Resumo Psicologia do Desenvolvimento II PDF
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Este resumo apresenta os temas abordados em "Psicologia do Desenvolvimento II", incluindo a compreensão do comportamento antissocial na adolescência, o desenvolvimento moral, bem-estar psicológico e vinculação. Explora diversos modelos teóricos e enfoca a perspectiva desenvolvimentista.
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Resumo Psicologia do Desenvolvimento II Tema 1 – Abordagem desenvolvimentista da compreensão do fenómeno antissocial da adolescência Tema 2 – Desenvolvimento Moral: A) dos modelos unidimensionais (eg., Piaget, Kohlberg) aos modelos contextualistas (eg., Gilligan, Turiel, Jensen) e modelos multidime...
Resumo Psicologia do Desenvolvimento II Tema 1 – Abordagem desenvolvimentista da compreensão do fenómeno antissocial da adolescência Tema 2 – Desenvolvimento Moral: A) dos modelos unidimensionais (eg., Piaget, Kohlberg) aos modelos contextualistas (eg., Gilligan, Turiel, Jensen) e modelos multidimensionais (eg., Rest, Nunner-Winkler & Sodiam, Schlenker). B) O desenvolvimento moral num mundo global: A perspetiva cultural-desenvolvimentista; C) Emoções e motivação moral. Tema 3 – Desenvolvimento positivo e bem-estar ao longo da vida Tema 4 – A regulação emocional na adolescência. Tema 5 – Questões específicas da vinculação ao longo do ciclo de vida: a) padrões disfuncionais de vinculação da infância à idade adulta; b) vinculação, adversidade e psicopatologia; c) vinculação e relações românticas; d) transmissão intergeracional da vinculação. Tema 6 – Transição para a parentalidade: uma etapa crucial do desenvolvimento do adulto Tema 7 – Adultez intermédia: os desafios específicos da transição para a menopausa Compreender o fenómeno antissocial na adolescência: Uma questão multidimensional Comportamento antissocial refere-se a uma diversidade de comportamentos que violam normas sociais que visam promover o respeito e a consideração pela vida e propriedade dos outros. “Deve ser interpretado como um evento social, com sub tipos, topografias, antecedentes e funções” (Dodge, Coie & Lynam). Uma perspectiva desenvolvimental poderá oferecer importantes pistas para compreender o que necessita de ser trabalhado no sentido de prevenir manifestações anti-sociais na adolescência e remediar as suas consequências, especialmente se tivermos em consideração contextos específicos e percepções individuais(Morgado & Vale Dias, 2013). Comportamentos que violam regras sociais destinadas a promover o respeito e a consideração pelos outros a vida e a propriedade das pessoas (Burt, Donnellan, Iacono & McGue, 2011; Kagan, 2004) Comportamentos anti-sociais são particularmente prevalentes durante a adolescência [Curva de criminalidade etária – comportamentos normativos na adolescência? (Bloningen, 2010)] Portanto, parece crucial identificar variáveis que potencialmente influenciar o desvio neste específico momento de desenvolvimento. Hipóteses H1: Rapazes delinquentes apresentam traços de personalidade de Eysenck mais elevados e resultados mais baixos na escala de mentira do EPQ-J (medida de desejabilidade social) em comparação com rapazes da população geral; H2: Rapazes delinquentes têm significativamente menor auto-controlo e empatia que rapazes da população geral; H3: Rapazes delinquentes apresentam pior auto-conceito que rapazes da população geral; H4: Rapazes delinquentes apresentam percepções significativamente mais negativas do seu ambiente familiar que rapazes da população geral; H5: Traços de personalidade, auto-conceito, competências sociais (empatia e auto controlo) e ambiente familiar predizem tendências anti-sociais. Instrumentos Questionário sociodemográfico Condições de vida Questionário Sociodemográfico Características sociodemográficas Youth self-Report (YSR) Escala “Anti-social” Youth Self Escala “Hiperactividade/Problemas de Atenção” Questionário de Personalidade de Eysenck para Jovens (EPQ-J) “Psicoticismo”, “Extraversão”, “Neuroticismo” “Mentira” Escala de Auto-Conceito de Piers-Harris para Crianças – 2 (PHCSCS-2) Auto-conceito global “Aspecto comportamental”, “Estatuto intelectual e escolar”, “Aparência e atributos físicos”, “Ansiedade”, “Popularidade”, “Satisfação e felicidade” Social Skills Questionnaire – Student From (SSQ) “Auto-controlo” “Empatia” Escala de Ambiente Familiar (FES) Relação (“coesão”, “expressividade”, “conflito”) Crescimento Pessoal (“independência”, “orientação p/sucesso”, “orientação intelectual/cultural”, “orientação activa/recreativa”, “ênfase moral e religiosa”) Manutenção do Sistema (“organização”, “controlo”) (Estudo) Sujeitos Amostra ocasional de 229 sujeitos: - 121 rapazes com história de delinquência, internados em Centros Educativos de Portugal Continental (Porto, Lisboa, Caxias, Guarda e Coimbra) - 108 rapazes a frequentar três escolas na região de Coimbra Discussão Diferenças entre grupos Nível Socioeconómico Nível de escolaridade abaixo do esperado para a idade Personalidade Impulsividade, agressividade, instabilidade emocional, tensão mais elevados na amostra institucionalizada Abertura à experiência, sociabilidade, energia mais elevadas na amostra escola Competências Sociais Auto-Controlo Empatia Auto-conceito Diferenças estatisticamente significativas Ausência de diferenças nos factores aparência/atributos físicos e popularidade Ambiente familiar Aspectos relacionais Crescimento Pessoal Preditores Personalidade (P e N) – os mais elevados na amostra institucionalizada Conformidade com normas sociais (Mentira) Auto-Conceito Comportamental Relação familiar Crescimento pessoal no seio da família Conclusões Aula 4 Prevenir comportamentos antissociais na adolescência: O que nos dizem as perceções individuais? Comportamento Antissocial – diversidade de comportamentos que violam normas sociais que visam promover o respeito e a consideração pela vida e propriedade dos outros – Particularmente prevalente durante a adolescência, momento da vida em que é quase “normativo” Adolescência – Estádio de desenvolvimento definido por múltiplas e profundas transformações, assim como tarefas desenvolvimentais fundamentais para a adaptação ao meio Autonomia Identidade Relações entre pares Representações sociais e do self Compreender as particularidades do fenómeno antissocial na adolescência e enquadrá-la numa perspetiva desenvolvimentista oferece-nos uma importante vantagem no que concerne à prevenção, pois permite a antecipação dos comportamentos antes de atingirem manifestações mais graves e de resultarem em consequências mais sérias do ponto de vista social e individual. Objetivos Compreender a relação entre comportamento antissocial e diversas dimensões de personalidade, autoconceito, competências sociais, ambiente familiar e nível socioeconómico Construir um programa de prevenção de comportamentos antissociais com base em perceções individuais e centrado em três eixos: Conclusões (de um estudo) Nível Socioeconómico- Condições socioeconómicas mais desfavoráveis relacionam-se com as perceções parentais mais negativas dos comportamentos dos filhos Género- Maior prevalência/intensidade de comportamentos antissociais nos rapazes em comparação com as raparigas Personalidade e Competências sociais- Adolescentes com maior propensão para comportamentos antissociais apresentam resultados mais elevados nos três traços de personalidade de Eysenck (Psicoticismo, Extraversão e Neuroticismo) e resultados mais baixos na escala de mentira (medida da conformidade a normas sociais), assim como menor autocontrolo e empatia quando comparados com os seus pares com menores tendências antissociais Auto-conceito- Autoconceito mais negativo (quando considerado globalmente e em dimensões especificas) em adolescentes com maior propensão para comportamentos antissociais Ambiente familiar- Ambiente familiar globalmente mais negativo em adolescentes com tendências antissociais mais elevadas: dimensões relacionais (conflito, coesão e expressividade), de manutenção do sistema familiar (organização e controlo) e envolvimento no crescimento pessoal dos membros da família (independência, orientação intelectual e cultural, orientação activa-recreativa, ênfase moral e religiosa) Eixos de Prevenção DESENVOLVIMENTO POSITIVO E BEM-ESTAR AO LONGO DA VIDA Psicologia Positiva No passado, os psicólogos interessaram-se mais pelo funcionamento negativo da personalidade ou pelas emoções negativas do que pelas positivas. Só recentemente começaram a dar importância ao funcionamento positivo da personalidade, havendo actualmente muitos estudos sobre as emoções positivas. Certamente o bem-estar psicológico dominará as preocupações dos investigadores no século XXI (Barros de Oliveira, 2001). Barros de Oliveira (2001). FELICIDADE: NATUREZA E AVALIAÇÃO. Psicologia, Educação e Cultura, vol. V, nº 2, pp.289-318 A Psicologia positiva é um movimento recente dentro da ciência psicológica que enfatiza mais a busca pela felicidade humana que o estudo das doenças mentais (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). Por influência da Psicologia Positiva, na prevenção e tratamento da doença mental é deixado de parte o objetivo de eliminar as experiências internas que provocam sofrimento e é sugerida a adoção de estratégias para alterar a sua relação com este (e.g. mindfulness; compaixão; clareza de valores; ação com compromisso) (Carvalho & Vale-Dias, 2013). Na intervenção e promoção da saúde mental exploram-se as emoções positivas, os traços positivos e as comunidades positivas que oferecem condições para o desenvolvimento do bem-estar, do talento humano, da resiliência, da felicidade e do florescimento ou desenvolvimento do potencial humano (Seligman & Csikzentmihalyi, 2000). A perspectiva hedónica Compreende o bem-estar como a obtenção do prazer e a diminuição da dor, sendo que para a psicologia hedónica o “Bem estar consiste na felicidade subjectiva e respeita às experiências de prazer e/ou desgosto, no sentido lato, incluindo todos os julgamentos sobre bons e maus elementos da vida” (Ryan & Deci, 2001:144). Um dos contributos mais importantes na investigação desta perspectiva provém da conceptualização de bem-estar subjectivo de Ed. Diener (1984). Focado nas condições em que as pessoas reagem positivamente às experiências, é um constructo fundado em 3 componentes: o afecto positivo, o afecto negativo, e a Satisfação com a vida (Kahneman, Diener, & Schwarz, 1999). A perspectiva eudaimónica Distingue-se por admitir que nem todos os desejos poderão trazer bem-estar e que este é alcançado através da realização do potencial humano (Ryan & Deci, 2001). Entre os principais autores inseridos nesta perspectiva encontramos C. Ryff, cujos esforços em integrar as formulações teóricas existentes na área do desenvolvimento ao longo da vida, funcionamento positivo e saúde mental resultaram num modelo multidimensional de bem-estar psicológico constituído por 6 dimensões de funcionamento psicológico positivo (Keyes, Ryff, & Shmotkin, 2002; Ryff & Keyes, 1995). Felicidade Em que consiste a felicidade? Que fazer para ser feliz? Segundo Barros de Oliveira (2001, pp. 297), “estamos perante um conceito complexo e muito diferenciado, havendo tantas ‘felicidades’ quantas as pessoas que se dizem felizes. Cada uma vive a felicidade à sua maneira, embora se possam encontrar traços comuns. Trata-se outrossim de um conceito sócio-culturalmente muito diversificado e transcultural (Diener, 2000)”. Normalmente os investigadores consideram a felicidade como dependendo essencialmente de três componentes: emoções positivas, ausência de emoções negativas e satisfação com a vida (Argyle, Martin e Crossland, 1989). A própria terminologia usada, para além de felicidade, e que aponta conceitos similares (alegria, contentamento, satisfação, bem-estar) indicia as dificuldades em definir e controlar a felicidade (Barros de Oliveira, 2001). Em 2000, Diener diz que, coloquialmente, se utiliza o termo felicidade para designar o bem- estar subjetivo. Várias escalas de autoresposta para a avaliação da Felicidade têm sido desenvolvidas... Felicidade, Saúde Mental e Bem-Estar Social O modelo de bem-estar social de Keyes (1998) revela uma preocupação em contemplar a influência do posicionamento dialógico do sujeito com a sociedade na elaboração do seu bem estar. Coloca a hipótese de dois contínuos (saúde e doença), sendo que a saúde e a doença mental podem seguir trajetórias de desenvolvimento distintas ao longo do ciclo de vida (i.e. aqueles que têm menor doença mental numa determinada idade não têm necessariamente melhor saúde mental) ( Westerhof & Keyes, 2010). No entanto, quando a saúde mental aumenta, o risco de apresentar doença mental diminui (Keyes, 2002). Diferentes estados de saúde e doença mental (Keyes, 2002, 2005, 2007; Westerhof & Keys, 2010) Diagnóstico - Relação entre saúde mental e doença mental Saúde mental completa: Ausência de doença mental e presença altos níveis de bem-estar / florescimento Saúde mental: Presença de bem-estar / florescimento Estagnação: Ausência de doença mental e baixos níveis ou ausência de bem-estar/florescimento em uma das escalas de bem-estar hedónico e pelo menos seis das escalas de funcionamento positivo Doença mental: Presença de critérios para doença mental Doença mental e estagnação: Presença de doença mental e ausência de bem-estar/florescimento Intervenção com crianças, adolescentes e adultos: contributos da psicologia positiva e dos modelos cognitivo-comportamentais da terceira geração Que elemento comum? Pós anos 90 Emergência da Psicologia Positiva - uma mudança de foco... Intervenções Positivas A investigação conduzida no âmbito dos paradigmas salutogénico e positivo têm vindo a mostrar que: a saúde mental está para além da ausência da doença, implicando a presença de estados de bem-estar (cf. Ryff et al. 2006; Seligman, 2008; Seligman & Csikzentmihalyi, 2000); os estados de bem-estar podem co-ocorrer em contextos de doença, desempenhando uma função protetora e atenuadora (Folkman & Moskowitz, 2000; Manderscheid et al., 2010; Seligman, 2008); os mecanismos psicológicos característicos dos estados de bem estar atuam de forma preventiva e terapêutica sobre o estado mental e físico Evolução dos Modelos Cognitivo-Comportamentais Terapias baseadas nos Modelos Cognitivo-Comportamentais de Terceira Geração Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT; Segal, Williams & Teasdale, 2002) Terapia da Aceitação e do Compromisso (ACT; Hayes, Strosahl & Wilson, 1999) Terapia Focada na Compaixão (CFT; Gilbert, 2009; Neff, 2003) Terapia Dialética (DBT; Linehan, 1993) Psicologia Positiva A gratidão é um recurso: Cognitivo e meta-cognitivo.Estar atento às coisas agradáveis que acontecem;.Aos acontecimentos internos e externos que provocam bem-estar; Emocional.Promove auto regulação das restantes emoções; Comportamental.Exprimir gratidão promove alterações de comunicação/interação nas relações diádicas e no sistema; O que nos transforma…o stresse? Um indivíduo sente-se em stresse quando confrontado com uma situação, que perceciona como sendo de alguma forma significativa para si e que pelas exigências que levanta ultrapassa os seus recursos e aptidões para a enfrentar ameaçando o seu bem-estar (Vaz Serra, 2005). Por outras palavras, o stresse define uma relação de mudança, de perturbação ou de desajustamento. Categorias de acontecimentos indutores de stresse acontecimentos traumáticos- doença/acidente acontecimentos significativos ao longo da vida- perda de emprego/divórcio stresse crónico - conflitos diários no trabalho ou em casa situações microindutoras de stresse- perda de tempo no trânsito ou em tarefasfamiliares; ser cuidado por um técnico paternalista ou negligente situações macroindutoras de stresse- a crise económica; o desemprego; a espera por tratamentos no sistema público de saúde acontecimentos desejados que não ocorrem- uma gravidez/ a promoção na profissão/uma operação à vista/a um tumor/ a entrada num lar traumas ocorridos em estádios de desenvolvimento- ser vitima de abuso sexual/ violência doméstica/ maus- tratos da criança ou do idoso/ mobbying O que nos transforma…o bem-estar? Bem-estar Subjetivo- Satisfação com a vida, Afeto positivo (e ausência de ou menor Afeto Negativo) Bem-estar Psicológico- Autonomia , Relações positivas com os outros, Crescimento pessoal, Sentido de vida, Domínio do Meio, Aceitação pessoal Prevenir o stresse: Comportamentos de risco Consumo de substâncias psicoativas Sexualidade desprotegida Relações violentas Trabalho excessivo Promover o bem-estar: Estilos de vida saudáveis Uma alimentação saudável e equilibrada Uma higiene do sono adequada Prática de exercício físico Investimento em relações interpessoais e áreas de interesse Gerir o stresse e o bem-estar: Coping O coping refere-se ao modo como as pessoa enfrentam as múltiplas exigências da vida com o objetivo de as resolver, pelo que “falar de coping é falar de ação pessoal que metamorfoseia condições desfavoráveis em benefícios salutares e em crescimento pessoal” Um estudo empírico sobre bem-estar e estratégias ROADS TO POSITIVE SELF-DEVELOPMENT: STYLES OF COPING THAT PREDICT WELL-BEING Mariana Maia de Carvalho & Maria da Luz Vale-Dias (2013) Modelos Cognitivo-Comportamentais 3G Bases filosóficas e científicas: Budismo Psicologia Oriental Piloto automático : O que é? Vivemos numa ficção pessoal: entre o passado que já aconteceu e o futuro que ainda não chegou; perdemos o presente enquanto o pensamento corre na nossa mente como um rio veloz, de modo automático , condicionado pela nossa natureza. Não podemos controlar a corrente do rio mas podemos perceber como a sua intensidade, variação e direcção é influenciada pelo vento se nos sentarmos nas suas margens a observá-lo, a ouvi-lo e a aprender. Mindfulness e Compaixão - Aprender a ser Feliz O Mindfulness é um estado intuitivo e pré-conceptual e significa: Conciencialização Despertar Prestar atenção de uma forma especial: de propósito no momento sem julgar É o oposto de Mindlessness , de ignorância, evitamento ou de viver em piloto automático. O Mindfulness permite que observemos o pensamento sem sermos arrastados por ele Implica estar em contacto com o momento presente, parar e estar alerta ao que acontece dentro de nós e à nossa volta (Siegel et al., 2009), com abertura, receptividade, curiosidade. Qualidades mentais que apoiam a prática de Mindfulness: Paciência; Auto-abandono; Não-julgamento ; Confiança; Generosidade; Ser suficientemente forte para ser fraco; Simplicidade voluntária; Concentração; Visão. A Compaixão como competência Bases filosóficas e científicas: Modelos evolucionários Teoria da vinculação Neurociências Budismo A compaixão é uma propriedade da mente humana com fundamento evolutivo e valor adaptativo , resulta da interação entre genes, sistemas fisiológicos, experiências precoces e ecologias sociais (Guilbert, 2005). Na linha evolucionária verifica-se que os animais possuem sistemas fisiológicos sensíveis a estímulos relacionados com as suas necessidades básicas de sobrevivência. Estes sistemas atuam mediante a activação de esquemas formados com a informação dada pela aprendizagem. Desencadeando mecanismos adaptativos de resposta emocional e comportamental. A avaliação cognitiva ativa 3 sistemas fisiológicos de regulação emocional que podem ser moldados pelas experiências de vida Sistema de contentamento, tranquilidade e segurança social Dá a informação de que se está em segurança, não sendo mais necessário procurar recursos. Promove afectos positivos, sensação de bem-estar, segurança e conexão social. Sistema de procura e excitação Direcciona o sujeito para comportamentos de procura de recursos ou de recompensas. Estimula sensações e emoções positivas. Sistema de ameaça e protecção Responsável pela avaliação da perigosidade. Activa reacções defensivas de luta,fuga,bloqueio ou submissão. A integração social é uma necessidade básica humana quepromove as chances de sobrevivência, crescimento e reprodução. Desempenho de papéis sociais; Activação de estratégias evolucionárias: Pedido de cuidados; Prestação de cuidados; Formação de alianças; Identificação de sujeitos atraentes para designação de pertença ao grupo; Ranking social. A Terapia Focada na Compaixão tem como objetivos essenciais: Reduzir a sensibilidade à recordação de memórias emocionais (do passado/ sobre o futuro) associadas à ativação do sistema de ameaça e proteção. Estimular o sistema de contentamento, tranquilidade e segurança social. Qualidades da mente compassiva: Motivação para exercer cuidados pelo bem-estar do próprio e do outro; Sensibilidade aos sentimentos e necessidades do eu e do outro; Simpatia, empatia ou envolvimento; Tolerância emocional - ser capaz de estar com as emoções aversivas do self e dos outros sem estar nelas ; Pensamento liberto de julgamento; Sensação de fazer parte de um todo e de não ser uma pessoa diferente ou isolada – o que aumenta a consciência da condição humana, ensinando que ser imperfeito e cometer erros é natural (Neff, 2003); Capacidade de exercer Mindfulness por oposição ao auto-focus – o que permite viver no presente (Neff, 2009). Intervenção terapêutica: Treinar a: atenção compassiva; o raciocínio compassivo; a evocação de auto-imagens compassivas; as sensações compassivas; a prática do comportamento compassivo (Guilbert,2009). Fatores que influenciam os níveis de FELICIDADE QUEM SOMOS – a nossa personalidade determinada geneticamente (50%) SITUAÇÕES QUE ENFRENTAMOS -circunstâncias de vida (10%) O NOSSO COMPORTAMENTO E O NOSSO PENSAMENTO - atividade intencional (40%) Atividades para aumentar a FELICIDADE Objetivos:. Praticar a gratidão e o pensamento positivo. Investir nas relações sociais. Lidar com o stresse, as dificuldades e os traumas. Viver no presente. Comprometer-se com os seus objetivos. Cuidar do corpo e da alma Questões específicas da vinculação ao longo do ciclo de vida 1.Breve revisão dos conceitos chave da Teoria da vinculação Será que os padrões de vinculação estabelecidos na infância se mantêm durante a adolescência e idade adulta? Haverá continuidade ou mudança? Continuidade Através da assimilação de novas relações às expectativas que são consistentes com o modo como o indivíduo representa as suas relações; Indivíduos tendem a selecionar ambientes/relações que se encaixem nas suas crenças sobre o self e os outros; Mudança Estabelecimento de novas relações (durante a adolescência ou idade adulta) pode ser uma oportunidade para reavaliar relações precoces; Acontecimentos de vida significativos que desconfirmam expectativas prévias Hazan & Shaver(1987) construíram um instrumento para avaliar a vinculação em adultos (Adult Attachment Prototypes) e encontraram distribuições similares às observadas na infância por Ainsworth e cols. (1978): 56% seguro; 25% inseguro-evitante; 19% inseguro ambivalente; Seguro: “Considero relativamente fácil aproximar-me dos outros e sinto-me confortável em depender deles e eles de mim. Não me preocupo com a possibilidade de ser abandonado nem, por outro lado, com a possibilidade dos outros se aproximarem demasiado de mim”. Evitante: “Sinto-me desconfortável quando me encontro próximo dos outros. Tenho dificuldade em confiar completamente nas outras pessoas ou em