Sebenta PD II - 24/25 - RC Psicologia do Desenvolvimento PDF

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Universidade de Coimbra

2024

Rodrigo Costa

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psychology adolescent development antisocial behavior psychology of development

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This document is a compilation of psychology of development content, organized by lecture topics. It covers material from the 2024/25 academic year, dissecting topics like antisocial behavior in adolescents, positive development, and emotional regulation. The document explores various aspects of these constructs, emphasizing the interplay of individual, family, and social factors.

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Compilação de Conteúdos de Psicologia do Desenvolvimento - Temas Aprofundados Está organizada de acordo com o seguimento das aulas e compreende toda a matéria lecionada no ano letivo 2024/25. ÍNDICE AULA 1- Fenómeno Antissocial na Adolescênc...

Compilação de Conteúdos de Psicologia do Desenvolvimento - Temas Aprofundados Está organizada de acordo com o seguimento das aulas e compreende toda a matéria lecionada no ano letivo 2024/25. ÍNDICE AULA 1- Fenómeno Antissocial na Adolescência: Introdução………………………………………...2 AULA 2- Fenómeno Antissocial na Adolescência: Investigação………………………………………3 AULA 3- Fenómeno Antissocial na Adolescência em Estudantes Portugueses……………………….6 AULA 4- Desenvolvimento Positivo e Bem-estar ao Longo da Vida: Introdução…...……………….13 AULA 5- Psicologia Positiva e Estratégias de Coping……………………………………………..…15 AULA 6- Mindfulness, Compaixão e Felicidade…………...………………………………………...20 AULA 7- Vinculação ao Longo da Vida I…………………………………………………………….23 AULA 8- Vinculação ao Longo da Vida II……………………………………………………………32 AULA 9- Regulação Emocional na Adolescência…………………………………………………….39 AULA 10- Transição para a Parentalidade I…………………………………………………………..45 AULA 11- Transição para a Parentalidade II………………………………………………………….53 AULA 12- Adultez Intermédia……………………………………………………………...………...60 Licenciatura em Psicologia Rodrigo Costa AULA 1 - Fenómeno Antissocial na Adolescência: Introdução ​ Comportamento antissocial refere-se a uma diversidade de comportamentos que violam normas sociais que visam promover o respeito e a consideração pela vida e propriedade dos outros. Uma perspetiva desenvolvimental poderá oferecer importantes pistas para compreender o que necessita de ser trabalhado no sentido de prevenir manifestações anti-sociais na adolescência e remediar as suas consequências, especialmente se tivermos em consideração contextos específicos e percepções individuais. ​ Existe heterogeneidade nas manifestações, trajetórias e no tipo de agressores/vítima; relatividade consoante a cultura, motivação ou patologia; e incerteza pela ausência de registros formais e a subjetividade das fontes de informação. ​ ​ A complexidade do comportamento antissocial na adolescência é reconhecida amplamente na psicologia do desenvolvimento. Morgado e Vale-Dias (2013) conceptualizaram variáveis associadas a este conceito e a sua associação a uma perspetiva desenvolvimentista. Destacam-se as seguintes: ​ Etiologia; ​ Idade de manifestação; ​ Determinantes; ​ Trajetórias; ​ Manifestações comportamentais; ​ Graus de gravidade; ​ Mecanismos de persistência; ​ Os comportamentos antissociais são particularmente prevalentes durante a adolescência (age crime curve), pelo que se realça a importância de identificar variáveis que possam influenciar este fenómeno. Blonigen (2010) iniciou uma discussão pertinente: serão estes comportamentos normativos na adolescência? Após considerar o contributo de diversos autores, concluímos que não podemos inferir esta normalidade, porém, existe efetivamente um maior risco e maior prevalência de comportamento antissocial neste momento desenvolvimental em específico. ​ Estes comportamentos podem ser definidos como comportamentos que violam normas sociais estabelecidas com o intuito da promoção do respeito e consideração com a vida e propriedade dos outros. Existe uma associação com o desvio criminal, mas é apenas como predisponente e fator de risco, sendo que não prediz necessariamente que o comportamento antissocial venha a culminar no comportamento de crime - quebrar normas sociais ≠ quebrar a lei. 2 AULA 2 - Fenómeno Antissocial na Adolescência: Investigação ​ A investigação de Morgado e Vale-Dias (2017) veio explorar este tema no contexto português numa amostra de infratores juvenis institucionalizados. Hipóteses ​ H1: Rapazes delinquentes apresentam traços de personalidade de Eysenck mais elevados e resultados mais baixos na escala de mentira do EPQ-J (medida de desejabilidade social) em comparação com rapazes da população geral; ​ H2: Rapazes delinquentes têm significativamente menor auto-controlo e empatia que rapazes da população geral; ​ H3: Rapazes delinquentes apresentam pior auto-conceito que rapazes da população geral; ​ H4: Rapazes delinquentes apresentam percepções significativamente mais negativas do seu ambiente familiar que rapazes da população geral; ​ H5: Traços de personalidade, auto-conceito, competências sociais (empatia e autocontrolo) e ambiente familiar predizem tendências anti-sociais. Instrumentos e Construtos Questionário Sociodemográfico -​ Condições de vida -​ Características sociodemográficas Youth Self Report (YSR) -​ Escala “Anti-social” -​ Escala “Hiperactividade/Problemas de Atenção” Questionário de Personalidade -​ Psicoticismo, Extraversão, Neuroticismo de Eysenck para Jovens (EPQ-J) -​ “Mentira” Escala de Auto-Conceito de -​ Auto-conceito global Piers-Harris para Crianças – 2 -​ Aspeto comportamental, Estatuto intelectual e escolar, (PHCSCS-2) Aparência e atributos físicos, Ansiedade, Popularidade, Satisfação e felicidade Social Skills Questionnaire – -​ Auto-controlo Student From (SSQ) -​ Empatia Escala de Ambiente Familiar -​ Relação (coesão, expressividade, conflito) (FES) -​ Crescimento Pessoal (independência, orientação p/sucesso”, orientação intelectual/cultural, orientação ativa/recreativa, ênfase moral e religiosa) -​ Manutenção do Sistema (organização, controlo) 3 Amostra ​ Composta por 229 sujeitos: ○​ 121 rapazes com história de delinquência, internados em Centros Educativos de Portugal Continental (Porto, Lisboa, Caxias, Guarda e Coimbra); ○​ 108 rapazes a frequentar três escolas na região de Coimbra; Resultados -​ Instituição: delinquentes (vermelhos). População geral (azuis): escola; -​ NOTA: O asterisco mostra que existem diferenças significativas; -​ Obtido através do teste t de student, que compara o grupo da escola e da instituição; 4 Discussão 1.​ Diferenças entre grupos ​ Características Sociodemográficas: Ao nível socioeconómico e ao nível da escolaridade abaixo do esperado para a idade, em que os delinquentes são mais desfavorecidos. ​ Personalidade: Ao nível da impulsividade, agressividade, instabilidade emocional, e tensão, que revela valores mais elevados na amostra institucionalizada. E ao nível da abertura à experiência, sociabilidade, energia mais elevadas na amostra escolar. ​ Competências Sociais: Ao nível do auto-controlo e da empatia, em que os delinquentes revelam valores menores. ​ Auto-conceito: Existem diferenças estatisticamente significativas mas não existem diferenças significativas quando se trata de aparência física ou de popularidade. ​ Ambiente familiar: Ao nível dos aspetos relacionais e do crescimento pessoal, em que existem diferenças estatisticamente significativas. 2.​ Preditores ​ Personalidade (P e N) – os mais elevados na amostra institucionalizada; ​ Conformidade com normas sociais (Mentira); ​ Auto-Conceito Comportamental; ​ Relação familiar; ​ Crescimento pessoal no seio da família. 5 AULA 3 - Fenómeno Antissocial em Estudantes Portugueses ​ Personalidade corresponde a um conjunto de características relativamente estáveis e duradouras, que distinguem uma determinada pessoa e determinam um estilo característico de interação entre o indivíduo e o meio físico e social. Podem haver mudanças em alguns traços de personalidade ao longo do tempo, especialmente durante a adolescência e a adultez emergente. Isto reflete um caráter de mudança normativo ao desenvolvimento psicossocial do sujeito. ​ Romero, Luengo e Sobral (2001) afirmaram que “levar em conta a personalidade implica aceitar a existência de tendências cognitivas, afetivas e comportamentais que podem favorecer a delinquência”. Isto levanta a seguinte questão: quais características aumentam a vulnerabilidade a adotar comportamentos antissociais? ​ A teoria de Eysenck vem realçar o papel que o alto grau de psicoticismo, extroversão e neuroticismo, associados também a baixa conformidade com as normas sociais, podem ter para predizer manifestações antissociais. ​ O género é uma variável importante para a compreensão deste fenómeno, visto que tem a si associado várias diferenças aos níveis: ​ Tipos de comportamento antissocial ○​ Homens mais prováveis de se envolver em formas explícitas de comportamento antissocial; ○​ Mulheres têm maior probabilidade de adotar formas encobertas deste comportamento, especialmente quando chegam à adolescência. ​ Frequência de manifestações antissociais ○​ A frequência de problemas de comportamento é muito maior em homens do que em mulheres; ○​ Foi demonstrado que, como grupo, as mulheres experimentam níveis mais baixos de fatores de risco em comparação com os homens. ​ Gravidade das manifestações antissociais ○​ Raparigas que demonstram este comportamento têm uma menor tendência a se envolver em formas mais extremas de manifestações antissociais quando comparadas com rapazes. ​ ​ Vamos explorar uma investigação, parte de um estudo mais amplo com o intuito de entender o papel de variáveis individuais, familiares e sociais no fenómeno antissocial, com especial foco no papel da personalidade e género no fenómeno antissocial na adolescência. Hipóteses ​ H1: Os rapazes apresentam maiores tendências antissociais do que as raparigas. ​ H2: Existem diferenças significativas de personalidade entre rapazes e raparigas. 