Exame Intrabucal: Exame Oclusal PDF
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Este documento descreve o exame intrabucal, incluindo os detalhes da oclusão e os fatores que a influenciam. Discutem-se também a importância de avaliar o alinhamento dentário intra e interarcada, além de casos clínicos para exemplificar esses conceitos.
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Seção 4.2 Exame intrabucal: exame oclusal Diálogo aberto Caro aluno, agora você estará em contato com mais uma área da oclusão. Entre os diversos fatores locais e sistêmicos com potencial para influenciar a progressão da periodontite, a oclusão do paciente permanece como uma variável que requer...
Seção 4.2 Exame intrabucal: exame oclusal Diálogo aberto Caro aluno, agora você estará em contato com mais uma área da oclusão. Entre os diversos fatores locais e sistêmicos com potencial para influenciar a progressão da periodontite, a oclusão do paciente permanece como uma variável que requer um diagnóstico preciso. Todas as disciplinas da Odontologia incluem uma abrangente análise das relações oclusais, sendo essencial para a determinação dos cuidados apropriados. A questão é que é uma área de muitos detalhes e conceitos que requerem atenção para se obter o seu completo entendimento. Vamos iniciar agora mais um caso clínico que vai abordar os conceitos importantes na relação intra e inter-arcadas. Esse conteúdo será importante também para o desenvolvimento da próxima seção, que trata do trauma oclusal e sua relação com a periodontia. O Sr. José Gonçalves compareceu na faculdade de Odontologia Pitágoras para realizar tratamento odontológico. Tão logo chegou um aluno que cordialmente se propôs a atendê-lo. Após a realização da anamnese, o aluno precisou preencher o odontograma e periograma para registrar as condições dos dentes, bem como o periodonto de suporte para referenciar à clínica especializada. Além disso, o aluno observou que o paciente apresentava um dente com mobilidade e fora de posição na arcada. O exame clínico mostrou presença de restaurações nos elementos 24 (Ocluso- distal -OD), 13 (Mesial - M) e 47(Oclusal – O), cárie nos elementos 36 (Ocluso-Vestibular - OV) e 41 (Mesio-Distal, MD) e o elemento 46 apresentava exposição pulpar e necessidade de tratamento endodôntico. O exame clínico de sondagem periodontal mostrou presença de profundidade de sondagem 6mm no 16 (face MV e Mesio-Palatina, MP), de 4 mm no 26 (Disto-Vestibluar, DV e Disto- palatina, DP) e de 5mm 23 (Vestibular, V), todos com sangramento à sondagem. Considerando o fato de que o paciente possui dentes fora de posição, quais variáveis são importantes ao se realizar o 160 U4 - Exame intrabucal exame oclusal? Para ajudar o aluno a resolver o caso do paciente você precisará estudar com atenção os conteúdos desta seção: a Topografia dentária: fatores oclusais que interferem na posição dental, e relações dentárias interarcada. Não pode faltar As demandas funcionais da oclusão podem estar dentro dos limites ou exceder a tolerância e a adaptabilidade do periodonto e do sistema mastigatório. Toda a gama de conhecimento e habilidade para analisar os aspectos da anatomia e da função oclusal está além do alcance deste texto. Sabe-se que, com o aumento significativo do conhecimento sobre a resposta inflamatória modulada pelo hospedeiro a um biofilme bacteriano patogênico, a susceptibilidade de cada indivíduo parece ser tão específica que ela é realmente a sua única referência na interpretação dos possíveis fatores que contribuem para a perda progressiva do tecido de suporte. Além disso, observamos que eventos destrutivos podem ser episódicos e são claramente sítio-específicos. Nossa responsabilidade diagnóstica inclui a avaliação cuidadosa das estruturas periodontais em toda a circunferência de cada dente, a precisa documentação e a oportuna reavaliação. A destruição periodontal que ocorre rapidamente ou que é excessiva para a idade de uma pessoa deveria levar o clínico