Formação de Impressões I PDF
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Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
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Este documento discute a formação de impressões de personalidade. Explora como as pessoas formam impressões sobre a personalidade de outras pessoas, incluindo os fatores que influenciam essas impressões e algumas das causas de erro na formação de impressões.
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IMPRESSÕES DE PERSONALIDADE Descreve uma pessoa em 2/3 frases Estamos constantemente a ler a personalidade dos outros Estamos constantemente a ler a personalidade dos outros O que é uma impressão de personalidade? É a integração das várias inform...
IMPRESSÕES DE PERSONALIDADE Descreve uma pessoa em 2/3 frases Estamos constantemente a ler a personalidade dos outros Estamos constantemente a ler a personalidade dos outros O que é uma impressão de personalidade? É a integração das várias informações acerca de alguém numa representação mental coesa que nos permite navegar na interação com essa pessoa. Traduz-se, na prática, numa avaliação geral positiva ou negativa da pessoa E permite fazermos inferências sobre uma variedade de características da pessoa – ou seja, ir para além da informação disponível CRIAMOS IMPRESSÕES A PARTIR DO QUÊ? Conversas Comportamentos Caras/expressões faciais Atitudes Roupa Gostos Crenças Grupo social de que faz parte Espaços pessoais que as pessoas habitam s como a variável observável mais informativa Comportamentos como a variável observável mais informativa ponte entre uma forma s (intenções, Os comportamentos são a ponte entre duas mentes distintas. cerca da Permitem inferir características (intenções, motivações, desejos, etc.) sobre a personalidade dos outros COMO SE MATERIALIZAM AS IMPRESSÕES? TRAÇOS DE PERSONALIDADE como o “core” (cerne) das impressões que criamos sobre os outros Filtram a variabilidade que existe no comportamento dos outros e fixam algumas das suas características assumindo-as como estáveis Traços de personalidade traços de personalidade Economia cognitiva Forma de categorização / organização dos estímulos sociais - Economia cognitiva Comunicação e linguagem - Forma de categorização/ organizar estímulos sócias -Comunicação e linguagem Prever o comportamento futuro Influenciar a interação social - Prever comportamento futuro - Influencia interação social Sentimento de controlo sobre o Sentimento de Controlo ambiente social Estamos constantemente a ler a personalidade dos outros Mas será que lemos bem os outros? Erros de leitura Efeito de halo (Thorndike, 1932): Um traço se alastra aos outros Distorção para a positividade/negatividade Erro fundamental da atribuição (Ross, 1977) Efeito de halo Tendência para avaliar as pessoas de forma consistente com uma primeira impressão geral (positiva ou negativa) Esta impressão estende-se a outros domínios não relacionados Mais expressiva quando os traços a avaliar são ambíguos, pouco familiares Dion, Bercheid & Walster (1972) Estímulos: 3 tipos de fotografias de homens e mulheres 1) Muito atraente; 2) moderadamente atraente; 3) Nada atraente Tarefa: classificar cada uma das fotografias em 7 características não relacionadas com a beleza física Estatuto profissional, felicidade social e profissional, características da personalidade Resultados: As pessoas mais atraentes foram avaliadas com valores mais elevados em todas as características Distorção para a negatividade Distorção para a negatividade (Kanouse & Hanson, 1972) Informação negativa tende a ter um impacto mais forte do que informação positiva. A impressão geral formada face a informação negativa e positiva é mais negativa do que a soma algébrica das valências da experiências individuais. Traços negativos são mais inesperados e salientes, têm mais peso, adquirem mais valor informacional, são melhor recordados, maior confiança nos mesmos Erro fundamental da atribuição Tendência para sobrestimar as disposições ou motivos pessoais internos ao tentar explicar, atribuir ou interpretar o comportamento observado noutras pessoas E para subestimar a importância das circunstâncias/contexto Como inferimos traços de personalidade acerca de outros? Quais os mecanismos? Asch (1946) EFEITOS DE ORDEM NOVO INTERESSE: Perceber os mecanismos de percepção social e não a acuidade dessa percepção a seminal de Solomon Retoma a ideia seminal Asch de Solomon Asch “Olhamos para uma pessoa e imediatamente uma certa impressão do seu carácter forma-se em nós. Um olhar, umas poucas palavras, é o pessoa e imediatamente uma certa impressão do suficiente para nos contar uma história acerca de uma matéria extremamente complexa. Nós sabemos que essas impressões se se em nós. Um olhar, umas poucas palavras, é o formam com enorme rapidez e bastante facilidade. Observações posteriores podem enriquecer ou perturbar a nossa visão inicial, mas contar uma história acerca de uma matéria não somos mais capazes de evitar o seu crescimento, da mesma forma que não conseguimos evitar visualizar um