Filosofia 11º Ano - EM QUESTÃO 11 - PDF

Document Details

Uploaded by Deleted User

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Nuno Fadigas, Orlanda Tavares

Tags

filosofia conhecimento teoria do conhecimento filosofia do conhecimento

Summary

Este documento apresenta um resumo das questões e conceitos fundamentais em Filosofia, 11º ano. O documento aborda os tópicos de descrição da atividade cognoscitiva, do conhecimento proposicional e reflexões importantes sobre o conhecimento.

Full Transcript

O que é a filosofia? 1 Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva [Filosofia do Conhecimento] Em discussão Teoria do conhecimento (epistemologia ou gnosiologia) Disciplina filosófica que estuda o conhecimento, procurando responder, entre outros, aos problemas da su...

O que é a filosofia? 1 Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva [Filosofia do Conhecimento] Em discussão Teoria do conhecimento (epistemologia ou gnosiologia) Disciplina filosófica que estuda o conhecimento, procurando responder, entre outros, aos problemas da sua origem, da sua possibilidade e do seu fundamento. Problemas em discussão O que é o conhecimento em geral e que tipos de conhecimento existem? Qual é a definição tradicional de conhecimento (proposicional)? Será que o conhecimento é possível? Quais são as fontes e os modos principais de conhecimento? Quais foram as respostas dadas por Descartes e Hume ao desafio cético? 1. Conhecimento, justificação e desafio cético Conhecimento Relação que se verifica entre um sujeito (que conhece) e um objeto (que é conhecido). O sujeito apreende o objeto. Tipos de conhecimento Tipos de conhecimento Conhecimento por contacto Conhecimento prático Conhecimento proposicional Atividades ou ações Proposições verdadeiras Realidades concretas É o conhecimento de É o conhecimento de proposições É o conhecimento direto de atividades ou ações. ou pensamentos verdadeiros. alguma realidade. Exemplo: Exemplo: Exemplo: saber conduzir na cidade saber que Lisboa é a capital de conhecer Lisboa (ter visitado de Lisboa. Portugal. esta cidade). Definição tradicional de conhecimento e objeções Crença Verdade Justificação Condição necessária Condição necessária Condição necessária para o para o para o conhecimento. conhecimento. conhecimento. É possível ter crenças verdadeiras ou falsas, justificadas ou injustificadas. S sabe que P se e só se: S tem uma justificação S acredita que P P é verdadeira para acreditar que P Crença Verdade Justificação Condições necessárias e conjuntamente suficientes para haver conhecimento. É no Teeteto, de Platão, que se encontra a definição tradicional de conhecimento (uma definição tripartida): o conhecimento é crença verdadeira justificada. Contraexemplos de Gettier CRENÇA VERDADE JUSTIFICAÇÃO Não são condições suficientes para haver conhecimento. Que outra ou outras condições são necessárias para haver conhecimento? Será que as três condições são todas elas necessárias para haver conhecimento? O debate em torno do problema da definição de conhecimento continua vivo. O desafio cético Será que o conhecimento é possível? Ceticismo radical, Nega a possibilidade do conhecimento. absoluto ou global Considera que o conhecimento é possível, mas que há Ceticismo moderado limites nele e/ou que o saber é apenas provável. Pirro de Élis (c. 365-275 a. C.) foi o fundador do ceticismo radical (ceticismo pirrónico). Não há justificações suficientes para as nossas crenças. Não sabemos aquilo que pensamos saber. Argumento principal dos céticos radicais Se há conhecimento, então há crenças justificadas. Não há crenças justificadas. Logo, não há conhecimento. O argumento é válido. Será sólido? Sendo a primeira premissa bastante consensual, o cético radical terá de mostrar que a segunda premissa também é verdadeira, ou seja, que não temos qualquer crença que esteja justificada. Argumentos contra a possibilidade do conhecimento Erros e ilusões dos Discordância e Regressão infinita da sentidos divergência de opiniões justificação Não temos crenças justificadas. Por isso, não temos conhecimento. Tudo isto conduz à dúvida A suspensão do juízo conduz à ataraxia (imperturbabilidade). e à suspensão do juízo. A resposta do fundacionalismo Fundacionalismo Perspetiva segundo a qual o conhecimento deve ser concebido como uma estrutura que se ergue a partir de fundamentos certos, seguros e indubitáveis. Paulo acredita