente à tentativa de possíveis roubos de bola pelo adversário. Na sequência desta ação, por vezes, assume particular importância o fundamento virar o jogo, ou seja, alterar a orientação do jogo, para se conseguirem possibilidades de ação mais adequadas ao contexto do jogo. 7.1.1.4. Controlo da bola / proteção da bola O controlo / proteção da bola, permite a um jogador a proteção da bola de forma a resguardá-la (proteção máxima) de qualquer intervenção do(s) adversário(s) direto(s) (Figura 40). 42 Figura 40 – Controlo da bola/Proteção da bola A importância de dominar o campo visual nos diferentes planos de jogo, no controlo da bola implica ter a perceção da colocação do adversário de modo a que o jogador consiga proteger a mesma das ações dos adversários. Um exemplo bem elucidativo desta ação, é o controlo de bola pelo pivot de costas para a baliza adversária. Dominar o campo visual nesta situação estará associado ao levantar a cabeça girando- a, se necessário, conseguindo ter a perceção do contexto mais próximo de modo a proteger a bola, quer seja ajustando o seu corpo, ou mesmo dirigindo a bola para o membro inferior mais distante do adversário (Figura 41). Neste caso, o pivot estará não só a dominar o campo visual, mas também ao conseguir manter a bola fora do alcance do marcador direto, dominando o espaço com bola em relação a este. Figura 41 – Controlo da bola/Proteção da bola (membro inferior mais distante) Uma boa lateralidade do jogador, tal como já foi salientado anteriormente, permite ao jogador proteger a bola dentro de um espaço motor maior, bem como dominar mais espaço de jogo, dificultando ao máximo o papel do seu defensor direto e de eventuais ajudas defensivas. 7.1.1.5. Drible/ Finta/ Simulação O drible / finta / simulação permite iludir e ganhar vantagem espácio-temporal em relação ao adversário ultrapassando-o através de um movimento de aceleração brusco com bola face ao opositor (Figura 42). Enquanto o drible se realiza com bola, a finta / simulação são realizadas sem bola. Na presente ação tático-técnica torna-se importante realçar que numa fase inicial e na tentativa de ultrapassar um adversário direto o portador da bola deve ter a iniciativa em relação ao adversário, deslocando-se no sentido de criar vantagens 43 relacionais que favoreçam o portador da bola para progredir para os espaços que lhe são mais favoráveis em termos coletivos. Neste sentido, para concretizar o drible, o portador da bola deve explorar a relação com o adversário no sentido de diminuir o espaço entre ambos, tentando fixá-lo e ao mesmo tempo acelerar a sua ação no sentido de criar um desequilíbrio e ganhar vantagem espacial. Figura 42 – Drible (Acelerar a bola) Por exemplo numa situação 2 x 1 + Gr, será adequado o portador da bola conduzi-la até ao defensor, fixá-lo, e selecionar a ação mais adequada no sentido de ganhar vantagem individual ou criar vantagem ao seu colega de equipa. Igualmente numa situação de 1 x 1 + Gr, se o adversário direto está algo distante, será importante fixar o defensor no sentido de explorar quais os comportamentos possíveis e criar o “timing” apropriado, o momento de desequilíbrio, de modo a acelerar a bola, driblando o opositor no seu momento mais débil. Uma das formas que o portador da bola tem para desequilibrar o adversário é utilizar fintas e simulações de modo a tentar iludir o defensor e ao mesmo tempo procurar que este tome a iniciativa do desarme. Neste contexto, é comum nas situações de drible na ala o jogador atacante escolher o momento de aceleração da bola no instante em que o opositor cruza os apoios para a roubar. Ou seja, parece ser mais fácil, por exemplo, um jogador esquerdino tentar ultrapassar um opositor destro na ala direita (Figura 43), face às dificuldades que este terá em manter uma ajustada orientação corporal e domínio 44 do espaço face à direção do deslocamento que o portador da bola pretende ter. Possivelmente, o tempo despendido a cruzar os apoios irá atrasar o desarme, bem como colocará o defensor numa situação menos privilegiada no espaço. Neste sentido, a lateralidade de ambos os jogadores, é fundamental, ou seja, o atacante manter a bola no seu espaço motor de modo a conseguir driblar com o pé esquerdo ou direito gera muita variabilidade e dificuldade na tomada de decisão do defensor para intercessão da bola. Figura 43 – Drible (Condução – bola no espaço motor e possibilidade de driblar com pé esquerdo ou pé direito). 