BIOMECÂNICA DO TRAUMA - PDF

Summary

Este documento fornece uma descrição detalhada da biomecânica do trauma, abordando diferentes tipos de colisões e suas consequências físicas. O texto analisa fases como pré-colisão, colisão e pós-colisão, destacando a importância da avaliação e manejo adequado das vítimas.

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ATENDIMENTO PRÉ HOSPITALAR ÀS EMERGÊNCIAS CLÍNICAS E TRAUMÁTICAS BIOMECÂNICA DO TRAUMA Fábio Luiz Silva Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Emergência e Terapia Intensiva  O Manejo eficaz das vítimas de trauma depende da identif...

ATENDIMENTO PRÉ HOSPITALAR ÀS EMERGÊNCIAS CLÍNICAS E TRAUMÁTICAS BIOMECÂNICA DO TRAUMA Fábio Luiz Silva Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Emergência e Terapia Intensiva  O Manejo eficaz das vítimas de trauma depende da identificação das lesões, ou das possíveis lesões, e do uso de boas habilidades de avaliação.  No local da ocorrência e no trajeto até o hospital, essas lesões suspeitadas podem ser tratadas de modo a oferecer o atendimento adequado ao doente e “não causar mais dano”. Princípios Gerais  Um evento traumático é dividido em três fases: pré-colisão, colisão e pós- colisão.  O termo colisão não se refere necessariamente à colisão à colisão de veículos automotor.  Tanto a colisão de um veículo automotor como um pedestre quanto a colisão de um projétil com o abdome ou de um trabalhador de construção com o asfalto, ao cair, são exemplos de colisões. Fase de Pré Colisão  A fase pré colisão inclui todos os eventos que precedem o incidente.  Incluem doenças agudas ou preexistente, ingestão de substâncias (ilegais e medicamentos prescrito, álcool etc.) ou estado mental do doente.  Por exemplo, um senhor idoso, motorista de um carro que colidiu com um poste, pode apresentar dor torácica indicativa de infarto do miocárdio.  O motorista colidiu com o poste e, em seguida, teve um ataque cardíaco, ou sofreu o ataque cardíaco e por isso bateu no poste? Fase de Colisão  A fase de colisão começa no momento do impacto entre um objeto em movimento e um segundo objeto.  Na maioria dos traumas, ocorrem três impactos:  O impacto entre dois objetos  O impacto dos ocupantes com o veículo  O impacto dos órgãos dentro dos ocupantes Exemplo Quando um automóvel colide com uma árvore, o primeiro impacto é a colisão do veículo na árvore. O segundo impacto é o ocupante do veículo atingir o volante ou o para-brisa. Se a vítima estiver contida, ocorre impacto entre o ocupante e o cinto de segurança. O terceiro impacto ocorre entre os órgãos internos da vítima e a parede torácica, abdominal ou crânio. Fase de Pós-Colisão  Durante a fase pós-colisão, o socorrista usa a informação colhida durante as fases de colisão e pré-colisão para avaliar e tratar a vítima.  Nesta fase, o entendimento da biomecânica do trauma, o índice de suspeita a respeito das lesões e a boa avaliação tornam-se cruciais para a evolução final do doente.  Para compreender os efeitos das forças que causam lesão no organismo, o socorrista deve compreender dois componentes: troca de energia e anatomia humana.  A avaliação do local do incidente é extremamente importante.  Informações como direção do impacto, intrusão do compartimento de passageiros e quantidade de troca de energia indicam as possíveis lesões sofridas pelos ocupantes.  A energia cinética é uma função da massa e da velocidade de um objeto.  Embora não seja exatamente igual, o peso da vítima é usado para representar sua massa.  Da mesma forma, a velocidade é usada para representar a velocidade. A relação entre peso e velocidade afetando a energia cinética é a seguinte: Energia cinética= Metade da massa vezes o quadrado da velocidade EC = ½ m.v2 Assim, a energia cinética de uma pessoa de 70 Kg que está a 50 Km/h é calculada como: EC = 70 x 502 = EC = 87.500 unidades. 2 A formula é usada apenas para ilustrar a mudança na quantidade de energia. Conforme mostrado, uma pessoa de 70 kg a 50 km/h possui 87.500 unidades de energia cinética, que tem de ser convertida em outra forma de energia quando ela para. Essa mudança assume a forma de:  Dano no veículo e lesão na pessoa que está dentro dele, a menos que possa assumir alguma forma menos prejudicial, como ser dissipada pelo cinto de segurança ou pelo airbag. Qual fator da formula, porém, tem o maior efeito sobre a quantidade de energia cinética produzida: Massa ou velocidade? Esses cálculos mostram que o aumento da velocidade gera um aumento da energia cinética maior que o aumento da massa. Portanto, uma vez que um objeto esteja em movimento e possua uma energia na forma de movimento, para que ele pare completamente, deve perder toda a sua energia, convertendo-a em outra forma de energia ou transferindo para outro objeto. Exemplo: Se um automóvel atingir um pedestre, o pedestre é arremessado para longe. A troca de energia entre um veículo em movimento e um pedestre esmaga os tecidos e confere velocidade e energia à vítima, que é ejetada. A