a investigar qualquer variável que pudesse aumentar a progressão da periodontite daquele paciente. Se um fator local, como a oclusão, pode influenciar o curso da doença, então sua análise deve ser tão precisa como qualquer outro aspecto do exame periodontal (NEWMAN e CaRRANZA, 2016). A identificação de desarmonias do sistema mastigatório se inicia com a apreciação da normalidade fisiológica, permitindo ao clínico reconhecer a relação disfuncional, o que pode influenciar a acurácia do diagnóstico. Pesquise mais Excelentes fontes literárias que discorrem sobre anatomia e a função dental incluem textos de Wheeler e de Okeson (2013), disponíveis na biblioteca virtual: ;. Acesso em: 19 set. 2018. U4 - Exame intrabucal 161 Fatores oclusais que interferem na posição dental I e II: A posição dos dentes na arcada dentária e o seu relacionamento com os dentes antagonistas quando estão em oclusão são muito importantes para a fala, mastigação e deglutição. A posição dos dentes no arco é determinada por: fatores controladores, como, largura e tamanho do arco, e forças controladoras, como as provenientes dos tecidos moles circundantes, que determinam as posições dos dentes. Os lábios e as bochechas, por exemplo, que ficam à vestibular dos dentes, produzem forças no sentido lingual relativamente leves, porém, constantes. Do outro lado, está a língua, que produz forças vestibulares sobre a superfície lingual dos dentes. Ambas as forças, seja na face vestibular (lábios e bochechas) ou na face lingual (língua), são leves, porém constantes, e ainda assim podem mover os dentes nas arcadas dentárias em qualquer momento. Por fim, haverá uma posição que o dente vai assumir que será um local de equilíbrio entre as forças vestíbulo-linguais e buco- linguais, chamada de posição ou espaço neutro (OKESON, 2013). Exemplificando Se durante o processo eruptivo o dente assume uma posição acentuada para lingual ou vestibular, a força dominante (língua, se em línguo-versão, lábios e bochechas, se em vestíbulo-versão) levará aquele dente para a posição neutra. Figura 4.14 | Quando as forças linguais estão em equilíbrio com as forças vestibulares (lábios e bochechas), o dente assume a posição representada ao lado, que existe para os dentes anteriores e posteriores Fonte: Okeson, (2013, p.48). 162 U4 - Exame intrabucal Na ausência de um espaço adequado, as forças musculares circundantes não são suficientes para que o dente assuma um alinhamento correto na arcada, e assim ocorre o apinhamento. Se a língua for muito ativa ou grande, a aplicação de forças será mais forte na face lingual dos dentes quando comparada com a força que o lábio exerce na face vestibular, deslocando o espaço neutro para vestibular. Assim, os dentes anteriores se abrem na direção vestibular até atingirem uma posição em que as forças vestibulares e linguais estejam novamente em equilíbrio. Esse quadro clinico é definido como mordida aberta anterior. Em relação às superfícies proximais, os dentes também estão sujeitos a vários tipos de forças, e o contato proximal entre os dentes adjacentes desempenha um papel importante no alinhamento normal. O deslocamento mesial dos dentes em direção à linha média, por exemplo, resulta de uma resposta funcional das fibras gengivais e osso alveolar que circundam os dentes. Quando esse contato proximal é perdido, o dente posterior ao espaço edêntulo desloca-se para mesial (especialmente em molares), inclinando-se em direção a esse espaço. A estabilidade do dente na arcada dentária também está associada a um outro fator importante: o contato oclusal, que não permite a extrusão ou a sobre-erupção dos dentes. No caso de perda ou alteração de parte da superfície oclusal do dente, o dente poderá movimentar-se devido à dinâmica das estruturas de suporte periodontais. Assim, dentes antagonistas provavelmente sofrerão extrusão além do normal até que o contato oclusal seja restabelecido. Portanto, quando um dente é perdido, o dente distal ao espaço poderá