7.1.1.6. Remate O remate pode ser definido como o envio da bola para a baliza contrária com intenção de obter golo. A relação entre a potência e a precisão com que é efetuada a ação pode ser fundamental no sucesso da mesma (Figura 44). 45 Figura 44 – Remate No Futsal podem ser distinguidas diferentes superfícies/zonas de contacto com a bola, das quais se salientam a ponta do pé (bico) e ou o peito do pé, ou em situações menos frequentes a parte mais interna do pé, a parte exterior e por vezes, inclusive, o próprio calcanhar. No entanto, saliente-se que, mais do que a superfície de contacto no momento da execução, uma das grandes dificuldades que constatamos nos jovens jogadores, nos instantes prévios ao remate, é precisamente a orientação corporal que de forma frequente faz com que o executante tenha que realizar uma ligeira rotação corporal dificultando muito a aceleração da perna de remate e o contacto com a bola. Normalmente, associado às dificuldades de orientação corporal encontra-se a trajetória do deslocamento prévio ao remate. Por exemplo, considerando a trajetória de deslocamento de um jogador que se encontre no corredor central e que tenha que realizar, face à trajetória da bola, um remate no corredor lateral direito, é fundamental a leitura da trajetória da bola e a realização de uma trajetória de deslocamento que permita que o remate seja realizado da forma mais enquadrada possível com a baliza. De destacar ainda que muitas das vezes o remate não é realizado de forma isolada ou com tempo e espaço total para que exista preparação e enquadramento equilibrado com a baliza e com tempo e espaço para aceleração da perna de remate, mas sim como resultado da sequência de ações prévias como possam ser uma receção + remate, drible + remate, ou mesmo recuperação a bola + remate (Figura 45). Figura 45 – Remate precedido de drible Outro dos pormenores fundamentais ao nível do remate prende-se com algumas dificuldades em perceber a potência e colocação a utilizar no remate em função da relação estabelecida com o Guarda-Redes. De forma algo frequente, sobretudo nos escalões de formação, o executante não tem em conta o posicionamento do 46 GuardaRedes adversário, ou mesmo de um elemento que esteja na trajetória do remate. Deste modo, o domínio do campo visual, e a capacidade de olhar e ajustar a ação de remate à trajetória de remate disponível é fundamental de modo a que este não seja intercetado ou defendido. Em suma, não é apenas a potência de remate que importa, mas sim a relação entre a precisão e a velocidade da bola (tendências contraditórias) face à perceção da linha de remate mais favorável que os jogadores devem procurar para que a bola não seja intercetada. Figuras 46 e 47 – Remate Em suma, no ensino e desenvolvimento das ações táticos-técnicas ofensivas o treinador deve focar a sua atenção não apenas na execução por si só, mas no domínio dos fundamentos que potenciam as ações realizadas de acordo com os contextos de intervenção (Tabela 4). FUNDAMENTOS OFENSIVOS Orientação corporal Domínio do campo visual Lateralidade Domínio do espaço Orientação corporal Domínio do campo visual Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto Lateralidade Domínio do campo visual 47 Orientação corporal Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto Lateralidade Fixar o defensor Virar o jogo Domínio do campo visual Domínio espacial com bola em relação ao marcador direto Lateralidade Fixar o defensor Lateralidade Orientação corporal Domínio do campo visual Tabela 4 – Ações individuais ofensivas / Fundamentos do jogo ofensivos 7.1.2. Ações individuais defensivas (tática individual) 7.1.2.1. Marcação A marcação é a ação defensiva que se destina