Entrevista Motivacional PDF
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Este documento apresenta uma visão geral da entrevista motivacional, incluindo seus conceitos, princípios, componentes, técnicas e aplicações específicas para ofensores. O texto abrange os diferentes estágios de mudança e estratégias para cada um deles, fornecendo um panorama geral da abordagem. O documento busca esclarecer a entrevista motivacional e suas aplicações, enquanto ferramenta no processo de mudança comportamental.
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+ Entrevista motivacional Mann, Ginsburg, & Weekes (2002) + Conceito A entrevista motivacional é uma abordagem promotora de mudança, indicada para ser utilizada em diversos contextos, por profissionais da área social, psicólogos, psiquiatras e outro...
+ Entrevista motivacional Mann, Ginsburg, & Weekes (2002) + Conceito A entrevista motivacional é uma abordagem promotora de mudança, indicada para ser utilizada em diversos contextos, por profissionais da área social, psicólogos, psiquiatras e outros técnicos que trabalham na reabilitação com indivíduos resistentes à mudança. (Rijo, Brazão, Silva & Vagos, 2017) + O paradigma de empowerment Salienta a importância de envolver os agressores no processo de mudança, assim como os técnicos e as instituições que trabalham no contexto de reabilitação; O processo de mudança pessoal necessita de um envolvimento para que os agressores percebam as necessidades e vantagens da mudança. (Rijo, Brazão, Silva & Vagos, 2017) + Entrevista motivacional Um “comportamento problemático” definido por uma instância judicial pode não ser compreendido desta forma pelo ofensor A entrevista motivacional tem origem no tratamento do abuso de álcool para ajudar os indivíduos a pensar se querem ou não mudar Implicatrabalhar com o ofensor, e não contra ele, enfatizando a empatia e o respeito + Entrevista motivacional “a directive, client-centered counseling style for eliciting behaviour change by helping clients to explore and resolve ambivalence” (Rollnick & Miller, 1995). Três componentes: Encorajamento, consciencialização e alternativa Debate em torno da imposição de valores / manipulação A EM não deve promover valores que o ofensor ainda não possua; promove a consciencialização desses mesmo valores e a incompatibilidade com o problema comportamental + Entrevista motivacional Estratégias: – Mais sugestiva do que coercitiva – Mais suportativa do que argumentativa – O tempo desempenha um papel crucial – Ênfase no porquê em vez de como mudar + Princípios EM baseia-se na noção de que os ofensores com problemas de comportamento têm alguma preocupação acerca do seu comportamento, mas podem ter dificuldade em reconhecer, verbalizar ou analisar a sua ambivalência Alguns ofensores (“pre-contempladores”) podem não ter preocupação real, mas percebem alguma ambivalência se esta surgir num contexto de suporte e de não julgamento Na EM o ofensor deve sentir-se aceite e confortável o suficiente para analisar o seu comportamento à luz dos seus valores, crenças e objetivos, sendo apoiados em qualquer experiência de dissonância cognitiva Apenas quando o ofensor verbaliza o seu desconforto com o seu comportamento é que o terapeuta explora a possibilidade de mudança de comportamento + Princípios da EM A motivação para a mudança é promovida a partir do ofensor É tarefa do ofensor resolver a sua ambivalência (entre valores e comportamento desviante), não do técnico A persuasão direta não é um método efetivo para a resolução da ambivalência O estilo terapêutico é geralmente calmo e estimulante O terapeuta é diretivo na ajuda ao ofensor para examinar e resolver a ambivalência A prontidão para a mudança não é um traço do cliente, mas um produto da interação interpessoal flutuante/dinâmico A relação terapêutica é mais provavelmente uma parceria do que uma relação com papéis de perito/passivo Adaptado de Rollnick & Miller (1995) + Componentes (Miller & Rollnick, 1991) 1. Expressar empatia (escuta ativa) 2. Desenvolver discrepâncias (comportamentos vs valores, crenças, objetivos) 3. Evitar argumentar (cria resistência e defesas) 4. Não “lutar” contra a resistência (procurar momentos de abertura) 5. Suscitar afirmações auto-motivacionais (argumentos