Modo de Produção Fordista e Crise

O Modo de Produção Fordista e a Crise do Fordismo

• O modo de produção fordista está relacionado ao trabalho no capitalismo industrial, ao modelo fordista e à crise do fordismo.

O Trabalho no Capitalismo Industrial

• O trabalho no capitalismo industrial é marcado pelo operariado industrial, pela gestão científica do trabalho, produção em massa e organização burocrática.

Operariado Industrial

• Na sociedade pré-industrial, comerciantes e artesãos geralmente trabalhavam sem horários fixos, com flexibilidade nos horários de abertura e fechamento dos estabelecimentos e duração dos almoços.
• Com a industrialização, os trabalhadores passaram a ser tratados como mercadorias, sujeitos a horários rígidos impostos pelo relógio nas fábricas, com jornadas de 10 a 12 horas, seis dias por semana.
• A maioria da população era de origem rural, desacostumada aos ritmos e motivações do trabalho industrial, dificultando a implementação de rotinas temporais e jornadas de trabalho.
• A supervisão apertada surgiu para garantir o cumprimento das tarefas no ritmo exigido, e as fábricas permitiram confinar os trabalhadores em espaços definidos, facilitando a vigilância.
• O elemento mais característico do capitalismo industrial é a fábrica, marcada pela divisão do trabalho especializada e pelo uso de novas formas de energia e matérias-primas.
• Ocorre uma divisão acentuada entre o espaço de trabalho, concentrando trabalhadores, e o espaço doméstico, junto com a emergência da classe trabalhadora industrial.
• O modelo de produção industrial causou uma grande disrupção na vida cotidiana, com a regulação cronométrica do trabalho por meio de relógios e remuneração por peça, além da separação entre o tempo do trabalhador e o tempo do empregador.
• Os valores morais do protestantismo, como autodisciplina e uso produtivo do tempo, também influenciaram essa mudança.
• A separação entre o espaço de trabalho e o doméstico levou à divisão da esfera cultural, com papéis de trabalho/casa, público/privado, sustentento da casa/dona de casa, trabalhador/pai.
• A invisibilidade relativa das mulheres no trabalho industrial reforçou a separação e promoveu uma visão de casa e trabalho baseada no gênero.

Gestão Científica do Trabalho

• A gestão científica do trabalho foca na monitorização, cronometragem e otimização de tarefas por meio de estudos de tempo e movimento, decompondo tarefas em elementos básicos e medindo o tempo necessário para cada um.
• As práticas de resistência dos trabalhadores, como a redução acordada do ritmo de trabalho (soldiering), foram respondidas com a gestão científica, que visa controlar o trabalho por meio de chefias intermédias e engenheiros de produção, estabelecendo uma distinção entre trabalhadores administrativos (white collar) e operários (blue collar).

Produção em Massa

• A produção em massa é caracterizada pela padronização e escala.
• O aumento da produção com a industrialização no final do século XIX e início do século XX foi acompanhado por maior procura por produtos e mão de obra.
• A linha de produção organiza a mão de obra sequencialmente, decompondo tarefas complexas em simples.
• Em 1913, a Ford Motor Company introduziu a linha de montagem móvel para produzir o Ford Modelo T.
• A linha de montagem revolucionou a fabricação de automóveis e o trabalho dos operários.
• A linha de produção reduziu os custos e o preço dos automóveis, tornando-os mais acessíveis.

Classe Operária Industrial

• A gestão científica, a produção em massa e a emergência da classe operária industrial estavam interligados.
• As relações de trabalho eram fortemente hierárquicas, com uma organização vertical das funções.
• A autoridade dos capatazes foi substituída pela dos gestores e engenheiros, formando uma rede racionalizadora de expertise e autoridade.
• Buscou-se incentivar a permanência dos trabalhadores, embora a rotatividade fosse alta.

Organização Burocrática

• Racionalização
• Impessoalização
• Uso extensivo de registos escritos
• Divisão do trabalho

Fordismo: Trabalho, Organização e Sociedade

• O conceito de fordismo é utilizado desde a década de 1920, inclusive por Henry Ford, possuindo vários significados.

Fordismo

• O fordismo é um tipo distinto de processo de trabalho, caracterizado pela divisão do trabalho, longas cadeias de produção e produtos padronizados.
• O fordismo é um modo de regulação, que envolve normas, instituições, formas organizacionais e redes sociais, orientando o regime de acumulação e gestão de conflitos.
• O fordismo é um tipo de regime macroeconómico de acumulação, que se baseia num ciclo virtuoso de crescimento, produção e consumo massificados.
• O fordismo é um modo de societalização, com repercussões em várias ordens institucionais, incluindo políticas e culturais.