6 ​ H3: Existem diferenças significativas de personalidade entre adolescentes que manifestam e que não manifestam tendências antissociais. ​ H4: Traços de personalidade (psicoticismo, extroversão e neuroticismo) predizem tendências antissociais. Amostra ​ A amostra foi recolhida em três escolas da região de Coimbra e é composta por 489 indivíduos que, conjuntamente com os seus pais, concordaram em colaborar. Os participantes foram divididos em dois grupos de acordo com os resultados obtidos nas medidas do YSR e CBCL: ​ indivíduos com pontuações médias e abaixo da média ​ indivíduos que pontuaram, pelo menos, um desvio padrão acima da média da amostra Instrumentos Sujeito Instrumento Construtos - Idade Adolescentes Questionário Sociodemográfico - Género - Ano de escolaridade Adolescentes Youth Self-Report (YSL) - Comportamento antissocial - Psicoticismo Adolescentes Eysenck’s Personality - Extroversão Questionnaire (EPQ-J) - Neuroticismo - “Mentira” Pais Questionário Sociodemográfico - Condições de vida Pais Child Behaviour Checklist - Oposição/imaturidade (CBCL) - Comportamento agressivo 7 Resultados Aplicando o teste t para avaliar as diferenças entre género foi possível verificar que as raparigas manifestam menos comportamento de oposição e imaturidade, menos comportamento agressivo e, quando consideramos um cluster antissocial e a própria avaliação dos adolescentes, elas também apresentam um score mais baixo que os rapazes. Conclusões ​ Como previsto, rapazes manifestam maior tendência para comportamento antissocial quando comparados com raparigas. Eles relataram maiores níveis de psicoticismo e extroversão, demonstrando uma maior tendência para a agressividade, egocentrismo e impulsividade, associados a maior energia, sociabilidade, procura de estimulação, atividade e assertividade. ​ A nível da personalidade, o estudo comprovou que existem diferenças significativas na maioria dos traços de personalidade entre adolescentes que demonstram comportamentos antissociais superiores à média, e adolescentes com um comportamento antissocial menor. ​ Destaca-se que o psicoticismo pode ser um mediador da relação entre género e comportamento antissocial na adolescência, visto que as diferenças estatisticamente significativas entre género podem se correlacionar com diferenças estatisticamente significativas na personalidade. Isto explica a razão de rapazes serem mais propícios à conduta antissocial nesta fase desenvolvimental. ​ Para desenhar e implementar programas de intervenção que promovam comportamentos sociais mais saudáveis em adolescentes, devemos considerar os seguintes pontos: ​ O género masculino e impulsividade como fatores de risco para o comportamento antissocial; ​ A maior suscetibilidade das raparigas para ansiedade e excitação emocional rápida; ​ A importância do desenvolvimento de relações e habilidades sociais. ​ Existem algumas limitações e potencialidades associadas a este estudo. As limitações são, por exemplo, a possibilidade de existência de alguns déficits desenvolvimentais e o possível consumo de álcool e droga, que não foi controlado, para além de que a amostra do estudo não foi aleatorizada, visto que dependia da autorização dos pais. Destacam-se como potencialidades o tamanho da amostra, a combinação de questionários de auto-relato e relato dos pais sobre as dimensões comportamentais e o potencial para republicação ao nível internacional. 8 ​ Este estudo determina os próximos passos da investigação nesta área. Importa alertar para a necessidade de continuar a coletar dados com intervalos de idades maiores, abrangendo mais anos de escolaridade e incluindo tanto adolescentes como adultos emergentes. É crucial disseminar os resultados sobre o auto-conceito, habilidades sociais e ambiente familiar dos adolescentes. Realça-se também a pertinência de comparar estes dados com uma amostra de adolescentes delinquentes em situação de institucionalização. ​ Outro estudo, mais alargado, e com o mote “Prevenir comportamentos antissociais na adolescência: O que nos dizem as perceções individuais?”, veio trazer mais dados sobre o tema. Como já vimos, o comportamento antissocial engloba uma diversidade de comportamentos que violam normas sociais que visam promover o respeito e a consideração pela vida e propriedade dos outros e é particularmente prevalente durante a adolescência. A adolescência é um estádio de desenvolvimento definido por múltiplas e profundas transformações, assim como tarefas desenvolvimentais fundamentais para a adaptação ao meio, tais como a autonomia, identidade, relações entre pares e as representações sociais e do self. ​ Compreender as particularidades do fenómeno antissocial na adolescência e enquadrá-las numa perspetiva desenvolvimentista oferece-nos uma importante vantagem no que concerne à prevenção, pois permite a antecipação dos comportamentos antes de atingirem manifestações mais graves e de resultarem em consequências mais sérias do ponto de vista social e individual. Objetivos ​ Compreender a relação entre comportamento antissocial e diversas dimensões de personalidade, autoconceito, competências sociais, ambiente familiar e nível socioeconómico. ​ Construir um programa de prevenção de comportamentos antissociais com base em perceções individuais e centrado em três eixos: Indivíduo, Família e Características Sociodemográficas. Instrumentos Questionário Sociodemográfico - Pais: Condições de vida - Filhos: Características Sociodemográficas Youth Self-Report (YSR) - Anti-Social (auto-relato) Child Behaviour Checklist (CBCL) - Comportamento Agressivo (reportado pelos pais) - Coesão, Expressividade, Conflito, Independência, Escala de Ambiente Familiar (FES) Orientação para Sucesso, Cultural ou Recreativa, Ênfase Moral e Religiosa, Organização, Controlo 9 Social Skills Questionnaire - - Auto-controlo Student Form (SSQ) - Empatia Escala de Autoconceito de - Comportamento, Estatuto Intelectual/Escolar, Aparência Piers-Harris para Crianças e Atributos Físicos, Ansiedade, Popularidade, (PHCSCS-2) Felicidade/Satisfação Questionário de Personalidade de - Psicoticismo, Extroversão, Neuroticismo Eysenck para Crianças (EPQ-J) - Mentira Amostra ​ Os resultados, após análise dos scores T, demonstram que existem diferenças estatisticamente significativas no comportamento agressivo por nível socioeconómico, revelando-se maior em sujeitos mais desfavorecidos. É também visível, agora tanto ao nível do comportamento agressivo e do comportamento antissocial, que existem grandes diferenças de género. Podemos observar estes resultados nos gráficos abaixo: 10 ​ As diferenças individuais por tendências comportamentais foram também alvo de análise e esquematizadas (apenas as estatisticamente significativa) no seguinte gráfico: Conclusões ​ Nível Socioeconómico: Condições socioeconómicas mais desfavoráveis relacionam-se com as perceções parentais mais negativas dos comportamentos dos filhos. A prevenção deve ter foco nas perceções e expectativas parentais, sobretudo em famílias de nível socioeconómico mais baixo. ​ Género: Maior prevalência/intensidade de comportamentos antissociais nos rapazes em comparação com as raparigas. Destaca-se o género masculino como fator de risco e alvo de intervenção. ​ Personalidade: Adolescentes com maior propensão para comportamentos antissociais apresentam resultados mais elevados nos três traços de personalidade de Eysenck (Psicoticismo, Extroversão e Neuroticismo) e resultados mais baixos na escala de Mentira (medida da conformidade a normas sociais). ​ Competências Sociais: Adolescentes com maior propensão para comportamentos antissociais apresentam resultados mais baixos no autocontrolo e empatia quando comparados com os seus pares com menores tendências antissociais. ​ Auto-Conceito: Autoconceito mais negativo em adolescentes com maior propensão para comportamentos antissociais. ​ Ambiente Familiar: Ambiente familiar globalmente mais negativo em adolescentes com tendências antissociais mais elevadas: dimensões relacionais (conflito, coesão e expressividade), de manutenção do sistema familiar (organização e controlo) e envolvimento no crescimento pessoal dos membros da família (independência, orientação intelectual e cultural, orientação activa-recreativa, ênfase moral e religiosa). 11 ​ Destacam-se certos eixos de prevenção distribuídos por várias áreas desta problemática: ​ Consciência do grau de ajustamento social dos comportamento; ​ Envolvimento social e desejo de conformidade com normas sociais; ​ Excesso de confiança leva a menor ansiedade que, por si, leva a um melhor autoconceito; ​ Impulsividade, agressividade, instabilidade emocional; ​ Ao nível da família: ○​ Oportunidades de autonomia e assertividade durante a adolescência para construção da identidade fora do seio familiar; ○​ Práticas de gestão familiar adequadas: organização, planeamento e estruturação da vida familiar. 12 AULA 4 - Desenvolvimento e Bem-estar ao Longo da Vida: Introdução ​ O que é a Psicologia Positiva? Vamos explorar primeiro o contexto histórico da área. No passado, os psicólogos interessaram-se mais pelo funcionamento negativo da personalidade ou pelas emoções negativas do que pelas positivas. Só recentemente começaram a dar importância ao funcionamento positivo da personalidade, havendo atualmente muitos estudos sobre as emoções positivas. O bem-estar psicológico tornou-se um conceito dominante das preocupações dos investigadores no século XXI. ​ A psicologia positiva, por definição, é um movimento recente dentro da ciência psicológica que enfatiza mais a busca pela felicidade humana que o estudo das doenças mentais. Por influência da psicologia positiva, na prevenção e tratamento da doença mental é deixado de parte o objetivo de eliminar as experiências internas que provocam sofrimento e é sugerida a adoção de estratégias para alterar a sua relação com este. Na intervenção e promoção da saúde mental exploram-se as emoções positivas, os traços positivos e as comunidades positivas que oferecem condições para o desenvolvimento do bem-estar, do talento humano, da resiliência, da felicidade e do florescimento ou desenvolvimento do potencial humano. ​ ​ A perspetiva hedónica compreende o bem-estar como a obtenção do prazer e a diminuição da dor, sendo que para a psicologia hedónica o “Bem-estar consiste na felicidade subjectiva e respeita às experiências de prazer e/ou desgosto, no sentido lato, incluindo todos os julgamentos sobre bons e maus elementos da vida” (Ryan & Deci, 2001:144). Um dos contributos mais importantes na investigação desta perspectiva provém da conceptualização de bem-estar subjectivo de Diener (1984), focada nas condições em