Seminários de Inconsciência - PDF
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Paloma Faria
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Este documento apresenta um resumo sobre sinapses, incluindo sinapses elétricas e químicas, e a transmissão sináptica química. Os diversos tipos de sinapses químicas, suas classificações, e a importância dos neurotransmissores e dos receptores são descritos.
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Bloco Inconsciência 1 Paloma Faria SEMINÁRIO: SINAPSES Quando o impulso nervoso alcança o fim do axônio, como não há continu...
Bloco Inconsciência 1 Paloma Faria SEMINÁRIO: SINAPSES Quando o impulso nervoso alcança o fim do axônio, como não há continuidade celular entre um neurônio e o seguinte, é necessário que essa carga elétrica proveniente da despolarização seja transmitida a célula seguinte, na SINAPSE, por meio da TRANSMISSAO SINÁPTICA. Sinapse = junção especializada onde uma parte do neurônio faz contato e se comunica com outro neurônio ou tipo celular (célula muscular ou glandular). Sentido: neurônio (pré-sináptico) célula-alvo (pós-sináptico). Tipos 1) Sinapses elétricas (não tem importância para a Medicina) - Transferência iônica direta. - Ocorrem através das junções comunicantes (gaps). - São bidirecionais, já que as células estão eletricamente acopladas (o canal permite a passagem em ambos os sentidos, sendo que o PPS do segundo neurônio pode provocar um novo PPS no primeiro). - São muito rápidas, provocando um PPS quase que instantâneo. 2) Sinapses químicas - Ocorrem em um espaço entre os neurônios denominado fenda sináptica preenchida por matriz extracelular de proteínas que mantém próximas as membranas pré e pós- sinápticas, sendo mediada por transmissores químicos. - A membrana pré-sináptica é composta por terminações axonais que contém as vesículas sinápticas (pequenas organelas esféricas) e grânulos secretores (vesículas maiores), que armazenam neurotransmissores. O sitio de liberação de neurotransmissores dentro das células é denominado zona ativa onde há concentração de proteínas da membrana denominadas diferenciação da membrana. - Já a membrana pós-sináptica é composta por proteínas denominadas densidade pós-sináptica que contém receptores que convertem sinais químicos em elétricos. As sinapses químicas recebem diferentes classificações: - Axodendrítica: membrana pós-sináptica localizada em um dendrito. - Axoaxônixa: membrana pós-sináptica localizada em outro axônio. - Dendrodendrítica: os dendritos formam sinapses com dendritos de outros neurônios. - Axossomática: membrana pós-sináptica localizada em um corpo celular. Outra classificação: - Sinapse assimétrica ou do tipo I de Gray: excitatórias com membrana pós-sináptica mais espessa que a pré. - Sinapse simétrica ou do tipo II de Gray: inibitórias com membrana pré e pós-sináptica com mesma espessura. Obs.: Junção neuromuscular: sinapse química que ocorre entre axônios de neurônios motores da medula espinhal e o músculo esquelético. Princípios da transmissão sináptica química Neurotransmissores Podem ser divididos em: - aminoácidos e aminas: pequenas moléculas orgânicas contendo pelo menos um átomo de nitrogênio, que são armazenadas e liberadas em/de vesículas sinápticas. - peptídeos: grandes moléculas armazenadas e liberadas em/de grânulos secretores. Bloco Inconsciência 2 Paloma Faria Etapas: 1) Síntese do neurotransmissor A transmissão sináptica química requer que neurotransmissores sejam sintetizados e estejam prontos para a liberação. As enzimas envolvidas na síntese dos neurotransmissores são transportadas até o terminal axonal, e nesse local, elas rapidamente dirigem a síntese dessas substâncias. 2) Armazenamento do neurotransmissor na vesícula sináptica Uma vez sintetizados no citosol do terminal axonal, os neurotransmissores devem ser captados pelas vesículas sinápticas. Concentrar essas substâncias dentro da vesícula é trabalho dos transportadores, proteínas especiais embutidas na membrana vesicular. 