depender delas. Fico nervoso quando alguém se aproxima muito de mim e frequentemente os outros desejam ter comigo maior intimidade do que aquela com a qual me sinto confortável”. Ambivalente/ansioso: “Acho que os outros se mostram relutantes em estar tão próximos de mim como eu gostaria. Preocupo-me frequentemente com a possibilidade de o meu parceiro não gostar realmente de mim ou não querer ficar comigo. Gostava de estar mais próximo dos meus parceiros, o que faz com que muitas vezes as pessoas se afastem” Posteriormente, novas concetualizações da vinculação no adulto apontaram para a perspetiva dimensional – Ansiedade e Evitamento Modelo interno dinâmico do self (Ansiedade): forte desejo de proximidade e proteção; preocupações intensas acerca da disponibilidade do outro e do seu valor para este; uso de estratégias de hiperativação para lidar com a insegurança e perturbação emocional; Modelo interno dinâmico dos outros (Evitamento): desconforto com a proximidade e com a dependência aos outros; preferência pela distância emocional e autossuficiência; uso de estratégias de desativação para lidar com a insegurança e a perturbação emocional; 2.Diferenças de género na vinculação: a vinculação mãe criança e a vinculação pai criança A relação de vinculação que a criança estabelece com a mãe e com o pai é semelhante ou diferente? Relação de vinculação mãe-criança e pai-criança: semelhante ou diferente? Durante muito tempo, a investigação sobre a vinculação nas sociedades ocidentais centrou-se no papel da mãe como principal figura de vinculação da criança; …o que se podia relacionar também com o menor envolvimento parental dos pais na parentalidade (por comparação às mães); esta tendência tem vindo a alterar-se, reconhecendo-se o crescente envolvimento dos pais na prestação de cuidados à criança ➔ Compreensão limitada de como a relação de vinculação que se estabelece com o pai é ou não diferente da relação de vinculação mãe-criança Relação de vinculação mãe-criança e pai-criança: semelhante ou diferente? A maior parte das crianças desenvolve-se num contexto que envolve múltiplos cuidadores (FV), com frequência mães e pais. As crianças estabelecem relações de vinculação com a mãe e com o pai durante o primeiro ano de vida (embora alguns possam demonstrar uma preferência pela figura materna); O estilo de vinculação que se estabelece na relação mãe-criança e na relação pai-criança pode ser diferente e independente – são as características da relação que a criança estabelece com cada cuidador que define o seu estilo de vinculação a cada um. A relação de vinculação mãe-criança e pai-criança “cumpre” objetivos diferentes? Num estudo longitudinal, a capacidade de os pais promoverem “sensitive challenges” durante a brincadeira com a criança de 2 anos, mostrou-se associada com a vinculação segura na criança aos 6, 10, 16 e 22 anos Numa relação segura pai-criança, o pai ajuda a criança a expor-se a situações de exploração de maior risco MAS EM SEGURANÇA….e a criança vai aprender a confiar na sua capacidade de lidar com situações de perigo e com situações novas no contexto físico e social Segurança na exploração Uma relação de vinculação segura com a mãe proporciona conforto e tranquilidade, nomeadamente em termos de indicadores psicofisiológicos, quando a criança está em sofrimento (refúgio seguro); A segurança na relação pai-criança parece desempenhar um papel preponderante quando o sistema de exploração da criança está ativado (base segura); Relação de vinculação pai-criança e outcomes desenvolvimentais A segurança na relação pai-criança tem sido associada a diferentes outcomes desenvolvimentais na criança: Menos problemas comportamentais na criança Maior sociabilidade Mais amizades reciprocas Menor risco de problemas internalizantes e externalizantes Como se organizam as diferentes relações de vinculação estabelecidas pela criança? Há uma mais importante que outras? Como se organizam as diferentes relações de vinculação? Originalmente, Bowlby (1973) considerava que a criança estabelecia uma relação preferencial com uma figura de vinculação, normalmente a mãe biológica, e que essa relação era mais especial e diferente de todas as outras – preferência por uma FV (Monotropia); No entanto…. Estudos posteriores contrariam esta hipótese, ao demonstrar que as crianças estabelecem relações com diferentes FV, e com diferentes propósitos (Lamb, 1982) As crianças que têm uma vinculação segura com ambos os pais (por comparação a crianças com vinculação segura com apenas 1 dos pais): Apresentam melhores indicadores de desenvolvimento socioemocional e cognitivo; estão mais preparadas (desinibidas) para interagir positivamente com uma pessoa não familiar aos 12 meses, e para resolver conflitos de forma mais autónoma durante o “brincar” aos 5 anos; Efeito aditivo A relação de vinculação segura com pelo menos um dos pais tem um efeito de buffer da relação de vinculação insegura do outro pai; Crianças com vinculação segura a pelo menos um dos pais não se distinguem significativamente das crianças com uma vinculação segura a ambos os pais em domínios como competência social com os pares ou problemas comportamentais; Efeito buffer O que determina a qualidade da relação de vinculação pai criança? No estabelecimento da vinculação mãe-criança, a sensibilidade materna (capacidade de a FV percecionar e avaliar os sinais e comunicações da criança de modo adequado e responder de modo contingente e rápido; Ainsworth, 1978) surge como um importante preditor da qualidade da relação de vinculação. E no caso da vinculação pai-criança? A sensibilidade paterna está significativamente associada à segurança da relação pai criança, mas esta associação é moderada a fraca – uma magnitude substancialmente mais baixa que o efeito paralelo da sensibilidade materna na vinculação mãe-criança (van Ijzendoorn & De Wollf, 1997); A qualidade da relação de vinculação pai-criança está mais fortemente associada com a atitude do pai sobre a parentalidade (e.g., envolvimento paterno), do que com a sensitividade observada durante as interações com a criança no primeiro ano de vida. 1. Envolvimento paterno Apesar de os resultados não serem consistentes, alguns estudos sugerem que os pais mais envolvidos na prestação de cuidados (tarefas de cuidar) têm crianças com vinculação mais segura; 2. Comportamentos paternos estimulantes Comparado com as mães, os pais envolvem-se mais em atividades mais físicas, de maior intensidade, e mais focadas no brincar do que na prestação de cuidados; A sensibilidade paterna no brincar dos pais aos 2 anos da criança foi preditora das representações de vinculação da criança aos 10 e aos 16 anos; A estimulação parental (através de objetos ou estimulação física) durante a interação pai-criança aos 9 meses revela-se preditora de vinculação pai-criança segura aos 3 anos, mas apenas se os níveis de intrusividade durante a interação pai-criança forem baixos ou moderados (Olsavsky, et al., 2020). 3. Transmissão intergeracional da vinculação Os padrões de vinculação transmitem se de pais para filhos? A forma como fomos cuidados influencia a forma como cuidamos dos nossos filhos? Transmissão intergeracional da vinculação Processo através do qual as representações parentais das suas experiências de vinculação passadas influenciam o comportamento parental e a qualidade da relação de vinculação com a sua criança (Bowlby, 1973) As relações de vinculação com os pais e com outras FV ao longo da vida servem como modelos mentais que moldam as interações e as relações que os pais têm com os seus filhos; Foco no papel das REPRESENTAÇÕES MENTAIS e não nas experiências de vinculação na infância; Pais com representações de vinculação segura Equilíbrio emocional Conseguem perceber as necessidades da criança, atuando em conformidade com as necessidades dela (e não com as suas necessidades); Comunicação sem distorções e comunicação aberta sobre as emoções negativas sentidas pela criança, mesmo que elas pareçam ameaçadoras; Pais com representações de vinculação evitante Dificuldade em responder às emoções negativas expressas pela criança; Dificuldade em lidar com a procura de proximidade e conforto da criança quando esta sinaliza sofrimento; Ignorar e distanciar-se em situações de stress; A criança aprende a utilizar também estratégias de evitamento (nãoprocurar ajuda) em situações de stress; Pais com representações de vinculação ambivalente/preocupado Necessidade constante de confirmação de que são os pais adequados e “necessários” para aquela criança; Procura contínua, consciente e inconsciente, de que a sua presença é essencial para a criança – comportamento parental inconsistente; A criança aprende que, para obter a atenção dos pais, deve mostrar repetidamente o quanto necessita deles (intensificar comportamentos de procura de proximidade); Que mecanismos explicam a transmissão intergeracional da vinculação? Transmissão intergeracional da vinculação: Como acontece? 1. Representações mentais de prestação de cuidados (Sistema comportamental) Na interação mãe-criança, o comportamento da figura materna é organizado pelo sistema comportamental de prestação de cuidados (SCPC); Sistema recíproco e complementar do sistema de vinculação, com a função adaptativa de proteção da criança (e a sua sobrevivência); É ativado por pistas internas ou externas de que a criança pode estar em perigo/stress; Quando ativado, o SCPC orienta o comportamento do cuidador (reportório de comportamentos de prestação de cuidados: e.g., manter-se próximo, agarrar, chamar ou sorrir); As representações mentais de prestação de cuidados incluem: a) Avaliações do self enquanto prestador de cuidados, referindo-se ás dimensões de disponibilidade para responder, efetividade das estratégias de prestação de cuidados e capacidade de ler/entender os sinais da criança; b) Avaliações do outro, enquanto individuo que quer/merece ser cuidado e que sinaliza ou não a necessidade de cuidado; c) Da relação entre o self e o outro; Representações mentais de prestação de cuidados seguras Avaliações positivas do self como prestador de cuidados (disponível, capaz de ler os sinais da criança e eficaz nas estratégias que usa para manter a criança segura); Avaliações dos outros como merecendo ser cuidados; Modelos da relação que evidenciam o balanço dinâmico entre cuidador e criança; ….Associam-se ao conceito de sensibilidade materna, e estão habitualmente associadas ao desenvolvimento de uma vinculação segura pela criança. Representações mentais de prestação de cuidados rejeitantes Modelos representacionais de si e das crianças como indisponíveis e sem valor para participar numa relação; A dimensão do self mais patente é a indisponibilidade (incapazes de cuidar da criança, indisponíveis ou desconfortáveis no seu papel de mãe); Associada a estratégias de proteção da criança de forma distante, pouca envolvência na prestação de cuidados, implicando uma maior autonomia da criança e maior risco, particularmente quando ela é muito nova; “Cognitive deactivation”: enviesamento atencional que leva à exclusão sistemática de informação relacionada com as necessidades de vinculação da criança; Representações mentais de prestação de cuidados ambivalentes Incerteza comportamental e representacional do sistema de prestação de cuidados; Modelos representacionais marcados por dúvida e confusão (“eu não sei o que esta criança precisa”) – o self é visto como incapaz de saber o que a criança precisa e a criança é vista como incapaz de sinalizar claramente as suas necessidades; Não são contingentemente responsivas às necessidades da criança – utilizam simultaneamente estratégias