objecto ou ouvir uma plexa. Nós sabemos que essas impressões se melodia” (Asch 1946, p. 258) e rapidez e bastante facilidade. Observações EFEITOS DE ORDEM Em que medida a contribuição de um determinado traço para a impressão é afetada pela ordem em que é apresentado? Asch (1946) Apresenta uma lista de traços, manipulando a ordem de apresentação Lista A: inteligente, industrioso, impulsivo, crítico, teimoso, invejoso Lista B: invejoso, teimoso, crítico, impulsivo, industrioso, inteligente Qual a lista que gerou uma impressão mais positiva? Qual a lista que gerou uma impressão mais positiva? A lista A gerou uma impressão mais positiva do que a lista B Porquê? Efeito de primazia: As impressões formadas com base nos primeiros atributos persistem e influenciam a interpretação dos descritores seguintes... Mas nem sempre são os primeiros traços que têm mais importância na Efeito de recência: os últimos atributos conhecidos têm maior impacto na impressão gerada Quando? 1 – Os primeiros comportamentos são neutros ou têm implicações ambíguas 2 – A motivação para formar uma impressão é baixa (Lichtenstein & Srull, 1987) Asch (1946) ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Abordagem Configuracional ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Inspirado pelos princípios da Psicologia da Gestalt Formação de impressões como um processo holístico: os traços que caracterizam a pessoa organizam-se de tal modo que o todo é diferente da soma das partes. INSPIRADA NOS PRINCIPIOS DA PSICOLOGIA DA GESTALT FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES COMO UM PROCESSO HOLÍSTICO – os traços que caracterizam a pessoa organizam-se de tal modo que o todo é diferente da soma das partes ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Apresenta uma lista de 7 traços, que supostamente descreviam uma pessoa em particular Lista A: inteligente, hábil, industrioso, caloroso, determinado, prático, cauteloso Lista B: inteligente, hábil, industrioso, frio, determinado, prático, cauteloso Tarefas: Escrever um breve comentário sobre a pessoa descrita Seleccionar numa lista de 18 pares de traços antagónicos, o adjetivo de cada par que melhor se ajusta à impressão formada ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Resultados Tarefa 1: Caloroso: ”É uma pessoa que acredita que certas coisas estão bem (...) sincero na argumentação (...)” Frio: “É uma pessoa cheia de ambição e de talento (...) está decidida a não ceder, aconteça o que acontecer” Abordagem Configuracional Asch (1946) ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Resultados tarefa 2 (selecção deAsch (1946) adjectivos): Asch (1946) Resultados Resultados tarefa Tarefa 22 (seleção (selecção Experiência de de adjectivos): 1 adjetivos): Caloroso Frio Experiência 1 Feliz 90 34 Experiência 3 Caloroso Frio Popular 84 28 manipulação de traços secundários Feliz 90 34 ou periféricos i.e., “polido” e “rude” Generoso 91 38 Experiência 3 Popular 84 28 manipulação de traços secundários Sociável 91 8 ou periféricos i.e., “polido” e “rude” Generoso 91 38 Forte 98 95 Porque razão não se registam Sociável 91 8 ≠as em todos os adjectivos? Honesto 98 94 Forte 98 95 Porque razão não se registam Honesto 98 94 ≠as em todos os adjectivos? Abordagem Configuracional Abordagem Configuracional ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Asch (1946) Asch (1946) Resultados Resultados Tarefa Resultados tarefa 2 (seleção tarefa 2 (selecção 2 (selecção de adjetivos): de adjectivos): de adjectivos): Experiência Experiência 1 1 Experiência 3 Caloroso Caloroso Frio Frio Polido Rude Feliz Feliz 90 90 34 34 75 65 Experiência 3 Popular Popular 84 84 28 28 94 de traços manipulação 56 secundários ou periféricos i.e., “polido” e “rude” Generoso Generoso91 91 38 38 56 58 Sociável Sociável 91 91 8 8 83 68 Forte Forte 98 98 95 95 Porque100 razão não 100se registam Honesto Honesto 98 98 94 94 ≠as em todos os adjectivos? 87 100 ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Os participantes tratam caloroso e frio como relativamente centrais na formação de impressões, transformando as suas impressões quando caloroso é substituído por frio. Os participantes formam impressões dos outros coerentes e unitárias. Para que tal aconteça, atribuem diferentes significados e pesos aos traços, dando papéis centrais a alguns traços (que determinam o significado e função dos restantes traços) e papéis periféricos a outros traços (o seu significado é determinado pelos traços centrais). Outros pares de traços como Polido/Rude não produzem o mesmo efeito de centralidade. Traços centrais parecem ter a propriedade de centralidade por estarem altamente correlacionados com outros traços nas Teorias implícitas da Personalidade dos participantes. ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Apresenta uma lista de 6 traços. Lista A: obediente, fraco, superficial, caloroso, não-ambicioso, frívolo Lista B: frívolo, astuto, sem escrúpulos, caloroso, superficial, invejoso Resultados: Tanto na Lista A como, sobretudo, na Lista B, caloroso foi classificado como uma qualidade completamente secundária ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Os traços interagem dinamicamente na forma como formatam a interpretação de cada um deles: Que traços se tornam centrais ou periféricos é totalmente determinado pelo contexto em que os traços aparecem. Caloroso, é central quando acompanhado por traços como inteligente, hábil, industrioso, determinado, prático, cauteloso, mas é periférico quando acompanhado por traços como obediente, fraco, superficial, não -ambicioso, frívolo. Mudar o contexto não conduz apenas a mudanças afetivas (ou efeitos de Halo), mas modifica a gestalt na totalidade da impressão e o conteúdo cognitivo dos traços dentro da gestalt. “a alegria de um homem inteligente não é mais ou menos do que a alegria de um homem estúpido, é simplesmente diferente em qualidade” (p. 287). ABORDAGEM CONFIGURACIONAL Asch (1946) Principais conclusões: Há uma tendência para formar uma impressão global (holística) dos outros, mesmo quando a informação é insuficiente Nem todas as características/traços contribuem de igual modo para a formação de impressões Traços centrais: produzem um efeito na impressão total; organizam a percepção porque têm um peso informativo importante (exemplo: caloroso versus frio) Traços periféricos: não modificam a impressão global ou têm um efeito fraco (exemplo: polido versus rude) Os traços centrais/periféricos não têm sempre o mesmo estatuto Ao formar impressões de personalidade as pessoas revelam uma extraordinária aptidão para ir além da informação dada, de formas que são características, sistemáticas e previsíveis (Asch, 1946). Se o Filipe nos parece muito simpático, estamos normalmente dispostos a assumir que ele é provavelmente sensível e divertido. " Asch: ao Formar Impressões, o percipiente faz inferências que frequentemente vão além da informação dada. “[o percipiente] sabe mais que aquilo que está disponível pela observação dos actos ou outra informação que sabemos acerca dela” (Bruner, Shapiro, & Tagiuri, 1958). persistente INTELIGENTE hábil trabalhador determinado TEORIAS IMPLÍCITAS DA PERSONALIDADE Outra explicação para a capacidade inferencial ao Formar impressões Asch: ao formar impressões, o percipiente faz inferências que vão além da informação dada Teorias implícitas da Personalidade (1954): “O percipiente sabe mais que aquilo que está disponível pela observação dos atos ou outra informação que sabemos acerca da pessoa” (Bruner, Shapiro, & Tagiuri, 1958) Categorias usadas pelas pessoas em geral, na vida quotidiana, para descreverem outras pessoas TEORIAS IMPLÍCITAS DA PERSONALIDADE Existência prévia de TIPs com base no conhecimento social que acumulam ao longo da vida (Bruner & Tagiuri, 1954) Teorias ingénuas acerca da personalidade dos outros: crenças gerais acerca da frequência, variabilidade e correlação dos traços de personalidade numa população (Bruner & Tagiuri, 1954) Há evidência de que as pessoas partilham uma teoria geral comum Mesmo as imprecisões são consensuais, refletindo “teorias” partilhadas que guiam a percepção dos outros (Leyens, 1991; Schneider, 1973). TEORIAS IMPLÍCITAS DA PERSONALIDADE Rosenberg, Nelson, & Vivekananthan, 1968 TIP Rosenberg, Nelson, & Vivekananthan (1968) " Sabendo onde o traço se localiza permite conjecturar outras características relacionadas… Observação " de umexplica Isto traço permite porque éinferir outras características que quando relacionadas temos uma impressão geral de alguém assumimos a existência de determinados traços. Justifica que uma impressão geral leve a assumir a existência de determinados traços Técnica " O de escalonamento multidimensional escalonamento multidimensional mostrou que que mostrou os traços os se organizam traços de em duas dimensões avaliativas principais relativamente ortogonais entre si personalidade se organizam em duas dimensões avaliativas principais: Sociais Interpessoais Intelectuais Rosenberg, Nelson, & Vivekananthan, 1968 Intelectual - Bom + - Social - Mau Social - Bom + - Intelectual - Mau Re-análise Asch (1946) Formação de Impressões Bibliografia essencial: Caetano, António (2000). Formação de impressões. In J. Vala, & M. B. Monteiro (Eds.) Psicologia Social (pp. 89-124). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Ferreira, Mário B., Garcia-Marques, Leonel, Toscano, Hugo, Carvalho, João, & Hagá, Sara. (2011). Para uma revisão da abordagem multidimensional das impressões de personalidade: O culto, o irresponsável, o compreensivo e o arrogante. Análise Psicológica, 29, 315-333. Garcia-Marques, L., & Garcia-Marques, T. (2004). Quem vê caras, infere corações: Impressões de personalidade e memória de pessoas. In T. Garcia-Marques & L. Garcia-Marques (Eds.), Textos Fundamentais (Vol.2). Processando informação sobre outros I: Impressões de personalidade e representação cognitiva de pessoas (pp. 11-47). Lisboa: ISPA. Uleman, J. S., & Kressel, L. M. (2013). A brief history of theory and research on impression formation. In D. E. Carlston (Ed.). Oxford handbook of social cognition (pp. 53-73). New York, NY: Oxford University Press.