que Crença A está a ver um extraterrestre. Paulo acredita que J Crença B está a ver uma criatura com olhos grandes. U S Paulo acredita que Crença C a sua visão não o engana. T I F Paulo acredita que Crença D é uma pessoa saudável. I C A Crença E Ç Há crenças básicas: Fundacionalismo à elas são o fundamento do conhecimento. O Crença F Não há crenças básicas: Ceticismo radical há uma regressão infinita da justificação. … não-básicas Não são autoevidentes e são justificadas por outras. Crenças básicas São autoevidentes e justificam-se a si mesmas. As crenças básicas são crenças fundacionais, sendo infalíveis, irrefutáveis e indubitáveis. Elas suportam o sistema do saber. Fontes de conhecimento Quais são as fontes de justificação das nossas crenças? O facto de haver diferentes formas de justificar as crenças que temos por verdadeiras remete-nos para o problema das fontes de conhecimento. Fontes de conhecimento Razão Experiência (pensamento) (sentidos) Proposição Proposição a priori a posteriori Proposição que pode ser Proposição que só pode ser conhecida sem recorrer à conhecida recorrendo à experiência. experiência. Exemplos: Exemplos: A neve é fria. Nenhum solteiro é casado. A língua oficial da Região Autónoma 23 + 5 = 28. da Madeira é o Português. Modos de conhecimento Conhecimento Conhecimento a priori a posteriori Conhecimento que não pode ser obtido Conhecimento que pode ser obtido independentemente da experiência sensível, independentemente da experiência sensível, ou seja, ou seja, é necessário recorrer aos sentidos para o obter apenas através da razão ou do pensamento. (conhecimento empírico). A justificação das crenças tem por base A justificação das crenças tem por base unicamente a razão ou o pensamento. a experiência sensível. O racionalismo e o empirismo Racionalismo Empirismo Destaca a importância da razão Destaca a importância da experiência e considera que temos algum conhecimento e considera que não temos conhecimento do mundo do mundo sem recurso à experiência sem recorrer a ela – conhecimento a priori acerca do mundo. – não há conhecimento a priori acerca do mundo. Racionalismo A razão (entendimento) Só através da razão é que se pode encontrar um é a fonte ou a origem principal conhecimento seguro, apoiado em princípios evidentes e do conhecimento. totalmente independente da experiência sensível (a priori). Conhecimento de verdades necessárias (exemplo: 4 + 5 = 9). O modelo do conhecimento encontra-se na matemática. Conhecimento a priori O conhecimento a priori é obtido pela intuição e pelo raciocínio. Existe conhecimento a priori acerca do mundo. Inatismo Perspetiva segundo a qual algum do nosso conhecimento é inato. Empirismo A experiência é a fonte principal de conhecimento. Não existem ideias, conhecimentos e princípios inatos. Todo o conhecimento do mundo tem de ser adquirido através da experiência. É na experiência que o conhecimento tem o seu fundamento e os seus limites. Para os empiristas, algumas verdades podem ser conhecidas a priori. Mas elas são desinteressantes, triviais, não-instrutivas, tautológicas e nada nos dizem acerca do mundo. Qualquer conhecimento substancial, ou acerca do mundo, tem de ser adquirido através da experiência. As ideias presentes no conhecimento a priori também derivam da experiência. Racionalismo Empirismo A razão é a fonte principal de conhecimento. A experiência é a fonte principal de conhecimento. Existem conhecimentos a priori acerca do mundo. Não existem conhecimentos a priori acerca do mundo. Há conhecimento inato Nenhum conhecimento é inato. (mas apenas para alguns racionalistas). As ideias fundamentais O conhecimento do mundo descobrem-se por intuição intelectual. obtém-se através de impressões sensoriais. 2. Descartes, a resposta racionalista René Descartes (1596-1650) Filósofo racionalista A razão é a fonte principal de conhecimento: há crenças que a razão, e apenas a razão, é capaz de justificar. É na razão que se encontra o fundamento do conhecimento. Descartes pretendeu mostrar que o conhecimento é possível e que, por conseguinte, os céticos radicais não têm razão e os seus argumentos devem ser abandonados. O método Evidência Análise Método Regras Síntese Enumeração e revisão Deve guiar o espírito no exercício das duas operações fundamentais do entendimento. Operações fundamentais do entendimento Intuição Dedução Ato puramente intelectual ou Ato de concluir, a partir de