Tratamento de Feridas: História e Avaliação

Tratamento de Feridas: História e Objetivos

• Os primeiros tratamentos para feridas, datados de 3000-2500 a.C., usavam mel, graxa, fios de linho, excremento e vinho.
• Os objetivos do tratamento de feridas são proteção, prevenção de contaminação e promoção de um ambiente ideal para a cicatrização.

Avaliação Global do Utente

• A avaliação global do utente inclui um histórico médico e social completo, exame clínico, avaliação vascular, exames laboratoriais e imagiológicos.
• É importante avaliar o estado nutricional, a dor relacionada com a ferida, o risco de desenvolver novas feridas, a saúde mental, o comportamento, a capacidade cognitiva, os sistemas de apoio social e financeiro, a capacidade funcional, mobilidade e postura.
• É fundamental verificar a necessidade de ajudas técnicas, conhecimento acerca da prevenção e tratamento de feridas, capacidade de aderir ao plano de prevenção e tratamento.

Avaliação e Caracterização da Ferida

• A avaliação da ferida engloba a etiologia, localização, dimensões, existência de locas, fístulas e trajetos fistulosos, exsudato, odor, dor, tipo de tecido, bordos da ferida e pele peri-lesional.
• Deve ser observada a presença de sinais de colonização crítica ou infeção.
• O diagnóstico diferencial entre lesão por pressão e lesão por humidade é fundamental para a escolha do tratamento.

Diagnóstico Diferencial: Lesão por Pressão vs Lesão por Humidade

• Lesão por Pressão: Lesão limitada a um ponto, feridas circulares ou com forma regular, lesões profundas com necrose, bordos distintos.
• Lesão por Humidade: Pontos superficiais e difusos, formas irregulares, lesões superficiais sem necrose, bordos difusos e irregulares.

Limpeza da Ferida

• Os objetivos da limpeza da ferida são: remoção de detritos, redução da carga bacteriana, favorecer a cicatrização e permitir uma melhor visualização e avaliação.
• As técnicas de limpeza incluem: mecânica (esfregar com compressa), irrigação (baixa ou alta pressão), imersão e chuveiro.
• Solutos utilizados: soro fisiológico, lactato de Ringer, água potável.
• O uso de surfactantes ou soluções antimicrobianas é recomendado em feridas com detritos, infeção confirmada, suspeita de infeção ou colonização crítica.

Evitar Soluções Antisséticas Citotóxicas

• Soluções como a de hipoclorito, iodopovidona, peróxido de hidrogénio e clorexidina podem ser citotóxicas e devem ser evitadas.
• Soluções não tóxicas, não sensibilizantes e não alcoólicas, como a de polihexamida, hiperoxidada e outras, são preferíveis.

Limpeza de feridas

• Evite o uso de soluções antissépticas citotóxicas como hipoclorito, iodopovidona, peróxido de hidrogénio e clorexidina.
• Soluções antissépticas ideais devem ser não tóxicas, não sensibilizantes e não alcoólicas, como a Polihexamida, Hiperoxidada e Octenidina.
• A temperatura da solução de limpeza deve estar próxima à temperatura corporal (37ºC) para evitar atrasos no processo de cicatrização.
• Existem diferentes tipos de desbridamento para remover tecido necrótico: cirúrgico, autolítico, químico/enzimático, mecânico e biológico.

Cuidados à pele perilesional

• A pele circundante íntegra facilita a epitelização e encerramento da ferida.
• Alterações como maceração, eritema, edema, eczema ou celulite impedem a cicatrização.
• O diagnóstico e tratamento de alterações na pele perilesional são importantes para o processo de cicatrização.

Penso ideal

• O penso ideal deve proporcionar um ambiente húmido, remover o excesso de exsudado, permitir trocas gasosas, manter a temperatura ideal e proteger o leito da ferida de microorganismos e contaminantes.
• Ele também deve ser fácil de usar, manter a integridade da pele circundante, atender às preferências do paciente e ser custo-efetivo.

Selecção do penso

• A escolha do penso depende da localização da ferida, quantidade de exsudado, profundidade, fase da cicatrização, acesso a recursos e preferências do paciente.
• Parâmetros como a absorção, propriedades adesivas, retenção da humidade, oclusão, permeabilidade, frequência da mudança do penso, fácil de usar, segurança, eficácia e custo-efetividade devem ser considerados.

Opções Terapêuticas

• Controlo do odor: carvão.
• Controlo do exsudado: alginatos, carboximetilcelulose, espumas.
• Controlo da infecção: polihexanida, prata, iodo, mel.
• Desbridamento: colagenase, hidrogel, poliacrilato impregnado.
• Granulantes/Epitelizantes: hidrocolóides, películas.
• Interfaces: gazes impregnadas, silicones.
• Promotores da cicatrização: ácido hialurónico, colagénio.

Colagenase

• Composição: pomada constituída por colagenase clostridiopeptidase e outras peptidases.
• Mecanismo de ação: desbridamento enzimático que quebra as fibras de colagénio do tecido necrótico.
• Indicações:
  • desbridamento enzimático de tecido desvitalizado,
  • queimaduras de 1º e 2º grau.
• Necessita uso conjunto com hidrogel para manter a humidade.

Hidrogel

• Mecanismo de ação: absorvem e retêm o exsudado, diminuindo o risco de maceração.
• Mantêm o ambiente húmido.

Espumas de poliuretano

• Indicações: feridas exsudativas, feridas em granulação e epitelização, feridas cavitárias.
• Frequência de tratamento: até 7 dias.

Pasta de alginato de prata

• Composição: pasta composta por alginato de prata iónica.
• Mecanismo de ação: libera prata iónica ativa ao absorver o exsudado.
• Indicações: feridas infetadas ou em risco de infecção, feridas de pé diabético, queimaduras de 2º grau.

Pensos impregnados com PHMB

• Composição: PHMB, substância sintética com estrutura semelhante aos péptidos antimicrobianos.
• Mecanismo de ação: atinge os fosfolípidos da membrana celular dos microrganismos, induzindo a sua inviabilidade.
• Indicações: feridas infetadas ou criticamente colonizadas.

Pensos com mel

• Composição: mel filtrado e tratado com radiações gama.
• Apresentações: gel, apósitos com e sem rebordo, pasta.

Películas

• Composição: fina camada transparente de poliuretano simples, silicone ou hidrocolóide.
• Mecanismo de ação: formam um filme semipermeável que permite a troca de gases e evita contato com fluidos e bactérias.
• Indicações:
  • penso primário na fase final da granulação, flictenas, fase de epitelização, proteção da pele contra a fricção,
  • penso secundário para fixar outros pensos.

Gazes impregnadas

• Composição: fibras impregnadas com parafina, vaselina ou petrolato.
• Mecanismo de ação: propriedades hidrofóbicas que facilitam a remoção do penso preservando o tecido de granulação.

Pensos de silicone

• Composição: materiais ou fibras hidrofóbicas em silicone.
• Mecanismo de ação: propriedades hidrofóbicas que facilitam a remoção do penso preservando o tecido de granulação.

Colagénio

• Composição: proteína estrutural dos tecidos.
• Mecanismo de ação:
  • inativa as metaloproteases,
  • protege os fatores de crescimento,
  • aumenta a proliferação tecidular,
  • tem capacidade hemostática.

Ácido hialurónico

• Composição: éster de ácido hialurónico.
• Mecanismo de ação:
  • acelera a angiogénese,
  • reativa o tecido de granulação,
  • modula a resposta inflamatória,
  • promove um ambiente húmido.