3) Liberação do neurotransmissor na fenda sináptica Quando os terminais dos axônios recebem um potencial de ação, ocorre a despolarização da membrana que abre os canais de Ca2+ dependentes de voltagem promovendo um influxo do íon, que é o sinal responsável pela liberação desses neurotransmissores. Na presença de aumento da concentração de Ca2+, proteínas da membrana vesicular e das zonas ativas alteram sua conformação, fundindo as membranas vesicular e pré-sináptica, processo denominado exocitose, formando um poro que permite a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica. A membrana vesicular é logo após reciclada por endocitose, retornando oca de conteúdo e a vesícula reciclada é recarregada com neurotransmissor. 4) Ação do neurotransmissor ao interagir com receptores Os neurotransmissores liberados irão conectar-se com receptores da membrana pós- sináptica que podem ser canais iônicos ou receptores acoplados à proteína G, alterando sua conformação. - Canais iônicos ativados por transmissores: são proteínas transmembrana constituídas por um poro em contato com o neurotransmissor que estimula uma mudança na conformação dela tendo como consequência sua abertura. Esses canais não são específicos para cada íon. Bloco Inconsciência 3 Paloma Faria - Receptores acoplados à proteína G: são assim denominados porque as proteínas G se ligam aos nucleotídeos GTP e GDP. A proteína G apresenta 3 subunidades: alfa, beta e gama. - Subunidade alfa = está no lado lipossolúvel da membrana, é móvel e está ligada a um GDP quando em repouso. - Subunidades beta e gama = estão fixas a membrana. 1. O neurotransmissor liga-se ao receptor na membrana pós-sináptica. 2. O receptor ativa as proteínas G, as quais se movem livremente ao longo da face intracelular da membrana pós-sináptica. 3. As proteínas G ativadas, por sua vez, ativam os alvos. Quando um neurotransmissor ativa o receptor, conduz mudança de conformação da proteína G, que faz com que o a subunidade dissocie-se da subunidade / e lentamente hidrolise GTP a GDP, liberando um fosfato. O complexo /GTP ativa o alvo. Logo após, a subunidade reassocia-se com as subunidades e , voltando à situação inicial. Alvos da proteína G - Adenilato ciclase: enzima que degrada o ATP formando AMPc. O complexo /GTP ativa a adenilato ciclase que degrada o ATP e forma AMPc, o qual por sua vez ativa a proteína kinase, que catalisa a transferência dos grupos fosfato de proteínas funcionais causando a aumento da glicogenólise, lipolise, o relaxamento do tônus muscular e o aumento da contractilidade do músculo cardíaco, e ativação dos canais de Ca2+ com a sua abertura. - Fosfolipase C: enzima que degrada lipídios na membrana formando IP3 e DAG. O trifosfato de inositol (IP 3) provoca a liberação do Ca2+ das organelas de reserva, quebra do glicogênio, exocitose, e contração das células musculares. Diacilglicerol (DAG) estimula a proteína Kinase C, a qual fosforila as enzimas que contêm resíduos de serina e treonina. - Canais iônicos A abertura dos canais de iônicos provoca o movimento transmembranar dos mesmos, provocando alterações de potencial da membrana e da homeostase. Bloco Inconsciência 4 Paloma Faria Nota: (1) Um receptor pode ativar vários canais, varias enzimas e varias proteínas. (2) Um mesmo neurotransmissor pode ter ações diferentes dependendo do receptor que ativar. Neurotransmissores diferentes nunca ativam um mesmo receptor. No entanto, um mesmo neurotransmissor pode ativar diferentes receptores. A excitação dos receptores pode gerar um potencial excitatório pós-sináptico (PEPS) como na ativação por acetilcolina e glutamato ou um potencial inibitório pós- sináptico (PIPS) como na inibição pelo GABA ou glicina. Se o canal for permeável ao Na + ou ao K+, o efeito resultante será a despolarização da membrana pós-sináptica, gerando potencial de ação. O efeito é dito excitatório (PEPS). Se o canal for permeável ao Cl-, o efeito resultante será a hiperpolarização da membrana pós-sináptica, dificultando atingir o limiar para gerar potencial de ação. O efeito é dito inibitório (PIPS). - Auto-receptores: receptores localizados na membrana pré-sináptica sensíveis a neurotransmissores liberados pelo próprio terminal, estando a maioria acoplada a proteína G estimula a formação de segundo mensageiro inibe liberação de neurotransmissor (auto regulação). - Antagonistas de receptores: inibidores dos receptores para neurotransmissores, ligam-se aos receptores e bloqueiam (antagonizam) a ação normal do transmissor. - Agonistas de receptores: drogas que se ligam aos receptores e mimetizam a ação dos neurotransmissores que existem naturalmente. 