racional de apreensão direta e determinadas verdades imediata de noções ou ideias tomadas como princípios, simples, evidentes e outras que lhes estão indubitáveis. necessariamente ligadas. Sabedoria humana Moral Medicina permanece una e idêntica, por muito diferentes que sejam os objetos a que se aplique. Mecânic a Física A filosofia é comparada a uma árvore: raízes – metafísica; tronco – física; ramos – todas as outras ciências, sendo as três principais a medicina, a mecânica e a moral. Metafísi É pela metafísica que se deve começar. ca A dúvida Dúvida Constitui uma exigência quando a razão inicia a aplicação do método. Dúvida metódica Recusar (ou tomar como falsas) todas as crenças em relação às quais se levante a mínima suspeita de dúvida ou de incerteza. A dúvida é posta ao serviço da verdade e da procura de uma justificação para as nossas crenças. Descartes – perspetiva infalibilista O conhecimento é incompatível com a possibilidade do erro: as justificações para as nossas crenças terão de garantir a verdade de tais crenças. Se alguma crença resistir à dúvida, poderá ser a base ou o fundamento para outras crenças. Uma crença fundacional permitirá evitar a regressão infinita da justificação. Razões para duvidar Hipótese Falta de critério Ilusões e enganos Enganos e da existência de um para distinguir dos sentidos erros de raciocínio deus enganador ou o sonho da vigília génio maligno Pode existir um ser Dado que não sabemos poderoso que faz com Os sentidos por vezes se estamos a sonhar, Alguns seres humanos que estejamos sempre enganam-nos iludem- não temos justificação enganaram-se e enganados: no tocante nos, e é prudente nunca para acreditar que cometerem erros ao às verdades e às confiar totalmente estamos despertos. raciocinar, inclusive nas demonstrações das naqueles que nos Assim, também não questões mais simples matemáticas, às enganaram, mesmo que sabemos se as nossas da geometria e da crenças sobre os só uma vez. perceções sensíveis matemática em geral. objetos físicos, e à são ou não ilusórias. própria existência do mundo exterior. Características da dúvida Metódica e provisória Hiperbólica Universal e radical Voluntária É um meio para atingir, Incide sobre todas as É uma dúvida de modo organizado, nossas crenças (a priori exagerada ou levada ao um conhecimento e a posteriori) e põe em Não é uma dúvida extremo. Considera seguro, a certeza e a questão a possibilidade sofrida em termos como falso tudo aquilo verdade, não de construir o psicológicos, mas sim que for meramente constituindo um fim em conhecimento (as artificial e estabelecida duvidoso ou em que se si mesma. Mantém-se faculdades do livremente. note a mínima suspeita apenas até se descobrir conhecimento são de incerteza. algo indubitável. postas em causa). Dúvida Possui uma função catártica. Liberta o espírito dos erros que o podem perturbar ao longo do processo de indagação da verdade. Permite que nos libertemos dos juízos precipitados que formulámos na infância, dos preconceitos adquiridos, das opiniões erróneas, da confiança cega nas informações dos sentidos, assim como da tradição e da autoridade. Da dúvida ao cogito Cogito Dúvida Sou um ser Afirmação Não posso – “Penso, – ato livre que pensa da minha duvidar logo da vontade. e duvida. existência. sem existir. existo”. Critério de verdade Clareza Distinção Evidência Equivale à separação de uma Diz respeito à ideia relativamente presença da ideia à a outras, de modo mente que a que ela não considera com contenha elementos atenção. que não lhe pertençam. É um princípio É conhecido por É uma ideia clara e evidente e indubitável, intuição distinta uma certeza – é uma verdade da – uma ideia evidente. inabalável. razão (a priori). Fornece o critério de verdade. Cogito É a primeira verdade. É uma crença Revela o atributo É uma crença autoevidente e essencial da alma: fundacional ou básica. autojustificada o pensamento. Do cogito a Deus Cogito Não é suficiente para garantir que a existência do corpo ou de um mundo exterior e independente do pensamento. Embora tendo um critério de verdade, o sujeito pensante, limitado e imperfeito, é incapaz, por si só, de garantir a verdade objetiva daquilo que pensou com clareza e distinção. Também ainda não afastámos a hipótese da existência do génio maligno ou deus enganador. É necessário demonstrar a existência de um Deus que não nos engane, ultrapassando o solipsismo e quaisquer