de manutenção da proximidade (por vezes intrusivas) e outras vezes são insensíveis às pistas da criança; Desconexão cognitiva do sentimento negativo da situação que o elícita; ….Associam-se ao desenvolvimento de uma vinculação ambivalente-ansiosa pela criança. O SCPC pode expressar-se, na infância e adolescência, pelo desejo de cuidar ou por comportamentos de cuidadores quando estão próximos de bebés/crianças ou animais, mas alcança a sua maturidade a partir da adolescência e com a transição para a parentalidade; Como se desenvolvem as representações de prestação de cuidados? As pessoas prestam cuidados com base nas suas próprias experiências de serem cuidados – a prestação de cuidados como o culminar das experiências prévias de vinculação (Krtechmar & Jacobvitz, 2002); “Mature transformation” das experiências de vinculação … Com base nos modelos internos dinâmicos de vinculação … Com base na assimilação da experiência com o bebé/criança, integrando estas experiências nas suas representações do passado; Existe uma tendência para a continuidade entre as representações de vinculação e de prestação de cuidados (Collins & Ford, 2010; Collins, Ford, Guichard, Kane & Feeney, 2009): Representações de vinculação seguras promovem a disponibilidade do individuo para proporcionar ajuda aos outros; Um sentido de segurança ameaçado (foco nas vulnerabilidades individuais) pode comprometer a disponibilidade do individuo para proporcionar ajuda aos outros; Representações mentais de prestação de cuidados mais coerentes, flexíveis e seguras estão positivamente correlacionadas com comportamentos maternos sensíveis ➔ Estão mais conscientes e aceitantes dos aspetos da relação a que têm que atender na relação com a criança; ➔ Maior atenção a pistas/sinais da criança que podem sinalizar distress ou feedback positivo; ➔ Melhor capacidade de corregular as respostas afetivas e comportamentais da criança; 2. Função reflexiva parental Capacidade do indivíduo compreender o próprio comportamento e o comportamento dos outros em termos de estados mentais subjacentes, ou seja, dos sentimentos e intenções subjacentes a esse comportamento. Avaliar de forma flexível e coerente as emoções e memórias relevantes para as suas próprias experiências de vinculação; Capturar os estados mentais subjacentes ao comportamento da criança, permitindo-lhes assim compreender o comportamento da criança em termos de sentimentos e intenções, dando significado à sua experiência afetiva interna – maior regulação emocional; Interpretar corretamente o comportamento da criança, em particular as suas tendências de procura de proximidade e conforto; A investigação demonstra que a capacidade de função reflexiva parental está associada a comportamentos de prestação de cuidados mais sensíveis e, consequentemente, ao estabelecimento de uma relação de vinculação mais segura pela criança; Demonstram interesse e curiosidade ativos em pensar sobre a experiência interna da criança e mostram-se capazes de adotar a perspetiva desta; Conseguem “dar um passo atrás” nas interações – dar sentido ao que a criança (e eles próprios) estão a experienciar numa situação; Tornam-se mais atentas às pistas e aos sinais da criança, agindo em concordância com estes; Transmissão intergeracional da vinculação: Transmission gap Que fatores influenciam a transmissão intergeracional da vinculação? Fatores de stress ou adversidades cumulativas podem interferir com a competência parental dos pais, independentemente das representações mentais de vinculação (e.g., gravidez na adolescência; contextos que implicam afastamento parental); Suscetibilidade diferencial ao ambiente: crianças com um temperamento mais difícil (irritável, negativo ou reativo) podem ter uma maior suscetibilidade às praticas parentais do que as crianças com um temperamento fácil; Necessidade de compreender o papel de variáveis do contexto – características da criança, mas também funcionamento familiar, relação conjugal, apoio, etc. 1.Vinculação no contexto das relações românticas Vinculação no adulto: o contexto das relações íntimas As relações de vinculação nos adultos: o São tipicamente relações estabelecidas entre pares; o São relações simétricas e de reciprocidade (padrões intermitentes de complementaridade); o Incluem, muitas vezes, relações de natureza sexual -> amor romântico; o O amor romântico, tal como é habitualmente concebido, envolve a articulação dos sistemas de vinculação, de prestação de cuidados e sexual; o Os modelos internos dinâmicos continuam a guiar e a moldar o comportamento nasrelações próximas ao longo da vida: à medida que as pessoas constroem novas relações, baseiam-se, em parte, nas expectativas prévias acerca da forma como os outros irão provavelmente comportar-se, e usam estes modelos para interpretar os objetivos ou intenções dos seus companheiros. Representações de vinculação seguras (↓ Ansiedade; ↓ Evitamento) Indivíduos que se sentem valorizados pelos outros e merecedores de afeto; Sentem-se confortáveis com as relações e com a intimidade, mas também em estar sozinhos; Confiam em si e nos outros para gerir situações desafiantes; Autoconfiantes; Estabelecem e respeitam limites nas relações; Procura conexão com os outros (mesmo distante fisicamente), mas também proporciona espaço; Em situações de “ameaça” procuram apoio e proximidade do companheiro para lidar com a situação; Rep. Vinculação Ansiosas: Estratégias de Hiperativação no contexto das relações Monitorização intensa da FV (parceiro) – a probabilidade de detetar sinais de desinteresse, distância, rejeição ou indisponibilidade, reais ou imaginários, é maior; Dependência excessiva do parceiro para obtenção de conforto; Exigências de atenção e cuidado excessivas; Grande desejo de emaranhamento; Protesto perante qualquer insinuação de indisponibilidade do companheiro; Tentativas de minimização da distância física , cognitiva e emocional do parceiro; Comportamento controlador para obtenção do apoio do parceiro. Rep. Vinculação Evitante: Estratégias de Desativação no contexto das relações Maior probabilidade de os sinais genuínos de disponibilidade por parte da FV não sejam detetados ou sejam mal percebidos; Desejo de manutenção da distância, do controlo e da autossuficiência; Tentativas observáveis de controlo e de maximização da distância psicológica ao parceiro; Evitamento de interações que requeiram envolvimento emocional, intimidade, autorrevelação ou interdependência; Relutância em pensar e enfrentar tensões e conflitos relacionais; Negação ou supressão de pensamentos ou sentimentos relacionados com a vinculação que possam encorajar a proximidade; Serão as experiências de vinculação importantes para compreender a forma como iniciamos e mantemos relações amorosas? Vinculação e processos de iniciação e manutenção de relações amorosas Parceiros seguros são vistos como mais “atraentes” As pessoas (de todos os estilos de vinculação) vêm os parceiros seguros como maisatraentes, reportam mais emoções positivas e menos emoções negativas quando se imaginam numa relação com um parceiro seguro e têm preferência pela escolha de um parceiro com um estilo de vinculação seguro; Embora prefiram globalmente parceiros com vinculação segura, as pessoas têm uma avaliação mais positiva dos parceiros com vinculação insegura ansiosa do que com vinculação insegura evitante – a dimensão de ansiedade parecer ser menos importante para as preferências dos indivíduos durante os encontros iniciais da relação; 2. Pessoas com vinculação insegura vêm os parceiros com vinculação insegura como mais atraentes do que pessoas com vinculação segura Estudos encontram similaridade entre as orientações de vinculação dos parceiros (inseguro evitante inseguro evitante; inseguro ansioso inseguro ansioso); Outros estudos apontam para preferência por padrões complementares: indivíduos com vinculação evitante preferem parceiros com vinculação ansiosa, porque estes parceiros confirmam as suas expectativas dos outros como dependentes e do self como independente; 3. As orientações de vinculação das pessoas também influenciam a forma como as pessoas iniciam as relações Pessoas com orientação de vinculação insegura-evitante: procuram menos informação sobre os parceiros para iniciar relações – evitam explorar informação relacional; Preferem situações em que não obtêm feedback sobre como os outros se sentem acerca deles – não recebem feedback claro do parceiro; Apresentam uma visão muito positiva de si como autossuficientes e independentes - pode comunicar que não estão interessados numa relação; Pessoas com orientação de vinculação insegura-ansiosa: Apresentam-se com uma visão muito negativa de si para suscitar apoio e compaixão – pode comunicar que são pessoas exigentes ou “dependentes” numa relação; Tendem a revelar informação pessoal de forma indiscriminada (muitas vezes antes de essa revelação ser apropriada) e não são muito responsivos às revelações do parceiro (autofócus); 4. As orientações de vinculação podem influenciar a intimidade e o compromisso nas relações amorosas Vinculação evitante- Reportam baixos níveis de intimidade, quer efetiva, quer desejada Vinculação segura- Relações mais íntimas Vinculação ansiosa- Desejam mais intimidade do que a que reportam ter; porque não têm a intimidade que querem ou porque o seu desejo excessivo de intimidade afasta o parceiro; Vinculação evitante- Baixo compromisso na relação; subcompromisso; Vinculação segura- Relações marcadas por maior compromisso Vinculação ansiosa- Apresentam simultaneamente níveis altos e baixos de compromisso – por um lado, a insatisfação por não ter os níveis de compromisso desejado podem levar a mais baixo compromisso; por outro lado, podem querer comprometer-se para ter os benefícios de estar numa relação; Podem as representações de vinculação influenciar o funcionamento e satisfação conjugal? Vinculação e prestação de apoio no contexto das relações amorosas Nas relações íntimas (amorosas), é importante que os parceiros sejam capazes de solicitar efetivamente ajuda quando esta é necessária, bem como de detetar adequadamente quando os parceiros estão a oferecer apoio; enquanto cuidadores na relação, os parceiros devem estar atentos às necessidades do outro e, quando apropriado, serem responsivos e disponíveis. Parceiro «—» Parceiro Sinalizar ajuda Estar atento às pistas de necessidade de ajuda Reconhecer a ajuda Estar responsivo e disponível 1. Procurar apoio A capacidade de usar o parceiro como base segura em situações de stress implica a capacidade de sinalizar de forma clara e consistente a necessidade de ajuda ao parceiro Indivíduos com vinculação segura tendem a solicitar apoio, e a fazê-lo de forma construtiva e eficaz; Indivíduos com vinculação insegura têm mais dificuldade em pedir ajuda, e fazem-nos de forma mais indireta e menos eficaz; Indivíduos evitantes solicitam pouco apoio ao parceiro quando estão a discutir um problema, mesmo que seja um problema importante; Indivíduos ansiosos não procuram mais apoio do que indivíduos não-ansiosos em situações experimentais, apesar do seu elevado desejo de manter proximidade; 2. Perceções de apoio e responsividade Para beneficiar do apoio, os indivíduos devem ser capazes de perceber adequadamente as tentativas de apoio do parceiro. Indivíduos com vinculação segura têm a expectativa que o apoio estará disponível e têm mais probabilidade de ver as tentativas de apoio do parceiro como eficazes; Indivíduos com vinculação insegura tendem a interpretar as iniciativas de apoio do parceiro como mais ambíguas (não interpretando como apoio), e tendem a experienciar menos alívio emocional perante esses