5) Término da ação do neurotransmissor Os neurotransmissores ao se encontrarem na fenda sináptica podem sofrer dois destinos: a recaptação ou a degradação enzimática. A degradação enzimática ocorre mais frequentemente com a acetilcolina, na junção neuromuscular, sendo degradada na própria fenda sináptica, através da acetilcolinesterase. Já a recaptação é dada por transportadores proteicos específicos presentes na membrana pré-sináptica que, dentro das células, recarregarão as vesículas sinápticas com os neurotransmissores ou degredara-los enzimaticamente. Transmissão colinérgica: Neurotransmissor: acetilcolina (ACh). Ela é produzida no citosol pela colina acetiltransferase (CoAT) da seguinte maneira: acetil + colina acetilcolina. Tipos de receptores em que age: nicotínicos (são receptores acoplados a canais iônicos) e muscarínicos (são receptores acoplados a proteína G) – subtipos: M1 (neuronal), M2 (cardíaco), M3 (glandular). Transmissão noradrenérgica: Neurotransmissor responsável: noradrenalina (NA). Tipos de receptores em que age: 1 (musculatura lisa dos vasos), 1 (coração), 2 (musculatura lisa dos brônquios). Transmissão glutamatérgica: Neurotransmissor responsável: glutamato. Subtipos de receptores de glutamato: NMDA, AMPA, CAINATO (são canais catiônicos; atuam para mediar a transmissão sináptica excitatória rápida do SNC), METABOTRÓPICO (são acoplados a proteína G; são mais lentos; desempenham um papel na plasticidade sináptica). Transmissão gabaérgica: Neurotransmissor responsável: GABA. É um neurotransmissor inibitório. É formado a partir do glutamato, pela ação da enzima GAD (ácido glutâmico descarboxilase). Existem dois tipos de receptores: GABAA (acoplados a canais de cloreto, cuja abertura reduz a excitabilidade da membrana) e GABAB (acoplados a proteína G - inibição da formação de AMPc, portanto não abrem canais de cálcio). Seu término de ação se dá principalmente por recaptação. Bloco Inconsciência 5 Paloma Faria SEMINÁRIO: FILOGÊNESE, EMBRIOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Filogênese do Sistema Nervoso Filogênese = origem e evolução do ser vivo. Sistema Nervoso relaciona o ser vivo com o ambiente. Propriedades do protoplasma especialmente importantes: - Irritabilidade: ser sensível a um estímulo reagindo a ele; permite a uma célula detectar as modificações do meio ambiente. - Condutibilidade: o impulso é conduzido através do protoplasma. - Contratilidade: resposta ao estímulo que se manifesta por um encurtamento de célula, visando fugir de um estímulo nocivo. Até mesmo um organismo unicelular simples, como a ameba, apresenta todas as propriedades do protoplasma, mas não se especializou em nenhuma delas, tendo suas reações muito rudimentares. Células especializadas em irritabilidade e condutibilidade foram os primeiros neurônios, que provavelmente surgiram nos celenterados. No tentáculo de uma anêmona do mar existem células nervosas unipolares, ou seja, com um único prolongamento denominado axônio, o qual faz contato com células musculares situadas mais internamente. Na extremidade dessas células nervosas localizadas na superfície, desenvolveu-se uma formação denominada receptor, que transforma estímulos físicos ou químicos em impulsos nervosos, que podem então, ser transmitidos ao efetuador: músculo ou glândula. Neurônios sensitivos ou aferentes: situados na superfície e especializados em receber os estímulos e conduzir os impulsos ao sistema nervoso central. Neurônios motores ou eferentes: situados nos gânglios e especializados na condução do impulso do sistema nervoso central até o órgão efetuador (músculo ou glândula, determinado uma contração ou uma secreção). Obs.: neurônios eferentes que inervam músculos lisos e cardíacos ou glândulas têm seus corpos fora do SNC, em estruturas denominadas gânglios viscerais, pertencendo ao SNA e recebendo o nome de