que as pessoas reagem positivamente às experiências, é um constructo fundado em 3 componentes: ​ Afeto positivo; ​ Afeto negativo; ​ Satisfação com a vida. ​ A perspetiva eudaimónica distingue-se por admitir que nem todos os desejos poderão trazer bem-estar e que este é alcançado através da realização do potencial humano. Entre os principais autores inseridos nesta perspectiva encontramos C. Ryff, cujos esforços em integrar as formulações teóricas existentes na área do desenvolvimento ao longo da vida, funcionamento positivo e saúde mental resultaram num modelo multidimensional de bem-estar psicológico constituído por 6 dimensões de funcionamento psicológico positivo. ​ Barros de Oliveira (2001) definiu felicidade como “um conceito complexo e muito diferenciado, havendo tantas ‘felicidades’ quantas as pessoas que se dizem felizes. Cada uma vive a felicidade à sua maneira, embora se possam encontrar traços comuns. Trata-se outrossim de um conceito sócio-culturalmente muito diversificado e transcultural”. Normalmente os investigadores consideram a felicidade como dependendo essencialmente de três componentes: ​ Emoções positivas; ​ Ausência de emoções negativas; ​ Satisfação com a vida. 13 ​ Várias escalas de autoresposta para a avaliação da Felicidade têm sido desenvolvidas ao longo dos anos. O modelo de bem-estar social de Keyes (1998) revela uma preocupação em contemplar a influência do posicionamento dialógico do sujeito com a sociedade na elaboração do seu bem-estar. Coloca a hipótese de dois contínuos - saúde e doença, sendo que a saúde e a doença mental podem seguir trajetórias de desenvolvimento distintas ao longo do ciclo de vida, no entanto, quando a saúde mental aumenta, o risco de apresentar doença mental diminui. ​ Segundo Keyes, podemos definir diferentes estados de saúde e doença mental, sendo o diagnóstico a relação entre saúde mental e doença mental: ​ Saúde mental completa: Ausência de doença mental e presença altos níveis de bem-estar e florescimento; ​ Saúde mental: Presença de bem-estar e florescimento; ​ Estagnação: Ausência de doença mental e baixos níveis ou ausência de bem-estar e florescimento em uma das escalas de bem-estar hedónico e pelo menos seis das escalas de funcionamento positivo; ​ Doença mental: Presença de critérios para doença mental; ​ Doença mental e estagnação: Presença de doença mental e ausência de bem-estar e florescimento. 14 AULA 5 - Psicologia Positiva e Estratégias de Coping ​ A psicologia positiva, conjuntamente com modelos cognitivo-comportamentais de 3ª geração, contribuiu para a criação de intervenções desenvolvimentistas com crianças, adolescentes e adultos. O objetivo central destes métodos é a prevenção e tratamento de doenças ou outros problemas, promovendo assim a saúde e desenvolvimento dos sujeitos. ​ A emergência da psicologia positiva ditou uma mudança de foco que levou à criação de dois importantes modelos. O Modelo Patogénico assume o conceito médico de saúde e tem como objetivo de intervenção o tratamento de doenças. Já o Modelo Salutogénico, assume um conceito biopsicossocial de saúde em que esta é interpretada como um estado de completo bem-estar para além da ausência de doença. O objetivo da intervenção é também o tratamento de doenças, mas acresce-se a promoção do bem-estar e a identificação e nutrição do talento humano de modo a tornar a vida das pessoas mais produtiva e realizada. ​ A investigação conduzida no âmbito dos paradigmas salutogénico e positivo têm vindo a mostrar que: ​ a saúde mental está para além da ausência da doença, implicando a presença de estados de bem-estar; ​ os estados de bem-estar podem co-ocorrer em contextos de doença, desempenhando uma função protetora e atenuadora; ​ os mecanismos psicológicos característicos dos estados de bem-estar atuam de forma preventiva e terapêutica sobre o estado mental e físico; ​ Os Modelos Cognitivo-Comportamentais evoluíram de acordo com a ascensão da área, distribuídas por três gerações. 15 ​ É interessante perceber que estratégias, recursos ou virtudes podemos nutrir para tornar as nossas vidas mais felizes. Por exemplo, a gratidão é um recurso cognitivo e metacognitivo visto que nos permite estar atento às coisas agradáveis que acontecem; emocional visto que promove auto regulação das restantes emoções; e comportamental porque exprimir gratidão promove alterações de interação nas relações didáticas e no sistema. ​ O stresse define uma relação de mudança, de perturbação ou de desajustamento, e contempla uma panóplia de diferentes categorias de acontecimento que o induzem, desde acontecimentos traumáticos como uma doença ou um acidente, acontecimentos significativos ao longo da vida como um divórcio ou o stresse crónico expresso em conflitos diários em casa ou no trabalho, entre outros. Para prevenir o stress devemos ter em conta certos comportamentos de risco, como: ​ Consumo de substâncias psicoativas; ​ Sexualidade desprotegida; ​ Relações violentas; ​ Trabalho excessivo. ​ Por sua vez, o bem-estar pode ser classificado como subjetivo, que engloba a satisfação com a vida e o afeto positivo (Diener), ou psicológico que contempla a autonomia, as relações positivas com os outros, crescimento pessoal, sentido de vida, domínio do meio e a aceitação pessoal (C. Ryff). Para promover o bem-estar devemos adotar estilos de vida saudáveis: ​ Alimentação saudável e equilibrada; ​ Higiene do sono adequada; ​ Prática de exercício físico; ​ Investimento em relações interpessoais e áreas de interesse. O coping refere-se ao modo como as pessoa enfrentam as múltiplas exigências da vida com o objetivo de as resolver, pelo que “falar de coping é falar de ação pessoal que metamorfoseia condições desfavoráveis em benefícios salutares e em crescimento pessoal” (Ramos, 2005, p.68). Vamos explorar um estudo empírico sobre bem-estar e estratégias de coping, denominado de “roads to positive self-development: styles of coping that predict well-being” de Carvalho e Vale-Dias (2013). ​ É crucial estudar os processos envolvidos na adaptação ativa ao stresse. Considerando os componentes do construto multidimensional do bem-estar psicológico como relativamente estáveis e, de certa forma, associados a disposições pessoais, eles podem refletir o uso de certos estilos de coping. No entanto, poucos estudos sobre coping avaliaram seu efeito no bem-estar positivo utilizando medidas que não acentuam o domínio patológico. ​ Partindo deste pressuposto de que os estilos de coping podem ter um papel preponderante no bem-estar dos indivíduos, alguns autores têm explorado seus efeitos na saúde mental e física. Com o surgimento da Psicologia Positiva, modelos específicos de bem-estar foram desenvolvidos empiricamente. Um exemplo de uma perspetiva desenvolvimental de bem-estar foi oferecido pelo modelo de bem-estar psicológico de Carol Ryff, que idealizou seis dimensões do bem-estar psicológico: 16 ​ Autonomia; ​ Auto aceitação; ​ Domínio do meio; ​ Propósito de vida; ​ Relações positivas; ​ Crescimento pessoal. Objetivos ​ Identificar os estilos de coping preditores de maiores níveis de bem-estar psicológico; ​ Identificar os estilos de coping preditores de menores níveis de bem-estar psicológico; Hipóteses ​ H1: Os estilos de coping preditores de maiores níveis de bem-estar psicológico são: a Reinterpretação Positiva, o Coping Ativo, a Religião, Humor e a Aceitação; ​ H2: Os estilos de coping preditores de menores níveis de bem-estar psicológico são: o Desinvestimento Comportamental, a Auto Distração, a Negação e o Uso de Substâncias; Amostra ​ 198 (67.6%) - sexo feminino; ​ 95 (32.4%) - sexo masculino; ​ Média de idade dos participantes - 32,75 anos (DP = 13.29); ​ Nível sócio-económico médio 67.9%; ​ Habilitações literárias - 12ª de escolaridade (46.8%) / Licenciatura (41.3%); Instrumentos ​ Questionário Sócio-Demográfico (Maia de Carvalho & Vale Dias, 2010); ​ Brief COPE (Carver, 1997; Pais Ribeiro e Rodrigues, 2004); ​ Escalas de Bem-Estar Psicológico (Ryff, 1989b; Ferreira e Simões, 1999) ​ A recolha de dados foi realizada de fevereiro a abril de 2011. O desenho é transversal, foram utilizadas medidas de auto-relato, estatísticas descritivas, estudos correlacionais e análises de regressão. 17 Resultados [H1] Estilos de coping preditores de maiores níveis de bem-estar psicológico ​ Coping ativo (1): relaciona-se positivamente com a autonomia, crescimento pessoal… ​ Reinterpretação positiva (2): relação com aceitação pessoal e com o domínio do ambiente… [H2] Estilos de coping preditores de menores níveis de bem-estar psicológico ​ Desinvestimento comportamental (1) ​ Negação (2) ​ Uso de substâncias (3) 18 ​ Podemos então concluir que o coping tem um potencial positivo para a promoção e desenvolver o bem-estar, a saúde e a felicidade. O coping ativo e a reinterpretação positiva apresenta as seguintes características: ​ Identificação de metas e problemas; ​ Estratégias de resolução; ​ Elementos de suporte; ​ Prós e contras; ​ Evidências a favor e contra; ​ Critério de utilidade. 19 AULA 6 - Mindfulness, Compaixão e Felicidade ​ A prevenção do desinvestimento comportamental, negação e uso de substâncias, cujo impacto foi explorado através de um estudo na aula passada, é uma preocupação essencial na área. Destaca-se neste contexto o mindfulness como estratégia de investimento, aceitação e regulação. ​ O mindfulness pode ser idealizado como uma prática que fomenta a compaixão e a aprendizagem de “ser feliz”. Este conceito tem raízes filosóficas e científicas no Budismo e na Psicologia Oriental. ​ O conceito de “piloto automático” refere-se à ideia de que vivemos numa ficção pessoal entre o passado que já aconteceu e o futuro que ainda não chegou. Assim, perdemos o presente enquanto o pensamento corre na nossa mente como um rio veloz, de modo automático , condicionado pela nossa natureza. A verdade é que não podemos controlar a corrente do rio, mas podemos perceber como a sua intensidade, variação e direcção é influenciada pelo vento se nos sentarmos nas suas margens a observá-lo, a ouvi-lo e a aprender. ​ Segundo Siegel e colaboradores (2009), o Mindfulness é um estado intuitivo e pré-conceptual que significa consciencialização, despertar e prestar atenção de uma forma especial: de propósito, no momento e sem julgar. É o oposto de mindlessness, de ignorância, evitamento ou de viver em piloto automático. ​ Destacam-se determinadas qualidades mentais que apoiam a prática de Mindfulness: ​ Paciência; ​ Auto-abandono; ​ Não-julgamento ; ​ Confiança; ​ Generosidade; ​ Ser suficientemente forte para ser fraco; ​ Simplicidade voluntária; ​ Concentração; ​ Visão. ​ A compaixão é uma propriedade da mente humana com fundamento evolutivo e valor adaptativo , resulta da interação entre genes, sistemas fisiológicos, experiências precoces e ecologias sociais. É uma competência com bases filosóficas e científicas em modelos evolucionários, na teoria da vinculação, neurociências e no budismo. 