lesão pode ocorrer no ponto de impacto quando o pedestre é atingido pelo veículo e arremessado ao chão ou em direção a outro veículo. Cavitação O impacto sobre as partículas do tecido acelera essas partículas, afastando-as do ponto de impacto. Exemplo: Um jogo que fornece um efeito visual da cavitação é o jogo de sinuca. A. A energia da bola branca é transferida a cada uma das outras bolas. B. A troca de energia empurra as bolas e as separa, criando a cavitação Da mesma forma, quando um objeto sólido atinge o corpo humano, ou quando o corpo humano está em movimento e atinge um objeto parado, as partículas de tecido do corpo humano são deslocadas de sua posição normal, criando um orifício ou uma cavitação. São criados dois tipos de cavidades:  Cavidade temporária.  Cavidade permanente. 1. A cavidade temporária é a causada pela distensão dos tecidos, que ocorre no momento do impacto. Devido às propriedades elásticas dos tecidos corpóreos, parte ou todo o conteúdo da cavidade temporária retorna à sua posição anterior. 2. A cavidade permanente é deixada após o colapso da cavidade temporária e é a porção visível da destruição tecidual. Além disso, há uma cavidade de esmagamento produzida pelo impacto direto do objeto no tecido.  O dano tecidual é maior do que a cavidade permanente criada pelo projétil.  Quanto mais rápido ou pesado for o projétil, maior a cavidade temporária e a zona de dano tecidual.  A quantidade de cavidade temporária que permanece como cavidade permanente está relacionada à elasticidade (capacidade de distensão) do tecido acometido Trauma Contundente No trauma contuso, as observações feitas a campo das prováveis circunstâncias que levam à colisão fornecem indicações da gravidade das lesões e dos possíveis órgãos envolvidos. Os fatores a serem avaliados são: 1) A direção do impacto 2) O dano externo ao veículo 3) Os danos internos Colisão Automobilística As colisões automobilística podem ser divididas em cinco tipos: 1. Impacto frontal 2. Impacto posterior 3. Impacto lateral 4. Impacto angular 5. Capotamento Impacto Frontal A intensidade do estrago no carro indica sua velocidade aproximada no momento do impacto. Quanto maior o afundamento da frente do veículo, maior a velocidade no momento do impacto. Quanto maior a velocidade do veículo, maior a transferência de energia e maior a probabilidade de que os ocupantes tenham lesões graves. O uso do cinto de segurança e o acionamento do airbag , absorve parte da ou toda a energia, reduzindo assim a ocorrência de lesões na vítima. Ocupante não contido no veículo Trajetória para cima Nesta sequência, o movimento do corpo para a frente leva-o para cima, sobre o volante.  A cabeça é geralmente a parte do corpo que colide com o para-brisa, com sua borda ou com o teto.  A cabeça então interrompe o movimento para a frente.  O tronco continua em movimento até que sua energia/força seja absorvida pela coluna.  A coluna cervical é o segmento menos protegido da coluna.  O tórax ou o abdome, dependendo da posição do tronco, colidem com a coluna de direção.  O impacto do tórax sobre a coluna de direção produz lesões da caixa torácica, do coração, dos pulmões e da aorta.  Os rins, o baço e o fígado também sofrem lesões por cisalhamento (força associada à mudança de velocidade, que provoca a secção ou laceração de partes corpóreas). Trajetória para baixo  O ocupante continua a se mover para baixo em direção ao assento e para a frente em direção ao painel ou à coluna de direção  O pé pode torcer, se estiver apoiado no assoalho ou no pedal do freio.  Se o joelho estiver estirado, causa a torção e a fratura da articulação do tornozelo.  Se o joelho estiver dobrado a força não é direcionada ao tornozelo e sim ele se choca contra o painel.  O joelho possui dois possíveis pontos de impacto contra o painel: o fêmur e a tíbia. A – Os dois possíveis pontos de impacto: fêmur e a tíbia. B – A artéria poplítea repousa próximo à articulação. A separação desses dois ossos distende, retorce e lacera a artéri Quando o fêmur é o ponto de impacto, a energia é absorvida pelo corpo do osso, que pode, então, ser fraturado. A continuação do movimento da pelve para frente, sobre o fêmur que permanece intacto, pode fazer com que a bacia ultrapasse a cabeça desse osso, causando a luxação da articulação do acetábulo. Impacto Posterior As colisões com impacto posterior ocorrem quando um veículo em movimento lento ou parado é atingido por trás por um veículo com maior velocidade.  Durante o impacto o veículo atingido é acelerado adiante.  