neurônios pós-ganglionares. Neurônios, fibras ou feixes de fibras - Aferentes (entra): trazem impulsos a uma determinada área do sistema nervoso. - Eferentes (sai): levam impulsos do sistema nervoso. Elementos básicos de um arco reflexo simples (arco reflexo intrasegmentar): um neurônio aferente com seu receptor; um centro (como um gânglio, onde ocorre sinapse); um neurônio eferente que se liga ao efetuador (como um músculo). Exemplo: reflexo patelar = bate martelo no joelho ocorre estiramento do tendão estimula receptores no músculo quadríceps origina impulsos nervosos que seguem pelo neurônio sensitivo o prolongamento central desses neurônios penetra na medula, fazendo sinapses com neurônios motores ai situados o impulso sai pelo axônio do neurônio motor e volta ao membro inferior, estimulado fibras do músculo quadríceps, fazendo com que a perna se projete para frente. Neurônio de associação: faz a associação de um segmento com outro. Ocorre no arco reflexo intersegmentar: o estímulo aplicado em um segmento dá origem a um impulso, que é conduzido pelo neurônio sensitivo ao centro (gânglio). O axônio desse neurônio faz sinapse com o neurônio de associação, também localizado no gânglio, cujo axônio estabelece sinapse com o neurônio motor do segmento Bloco Inconsciência 6 Paloma Faria vizinho. O estímulo se inicia em um segmento e a resposta se faz em outro. Envolve duas sinapses e três neurônios (sensitivo, de associação e motor). A maioria dos reflexos medulares são intersegmentares. Embriologia do Sistema Nervoso Origem: ectoderma - Espessamento do ectoderma, situado acima da notocorda, formando a placa neural, que cresce progressivamente, tornando-se mais espessa e adquire um sulco longitudinal, o sulco neural, que se aprofunda para formar a goteira neural. Os lábios da goteira neural se fundem para formar o tubo neural. Nesse ponto, desenvolvem-se células que formam de cada lado uma lâmina longitudinal, a crista neural, situada dorsolateralmente ao tubo neural. O ectoderma, não diferenciado, então se fecha sobre o tubo neural, isolando-o do meio externo. * Crista neural: origina elementos do sistema nervoso periférico. Logo após sua formação, a crista neural rapidamente se divide dando origem a fragmentos que vão formar os gânglios espinhais, situados na raiz dorsal dos nervos espinhais. Neles se diferenciam os neurônios sensitivos, cujos prolongamentos centrais se ligam ao tubo neural, enquanto os prolongamentos periféricos se ligam aos dermátomos dos somitos. Elementos derivados da crista neural: gânglios sensitivos, gânglios do sistema nervoso autônomo (viscerais), medula da glândula suprarrenal, melanócitos, células de Schwann, anficitos, odontoblastos, meninges (dura máter e aracnoide). * Tubo neural: origina elementos do sistema nervoso central. - Paredes do tubo neural: As lâminas alares e basais derivam em neurônios e grupos de neurônios ligados respectivamente à sensibilidade e à motricidade, situados na medula e no tronco encefálico. A lâmina do teto dá origem ao epêndima da tela corioide e dos plexos corioides. A lâmina do assoalho forma um sulco, como o do IV ventrículo. - Dilatações do tubo neural: - parte cranial encéfalo - parte caudal medula Do telencéfalo se evaginam duas porções laterais, as vesículas telencefálicas laterais, que crescem muito para formar os hemisférios cerebrais e escondem quase completamente o diencéfalo. - Cavidades do tubo neural: A luz da medula primitiva forma o canal central da medula; a cavidade dilatada do rombencéfalo forma o IV ventrículo; as cavidades do diencéfalo e da parte mediano do telencéfalo forma o III ventrículo; a luz do mesencéfalo constitui o aqueduto cerebral que une o III ao IV ventrículo; a luz das vesículas telencefálicas laterais forma, de cada Bloco Inconsciência 7 Paloma Faria lado, os ventrículos laterais, unidos ao III ventrículo pelos dois forames interventriculares. Todas essas cavidades são revestidas por um epitélio cuboidal, o epêndima e, com exceção do canal central da medula, contêm o líquido cérebro-espinhal, ou liquor. Divisão do Sistema Nervoso - Anatômica * Sistema Nervoso Central: é aquele que se localiza dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal vertebral). - Encéfalo: parte do SNC situado dentro do crânio. - Medula: se localiza dentro do canal vertebral. A ponte separa o bulbo, situado caudalmente, do mesencéfalo, situado cranialmente. Dorsalmente à ponte e ao bulbo, localiza-se o cerebelo. * Sistema Nervoso Periférico: é aquele que se encontra fora do esqueleto axial. - Nervos: cordões esbranquiçados que unem o SNC aos órgãos periféricos. Se a união se faz com o encéfalo, os nervos são cranianos; se com a medula, espinhais. - Gânglios: dilatações constituídas de corpos de neurônios. Tem gânglios sensitivos e motores viscerais (do sistema nervoso autônomo). - Terminações nervosas: extremidade das fibras que constituem os nervos. São de dois tipos: sensitivas (ou aferentes) e motoras (ou eferentes). - Embriológica: Prosencéfalo, mesencéfalo, rombencéfalo. - Funcional * Sistema Nervoso Somático: relaciona o organismo com o meio ambiente. - Aferente: conduz aos centros nervosos impulsos originados em receptores periféricos, informando-os sobre o que se passa no meio ambiente. - Eferente: leva aos músculos estriados esqueléticos o comando dos centros nervosos, resultando em movimentos voluntários. * Sistema Nervoso Visceral - Aferente: conduz impulsos nervosos originados em receptores das vísceras a áreas específicas do SNC. - Eferente (= Sistema Nervoso Autônomo: Simpático e Parassimpático): leva impulsos originados em centros nervosos até as vísceras, terminando em glândulas, músculos lisos ou músculo cardíaco. - Metameria: Essa divisão põe em evidência as semelhanças estruturais e funcionais existentes entre a medula e o tronco encefálico, em oposição ao cérebro e cerebelo. * Sistema Nervoso Segmentar: todo sistema nervoso periférico mais a medula espinhal e o tronco encefálico. * Sistema Nervoso Suprassegmentar: cérebro e cerebelo. Bloco Inconsciência 8 Paloma Faria SEMINÁRIO: VIAS MEDULARES Estrutura da medula espinhal Substância cinzenta: tecido nervoso constituído de neuroglia, corpos de neurônios e fibras predominantemente amielinicas. Substância branca: tecido nervoso formado de neuroglia e fibras predominantemente mielínicas. Núcleo: massa cinzenta dentro de substancia branca, ou grupo delimitado de neurônios com aproximadamente a mesma estrutura e função. Córtex: substancia cinzenta que se dispõe em uma camada fina na superfície do cérebro e cerebelo. Tracto: feixe de fibras nervosas com aproximadamente a mesma origem, mesma função e mesmo destino. Na denominação de um tracto usam-se dois nomes: primeiro indicando a origem e o segundo, a terminação das fibras. Se tiver um terceiro, indica a posição do tracto. Fascículo: refere-se a um tracto complexo. Lemnisco: empregado para alguns feixes de fibras sensitivas que levam impulsos nervosos ao tálamo (fita). Funículo: usado para substancia branca da medula. Um funículo contem vários tractos ou fascículos (cordão). Decussação: formação anatômica constituída por fibras nervosas que cruzam obliquamente o plano mediano e que tem aproximadamente a mesma direção. Comissura: formação anatômica constituída por fibras nervosas que cruzam perpendicularmente o plano mediano, mas têm direção oposta. MEDULA: Na superfície da medula existem os sulcos: lateral anterior, lateral posterior e mediano posterior; e fissura mediana anterior. A substancia cinzenta é circundada pela branca, constituindo de cada lado, os funículos anterior, lateral e posterior (compreende os fascículos grácil e cuneiforme). Entre a fissura mediana anterior e a substância cinzenta localiza-se a comissura branca, local de cruzamento de fibras. A quantidade de substância branca em relação à cinzenta é tanto maior quanto mais alto o nível considerado. Bloco Inconsciência 9 Paloma Faria SUBSTÂNCIA CINZENTA: tem a forma de H, dividindo-se em coluna anterior, coluna posterior, e substância cinzenta intermédia (dividida em central e lateral). Os elementos mais importantes dessa substância cinzenta da medula são seus neurônios medulares. - Neurônios radiculares: seu axônio é muito longo e sai da medula para constituir a raiz ventral. Os viscerais são neurônios pré-ganglionares do SNA, cujos corpos localizam-se na substancia cinzenta intermédia lateral de T1 a L2 ou S2 a S4. Destinam-se à inervação de músculos lisos, cardíacos ou glândulas. Os somáticos destinam-se a inervação dos músculos estriados esqueléticos e tem seu corpo localizado na coluna anterior (neurônios motores primários, motores inferiores). Estes últimos podem ser: 1- alfa: são grandes e com axônio grosso, destina-se à inervação de fibras musculares que contribuem efetivamente para a contração do musculo, localizam-se fora dos fusos neuromusculares (neurônio alfa + fibras musculares inervadas = unidade motora). 