Úlceras de Perna: Fisiopatologia e Impacto

Úlceras de Perna

• Uma ferida aberta na perna que surge espontaneamente ou acidentalmente, com etiologia associada a um processo patológico sistémico ou da extremidade.
• Ferida crónica e complexa, com duração prolongada no tempo.
• Afeta cerca de 1% da população adulta e 3 a 5% da população com mais de 65 anos.
• As taxas de recidiva variam entre 50 a 70% das úlceras.
• Caracterizada por alta morbilidade e diminuição da qualidade de vida.

Fisiopatologia

• Etiologia multifatorial: Insuficiência Venosa, Doença Arterial Periférica (DAOP), neuropatias, lesão físico-química, distúrbios de coagulação, doenças infecciosas, vasculites, doenças metabólicas, neoplasias e dermatoses ulcerativas.
• Fenómenos fisiopatológicos que condicionam alterações circulatórias, microvasculares e dérmicas.
• 90% das úlceras de perna têm origem vascular, 10% têm etiologia diversa.

Impacto na Vida do Paciente

• A úlcera de perna afeta a vida do portador em todos os aspetos: social, económico, emocional, espiritual e físico.

Úlcera de Perna de Etiologia Venosa

• O sistema venoso é responsável pela drenagem do sangue venoso das extremidades em sentido ascendente e unidirecional.
• É composto por veias superficiais, veias profundas e veias comunicantes, com válvulas unidirecionais.
• A perda da função valvular resulta em diferentes graus de insuficiência venosa.
• A composição venosa e arterial difere: as veias têm menos fibras elásticas e musculares que as artérias, podem contrair-se e ajustar-se ao fluxo sanguíneo, possuem uma fina camada íntima e a "bomba gemelar" atua como um “coração periférico", responsável pela drenagem venosa em sentido ascendente.

Insuficiência Venosa Crónica (IVC)

• Causada por falência valvular e/ou fenómenos pós-trombóticos.
• Conduz a hipertensão venosa, aumenta a permeabilidade vascular e a perda de fluidos para o espaço intersticial, originando alterações cutâneas que levam à ulceração.
• Classificação da IVC segundo a sua severidade (CEAP):
  • Classe 0: Sem sinais visíveis/palpáveis de doença venosa.
  • Classe 1: Telangiectasias/veias reticulares.
  • Classe 2: Veias varicosas.
  • Classe 3: Edema.
  • Classe 4: Alterações da pele (hiperpigmentação/lipodermatosclerose).
  • Classe 5: Classe 4 com úlcera cicatrizada.
  • Classe 6: Classe 4 com úlcera ativa.

Úlcera de Perna de Etiologia Arterial

• O sistema arterial é responsável pela oxigenação e irrigação celular.
• A DAOP (Doença Arterial Periférica ) é o principal fator de risco.
• A DAOP leva a uma redução do fluxo sanguíneo para os membros inferiores.
• Classificação da DAOP:
  • Estádio I: Assimptomático/ presença de sopro.
  • Estádio II: Claudicação.
  • Estádio II A: Claudicação com distâncias > 150 m.
  • Estádio II B: Claudicação com distâncias < 150 m.
  • Estádio III: Dor em repouso (predomínio noturno que melhora com MI’s pendentes).
  • Estádio IV: Transtornos tróficos e gangrena (úlceras).

Úlcera de Perna de Etiologia Mista

• Causada por doença arterial e venosa.

Diagnóstico Diferencial

• Estabelecer a etiologia da úlcera de perna para direcionar a abordagem terapêutica.
• Anamnese (antecedentes pessoais e familiares).
• Exame físico (exposição total dos MI’s), com caracterização da ferida.
• Exames Complementares (RM, TC, ultrassonografia, angiografia percutânea, Eco-Doppler dos MI’s, IPTB).

Úlcera Venosa vs. Úlcera Arterial

• A história clínica, sinais clínicos, IPTB e pulsos são importantes na diferenciação das úlceras.

Terapia Compressiva

• Reduz o calibre das veias superficiais e profundas, favorecendo o retorno venoso.
• Reduz o edema.
• Potencia o efeito da "bomba muscular".
• Reduz a sintomatologia de disfunção venosa (dor, sensação de peso).
• Baseia-se no Princípio da Lei de Laplace (P= T/R).

Métodos de Terapia Compressiva

• Ligaduras
• Meias
• Compressão Pneumática Intermitente

Tratamento Local das Úlceras de Perna

• Feridas crónicas cicatrizam por segunda intenção: processo cicatricial prolongado e dificultado.
• O "TIME" (Tecido do leito da ferida, Infecção/Inflamação, Exsudado, Bordos da ferida).
• Apósito Ideal:
  • Hidrocolóide.
  • Alginato.
  • Hidrogel.
  • Hidrofibra.
  • Prata.
  • Espumas.
  • Mel.
  • Carvão.

Avaliação Nutricional

• Idosos são suscetíveis a alterações nutricionais.
• Recomenda-se dieta rica em proteínas, lípidos, hidratos de carbono, vitaminas A, B, C, D e iões Ferro, Zinco, cobre, manganês e selénio.
• A desnutrição calórico-proteica é um problema.

Considerações Finais

• A prevalência das úlceras de perna é um problema grave, com alto potencial de recidiva, cronicidade e morbilidade.
• O diagnóstico diferencial é fundamental para um tratamento dirigido, atempado e eficaz.
• As boas práticas no tratamento de feridas devem ser divulgadas, aprendidas, praticadas e construídas!

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