20 ​ Guilbert (2009) afirmou que a avaliação cognitiva ativa 3 sistemas fisiológicos de regulação emocional que podem ser moldados pelas experiências de vida: Sistema de contentamento, Dá a informação de que se está em segurança, não sendo mais tranquilidade e segurança social necessário procurar recursos. Promove afetos positivos, sensação de bem-estar, segurança e conexão social. Direciona o sujeito para comportamentos de procura de Sistema de procura e excitação recursos ou de recompensas. Estimula sensações e emoções positivas. Sistema de ameaça e proteção Responsável pela avaliação da perigosidade. Ativa reações defensivas de luta, fuga, bloqueio ou submissão. ​ A integração social é uma necessidade básica humana que promove as chances de sobrevivência, crescimento e reprodução, que engloba: ​ Desempenho de papéis sociais; ​ Ativação de estratégias evolucionárias: ​ Pedido de cuidados; ​ Prestação de cuidados; ​ Formação de alianças; ​ Identificação de sujeitos atraentes para designação de pertença ao grupo; ​ Ranking social. ​ ​ A Terapia Focada na Compaixão tem como objetivos essenciais a redução da sensibilidade à recordação de memórias emocionais associadas à ativação do sistema de ameaça e proteção, e a estimulação do sistema de contentamento, tranquilidade e segurança social. A “mente compassiva” tem certas qualidades: ​ Motivação para exercer cuidados pelo bem-estar do próprio e do outro; ​ Sensibilidade aos sentimentos e necessidades do eu e do outro; ​ Simpatia, empatia ou envolvimento; ​ Tolerância emocional - ser capaz de estar com as emoções aversivas do self e dos outros sem estar nelas; ​ Pensamento liberto de julgamento; ​ Sensação de fazer parte de um todo e de não ser uma pessoa diferente ou isolada – o que aumenta a consciência da condição humana, ensinando que ser imperfeito e cometer erros é natural (Neff, 2003); ​ Capacidade de exercer Mindfulness por oposição ao autofocus – o que permite viver no presente (Neff, 2009). ​ Assim, concluímos que a intervenção terapêutica tem como intuito treinar a atenção e raciocínio compassivos, a evocação de imagens e sentimentos compassivos, e a prática de comportamento compassivo. Por sua vez, é também uma ferramenta útil para aprender a lidar com medos, resistências e incapacidades. 21 ​ Lyubomirsky (2011) equacionou os diferentes fatores que influenciam os níveis de felicidade, concedendo-lhes um peso relativo: ​ Quem somos – a nossa personalidade determinada geneticamente (50%) ​ Situações que enfrentamos - circunstâncias de vida (10%) ​ O nosso comportamento e pensamento - atividade intencional (40%) ​ As atividades para aumentar a felicidade possibilitam a prática da gratidão e do pensamento positivo. Ao investir nas relações sociais e cuidar do nosso corpo e alma, podemos aprender a lidar com o stresse, as dificuldades e os traumas, vivendo o presente, comprometendo-nos com os nossos objetivos. 22 AULA 7 - Vinculação ao Longo da Vida I ​ Para entender a vinculação como processo contínuo e duradouro ao longo de toda a vida de um sujeito temos que, primeiramente, revisar os conceitos-chave da Teoria da Vinculação: ​ Relação de confiança/segurança básica (vinculação) entre: ○​ Figura de vinculação (refúgio seguro); ○​ Criança; ​ Sistema comportamental de prestação de cuidados; ​ Sistema comportamental de vinculação; ​ Modelos internos dinâmicos (self/outros). ​ É também essencial relembrar os padrões de vinculação na infância: vinculação segura (a), vinculação insegura evitante (b), vinculação insegura ambivalente (c) e vinculação desorganizada (d). a)​ Vinculação segura i)​ Alternância equilibrada entre comportamentos de vinculação e exploração; ii)​ As crianças usam o cuidador como “base segura” a partir do qual exploram o meio; iii)​ FV consistentemente sensível às necessidades da criança; b)​ Vinculação insegura ambivalente i)​ Predomínio de comportamentos de vinculação sobre os de exploração; ii)​ Aflição perante a ausência da FV; iii)​ Mistura de comportamentos de resistência ativa ao contacto com procura de contactos; monitorização constante da FV e hipervigilância; iv)​ FV com comportamento inconsistente – não responsividade, descontinuidade de cuidados, ameaças, inversão de papéis pais-criança; c)​ Vinculação insegura evitante i)​ Predomínio de comportamentos exploratórios sobre os de vinculação; ii)​ Evitamento ativo da FV; comunicação de sentimentos positivos com a FV e supressão de comportamentos que indiquem necessidade de conforto; iii)​ FV consistentemente insensível às necessidades da criança; d)​ Vinculação Desorganizada i)​ Contradição observada no padrão de comportamentos; ii)​ Expressões e comportamentos não direcionados, mal direcionados, incompletos e interrompidos; iii)​ Respostas de Freezing e movimentos lentificados; 23 iv)​ Associado a comportamentos ameaçadores ou assustadores da FV ou a comportamentos assustados da FV (medo); ​ Será que os padrões de vinculação estabelecidos na infância se mantêm durante a adolescência e idade adulta? Neste sentido, haverá continuidade ou mudança? Continuidade Mudança Através da assimilação de novas relações às Estabelecimento de novas relações (durante a expectativas que são consistentes com o modo adolescência ou idade adulta) pode ser uma como o indivíduo representa as suas relações; oportunidade para reavaliar relações precoces; Indivíduos tendem a selecionar ambientes e Acontecimentos de vida significativos que relações que se encaixem nas suas crenças desconfirmam expectativas prévias. sobre o self e os outros; ​ Hazan & Shaver (1987) construíram um instrumento para avaliar a vinculação em adultos (Adult Attachment Prototypes) e encontraram distribuições similares às observadas na infância por Ainsworth e cols. (1978): 56% seguro; 25% inseguro-evitante; 19% inseguro-ambivalente. Vamos explorar algumas frases que exemplificam cada vinculação: ​ Seguro: “Considero relativamente fácil aproximar-me dos outros e sinto-me confortável em depender deles e eles de mim. Não me preocupo com a possibilidade de ser abandonado nem, por outro lado, com a possibilidade dos outros se aproximarem demasiado de mim”. ​ Evitante: “Sinto-me desconfortável quando me encontro próximo dos outros. Tenho dificuldade em confiar completamente nas outras pessoas ou em depender delas. Fico nervoso quando alguém se aproxima muito de mim e frequentemente os outros desejam ter comigo maior intimidade do que aquela com a qual me sinto confortável”. ​ Ambivalente/ansioso: “Acho que os outros se mostram relutantes em estar tão próximos de mim como eu gostaria. Preocupo-me frequentemente com a possibilidade de o meu parceiro não gostar realmente de mim ou não querer ficar comigo. Gostava de estar mais próximo dos meus parceiros, o que faz com que muitas vezes as pessoas se afastem.” 24 ​ Posteriormente, novas concetualizações da vinculação no adulto apontaram para a perspetiva dimensional – Ansiedade e Evitamento (Brennan, Clark, e Shaver, 1998); ​ Modelo interno dinâmico do self (Ansiedade): forte desejo de proximidade e proteção; preocupações intensas acerca da disponibilidade do outro e do seu valor para este; uso de estratégias de hiperativação para lidar com a insegurança e perturbação emocional; ​ Modelo interno dinâmico dos outros (Evitamento): desconforto com a proximidade e com a dependência aos outros; preferência pela distância emocional e autossuficiência; uso de estratégias de desativação para lidar com a insegurança e a perturbação emocional; Orientações de Vinculação e Estratégias de Regulação Emocional ​ Durante muito tempo, a investigação sobre a vinculação nas sociedades ocidentais centrou-se no papel da mãe como principal figura de vinculação da criança. Isto gerou uma compreensão limitada de como a relação de vinculação que se estabelece com o pai é ou não diferente da relação de vinculação mãe-criança. ​ A maior parte das crianças desenvolve-se num contexto que envolve múltiplos cuidadores (FV), com frequência mães e pais. As crianças estabelecem relações de vinculação com a mãe e com o pai durante o primeiro ano de vida, sendo que o estilo de vinculação que se estabelece na relação mãe-criança e na relação pai-criança pode ser diferente e independente – são as características da relação que a criança estabelece com cada cuidador que define o seu estilo de vinculação a cada um. ​ Se as relações podem efetivamente ser diferentes, será que a relação de vinculação mãe-criança e pai-criança também “cumpre” objetivos diferentes? ​ Num estudo longitudinal, a capacidade de os pais promoverem “sensitive challenges” durante a brincadeira com a criança de 2 anos, mostrou-se associada com a vinculação segura na criança aos 6, 10, 16 e 22 anos. 25 ​ Numa relação segura pai-criança desenvolve-se a segurança na exploração: o pai ajuda a criança a expor-se a situações de exploração de maior risco, salvaguardando a sua segurança, e a criança vai aprender a confiar na sua capacidade de lidar com situações de perigo e com situações novas no contexto físico e social. A segurança na relação pai-criança parece desempenhar um papel preponderante quando o sistema de exploração da criança está ativado, assumindo-se como uma base segura. ​ Por sua vez, uma relação de vinculação segura com a mãe tem um papel de refúgio seguro, visto que proporciona conforto e tranquilidade quando a criança está em sofrimento, nomeadamente em termos de indicadores psicofisiológicos. ​ A segurança na relação pai-criança tem sido associada a diferentes outcomes desenvolvimentais na criança: ​ Menos problemas comportamentais na criança; ​ Maior sociabilidade; ​ Mais amizades recíprocas; ​ Menor risco de problemas internalizantes e externalizantes. ​ Existindo esta diferenciação nas relações que a criança tem com as diferentes figuras de vinculação, especificamente entre o pai e a mãe, é pertinente explorar como estas se organizam. Originalmente, Bowlby (1973) considerava que a criança estabelece uma relação preferencial com uma figura de vinculação, normalmente a mãe biológica, e que essa relação era mais especial e diferente de todas as outras. Esta preferência por uma FV é designada de monotropia. ​ No entanto, estudos posteriores contrariam esta hipótese, ao demonstrar que as crianças estabelecem relações com diferentes FV e com diferentes propósitos (Lamb, 1982). ​ Destacam-se 4 modelos conceptuais de consideração das diferentes relações de vinculação: Monotropia Apenas a vinculação à FV primária (mãe) é verdadeiramente relevante para o bem-estar. Modelo A FV primária continua a ser a mais relevante para o desenvolvimento da hierárquico criança, mas a relação estabelecida com os cuidadores secundários pode também ter contributos importantes para o bem-estar da criança. As relações de vinculação podem ter efeitos qualitativamente diferentes (e não quantitativamente diferentes) no desenvolvimento da criança. Por Modelo da exemplo, a relação mãe-criança pode ser mais importante para o independência desenvolvimento de competências socioemocionais, enquanto que a qualidade da relação pai-criança pode ser mais importante para o desenvolvimento da autonomia. As relações de vinculação fazem parte de um sistema que deve ser Modelo da considerado de forma mais holística – o impacto da relação mãe-criança só integração pode ser entendido no contexto da relação com outras FV - interação entre as diferentes relações. 