sinais; 3. Proporcionar apoio e estar responsivo Os estilos de vinculação estão também associados com a capacidade de proporcionar apoio e cuidado aos parceiros Indivíduos com vinculação segura são mais sensíveis aos sinais do parceiro, são mais cooperativos, flexíveis e menos controladores na resposta ao parceiro, por comparação a indivíduos com vinculação insegura; Indivíduos com vinculação insegura têm maior probabilidade de oferecer apoio e cuidado ineficaz: Indivíduos com vinculação insegura-ansiosa: menos responsivos, menos apoio instrumental e mais comportamento negativo (e.g., minimizar o problema, culpar o parceiro); Indivíduos com vinculação insegura-evitante: proporcionam menos apoio quando aumenta o sofrimento do parceiro e mostram sinais de raiva para com o parceiro; Vinculação e satisfação conjugal Estudos conduzidos na década de 90 evidenciaram que a vinculação segura está associada a níveis elevados de confiança, compromisso, satisfação conjugal e interdependência na relação conjugal; No que respeita ao papel das representações inseguras de vinculação, enquanto a dimensão de Evitamento está mais fortemente relacionada com baixos níveis de conexão, apoio e satisfação conjugal global, a dimensão de Ansiedade está mais fortemente associada ao conflito conjugal; Estas associações entre vinculação insegura e funcionamento relacional parecem ser mais fortes em relações de maior duração Os parceiros proporcionam um contexto situacional que pode alterar (e.g., exacerbar, atenuar) a forma como cada pessoa expressa as suas orientações de vinculação – o que nos diz a investigação sobre o efeito das orientações de vinculação (do self e do parceiro) na satisfação e na dissolução conjugal? Estudo: Own and Partner Attachment Insecurity interact to predict marital satisfaction and dissolution Autores: Sierra Peters, Andrea Meltzer, and James McNulty; 2024 Casais em que os dois membros possuíam uma vinculação segura (baixa ansiedade e baixo evitamento) reportaram maior satisfação conjugal inicial, que levou a um menor declínio da satisfação conjugal ao longo do tempo e, consequentemente, a uma menor probabilidade de dissolução/divórcio. Casais que incluem pelo menos um parceiro com níveis elevados de Ansiedade (vs. 2 parceiros com vinculação segura) estavam: a) Menos satisfeitos, no início do casamento; b) Experienciaram um maior declínio da satisfação conjugal; c) Tinham uma maior probabilidade de dissolução/divórcio; Casais em que os dois parceiros têm uma orientação de vinculação evitante – não se verificaram efeitos na satisfação conjugal inicial, no declínio da satisfação ao longo do tempo ou na dissolução conjugal; A presença de um parceiro com níveis baixos de Ansiedade (ou Evitamento) tem um efeito de buffer nos níveis de Evitamento (ou Ansiedade) elevados do outro parceiro – “protegendo” o casal de níveis mais baixos de satisfação conjugal inicial, de maior declínio na satisfação conjugal e de maior probabilidade de dissolução. Vinculação e conflito conjugal As diferenças individuais na vinculação podem influenciar a resposta a situações de conflito; Conflito grave ou persistente na relação ativa o sistema de vinculação; Representações de vinculação inseguras (Ansiedade e Evitamento) estão associadas a expectativas mais negativas sobre o comportamento do parceiro e a respostas menos construtivas perante situações de conflito – originam distress relacional; 2. Vinculação e psicopatologia desde a infância à idade adulta Que consequências podem ter experiências prolongadas de disrupção da vinculação para a emergência de psicopatologia? Estudos iniciais sobre os efeitos da privação de cuidados parentais na infância (separação prolongada dos cuidadores de crianças de 2-4 anos) (Bowlby & Robertson, anos 50-60); A separação prolongada elícita uma série de reações emocionais e processos defensivos que comprometem o funcionamento interpessoal e distorcem a expressão das necessidades de vinculação pela criança; Identificação de uma sequência de comportamentos em resposta à separação: Fase 1 – Protesto Fase 2 – Desespero Fase 3 – Desvinculação (ausência de alegria com o regresso da mãe; apatia; afastamento); Em crianças mais velhas ou adultos, embora a separação física da FV possa não ser tao ameaçadora, continua a existir vulnerabilidade ao medo do abandono ou perda do cuidador/FV: Separações não explicadas (e.g., adoção), perda do cuidador (e.g., morte), falta de disponibilidade do cuidador num momento de elevada necessidade; Cuidador que está fisicamente presente mas não serve como fonte de segurança ou proteção (e.g., violência; doença psiquiátrica – ameaça de suicídio); A desregulação emocional, dificuldades interpessoais e expressões sintomáticas associadas à ameaça à disponibilidade do cuidador podem ser um fator de risco que contribui para a emergência de psicopatologia; Modelos internos dinâmicos: Continuidade e mudança nas trajetórias desenvolvimentais Continuidade As expectativas internalizadas da (in)disponibilidade do cuidador moldam o comportamento do indivíduo ao longo da vida, sobretudo quando as condições de vida da pessoa (positivas ou negativas) se mantêm; Mudança Apesar da estabilidade, há potencial de mudança fase a novas contingências ambientais -> levando à revisão e atualização dos modelos internos dinâmicos; Experiências de disrupção prolongada da vinculação – podem mudar trajetórias seguras para inseguras; Novas experiências com FV que possam contribuir para rever representações passadas + novas formas de reanalisar experiências anteriores; Experiências de cuidados consistentemente marcadas por insegurança e desorganização levam inevitavelmente ao desenvolvimento de psicopatologia na criança? Vinculação e psicopatologia na infância A ocorrência de psicopatologia na infância resulta da combinação de diferentes fatores de risco e da intersecção entre eles; Que mecanismos ligam a vinculação insegura à psicopatologia na infância? Comportamento observado Estratégias ineficazes de procura de proximidade (e.g., “choro persistente”) ou evitamento (e.g., oposição) que, embora eficazes a curto-prazo, podem potenciar interações maladaptativas a longo prazo Regulação emocional As estratégias de minimização ou maximização da emoção, características das crianças com vinculação insegura, interferem com a aprendizagem de estratégias eficazes de regulação emocional; Estruturas cognitivo-afetivas Desenvolvimento de MID de interpretação do mundo baseados em perceções negativas do self e dos outros que se cristalizam – modelos de raiva, desconfiança, ansiedade e/ou medo; Atribuições e interpretações mais negativas sobre os acontecimentos Processos motivacionais Resistência a adotar uma orientação mais social; Crianças com vinculação insegura estão menos motivadas a cumprir as orientações parentais e a desenvolver comportamentos pro-sociais; Padrão D - Desorganizado Contradição e inconsistência observada no padrão de comportamentos; Resposta de medo, freezing e desorientação; Expressão de comportamentos não direcionados, mal direcionados, incompletos ou interrompidos; Comportamentos lentificados; Associado a comportamentos ameaçadores ou assustadores da FV, ou então a comportamentos assustados da FV (medo) – falha no sistema de prestação de cuidados que pode envolver negligencia, assustar, maltratar ou falha em proteger a criança; ❖ Crianças com padrão de vinculação desorganizado apresentam uma prevalência mais elevada de comportamento agressivo na idade pré-escolar e escolar do que outras crianças (Lyons-Ruth, 1996; Moss et al., 2006) ❖ Crianças com padrão de vinculação desorganizado apresentam maior probabilidade de problemas de comportamento desde a infância até à adolescência, bem como psicopatologia e sintomas dissociativos na adolescência (Carlson, 1998) Crianças mais velhas com este padrão de vinculação podem desenvolver “estratégias de controlo” (e.g., controlo-hostilidade) para gerir a sua relação com os cuidadores – tornar a relação mais previsível, diminuindo a confusão; Estratégias disfuncionais ➔ Estratégias consistentemente associadas a maior risco de psicopatologia na infância e adolescência As representações de vinculação podem influenciar o desenvolvimento de psicopatologia na idade adulta? Representações de vinculação e psicopatologia Representações de vinculação inseguras são comuns em indivíduos com uma variedade de problemas mentais (desde distress moderado a perturbações de personalidade), em amostras clínicas e comunitárias: Estudos mostram a associação entre vinculação insegura (ansiedade e evitamento) e depressão, ansiedade, POC, PTSD, ideação suicida e problemas de comportamento alimentar; Associação entre vinculação ansiosa e a componente de “desregulação emocional” das perturbações de personalidade (confusão de identidade, labilidade emocional, distorções cognitivas, submissão, etc. – padrão de personalidade histriónico, dependente ou borderline) e entre vinculação evitante e a componente de “inibição” das perturbações de personalidade (expressão restrita das emoções, problemas com intimidade – padrão de personalidade esquizoide e evitante); Vinculação insegura —» Psicopatologia A vinculação insegura é condição suficiente para a emergência de psicopatologia na idade adulta? ❖ Não; a psicopatologia é habitualmente multideterminada – outros fatores (e.g., genéticos, história de vida, condições ambientais) interagem com as orientações de vinculação para determinar a ocorrência ou não de psicopatologia; ❖ A vinculação insegura pode constituir-se um fator de vulnerabilidade para a psicopatologia – que exerce a sua influência no contexto de outros fatores de risco. Quais os principais mecanismos que explicam a relação entre vinculação insegura e psicopatologia no adulto? Autorrepresentações Falta de autocoesão (dúvida sobre a coerência do self e continuidade ao longo do tempo); Baixa autoestima Dependência da aprovação dos outros Mais autocriticismo Propensão à utilização de estratégias defensivas como o perfecionismo destrutivo; Sentimentos de desvalorização e desesperança; Narcisismo e grandiosidade, negação da fraqueza (vinculação insegura evitante); Regulação Emocional Estratégias desadaptativas de regulação emocional; Padrão de vinculação evitante: Supressão do distress (evitamento), negação das dificuldades, incapacidade de mobilizar estratégias de coping ativas e fontes externas de apoio dificuldade em resolver situações-problema; Padrão de vinculação ansioso: amplificação e exagero das preocupações, reações depressivas exageradas a perdas e fracassos potenciais; comportamento impulsivo; Problemas nas relações interpessoais O padrão de vinculação inseguro ansioso está associado, no geral, a mais problemas interpessoais, enquanto o padrão de vinculação evitante está marcado pelo isolamento; Solidão e isolamento social; Baixa satisfação com as relações; Ruturas relacionais mais frequentes, bem como situações deconflito e violência; Regulação Emocional na adolescência 1.Emoções e regulação emocional: Conceitos-chave Emoções Conjunto de estados psicológicos que incluem a experiência subjetiva, o comportamento expressivo (e.g., facial, corporal, verbal) e respostas fisiológicas periféricas (e.g., respiração, batimentos cardíacos); Emoções podem ser universalmente experienciadas, mas existem diferenças inter e intraindividuais na duração, flutuação, pontos de ativação e dinâmicas de aumento ou diminuição da intensidade das emoções: Reatividade emocional. As emoções preparam respostas comportamentais necessárias, harmonizam tomadas de decisão, elevam a memória para eventos importantes e facilitam as interações