se mover para mesial e o antagonista poderá extruir na tentativa de contato oclusal. Figura 4.15 | A perda de um único dente pode ter efeitos significantes na estabilidade de ambos os arcos. Observe que com a perda do primeiro molar inferior, o segundo e o terceiro molares inferiores se inclinam mesialmente, o segundo pré-molar move-se para a distal e o primeiro molar superior antagônico é deslocado para baixo (supererupcionado) Fonte: Okeson (2013, p. 49). U4 - Exame intrabucal 163 Reflita Caro aluno, se um paciente comparecer querendo fazer a exodontia de um elemento dentário passível de recuperação, você conseguiria explicar a importância da manutenção deste elemento na cavidade bucal considerando apenas os aspectos oclusais envolvidos na perda de um único elemento dentário? Alinhamento dentário Intra-arcada e interarcada I e II: O alinhamento dentário intra-arco é definido como o relacionamento dos dentes entre si dentro do arco dentário. O plano de oclusão é o plano que seria estabelecido ao traçar uma linha em todas as pontas das cúspides vestibulares e bordas incisais dos dentes inferiores, abrindo-se em um plano para incluir as pontas de cúspides linguais e estender-se através do arco para incluir as pontas das cúspides vestibular e lingual do lado oposto. Ao observarmos atentamente o plano oclusal, vemos que ele não é plano. Isso é explicado pelo fato dos movimentos das duas articulações temporomandibulares raramente serem simultâneos e idênticos. Na maior parte dos movimentos mandibulares, os quais geralmente são complexos, os centros de rotação tendem a se deslocar constantemente, e caso o plano oclusal fosse reto, não haveria possibilidade de contato funcional simultâneo em mais de uma região da arcada dentária. Assim sendo, os planos oclusais dos arcos dentários são curvados para viabilizar a máxima utilização dos contatos dentários durante a função. Sob uma vista lateral, pode-se visualizar o relacionamento axial mesiodistal dos arcos dentários. Ao traçar linhas através do longo eixo das raízes, de apical para coronal, pode-se observar (Figuras 4.16, 4.17, 4.18 e 4.19) a inclinação apresentada pelos dentes em relação ao osso alveolar. 164 U4 - Exame intrabucal Figura 4.16 | Angulação dos dentes inferiores. Observe a inclinação para mesial dos dentes anteriores e posteriores DENTES UNIRRADICULARES Incisivos Caninos Pré-molares MOLARES INFERIORES Raizes mesiais Raizes distais Fonte: Okeson (2013, p. 50). Figura 4.17 | Inclinação dos dentes superiores. Os dentes anteriores estão inclinados para mesial enquanto os dentes mais posteriores estão mais angulados para a distal em relação ao osso alveolar DENTES UNIRRADICULARES Incisivos Caninos Pré-molares PRIMEIRO PRÉ-MOLAR Raizes vestibulares Raizes palatinas MOLARES SUPERIORES Raizes mesiovestibulares Raizes distovestibulares Raizes palatinas Fonte: Okeson (2013, p. 51). Figura 4.18 | Angulação dos dentes superiores. Observe que todos os dentes posteriores estão ligeiramente inclinados para vestibular DENTES UNIRRADICULARES Incisivos Caninos Pré-molares PRIMEIRO PRÉ-MOLAR Raizes vestibulares Raizes palatinas MOLARES SUPERIORES Raizes mesiovestibulares Raizes distovestibulares Raizes palatinas Fonte: Okeson (2013, p. 51). U4 - Exame intrabucal 165 Figura 4.19 | Angulação dos dentes inferiores. Observe que todos os dentes posteriores estão ligeiramente inclinados para a lingual DENTES UNIRRADICULARES Incisivos Caninos Pré-molares MOLARES INFERIORES Raizes mesiais Raizes distais Fonte: Okeson (2013, p. 52). Se ao observarmos os arcos dentários sob uma vista lateral e traçarmos uma linha imaginária através das pontas de cúspides vestibulares dos dentes posteriores (molares e pré-molares), será formada, ao longo do plano oclusal, uma linha curva (Figura 4.20, A), côncava na arcada inferior e convexa no arco superior. Quando os arcos ocluem, essas linhas se encaixam perfeitamente. Essa curvatura é chamada de curva de Spee. Figura 4.20 A | curva de Spee; Figura 