26 ​ As crianças que têm uma vinculação segura com ambos os pais apresentam melhores indicadores de desenvolvimento socioemocional e cognitivo e estão mais preparadas (desinibidas) para interagir positivamente com uma pessoa não familiar aos 12 meses, e para resolver conflitos de forma mais autónoma durante o “brincar” aos 5 anos - efeito aditivo. A relação de vinculação segura com pelo menos um dos pais tem um efeito de buffer da relação de vinculação insegura do outro pai, ou seja, crianças com vinculação segura a pelo menos um dos pais não se distinguem significativamente das crianças com uma vinculação segura a ambos os pais em domínios como competência social com os pares ou problemas comportamentais. ​ ​ No estabelecimento da vinculação mãe-criança, a sensibilidade materna (capacidade de a FV percecionar e avaliar os sinais e comunicações da criança de modo adequado e responder de modo contingente e rápido; Ainsworth, 1978) surge como um importante preditor da qualidade da relação de vinculação. ​ Por sua vez, a sensibilidade paterna está significativamente associada à segurança da relação pai-criança, mas esta associação é moderada a fraca – uma magnitude substancialmente mais baixa que o efeito paralelo da sensibilidade materna na vinculação mãe-criança. A qualidade da relação de vinculação pai-criança está mais fortemente associada com a atitude do pai sobre a parentalidade (ex: envolvimento paterno), do que com a sensitividade observada durante as interações com a criança no primeiro ano de vida. 1.​ Envolvimento paterno ​ Apesar de os resultados não serem consistentes, alguns estudos sugerem que os pais mais envolvidos na prestação de cuidados (tarefas de cuidar) têm crianças com vinculação mais segura. Quando os pais eram mais sensíveis, não havia uma associação significativa entre o envolvimento paterno e a relação de vinculação pai-criança. No entanto, quando os pais são menos sensíveis, existe efetivamente uma associação positiva entre envolvimento parental e segurança de vinculação. 2.​ Comportamentos paternos estimulantes ​ Comparado com as mães, os pais envolvem-se mais em atividades mais físicas, de maior intensidade, e mais focadas no brincar do que na prestação de cuidados. 27 A sensibilidade a comportamentos estimulantes corresponde à interação com a criança durante o brincar de forma cooperativa, que encoraje a criança a brincar de formas mais maduras e que tenha em conta o ponto de vista da criança. A sensibilidade paterna no brincar dos pais aos 2 anos da criança foi preditora das representações de vinculação da criança aos 10 e aos 16 anos, e a estimulação parental durante a interação pai-criança aos 9 meses revela-se preditora de vinculação pai-criança segura aos 3 anos. ​ Existe uma certa transmissão intergeracional da vinculação expressa na correspondência entre as representações mentais de vinculação nos pais e os estilos de vinculação na criança. ​ Este é o processo através do qual as representações parentais das suas experiências de vinculação passadas influenciam o comportamento parental e a qualidade da relação de vinculação com a sua criança. As relações de vinculação com os pais e com outras FV ao longo da vida servem como modelos mentais que moldam as interações e as relações que os pais têm com os seus filhos. Diferentes Representações Mentais -​ Equilíbrio emocional; -​ Conseguem perceber as necessidades da criança, atuando em Pais com representações conformidade com as necessidades dela (e não com as suas de vinculação segura necessidades); -​ Comunicação sem distorções e comunicação aberta sobre as emoções negativas sentidas pela criança, mesmo que elas pareçam ameaçadoras; -​ Dificuldade em responder às emoções negativas expressas pela criança; Pais com representações -​ Dificuldade em lidar com a procura de proximidade e de vinculação evitante conforto da criança quando esta sinaliza sofrimento; -​ Ignorar e distanciar-se em situações de stress; -​ A criança aprende a utilizar também estratégias de evitamento (não procurar ajuda) em situações de stress 28 -​ Necessidade constante de confirmação de que são os pais adequados e “necessários” para aquela criança; Pais com representações -​ Procura contínua, consciente e inconsciente, de que a sua de vinculação presença é essencial para a criança – comportamento parental ambivalente/preocupado inconsistente; -​ A criança aprende que, para obter a atenção dos pais, deve mostrar repetidamente o quanto necessita deles (intensificar comportamentos de procura de proximidade); ​ O processo de transmissão intergeracional da vinculação ocorre por meio de dois mecanismos: representações mentais de prestação de cuidados (o sistema comportamental de prestação de cuidados) e função reflexiva. 1.​ Representações mentais de prestação de cuidados (Sistema comportamental) ​ Na interação mãe-criança, o comportamento da figura materna é organizado pelo sistema comportamental de prestação de cuidados (SCPC): ​ Sistema recíproco e complementar do sistema de vinculação, com a função adaptativa de proteção da criança (e a sua sobrevivência); ​ É ativado por pistas internas ou externas de que a criança pode estar em perigo/stress; ​ Quando ativado, o SCPC orienta o comportamento do cuidador (reportório de comportamentos de prestação de cuidados, como por exemplo: manter-se próximo, agarrar, chamar ou sorrir); ​ O SPC é orientado por representações mentais de prestação de cuidados. ​ Estas representações mentais de prestação de cuidados seguras incluem: a)​ Avaliações do self enquanto prestador de cuidados, referindo-se às dimensões de disponibilidade para responder, efetividade das estratégias de prestação de cuidados e capacidade de entender os sinais da criança; b)​ Avaliações do outro, enquanto indivíduo que quer ou merece ser cuidado e que sinaliza ou não a necessidade de cuidado; c)​ Avaliações da relação entre o self e o outro, que evidenciam o balanço dinâmico entre cuidador e criança; d)​ Associam-se ao conceito de sensibilidade materna, e estão habitualmente associadas ao desenvolvimento de uma vinculação segura pela criança. As representações mentais de prestação de cuidados rejeitantes incluem: a)​ Modelos representacionais de si e das crianças como indisponíveis e sem valor para participar numa relação; b)​ A dimensão do self mais patente é a indisponibilidade (incapazes de cuidar da criança, indisponíveis ou desconfortáveis no seu papel de mãe); c)​ Associada a estratégias de proteção da criança de forma distante, pouca envolvência na prestação de cuidados, implicando uma maior autonomia da criança e maior risco, particularmente quando ela é muito nova; d)​ “Cognitive deactivation”: enviesamento atencional que leva à exclusão sistemática de informação relacionada com as necessidades de vinculação da criança; e)​ Associam-se ao desenvolvimento de uma vinculação evitante pela criança. 29 As representações mentais de prestação de cuidados ambivalentes incluem: a)​ Incerteza comportamental e representacional do sistema de prestação de cuidados; b)​ Modelos representacionais marcados por dúvida e confusão (“eu não sei o que esta criança precisa”) – o self é visto como incapaz de saber o que a criança precisa e a criança é vista como incapaz de sinalizar claramente as suas necessidades; c)​ Não são contingentemente responsivas às necessidades da criança – utilizam simultaneamente estratégias de manutenção da proximidade (por vezes intrusivas) e outras vezes são insensíveis às pistas da criança; d)​ Desconexão cognitiva do sentimento negativo da situação que o elícita; e)​ Associam-se ao desenvolvimento de uma vinculação ambivalente-ansiosa pela criança. O SCPC pode expressar-se na infância e adolescência, pelo desejo de cuidar ou por comportamentos de cuidadores quando estão próximos de bebés ou animais, mas alcança a sua maturidade a partir da adolescência e com a transição para a parentalidade. As pessoas prestam cuidados com base nas suas próprias experiências de serem cuidados: expressa-se a prestação de cuidados como o culminar das experiências prévias de vinculação. A maturação das experiências de vinculação ocorre com base nos modelos internos dinâmicos de vinculação e com base na assimilação da experiência com o bebé/criança, integrando estas experiências nas suas representações do passado; 2. Função reflexiva parental ​ É a capacidade do indivíduo compreender o próprio comportamento e o comportamento dos outros em termos de estados mentais subjacentes, ou seja, dos sentimentos e intenções subjacentes a esse comportamento. ​ A investigação demonstra que a capacidade de função reflexiva parental está associada a comportamentos de prestação de cuidados mais sensíveis e, consequentemente, ao estabelecimento de uma relação de vinculação mais segura pela criança. 