2- gama: axônios mais finos responsáveis pela inervação motora das fibras intrafusais. Recebem influencia de vários centros supra-segmentares relacionados com a atividade motora (execução do movimento voluntario). - Neurônios cordonais: axônios ganham a substancia branca da medula, onde tomam direção ascendente ou descendente, passando a constituir as fibras que formam os funículos da medula. O axônio de um neurônio cordonal pode passar ao funículo situado do mesmo lado onde se localiza o seu corpo (homolateral/ipsilateral) ou do lado oposto (heterolateral/contralateral). Podem ser de projeção: possuem um axônio ascendente longo que termina fora da medula, integrando as vias ascendentes da medula; ou de associação: possuem um axônio que, ao passar pela substancia branca, se bifurca em um ramo ascendente e outro descendente, ambos terminando na substancia cinzenta. Permitem a realização de reflexos intersegmentares na medula. - Neurônios internunciais: sai de axônio curto, estando sempre na substância cinzenta. Seus prolongamentos ramificam-se próximo ao corpo celular e estabelecem conexão entre as fibras aferentes, que penetram pelas raízes dorsais e os neurônios motores em vários arcos reflexos medulares. - Células de Renshaw: os impulsos nervosos provenientes desta célula inibem os neurônios motores. Os axônios dos neurônios motores, antes de deixaram a medula, emitem um ramo colateral recorrente que volta e termina estabelecendo sinapse com uma célula de Renshaw que faz sinapse com o próprio neurônio motor que emitiu o colateral. - Núcleos e laminas da substancia cinzenta: os neurônios medulares formam núcleos que formam colunas longitudinais dentro das três colunas da medula. Os vários núcleos na coluna anterior podem ser: medial (neurônios motores que inervam a musculatura relacionada com o esqueleto axial através de fibras que emergem dos ramos dorsais dos nervos espinhais) e lateral (dão origem as fibras que inervam a musculatura relacionada com os músculos dos membros inferiores e superiores). Na coluna posterior são mais evidentes dois núcleos: torácico (evidente apenas na substancia torácica e lombar alta (L1-L2), relaciona-se com propriocepção inconsciente e contem neurônios cordonais de projeção, cujos axônios vão ao cerebelo) e substancia gelatinosa (recebe fibras sensitivas que entram pela raiz dorsal e nela funciona o chamado portão da dor). SUBSTANCIA BRANCA: as fibras agrupam-se em tractos e fascículos que formam vias, por onde passam os impulsos nervosos que sobem e descem. Vias descendentes: são formadas por fibras que se originam no córtex cerebral ou em varias áreas de tronco encefálico e terminam fazendo sinapse com os neurônios medulares. Algumas terminam nos neurônios pré-ganglionares do SNA, constituindo Bloco Inconsciência 10 Paloma Faria as vias descendentes viscerais. Outras terminam fazendo sinapse com neurônios da coluna posterior e participam dos mecanismos que regulam a penetração dos impulsos sensoriais do SNC. Contudo, o contingente mais importante termina direta ou indiretamente nos neurônios motores somáticos, constituindo as vias motoras descendentes somáticas. Essas vias dividem-se em dois grupos: 1- Vias piramidais: antes de penetrar na medula passa pelas pirâmides bulbares. Compreendem dois tractos: cortico-espinhal anterior e cortico-espinhal lateral. Ambos originam-se do córtex cerebral e conduzem impulsos nervosos aos neurônios da coluna anterior da medula. No trajeto do córtex ate o bulbo as fibras dos tractos cortico-espinhal lateral e cortico-espinhal anterior constituem um só feixe, o tracto cortico-espinhal, algumas fibras se cruzam formando o lateral e outros não, formando o anterior. Ou seja, uma lesão do tracto cortico-espinhal acima da decussação das pirâmides causa paralisia da metade oposta do corpo. No tracto cortico-espinhal anterior suas fibras vão penetrando na coluna anterior e termina no nível da metade da medula torácica. Já o tracto cortico-espinhal lateral atinge ate a medula sacral, ele localiza-se no funículo lateral da medula. E o anterior no funículo anterior, próximo da fissura mediana anterior. 