ameaças do ceticismo radical. Ideias Atos mentais (ou modos Representações, quadros de pensamento). ou imagens das coisas. As ideias possuem um conteúdo que representa alguma coisa. Tipos de ideias Adventícias Factícias Inatas Têm origem na São ideias experiência sensível, São fabricadas pela constitutivas da nas impressões que imaginação, a partir de própria razão e já as os objetos físicos outras ideias. possuímos à causam nos sentidos. nascença. Exemplos: Exemplos: Exemplos: ideias de cavalo e de ideias de centauro e ideias de triângulo e rio. de sereia. de Deus. Ideia de ser perfeito Um ser omnisciente, sumamente inteligente, infinito, eterno, independente, omnipotente, sumamente bom e criador de toda a realidade. Esta ideia serve de ponto de partida para a investigação relativa à existência de Deus. Provas da existência de Deus O sujeito pensante e imperfeito A causa da ideia de ser perfeito A existência faz parte da não pode existir se Deus não terá de ser Deus. essência de Deus. existir. Logo, Deus existe. É a garantia da verdade das É um ser perfeito, bom É infinito e a fonte do bem. ideias claras e distintas. e não é enganador. Deus: Embora criador do Universo, É o criador das verdades importância no não é autor do mal nem eternas, a origem do ser e o sistema responsável pelos nossos fundamento da certeza. cartesiano erros. Confere valor à ciência e É o princípio do ser objetividade ao conhecimento. e da verdade. Provada a existência de Deus, Descartes irá deduzir muitas verdades, provando igualmente a existência do corpo e de um mundo exterior. Será agora possível construir o edifício do conhecimento e superar todos os argumentos dos céticos radicais Os três tipos de substâncias e o fundacionalismo de Descartes Tipos de substâncias Substância Substância Substância pensante extensa divina Vários atributos, Pensamento Extensão decorrentes da perfeição infinita. Atributos essenciais Dualismo cartesiano Alma (mente) Corpo Substância pensante Substância extensa (desprovida de extensão) (desprovida de pensamento) Dualismo substancial Principais verdades (das quais se deduzirão outras) Existência do eu Existência de Existência de pensante (alma), Deus, ser perfeito, corpos extensos traduzida no com os atributos em comprimento, cogito. respetivos. largura e altura. Fundacionalismo racionalista de Descartes O fundamento do conhecimento encontra-se no cogito, enquanto crença básica ou fundacional e primeira verdade, e noutras ideias claras e distintas da razão, obtidas de modo intuitivo. Mas só Deus é que permite construir o edifício do conhecimento. Críticas a Descartes Objeção ao cogito: Descartes apenas poderia ter intuído a existência do pensamento e não a de um eu pensante. Objeções em torno da ideia de ser Objeção do círculo cartesiano: perfeito: esta pode não ter sido Descartes terá incorrido num Críticas a causada por um ser perfeito; argumento circular ou petição de Descartes Descartes pode estar a ser princípio. enganado pelo génio maligno. Objeção ao dualismo cartesiano: dificuldade em explicar a interação da alma com o corpo. 3. Hume, a resposta empirista David Hume (1711-1776) Filósofo empirista Privilegia a experiência e o conhecimento a posteriori. A capacidade cognitiva do entendimento humano é limitada. É na experiência que deve ser procurado o fundamento do conhecimento. O conhecimento deriva fundamentalmente da experiência. Impressões e ideias Perceções – conteúdos na mente Ideias Impressões maior Grau de menor (pensamentos) força e vivacidade Perceções mais fortes e vivas As ideias derivam Perceções menos fortes e (sensações, emoções e das impressões, vivas (representações das paixões). são cópias delas. impressões). Exemplo: Princípio da cópia Exemplo: impressão visual de uma a imagem da árvore na árvore. memória. Não existem ideias inatas. Não admitem qualquer separação ou divisão. Simples Exemplo: Exemplo: impressão de um ideia de um tom de tom de azul. azul. Ideias Impressões (pensamentos) Exemplo: Exemplo: impressão de uma ideia de uma equipa de futebol. equipa de futebol. Complexas Podem ser divididas em partes, resultando da combinação das impressões ou das ideias simples. Modos de conhecimento Modos de conhecimento Conhecimento de relações de ideias Conhecimento de questões de facto (conhecimento a priori) (conhecimento a posteriori) As proposições expressam As proposições expressam verdades necessárias. verdades