interpessoais => PERSPETIVA FUNCIONAL DAS EMOÇÕES Emoções: O modelo modal das emoções O que é afinal isto de as emoções serem “reguláveis”? Regulação emocional Capacidade de modificar a experiência e expressão das emoções (Gross & Thompson, 2007); Processo de modular a ocorrência, duração e intensidade das emoções, ou os estados internos de emoções (positivos e negativos) e respostas fisiológicas relacionadas (Morris et al, 2017); Processos que permitem ao indivíduo gerir estados de ativação emocional, que inclui duas dimensões: uma componente reativa (limite a que o indivíduo responde a um estímulo, ou seja, quão sensível é aos estímulos, e o nível ou tipo de estímulos que despoletam afeto negativo) e uma componente regulatória ou de controlo das emoções (Crowell, 2021); ➔ A regulação emocional promove a adaptação do sujeito ao contexto que o rodeia, através da iniciação, manutenção ou modulação de emoções positivas e negativas Regulação emocional: Tipos de estratégias de regulação emocional Seleção da situação: Esforços para se envolver ou não em situações que dão origem a determinadas emoções (positivas ou negativas) Exemplo: evitamento ou aproximação de pessoas, lugares ou atividades; Modificação da situação: Esforços para modificar a situação Exemplo: esperar pelo operador de loja que é mais simpático quando me sinto muito ansioso em situações sociais; pedir ajuda para realizar o puzzle, quando não estou a conseguir e sinto-me muito frustrado); Modificação do foco atencional: redirecionar o foco atencional para diferentes aspetos da situação Exemplo: distração, concentração em determinados estímulos; ruminação acerca das experiências internas; Reavaliação cognitiva: avaliar a situação de forma diferente para alterar o seu significado emocional Exemplo: mudar a sua interpretação da situação ou a perceção da sua capacidade para lidar com ela Modulação da resposta: Alteração da forma de responder à situação Exemplo: supressão emocional (inibir a expressão da emoção); consumo de substancias; exercício e relaxamento; Desenvolvimento da regulação emocional na infância Ao longo do desenvolvimento, a dimensão regulatória ou de controlo das emoções torna-se gradualmente mais complexa e elaborada; Muitas competências de regulação emocional começam a desenvolver-se na idade pré-escolar, criando as bases para o desenvolvimento posterior de competências regulatórias – primeiros sinais de capacidade de autorregulação; Um conjunto de competências assume-se como particularmente relevante para este desenvolvimento, nomeadamente o controlo da atenção, sensitividade aos estímulos, a aquisição da linguagem e o jogo simbólico; A família, e mais tarde os pares, são agentes críticos para potenciar essas competências, e complementá-las com estratégias de soothing, com aprendizagem, com modelamento, com desafio e apoio ao desenvolvimento de outras estratégias regulatórias; Acontecimentos significativos e o contexto histórico-social podem ser fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento da RE; Bebés As emoções decorrem da experiência imediata, Bebés de 3-6 meses vão ganhando crescente controlo da sua atenção e, posteriormente do seu nível de ativação nas situações; Entre os 6-12 meses tornam-se crescentemente ativos, e com um comportamento mais direcionado para objetivos; As interações com os cuidadores são fundamentais para ajudar nos processos de regulação (corregulação) Primeira infância Capacidade de discriminar caras felizes de caras com outras emoções (progressivamente raiva e tristeza); O desenvolvimento da linguagem traduz-se numa expansão da compreensão e expressão emocional (capacidade de identificar estados emocionais internos), para pedir ajuda aos outros e para modificar o seu ambiente; Apesar de não conseguirem controlar as suas emoções de forma independente, usam já uma variedade de estratégias para gerir os seus estados afetivos (e.g., comportamentos motores lentos, focus atencional); A criança é capaz de experienciar novas emoções (vergonha e orgulho) em circunstâncias que envolvem a interação com os outros; Idade pré-escolar Perceção de que as emoções são causadas por eventos externos; começam simultaneamente a compreender novas dimensões do seu mundo emocional (memórias, medos e desejos); O contexto familiar torna-se um contexto privilegiado de aprendizagem de estratégias de RE, bem como o contexto de pares; Aumentam as capacidades de regulação emocional: as competências autorregulatórias estão associadas ao desenvolvimento cerebral entre os 3-6 anos; A criança consegue identificar, discutir e gerir situações emocionalmente ativadores; Observadores-chave do comportamento de outro, permitindo-lhes modelar estratégias comportamentais e de planeamento; Idade escolar Verifica-se uma transição das competências de RE, daquilo que é mais instintivo e intuitivo, para algo que é de base mais cognitiva e reavaliativa; O papel dos pais continua a ser um papel de relevo no desenvolvimento da RE; As relações com os pares desempenham um papel cada vez mais relevante na socialização com estratégias de RE; as crianças aprendem que existem razões sociais para regular as suas emoções; A inibição comportamental, a regulação da raiva e o comportamento orientado por objetivos começam a emergir neste período, embora se desenvolvam de forma mais consistente na adolescência; Influências na RE ao longo do desenvolvimento 2. A regulação emocional na adolescência A adolescência é um período desenvolvimentalmente sensível para a regulação emocional Porque é que a adolescência pode ser um período sensível para o desenvolvimento da RE? Os desafios normativos da adolescência Período de múltiplas e profundas transformações …que podem ter impacto na reatividade emocional e na capacidade de RE. Alterações físicas e hormonais (puberdade) Desempenho escolar/académico Orientação vocacional Relações românticas Relações com pares – sensibilidade à avaliação negativa (peer pressure) Menor apoio percebido dos pais Comportamentos de risco e comportamentos impulsivos Desenvolvimento emocional na adolescência O desenvolvimento emocional no adolescente é pautado por grande variabilidade interindividual, mas também por mudanças intraindividuais não lineares (picos de desenvolvimento) não é um período homogéneo, de contínua melhoria de competências de RE; Enquanto as crianças se baseiam fortemente nos pais para regular as suas emoções, os adolescentes recorrem frequentemente aos amigos ou a si próprios (autorregulação) para regular as suas emoções; O desenvolvimento das estratégias de RE na adolescência coincide com as mudanças no ambiente social e o desenvolvimento cerebral; Bases neurodesenvolvimentais Durante a adolescência, existe maturação da atividade e conetividade cerebral nas zonas do córtex pré-frontal, striatum e amígdala (sistema límbico); No entanto, enquanto o sistema límbico subcortical responsável pela reatividade emocional atinge o seu pico de desenvolvimento durante a adolescência, as regiões pré frontais do córtex, responsáveis por processos regulatórios, estão em processo de desenvolvimento até ao indício da idade adulta; ➔ Desfasamento no desenvolvimento Estudos de neuroimagem mostram que os adolescentes apresentam maior uso da amígdala e menor uso do córtex pré-frontal durante a utilização de estratégias de RE comparativamente a adultos, o que se pode traduzir numa menor eficácia da RE; Qual o papel do córtex pré-frontal? O aumento do controlo pré-frontal sobre as regiões subcorticais mais reativas potencia as capacidades de regular emoções negativas (em particular o medo) e gerir tendências impulsivas; O córtex pré-frontal está associado ao controlo de processos mentais de ordem superior, como a atenção, a memória e o controlo voluntário; No contexto da RE, o cortéx pré-frontal é responsável por implementar mecanismos de inibição de comportamento impulsivo, por modular a intensidade e duração das emoções negativas e a seleção de estratégias cognitivas (e.g., reavaliação cognitiva, consideração de diferentes pontos de vista), etc; ➔ Funções executivas Permitem aos adolescentes utilizar estratégias mais cognitivas e mais complexas para se adaptar a cada situação Reatividade emocional Quando expostos a situações específicas (tarefa laboratorial), a reatividade emocional dos adolescentes a diferentes tipos de situações é comparável à dos adultos (e.g., reportar mais raiva em situações geradoras de raiva; reportar mais medo em situações geradoras de medo); As reações de raiva dos adolescentes são mais intensas que outras reações emocionais (e.g., medo), mesmo em reações que elicitam primeiramente outras emoções; no entanto, enquanto grupo, não reportam sentir mais raiva do que os adultos; Intensidade emocional A intensidade das emoções negativas reportadas em situações estandardizadas que elicitam ansiedade, raiva e tristeza aumenta o inicio para final da adolescência; Variabilidade emocional Os adolescentes experienciam diferentes mudanças na intensidade e labilidade das emoções, dependendo daemoção considerada: Declínio linear na variabilidade para Alegria, Tristeza e Raiva: as flutuações nestas emoções são mais pronunciadas no início da adolescência, tornando-se progressivamente menos intensas ao longo da adolescência; A variabilidade na Ansiedade mostra um padrão diferente: um aumento inicial, seguindo-se um declínio e um novo aumento no final da adolescência (transição para a idade adulta?) Uso de estratégias de regulação emocional Os adolescentes usam uma diversidade de estratégias de regulação emocional e, em média, aplicam todas as estratégias “algumas vezes”; Quando consideramos o período da adolescência, parece haver uma ligeira diminuição do reportório de estratégias de regulação emocional aplicadas do início para o meio da adolescência, seguido de um aumento desse reportório no final da adolescência; Uso de estratégias de regulação emocional Resultados inconsistentes dos estudos no que refere ao uso de estratégias de regulação emocional específicas: Alguns estudos mostram a maior utilização de supressão emocional nos adolescentes de 14 anos comparado com adolescentes de 11 e 17 anos, mas apenas para a tristeza, e não para outras emoções como a raiva; Alguns estudos mostram um aumento da utilização de estratégias regulatórias cognitivas (e.g., reavaliação) quando comparam adolescentes mais novos com adolescentes mais velhos, embora um estudo longitudinal não tenha encontrado diferenças O uso de estratégias de RE não fica “mais competente” ao longo da adolescência – o desenvolvimento da RE parece apresentar um padrão dinâmico no uso de estratégias de RE específicas Os adolescentes desenvolvem um sentido de self que inclui a perceção acerca do seu estilo emocional e interpessoal, assim como de preferências estáveis no uso de estratégias de RE particulares. Flexibilidade no uso de estratégias de RE Os adolescentes têm flexibilidade situacional no uso de estratégias de RE (i.e., usar diferentes estratégias em diferentes situações, dependendo do contexto); Exemplo: Procura de apoio social – a meio da adolescência há menor procura de apoio social do que no início e no fim deste estádio de desenvolvimento MAS DEPENDE DO CONTEXTO (!) Os adolescentes procuram apoio social dos seus pais em situações em que eles não se sentem observados ou avaliados (situações privadas), mas não em situaçoes públicas onde eles se sentem avaliados socialmente pelos outros. Os adolescentes que são capazes de mobilizar um maior reportório de estratégias de RE reportam níveis superiores de bem-estar, enquanto que aqueles que reportam utilizar menis estratégias de RE