para a mudança) 6. Enfatizar a opção (escolha) pessoal (oferecer um conjunto de opções) + Técnicas Questões abertas + escuta ativa Reforça a elaboração do pensamento Encorajamento (identificação e reforço dos pontos fortes) Reforça autoeficácia Sumarização Mantém a direção do pensamento + reforça informação chave Balanceamento na tomada de decisão Prós e contras do comportamento alvo Explorar objetivos e colocar questões sugestivas Suscita argumentos para a mudança + EM com ofensores Os ofensores são vistos como tendo características idênticas às dos indivíduos com perturbação aditiva; O crime também proporciona gratificação emocional, difícil de obter de outra forma O crime suscita avaliações negativas e rótulos estigmatizantes, que prejudicam a motivação para a mudança Uma abordagem humanista poderá conter os efeitos negativos da rotulagem social O crime traz recompensas, mas também punição Geralmente, os ofensores não se percecionam como a necessitando de tratamento, logo sem motivação para mudar A EM promove uma forma alternativa de concetualizar a motivação do ofensor – permitindo que os ofensores considerem as consequências positivas e negativas do seu comportamento de forma profunda e que relacionem o seu comportamento com o seu sistema de valores + A EM é apropriada para indivíduos com motivação extrínseca (promovida por agentes externos como tribunais, técnicos de reinserção social) A motivação intrínseca é iniciada e sustentada pelo próprio indivíduo A EM promove a motivação intrínseca para a mudança A evidência científica mostra que a EM com alcoólicos aumenta a eficácia do tratamento A EM com ofensores é uma intervenção coadjuvante para programas sistematizados com ofensores Vários ofensores apresentam também problemas com consumos Ainda que a EM não se mostre benéfica para efeitos de reabilitação, pode ser útil nestas problemáticas A EM com o seu carácter humanista pode contribuir para a mudança cultural dentro do sistema judicial + APLICAÇÕES Jovens ofensores com abuso de álcool Alternativa aos métodos de confrontação Ofensores sexuais e conjugais Os métodos de confrontação legitimam a utilização da coerção nos relacionamentos, potenciam o ciclo “confrontação – negação”, retiram a responsabilidade pela mudança e encorajam a auto- rotulagem Miller (1999) sugere o uso da EM nos estabelecimentos prisionais, com benefícios claros para o tratamento de comportamentos aditivos, bem como a generalidade das ofensas Sugere também a sua utilização ao longo do contacto do ofensor com o sistema judicial (Anstis, Polaschek & Wilson, 2011; Austin, 2012; Austin, Williams & Kilgour, 2011; Kistenmacher & Weiss, 2008; Musser, et al., 2008; Wong & Gordon, 2013). + OUTRAS APLICAÇÕES DA E.M. COM OFENSORES Avaliação do risco colaborativa Perigo da avaliação do risco sem a colaboração do ofensor Treino de preparação para a mudança pré-intervenção Usar a EM como preparação para um programa cognitvo- comportamental, no sentido de promover a sua eficácia A EM endereça-se para o porquê da mudança e a intervenção para o como Exercícios motivacionais durante a intervenção + O modelo transteórico da mudança Modelo apresentado por Prochascka e DiClemente (1982) Impulsionou estudos para lidar com a motivação para a mudança, o que resultou na materialização da abordagem da entrevista motivacional; Possibilitou a melhor compreensão da resistência dos indivíduos e capacitou os profissionais para ultrapassar essa dificuldade. + Modelo Transteórico de Prochaska e DiClemente (1982) Os autores identificaram um conjunto etapas no proceso de mudança em função da atitude que as pessoas adotem perante o mesmo Estádios de Mudança Pré-contemplação Contemplação Preparação Ação Manutenção Finalização + Os estádios de motivação + Pré-contemplação Neste estádio os indivíduos não se dão conta que têm um problema, negam ou minimizam-no, demonstram pouca ou nenhuma vontade de mudar e, frequentemente, não estão conscientes de que têm um problema; podem estar desinformados ou sub-informados acerca das consequências do seu comportamento; outros podem ter tentado mudar e falhado várias vezes; subestimam os benefícios da mudança; Podem ficar neste estádio vários anos Os ofensores estão resistentes ou desmotivados; ou ainda não