contingentes. “3 + 4 = 7.” “O Porto é uma cidade.” “Nenhum casado é solteiro.” “O rio Tejo nasce em Espanha.” Exemplos “Um carro azul tem cor.” “Kant escreveu sobre ética.” “Chove ou não chove.” “Alguns metais dilatam no verão.” Não temos conhecimento a priori sobre o mundo. A causalidade Princípios de conexão entre as ideias Contiguidade Causalidade Semelhança no tempo e no espaço (relação de causa e efeito) Exemplo: Exemplo: Exemplo: um retrato de alguém leva a lembrança de uma ponte uma fogueira (causa) faz os nossos pensamentos leva-nos a pensar no rio ou pensar no calor (efeito) que para a pessoa retratada. nas suas margens. se lhe segue. Impressões atuais e recordações de impressões passadas Só com base nelas é que podemos justificar as nossas crenças. Mas há factos que esperamos que se verifiquem no futuro e há afirmações que fazemos e que não podemos justificar se nos basearmos apenas no testemunho da memória ou na experiência imediata dos sentidos – afirmações que vão para além da experiência. Segundo Hume, é na relação de causa e efeito que se baseiam todos os nossos raciocínios acerca dos factos. Conhecimento da relação de causa e efeito Não é obtido por raciocínios a priori (pela razão), mas deriva totalmente da experiência. A razão, sem a ajuda da experiência, é incapaz de fazer inferências a respeito de questões de facto. Relação de causa e efeito É normalmente concebida como sendo uma ligação ou conexão necessária. Mas não dispomos de qualquer impressão que corresponda à ideia de conexão necessária entre dois fenómenos. A única coisa que a experiência nos revela é que entre dois fenómenos, eventos ou objetos se verifica uma conjunção constante. A ideia de conexão necessária tem apenas um fundamento psicológico: é o hábito ou costume que cria em nós a expectativa de que essa conjunção constante continuará a verificar-se no futuro. Ideia de conexão necessária É uma criação da nossa mente, não sendo originada por qualquer propriedade objetiva das coisas. É devido ao hábito que a mente projeta no mundo a ideia de conexão necessária entre fenómenos. O hábito não é um princípio de justificação racional, mas sim um mecanismo psicológico e um guia imprescindível na prática da vida. Em que se baseiam Na relação de causa e efeito. os nossos raciocínios acerca dos factos? Através da experiência, Como chegamos a conhecer a relação de ao observarmos causa e efeito? conjunções constantes. O que nos leva a acreditar que há uma O hábito ou costume. conexão necessária entre causa e efeito? A causalidade consiste numa conjunção constante que observamos entre acontecimentos, sendo que o sentimento de expectativa decorrente do hábito nos leva a considerá-la uma conexão necessária. Não há um fundamento objetivo para a ideia de conexão necessária entre causas e efeitos. Hume apresenta uma perspetiva cética a respeito do conhecimento científico dos fenómenos. O problema da indução Problema da indução Problema de saber se as inferências indutivas estão ou não justificadas. Hume defende que não estão, mostrando-se cético em relação ao papel que a razão desempenha ao tentar justificar essas inferências. Indução Por generalização Por previsão Até hoje, todas as galinhas que Observámos 300 galinhas e observámos tinham o corpo coberto constatámos que todas tinham o Exemplos de penas. Logo, a próxima galinha corpo coberto de penas. que observarmos terá o corpo Logo, todas as galinhas têm penas. coberto de penas. Nestas duas inferências, vamos para lá da experiência. Mas será que as premissas justificam racionalmente as conclusões? Princípio da uniformidade da natureza O futuro assemelha-se ao passado, isto é, a natureza sempre funcionará da mesma forma, de modo previsível e regular. Será que este princípio é racionalmente justificável? Será que o princípio da uniformidade da natureza (PUN) é racionalmente justificável? Se o PUN for racionalmente justificável, então há um bom argumento indutivo ou um bom argumento dedutivo a seu favor. O PUN não é uma verdade conceptual, Qualquer argumento indutivo a favor do nem se deduz das observações PUN é circular. efetuadas até agora. Não há um bom argumento indutivo nem um bom argumento dedutivo a favor do PUN. Logo, o PUN não é racionalmente justificável. O princípio da uniformidade da natureza não é racionalmente justificável Não há justificação racional para as conclusões dos argumentos indutivos. Não temos