30 ​ Determinados fatores influenciam a transmissão intergeracional da vinculação: ​ Fatores de stress ou adversidades cumulativas podem interferir com a competência parental dos pais, independentemente das representações mentais de vinculação (ex: gravidez na adolescência; contextos que implicam afastamento parental); ​ Suscetibilidade diferencial ao ambiente: crianças com um temperamento mais difícil (irritável, negativo ou reativo) podem ter uma maior suscetibilidade às práticas parentais do que as crianças com um temperamento fácil; ​ Assim, destaca-se a necessidade de compreender o papel de variáveis do contexto: tanto as características da criança, como também o funcionamento familiar, relação conjugal, apoio, etc. 31 AULA 8 - Vinculação ao Longo da Vida II ​ A vinculação segura é um recurso interno que pode facilitar a resiliência, enquanto a vinculação insegura é uma vulnerabilidade frequentemente associada a piores resultados ao longo da vida, tanto nas relações interpessoais e na saúde mental. Vinculação no contexto das relações românticas ​ A vinculação no adulto está diretamente associada ao contexto das relações íntimas. As relações de vinculação nos adultos: ​ São tipicamente relações estabelecidas entre pares; ​ São relações simétricas e de reciprocidade; ​ Incluem, muitas vezes, relações de natureza sexual, associadas ao amor romântico; ​ O amor romântico, tal como é habitualmente concebido, envolve a articulação dos sistemas de vinculação, de prestação de cuidados e sexual; ​ Os modelos internos dinâmicos continuam a guiar e a moldar o comportamento nas relações próximas ao longo da vida: à medida que as pessoas constroem novas relações, baseiam-se, em parte, nas expectativas prévias acerca da forma como os outros irão provavelmente comportar-se, e usam estes modelos para interpretar os objetivos ou intenções dos seus companheiros. ​ Representações de vinculação seguras caracterizam-se por: ​ Indivíduos que se sentem valorizados pelos outros e merecedores de afeto; ​ Sentem-se confortáveis com as relações e com a intimidade, mas também em estar sozinhos; ​ Confiam em si e nos outros para gerir situações desafiantes; ​ Autoconfiantes; ​ Estabelecem e respeitam limites nas relações; ​ Procura conexão com os outros (mesmo distante fisicamente), mas também proporciona espaço; ​ Em situações de “ameaça” procuram apoio e proximidade do companheiro para lidar com a situação; ​ Representações de vinculação ansiosas estão associadas a estratégias de hiperativação no contexto das relações, caracterizando-se por: ​ Monitorização intensa da FV (parceiro) – a probabilidade de detetar sinais de desinteresse, distância, rejeição ou indisponibilidade, reais ou imaginários, é maior; ​ Dependência excessiva do parceiro para obtenção de conforto; ​ Exigências de atenção e cuidado excessivas; Grande desejo de emaranhamento; ​ Protesto perante qualquer insinuação de indisponibilidade do companheiro; ​ Tentativas de minimização da distância física, cognitiva e emocional do parceiro; ​ Comportamento controlador para obtenção do apoio do parceiro; 32 ​ Representações de vinculação evitante estão associadas a estratégias de desativação no contexto das relações, caracterizando-se por: ​ Maior probabilidade de os sinais genuínos de disponibilidade por parte da FV não sejam detetados ou sejam mal percebidos; ​ Desejo de manutenção da distância, do controlo e da autossuficiência; ​ Tentativas observáveis de controlo e de maximização da distância psicológica ao parceiro; ​ Evitamento de interações que requerem envolvimento emocional, intimidade, auto revelação ou interdependência; ​ Relutância em pensar e enfrentar tensões e conflitos relacionais; ​ Negação ou supressão de pensamentos ou sentimentos relacionados com a vinculação que possam encorajar a proximidade; 1.​ Parceiros seguros são vistos como mais “atraentes” As pessoas vêm os parceiros seguros como mais atraentes, reportam mais emoções positivas e menos emoções negativas quando se imaginam numa relação com um parceiro seguro e têm preferência pela escolha de um parceiro com um estilo de vinculação seguro. Destaca-se que as pessoas têm uma avaliação mais positiva dos parceiros com vinculação insegura ansiosa do que com vinculação insegura evitante. 2.​ Pessoas com vinculação insegura vêm os parceiros com vinculação insegura como mais atraentes do que pessoas com vinculação segura ​ Estudos encontram similaridade entre as orientações de vinculação dos parceiros, no entanto, outros estudos apontam para preferência por padrões complementares: indivíduos com vinculação evitante preferem parceiros com vinculação ansiosa, porque estes parceiros confirmam as suas expectativas dos outros como dependentes e do self como independente. 3.​ As orientações de vinculação das pessoas também influenciam a forma como as pessoas iniciam as relações ​ Pessoas com orientação de vinculação insegura-evitante procuram menos informação sobre os parceiros para iniciar relações e preferem situações em que não obtêm feedback sobre como os outros se sentem acerca deles e apresentam uma visão muito positiva de si como autossuficientes e independentes. Pessoas com orientação de vinculação insegura-ansiosa apresentam-se com uma visão muito negativa de si para suscitar apoio e compaixão, tendem a revelar informação pessoal de forma indiscriminada e não são muito responsivos às revelações do parceiro. 4.​ As orientações de vinculação podem influenciar a intimidade e o compromisso nas relações amorosas 33 ​ Nas relações íntimas (amorosas), é importante que os parceiros sejam capazes de solicitar efetivamente ajuda quando esta é necessária, bem como de detetar adequadamente quando os parceiros estão a oferecer apoio. Enquanto cuidadores na relação, os parceiros devem estar atentos às necessidades do outro e, quando apropriado, serem responsivos e disponíveis. A)​ Procurar apoio: Corresponde à capacidade de usar o parceiro como base segura em situações de stress e implica a capacidade de sinalizar de forma clara e consistente a necessidade de ajuda ao parceiro. a)​ Vinculação segura: tendem a solicitar apoio, e fazê-lo de forma construtiva e eficaz; b)​ Vinculação evitante: solicitam pouco apoio ao parceiro quando estão a discutir um problema, mesmo que seja um problema importante; c)​ Vinculação ansiosa: elevado desejo de manter proximidade, mas não procurar mais apoio do que indivíduos não-ansiosos; B)​ Perceções de apoio e responsividade: Os indivíduos devem ser capazes de perceber adequadamente as tentativas de apoio do parceiro. a)​ Vinculação segura: têm a expectativa que o apoio estará disponível e têm mais probabilidade de ver as tentativas de apoio do parceiro como eficazes; b)​ Vinculação insegura: tendem a interpretar as iniciativas de apoio do parceiro como mais ambíguas e tendem a experienciar menos alívio emocional perante esses sinais; C)​ Proporcionar apoio e estar responsivo: Os estilos de vinculação estão também associados à capacidade de proporcionar apoio e cuidado aos parceiros. a)​ Vinculação segura: mais sensíveis aos sinais do parceiro, são mais cooperativos, flexíveis e menos controladores na resposta ao parceiro; b)​ Vinculação evitante: proporcionam menos apoio quando aumenta o sofrimento do parceiro e mostram sinais de raiva para com o parceiro; c)​ Vinculação ansiosa: menos responsivos, menos apoio instrumental e mais comportamento negativo; ​ ​ A satisfação conjugal foi analisada em estudos conduzidos na década de 90 evidenciaram que a vinculação segura está associada a níveis elevados de confiança, compromisso, satisfação conjugal e interdependência na relação conjugal. No que respeita ao papel das representações inseguras de vinculação, enquanto a dimensão de Evitamento está mais fortemente relacionada com baixos níveis de conexão, apoio e satisfação conjugal global, a dimensão de Ansiedade está mais fortemente associada ao conflito conjugal. 34 ​ Os parceiros proporcionam um contexto situacional que pode alterar a forma como cada pessoa expressa as suas orientações de vinculação. Casais em que os dois membros possuíam uma vinculação segura reportaram maior satisfação conjugal inicial, que levou a um menor declínio da satisfação conjugal ao longo do tempo e, consequentemente, a uma menor probabilidade de dissolução/divórcio. ​ Casais que incluem pelo menos um parceiro com níveis elevados de Ansiedade estavam menos satisfeitos no início do casamento, experienciaram um maior declínio da satisfação conjugal e tinham uma maior probabilidade de dissolução/divórcio. ​ Casais em que os dois parceiros têm uma orientação de vinculação evitante reportaram que não se verificaram efeitos na satisfação conjugal inicial, no declínio da satisfação ao longo do tempo ou na dissolução conjugal. ​ A presença de um parceiro com níveis baixos de Ansiedade (ou Evitamento) tem um efeito de buffer nos níveis de Evitamento (ou Ansiedade) elevados do outro parceiro, “protegendo” o casal de níveis mais baixos de satisfação conjugal inicial, de maior declínio na satisfação conjugal e de maior probabilidade de dissolução. ​ Se a satisfação conjugal e a relação de apoio são importantes, é também necessário entender a relação da vinculação com o conflito conjugal. ​ As diferenças individuais na vinculação podem influenciar a resposta a situações de conflito, visto que a eventualidade de haver um conflito grave ou persistente na relação ativa o sistema de vinculação. Representações de vinculação inseguras estão associadas a expectativas mais negativas sobre o comportamento do parceiro e a respostas menos construtivas perante situações de conflito. Vinculação Insegura e Conflito Conjugal Vinculação ansiosa Vinculação evitante - Conflito percebido como mais intenso e - Minimizar a frequência e Perceções de frequente. impacto do conflito conflito - Comportamento do parceiro visto como intencional e estável Reatividade fisiológica; Reatividade fisiológica; Estratégias de hiperativação: Estratégias de desativação: Resposta ao -​ Dominância e coerção; -​ Evitamento, isolamento; conflito -​ Exigir e comportamento de “apego”; -​ Menor negociação mútua -​ Menor negociação mútua; -​ Menor envolvimento; -​ Menor auto revelação e expressividade; Outcomes Avaliações mais negativas do parceiro; Defensividade; relacionados Ruminação; Distanciamento; com conflito Insatisfação com a comunicação; Insatisfação com a comunicação; Stress relacional; Stress relacional; 35 