estão preparados para entrar num programa de intervenção. “não tenho nenhum problema, o outro é que teria de ter agido de outra maneira” + Pré-contemplação Estratégias: Fornecer indiretamente informação acerca do problema; Aumentar a consciencialização do individuo acerca do(s) problema(s); Aumentar a perceção do indivíduo para os riscos e problemas que o seu comportamento atual pode ter causado ou poderá vir a causar. + Contemplação O indivíduo percebe que tem um problema e começa a pensar em ações futuras para realizar a mudança. Verifica-se a presença de ambivalência, visto que o indivíduo tem vontade de mudar, porém se questiona acerca da sua própria capacidade para a mudança. Pode degenerar em procrastinação ou contemplação crónica Estratégias: Promover um desequilíbrio entre os argumentos ambivalentes, favorecendo a evocação de razões para mudar e evidenciando os riscos e as consequências da “não mudança”; Incentivar a descoberta, por parte do contemplador, das vantagens e dos riscos da mudança; Reforçar a autoeficácia do indivíduo (perceção da sua capacidade de mudar), para mudar o seu comportamento atual. “Tenho um problema e realmente penso que deveria trabalhar nele” + Preparação Os indivíduos têm intenção de tomar uma ação no futuro imediato (espaço de 1 mês); O compromisso é demonstrado pelos padrões cognitivos e de comportamento. Tipicamente já realizaram passos importantes durante o último ano; Têm um plano de ação em relação à procura de ajuda Estratégias: Ajudar o indivíduo a encontrar uma estratégia de mudança aceitável, acessível, apropriada e eficaz; Avaliar os níveis do comprometimento para a mudança; Clarificar e definir os objetivos (claros e realistas para o terapeuta e acessíveis para o jovem); Promover a fase da ação e implementação da mudança; Estratégia do contrato comportamental. + Ação Neste estádio, o indivíduo começa a realizar mudanças no seu comportamento e no seu ambiente. A mudança é mantida durante as experiências que o indivíduo vive. Os indivíduos já fizeram modificações específicas nos seus estilos de vida nos últimos 6 meses; Existe um critério comportamental que indica uma redução do risco; Com ofensores considera-se que há “tolerância zero” para os contactos com o sistema judicial + Ação Estratégias: Intervenção cognitivo-comportamental específica para modificar, por exemplo, as crenças nucleares acerca do Eu e dos outros, bem como os processos e produtos cognitivos disfuncionais associados às mesmas. + Manutenção Fase em que os indivíduos trabalham a prevenção da recaída, mas não aplicam os processos de mudança com tanta frequência como na fase da ação; Estão menos tentados a recair e mais confiantes que podem manter as mudanças; Pode manter-se de 6 meses a 5 anos Estratégias: Estratégias de “olhar para trás” e “olhar para a frente”. + Finalização Na finalização não há tentação para recair e há 100% de autoeficácia; Os indivíduos estão confiantes de que não vão voltar a velhos hábitos, mesmo que venham a sofrer de distresse emocional; Com os ofensores prevê-se que o melhor que podem atingir pode ser uma vida inteira de manutenção + Processo O progresso dos ofensores de um estádio para o seguinte pode ser potenciado 1. Os benefícios da mudança devem aumentar para que os indivíduos progridam da pré-contemplação Questionar acerca dos benefícios de terminar com a violência ou outro comportamento criminal; eles listam 4/5; o terapeuta lista 10 vezes aquele número, incluindo paz de espírito, mais respeito, melhores relações familiares; promovendo a contemplação da mudança favoravelmente 2. Os contras da mudança devem diminuir para progredir da contemplação para a ação 3. Os prós devem superar os contras para que os indivíduos entrem na fase de ação + 4. Para progredir da (pré-)contemplação para a ação efetiva, os prós a favor da mudança devem aumentar o dobro em relação aos custos 5. Processos de mudança específicos devem ser emparelhados com estádios específicos de mudança + Princípios do processo de mudança por estádios motivacionais + Processos para ofensores na fase da pré- contemplação Principal característica: resistência à mudança 1. Desenvolvendo discrepâncias 2. Promoção da consciencialização Das causas, consequências e tratamentos Intervenções: observação; confrontação moderada; interpretação; feedback; psicoeducação. 