4.20 B | curva de Wilson A B Fonte: Okeson (2013, p. 50). Quando observados frontalmente, o relacionamento axial vestibulo-lingual dos arcos dentários assume uma configuração. No arco superior, os dentes posteriores têm uma inclinação levemente vestibular (Figura 4.18), ao contrário da arcada inferior, em que os elementos dentários posteriores têm uma inclinação ligeiramente lingual (Figura 4.19). Um plano oclusal curvo pode ser observado ao traçar uma linha através das pontas das cúspides vestibulares e linguais de ambos os lados dos dentes posteriores, sendo chamado de curva de Wilson (Figura 4.20 B). 166 U4 - Exame intrabucal Alinhamento dentário interarcada: Esse tipo de alinhamento é definido pelos relacionamentos de um arco com seu respectivo arco antagonista. O comprimento do arco é entendido como a distância de uma linha traçada a partir da superfície distal do terceiro molar, estende-se em direção mesial sobre todas as áreas de contato proximais do arco e termina na superfície distal do terceiro molar do lado oposto. A distância entre os lados opostos da arcada é chamada de largura do arco. Como os dentes superiores estão inclinados para vestibular (ou estão mais angulados para vestibular), é de se esperar que, em uma relação oclusal normal, os dentes posteriores e as cúspides vestibulares dos dentes inferiores ocluem nas áreas da fossa central dos dentes superiores. Logo, isso dificulta, durante a função mastigatória, a ocorrência de uma interposição da mucosa bucal da bochecha entre as cúspides vestibulares dos dentes superiores, do mesmo modo, a língua também tem sua interposição interrompida por conta das cúspides linguais dos dentes posteriores inferiores. Em algumas situações, por causa das diferenças no tamanho esquelético das arcadas superiores e inferiores ou do padrão de erupção, pode acontecer dos dentes ocluírem de tal modo que as cúspides vestibulares superiores toquem na fossa central dos elementos dentários inferiores. Essa relação é chamada de mordida cruzada. Figura 4.21 A | (lado esquerdo) – Relação vestíbulo-lingual normal entre os arcos. As cúspides vestibulares inferiores ocluem na fossa central dos dentes superiores e as cúspides palatinas ocluem na fossa central dos dentes inferiores. Figura 4.21 B | (lado direito) – Mordida Cruzada Posterior. Quando existe essa condição, as cúspides linguais inferiores ocluem na fossa central dos dentes superiores e as cúspides vestibulares superiores ocluem na fossa central dos dentes inferiores Fonte: Okeson (2013, p. 53). U4 - Exame intrabucal 167 Relação oclusal comum dos dentes posteriores: Classe I A relação de molar mais frequentemente encontrada, descrita primeiramente por Angle, foi chamada de relação de Classe I e apresenta as seguintes características (Okeson, 2013): 1. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior contata na área do nicho entre o segundo pré-molar superior e o primeiro molar. 2. cúspide mesio-vestibular do primeiro molar superior alinha-se diretamente sobre o sulco vestibular do primeiro molar inferior. 3. A cúspide mesio-lingual do primeiro molar superior contata a região da fossa cêntrica do primeiro molar inferior. Figura 4.22 | Relação molar Classe I. Acesso em: 19 set. 2018. Classe II: Em alguns casos, a discrepância entre os maxilares e o arco superior pode ser maior ou se projetar para anterior, ou a arcada inferior ser pequena ou posicionada posteriormente. Essas condições provocam um posicionamento do primeiro molar inferior distal em relação ao molar de Classe I, sendo denominado de relação molar de Classe II (Okeson, 2013). Com isso observa-se que: 1. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior contata a área da fossa cêntrica do primeiro molar superior. 2. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior alinha-se com o sulco vestibular do primeiro molar superior. 3. A cúspide disto-lingual do primeiro molar superior oclui na área da FC do primeiro molar inferior. 