Vinculação e psicopatologia desde a infância à idade adulta ​ Que consequências podem ter experiências prolongadas de disrupção da vinculação para a emergência de psicopatologia? ​ Experiências de disrupção da vinculação constituem ameaças graves e/ou prolongadas à disponibilidade ou responsividade do cuidador, que criam dúvidas e receios fortes sobre a disponibilidade do cuidador e da sua capacidade de responder em situações de perigo. ​ Estudos iniciais sobre os efeitos da privação de cuidados parentais na infância evidenciam que a separação prolongada elícita uma série de reações emocionais e processos defensivos que comprometem o funcionamento interpessoal e distorcem a expressão das necessidades de vinculação pela criança. As crianças evidenciam uma sequência de comportamentos em resposta à separação: ​ Fase 1 – Protesto; ​ Fase 2 – Desespero; ​ Fase 3 – Desvinculação. ​ Em crianças mais velhas ou adultos, embora a separação física da FV possa não ser tão ameaçadora, continua a existir vulnerabilidade ao medo do abandono ou perda do cuidador/FV. A desregulação emocional, dificuldades interpessoais e expressões sintomáticas associadas à ameaça à disponibilidade do cuidador podem ser um fator de risco que contribui para a emergência de psicopatologia. ​ Este fenómeno expressa-se nos modelos internos dinâmicos, seja em continuidade ou mudança nas trajetórias desenvolvimentais: ​ Continuidade: As expectativas internalizadas da disponibilidade do cuidador moldam o comportamento do indivíduo ao longo da vida, sobretudo quando as condições de vida da pessoa (positivas ou negativas) se mantêm. ​ Mudança: Apesar da estabilidade, há potencial de mudança face a novas contingências ambientais, levando à revisão e atualização dos modelos internos dinâmicos. ​ ​ ​ Mas, será que estas experiências de cuidados consistentemente marcadas por insegurança e desorganização levam inevitavelmente ao desenvolvimento de psicopatologia na criança? A vinculação insegura parece ser um fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologia na infância e parece exercer a sua influência no contexto de outros fatores de risco. 36 ​ Porém, a ocorrência de psicopatologia na infância resulta da combinação de diferentes fatores de risco e da intersecção entre ele: ​ Sendo assim, que mecanismos ligam a vinculação insegura à psicopatologia na infância? Comportamento - Estratégias ineficazes de procura de proximidade ou evitamento que, embora observado eficazes a curto-prazo, podem potenciar interações mal adaptativas a longo prazo; Regulação - As estratégias de minimização ou maximização da emoção, características emocional das crianças com vinculação insegura, interferem com a aprendizagem de estratégias eficazes de regulação emocional; - Desenvolvimento de MID de interpretação do mundo baseados em Estruturas perceções negativas do self e dos outros que se cristalizam em modelos de cognitivo-afetivas raiva, desconfiança, ansiedade e/ou medo; - Atribuições e interpretações mais negativas sobre os acontecimentos; Processos - Resistência a adotar uma orientação mais social; motivacionais - Crianças com vinculação insegura estão menos motivadas a cumprir as orientações parentais e a desenvolver comportamentos pró-sociais; ​ Mary Ainsworth (1978), através da célebre “Situação Estranha”, definiu o Padrão D - Desorganizado, caracterizado por: ​ Contradição e inconsistência observada no padrão de comportamentos; ​ Resposta de medo, freezing e desorientação; ​ Expressão de comportamentos não direcionados, mal direcionados, incompletos ou interrompidos; ​ Comportamentos lentificados; ​ Associado a comportamentos ameaçadores ou assustadores da FV, ou então a comportamentos assustados da FV (medo). Isto revela uma falha no sistema de prestação de cuidados que pode envolver negligência, assustar, maltratar ou falha em proteger a criança; ​ Crianças com padrão de vinculação desorganizado apresentam uma prevalência mais elevada de comportamento agressivo na idade pré-escolar e escolar; ​ Crianças com padrão de vinculação desorganizado apresentam maior probabilidade de problemas de comportamento desde a infância até à adolescência, bem como psicopatologia e sintomas dissociativos na adolescência. 37 ​ Crianças mais velhas com este padrão de vinculação podem desenvolver “estratégias de controlo” para gerir a sua relação com os cuidadores, tornando assim a relação mais previsível e diminuindo a confusão, substituindo estratégias disfuncionais previamente usadas e consistentemente associadas a maior risco de psicopatologia na infância e adolescência. ​ Representações de vinculação inseguras são comuns em indivíduos com uma variedade de problemas mentais em amostras clínicas e comunitárias. Estudos mostram a associação entre vinculação insegura (ansiedade e evitamento) e depressão, ansiedade, POC, PTSD, ideação suicida e problemas de comportamento alimentar. Especificamente, evidencia-se uma associação entre vinculação ansiosa e a componente de desregulação emocional das perturbações de personalidade, e uma associação entre vinculação evitante e a componente de “inibição” das perturbações de personalidade. ​ Devemos ter em atenção que a vinculação insegura não é condição suficiente para a emergência de psicopatologia na idade adulta, visto que este fenómeno é multideterminado e associado a outros fatores. Porém, podemos definir a vinculação insegura como um fator de vulnerabilidade para a psicopatologia, que exerce a sua influência no contexto de outros fatores de risco. ​ Esta relação entre vinculação insegura e psicopatologia pode ser explicada por: 1.​ Autorrepresentações: ○​ Falta de auto coesão (dúvida sobre a coerência e continuidade do self); ○​ Baixa autoestima; ○​ Dependência da aprovação dos outros; ○​ Mais autocriticismo; ○​ Propensão à utilização de estratégias defensivas como o perfecionismo destrutivo; ○​ Sentimentos de desvalorização e desesperança; ○​ Narcisismo e grandiosidade, negação da fraqueza (vinculação insegura evitante); 2.​ Regulação Emocional: ○​ Estratégias desadaptativas de regulação emocional; ○​ Vinculação evitante: supressão do stresse (evitamento), negação das dificuldades, incapacidade de mobilizar estratégias de coping ativas e fontes externas de apoio dificuldade em resolver situações-problema; ○​ Vinculação ansiosa: amplificação e exagero das preocupações, reações depressivas exageradas a perdas e fracassos potenciais; comportamento impulsivo; 3.​ Problemas nas relações interpessoais: ○​ O padrão de vinculação inseguro ansioso está associado, no geral, a mais problemas interpessoais, enquanto o padrão de vinculação evitante está marcado pelo isolamento; ○​ Solidão e isolamento social; ○​ Baixa satisfação com as relações; ○​ Ruturas relacionais mais frequentes, bem como situações de conflito e violência; 38 AULA 9 - Regulação Emocional na Adolescência ​ As emoções são um conjunto de estados psicológicos que incluem a experiência subjetiva, o comportamento expressivo - facial, corporal ou verbal - e respostas fisiológicas periféricas, por exemplo: respiração ou batimentos cardíacos. Podem ser universalmente experienciadas, mas existem diferenças inter e intraindividual na duração, flutuação, pontos de ativação e dinâmicas de aumento ou diminuição da intensidade das emoções: reatividade emocional. ​ A perspetiva funcional das emoções determina que as emoções preparam respostas comportamentais necessárias, harmonizam tomadas de decisão, elevam a memória para eventos importantes e facilitam as interações interpessoais. Características centrais das emoções 1.​ Surgem quando o indivíduo está presente numa situação e a vê como relevante para os seus objetivos; 2.​ São multifacetadas e fenómenos “whole-body”, que envolvem a experiência subjetiva, o comportamento e a experiência fisiológica; 3.​ Emoções possuem uma qualidade imperativa, o que significa que podem interromper o que estamos a fazer e forçar-nos a ter consciência delas; 4.​ São maleáveis – tendências de resposta que podem ser moduláveis de diferentes formas; ​ O modelo modal das emoções conceptualiza as emoções como um processo sequencial, descrito na seguinte imagem: ​ A regulação emocional pode ser definida como a capacidade de modificar a experiência e expressão das emoções, o processo de modular a ocorrência, duração e intensidade das emoções, ou os estados internos de emoções (positivos e negativos) e respostas fisiológicas relacionadas, ou seja, gerindo estados de ativação emocional. A regulação emocional promove a adaptação do sujeito ao contexto que o rodeia. 39 Tipos de estratégias de regulação emocional -​ Esforços para se envolver ou não em situações que dão origem a Seleção da determinadas emoções (positivas ou negativas); situação -​ Exemplo: evitamento ou aproximação de pessoas, lugares ou atividades; Modificação -​ Esforços para modificar a situação; da situação -​ Exemplo: esperar pelo operador de loja que é mais simpático quando me sinto muito ansioso em situações sociais; Modificação -​ Redirecionar o foco atencional para diferentes aspetos da situação; do foco -​ Exemplo: distração, concentração em determinados estímulos; atencional ruminação acerca das experiências internas; -​ Avaliar a situação de forma diferente para alterar o seu significado Reavaliação emocional; cognitiva -​ Exemplo: mudar a sua interpretação da situação ou a perceção da sua capacidade para lidar com ela; Modulação da -​ Alteração da forma de responder à situação; resposta -​ Exemplo: supressão emocional, consumo de substâncias; ​ Ao longo do desenvolvimento, a dimensão regulatória ou de controlo das emoções torna-se gradualmente mais complexa e elaborada. Muitas competências de regulação emocional começam a desenvolver-se na idade pré-escolar, criando as bases para o desenvolvimento posterior de competências regulatórias: os primeiros sinais de capacidade de autorregulação. A família, e mais tarde os pares, são agentes críticos para potenciar essas competências, e complementá-las com desafio e apoio ao desenvolvimento de outras estratégias regulatórias. Acontecimentos significativos e o contexto histórico-social podem ser fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento da regulação emocional. a)​ Bebés i)​ As emoções decorrem da experiência imediata; ii)​ Bebés de 3-6 meses vão ganhando crescente controlo da sua atenção e, posteriormente do seu nível de ativação nas