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This document discusses the epidemiology of diabetes mellitus and the concept of diabetic foot. It provides information on the associated factors, complications, and diagnosis. The content is informative and relevant to diabetes care and treatment.

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EPIDEMIOLOGIA DO DIABETES MELLITUS Dentre as doenças crônicas, o DM é considerado uma das doenças que mais afeta o homem contemporâneo e que acomete populações de todo o mundo, independentemente de seu nível de desenvolvimento econômico e social. Requer educação permanente e estímulo a...

EPIDEMIOLOGIA DO DIABETES MELLITUS Dentre as doenças crônicas, o DM é considerado uma das doenças que mais afeta o homem contemporâneo e que acomete populações de todo o mundo, independentemente de seu nível de desenvolvimento econômico e social. Requer educação permanente e estímulo ao autocuidado para a prevenção de complicações agudas e redução dos riscos de complicações em longo prazo. Em 1985 estimavam-se existir 30 milhões de adultos diabéticos no mundo. Em 1995 foram 135 milhões, no ano de 2002 o número de diabéticos foi de 173 milhões e espera-se chegar ao total de 300 milhões no ano de 2025. Cerca de 2/3 desta população vivem em países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade, com crescente proporção em grupos etários mais jovens. Pé diabético CONCEITO O pé diabético é caracterizado por lesões ulcerativas que o paciente pode apresentar em seus pés, causadas pela neuropatia periférica dos membros e agravadas pelas alterações circulatórias decorrentes da micro e macroangiopatia (SPOLLETT, 1998; LEVIN; O’NEAL, 2001; FRYKBERG et al., 2006). Essas lesões, geralmente, apresentam contaminação por bactérias Gram-positiva (G+) nos tecidos superficiais e bactérias Gram-negativas (G-) nos tecidos profundos como Echerchia Coli, Pseudomonas aeruginosas, Proteus sp e Neisseria gonorrheae. Infecções extremamente invasivas e de caráter mionecrótico estão associadas às bactérias anaeróbicas como Clostridium perfrigens e Bacteroides fragilis, responsáveis por um quadro clínico de prognóstico reservado, amplamente relacionado à amputação dos membros ou segmentos acometidos (SANTOS; NASCIMENTO, 2003). Estima-se que 14 a 20% dos pacientes com úlceras nos pés são submetidos a uma amputação e que 85% das amputações são precedidas de úlceras. A neuropatia diabética é um dos fatores predisponentes mais comuns para o pé diabético e 5 a 7% dos pacientes com essa complicação apresentam lesões nos pés (BOULTON; PEDROSA, 2006; BREM et al., 2006). O diagnóstico do pé diabético é feito, principalmente, pelos sintomas da neuropatia; presença de deformidades, DVP (doença vascular periférica), limitação da mobilidade das articulações; pequenos traumas; história de ulceração ou amputação. O risco para o surgimento dos fatores de risco citados acima aumenta com a presença constante de hiperglicemia ao longo dos anos (CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO, 2001; FRITSCHI, 2001; MARGOLIS et al., 2005; BREM et al., 2006; JONES, 2006). pequenos cortes, favorecendo a colonização por fungos na pele região distal do pé onde as proeminências dos metatarsos, quando ulceradas, podem originar focos de infecção que são capazes de penetrar nas articulações falangianas levando a infecções locais e/ou osteomielite; e região medial do pé, local d desenvolvimento de calosidades e lesões por representar região de apoio (CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE O PÉ DIABÉTICO, 2001). NEUROPATIA DIABÉTICA A neuropatia diabética é definida como a presença de sinais e sintomas de disfunção dos nervos periféricos atribuída exclusivamente ao diabetes (BOULTON; PEDROSA, 2006). Os sintomas da neuropatia diabética incluem dores em queimação, pontadas, parestesia, sensações de frio e calor, hiperestesia, que tendem a uma exacerbação noturna. Os sinais incluem a redução da sensibilidade à dor, à vibração e à temperatura, hipotrofia dos pequenos músculos interósseos (dedos em garra e em martelo), anidrose e distensão das veias dorsais dos pés. A disfunção autonômica leva ao aumento dos shunts arteriovenosos, tornando o pé quente e insensível, identificado como pé em alto risco. As causas da neuropatia diabética periférica são multifatoriais e se relacionam com a hiperglicemia de longa duração e a isquemia das fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas. A hiperglicemia e a isquemia levam ao espessamento das paredes vasculares e obstrução do fluxo sanguíneo. Sua evolução pode ser reversível ou não (BOULTON; PEDROSA, Na neuropatia sensitiva ocorre