168 U4 - Exame intrabucal Figura 4.23 | Relação molar Classe II Fonte:. Acesso em: 19 set. 2018. Classe III: Por último, há a descrição de um outro tipo de relação molar, na qual há um maior crescimento da mandíbula em relação maxila, o que provoca a sua projeção para anterior. Essa condição é chamada de Classe III. Nessa relação, os molares inferiores estão posicionados mesialmente em relação aos molares superiores, conforme a Classe I (Okeson, 2013). As características da Classe III são: 1. A cúspide disto-vestibular do primeiro molar inferior localiza- se na região entre o segundo pré-molar e o primeiro molar superior. 2. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar superior está localizada sobre o nicho entre o primeiro e o segundo molar inferior. 3. A cúspide mesio-lingual do primeiro molar superior está situada na fossa mesial do segundo molar inferior. Figura 4.24 | Relação molar Classe III Fonte:. Acesso em: 19 set. 2018. U4 - Exame intrabucal 169 Contatos Oclusais comuns dos dentes anteriores: Do mesmo modo que os dentes posteriores superiores, os dentes anteriores superiores normalmente se posicionam para vestibular em relação aos dentes anteriores inferiores. Quando vistos pela vestibular, 3 a 5 mm dos dentes anteriores inferiores estão cobertos pelos dentes anteriores superiores. Figura 4.25 | Normalmente os dentes anterossuperiores sobrepõem aos dentes anteriores inferiores em quase metade do comprimento de suas coroas Fonte: Okeson (2013, p. 58). Essa angulação para vestibular dos dentes anteriores sugere que eles apresentam uma função que difere daquela dos dentes posteriores. Conforme mencionado, a principal função dos dentes posteriores é auxiliar a triturar os alimentos na mastigação, além de manter a dimensão vertical de oclusão. Assim, os dentes posteriores estão posicionados para que sejam capazes de suportar as forças verticais intensas de fechamento, sem prejuízo aos dentes ou às estruturas de suporte. Assim sendo, numa oclusão normal, os contatos dos dentes anteriores em máxima intercuspidação habitual (MIH) são menos intensos do que os dos dentes posteriores, o que é importante para guiar a mandíbula durante o movimento de lateralidade, portanto, não são importantes para a manutenção da dimensão vertical de oclusão. Os contatos dentários anteriores que fornecem guia para a mandíbula são chamados de guia anterior. Outra função importante dos dentes anteriores é iniciar o ato da mastigação ao incisar o alimento. Além disso, eles são importantes para a fala, para o suporte labial e para a estética. 170 U4 - Exame intrabucal A sobreposição horizontal (trespasse horizontal) caracteriza-se pela distância horizontal na qual os dentes anteriores superiores se sobrepõem aos anteriores inferiores. Já a sobreposição vertical (trespasse vertical) corresponde à essa relação quando examinada pelo plano vertical. Em situações nas quais uma pessoa tem uma mandíbula subdesenvolvida (relação molar de Classe II), os dentes anteriores inferiores geralmente tocam o terço coronal da superfície palatina dos incisivos superiores. Essa condição é conhecida como mordida profunda (trespasse vertical profundo). Uma outra condição a ser examinada corresponde aos casos de trespasse vertical negativo ou mordida aberta anterior. Nesses casos, com os dentes posteriores em MIH, os dentes anteriores antagonistas não se sobrepõem ou mesmo não se contatam. Na relação de molar Classe II, o relacionamento entre os dentes anteriores deve ser observado. Se os incisivos centrais e laterais superiores estão posicionados com angulação vestibular normal, ela é classificada como uma divisão 1. Quando os incisivos superiores estão inclinados para a lingual, a relação anterior é classificada como Classe II, Divisão 2. Figura 4.26 | Relação molar Classe II, com relação de dentes anteriores na Divisão I (em A) e Divisão II (em B) Fonte:. Acesso em: 19 set. 2018. U4 - Exame intrabucal 171 Figura 4.27 | B, Classe I normal. C, Classe lI, divisão 1, mordida