situações; iii)​ Entre os 6-12 meses tornam-se crescentemente ativos, e com um comportamento mais direcionado para objetivos; iv)​ As interações com os cuidadores são fundamentais para ajudar nos processos de regulação (corregulação) – os processos de regulação são sobretudo externos; b)​ Primeira Infância i)​ Capacidade de discriminar caras felizes de caras com outras emoções; ii)​ O desenvolvimento da linguagem traduz-se numa expansão da compreensão e expressão emocional (capacidade de identificar estados emocionais internos), para pedir ajuda aos outros e para modificar o seu ambiente; iii)​ Apesar de não conseguirem controlar as suas emoções de forma independente, usam já uma variedade de estratégias para gerir os seus estados afetivos; 40 iv)​ A criança é capaz de experienciar novas emoções (vergonha e orgulho) em circunstâncias que envolvem a interação com os outros; c)​ Idade Pré-escolar i)​ Perceção de que as emoções são causadas por eventos externos. Começam simultaneamente a compreender novas dimensões do seu mundo emocional; ii)​ O contexto familiar torna-se um contexto privilegiado de aprendizagem de estratégias de regulação emocional, bem como o contexto de pares; iii)​ Aumentam as capacidades de regulação emocional: as competências autorregulatórias estão associadas ao desenvolvimento cerebral entre os 3-6 anos; iv)​ A criança consegue identificar, discutir e gerir situações emocionalmente ativadoras; v)​ Observadores-chave do comportamento de outro, permitindo-lhes modelar estratégias comportamentais e de planeamento; d)​ Idade Escolar i)​ Verifica-se uma transição das competências de RE, daquilo que é mais instintivo e intuitivo, para algo que é de base mais cognitiva e reavaliativa; ii)​ O papel dos pais continua a ser um papel de relevo no desenvolvimento da RE; iii)​ As relações com os pares desempenham um papel cada vez mais relevante na socialização com estratégias de RE. As crianças aprendem que existem razões sociais para regular as suas emoções; iv)​ A inibição comportamental, a regulação da raiva e o comportamento orientado por objetivos começam a emergir neste período, embora se desenvolvam de forma mais consistente na adolescência; 41 A regulação emocional na adolescência ​ A adolescência é um período desenvolvimentalmente sensível para a regulação emocional por ser um período caracterizado por desafios normativos associados a múltiplas e profundas transformações que podem ter impacto na reatividade emocional e na capacidade de RE. ​ O desenvolvimento emocional no adolescente é pautado por grande variabilidade interindividual, mas também por mudanças intraindividuais não lineares (picos de desenvolvimento), ou seja, não é um período homogéneo que possibilite uma contínua melhoria de competências de RE. O desenvolvimento das estratégias de regulação emocional na adolescência coincide com as mudanças no ambiente social e o desenvolvimento cerebral. ​ Enquanto as crianças se baseiam fortemente nos pais para regular as suas emoções, os adolescentes recorrem frequentemente aos amigos ou a si próprios (autorregulação) para regular as suas emoções. ​ Durante a adolescência, existe maturação da atividade e conetividade cerebral nas zonas do córtex pré-frontal, striatum e amígdala (sistema límbico). No entanto, enquanto o sistema límbico subcortical responsável pela reatividade emocional atinge o seu pico de desenvolvimento durante a adolescência, as regiões pré-frontais do córtex, responsáveis por processos regulatórios, estão em processo de desenvolvimento até ao início da idade adulta - Desfasamento no desenvolvimento. ​ Estudos de neuroimagem mostram que os adolescentes apresentam maior uso da amígdala e menor uso do córtex pré-frontal durante a utilização de estratégias de RE comparativamente a adultos, o que se pode traduzir numa menor eficácia da RE: menores capacidades de regular emoções negativas (em particular o medo) e gerir tendências impulsivas; ​ No contexto da RE, o cortéx pré-frontal é responsável por funções executivas, ou seja, implementar mecanismos de inibição de comportamento impulsivo, por modular a intensidade e duração das emoções negativas e a seleção de estratégias cognitivas. 1.​ Reatividade emocional ​ Quando expostos a situações específicas (tarefa laboratorial), a reatividade emocional dos adolescentes a diferentes tipos de situações é comparável à dos adultos. As reações de raiva dos adolescentes são mais intensas que outras reações emocionais (e.g., medo), mesmo em reações que elicitam primeiramente outras emoções. No entanto, enquanto grupo, não reportam sentir mais raiva do que os adultos. 42 2.​ Intensidade emocional A intensidade das emoções negativas reportadas em situações estandardizadas que elicitam ansiedade, raiva e tristeza aumenta do inicio para final da adolescência; 3.​ Variabilidade emocional Os adolescentes experienciam diferentes mudanças na intensidade e labilidade das emoções, dependendo da emoção considerada: -​ Declínio linear na variabilidade para Alegria, Tristeza e Raiva: tornam-se progressivamente menos intensas ao longo da adolescência; -​ A variabilidade na Ansiedade mostra um padrão diferente: um aumento inicial, seguindo-se um declínio e um novo aumento no final da adolescência; 4.​ Uso de estratégias de regulação emocional ​ Os adolescentes usam uma diversidade de estratégias de regulação emocional e, em média, aplicam todas as estratégias “algumas vezes”. Quando consideramos o período da adolescência, parece haver uma ligeira diminuição do reportório de estratégias de regulação emocional aplicadas do início para o meio da adolescência, seguido de um aumento desse repertório no final da adolescência. ​ O uso de estratégias de RE não fica “mais competente” ao longo da adolescência, o desenvolvimento da RE apenas parece apresentar um padrão dinâmico no uso de estratégias de RE específicas. Os adolescentes desenvolvem um sentido de self que inclui a perceção acerca do seu estilo emocional e interpessoal, assim como de preferências estáveis no uso de estratégias de RE particulares. 5.​ Flexibilidade no uso de estratégias de RE ​ Os adolescentes têm flexibilidade situacional no uso de estratégias de RE, ou seja, conseguem usar diferentes estratégias em diferentes situações, dependendo do contexto. Por exemplo, no que toca à procura de apoio social, esta diminui a meio da adolescência, quando comparada ao início e fim deste estádio de desenvolvimento. 43 ​ Os adolescentes que são capazes de mobilizar um maior repertório de estratégias de RE reportam níveis superiores de bem-estar, enquanto que aqueles que reportam utilizar menos estratégias de RE descrevem mais problemas internalizantes. 6.​ Implementação simultânea de múltiplas estratégias de RE ​ Ao longo da adolescência, os adolescentes demonstram capacidade de usar diferentes estratégias de RE sequencialmente ou simultaneamente, quando uma emoção é intensa. A implementação simultânea de estratégias de RE não é adaptativa per se, mas pode permitir ao indivíduo implementar várias estratégias para avaliar qual a mais eficaz para atingir os seus objetivos. ​ A adolescência é um período de risco para o início de perturbações de ansiedade e depressão [prevalência mundial de 13%]. A desregulação emocional parece ter um pico durante a adolescência que, por si, aumenta o risco de problemas de saúde mental. Isto pode estar conectado a: -​ Risco acrescido de problemas académicos, sociais e de saúde subsequentes; -​ Risco acrescido de desenvolvimento de outros problemas mentais ao longo da vida; ​ A relação entre estratégias de RE e um fator global de psicopatologia foi estudada junto de uma amostra composta por 2792 adolescentes da Noruega Central. O estudo demonstrou que a relação entre desregulação emocional e psicopatologia na adolescência pode tornar-se particularmente problemática porque os adolescentes, ao tentar regular esses estados e sintomas indesejados, podem envolver-se em: ​ Comportamentos de consumo de substâncias (e.g., álcool, cannabis); ​ Comportamentos aditivos (jogo, internet); ​ Comportamentos de risco ou impulsivos, incluindo comportamentos autolesivos. Isto pode se traduzir também em ideação suicida e/ou agravamento dos sintomas psiquiátricos; ​ A socialização emocional é um processo dinâmico que envolve um conjunto diversificado de práticas sociais, verbais e experienciais, através dos quais os cuidadores medeiam formas normativas de interpretar e expressar as emoções. A realização deste processo, particularmente pelos pais, pode ocorrer de várias formas: ​ Práticas parentais generalizadas, clima emocional da família, estilo de vinculação; ​ Práticas emocionais específicas (por exemplo: reações às emoções negativas dos adolescentes; modelar o comportamento emocional do adolescente; coaching emocional); ​ Através das próprias estratégias de RE dos pais (por observação); ​ As mudanças na relação com os pais são um fator crucial para o desenvolvimento da regulação emocional. Os adolescentes passam menos tempo fora da monitorização direta dos pais, o que se traduz em menor RE externa pelos pais e maior RE interna pelos adolescentes. Existe uma reorganização da relação pais-adolescentes (autonomia), que pode traduzir-se em maior nível de conflito com os pais, geradores de mais emoções negativas, porém, conflitos moderados com os pais podem ser um contexto adequado de expressão da flexibilidade de RE nos adolescentes. 44 ​ Apesar de o calor e a aceitação pelos pais continuar a ter um efeito positivo na adolescência, o apoio parental “próximo” parece apenas beneficiar os adolescentes mais novos, representando uma mudança na autonomia durante esta fase. No entanto, os pais continuam a manter-se como um importante fator protetor durante a adolescência. ​ Podemos afirmar que, na adolescência, os contextos sociais têm mais saliência e podem elicitar emoções negativas mais intensas. É um período de reorientação social em que interações com os pares são crescentemente importantes, visto que os sujeitos são frequentemente mais “abertos” sobre as suas experiências emocionais com os pares nesta fase. Sendo assim, concluímos que os pares podem ser uma fonte importante de apoio regulatório. 45 AULA 10 - Transição para a Parentalidade I ​ A transição para a parentalidade pode ser entendida como um período de desenvolvimento associado ao

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