2- Vias extrapiramidais: não passam pela pirâmide bulbar. São os seguintes tractos: tecto-espinhal; vestíbulo espinhal; rubro espinhal e reticulo espinhal. Os nomes referem-se aos locais onde eles se originam, que são respectivamente: tecto mesencefálico, núcleo vestibulares, núcleo rubro e a chamada formação reticular. - O tracto rubro espinhal: motricidade da parte distal dos membros. - Os tractos vestíbulo espinhal e reticulo espinhal são importantes para a manutenção do equilíbrio e da postura básica, sendo que este ultimo controla também a motricidade voluntaria da musculatura axial e proximal. Vias ascendentes: as fibras que formam as vias ascendentes da medula relacionam- se direta ou indiretamente com as fibras que penetram pela raiz dorsal, trazendo impulsos aferentes de varias partes do corpo. Destino das fibras da raiz dorsal: cada filamento radicular da raiz dorsal, ao ganhar o sulco lateral posterior, divide-se em dois grupos de fibras: lateral e medial. As fibras do grupo lateral são mais finas e dirigem-se ao ápice da coluna posterior, enquanto as fibras do grupo medial dirigem-se a face medial da coluna posterior. Antes de penetrar na coluna posterior cada uma destas fibras de bifurca, dando um ramo ascendente e outro descendente sempre mais curto, todos estes ramos terminam na coluna posterior da medula, exceto um grupo de fibras do grupo medial que terminam no bulbo. Estes ramos constituem as fibras dos fascículos grácil e cuneiforme. Vias ascendentes do funículo posterior: no funículo posterior existem dois fascículos grácil (situado medialmente) e cuneiforme (situado lateralmente), separados pelo septo intermédio posterior. Vias ascendentes do funículo anterior: localiza-se o tracto espino-talâmico anterior formado por axônios de neurônios cordonais de projeção situados na coluna posterior. Estes axônios cruzam o plano mediano e fletem-se cranialmente para formar o tracto espino talâmico anterior cujas fibras nervosas terminam no tálamo e levam impulsos de pressão e tato leve. A sensibilidade tátil tem duas vidas da medula, uma direta, no funículo posterior e outra cruzada no funículo anterior. Vias ascendentes do funículo lateral: (1) Tracto espino talâmico lateral. (2) Tracto espino cerebelar posterior: as fibras deste tracto penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior levando impulsos de propriocepção inconsciente. (3) Tracto espino cerebelar anterior: relacionado a atividade elétrica do tracto cortico espinhal/ motricidade somática. Bloco Inconsciência 11 Paloma Faria SEMINÁRIO: NÚCLEOS DA BASE E O CONTROLE DO MOVIMENTO Núcleos da base = estruturas de substância cinzenta que permeiam o centro branco medular do cérebro, ao redor dos ventrículos e tálamo, e fazem a conexão córtex- tálamo. Formam, juntamente com todas as unidades anatômicas que participam do controle do movimento, o sistema extrapiramidal. São eles: Núcleo caudado Putâmen Corpo estriado Globo pálido - Núcleo lentiforme: globo pálido + putâmen - Neoestriado (striatum): núcleo caudado + putâmen - Paleoestriado (pallidum): globo pálido - Os impulsos aferentes do corpo estriado chegam ao neoestriado, passam pelo paleoestriado de onde sai a maioria das fibras eferentes do corpo estriado. Obs.: Os neurônios do corpo estriado são ativados não só durante os movimentos, mas também antes de eles se iniciarem. Núcleo subtalâmico: pertence ao diencéfalo; comunica-se com o globo pálido com aferências e eferências. Sua função é controlar a motricidade somática. Substância negra: pertence ao tronco encefálico; formada por neurônios dopaminérgicos