diminuição ou ausência das sensibilidades tátil, térmica, pressão e propriocepção. A ausência desta última leva à perda dos reflexos tendinosos profundos. Na neuropatia sensorial o indivíduo perde a sensibilidade protetora para a percepção da dor ou pressão, expondo o pé a risco para o desenvolvimento de lesões em consequência de trauma repetitivo. A presença de objetos estranhos dentro dos calçados, calçados inadequados que deixam grande parte dos pés expostos e com dobras ou costuras internas escoriam a pele. A dor ou a sua ausência, dormência ou diminuição da sensibilidade postural podem resultar em alterações na marcha, que contribuem para a formação de calosidades. Os nervos motores controlam a contração muscular. Uma alteração em sua função pode resultar em atrofia e enfraquecimento da musculatura intrínseca dos pés, com consequente desequilíbrio da harmonia dos seus vários grupos musculares. Esse desequilíbrio leva a deformidades como dedos em garra e martelo (domínio dos músculos flexores sobre os extensores), pé em cavum (acentuada curvatura do pé) e pontos de pressão em algumas áreas dos pés (principalmente na cabeça dos metatarsos, região dorsal e plantar dos dedos dos pés) alterando o padrão normal da marcha. O processo de glicosilação não enzimática e maior deposição de produtos avançados de glicosilação tardia em fibras de colágeno, articulações e pele podem favorecer a limitação da mobilidade articular, sobretudo em região subtalar. A junção de deformidades nos pés, alterações no padrão de marcha e limitação da mobilidade articular resultam em alterações na biomecânica dos pés com o surgimento de altas pressões plantares. Como o trauma repetitivo não é percebido em razão da perda da sensibilidade protetora plantar e da perda da sensação de dor, surgem os calos que aumentam em até 30% a pressão local e funcionam como corpos estranhos. Se a remoção do calo não for efetuada, favorece o aparecimento de uma lesão na área de pressão, que geralmente, evolui com complicações infecciosas. Com o comprometimento das fibras autonômicas simpáticas ocorre a diminuição ou ausência total da secreção sudorípara (anidrose), tornando o pé seco e favorecendo a formação de fissuras e rachaduras que são porta de entrada para infecções oportunistas. A proteção natural e a integridade da pele tornam-se menos eficientes expondo o pé a risco para lesões mecânicas. Há também a perda do tecido subcutâneo, que embora não tenha claramente elucidada sua associação com a neuropatia autonômica, aumenta os pontos de pressão nos pés. Além disso, é observada a alteração do fluxo vascular nas plantas dos pés devido ao relaxamento dos shunts arteriais. A abertura desses shunts aumenta o fluxo sanguíneo para fora dos capilares nutrientes e para a superfície da pele, elevando a temperatura do pé. É importante destacar a neuroosteoartropatia, ou “pé de Charcot,” que é uma afecção osteoarticular causada pelo grau máximo de dano neuropático. Até então, acredita-se que o aumento do fluxo sanguíneo através das comunicações arteriovenosas promovia um aumento da reabsorção óssea com consequente fragilidade do tecido ósseo. Essa fragilidade associada à perda da sensação dolorosa e a traumas sucessivos levavam a múltiplas fraturas e deslocamentos ósseos, luxações e sub-luxações, que comprometiam o arco médio, com distribuição desordenada da carga em tarso, metatarsos e tornozelo, sendo de pior prognóstico os danos que ocorrem em tornozelo e calcâneo. Atualmente, esta teoria está sendo revista. O risco de amputação é elevado por causa da baixa adesão do paciente ao tratamento prolongado, o qual pode durar cerca de 6 a 12 meses, com uso contínuo de botas de contato total ou botas de gesso laminado e repouso. Acomete cerca de 0,15% da população diabética e 29% de diabéticos com neuropatia. Em 80% dos casos é unilateral. DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA A DVP, em geral, não constitui fator de risco isolado para ulcerações, mas quando associada à neuropatia é uma das principais causas não traumáticas de amputação. Além de favorecer o aparecimento de úlceras, dificulta a cicatrização pela dificuldade do organismo em fornecer nutrientes e oxigênio ao leito da ferida, assim como favorece a infecção pelo prejuízo da ação do antibiótico devido à isquemia (BOULTON; PEDROSA, 2006). A DVP ligada aos processos ulcerativos é 4 vezes mais comum em diabéticos e ocorre precocemente em ambos os sexos. Sua gravidade está diretamente relacionada ao inadequado controle glicêmico, duração da doença, idade, tabagismo, hipertensão, dislipidemia e obesidade. O processo aterosclerótico acelerado produz hipercoagulação e