Direito Processual Civil: Procedimentos Especiais PDF
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UNINOVE
2012
João Paulo Rossi Paschoal
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Summary
This document presents a lecture on the topic of Civil Procedure in Brazil, focusing on special procedures and the concept of possession in relation to property law, drawing references from Caio Mário da Silva Pereira's work.
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Direito Processual Civil: Procedimentos Especiais Prof. João Paulo Rossi Paschoal e-mail: [email protected] Aula 12 Ações possessórias (manutenção, reintegração e interdito proibitório – arts. 554 a 568 do CPC). Posse x Domínio O Livro III do Có...
Direito Processual Civil: Procedimentos Especiais Prof. João Paulo Rossi Paschoal e-mail: [email protected] Aula 12 Ações possessórias (manutenção, reintegração e interdito proibitório – arts. 554 a 568 do CPC). Posse x Domínio O Livro III do Código Civil: “Do Direito das Coisas”; Os direitos reais (art. 1.225 do Código Civil); O domínio ou propriedade: Código Civil. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. A posse: um tema polêmico O assunto é, tradicionalmente, polêmico: “Tudo, em termos de posse, é debatido, negado, reafirmado. As palavras mesmas - possessio, possidere - , que nos deram posse e possuir, são de étimo duvidoso. Ora vão prender-se apedesponere, com a ideia de “pôr os pés”, fixar-se. Ora diz-se que vêm de sedes ponere, sedium positio, lembrando a posição do assento. Não falta quem simplifique a pesquisa dizendo que possessio nasce de posse, poder. Boas autoridades afirmam que a origem dos vocábulos está na aliança das expressões sedere e sessio (assentar-se) às partículas pot ou pos, que lhes dão ênfase e reforço”. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 21ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 11-12. O conceito de posse (arts. 1.196 a 1.224 do Código Civil) “A posse, em nosso direito positivo, não exige, portanto, a intenção de dono, e nem reclama o poder físico sobre a coisa. É relação de fato entre a pessoa e a coisa, tendo em vista a utilização econômica desta. É a exteriorização da conduta de quem procede como normalmente age o dono. É a visibilidade do domínio (Código Civil, art. 1.196). Mas não é possuidor o servo na posse (Besitzdiener do art 855 do BGB), isto é, aquele que conserva a posse em nome de outrem, ou em cumprimento de ordens ou instruções daquele em cuja dependência se encontre (Código Civil, art. 1.198). Não se lhe recusa, contudo, o direito de exercer a autoproteção do possuidor, quanto às coisas confiadas a seu cuidado, consequência natural de seu dever de vigilância. Não induzem posse, também, os atos de mera permissão ou tolerância (Código Civil, art. 1.208): os primeiros, porque resultam de uma concessão do dominus, por isso mesmo revogável ao seu nuto; os segundos, porque representam uma condescendência ou indulgência, pelos quais nenhum direito é na realidade cedido”. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Ob. Cit. p. 17. Natureza jurídica da posse “A posse é um fato ou um direito? Para Ihering, é um direito, isto é, um interesse legalmente protegido. Segundo Clóvis Beviláqua, não é direito, mas simples fato, que é protegido em atenção à propriedade, da qual ela é a manifestação exterior. Para Savigny, tem natureza dupla: é fato e direito. Em princípio, considerada em si mesmo, é um fato, mas, pelas suas consequências legais, pelos efeitos que gera, entra na esfera do direito. Considera-a, portanto, um misto de fato e de direito, como a maioria dos civilistas.”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das coisas. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 28. Espécies de posse “a) posse direta ou imediata: é a daquele que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de contrato (a posse do locatário, p. ex., que a exerce por concessão do locador — CC, art. 1.197); b) posse indireta ou mediata: é a daquele que cede o uso do bem (a do locador, p. ex.). Dá-se o desdobramento da posse. Uma não anula a outra. Nessa classificação não se propõe o problema da qualificação da posse, porque ambas são posses jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 41. “a) posse justa: é a não violenta, clandestina ou precária (CC, art. 1.200). É a adquirida legitimamente, sem vício jurídico externo; b) posse injusta: é a adquirida viciosamente (vim, clam aut precario). Ainda que viciada, não deixa de ser posse, visto que a sua qualificação é feita em face de determinada pessoa. Será injusta em face do legítimo possuidor; será, porém, justa e suscetível de proteção em relação às demais pessoas estranhas ao fato”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 41. “a) posse de boa-fé: configura-se quando o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa (art. 1.201). É de suma importância a crença do possuidor de encontrar-se em uma situação legítima. O CC estabelece presunção de boa-fé em favor de quem tem justo título (art. 1.201, parágrafo único); b) posse de má-fé: é aquela em que o possuidor tem conhecimento dos vícios na aquisição da posse e, portanto, da ilegitimidade de seu direito. A posse de boa-fé se transforma em posse de má-fé desde o momento em que as circunstâncias demonstrem que o possuidor não mais ignora que possui indevidamente (CC, art. 1.202).”