a dificultar a ação ofensiva de progressão do atacante (Figuras 48 e 49). Figuras 48 e 49 – Marcação 48 Na realização da ação marcação, convém diferenciar claramente duas situações distintas, nomeadamente, se o jogador que estamos a defender se encontra em posse de bola ou não. Em ambas as situações consideramos fundamental dominar o espaço, embora com referências distintas. Se o atacante que o defensor se encontra a defender se encontra em posse de bola torna-se importante dominar o espaço, adotando uma postura mais ou menos ativa em função do espaço/zona do campo onde decorre a ação e das questões estratégicas que possam existir (impedir/condicionar espaços) (Figura 50). Figura 50 – Marcação (posição básica defensiva ao portador da bola) A aproximação realizada, pressão na bola, por forma a reduzir o espaço defensivo na trajetória do passe deve ser sempre cautelosa, tendo em conta a colocação e orientação do atacante, de frente ou de costas para a baliza (Figuras 51 e 52), de modo a evitar uma falta desnecessária. 49 Figura 51 e 52 – Marcação (adversário de costas) e Marcação (adversário de frente) Quando o defensor se aproxima do atacante com bola, deve adotar a posição básica defensiva, com o tronco ligeiramente fletido e com os membros inferiores ligeiramente afastados de modo a limitar as linhas de passe, mas mantendo capacidade para se deslocar nas diferentes direções, centro de gravidade ligeiramente mais baixo numa postura de prontidão, um pé ligeiramente à frente do outro de modo a criar incerteza ao atacante. O defensor deve temporizar e esperar pelo momento adequado para tentar desarmar o atacante (Figura 53). Neste contexto o defensor deverá estar colocado entre o portador da bola e a baliza que defende. Figura 53 – Marcação (temporização) Ao invés, se o defensor estiver a defender um atacante que não possui a bola este deve dominar o par e a bola em simultâneo. Nesta situação, o defensor deve compreender de forma muito clara o seu posicionamento no interior do triângulo formado pela bola adversário e o defensor (Figura 54). O domínio do campo visual 50 e a distância em relação ao opositor direto (podendo variar dependendo da proximidade da baliza) deve ser uma constante, pois o defensor tem que dominar em simultâneo as referências par e bola. Figura 54 – Marcação (dominar par e bola) Na ação marcação torna-se, também, fundamental perceber se o defensor vai acompanhar o seu adversário direto, ou se, ao invés vai realizar uma troca defensiva. No acompanhamento defensivo, o domínio dos deslocamentos defensivos, associado á correta colocação (orientação) dos apoios e domínio do campo visual pode ser crucial no sentido do defensor não perder a referência visual simultânea da bola e do seu opositor direto. De forma frequente, o domínio do espaço interior, por parte do defensor poderá ser vantajoso. Nos escalões mais jovens das nossas seleções, verificam-se com alguma frequência dificuldades no domínio da distância em relação ao opositor direto (perda de referências) e domínio do campo visual, sobretudo porque o foco principal é colocado na bola. Problemas semelhantes podem ser encontrados numa troca defensiva. Será importante que no momento da troca o defensor domine o campo visual, conseguindo ver em simultâneo a posição da bola e os dois oponentes, aquele que vai entrar e o que, possivelmente, lhe aparece no espaço. É importante que o defensor não troque de “cor”, permanecendo estático, sem procurar referências posicionais e sem ter a 51 perceção que o adversário se vai “dar à troca”. Em ambas as situações anteriormente apresentadas, os jogadores terão que exercer a marcação, nestes casos entre dois jogadores, de forma equilibrada. 