profunda. D, Classe lI, divisão 2. E, Classe III, topo a topo. F, Classe IlI. G, Mordida aberta anterior B C D E F G Fonte: Okeson (2013, p. 50). Contatos oclusais durante o movimento mandibular: Movimento Mandibular Protrusivo: esse movimento está presente ao mover a mandíbula para anterior a partir da posição de MIH. Numa relação de oclusão normal, os contatos protrusivos mais frequentes podem ser observados nos dentes anteriores entre as bordas incisais e vestibulares dos incisivos inferiores, contra as áreas da fossa palatina e bordas incisais dos incisivos superiores (Okeson, 2013). Movimento Mandibular Lateroprotrusivo: se a mandíbula for movimentada para lateral em relação aos dentes posteriores inferiores, os lados direito e esquerdo cruzam com seus antagonistas em diferentes direções. O termo contato de trabalho também é comumente usado para os contatos laterotrusivos. Durante um movimento lateral esquerdo, a maior parte das funções ocorre no lado esquerdo, e, assim sendo, o lado direito é chamado de lado de não trabalho (Okeson, 2013). 172 U4 - Exame intrabucal Movimento Mandibular Retrusivo: um movimento retrusivo ocorre quando a mandíbula se desloca posteriormente a partir da MIH. Em relação a outros movimentos, o movimento retrusivo é bem pequeno (1 a 2 mm). A seguir, alguns conceitos importantes para facilitar o entendimento da análise oclusal. Assimile Máxima Posição da mandíbula quando há máxima intercuspidação (MIH) interdigitação cuspídea e contatos oclusais entre dentes maxilares e mandibulares; também é chamada de oclusão cêntrica e posição inter- cuspídea. A relação cúspide-fossa ou cúspide- -crista marginal de dentes posteriores oferece resistência à carga vertical e estabilidade funcional à dentição dos pacientes. Quando as forças oclusais incidem paralelamente ao longo eixo dos dentes, o periodonto resiste e suporta melhor esse tipo de carga. Relação cêntrica (RC) Posição da mandíbula quando ambos os complexos côndilo-disco encontram-se em sua posição mais superior na fossa glenoide e contra a vertente posterior da eminência articular dos respectivos ossos temporais. Essa é uma relação estritamente esquelética até que o contato dental ocorra. Relação de Oclusão É uma relação maxilo-mandibular na qual são Cêntrica coincidentes a posição dentária (MIH) e a esquelética (RC). Contato inicial em O primeiro contato oclusal durante o arco de relação cêntrica fechamento em relação cêntrica. Movimento excursivo Qualquer movimento da mandíbula fora da máxima intercuspidação. Excursão lateral Movimento lateral da mandíbula para a direita ou para a esquerda a partir da máxima intercuspidação. Lado de trabalho O lado do arco dental correspondente ao lado da mandíbula que se move para longe da linha média durante a excursão lateral. Lado de balanceio O lado do arco dental correspondente ao lado do movimento da mandíbula em direção à linha média durante a excursão lateral. U4 - Exame intrabucal 173 Protrusão Movimento anterior da mandíbula a partir da máxima intercuspidação. Retrusão Movimento posterior da mandíbula em relação à posição mais anterior. Guia Padrão de contato dos dentes opostos durante os movimentos excursivos da mandíbula. Desoclusão Separação de determinados dentes causada pela guia exercida por outros dentes duran- te um movimento excursivo. Quando a guia anterior promove a separação dos dentes posteriores durante um movimento excursivo, a desoclusão posterior é alcançada. Interferência Qualquer contato oclusal durante o fechamento em relação cêntrica ou em qualquer movimento excursivo que impede as superfícies oclusais remanescentes de alcançar um contato estável ou de funcionar harmoniosamente e/ou que estimule a desarmonia do sistema mastigatório. Também é chamada de discrepância oclusal. Fonte: Newman e Fonseca (2016). Caro aluno, agora você aprendeu conceitos importantes da área de oclusão. Sem dúvida, é uma área de difícil compreensão, porém, essencial para o sucesso terapêutico