descrevem mais problemas internalizantes. Implementação simultânea de múltiplas estratégias de RE (Polyregulation) Capacidade de implementar múltiplas estratégias de RE na mesma situação, particularmente em situações que elicitam emoções intensas; Ao longo da adolescência, os adolescentes demonstram capacidade de usar diferentes estratégias de RE sequencialmente ou simultaneamente, quando uma emoção é intensa Exemplo: um adolescente que sente raiva porque teve uma má nota é capaz primeiro a supressão expressiva (não demonstrar ao professor) e depois a reavaliação cognitiva(pensando que os comentários no exame poderão ajudar a estudar no futuro); A implementação simultânea de estratégias de RE não é adaptativa per se, mas pode permitir ao individuo implementar várias estratégias para avaliar qual a mais eficaz para atingir os seus objetivos; Dificuldades de RE na adolescência e psicopatologia A adolescência é um período de risco para o início de perturbações de ansiedade e depressão [prevalência mundial de 13%]; ➔ Risco acrescido de problemas académicos, sociais e de saúde subsequentes; ➔ Risco acrescido de desenvolvimento de outros problemas mentais ao longo da vida; As dificuldades de RE neste período aumentam o risco de problemas de saúde mental; As dificuldades de RE têm-se mostrado centrais a muitos problemas de saúde mental; A desregulação emocional parece ter um pico durante a adolescência; Associação particular com sintomatologia ansiosa e depressiva, mas também com consumo de substâncias, ideação suicida, etc. A relação entre desregulação emocional e psicopatologia na adolescência (sintomatologia ansiosa e depressiva) pode tornar-se particularmente problemática porque os adolescentes, ao tentar regular esses estados e sintomas indesejados, podem envolver-se em: comportamentos de consumo de substâncias (e.g., álcool, cannabis); comportamentos aditivos (jogo, internet); comportamentos de risco ou impulsivos (e.g., incluindo comportamentos autolesivos); …o que se pode traduzir também em ideação suicida e/ou agravamento dos sintomas psiquiátricos. 3. O papel da família e dos pares na RE na adolescência Relação com os pais e RE na adolescência Socialização emocional: processo dinâmico que envolve um conjunto diversificado de práticas sociais, verbais e experienciais, através dos quais os cuidadores medeiam formas normativas de interpretar e expressar as emoções (Cekaite & Ekstrom, 2019) ➔ A socialização emocional pelos pais pode ocorrer de várias formas: práticas parentais generalizadas, clima emocional da família, estilo de vinculação; práticas emocionais específicas (e.g., reações às emoções negativas dos adolescentes; modelar o comportamento emocional do adolescente; coaching emocional) Mudanças na relação com os pais Os adolescentes passam menos tempo fora da monitorização direta dos pais, o que se traduz em menor RE externa pelos pais e maior RE interna pelos adolescentes; Existe uma reorganização da relação pais-adolescentes (autonomia), que pode traduzir-se em maior nível de conflito com os pais, geradores de mais emoções negativas; conflitos moderados com os pais podem ser um contexto adequado de expressão da flexibilidade de RE nos adolescentes; Apesar de o calor e a aceitação pelos pais continuar a ter um efeito positivo na adolescência, o apoio parental “próximo” parece apenas beneficiar os adolescentes mais novos, representando uma mudança na autonomia durante esta fase; Os pais continuam a manter-se como um importante fator protetor durante a adolescência; O papel dos pares na RE durante a adolescência Na adolescência, os contextos sociais têm mais saliência e podem elicitar emoções negativas mais intensas; Período de reorientação social: Interações com os pares são crescentemente importantes; Crescente sensibilidade às crenças e comportamentos dos pares (e.g., maior sensibilidade à rejeição pelos pares); Os adolescentes são frequentemente mais “abertos” sobre as suas experiências emocionais com os pares nesta fase (vs. pais) Os pares podem ser uma fonte importante de apoio regulatório; Grande sensibilidade à recompensa (desenvolvimento cerebral): os comportamentos de risco e a atividade cerebral associada aos sistemas de recompensa (e.g., feedback positivo dos pares) têm um pico na adolescência Transição para a parentalidade: uma etapa crucial do desenvolvimento do adulto 1.Transição para a parentalidade enquanto período de desenvolvimento A transição para a parentalidade como período de desenvolvimento Estádio da Generatividade Vs. Estagnação “interesse em orientar e contribuir para a geração seguinte” Estádio da Generatividade Vs. Estagnação A parentalidade é um marco importante deste estádio, pelas oportunidades de reorganização e crescimento pessoal; Parentalidade como condição necessária, mas não suficiente para a generatividade (“the first, and for many, the prime generative encounter” Nos anos 70-80, alguns autores valorizavam a parentalidade como um acontecimento chave na idade adulta: o nascimento de uma criança não só tornava o indivíduo pai ou mãe, mas tornava-o um adulto (Fawcett, 1978; Hoffman, 1978); Acontecimento muito associado à feminilidade (na mulher) e à virilidade (homem); A parentalidade estava associada à ideia de “contributo/valor” para o mundo; Acontecimento importante para a identidade e autoconceito do indivíduo; Oferece um contexto para crescimento e desenvolvimento na idade adulta; Conceptualização desenvolvimentista da parentalidade como: 1) Um período de vida “major” com potencial para a reorganização do self (e.g., gestão de conflitos intrapsíquicos, autoestima) e do contexto (foco acrescido nas relações familiares e menor foco noutras relações); 2) Um período de vida duradouro, com um início claro (e que pode ter fases diferentes que acompanham o desenvolvimento da criança); 3) Um período de vida em que o pai/mãe pode estar em diferentes fases (filhos em idades diferentes); 4) Um período de vida com implicações desenvolvimentais para o presente e para o futuro (e.g., preparar o caminho para a avaliação da vida no estádio subsequente) A parentalidade envolve competências em muitos domínios que são necessárias para o ajustamento do individuo adulto: Expectativas flexíveis e ajustadas sobre o papel (parental); Capacidade de aprender “no momento” Capacidade de ajustar as nossas interpretações e respostas - modificar o pensamento, afeto, e comportamento em resposta às contingências ambientais (e.g., necessidades do bebé); Equilibrar as necessidades da criança com as do adulto, de outras relações (e.g., conjugal) e do contexto; Equilibrar objetos a curto-prazo e a longo-prazo; O nascimento de um filho é caracterizado pela existência de um conjunto de tarefas desenvolvimentais, cuja superação é necessária para uma boa adaptação à situação, podendo constituir um meio, por excelência, para ascender a níveis de organização mais complexos; Tarefa desenvolvimental Tarefa que surge num determinado momento de vida do indivíduo, cuja superação com sucesso conduz à adaptação e sucesso noutras posteriores; pelo contrário, o fracasso na sua superação pode conduzir a perturbação do indivíduo, desaprovação social e dificuldade em tarefas subsequentes. Aceitar a gravidez Independentemente do desejo e/ou planeamento da gravidez, o reconhecimento de que a conceção ocorreu – sentimentos de ambivalência entre o desejo vs. receio da gravidez; Aceitação da realidade física da gravidez, incorporando na sua identidade as modificações corporais associadas à gravidez e perspetivando o seu significado futuro; Para a resolução bem sucedida desta tarefa: confirmação definitiva da gravidez (conceção médica), sintomas de gravidez, partilha e aceitação da notícia de gravidez por familiares próximos; Aceitar a realidade do feto Reavaliar a relação com o outro progenitor O(a) companheiro(a), que anteriormente era percecionado fundamentalmente como parceiro romântico, passa também a ser percecionado como mãe/pai do filho; Mudança no acento tónico da vida familiar: da função conjugal para a função parental; Necessidade de o casal reajustar a sua relação no plano afetivo, de rotinas diárias e de relacionamento sexual pode ter impacto na satisfação conjugal; Diferenças nas vivências de cada membro do casal (e.g., mudanças físicas e hormonais da gravidez e pós-parto na mulher) podem acentuar as dificuldades de comunicação entre o casal nesta fase; Reavaliar a relação com os pais Reavaliação da relação presente e passada com os pais: O modelo mais pormenorizado da família que possuímos é aquele da família onde crescemos – nesta fase a futura mãe/pai tende a reavaliar as suas experiências passadas com os seus pais, ajudando-os a identificar os modelos que querem repetir e aqueles dos quais se querem distanciar; Reenquadrar experiências precoces e perspetivar a modelação de comportamentos futuros, encontrando novos equilíbrios na atualidade; Esta reavaliação pode gerar sofrimento (rejeição; consciência dos modelos parentais e do seu impacto); “Que avós vão ser para o meu filho”: a definição de papéis e estabelecimento de limites; Reavaliar a relação com os outros filhos (se existirem) É importante que a mulher integre a ideia de “mais um filho” como pessoa separada (não o assimilando à identidade de outros filhos); Áreas de preocupação de mães com outros filhos: Capacidade física para cuidar de duas crianças ao mesmo tempo; Sentimentos de culpabilidade, ao antecipar a reação do primeiro filho à chegada do irmão; Capacidade para amar duas crianças de forma igual; Ajudar a criança a preparar-se para a chegada do irmão; Construir a criança enquanto pessoa separada Confronto com o bebé real (vs. bebé fantasiado) e a aceitação do bebé que nasceu; Embora a existência do bebé possa ser gratificante para a mãe, ele existe para além dela e deve ser aceite enquanto pessoa separada com características e necessidades próprias ➔ Implica, da parte da mãe, a preparação para interpretar e responder ao seu comportamento; Base para a construção da relação de vinculação Reavaliar a sua própria identidade (papéis, valores) Integrar, na sua identidade, o papel, função e significado de ser mãe/pai; Reavaliar as perdas e ganhos que a maternidade introduziu e aceitar as mudanças implicadas neste novo período; Encontrar um equilíbrio entre o papel de mãe/pai e os outros papéis desempenhados (e.g., profissional, cônjuge, etc.) Num dos projetos de investigação longitudinal de referência na literatura sobre a transição para a parentalidade (“Becoming a Family Project”), Cowan e Cowan (1995, 2000) identificaram seis principais áreas de mudança associadas ao nascimento de um filho: Será a transição para a parentalidade um acontecimento “necessário” para o desenvolvimento do adulto? O que nos dizem os números… As mulheres (e os homens) estão a ter menos filhos e estão a tê-los cada vez mais tarde. Que fatores contribuem para explicar esta transição demográfica? Mudanças sociais e tecnológicas Acesso à contraceção Mudanças no estilo de vida Influência dos movimentos democráticos e feministas no acesso da mulher à educação e ao trabalho Parentalidade enquanto decisão Miller et al. (1994) descreveu uma sequência de fatores psicológicos que parece contribuir para a decisão de ter filhos, no qual destaca o papel dos traços ou disposições motivacionais para a parentalidade: Motivações para a parentalidade: conjunto de combinações distintas e complexas (não são mutuamente exclusivas – as pessoas podem ter motivações positivas e negativas); Podem variar ao longo do tempo (desenvolvimento do individuo); Ajudam a compreender a decisão de ter (ou não) filhos e o comportamento