ricos em melanina; tem função excitatória no corpo estriado. Núcleo rubro: localiza-se no mesencéfalo; tem coloração avermelhada. Recebe fibras do cerebelo e do córtex cerebral. Origina fibras dos tractos rubroespinhal e rubrobulbar que interferem nas vias piramidais. Tradicionalmente, os núcleos da base incluem o corpo estriado mais os dois seguintes: Claustrum: situado entre o putâmen e o córtex da ínsula, tem funções desconhecidas. Corpo amigdaloide: importante componente do sistema límbico. Novos estudos incluem mais duas estruturas: Núcleo basal de Meynert: é um conjunto de neurônios colinérgicos grandes, situado na chamada substância inominata. Recebe fibras de varias áreas do sistema límbico e da origem à quase totalidade das fibras colinérgicas do córtex, que dele se projetam a praticamente todas as áreas corticais. Tem papel importante na memória e nas funções psíquicas superiores. Núcleo accumbens: integra o chamado corpo estriado ventral, tem relação com o sistema límbico. Bloco Inconsciência 12 Paloma Faria Funções: Responsáveis pela realização automática de planos motores aprendidos (como virar na cama e caminhar). Controle do movimento (principal) e planejamento motor. Além disso, tem atividade no controle do estado emocional e comportamental. Circuito: origina-se no córtex cerebral e, através das fibras córtico-estriatais ligam-se ao neoestriado, de onde os impulsos nervosos passam ao globo pálido. Este, por sua vez, através das fibras pálido-talâmicas liga-se aos núcleos ventral-anterior e ventral- lateral do tálamo, os quais se projetam para o córtex cerebral. Fecha-se assim o circuito em alça córtico-estriado-tálamo-cortical. Neste circuito, as fibras córtico-estriatais originam-se em todas as áreas do córtex cerebral, enquanto as fibras tálamo-corticais convergem para a área motora, onde tem origem o tracto córtico-espinhal. - Nos vários componentes do circuito básico e seus circuitos subsidiários interagem neurônios excitadores e inibidores de uma maneira complexa, resultando no final de uma ação excitadora sobre as áreas corticais motoras. Bloco Inconsciência 13 Paloma Faria informação de motricidade glutamato (excita) dopamina córtex estriado substância nigra GABA (inibe) GABA (deixa de inibir) glutamato tálamo globo pálido núcleo subtalâmico glutamato GABA (excita) áreas motoras do córtex → ocorre o movimento Obs.: Se a dopamina for liberada antes, ela tira o bloqueio que liberaria GABA, assim, no final do circuito não libera glutamato, ocorrendo diminuição do movimento. Síndromes extrapiramidais, ou síndromes dos núcleos da base - Doença de Parkinson: distúrbio degenerativo e lentamente progressivo do sistema nervoso que prevalecente no sexo masculino. Principais sintomas são tremores, aumento do tônus e dificuldade para dar início aos movimentos voluntários. A lesão está na substância negra, resultando em diminuição de dopamina na via substância negra – corpo estriado. Ocorre bradicinesia, tremor, espasticidade, freezing (movimento segmentado), marcha alterada, demência, hipomomia (ausência de expressão caracterizada por diminuição ou lentitude de movimentos), rigidez muscular, instabilidade postural, micrografia. - Coréia (doença de Huntington): caracteriza-se por movimentos involuntários rápidos e de grande amplitude, que lembram uma dança. Ocorre devido à lesão do corpo estriado. Tem hipercinesia (aumento do movimento devido à perda de neurônios do núcleo da base) e discinesia (dificuldade na realização de movimentos, qualquer que seja a causa, como espasmo, incoordenação e outros; perturbação da motilidade). - Hemibalismo: movimentos involuntários violentos de uma extremidade, levando o doente à exaustão. Os movimentos envolvem mais a musculatura proximal do que distal e predominam nos membros superiores Resulta de lesão vascular no núcleo subtalâmico. - Distonia: contrações musculares involuntárias, contínuas, repetidas e lentas podem causar “congelamento” no meio de uma ação, assim como movimentos de rotação ou de torsão do tronco, do corpo inteiro ou de segmentos do corpo. Movimentos ou posturas anormais, muitas vezes dolorosas. Podem afetar qualquer parte do corpo.