uma justificação racional para confiar na indução ou para acreditar que ela é fiável. As leis científicas, que se baseiam na indução, são injustificáveis. O que nos leva a acreditar na regularidade da natureza, e está na base das nossas inferências indutivas, é o hábito ou costume. O eu, o mundo exterior e Deus Existe o eu? Cada ser humano é apenas um feixe ou coleção de diferentes perceções que se sucedem umas às outras. Não temos boas razões para pensar que exista, que tenha essas perceções. Existe o mundo exterior? Existe um mundo independente da nossa perceção ou dos nossos conteúdos mentais? A única realidade de que estamos certos é constituída por perceções (impressões e ideias). Assim, também não sabemos se as perceções são causadas por objetos exteriores. A crença na existência do mundo exterior não é justificável em termos racionais. Existe Deus? Hume colocou objeções a algumas provas da existência de Deus, o que não significa que negasse categoricamente a existência de tal ser. Mas a afirmação de que Deus existe não é racionalmente justificável. Eu Mundo exterior Deus Não temos boas razões para sustentar a crença na sua existência. Apenas temos acesso às perceções – Experiência conteúdos mentais O eu, o mundo exterior e Deus não são objetos de qualquer impressão. O ceticismo moderado e o fundacionalismo de Hume Ceticismo de Hume Muitas das coisas que julgamos saber não as sabemos de facto. É um ceticismo Não é um ceticismo Não observamos conexões mitigado radical ou pirrónico. necessárias entre fenómenos; ou moderado. A indução não é fiável; Não são racionalmente justificáveis as crenças em realidades que transcendam o domínio da experiência. Impressões dos sentidos Fundamento do Crenças básicas – crenças de que se conhecimento está a ter determinada experiência. Impossibilidade de justificar as crenças acerca do que não é objeto de observação. Grande parte das nossas crenças não é conhecimento. Críticas a Hume Críticas a Hume Contraexemplo ao princípio da cópia Objeção à noção de causa Nem sempre há uma correspondência entre a conjunção constante e a O tom de azul desconhecido. relação causal (tal como Hume a entende). 4. Análise comparativa das teorias de Descartes e Hume Descartes – Racionalismo Hume – Empirismo Origem A experiência (as impressões) é a do A razão ou pensamento é a fonte fonte principal de conhecimento. conhecimento principal de conhecimento. Não existem ideias inatas. Todas as Existem ideias inatas. A partir ideias derivam de impressões. Hume delas é possível obter o sublinha a importância do raciocínio conhecimento, mediante a intuição indutivo, embora considere que a e a dedução. indução não é fiável. Existe conhecimento a priori Não existe conhecimento a priori acerca do mundo. É nele que o acerca do mundo. Todo o conhecimento a posteriori encontra conhecimento acerca do mundo tem o seu fundamento. origem na experiência (é a posteriori). Descartes – Racionalismo Hume – Empirismo Possibilidade O conhecimento é possível. Mas, Descartes adotou um ceticismo dado o carácter injustificável da do metódico. Depositando inteira conhecimento indução e a impossibilidade de saber confiança na razão, mostrou que o se há relações causais reais entre os conhecimento é possível e que fenómenos, aquilo que podemos podemos conhecer muitas coisas, conhecer é menos do que usando essencialmente a razão. O supomos. O ceticismo radical é ceticismo radical saiu derrotado. impraticável. A adoção do ceticismo moderado constitui a atitude correta. Podemos ter ideias claras e distintas dos atributos essenciais Não temos justificação racional para de três tipos de substâncias, de afirmar a existência de algo que cuja existência também temos a ultrapasse as perceções. Não temos certeza: as substâncias qualquer impressão de: um eu, um pensante, extensa e divina. mundo exterior, Deus. Descartes – Racionalismo Hume – Empirismo Fundamento O fundamento do conhecimento O fundamento do conhecimento do encontra-se na razão, mais encontra-se na experiência, mais conhecimento propriamente no cogito e em propriamente nas crenças outras crenças básicas, claras e básicas que derivam das distintas. impressões dos sentidos. Todavia, só Deus é que permite Todavia, não há forma de construir o edifício do justificar as crenças acerca do conhecimento, pois só ele é que não é objeto de observação. garantia de verdade.

Use Quizgecko on...
Browser
Browser