reprodutivo; Podem influenciar o ajustamento psicossocial à transição para a parentalidade; Ter (ou não ter) filhos é, de forma crescente, o resultado de um processo de tomada de decisão ativo, mais do que “um período natural” do curso de vida do indivíduo. …o número de casais sem filhos tem aumentado ao longo das últimas décadas (15% a 25% da população) Quais são os fatores que contribuem para o aumento do número de mulheres/casais que não quer ter filhos? Sentimento de “liberdade” e autonomia: maiores oportunidades de autorrealização, melhor posição financeira, menos responsabilidades domésticas, maior oportunidade de mobilidade espontânea e de usufruir de novas experiências; maior oportunidade de socialização; Falta de “instinto materno” ; Não ter muito interesse ou “não gostar muito” de crianças (apesar de poderem referir gostar de outras crianças na família); Preocupação com aspetos físicos da gravidez, parto e recuperação; Preocupações humanitárias com o crescimento da população, ou com as crianças tendo em conta os problemas mundiais globais; Oportunidades de carreira e questões financeiras; Maior satisfação conjugal Quais as consequências da opção de uma “vida sem filhos”? A parentalidade ainda é vista como um acontecimento normativo e esperado, sobretudo para as mulheres – a decisão de não ter filhos continua a ser estigmatizante A investigação sugere que a escolha de não ter filhos (vs. ter filhos): tem sido associada a níveis semelhantes ou superiores de satisfação conjugal; está associada a maior satisfação com a carreira e segurança financeira; está associada a níveis semelhantes de bem-estar psicológico; está associada a níveis semelhantes ou superiores de satisfação com a vida (em adultos mais velhos); A decisão de não ter filhos e o desenvolvimento do adulto A Generatividade (Erikson, 1963), implica a preocupação e o cuidado com o outro, a capacidade do adulto contribuir para a sociedade e passar o seu conhecimento aos outros – através da generatividade, o adulto tenta encontrar a sua forma de dar sentido ao seu contributo para a humanidade; A parentalidade é uma forma possível de atingir a generatividade; Existem outras formas de atingir a Generatividade “não-parental”: participação na vida de sobrinhos; atividades de ensino, mentoria ou voluntariado; Ser cuidadores informais (e.g., dos seus pais); Outras atividades de prestação de cuidados (saúde); Envolvimento cívico e na comunidade; ➔ Estas experiências podem ter benefícios importantes no desenvolvimento da generatividade, enquanto dimensão importante do desenvolvimento do adulto; A parentalidade não parece ser uma experiência necessária para o desenvolvimento da generatividade e para o bem-estar psicológico na idade adulta; Adultos sem filhos parecem ter oportunidades adequadas para o desenvolvimento da generatividade e capitalizar essas experiências na promoção do seu bem-estar; Adultos sem filhos parecem encontrar formas alternativas de dar significado à vida (sentido de propósito para a vida); Apesar de ser considerada um catalisador de mudanças desenvolvimentais importantes na idade adulta, a parentalidade parece ser apenas uma das formas de atingir essas mudanças desenvolvimentais e consequente bem-estar psicológico; 5. Transição para a parentalidade na adolescência: desafios desenvolvimentais acrescidos? Que impacto terá viver a parentalidade noutra fase do desenvolvimento? Transição para a maternidade na adolescência Quando ocorre na adolescência, a transição para a maternidade constitui um desafio desenvolvimental particularmente exigente, pois faz convergir tarefas: oriundas de diferentes fases desenvolvimentais; de outra maneira não convergentes no tempo; Em larga medida antagónicas; De forma geral, a adolescência está frequentemente relacionada com a negociação da autonomia (da família) e construção da identidade, enquanto que na parentalidade, o foco principal é a prestação de cuidados a um ser, que está dependente. Quando ocorre na adolescência, a transição para a maternidade constitui um desafio desenvolvimental particularmente exigente, pois faz convergir tarefas: oriundas de diferentes fases desenvolvimentais; de outra maneira não convergentes no tempo; Em larga medida antagónicas; 1. Processo de aceitação da gravidez e identificação com o papel materno vs. Formação da identidade da adolescente Numa fase em que a jovem intensifica os seus processos de autoconhecimento, de exploração dos contextos extrafamiliares e de orientação e escolha vocacional com vista a projetos futuros… …vê-se confrontada com a complexa tarefa de aceitar e integrar a ocorrência de uma gravidez que, na maioria dos casos, não planeou naquele momento da sua vida; Coocorrência das mudanças físicas da gravidez e das mudanças sexuais pubertárias ➔ impacto na imagem corporal; 2. Autonomização da família vs. Reorganização de relações e papeis familiares A adolescência é caracterizada por uma progressiva autonomização da família e oportunidades de exploração…. …mas quando a gravidez ocorre na adolescência, é habitualmente necessário um maior apoio emocional e instrumental da família, resultando muitas vezes em situações de maior dependência familiar da adolescente; 3. Características cognitivas da jovem mãe Necessidade de antecipação de futuro, resolver problemas e planear ações com vista à satisfação das necessidades da criança, a médio e longo prazo… … dificuldade de a jovem se descentrar das suas próprias necessidades, num período de desenvolvimento em que o aumento da autoconsciência de si se traduz num pensamento marcadamente egocêntrico, e de pensar para além do concreto e centrado no presente; A maternidade na adolescência leva necessariamente a trajetórias desenvolvimentais desadaptativas? Níveis de perturbação emocional e menor qualidade de vida; Baixos níveis educacionais e rendimentos; desemprego; Menor realização pessoal; Competências parentais mais pobres; Ciclos de pobreza e exclusão social; Gravidez adolescente não associada a desequilíbrio emocional nem a menores níveis de satisfação com a vida; Projeto de vida (educativo, profissional); Vivência satisfatória da maternidade; Dados acerca do panorama nacional concluem que a gravidez na adolescência não parece ter conduzido as jovens a desequilíbrio emocional; Quando a perturbação emocional e índices de stress elevados são evidenciados pelas mães adolescentes, estão associados, predominantemente, a características dos contextos sociais e familiares; Fatores que influenciam a transição para a maternidade durante a adolescência: Os resultados de maior ou menor adaptação desenvolvimental da adolescente dependem, em grande parte, dos contextos em que a gestação e nascimento ocorrem e do grau de apoio disponível para a jovem e o seu filho Enquanto grupo, as crianças que nascem de mães adolescentes apresentam risco para pior funcionamento global em diversos domínios, incluindo: a) Saúde: maior risco de parto prematuro e baixo peso à nascença; b) Compreensão e expressão da linguagem mais pobres (idade pré-escolar), quando comparados com crianças de mães mais velhas; c) Funcionamento cognitivo (idade pré-escolar) e resultados académicos mais pobres; d) Resultados desenvolvimentais adversos na jovem adultez, nomeadamente resultados académicos pobres e abandono escolar, desemprego, parentalidade adolescente e comportamento violento; Variabilidade intraindividual Variáveis de contexto (familiares e sociais) que podem ajudar a compreender estas relações Maternidade adolescente: escolha, aceitação ou resignação? Trajetórias associadas à gravidez adolescente em Portugal Estudo nacional e regionalmente representativo da gravidez adolescente em Portugal (2013): 475 grávidas adolescentes, entre os 12-19 anos; 92.4% pertenciam a NSE baixos e residiam maioritariamente em zonas urbanas; 40.4% encontravam-se a estudar no momento da avaliação (escolaridade média de 8 anos); Recolha em 42 serviços de saúde nacionais, mediante aprovação das Comissões de Ética. Em termos globais, à data da avaliação as adolescentes reportaram: Estar envolvidas numa relação de namoro (98.3%) com duração média de 20 meses (Amplitude: 1-84); Em média, com com homens mais velhos (M = 20.63 anos, DP = 3.81); Em 78.5% dos casos, a gravidez não foi planeada; Não há uma trajetória única conducente à gravidez adolescente – heterogeneidade individual, que salienta a necessidade de abandonar visões globais e/ou estereotipadas das adolescentes que se tornam mães; Necessidade de integrar o desejo de engravidar na compreensão do fenómeno da gravidez adolescente – em Portugal, esta trajetória foi a mais frequentemente no Alentejo, Açores e Madeira; Planeamento da gravidez ➔ desejo de constituir família/viver com companheiro; fortalecimento darelação; As adolescentes que desejam prosseguir a gestação e cuidar do bebé pertencem, regra geral, a agregados familiares mais carenciados, mas com atitudes acerca da parentalidade mais positivas: As suas aspirações académicas e profissionais tendem a ser baixas; A maternidade em idades jovens é habitualmente aceite e mesmo valorizada pelo grupo social; Apesar de na sua maioria a gravidez adolescente ser indesejada e não planeada…. Em alguns casos, a gravidez adolescente pode ser vista como “uma porta de entrada na vida adulta”, permitindo obter benefícios quando outras oportunidades parecem inacessíveis; Gravidez adolescente enquanto fenómeno de “ancoragem social” – forma de criar laços sociais; “ser mãe é (ou acaba por ser), para a adolescente, uma âncora que permite criar ou reforçar vínculos sociais à sua família, ao pai do bebé e, principalmente ao seu filho.” A valorização do papel materno, da conjugalidade e maternidade enquanto meios de valorização e afirmação femininas são prevalentes nestas jovens que planeiam a gravidez na adolescência – enquadrada num projeto de vida, com baixa valorização do sucesso académico e profissional; Perceção positiva acerca do impacto que a gravidez pode ter em diferentes áreas da sua vida; Transição para a parentalidade: uma etapa crucial do desenvolvimento do adulto Transição para a parentalidade: Desenvolvimento e plasticidade cerebral Será que as mudanças que ocorrem neste período de vida se refletem em alterações no cérebro da mulher? Durante a transição para a maternidade, o cérebro transforma-se, em preparação e para dar resposta a uma criança em desenvolvimento; Apenas mais recentemente se começou a considerar que a gravidez e o período pós-parto são períodos sensíveis para plasticidade cerebral associada a alterações hormonais; As flutuações hormonais durante a gravidez são superiores a qualquer outro evento neuroendócrino na vida de um ser humano a gravidez induz um período de plasticidade cerebral único, que está relacionado com o desenvolvimento do comportamento materno; rebral A gravidez tem estado associada a mudanças na estrutura cerebral da mãe: Redução do volume da matéria cinzenta durante a gravidez (redução média de cerca de 3% do volume da matéria cinzenta cortical), em particular nas regiões corticais, mas também sucorticais; Outros estudos conduzidos no pós-parto sugerem que as regiões em que se verificou um decréscimo da matéria cinzenta durante a gravidez coincidem com as regiões em que houve um aumento da matéria cinzenta durante o pós-parto; Servin-Barhtet, et al., 2023 As mudanças neuroanatómicas (alterações na matéria cinzenta) têm sido associadas com diferentes medidas (autorreportadas) que avaliam a qualidade da vinculação, a menor hostilidade face ao recém-nascido, a seletividade social (preferência mais forte por amigos e família), ou a capacidade de atribuir cara