aumento da resistência vascular, precipitando a obstrução das artérias e arteríolas distais, que dificultam o fluxo sanguíneo. Os pés podem ser classificados em neuropático, isquêmico ou neuroisquêmico. Tipo Características PÉ NEUROPÁTICO - Quente, bem perfundido, vasos dorsais dilatados Anidrose, pele seca com tendência a rachaduras e fissuras. Arco médio elevado, metatarsos proeminentes, dedos em garra/martelo Áreas de pressão plantar anormal (hiperqueratose) e calosidades, Susceptível a alterações articulares graves como pé de Charcot. PÉ ISQUÊMICO - Pé frio, com pobre perfusão, pulsos diminuídos ou ausentes Pele fina e brilhante, Unhas atrofiadas, ausência/rarefação dos pelos PÉ NEUROISQUÊMICO - Combinação dos achados neuropáticos e vasculares, com ou sem deformidades. No pé diabético, a presença de neuropatia, pontos de hiperpressão plantar e diminuição do fluxo arterial podem ocorrer simultaneamente ou não. Cada complicação aumenta a suscetibilidade de ocorrência de úlcera (PARISI, ALTERAÇÕES BIOMECÂNICAS O pé é composto por 26 ossos, 29 articulações, 42 músculos e uma infinidade de tendões e de ligamentos. O homem caminha, ao longo da vida, cerca de 46.000 a 60.000 Km, uma distância equivalente a três a quatro vezes a volta ao mundo, expondo o pé a significativas pressões a cada passo (LEVIN; O’NEAL, 2001). O mecanismo normal da locomoção necessita da harmonia entre as estruturas citadas. A neuropatia, DVP e as deformidades nos pés podem limitar a extensão dos movimentos das articulações dos mesmos, prejudicando a mecânica da marcha, levando a um passo disfuncional que poderá produzir um dano estrutural maior no pé (SUMPIO, 2000). ULCERAÇÃO A presença de úlcera em pacientes diabéticos decorre de uma crítica complicação da doença. A ND atua de forma permissiva, estando presente em cerca de 90% dos pacientes que apresentam lesão, desmitificando o pé diabético como uma complicação essencialmente vascular. No entanto, a incidência de lesões arteriais distais é maior nos pacientes portadores de DM do que na população sem DM. INFECÇÃO O organismo humano convive com o microrganismo sob duas condições: inata e adquirida. A primeira resulta de herança genética e a segunda é atribuída à sua interação e integração com o meio ambiente, que ocasionalmente pode levar a mutações (PARISI, 2003). O processo infeccioso começa com a presença do microrganismo, seguido da aderência às superfícies epiteliais e, não havendo resistência, inicia o processo de invasão e multiplicação. Em geral, as infecções no pé diabético são causadas por bactérias gram- negativas, gram-positivas e/ou anaeróbicas. AMPUTAÇÃO A hiperglicemia prolongada, longo tempo de doença, dislipidemia, neuropatia, doença vascular periférica, presença de lesões ulcerativas e maus hábitos como tabagismo e uso de bebida alcoólica predispõem para amputações maiores ou transtibiais ou amputações menores ou transmetatarsianas. A pessoa com DM tem o risco aumentado de amputação dos membros inferiores em 5 vezes quando comparado ao indivíduo sem DM (PEDROSA et al.,1998; LEVIN; O’NEAL, 2001). A porcentagem de pacientes diabéticos que sofrem amputação é de 10 a 15%, sendo que 40% necessitam de uma segunda amputação no decurso dos 5 anos que se seguem à primeira. Cerca de 60 a 95% das amputações dos membros inferiores são precedidas de uma lesão crônica e mais de 50% das amputações não traumáticas do adulto são efetuadas em diabéticos (APELQVIST et al.) Resultados de estudos prospectivos demonstraram que houve diminuição da incidência e recorrência de úlceras e amputações em diabéticos quando assistidas por equipes interdisciplinares. Essas equipes devem atuar identificando precocemente anormalidades nos pés, proporcionando educação continuada de acordo com as necessidades individuais e oferecendo apoio na prevenção de úlceras e infecção nos membros inferiores quando fatores de risco forem identificados (EDMONDS et al.; 1986; ARMSTRONG; HARKLESS, 1998). CLASSIFICACÃO DE RISCO Sistema de classificação internacional de risco do pé diabético O crescente aumento de pacientes diabéticos no mundo, aliado à complexidade da doença e os custos do tratamento para o sistema de saúde, contribuíram para estabelecer metas de prevenção para o pé diabético. Nas últimas décadas, diferentes estratégias foram elaboradas em diferentes países para a prevenção e tratamento do pé diabético, ficando assim evidente, a necessidade de formulação de uma única diretriz para a abordagem e adoção de medidas preventivas, utilizando princípios da medicina baseada em evidência, e endossada por especialistas do mundo inteiro.

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