de muitos casos na periodontia, portanto, é importante estar familiarizado com esses conceitos, a fim de que assimile melhor a próxima seção deste livro que trata do trauma oclusal. Sem medo de errar O Sr, José Gonçalves compareceu na faculdade de Odontologia Pitágoras para realizar tratamento odontológico. Tão logo que chegou, um aluno cordialmente se propôs a atendê-lo. Após a realização da anamnese, o aluno precisou preencher o odontograma e o periogram para registrar as condições dos dentes, bem como o periodonto de suporte para referenciar à clínica especializada. Além disso, o aluno observou que o paciente apresentava um dente com mobilidade e fora de posição na arcada. O exame clínico mostrou presença de restaurações nos elementos 24 (OD), 13 (M) e 47(O), cárie nos elementos 36 (OV) e 41 (MD) e o elemento 46 apresentava exposição pulpar e necessidade de tratamento endodôntico. O 174 U4 - Exame intrabucal exame clínico de sondagem periodontal mostrou presença de profundidade de sondagem 6mm no 16 (face MV e MP), de 4mm no 26 (DV e DP) e de 5mm 23 (V), todos com sangramento à sondagem. Considerando o fato de que o paciente possui dentes fora de posição, quais variáveis são importantes ao se realizar o exame oclusal? Pois bem, considerando as informações apresentadas nesta seção, é importante observar o tipo de relação molar (conforme a classificação de Angle) que o paciente apresenta; realizar os movimentos mandibulares e observar se há interferências de contato nos movimentos excursivos de lateralidade e protrusiva; observar se o paciente apresenta áreas edêntulas e os movimentos que os dentes vizinhos realizaram pela ausência de contato proximal. Esses deslocamentos também geram interferências oclusais. Avançando na prática Relação molar Classe II (Angle) Descrição da situação-problema Um aluno está diante da Aline Matos, uma paciente que compareceu ao ambulatório da Faculdade Pitágoras, e está avaliando o padrão oclusal dela. Ele observou que a arcada superior é maior ou se projeta anteriormente e que a cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior oclui na área da fossa cêntrica do primeiro molar superior. Os dentes superiores anteriores estão projetos para frente (vestibular). Considerando os critérios da Classificação de Angle, como a oclusão da Sra. Aline será classificada? Resolução da situação-problema Essa análise oclusal refere-se à Classe II de Angle, subdivisão I. U4 - Exame intrabucal 175 Faça valer a pena 1. O Sr. Davi Lucas, com 13 anos, compareceu ao consultório odontológico com queixa estética do mal posicionamento dos dentes na arcada. O cirurgião dentista ao realizar o exame oclusal, observou a seguinte relação oclusal: (Adaptado CONSULPLAN 2015). De acordo com a classificação de Angle, qual é a maloclusão apresentada pela figura? a) Classe I. b) Classe II, subdivisão I. c) Classe II, Subdivisão II. d) Classe III. e) Classe IV. 2. (FGV-2015) Considere a presença em determinado indivíduo de maloclusões em que a cúspide mesio-vestibular do 1o molar superior oclui mesialmente ao sulco mesio-vestibular do 1o molar inferior e apresenta inclinação vestibular dos incisivos superiores, resultando em grande sobressaliência. Segundo a classificação de Angle, são maloclusões da classe: Segundo a classificação de Angle, são maloclusões da classe: a) I. b) II, subdivisão 1. c) II, subdivisão 2. d) III. e) IV. 3. (CESPE-2017) Uma paciente do sexo feminino, de dezoito anos de idade, compareceu a clínica odontológica apresentando primeiro molar inferior em relação distal ao primeiro molar superior, no lado direito, e chave molar normal do lado esquerdo, com perfil facial levemente convexo, sem sobressaliência, com discreta lingualização dos incisivos. 176 U4 - Exame intrabucal Conforme a classificação de Angle, a má oclusão verificada no caso enquadra-se na classe: a) I. b) II, divisão 1. c) II, divisão 2, subdivisão direita. d) II, divisão 2, subdivisão esquerda. e) III. U4 - Exame intrabucal 177