7.1.2.2. Interceção A interceção pode ser definida como a ação que permite interromper a trajetória da bola entre dois adversários (Figuras 55 e 56). Figuras 55 e 56 – Interceção Usualmente o defensor deve estar colocado entre os dois adversários, de modo a intercetar o passe. Um erro frequente neste tipo de situações, é o defensor deslocarse ao encontro do portador da bola, diminuindo o seu tempo para interceção da bola pela diminuição da distância ao jogador que faz o passe sem diminuição do seu tempo à linha de passe, possibilitando que a mesma seja facilmente passada para um seu opositor. Um exemplo prático de uma situação de “meinho” em que 3 jogadores passam a bola entre si e um defensor a tenta intercetar, este, de modo a conseguir dominar o espaço e, tendo por base a orientação dos apoios e direção do deslocamento dos atacantes, realizar a leitura sobre as suas possibilidades de ação, e através de ligeiros deslocamentos, no sentido de condicionar essas mesmas possibilidades, conseguir criar alguma indefinição que lhe permita antecipar e intercetar a trajetória da bola. Numa situação de jogo, podemos identificar de modo algo recorrente, o reajuste de um defensor que verificando a pressão exercida pelo seu colega realiza uma troca defensiva na orientação do jogo de modo a conseguir intercetar a bola. Na interceção, o domínio do espaço, muitas vezes em função da pressão existente na bola, ajuda a ter uma maior noção espácio-temporal (Figuras 57 e 58), permitindo cortar linhas de passe existentes. 52 Figuras 57 e 58 – Interceção 7.1.2.3. Desarme O desarme é a ação que permite o “roubo” da bola a um adversário (Figura 59). Figura 59 – Desarme O momento exato selecionado para consumar o desarme deve ter em conta vários aspetos. Será importante a bola estar bem pressionada e ou eventualmente orientada para espaços privilegiados, do ponto de vista defensivo. A posição corporal e dos apoios do adversário, de costas ou de frente, pode ter influência no desarme e na marcação, bem como na abordagem ao portador da bola. Se o opositor estiver de 53 frente é importante o defensor esperar o momento exato, temporizar, para depois desarmar o opositor evitando cruzar os apoios (Figura 60). Assim, se o atacante for esquerdino e conduzir a bola pelo corredor direito é recomendável que o defensor desarme o opositor com a sua perna esquerda. Parece-nos que a tentativa de desarmar com os apoios cruzados, pode trazer vantagens para o atacante, uma vez que lhe permite ter a iniciativa de acelerar a bola no preciso momento em que há a tentativa de desarme, fazendo com que o defensor chegue ligeiramente atrasado. Figura 60 – Desarme (sem cruzar apoios) Tal como foi anteriormente referido aquando da ação marcação, os saltos constituem uma forma simples de um jogador “saltar”, ou seja, deslocar-se no sentido de ficar a marcar outro opositor, cujo posicionamento lhe traga vantagem do ponto de vista defensivo. Esta pode ser entendida como uma forma de dominar o espaço de modo mais eficiente, uma vez que o atleta percorre menos distância até à abordagem do adversário. De referir ainda, que o domínio da distância em relação ao marcador, bem como, o domínio do campo visual são de ínfima importância. 7.1.2.4. Antecipação Antecipação é a ação defensiva que consiste em prever os movimentos do ataque de modo a ganhar vantagem no espaço e no tempo, ao atacante e impedir que este receba a bola (Figuras 61, 62 e 63). Para isso, o defensor deve conseguir prever as relações espácio-temporais subsequentes de modo a ajustar o seu posicionamento defensivo e colocar o corpo entre o adversário e a possível linha de passe que ele tente criar. O objetivo é interromper a trajetória da bola. 54 Figuras 61, 62 e 63 – Antecipação No Futsal, a antecipação pode assumir variadíssimos contextos. Pode ocorrer em contextos em que o fixo se consegue antecipar ao pivot, quer seja numa trajetória rasteira ou aérea da bola ou mesmo na antecipação a um jogador que está na eminência de receber a bola na ala. Ao descrevermos a primeira situação, fixo a marcar um pivot de costas para a baliza, e partindo do pressuposto que o fixo se encontra por trás do pivot (Figura 64), torna-se fundamental dominar o espaço, ou seja, o defensor estar colocado de modo a criar uma situação que lhe permita, caso seja vantajoso e tenha a certeza, antecipar-se ao seu adversário, concluído com êxito o seu “diagnóstico espácio-temporal”. Figura 64 - Antecipação A forma como o defensor e o atacante colocam os apoios, bem como a distância que existe entre os mesmos, pode ser fundamental no sucesso da ação. Esta tentativa de 55 dominar o espaço, associada a uma alternância na colocação dos apoios por parte de ambos, visa essencialmente, procurar vantagem posicional previamente à tentativa de receção por parte do pivot ou de antecipação do defensor. O momento da concretização da ação de antecipação é precedido por uma exploração da intenção do atacante portador da bola e das movimentações dos restantes jogadores de modo a “prever” a possível trajetória da bola e a intercetar antes de ser rececionada pelo jogador atacante (Figuras 65 e 66). Assim, para que o defensor tenha mais probabilidades de sucesso neste duelo, terá que ocupar o espaço adequado colocando os apoios ajustados em função da posição da bola e do/s seu/s adversário/s, bem como esperar pelo momento ideal para se conseguir antecipar ao seu opositor, cortando a linha de passe inicialmente criada por este. Figura 65 e 66 - Antecipação Em suma, no ensino e desenvolvimento das ações táticos-técnicas defensivas o treinador deve focar a sua atenção não apenas no gesto que define a ação, mas no domínio dos fundamentos que potenciam as ações realizadas de acordo com os contextos de intervenção (Tabela 5). 56 FUNDAMENTOS DEFENSIVOS Posição básica defensiva Orientação corporal (apoios) Domínio do espaço Pressão na bola Temporização Cortar linhas de passe Domínio do espaço (par e bola) Pressão na bola (trajetória) Pressão na bola Salto de marcação Domínio do espaço Domínio do espaço Orientação corporal (apoios) Temporização Cortar linhas de passe Tabela 5 – Ações individuais defensivas / fundamentos do jogo defensivos 57 8-Conclusão Foi nosso propósito, ao longo do presente livro, definir e organizar os principais conteúdos no ensino do jogo, apresentado os vários aspetos que o constituem, desde a compreensão dos princípios aos FUNDAMENTOS necessários para cumprir esses mesmos princípios, de modo a que as ações de jogo tenham intencionalidade, lógica, de acordo com os objetivos do mesmo, ou seja, marcar golo e não sofrer. Compreender os fundamentos do jogo contribuirá para uma melhor perceção, por parte dos treinadores, dos conteúdos decisivos no incremento do nível de perícia dos jovens jogadores de modo a que estes consigam resolver, adequadamente, as ações que o jogo exige. É nossa intenção, com esta publicação, que o conhecimento dos treinadores, na sua intervenção ao nível do processo de ensino/treino, a organização deste mesmo conhecimento bem como a definição de etapas e prioridades, com a definição de uma terminologia própria, dê origem à criação de uma linguagem comum. Esperamos contribuir para que os treinadores de Futsal foquem a sua atenção nos problemas vivenciados pelos atletas na formação, identificando as suas limitações e as suas mais valias de modo a que consigam incrementar, durante o processo de treino, o nível de desempenho dos jogadores que têm à disposição. Confiamos, acima de tudo, que este livro seja uma alavanca não só para a compreensão do processo de ensino do jogo como, também, para todas as reflexões necessárias para as atualizações constantes, e necessárias, que este processo de aprendizagem/treino ativo carece. Equipa Técnica Nacional References 58 Braz, J. (2006). Organização do jogo e do treino em Futsal. Estudo comparativo acerca das concepções de treinadores de equipas de rendimento superior de Portugal, Espanha e Brasil Porto]. Porto. Braz, J., Mendes, J. L., & Palas, P. (2015). Etapas de formação do jogador de futsal. Federação Portuguesa de Futebol. Corrêa, U., Alegre, F., Freudenheim, A., Dos Santos, S., & Tani, G. (2012). The game of futsal as an adaptive process. Nonlinear dynamics, psychology, and life sciences, 16(2), 185. Garganta, J. (2005). Dos constrangimentos da acção à liberdade de (inter)acção, para um Futebol com pés … e cabeça. In D. Araújo (Ed.), O contexto da decisão. A acção táctica no desporto. 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