Fordismo – Processo de Trabalho

• Produção em massa
• Produtos padronizados
• Divisão técnica de tipo taylorista
• Ritmo mecanizado através de linha de montagem móvel
• Produção ininterrupta
• Economias de escala
• Força de trabalho semiqualificada (linha de montagem) e não qualificada
• Produção integrada: matérias primas → marketing
• Divisão regional ou nacional

Fordismo – Regime de Acumulação

• O regime de acumulação no fordismo é impulsionado pela produtividade baseada em economias de escala, levando a maiores salários, procura, lucros e investimentos.
• Nem todas as áreas da economia precisam ser fordistas, mas os setores mais importantes devem ser.
• Ajustes entre vários departamentos

Fordismo – Modo de Regulação

• As relações laborais no fordismo são centradas nos trabalhadores semi-qualificados, com reconhecimento dos sindicatos e negociação coletiva.
• Os sindicatos não interferem no controlo do processo de trabalho ou na estratégia empresarial.
• Os salários são indexados ao crescimento da produtividade, com inércia nos cortes.
• A legislação estende o aumento de salários aos setores não fordistas para manter a procura.
• O Estado Providência, baseado na taxação progressiva, permite a generalização do consumo massificado.
• A empresa fordista é em larga escala, com múltiplas divisões e orientada para o mercado
• Separação entre gestão e propriedade
• Planeamento a longo prazo (direção centralizada)
• Rendas tecnológicas
• Competição monopolista (preço = custo + markup).
• Há uma ligação entre oferta e procura no fordismo.
• O papel importante da publicidade e do retalho massificados, bem como pesquisa de mercado
• Papel dos mass media na difusão de normas de consumo massificado
• Papel do design na differenciação marginal (p.ex mudanças anuais)
• Gestão da moeda a nível nacional
• Crédito concedido por um sistema bancário hierárquico e controlado por um banco central
• Expansão empresarial baseada no crédito bancário e reinvestimento de lucros
• Crédito permite capacidade de aquisição de habitação e outros bens duradouros
• Políticas estatais visam manter a procura agregada e o pleno emprego
• A política económica é focada num Estado Providência Keynesiano
• Gestão da procura agregada:
• Para compensar os elevados custos de investimento (utilização perto da capacidade total)
• Para manter os elevados custos em I&D

Fordismo – Modo de Societalização

• Há um consumo de normas de consumo: Consumo de produtos massificados na base da família nuclear
• Provisão de serviços por parte de um estado burocrático
• Em termos de Ocupação do território:
• Crescimento de regiões industriais
• Suburbanização (EUA) e renovação de alta densidade (Europa)
• Representação cultural da vida quotidiana centrada na família nuclear
• Em termos de Dimensão política:
• Consenso transpartidário relativo ao Estado Providência

O Fordismo Nunca Existiu?

• A maior parte das análises sobre o fordismo centram no caso americano e em menor grau no caso europeu.
• Resta saber se o resto do mundo também era fordista
• O trabalho no período industrial incluia muito mais do que o operariado industrial semiqualificado e os engenheiros que controlavam a produção
• O padrão de consumo massificado existia ao mesmo tempo em que largos setores da população eram excluídos quer do acesso a bens de consumo, quer a serviços por parte do Estado

Crise do Fordismo

• Fatores endógenos e exógenos
• Mudança institucional
• Os limites do modelo fordista incluem:
• Queda da produção industrial e aumento do desemprego nos setores económicos tipicamente fordistas (produção automóvel)
• Queda dos ganhos de produtividade
• Sistema monopolista de preços compensou inicialmente a perda nos lucros mas levou a um aumento dos preços e salários
• Aumento do endividamento empresarial e aumento dos custos financeiros
• Crise de 1929 - sobreprodução
• Crise do final de 1960 – quebra da rentabilidade
• Houve uma mudança cultura nos padrões de consumo, entre eles:
• Individualização
• Exigência de produtos de maior qualidade
• Exigência de maior diversidade de produtos
• Descontentamento relativamente à estandardização dos serviços públicos
• Há também uma Interdependência dos mercados nacionais
• Crise de 1973: Países árabes exportadores de petróleo decidem um embargo contra os países apoiantes de Israel
• Espiral inflacionista e intervenção de resposta assente nos cortes salariais e limitação do crédito
• Depressão da procura mundial em 1974 com recuperação em 1975
• O modelo fordista é adotado em vários países em processo de industrialização na década de 1970
• Na ausência de procura interna massificado a produção nesses países orientada para o mercado internacional e assente no crédito obtido junto dos países industrializados.
• Há uma Estagflação nos países do norte – baixo crescimento e elevada
• Procura por outras fontes de aumento de produtividade – modelo japonês
• Mudança institucional:
• Gestão política da crise:
• Redução da despesa do Estado
• Cortes no crédito
• Gestão empresarial da crise:
• Cortes nos custos do trabalho
• Venda de negócios periféricos
• Gestão internacional da crise:
• Suspensão de pagamentos de dívida por parte de alguns países em vias de industrialização
• Quebra do círculo virtuoso fordista:
• níveis elevados da procura
• investimentos capital intensivos
• ganhos de produtividade assentes em economias de escala