Tudo que estiver ligado à sua estrutura também será movido para frente, à mesma velocidade , incluindo os assentos dos ocupantes. A – Uma colisão traseira força o tronco para a frente. Caso o encosto esteja inadequadamente posicionado, a cabeça será hiperestendida sobre a porção superior da estrutura. B – Se o encosto estiver para cima, a cabeça se move com o tronco, e a ocorrência de uma lesão no pescoço é prevenida. Entretanto, se o carro colidir com outro veículo ou objeto, ou se o motorista pisar no freio e o carro parar abruptamente, os ocupantes serão arremessados para a frente, seguindo os padrões característicos da colisão com impacto frontal. Portanto, a colisão envolve dois impactos, o posterior e o frontal, o duplo impacto aumenta a probabilidade de lesão. Impacto Lateral Os mecanismos do impacto lateral ocorrem quando o veículo se envolve em um cruzamento (em forma de T) ou quando o veículo sai da pista e bate em um poste, uma árvore ou outro obstáculo. A lateral do veículo ou a porta é empurrada contra o ocupante, o ocupante pode sofrer lesões ao ser deslocado lateralmente, ou com a deformação interna do compartimento do passageiro pela intrusão da porta. Cinco regiões do corpo podem sofrer lesão no impacto lateral. Clavícula: A clavícula pode ser comprimida e fraturada quando forçada contra o ombro. Tórax: A compressão contra a porção lateral do tórax pode causar fraturas de costelas, contusão pulmonar ou lesão de órgãos sólidos abaixo da caixa torácica (baço, fígado e rim). Abdome e pelve: O impacto lateral no fêmur empurra a cabeça do osso através do acetábulo e provoca fraturas pélvicas. O motorista pode sofrer lesão de baço, o passageiro lesão de fígado. Pescoço: Durante um impacto lateral, quando o torso é rapidamente acelerado e distanciado da cabeça, esta se vira em direção ao ponto de impacto. Tal movimento separa os corpos vertebrais ocasionando laceração e fratura laterais por compressão. Cabeça: A cabeça pode sofrer impacto contra a estrutura da porta. Impacto Rotacional ou Angular Em uma colisão com impacto rotacional, a vítima primeiro se move para a frente e, depois, para a lateral, conforme o veículo rodopia ao redor de impacto. Capotamento Durante um capotamento, o carro pode sofrer muitos impactos em vários ângulos diferentes, assim como o corpo e os órgãos dos ocupantes não contidos.  Na maioria dos casos, os ocupantes são ejetados do veículo enquanto capota e/ou são esmagados à medida que o veículo capota em cima deles ou sofrem lesões pelo impacto com o chão.  Se os ocupantes forem ejetados para a pista, podem ser atingidos por outros veículos. Mas o que acontece se a vítima estiver contido? Se o cinto de segurança estiver posicionado adequadamente, a pressão do impacto é absorvida pela pelve e pelo tórax, resultando em nenhuma ou em poucas lesões graves. Quando os cintos são utilizados e deixados frouxos, ou são posicionados acima da pelve, podem ocorrer lesões por compressão de órgãos intra- abdominais. Colisão de Motocicleta Colisões de motocicleta são responsáveis por um número significativo de mortes todo o ano. As colisões podem ser: Impacto frontal  A colisão frontal contra um objeto sólido interrompe o movimento da motocicleta.  O motociclista pode sofrer lesões no crânio, no tórax, no abdome ou na pelve, dependendo da parte do corpo que colidir. Se os pés do motociclista permanecerem presos nos pedais e as coxas colidirem com o guidão, o movimento para a frente será absorvido pela diáfise do fêmur, resultando em fratura bilateral de fêmur. Fraturas pélvicas em “livro aberto” são um resultado comum da interação entre a pelve e o guidão. A motocicleta cai sobre o motociclista, ou prensa-o entre o veículo e o objeto que foi atingido. Podem ocorrer lesões nos membros superiores e inferiores, o que resulta em fratura e lesão externa de partes moles Impacto com Ejeção  Por não estar contido, o motociclista pode ser ejetado.  Ele continua voando até que sua cabeça, braços, tórax, abdome ou pernas atinjam outro objeto, como um veículo motorizado, um poste ou o chão.  A lesão ocorre no ponto de impacto e se irradia para todo o corpo à medida que a energia é absorvida. Prevenção de Lesão  Isto geralmente provoca abrasões “queimadura de asfalto” à medida que a velocidade do indivíduo é reduzida no chão.  Para impedir ser aprisionado entre dois pedaços de aço, o motociclista deita a moto, dissipando a lesão. Atropelamento Existe três etapas distintas na colisão entre pedestre e veículo motorizado. Cada etapa possui seu padrão de lesão.  O impacto inicial é nas pernas e às vezes nos quadris.  O tronco rola sobre o capô do carro e pode bater no para brisa.  A vítima cai do veículo e atinge o chão. As lesões produzidas por atropelamento variam de acordo com peso da vítima e a altura do veículo. Os pontos de impacto de uma criança e em um adulto de frente para um carro apresentam diferentes estruturas anatômicas. Por serem mais baixas, as crianças são, a princípio, atingidas em áreas mais superiores do corpo do que no adulto.  Em uma criança o impacto inicial ocorre quando o veículo golpeia a porção superior ou a pelve.  O Segundo impacto ocorre quando a cabeça e a face da criança atinge a frente ou o capô do veículo.  A criança pode não ser arremessada do veículo, mas pode ser aprisionada e tragada por ele. Bibliografia: PHTLS – Atendimento Pré Hospitalar ao Traumatizado 9ª Edição Elsevier

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