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 41. “a) posse nova: é a de menos de ano e dia. Não se confunde com ação de força nova, que leva em conta não a duração temporal da posse, mas o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação ou do esbulho; b) posse velha: é a de ano e dia ou mais. Não se confunde com ação de força velha, intentada depois de ano e dia da turbação ou esbulho”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 42. “a) posse natural: é a que se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa; b) posse civil ou jurídica: é a que assim se considera por força da lei, sem necessidade de atos físicos ou materiais. É a que se transmite ou se adquire pelo título (escritura pública, p. ex.)”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 42. “a) posse “ad interdicta”: é a que pode ser defendida pelos interditos ou ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião (a do locatário, p. ex.); b) posse “ad usucapionem”: é a que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, deferindo a seu titular a aquisição do domínio”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 42. “a) posse “pro diviso”: é a exercida simultaneamente (composse), estabelecendo-se, porém, uma divisão de fato entre os compossuidores; b) posse “pro indiviso”: é aquela em que se exercem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de utilização ou exploração comum do bem”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Ob. Cit. p. 42. Notícia histórica sobre as ações possessórias “No direito romano a tutela jurídica da posse operava-se por meio do interdito proibitório... e das ações damini infecti, de forma preventiva, bem como através dos interditos retinendae possessionis, recuperandae possessionis e adipiscendae possessionis, que visavam a conservar, recuperar ou adquirir a posse. O interdito possessório romano foi adaptado ao processo medieval, sendo que, além dele, os autores incluem como possessórias, no direito antigo, a ação de nunciação de obra nova e a cominatória”. MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos especiais. 8ª ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 112. A proteção possessória Código Civil. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. § 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. A legítima defesa da posse e o desforço imediato Proteção possessória: autotutela e pela heterotutela (ações possessórias); A legítima defesa da posse: é a repulsa da violência. É a defesa. Art. 188, I, do CC: não constituem atos ilícitos os praticados em legítima defesa ou na execução regular de um direito; O desforço imediato: vai além da simples defesa, pois abrange o ato do possuidor esbulhado recuperar a posse perdida, desde que o faça com suas próprias forças e de imediato. Na prática do ato o possuidor pode se valer de serviçais e armas. Proporcionalidade: a reação deve ser razoável e proporcional, pois o excesso será condenável. Art. 345 do Código Penal: o exercício arbitrário das próprias razões. A gradação das ameaças à posse Esbulho: retirada violenta do legítimo possuidor de um imóvel, que fica impedido de exercer sua posse; Turbação: impedimento, por ato de terceiro, do livre exercício da posse sem que o legítimo possuidor a perca integralmente. Usualmente se dá por meio de um atos clandestinos ou violentos. Ex.: derrubada de árvores e limpeza do terreno visando sua ocupação, abertura de uma passagem ou caminho em um terreno alheio, derrubada de cercas ou portão, ocupação de parte de um terreno, sem que a perda de toda a área. Ameaça: gesto, sinal ou palavra, diante da qual se dá a entender ou se demonstra o ânimo de fazer alguma coisa de mau contra a pessoa a quem o gesto, sinal ou a palavra é dirigida. No caso, de praticar a iminente turbação ou esbulho da posse. Doutrina pertinente “A turbação pode ser de fato e de direito. Consiste a turbação de fato na agressão material dirigida contra a posse. Distingue-se do esbulho porque, com este, o possuidor vem a ser privado da posse, que lhe é arrebatada, ao passo que na turbação, malgrado o ato turbativo, o possuidor continua na posse dos bens, apenas cerceado em seu exercício. A turbação de direito consiste na atitude do réu, contestando judicialmente a posse do autor”. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito das Coisas. Vol. 3. 37ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 43-44. A proteção possessória “Havendo turbação (isto é, qualquer ato que embarace o livre exercício da posse), pode o possuidor valer-se da ação de manutenção de posse. Ocorrendo esbulho (isto é, tendo sido o autor injustamente desapossado da coisa), valer-se-á da ação de reintegração de posse; finalmente, promoverá o interdito proibitório sempre que queira impedir a concretização da turbação ou do esbulho”. MARCATO, Antonio Carlos. Ob. Cit., p. 115. A fungibilidade das ações possessórias CPC. Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. § 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. § 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados. § 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios. Cumulação de pedidos (art. 555 do CPC) O autor pode cumular ao pedido possessório o de: Condenação em perdas e danos; Cominação de pena para a hipótese de nova turbação ou esbulho e para cumprimento da tutela provisória ou final; Indenização dos frutos. Tal cumulação não implicará na perda da especialidade do procedimento; Pergunta: e outras formulações de pedido, como é exemplo a rescisão contratual? Resposta: Sim, a cumulação de outras formulações de pedido, tais como o de rescisão contratual importará na perda da especialidade do procedimento; Com efeito, poderá o autor cumular outros pedidos, desde que adote o procedimento comum. Pedido contraposto (art. 556 do CPC) Tratando-se de ação de natureza dúplice, é permitido ao réu formular pretensão (pedido) em sua própria defesa, é dizer, pode postular a proteção possessória e indenizatória em sede de contestação, sendo vedada, em relação aos referidos pleitos, reconvenção. Ação de natureza dúplice Trata-se da excepcional possibilidade de se permitir que o Reú contra-ataque sem a necessidade de reconvenção; No caso, o Réu deduz contra o Autor, na própria contestação, uma pretensão sua. Exceção de domínio (arts. 1.210, § 2º, do CC e 557 do CPC) É vedado tanto ao réu quanto ao autor, na pendência de processo possessório, intentar ação de reconhecimento de domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. “No juízo possessório, ao contrário do que sucede no petitório, não se admite discussão a respeito do domínio da coisa sobre a qual versa a ação possessória. A proteção possessória visa única e exclusivamente à posse, descabendo discutir-se, portanto, no âmbito do processo possessório, questões ligadas ao domínio”. MARCATO, Antonio Carlos. Ob. Cit., p. 118. Procedimento adequado Ação de força nova: é a proposta dentro de um ano e um dia da turbação ou esbulho – procedimento especial; Ação de força velha: é a proposta depois de um ano e um dia da turbação ou esbulho – procedimento comum; CPC. Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. Possibilidade de exigência de caução CPC. Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente. O ônus da prova do Autor CPC. Art. 561. Incumbe ao autor provar: I - a sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. Possibilidade de obtenção de mandado liminar, inautida altera parte CPC. Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais. Contestação CPC. Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias. Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar. Litígio coletivo pela posse de imóvel CPC. Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.... § 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.... § 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório. Do Interdito Proibitório CPC. Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito. A retenção por benfeitorias “O réu deve, na própria contestação, alegar que fez benfeitorias necessárias ou úteis, e postular o ressarcimento correspondente, sob pena de não ver reconhecido o seu direito de reter a coisa. Não há necessidade de reconvenção, dada a natureza dúplice da ação possessória. Tem prevalecido, inclusive no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento de que, sob pena de preclusão, o direito de retenção tem de ter sido reconhecido na fase de conhecimento, pois, não havendo fase executiva subsequente, mas apenas expedição de mandado possessório, não haverá outra oportunidade para que o réu o alegue. Nesse sentido, o REsp 649.296/DF, publicado no DJE de 06 de novembro de 2006, Rel. Min. César Asfor Rocha”. GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 7ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 829. Outras ações, que não podem ser confundidas com as possessórias Ação de imissão de posse: é aquela atribuída ao adquirente de um bem, que tenha se tornado seu proprietário, para ingressar na posse pela primeira vez, quando o alienante não lhe entrega a coisa; Ação reivindicatória: é a que tem o proprietário para, com base em seu direito, reaver a posse da coisa, que está indevidamente com o terceiro; Ação de nunciação de obra nova; Embargos de terceiro: permite ao terceiro a recuperação da coisa objeto de constrição judicial. Agradeço a atenção de todos e até a próxima.