3. Alívio dramático da ativação emocional envolvida no comportamento atual pela mudança Medo, culpa, esperança, são emoções que podem levar à contemplação da mudança Intervenções: psicodrama, role-play, testemunhos pessoais 4. Reavaliação ambiental Avaliação afetiva e cognitiva de como o comportamento criminal afeta o ambiente social e qual o possível impacto da mudança no mesmo Intervenções: treino de empatia; clarificação de valores; intervenções familiares ou em rede + Processos para ofensores na fase da contemplação 4. Auto reavaliação Reavaliação afetiva e cognitiva da autoimagem livre dos rótulos (quem eram, quem são, quem serão) em relação ao comportamento problema Intervenções: imaginação; modelos saudáveis; clarificação de valores; narrativas de vida Processos para ofensores na fase da preparação para a ação 5. Autodeterminação Crença e compromisso na mudança Intervenções: compromissos públicos. Fazer contrato comportamental Processos para ofensores na fase da acção e manutenção 6. Relações de ajuda Abertura, confiança e aceitação, bem como suporte para a mudança na relação de ajuda Construção de rapport, aliança terapêutica, sistema de tutorias, educação por pares, grupos de suporte + 7. Gestão de contingências Uso de reforço positivo Intervenções: contratos de contingências, sistema de reforços, reconhecimento do grupo 8. Contra-condicionamento Aprendizagem de comportamentos saudáveis substitutivos dos comportamentos problemáticos Intervenções: dessensibilização e reestruturação cognitiva 9. Controlo do estímulo discriminativo Promover estímulos que desencadeiam respostas saudáveis e evitar pistas relacionadas com o comportamento problemático Intervenção: evitar pares antissociais, remover substâncias aditivas e parafernália associada; grupos de autoajuda 10. Libertação social Criação de alternativas de ressocialização pela sociedade; mudança da sociedade (vs mudança individual) Ex. oportunidades de trabalho, programas de reabilitação + Recaída A recaída é considerada um acontecimento normal que pode ocorrer em qualquer etapa do processo de mudança. Portanto, o indivíduo não necessariamente regride ou está no mesmo lugar de onde começou. Estratégias: Ajudar o indivíduo a perceber os ensinamentos a retirar da recaída; O terapeuta deve transmitir ao jovem que a recaída é uma ocorrência normal e, muitas vezes, esperada num processo de mudança; O terapeuta deve rever com o jovem o processo e respetivos estádios de mudança; O terapeuta deve transmitir ao jovem que continua a acreditar na sua capacidade e competência para mudar. + Direções futuras Literatura recente mostra que a redução da reincidência pode ser alcançada com programas bem desenhados dirigidos aos factores criminógenos Estes programas podem ser potenciados pela inclusão da motivação para a mudança A EM não é uma “receita mágica” Deve ser apoiada empiricamente Deve ser implementada de forma a que o principal aspeto- chave seja a relação terapêutica de forma a desafiar os ofensores a examinar o seu comportamento + Referências bibliográficas Claro, H. G., Oliveira, M. A. F., Paglione, H. B., Soares, R. H., Okazaki, C., & Vargas, D. (2013). Estratégias e possibilidades da entrevista motivacional na adolescência: revisão integrativa. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 543-51 Rijo, D., Brazão, N., Silva, D. R., & Vagos, P. (2017). Intervenção psicológica com jovens agressores. Pactor: Lisboa, Portugal. + Referências bibliográficas DiClemente, C.C., & Prochaska, J.O. (1998). Toward a comprehensive transtheoretical model of change: Stages of change and addictive behaviors. In W.R. Miller & N. Heather (Eds.),Treating addictive behaviors, (2nd ed.). Plenum Press. Fitterling, J.M. (2018). Motivational Interviewing: A patient-Centered, Collaborative Approach to Helping People Change. Presented at the University of Alaska Anchorage. Grover, J. (2002, April). Cultural influences on implementation of motivational interviewing. Presentation to the CSAT/PIC conference Improving Substance Abuse Treatment:Community-Based Approaches to Practice Innovation. Miller, W. R., & Rollnick, S. (2013). 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